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A Tensão entre o fortalecimento e as

influências alienadoras no trabalho psicossocial


comunitário e político
 Por fortalecimento, entende-se o processo mediante o qual os
membros de uma comunidade (indivíduos interessados e
grupos organizados) desenvolvem, conjuntamente,
capacidades e recursos para controlar sua situação de vida,
atuando de maneira comprometida, consciente e crítica para
alcançar a transformação de seu entorno segundo suas
necessidades e aspirações, transformando, ao mesmo tempo, a
si mesmo.
 Fortalecer uma comunidade não significa uma ação de caráter
gratuito e externo, que um agente poderoso outorga.
 Pelo contrário, é um processo realizado por indivíduos, grupos
ou comunidades – não de maneira uniforme ou homogênea
 Gerar e facilitar ações e possibilidades para que os atores sociais,
afetados por determinadas circunstância de vida, consideradas
normativa e subjetivamente como negativas, adquiram controle
sobre o entorno no qual vivem e desenvolvam os recursos
necessários para realizar as transformações desejadas para obter
bem estar coletivo e pessoal em liberdade.
 Superar as condições de vida marcadas pela desigualdade e
pelas relações de opressão, submissão e exploração.
 Que essas pessoas desenvolvam e executem ações libertadoras
dessas condições.
 Na práxis comunitária tem sido entendido como fortalecimento
é sempre de caráter coletivo e libertador, centra o controle e o
poder na comunidade e em seus membros organizados –
enfatizando seu caráter de atores sociais construtores de sua
realidade e das mudanças que nela ocorrem.

 Ler o Quadro 1 (pag 68)


 Condições básicas/etapas para o processo de fortalecimento:
 Desenvolvimento crescente do sentimento de ser-em-
relação com o mundo: ruptura com a sensação e da percepção
de isolamento, solidão e abandono.
 Construção de uma compreensão cada vez mais crítica das
forças sociais e políticas que atuam em nosso mundo de
vida: avaliação de causas, de efeitos, de razões e de emoções.
 Cultivar estratégias e recursos funcionais para a conquista de
papéis sociopolíticos pessoais ou coletivos: participar da vida
pública de nossa sociedade.
 A vontade e o objetivo de fortalecer estão explicitamente
anunciados nos trabalhos de múltiplos psicólogos e psicólogas
comunitários
 Mas isso sempre ocorre?
 E se o fortalecimento ocorre, ele se dá de forma igual entre
todos os membros da comunidade?
 Para responder a essas perguntas foi na literatura, junto a
análise qualitativa de materiais produzidos.
 Disparidades entre ritmos de trabalho, entre critérios,
concepções da realidade, podem ocorrer entre agentes externos
(AE) e os agentes internos (AI) em um trabalho comunitário
 É possível ocorrer, até, que a concepção do que é uma
comunidade ou, mais grave ainda, possa existir contradições
tanto entre os dois tipos de agentes, quanto no interior de cada
grupo
 Que isso exista não é um problema, é um fato que ocorre em
qualquer equipe de trabalho ou grupo humano, marcado pela
diversidade e pela heterogeneidade, porém a maneira como se
resolve ou não, a aceitação ou a rejeição da disparidade de
critérios podem gerar conflitos.
 Aqueles que chegam à comunidade (agentes externos), muitas
vezes, trazem uma agenda prévia, e com isso devem executar
certas ações em um tempo determinado

 Da mesma forma, quem vive na comunidade ou está envolvido


nas relações que a constituem (agentes internos) podem ter
urgências, constrangimentos, temores ou dificuldades que
tornam peremptórias certas ações e mais demoras outras
 Existe um tempo da comunidade e um tempo das agências,
instituições, grupos ou pessoas que trabalharão com ela.
 Esse tempo pode chegar a ser divergente, de tal forma que se perde o
sentido e o efeito das ações planejadas.
 É necessário que ambos os tipos de agentes discutam e reflitam
conjuntamente, a fim de encontrar um tempo convergente para
levar a cabo certas ações.

 Não se pode precipitar certas ações e movimentos que a


comunidade não está preparada para executar, nem se pode
impedir que se ataquem certos problemas que para comunidade
são importantes.
 O que é possível e necessário fazer é:
 Fortalecer, para que os temores ou as incapacidades percebidos
ou reais desapareçam;
 Sensibilizar, para que se reconheça a importância de certas
atividades;
 Dar o máximo de informações possíveis e de ajuda técnica
necessária, em um processo reflexivo-ativo para que as ações
que a comunidade decidir empreender sejam exitosas e
permitam alcançar os objetivos planejados.
 A diversidade de critérios entre AE e AI (conceituais, teóricos e
práticos) pode, produzir retrocessos, confusões e, até mesmo,
acabar com o projeto que se está realizando

 A semântica pode introduzir barreiras ao atribuir diferentes


significados a uma mesma coisa nos grupos que trabalham
juntos
 É necessário estar muito atento às conotações que uma palavra pode ter
em determinados grupos sociais ou em diferentes regiões do país.
 Outra fonte de incompreensão ou de conflito reside na maneira
como alguns agentes externos definem a comunidade ou as
pessoas com as quais trabalharão nela
 Uma definição a priori gerada fora da comunidade ou do grupo com o qual
se trabalha deve ser pensada pelos AE somente como uma definição de
trabalho

 É necessário conhecer e escutar os AI antes de decidir, possuem


uma história
 Falta de recurso econômico não significa falta de recurso
intelectual.
 Destaca algumas “armadilhas”, provenientes da sobreposição
do desejo individual sobre os interesses coletivos, por parte dos
AE:
 Desviar as discussões-reflexões para temas afins ou indiretamente
relacionados com o que se discute, mas que são do interesse dos AE
 Interromper para iniciar outro tema ou para voltar atrás antes de finalizar
o que se está tratando
 Introduzir interpretações próprias dos AE antes de escutar aquelas
provenientes do grupo
 Usar tons de voz pomposos ou condescendentes.
 Usar palavras ininteligíveis (quando usar termo técnico, explicar com
exemplos)
 Cuidar para que os gestos não contradigam as palavras
 Deve-se destacar também que tais erros também podem ser
cometidos por líderes comunitários ou por aspirantes a sê-lo:
 Rivalidades internas entre alguns membros de grupos organizados
 Descortesia e hostilidades
 Manipulação dentro das discussões grupais ou durante tarefas
comunitárias

 Os AE não destacam os erros que os AI possam cometer, e se


fazem, deveria fazer de uma maneira sutil, já os AI entre si
destacam os erros uns dos outros

 Quadro 3
 É alienante influência das formas de exercício desigual e
opressor do poder
 Toda forma de exercício assimétrico de poder constitui um sério
obstáculo para o desenvolvimento e a organização de
comunidades
 As que são exercidas nas famílias, as quais ocasionam graves formas de
dependência, subordinação e exploração
 Poder despótico que podem exercer os adultos, de qualquer gênero, sobre
as crianças, os homens sobre as mulheres.
 Rechaçar a participação de certas pessoas
 Não permitir a presença em certos lugares ou relações, não permitindo
receber determinados benefícios
 A apatia e a falta de motivação para o trabalho comunitário
 Aprender que as próprias ações não terão êxito ou não terão
efeitos transformadores, mas que passarão despercebidas

 Linguagem e atitude derrotista e apáticas respondem pela


indiferença, desconfiança e desqualificação das propostas de
mudança

 Quadro 4 – Aspectos internos aos processos comunitários que


interferem no processo de fortalecimento
 Quadro 5 – Aspectos externos à comunidade que interferem no
processo de fortalecimento
 Ausência de retroalimentação comunidade-instituição-
comunidade
 Ocorre em situações nas quais as organizações governamentais ou não
governamentais, que atuam como AE em alguns processos comunitários,
reduzem a participação comunitária a uma forma de trabalho dirigido, não
explicado, não consultado, e muitas vezes não compreendido pelas
pessoas da comunidade

 Essa forma de não comunicação tem efeitos desmotivadores e


desmobilizadores das comunicações, já que pode instaurar a desigualdade
nas relações entre comunidades e instituições
 Formas de comunicação autoritárias de líderes locais, regionais, nacionais
e figuras políticas – produzem passividade e silêncio nas pessoas do grupo
ou as levam a opor-se, gerando conflitos que impedirão todo e qualquer
ação

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