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21/08/2018
Número: 0701130-65.2017.8.07.0018
Classe: AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Órgão julgador: 3ª Vara da Fazenda Pública do DF
Última distribuição : 16/08/2018
Valor da causa: R$ 5.000.000,00
Assuntos: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO, Improbidade
Administrativa, Dano ao Erário
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS (AUTOR)
RICARDO CARDOSO DOS SANTOS (RÉU)
CHINAIDER TOLEDO JACOB (ADVOGADO)
FLAVIO DIAS DE ABREU (RÉU)
FLAVIO DIAS DE ABREU (ADVOGADO)
FABIO GONDIM PEREIRA DA COSTA (RÉU)
MAIRA MAMEDE ROCHA (ADVOGADO)
ANDRE WALTER QUEIROZ GALVAO (ADVOGADO)
INTENSICARE GESTAO EM SAUDE LTDA (RÉU)
IGOR CAVAIGNAC RIERA (ADVOGADO)
Outros participantes
DISTRITO FEDERAL (INTERESSADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
21514620 20/08/2018 Decisão Decisão
17:28
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
3VAFAZPUB
3ª Vara da Fazenda Pública do DF
RÉU: RICARDO CARDOSO DOS SANTOS, FLAVIO DIAS DE ABREU, FABIO GONDIM
PEREIRA DA COSTA, INTENSICARE GESTAO EM SAUDE LTDA
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
Vistos etc.
Cuida-se de Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa com Pedido de Liminar, proposta
pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS, por meio da 1ª
Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde – PROSUS, em desfavor de 1) RICARDO CARDOSO
DOS SANTOS, Ex-Diretor Executivo do Fundo de Saúde do Distrito Federal - FSDF; 2) FLÁVIO
DIAS DE ABREU, Ex-Corregedor da Saúde do Distrito Federal; 3) FÁBIO GONDIM PEREIRA
DA COSTA, Ex-Secretário de Estado de Saúde do Distrito Federal; e 4) INTENSICARE GESTÃO
EM SAÚDE LTDA.
Narra o autor que a sociedade empresária Intensicare Gestão em Saúde Ltda., desde 2009, presta
serviços ao Hospital Regional de Santa Maria – HRSM, sem licitação. Naquele tempo, foi realizado
negócio jurídico com a Real Sociedade Espanhola de Beneficência – RESEB, então gestora do hospital.
Ao longo do tempo foram firmadas várias avenças entre o ente federado e a pessoa jurídica requerida, a
última encerrada em agosto de 2014. Após essa data, não foi fechado novo acordo.
O Distrito Federal ampliou o objeto pactuado e a Intensicare Gestão em Saúde Ltda., ficou responsável
pelo Centro Obstétrico do Hospital Regional de Santa Maria mediante o Contrato nº 128/2012.
Relata ganhos superiores a R$ 200.000.0000,00 (duzentos milhões de reais) pela Intensicare desde 2011,
com os ajustes firmados junto ao Distrito Federal.
No relatório atinente à nota fiscal nº 206 emitida pela Intensicare, o autor consigna a existência de
prejuízos aos cofres públicos. Para tanto, destaca que a Intensicare informa a disponibilização para a
Secretaria de Saúde do Distrito Federal, independentemente de haver leito bloqueado.
Os autos ficaram suspensos até surgir a Lei Distrital nº 5.566, de 11/12/2015, a qual destinou créditos
orçamentários ao Programa de Trabalho alusivo a Serviços Assistenciais Complementares em
Saúde, UTI, com anulação de dotações da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Da mesma forma, relatou o reconhecimento de dívida, publicado no DODF nº 249 e retificado no DODF
nº 250, no valor global de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais).
Não foi juntado no citado procedimento nenhuma documentação comprovando o cumprimento da ordem
cronológica de pagamento. Mesmo assim, apenas em agosto de 2016 o atual Secretário de Saúde
determinou a auditoria desses pagamentos à Unidade de Controle Interno – UCI e a investigação pela
Corregedoria de Saúde.
Cita a representação do Ministério Público de Contas junto ao Tribunal de Contas do Distrito Federal –
TCDF, questionando o Contrato de Gestão nº 01/2009.
Além disso, foi indagada a quarteirização promovida pela RESEB ao contratar a Intensicare – Contrato nº
21/2009 –, após ter sido declarada vencedora do Pregão Eletrônico nº 32/2009.
Mesmo com a extinção do aludido pacto, em 2010, o TCDF não apurou eventual prejuízo suportado pelo
Estado.
Não obstante, o Ministério Público de Contas ajuizou nova representação, porém, sem julgamento da
Corte de Contas Distrital.
Enfatiza a monta dos pactos fustigados, R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais), e dos seus
objetos – UTI. Contudo, não foi levada a cabo uma inspeção conclusiva abordando como e se os serviços
estavam sendo prestados.
Noticia a terceirização ilícita conquanto a execução dos serviços de UTI em hospital público, por meio de
pessoa interposta, é atividade fim e não é passível de terceirização.
Os serviços impugnados não são de prestação de equipamentos e gestão técnica, mas, prestação de mão
de obra, conforme as notas fiscais emitidas pela empresa ré.
Inobstante, a quitação das notas fiscais em tela não foi precedida da devida motivação.
Enviou outro Ofício Conjunto ao atual Diretor Executivo do Fundo de Saúde reiterando os pleitos do
documento anterior. Foi enviada resposta prestando várias informações, dentre elas, os valores pendentes
de pagamento à Intensicare.
Sustenta a responsabilidade de Ricardo Cardoso dos Santos; Flávio Dias de Abreu; e Fábio Gondim
Pereira da Costa, pelo pagamento indevido das notas fiscais de nº 204 e 206 em 28/01/2016.
Fábio Gondim Pereira da Costa, por ser Secretário de Saúde à época, e deveria ter atuado para
impedir a consumação de tal falha.
Já Flávio Dias de Abreu, na qualidade de Corregedor de Saúde, tinha como incumbência comunicar
os fatos ao TCDF, pena de responsabilidade solidária, além do dever de atuar com vistas à
apuração tempestiva das faltas de que estava plenamente ciente.
Informa a existência de 100 (cem) leitos de UTI no Hospital Regional de Santa Maria, sendo 02 (dois)
bloqueados na UTI Neonatal e 18 (dezoito) na unidade adulta por falta de equipamentos, manutenção,
insumos e pessoal.
A Intensicare não estava oferecendo médicos diaristas, pelo menos para a UTI Adulto, em número
suficiente para cumprir a legislação sanitária vigente, nem mesmo para os leitos ativos.
Ressalta jornadas excessivas onde médicos da Secretaria de Saúde atuariam, também, no Hospital
Regional de Santa Maria, ou possível coincidência de turnos.
A Nota Fiscal nº 204 e parte da nº 206 foram saldadas sem qualquer análise referente à legitimidade das
despesas indiretas cobradas.
Pede a procedência dos pedidos, com fulcro nos arts. 10 e 11 com as cominações do art. 12, todos da
Lei nº 8.429/92, para condenar: a) a suspensão dos direitos políticos dos três primeiros requeridos
pelo prazo de cinco a oito anos e à perda da função pública; b) a condenação de todos os réus: b.1)
ao pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano; b.2) a proibição de contratar com o
poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios pelo prazo de cinco anos;
b.3) ao ressarcimento de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) aos cofres públicos, ou outro que
vier a ser devido, em decorrência dos prejuízos causados, solidariamente.
Manifestação por escrito de Fábio Gondim Pereira da Costa (ID nº 5869821). Preliminarmente
aventa a inépcia da petição inicial por falta de justa causa, pois não há indícios suficientes da existência
de ato de improbidade. Ademais, inocorreu a individualização das condutas tidas como ímprobas.
No mérito, consigna a falta de dolo nos atos atribuídos pelo requerente, sendo impossível a sua
responsabilização objetiva por ato omissivo ou comissivo, em prejuízo ao erário ou em afronta aos
princípios da Administração Pública, não havendo liame fático-jurídico apto a sustentar a conclusão de
que, como Secretário de Estado de Saúde do Distrito Federal, deveria intervir para evitar falhas em
procedimento administrativo de contratação - aditivo ou prorrogações -, bem como nos atos que se
sucederam até o pagamento das notas fiscais emitidas pela sociedade empresária, ora ré, haja vista serem
atos praticados por terceiros.
Não existe dolo, levando-se em conta que o demandante limitou sua acusação à culpa in vigilando,
descaracterizada pela ausência de normativo obrigando-o a tal mister.
Defesa preambular de Flávio Dias de Abreu(ID nº 6011582). Inicialmente aduz inépcia da petição
inicial por entender que não poderia estar na qualidade réu no polo passivo na lide.
Agiu depois das constantes inércias das áreas-fim da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e condutas
inerentes à Intensicare Gestão em Saúde Ltda., ao fim no Relatório de Auditoria nº
04/2015/DISED/CONAS/SUBCI-CGDF, o qual foi comunicado ao Secretário de Saúde do Distrito
Federal.
Já o despacho na Corregedoria de Saúde, de 18/11/2014 foi visado por Luiz Pinto Fernandes.
Tal processo foi aditado com as notas fiscais nº 204 e 206, empenhadas, liquidadas e pagas, voltando à
Corregedoria de Saúde em julho de 2016. Nessa data o Corregedor era Rogério Batista Seixas.
O órgão de controle interno na Secretaria de Saúde era a Unidade de Controle Interno – UCI/SES-DF, da
Controladoria Geral do Distrito Federal na Secretaria de Saúde.
Já as notas fiscais de nº 205 e 206 foram adimplidas em 2016. Dessa feita, não pode ser responsabilizado
pelos fatos delineados pelo Ministério Público.
Por derradeiro, pugna pela admissão da preliminar de inépcia; pelo não recebimento da ação de
improbidade ou, no mérito, pela improcedência dos pleitos autorais. Colacionados os documentos anexos
(ID nº 6011594 a ID nº 6012014).
Manifestação prévia de Ricardo Cardoso dos Santos (ID nº 6409133). Esclarece haver sido nomeado
para o cargo de Diretor Executivo do Fundo de Saúde do Distrito Federal em 24/03/2015 e tomou posse
em 06/04/2015, bem antes da data informada pelo autor, qual seja em novembro de 2015.
O Diretor Executivo do Fundo de Saúde do Distrito Federal, apesar de ser gestor do orçamento e dos
recursos do mencionado fundo, conjuntamente com o Secretário de Saúde e não era responsável pela
ordenação de despesas.
Não ocorreu o pagamento em ofensa à ordem cronológica. A simples quitação extemporânea não implica
em pagamento de valores ou serviços inexistentes.
As dívidas de todas as empresas foram reconhecidas em um único ato, sem preterição de qualquer ou
favorecimento de uma delas em detrimento das outras. Realizou-se um rateio das quantias
disponibilizadas a partir da lei, proporcionalmente ao devido pelo ente federado.
Discorre não ter havido individualização por parte do requerente das condutas praticadas pelos réus,
impossibilitando a sua defesa. Não existe nexo de causalidade entre o ato tido como ímprobo e, tão pouco,
atuou com dolo de lesão ao erário.
De início, alega a conexão com a ação civil pública em trâmite na 5ª Vara de Fazenda Pública do Distrito
Federal (autos de nº 2016.01.1.117304-4).
Aventa que ambas as lides possuem a mesma causa de pedir. Na mencionada ação o autor busca a
condenação da empresa ré à devolução dos valores percebidos em virtude dos serviços fornecidos ao
Hospital Regional de Santa Maria. Já nesta lide, é pleiteado o ressarcimento de parte das quantias
relativas aos serviços de saúde realizados.
A discussão presente nestes autos está contida no processo distribuído ao citado Juízo Fazendário,
devendo ser reunidos para decisão conjunta, nos termos do CPC.
Impugna o valor dado à causa, pois a quantia de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) não
corresponde ao conteúdo patrimonial em questão.
O somatório das notas fiscais de números 204 e 206 impugnadas são de R$ 7.538.832,96 (sete milhões
quinhentos e trinta e oito mil oitocentos e trinta e dois reais e noventa e seis centavos), o qual deve ser
conferido à demanda.
Na matéria de fundo, faz referência à ausência de conduta típica, porquanto não atuou visando lesar a
Administração Pública.
Rechaça a tese de terceirização ilícita, isso porque os serviços de saúde podem ser realizados mediante
contratos de gestão, por entes estranhos à estrutura governamental, de acordo com entendimento esposado
em julgamentos do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal de Contas da União.
De outra banda, as quantias concernentes ao acordo de gestão, cuja origem decorre de seus os serviços
efetuados, não podem ser considerados para os limites de gasto com pessoal instituído pela Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Refuta a ofensa aos princípios da legalidade e impessoalidade por quebra da ordem cronológica
pagamentos.
Nega a ausência de sobre preço nos seus produtos. A realização dos seus serviços não constitui infração
ao princípio da legalidade, mas o cumprimento de ordem judicial exarada pela 8ª Vara da Fazenda Pública
do DF, nos autos de nº 2010.01.1.146485-8, onde foi determinada sua abstenção em retirar ou transferir
seus equipamentos e pessoal indispensáveis à manutenção dos serviços de UTI prestados no Hospital
Regional de Santa Maria.
A manutenção e adequação dos leitos de UTI permaneceram sob a responsabilidade Estatal. Eventual
ausência de atendimento em todos os leitos em decorrência de bloqueios configura fato da administração,
equivalendo à força maior e excluindo a responsabilização do particular pela inexecução contratual.
Sob outro prisma, a complementação da mão de obra mínima necessária para o atendimento aos
normativos da ANVISA era obrigação da Secretaria de Saúde.
Destaca que a renovação e acordos emergenciais e a solicitação da continuidade dos seus serviços, à
míngua de cobertura contratual, não podem ser imputadas à sociedade empresária corré.
Trata-se de atos de gestão, cuja incumbência recai sobre os agentes públicos, isto é, os servidores da
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal.
Reitera não ter praticado ato ímprobo, pois é cumpridora dos seus deveres contratuais regularmente,
praticando preço justo e abaixo da média de mercado, de acordo com auditoria realizada pelo Tribunal de
Contas da União, em representação ajuizada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
O DISTRITO FEDERAL foi notificado, entretanto, não se manifestou (Ids 5505764 e 5574077).
Chamei o feito à ordem e, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 64 do NCPC, e determinei o retorno dos autos
ao Ministério Público para manifestação acerca da existência de conexão, levantada em sede de
preliminar, junto a 5ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal (processo nº 2016.01.1.117304-4),
inclusive quanto à inépcia da petição inicial e da impugnação ao valor dado à causa. Prazo de 15 (quinze)
dias (ID nº 8443014).
Rebate a preambular de inépcia da inicial ventilada por Fábio Gondim Pereira da Costa. A exordial foi
clara ao delinear a conduta ou omissão de cada um dos requeridos e trouxe vasta documentação
demonstrando todo o alegado. Houve a descrição de atos ímprobos dos demandados.
Os réus Ricardo Cardoso dos Santos, Flávio Dias de Abreu e Fábio Gondim Pereira da Costa são
responsáveis pelo pagamento das Notas Fiscais nº 204 e 206, indevidamente em 28/01/2016.
Ricardo Cardoso do Santos autorizou o pagamento incorreto. Já Fábio Gondim Pereira da Costa era
Secretário de Estado de Saúde do Distrito Federal, na data do pagamento, e deveria evitar a consumação
de tal falha em obediência ao art. 105, parágrafo único, I, da Lei Orgânica do Distrito Federal.
Flávio Dias de Abreu, como Corregedor de Saúde, deveria comunicar os fatos ao Tribunal de Contas do
Distrito Federal, pena de responsabilidade solidária. Ainda deveria atuar visando a apuração tempestiva
das faltas de que estava plenamente ciente, consoante a assinatura de seu despacho acostado como prova
dos autos.
O pleito foi proposto objetivando a regularização da situação precária dos serviços de terapia intensiva no
Hospital Regional de Santa Maria prestados pela requerida Intensicare. Intenta obrigar o Distrito Federal a
retomar a administração e o fornecimento de UTI no citado hospital.
Declinei da competência para a 5ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, suscitou conflito
negativo. O eg. TJDFT decidiu pela competência deste Juízo para processar e julgar a lide (ID nº
21239501).
É O RELATÓRIO. DECIDO.
Cumpra-se o v. Acórdão que declarou este Juízo Fazendário competente para julgar o feito. Ratifico os
atos judiciais anteriores.
PRELIMINARES
DA INÉPCIA DA INICIAL
O requerido Fábio Gondim Pereira da Costa levantou preliminar de inépcia da exordial pela ausência de
justa causa.
De outra senda, aduzir ausência de justa causa, denota o assinalamento de inexistência da prática de
ato desleal e/ou desonesto contra a Administração Pública.
Nesta linha de entendimento, a justa causa guarda similitude com o interesse de agir - uma das
condições da ação - para o prosseguimento do feito.
Para tanto, não basta a simples indicação de prática de improbidade pelo requerente. É imperioso
que os fatos narrados estejam aliados a um acervo de provas apto a demonstrar sua verossimilhança.
Nesta esteira, no âmbito da ação de improbidade administrativa, o conjunto fático-probatório inicial deve
conter indícios razoáveis quanto à autoria e à materialidade.
Assim, o julgador poderá identificar a concreta participação dos agentes nos fatos, objetivando aclarar as
alegações iniciais.
Depois dessa verificação inicial, poderá, por fim, fundamentar o recebimento ou não da peça vestibular.
De forma diversa, o demandante tem o ônus da prova mitigado podendo colacionar fortes indícios
visando o início da instrução processual, pena de esvaziamento das demais fases do processo.
Dessarte, como se trata de juízo prévio de admissibilidade, cabe ao magistrado verificar a presença
de legitimidade das partes, do interesse de agir e da justa causa, componentes viabilizadores para a
propositura da ação.
Procedendo à apuração preliminar do cabedal probatório carreado, constato indícios mínimos suficientes
de condutas dolosas praticadas pelos notificados, em tese, incompatível com os princípios administrativos
Da Inépcia da Inicial Arguida por Fábio Gondim Pereira da Costa e Ricardo Cardoso dos Santos
Os requeridos Fábio Gondim Pereira da Costa e Ricardo Cardoso dos Santos também invocaram inépcia
pela falta de individualização das condutas tidas como ímprobas.
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico;
Melhor sorte não assiste aos demandados neste ponto. A causa de pedir encontra-se bem explicitada,
delineando as condutas de cada notificado, principalmente aquelas atribuídas a Fábio Gondim Pereira da
Costa e Ricardo Cardoso dos Santos, culminando no ato de improbidade de pagamento indevido das notas
fiscais de nº 204 e 2016 em 28/01/2016.
Assim sendo, em atendimento ao princípio da adstrição, não há que se falar em inépcia da inicial,
quando a peça inaugural revela claramente a causa de pedir e o pedido, apresentando adequadamente a
narração dos fatos.
Por conseguinte, não há prejuízo para a defesa dos requeridos ou qualquer nulidade processual a ser
reparada. Portanto, repilo a preliminar apontada.
De sua vez, Flávio Dias de Abreu alegou inépcia da exordial porquanto não concorreu para os supostos
atos de improbidade. Logo, não poderia ser réu nesta demanda.
b) Sujeito ativo, ou seja, o agente público ou terceiro que induza ou concorra para a prática
de ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta;
c) Ocorrência de ato danoso descrito na lei, causador de enriquecimento ilícito (art. 9º), prejuízo ao erário
(art. 10) ou atentado contra os princípios da Administração Pública (art. 11); e
d) Elemento subjetivo, isto é, presença de dolo (art. 9, 10 e 11) ou culpa (art. 10).
Compulsando os autos, analisando os documentos, acostados, bem como as teses trazidas pelo autor e
pelo demandado verifico a ausência de qualquer conduta dolosa ou culposa praticada pelo notificado,
visando lesar deliberadamente o patrimônio público ou transgredir os princípios da Administração
Pública.
O requerido foi exonerado, a pedido, do cargo de Corregedor Geral da Saúde da Secretaria de Estado de
Saúde do Distrito Federal, conforme publicado no DODF de 19/05/2015 (ID nº 6011594, fl. 19).
Em 31/12/2015, foram autorizadas as notas de empenho para a quitação dos serviços médicos de UTI
fornecidos pela empresa Intensicare, no intervalo compreendido entre outubro e novembro de 2014, por
Ricardo Cardoso dos Santos.
Na linha temporal traçada, o réu não ocupava o cargo de Corregedor de Saúde Distrital quando do
empenho e pagamento das notas fiscais objurgadas, como delineado alhures.
Neste contexto, seria injusto e desarrazoado imputar ao requerido as condutas consideradas ímprobas pelo
Ministério Público em razão de haver ocupado posto público de alta relevância na apuração de desvios na
área da saúde.
De maneira diversa, deve exercer seu múnus público quando for provocado ou tomar ciência de
ilegalidades, dentro da sua esfera de competência, obedecendo aos princípios devido processo legal, do
contraditório e ampla defesa.
Posto isto, o plexo de fatos atribuídos ao demandado não é suficiente para comprovar indícios de intenção
dolosa ou culposa causando prejuízos ao erário ou violações aos princípios norteadores administrativos.
1. Não se encontrando os acusados na mesma situação jurídica, não se verifica nenhuma afronta ao
princípio da isonomia. Preliminar rejeitada.
2. A Constituição Federal tolera a concomitância das procuradorias e das consultorias jurídicas existentes
anteriores à Constituição. Tal circunstância leva a uma situação em que a subjetividade a respeito da
verificação do fato ou da conclusão jurídica que regula o mesmo fato, seja avaliada por diferentes
intérpretes legais das normas jurídicas e, assim, não se pode pensar que haverá unanimidade sobre todas
as questões jurídicas passíveis de interpretação.
3. O dolo ou a culpa do administrador público não se presume, por isso, no mínimo, deve estar
assentada em fatos indicativos da existência do dolo ou culpa do administrador público, mormente
quando o fundamento da causa de pedir está assentado no prejuízo patrimonial causado ao
patrimônio público pelo seu administrador tido por ímprobo.
5. Ausência de comprovação de enriquecimento ilícito. Ademais, o Ministério Público não trouxe aos
autos elemento que demonstrasse prejuízo aos cofres públicos. Nesse contexto, não há falar em
aplicação do art. 10 da Lei 8.429/92. A responsabilização com base no art. 11 da Lei nº 8.429/92 exige
dolo, não configurado no caso sub judice.
7. Ainda que seja reprovável a conduta praticada por administradores públicos ao não observarem
princípios basilares que informam a Administração Pública, não podem eles vir a ser condenados por
improbidade administrativa se não houve a comprovação do dano que a conduta praticada causou ao
erário, por ser inadmissível no ordenamento jurídico pátrio a responsabilidade objetiva.
2. Para a configuração do ato de improbidade administrativa, faz-se necessário a existência dos seguintes
elementos: a) sujeito passivo, que é uma das entidades mencionadas no art. 1º da Lei 8.429/92; b) sujeito
ativo, ou seja, o agente público ou terceiro que induza ou concorra para a prática de ato de improbidade
ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta; c) ocorrência de ato danoso descrito na lei,
causador de enriquecimento ilícito para o sujeito ativo, prejuízo ao erário ou atentado contra os princípios
da Administração Pública; d) elemento subjetivo, isto é, presença de dolo ou culpa.
Neste diapasão, não resta outra alternativa senão rejeitar liminarmente a Ação Civil Pública por
Ato de Improbidade relativamente a Flávio Dias de Abreu da lide, tendo em vista a inexistência de
qualquer ato de improbidade praticado pelo réu, nos termos do art. 17, §8º, da LIA.
DA CONEXÃO
A empresa Intensicare Gestão em Saúde Ltda. alegou conexão relativa aos autos de nº
2016.01.1.117304-4 em trâmite na 5ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal.
Por derradeiro, a demandada Intensicare Gestão em Saúde Ltda. objetou o valor atribuído à causa,
postulando a sua modificação.
Assiste razão à empresa requerida. O autor deu à causa o valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de
reais).
Minudenciando os autos, percebo que a soma das notas fiscais de números 204 e 206 é de R$
7.538.832,96 (sete milhões quinhentos e trinta e oito mil oitocentos e trinta e dois reais e noventa e seis
centavos).
Neste sentido, acolho a impugnação e altero o valor da causa para R$ 7.538.832,96 (sete milhões
quinhentos e trinta e oito mil oitocentos e trinta e dois reais e noventa e seis centavos). Anote-se.
A jurisprudência é uníssona no sentido de que a petição inicial da Ação de Improbidade só será rejeitada
nos casos de notória inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da
via eleita (§ 8º, do art. 17, da Lei nº 8.429/92).
Nesse aspecto, a imputação dada aos demandados se ancora na prática de ato ímprobo em face de Ricardo
Cardoso dos Santos, Fábio Gondim Pereira da Costa e Intensicare Gestão em Saúde Ltda., pelo
pagamento indevido das notas fiscais de nº 204 e 206 em 28/01/2016.
Ricardo Cardoso dos Santos era, ao tempo dos fatos, Diretor Executivo do Fundo de Saúde do Distrito
Federal e ordenador de despesas concernentes aos fornecedores da Secretaria de Saúde do Distrito
Federal.
Porém, as inúmeras falhas evidenciadas demonstram o descumprimento das suas obrigações como gestor
público, consoante relato do Ministério Público.
Por seu turno, no que cinge à sociedade empresária Intensicare Gestão em Saúde Ltda., mediante
análise perfunctória, observo mostras da obtenção de vantagens de forma direta ou indireta, ante os
pagamentos das notas fiscais de nº 204 e 206 em 28/01/2016, amoldando-se à previsão do art. 3º da LIA.
Desta maneira, podem ser cominadas as sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa aos
requeridos.
A questão merece um exame mais aprofundado levando-se em conta que podem ser imputadas as penas
contidas na Lei de Improbidade Administrativa, nos termos de seu art. 12, II.
Tendo em vista que se são indicados aos demandados improbidade administrativa por dano
culposo/doloso ao Erário, faz-se necessária a instrução processual para verificação tanto da
negligência/imperícia como do próprio prejuízo em desfavor do DF.
Nesse descortino, na órbita preliminar, impossível se fazer um exame completo do elemento subjetivo do
tipo, o dolo ou culpa[4], a violar normas legais nas hipóteses da LIA, como imputou o Ministério Público
nas condutas atribuídas aos requeridos.
Certo que, da prova dos autos, não é possível se concluir, de forma inequívoca, pela inexistência do ato de
improbidade, improcedência da ação ou inadequação da via eleita.
Em resumo, os fatos narrados merecem um exame mais aprofundado, tornando imprescindível a dilação
probatória sob o crivo do contraditório e ampla defesa.
Por conseguinte, repito, faz-se imperiosa a instrução processual para verificar se as partes requeridas
agiram, ou não, com dolo ou culpa para fins de tipicidade, configurando atos de improbidade
administrativa.
1. [...]
5. Nos termos do art. 17, § 8º, da Lei 8.429/1992, a presença de indícios de cometimento de atos
previstos na referida lei autoriza o recebimento da petição inicial da Ação de Improbidade
Administrativa, devendo prevalecer na fase inicial o princípio do in dubio pro societate. Nesse
sentido: AgRg no REsp 1.306.802/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
5/12/2014, e AgRg no AREsp 459.202/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
25/6/2014.
6.[...]
2. No caso, o acórdão recorrido estabelece a existência desses indícios. A afirmação do contrário demanda
o reexame de fatos e provas. Incidência da Súmula 7/STJ.
1. Existindo indícios de cometimento de atos enquadrados na Lei nº 8.429/92, a petição inicial deve
ser recebida, não se mostrando necessário a existência de provas cabais do suposto ato tido como
ímprobo.
3. Descabe, neste momento processual, a análise profunda de questões relativas ao mérito, devendo
se ater o magistrado aos indícios de materialidade e autoria dos atos de improbidade que
justifiquem o prosseguimento da ação.
4. A fundamentação concisa não deve ser confundida com ausência de motivos. Não se espera, na decisão
que recebe a ação de improbidade, robustez nos fundamentos utilizados pelo julgador, revelando-se
suficiente, ainda que de modo sucinto, o entendimento no sentido da existência de indícios da prática de
atos ímprobos imputados à parte requerida, como ocorreu na espécie, inexistindo, portanto, afronta ao
artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal.
5. Nesta fase de cognição sumária, prevalece o princípio do in dubio pro societate, de modo que o
interesse público seja efetivamente resguardado.
2. Nos termos do art. 17, §§ 7º e 8º da Lei nº 8.429/92, a rejeição in limine da petição inicial da ação
de improbidade administrativa só deve ocorrer à luz de prova inequívoca da "inexistência do ato de
improbidade administrativa, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita", ante a
prevalência do princípio do in dubio pro societate e da necessidade de resguardo do interesse
público.
3. A petição inicial reputa condutas ofensivas aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
transparência dos atos administrativos e de gestão responsável dos valores públicos, que, em princípio, se
submeteriam à regra prevista no art. 10, da LIA. Portanto, se a decisão agravada não padece de vício de
fundamentação, não se apresentam os vícios declinados pelo recorrente; bem assim, por outro lado, há
justa causa para a instauração do processo de improbidade administrativa.
2. A remissão feita pelo magistrado aos documentos constantes na inicial e às condutas praticadas pelo
réu não pode ser tida como justificativa para invalidar a fundamentação da decisão, notadamente quando
convencido acerca da tipicidade da conduta e da viabilidade da acusação.
3. Havendo indícios mínimos da prática de atos tipificados na Lei n.º 8.429/1992, expressamente
considerados pelo Magistrado ao admitir a Ação de Improbidade, deve prevalecer o princípio do in
dubio pro societate.
Ante ao exposto, forte nessas razões, REJEITO LIMINARMENTE a presente Ação Civil Pública de
Improbidade Administrativa atinente a Flávio Dias de Abreu, ante a inexistência de qualquer ato
de improbidade praticado por este notificado, nos termos do art. 17, §8º, da LIA.
Intimem-se.
Juiz de Direito
[1]Em consulta ao sítio do Tribunal na Internet verifico que a ação foi julgada improcedente e confirmada
em 2ª Instância, já arquivada (20140111400385APO – 5ª Turma Cível).
[2]Ao pesquisar no site do eg. TJDFT constato a prolação de sentença que julgou parcialmente
procedentes os pedidos do autor, estando em sede de apelação.
[3]Após busca no sítio do eg. TJDFT observo que foi proferida sentença julgando parcialmente
procedente o pedido deduzido pelo requerente e dado parcial provimento pelo Tribunal
(20140111400336APO – 4ª Turma Cível).