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mw Ivrercinpio LOGOS Etica Existencial em Jean-Paul Sartre: o homem e a moral da liberdade Cléa Gois e Silva L.Introdugio ‘Ao falarmos de-ética falamos de ime= diato da Filosofia, A.filosofia pretende langar seu olhar sobre a totalidade da realidade, E refletir sobre a existéncia & luz do ser. Ela rompe a moldura do mundo, para Iangar-se a0 infinite. Mas retorna a finito para se fundamentar no histérico. Ela se dirge 20 individuo, aos que movidos pela verdade, viver em comunidade, e acima de tudo confiam uns nos outros. A filosofia rnunca chega ao final do horizonte, pois afasta-se na medid em que se aproxime. E portanto a Etica, como a Filosofia, ‘nunca chegam a seu fim dliimo. Pois sempre surgem novos problemas, novas questOes, novos horizantes que nos convidam a sermos ‘ternos caminhantes & busca do ser. Este ‘caminha, define a propria existéncia do ser, ‘que &jogado no mundo, ¢jogado no tempo. Etica significa aquilo que encontra o ETHOS. ETHOS quer dizer morada, lugar de morar, um lugar de descanso, um lugar de onde partimos. A Etiea é uma reflexto sobre 0 que ¢ bom, ¢ do sobre 0 bem. A EEica tata das normas das boas agdes, ¢ © agir humano € situado em sociedade. A chamada “éticn existencialista” é uma nnegagio de que pode haver uma ética; em {odo £250, nto parece haver possibilidade de ormular normas moras, objetivas,fundadas fem Deus, na sociedade, na natureza, um supost reino abjetivo de valores ou normas, efe., de modo geral 0 nico imperative ético possivel parece sero de que cada qual tem {que decidir por si mesma, em vista de sua propria intransfrivel sitag20 eonereta, 0 (que val fazer eo que vai sr. ‘© pensamento de Sarre refleteapreocu- pogo existencial de que © homem, coloca- do pela sociedade, politica, familia, eduea- ‘80 ou pelos habitos adquiridos numa encruzilhada de miitiplos caminhos, escolhe entre ser covarde ou corajoso, delator ou ceimplice, que aceite ou combeta a situaga0, ‘mas. que assuma a responsabilidade de uma ‘opto, atuando ou participando, mesmo que isto sejainquictate e ncdmodo, (© métoda de analise das situagoes cexistencias sero da fenomenologia, embora © mréprio Husserl coloaue a existencilidade enire paréntesese, portanto, fora do cireuito filosético, para desengajar as essenciais idéias. Mas « evolugdo da fenomenoiogia mostra que a sua finalidade consistia em permanecer fel ao cancreto exstencal Para a realidade humana, existir & sempre assumir o ser, € ser responsével por ele, em vez de o receber de fora, Como realidade humana é, por essencia, a sua propria possiilidade, esse existente pode eseolher-se a si préprio em seu ser, pode ‘ganhar-se como também pode perder-se Esse ato de assumiro ser, que earacteriza 8 realidade humana, implica a eompreensto da realidade humana por ela propria, por mais obscura que seja essa compreensio, com- preensio que & a sua propria forma de texistiz. Desse modo, a realidade humana, aque sempre & um eu, assume 0 seu préprio fer, comprecndendo-o, Essa compreensto & minha. Sou, portanto, antes de mais nada, lum ser que compreende mais ou menos ‘obseuramente a minha reaidade de homem, ‘0 que significa que eu me fago humano 20 ‘compreender-se como ta. Possointerrogar~ me, pos, e sobre as bases dessa interogagdo ppoderei ser bem sucedido em uma anise da realidade humana a fenomenologia que vai estudar, sob © plano da manifestagdo em que todas as ‘ordens da experiéncia podem se traduzir, este fendmeno da existéncia humana, poi existr para conseigncia & aparecer, ¢ € um parecer que & preciso deserever e inter- rogar. Uma vez que a consciéncia a propria realidade humana, que assume por si mesma e se dirige conscientemente para 0 ‘mundo em uma attude signtieativa, em cada atitude encontraremos 0 todo da fealidade humana Sartre entende por existencialsmo uma doutrina que torea a vida humana possivel «por outro lado, declara que toda a verdade € toda ago implicam um meio € uma subjetividade humanos, O existencialismo firma que & existncia precede a esséncia, isto 6, temos de partir da subjtividade para entender a existéncia, Para o existen- 10, como Sartre o entende, o homem primeiramente exist, se descobre, surge fio mundo e s6 depois se define. O homem & ‘no apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seia. como ele se coneche depois da existencia: © homem no & mais ddo que o que faz. Este € 0 principio funda- mental do existencialismo e, assim, 0 primeiro esforgo do existencialismo sera © dd analisar o homiem na situagdo em que ele se encontra e atribur-he a total responsa- bilidade da sua existéncia, no s6 individual mas coletiva Pois se a existéncia precede esstncia e Se quisermos exist, 20 mesmo fempo em que construimos nossa imagem, esta imagem € valida para todos; esco- Ihendo-me, escotho o homer. ‘Uma vez que para Sartre, a ndo-exisién- cia de Deus € um principio fundamental, 0 hhomem esti abandonado, pois néo encontra fem sinem fora de si nenhuma realidede a que se apegar. Se Deus nio existe nio encontraremios diante de nds valores ou Imposigdes que nos legitimem o compor- tamento. Somos livre, as e sem desculpa E no entanto, 0 tédio dos dias ¢ das noites mondtonas a0 longo do triste caminho obscuro onde somente existe escuridio, toda aglo duvidosa de um tédio mérbido a0 longo de uma caminho deseto,aobservago desrespeitosa da falsa importancia que se dio os homens na vida catidiana, tudo iss0 leva Sartre @ concluir que nada justifica a cexisténcia, Mas, essa gratuidade ndo nos livra da liberdade e da responsabilidade, que ‘to da esséncia do homem, Uma liberdade sem conteddo torna-se néusca Repetindo-se as palavras de Nietsche: “Deus esti mort”. Mas para Sartre nfo tanto Deus que morreu ¢ sim um conjunto de valores intermediarios entre Deus ¢ @ hhomem, um conjunto de itos semideuses ue os filsofos chamaram valores. Tudo & gratuito, mas, pelo prOprio fato de exist, 0 hhomem deve sobrepujar essa gratuidade, pois a capacidade pelo bem se encontra na conscincia da liberdade e na possibilidade de Frjar nossa propria vida, Mas o que fazer com minha liberdade? A liberdade, sendo essencialmente projet, tarefa a que nao tem esséncia, deve se fzer, se era; e, uma vez que ¢esponta- neidade pura, ela & invengdo constante, Ser E agi E-enquanto projeto,aconsciéncia se 38 LOGOS Ianga adiante no futuro. © homem se distancia do seu passado e do determinismo se projeta para o seu futuro, ‘© problema moral surge em Sartre dentro do contexto da possiblidade de uma recusa de todo valor moral. A partir dessa hesitagdo, o problemas moral se impse, mesmo no caso de escalher recusilo, pois mesmo nesse caso manifesto uma alitude {que me engaja moralmente. Mas, ela no em impoe nenhuma soluglo determinada; cla Imps apenas anecestidade de uma ercolha ce essa escolha deve colocar-se dentro do conjunto de projetos que sou eu e todos os ‘meus projetos particulares, embora nao

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