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e Avaliação da Política de
–
ELABORAÇÃO:
Equipe de Monitoramento e avaliação da GEIMA:
Adriana Dania Nogueira (2006-2007)
Carla Andréa Ribeiro
Denise Amaral Soares
Maria de Fátima Queiroz Ribeiro (2005-2006)
Maria Nazaré Pereira (2006-2007)
Neuza Maria Lima (2005-2006)
Renata Silva Daniel Caldeira (2005-2006)
Verônica de Araújo Nunes
Gerência de Gestão da Política de Assistência Social (GGPAS)
Mário César Rocha Moreira
Gerência de Proteção Especial (GPES)
Eliane Quaresma Caldeira Araújo
Gerência de Proteção Social (GPSO)
Darci Maria de Sousa Vilaça
Gerências de 2º e 3º níveis, Coordenadores e Técnicos do nível central e regionais.
CONSULTORES:
Aldaíza Sposati
Maria das Graças Rua
REVISÃO E NORMALIZAÇÃO:
Fernando França Campos / Vanuza Bedeti da Silva
1 - Introdução ------------------------------------------------------------------- 09
2 - Referencial Conceitual e Teórico ----------------------------------------- 10
2.1 - Monitoramento e Avaliação (M&A) e Vigilância ----------------- 11
2.2 - Enfoques Avaliativos ------------------------------------------------- 13
2.3 - Indicadores e Sistema de Indicadores ----------------------------- 15
2.4 - Metodologia para concepção e elaboração do Sistema de
M&A e de Vigilância-------------------------------------------------------- 16
2.4.1 - Passo a passo do processo de elaboração do Sistema de
M&A e Vigilância ------------------------------------------------------ 17
2.4.2 - Metodologia participativa----------------------------------- 20
2.5 - Gestão da informação para o monitoramento e avaliação e
vigilância-- ------------------------------------------------------------------- 26
2.6 - Informatização-------------------------------------------------------- 27
2.7 - Território e tratamento espacial da informação ------------------ 27
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INTRODUÇÃO
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2 - REFERENCIAL CONCEITUAL E TEÓRICO
10
Portanto, a literatura acerca dos conceitos é vasta e pode ser identificada
em uma escala entre a gestão privada e a pública, o que impinge a interpre-
tação e adaptação dos termos para sua aplicação na gestão da assistência
social.
Acompanhamento:
1. Ato ou efeito de acompanhar.
2. Cortejo; comitiva, séquito, préstito.
3. Astr. Movimento, paralelo ao equador celeste, realizado por um
instrumento astronômico a velocidade constante, e que permite acom-
panhar o movimento diurno dos astros.
4.Astr. V. rastreamento (2).
5.Educ. Etapa do processo de orientação em que o orientador, me-
diante contratos com escolas e locais de trabalho, acompanha a ativi-
dade de um estudante que esteve sob sua orientação.
Vigilância:
1. Ato ou efeito de vigilar(-se).
2. Precaução, cuidado, prevenção.
3. Zelo, diligência.”
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Tendo em vista as definições apresentadas e a constatação na literatura
especializada que a distinção dos termos é um mero recurso didático e va-
loroso, para a operacionalização de um modelo avaliativo. Considera-se
então a necessidade de definição dos termos para efeito de sua operaciona-
lização:
Monitoramento: ação contínua de verificação do processo e/ou do resul-
tado de atividades, serviços, projetos e programas visando o suprimento, de
forma tempestiva, das necessidades para o processo avaliativo e de decisão
operacional, gerencial e estratégico. Baseia-se principalmente em indicadores,
mas também utiliza outras fontes de informação. Conforme Segone (2002)
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Mokate (2006) sintetiza a discussão em torno do monitoramento e da
avaliação na perspectiva gerencial, ou seja, a avaliação como prática em
uma gerencia de característica social.
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Eficiência: é o enfoque que permite o julgamento das correlações estabe-
lecidas entre a ação e o seu custo, custeio e recursos despendidos. Pode-se
avaliar a eficiência considerando três níveis: a) recursos disponíveis transfor-
mados em oferta de bens e serviços; b) recursos realizados/esforços empre-
endidos e os resultados obtidos; c) recursos realizados/esforços empreendi-
dos e os efeitos/impacto dos resultados
Eficácia: o foco está no julgamento do cumprimento dos objetivos e na
consecução de resultados esperados. Pode ser dividido em quantitativa e
qualitativa. Eficácia quantitativa: afere o alcance quantitativo dos objetivos
(resultados esperados) e metas, verificando se foram atingidos segundo o
previsto. A eficácia qualitativa está relacionada ao como os objetivos foram
atingidos, considerando se os instrumentos previstos para a execução foram
realmente os empregados e se os meios utilizados foram coerentes e adequa-
dos para se atingir o resultado esperado.
Efetividade: é a verificação dos efeitos dos resultados da ação. Que po-
dem ser esperados – efetividade ou não esperados – impacto. A avaliação
da efetividade pode ter como “recorte” o indivíduo ou o contexto social e
territorial; podendo ser objetiva, subjetiva e substantiva. A efetividade objetiva
é o critério de aferição da mudança quantitativa entre o antes e o depois da
execução da ação, considera aspectos objetivos e mensuráveis. A efetividade
subjetiva se refere às mudanças comportamentais, crenças e valores. A efeti-
vidade substantiva individual ou social valida as mudanças mais qualitativas
e duradouras nas condições sociais de vida dos usuários/beneficiários. A
efetividade social e/ou o impacto tem como lócus o território ou o contexto
social. Justifica-se sua importância por ser ela que afere o proveito que as
populações, comunidades ou segmentos obtiveram com o projeto.
Avaliação ex-ante ou Diagnóstico: é a identificação de um fenômeno ou
de conjunto de variáveis cujo resultado é a delimitação de problema e a sua
descrição, o que viabiliza o estabelecimento da linha de base para a compa-
ração necessária no memento da avaliação de efetividade. Um diagnóstico
pode contemplar variáveis em situação de vigilância, ou seja, verificáveis
rotineiramente a fim de prevenir algo.
Análise situacional: é aquela que produz conhecimento acerca de um
determinado “problema” e leva em consideração perspectivas e interesses
distintos. Pode-se utilizar de um diagnóstico, e agrega-se a sua descrição a
análise do fenômeno no contexto pessoal, social, histórico, cultural, organi-
zacional, econômico e político realizada por diversos interesses que atuam na
cena da situação em questão, conforme Matus (1997). Pode ser considerada
como o principal elemento do processo de planejamento, pois a falha na
análise pode induzir ao erro de escolha das estratégias e consequentemente
levar ao insucesso da ação.
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2.3 - Indicadores e sistema de indicadores
Ou seja, é um sinal que visa expressar algum aspecto sob uma forma que
possibilita observá-lo ou mensurá-lo. Não é possível compreendê-lo em si
e torna-se necessário agregar parâmetros à sua interpretação. Por fim, é o
principal instrumento operacional do M&A e da vigilância.
Já um sistema de indicadores é um conjunto de indicadores inter-relacio-
nados de forma complementar, a partir dos enfoques avaliativos e sua rela-
ção com as etapas de planejamento e de gestão da política pública. Dessa
forma sua concepção e elaboração tornam-se possíveis após o desenho dos
Sistemas de Vigilância Sócio-assistencial e de Monitoramento e Avaliação.
Por se relacionar com aspectos avaliativos é necessário que o sistema de
indicadores seja coerente com a visão e com a concepção que a organização
tem sobre os seus objetivos centrais e de suas ações (serviços, produtos, pro-
jetos e outros). Sendo assim, a elaboração do sistema de indicadores deve
ser resultante de um processo de negociação transparente, e não impositiva,
dos diferentes interesses e expectativas existentes na organização. Além disso,
o processo de concepção e elaboração deve considerar as particularidades
do contexto organizacional e ser capaz de estabelecer um conjunto de indi-
cadores que captem os resultados e efeitos atribuíveis às ações.
É importante também considerar, na elaboração do indicador e do sis-
tema, estratégias para a sua progressiva adesão pela organização e a sua
apropriação por todos, no cotidiano das ações desenvolvidas. Ou seja, um
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processo impositivo e descolado do contexto organizacional pode compro-
meter a sua implantação, e até mesmo, o seu uso na perspectiva da produ-
ção do conhecimento.
1
Trata-se de um método destinado à elaboração de projetos, mas adaptável às ações continuadas. Destina-se à construção
dos principais elementos de um projeto – objetivos gerais e específicos do projeto, produtos ou resultados imediatos, atividades,
indicadores, meios de verificação e premissas. O Marco Lógico baseia-se no método científico de pesquisa social, estruturando
os projetos sobre uma cadeia de hipóteses acerca de relações de causa e efeito envolvidas no enfrentamento da problemática
em questão, conforme Zingoni e Ribeiro (2006)
2
Matus (1987) critica o modelo tradicional de planejamento, que se baseia na visão normativa, e propõe um modelo que parte
da explicação dos problemas e dos fatos da realidade, compreendendo-os em um contexto de conexões particulares. Assim ele
defende a formulação de um modelo de descrição e de explicação de problemas que identifica o complexo de relações entre os
múltiplos processos, em diferentes planos e espaços e como a atuação de múltiplos atores e interesses.
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A concepção e elaboração do M&A consistem em duas etapas: a primei-
ra é a delimitação dos objetos que serão avaliados e a indicação de como
poderão ser verificados, enfoques avaliativos e os meios. Essa etapa de con-
cepção permite planejar de forma cumulativa a elaboração e implantação
dos diversos elementos do sistema de M&A.
A segunda etapa, ou a elaboração, é o detalhamento daquilo que foi
concebido, em destaque o sistema de indicadores.
A implantação, implementação e aperfeiçoamento são etapas da opera-
cionalização do sistema e se sustentam na gestão da informação e na gera-
ção de conhecimento sobre o sistema de indicadores.
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•Quais são os objetivos e resultados pretendidos de cada ação e no seu
conjunto (política)?
•Quais os aspectos da execução da ação permitem verificar sua trajetória?
•Quais são os efeitos dos resultados esperados, por ação ou pelo conjunto?
•Qual a finalidade desse conhecimento? Quem o utilizará? Em qual instân-
cia de gestão?
ELABORAÇÃO DE INDICADORES
A elaboração dos indicadores depende da clareza do objeto de avaliação
descrito e delimitado na etapa anterior. Quanto mais clara e objetiva a des-
crição do objeto, mais fácil se torna a tarefa de elaboração de um indicador
sintético e simples na sua concepção.
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O parâmetro avaliativo do indicador é um dos principais elementos da
avaliação. É o parâmetro que orienta a análise do indicador e sem ele as
pessoas podem julgar o valor do indicador segundo critérios pessoais. Esses
julgamentos são mais suscetíveis aos erros.
Devem-se estabelecer os parâmetros avaliativos de forma participativa e
pactuada entre os atores da ação ou política. Leva-se em consideração a re-
alidade para a implementação da ação, os riscos, as dependências existentes
para o cumprimento de atividades-chave, a tempestividade da transferência
de recursos financeiros e outros. Após a análise dos elementos que interferem
diretamente no cumprimento do planejamento, e especificamente no objeto
que está sendo avaliado, propõem-se os parâmetros avaliativos. Eles podem
ser alterados a cada ciclo do planejamento.
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c. Submissão à análise dos operadores da ação. Essa estratégia consiste
em apresentar aos técnicos operadores os resultados dos indicadores para
certifica-se do grau de reconhecimento desses resultados. A contestação dos
resultados permite o levantamento de hipóteses acerca do registro e proces-
samento dos dados.
O ideal é validar os indicadores nos dois momentos e considerando todas
as estratégias apresentadas. Os resultados da validação consubstanciam a
decisão sobre os indicadores que serão incorporados ao Sistema de Indica-
dores ou descartados.
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2. A organização responsável pelo ação/política precisa conceder tempo
e recursos necessários para o processo avaliativo.
3. Os membros da equipe da ação precisam estar motivados para se
empenharem no desenvolvimento e aperfeiçoamento do processo.
Compartilhar o conhecimento para o aprendizado organizacional
A metodologia participativa propicia a produção de conhecimento e favo-
re o aprendizado organizacional.
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sições sobre missão, clientes, capacidades ou estratégias. Isto requer uma
forma diferente de analisar as informações e questionar as relações de causa
e efeito aceitas nos projetos. Sendo assim, a aprendizagem generativa é re-
volucionária, inovadora e capaz de criar diferencial.
Kim (1998) acrescentou, ainda, ao processo de aprendizagem individual
os conceitos de modelos mentais de Senge (1998), afirmando que os mode-
los mentais influenciam a aprendizagem operacional e conceitual, durante o
cumprimento do processo OADI (de observação, reflexão, planejamento e
ação).
A aprendizagem organizacional, então, é descrita por Kim (1998) como
um processo mais complexo e dinâmico do que a aprendizagem individual.
Ele explica que, no contexto da aprendizagem organizacional, devem-se con-
siderar os pressupostos compartilhados e presentes na memória da organiza-
ção, provenientes de aprendizagens passadas. As rotinas são as expressões
desse aprendizado armazenado. Tudo isso influencia o processo de aprendi-
zagem individual e as ações realizadas.
O ciclo de aprendizagem organizacional se fecha à medida que os indiví-
duos realizam ações que provocam ações organizacionais que, por sua vez,
produzem respostas ambientais. Acrescentando o processo de captação de
informações e interpretação da realidade ambiental, o indivíduo reinicia seu
processo de aprendizagem e recomeça o ciclo. O autor enfatiza em todo
esse processo a importância do compartilhamento das aprendizagens indivi-
duais através da troca e compartilhamento de modelos mentais – o que em
sua opinião irá aumentar a capacidade de uma organização de tomar uma
ação efetiva.
De forma bastante similar, Nonaka e Takeuchi (1997), dissertando sobre
a transformação do conhecimento individual em organizacional, ressalta que
um novo conhecimento sempre começa com o indivíduo, seja um pesquisa-
dor que teve uma intuição que culminou em uma patente, um gerente médio
que pressente uma tendência de mercado e influencia na criação de um novo
conceito de produto, um trabalhador de fábrica que, com sua experiência,
sugere um processo inovador. Em cada caso, para que o conhecimento indi-
vidual se transforme efetivamente em uma inovação que irá agregar valor ao
mercado e aos investidores, é necessário, em primeiro lugar, que o conhe-
cimento individual seja compartilhado com outros membros da organização
e da equipe do projeto e se transforme em conhecimento disponível para a
organização como um todo.
Assim, o conhecimento individual nasce de uma curiosidade e de um
questionamento, que em seguida é testado, sustentado em uma premissa e
experimentado. Parte-se, então, para a observação dos dados e sua interpre-
tação, sendo o passo seguinte a aplicação dessas conclusões e resultados
ao mundo real. Mas, esta interpretação dos dados é realizada através de um
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filtro pessoal, paradigmas individuais, que são os modelos mentais ou mapas
cognitivos formados pelas experiências passadas, pela relação de causa e
efeito em que se aprendeu a acreditar.
O processo de aprendizagem individual se inicia com a reflexão sobre
uma ação passada, depois passa para a fase de conexão, em que o in-
divíduo cria idéias e possibilidades para a ação e as reorganiza em novas
formas. O terceiro passo é a decisão, quando estabelece métodos para a
ação e finalmente a ação, executando uma tarefa com uma postura bastante
experimental, o que o leva novamente à reflexão sobre os resultados obtidos
e à repetição do ciclo.
Para que haja mudanças efetivas em uma organização e nas suas ações,
ou que essas reflexões conduzam à inovação de maneira mais rápida é ne-
cessário promover o ciclo de aprendizagem coletivo que consiste em:
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As ações e a política devem, ainda, estimular o processo de criação de
conhecimento e, por fim, devem fazer com que a diversidade interna reflita a
variedade e complexidade de seu ambiente externo, o que implica no acesso
imediato às informações, por parte de seus membros, para que estes possam
responder com rapidez às contingências (CHOO, 2003; NONAKA e TAKEU-
CHI, 1997).
A criação de conhecimento, segundo Choo (2003), não é uma atividade
da organização ou equipe da ação isolada, mas um resultado cooperati-
vo de seus membros trabalhando muito próximos, em grupos internos e em
parceria com outras organizações, devendo, as organizações, ser entendidas
como repositórios de capacidades, que são o resultado do conhecimento in-
dividual e de grupos da organização, dos processos e ferramentas utilizadas.
O autor afirma ainda que a aquisição e uso da informação são condiciona-
das pelos seguintes fatores:
- Identificação de vazios (Gap): na criação de conhecimento, a necessida-
de de informação surge de vazios no conhecimento, na compreensão ou nas
capacidades existentes nas organizações. Tais vazios podem situar-se, por
exemplo, na forma da organização/equipe do projeto solucionar problemas
ou aproveitar as oportunidades;
- Critérios de avaliação: a necessidade de informação deve ser identi-
ficada e elaborada. O processo de aquisição de informação é guiado por
crenças e suposições, que modelam e direcionam a especificação da neces-
sidade da informação, e validam os critérios pelo qual a nova informação
e conhecimento deveriam ser avaliados, à medida que são encontradas no
processo de aquisição;
- Fontes de conhecimento: os vazios existentes nas organizações podem
ser preenchidos de várias formas: localizando especialistas ou experiências
dentro das organizações, aprendendo ou desenvolvendo as capacidades de-
sejadas, ou transferindo conhecimento de fora da organização. Uma parte
importante da elaboração da necessidade de informação é descobrir fontes
e desenvolver estratégias para adquirir um conhecimento específico;
- Aquisição de informação: a busca de novo conhecimento, necessita
ser simultaneamente ampla e estreita. Geralmente, o processo começa pela
vasta busca e compartilhamento da informação, conectando-se com várias
fontes dentro e fora da organização. Os objetivos iniciais são avaliar o está-
gio de desenvolvimento de uma área, entender o conjunto de possibilidades
e identificar novas oportunidades ou necessidades do mercado. Em outro
estágio, quando o problema é suficientemente definido, a aquisição de in-
formação torna-se mais estreitamente centrada e cada vez mais rigorosa. A
aquisição de informação no contexto de criação do conhecimento é, prova-
velmente, influenciada pelas atitudes e preferências individuais sobre o tipo
de informação e o estilo de junção da informação;
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- Acesso à informação: pode se dar de várias formas, tais como, assis-
tindo-se a conferências, conversando-se com indivíduos, visitando-se sites,
elevando o nível de leitura na organização/equipe do projeto. A aquisição
de informação durante a criação de conhecimento é, portanto, caracterizada
por busca e compartilhamento intensivos da informação, e pelo uso de um
número de canais de informação que introduz especialistas de outros grupos
ou organizações;
- Compartilhamento de informações: as organizações que estão efetiva-
mente envolvidas na criação de conhecimento constantemente expõem seus
membros a novas idéias e inovações de outras organizações. As organizações
precisam reconhecer que, mais do que nunca, o conhecimento é um recurso
largamente distribuído que deve ser compartilhado e conjuntamente criado
por vários grupos de participantes, incluindo clientes, fornecedores, compe-
tidores, consultores, pesquisadores, cientistas e outros. Penetrando dentro da
abundância de informações que está no ambiente externo, as organizações
buscam e mantêm fronteiras organizacionais porosas, que facilitam a ab-
sorção da informação externa. O compartilhamento da informação é uma
condição necessária na criação de conhecimento organizacional.
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O processo de compartilhamento do conhecimento requer uma cultura
organizacional promotora de um ambiente de confiança e cooperação. Uma
cultura que permite as pessoas errarem, criticarem, pensarem divergente-
mente e conseqüentemente criarem. Esse ambiente deve ser compreendido
como estratégico no processo de avaliação. A metodologia de avaliação que
mais contempla essa perspectiva de compartilhamento do conhecimento é
indubitavelmente uma metodologia participativa, conforme mencionado.
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das necessidades informacionais. É de amplo conhecimento que ao reduzir
as incertezas, outras incertezas são geradas, portanto, novas necessidades
informacionais são apontadas e o ciclo recomeça. Observa-se que nesta
etapa, além do acesso à informação expressa na necessidade informacional,
é também necessário disseminar outras informações coletadas e processa-
das, não necessariamente, expressas nas necessidades informacionais. Essa
disseminação permite potencializar o uso da informação e a produção de
conhecimento.
Sendo assim, a gestão da informação são principalmente da ordem hu-
mana e social/organizacional.
2.6 - Informatização
27
Esta concepção de território está voltada para um modelo de organiza-
ção de serviços que considera a construção social do espaço. As relações
entre diferentes grupos sociais vão estabelecer também diferentes formas de
ocupação e apropriação do espaço. Nesta perspectiva, a organização, pla-
nejamento e gestão das ações e serviços públicos deveriam considerar estas
heterogeneidades. Isso se dá a partir de aproximações sucessivas do territó-
rio, que envolve toda uma mudança de processos de trabalho perante uma
população que vive em um espaço delimitado. Tira-se a ênfase do limite
geográfico e da ordenação antecipada dos serviços e busca-se uma nova
operacionalização, que, principalmente, torne-se mais permeável às necessi-
dades da população.
A efetivação do território como uma unidade de planejamento e gestão
das ações /políticas depende de instrumentos para o tratamento espacial da
informação ou geoprocessamento ou georreferenciamento.
Trata-se de um conjunto de técnicas e recursos aplicados à localização de
“elemento” (pessoa, serviço, família, prédio e outros) no espaço delimitado
geograficamente (polígono). O processo de georreferenciamento agrega
ao elemento a informação de sua localização geográfica, que podem ser
coordenadas: latitude e longitude; identificação por meio da composição do
código de logradouro e nº do imóvel, enfim técnicas baseadas conceitual-
mente na geografia e com aplicação centrada em recursos tecnológicos, que
possibilitam plotar no mapa o referido elemento. Assim torna-se possível ma-
pear os fenômenos para atingir vários objetivos que vão da mera localização
a vigilância.
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3 - GOVERNANÇA DA POLÍTICA PÚBLICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL: A APLICAÇÃO DA VIGI-
LÂNCIA SÓCIO-ASSISTENCIAL E DO SISTEMA
DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO
3
Após o fim da Era de Ouro e do pleno emprego o mundo atravessa uma crise de proporção mundial que abrange as dimen-
sões econômica, política e social. Hobsbawm (1995) denomina como Era do Ouro o período pós-guerra (segunda) onde a
economia mundial atravessou ciclo econômico virtuoso e de pleno emprego. O fim dessa Era foi atribuído às duas crises do
petróleo na década de 1970 (1973 e 1979).
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processo de superação. A principal questão é a consolidação da democracia
como modelo político hegemônico. Hoje é inquestionável a importância dos
processos políticos democráticos para a consolidação da cidadania. Demo-
cracia e cidadania tornaram-se um binômio inseparável, que tem como tôni-
ca a igualdade e eqüidade.
A contradição está presente na pressão que o Estado foi submetido para
assumir o papel de promotor da eqüidade dos direitos e acessos da popula-
ção e em um regime democrático e com escassez gerada crise econômica.
Mas, a eqüidade necessita do fortalecimento institucional do Estado e de
respostas eficazes às demandas e necessidades da população. Para melhor
responder às necessidades da população e diante do constrangimento fiscal,
foi colocado em pauta o debate sobre a crise do Estado e a superação do
modelo burocrático de administração. O primeiro relacionado à abrangên-
cia do Estado e o segundo a modernização das instituições estatais. Apesar
do surgimento dos temas em um mesmo momento histórico as soluções são
distintas na sua natureza. Ou seja, a revisão da abrangência do Estado está
diretamente relacionada à formulação de sua agenda e a superação do mo-
delo burocrático de administração pública está relacionado à incorporação
das dimensões de governabilidade e de governança na gestão pública. Neste
texto será abordado o segundo debate.
O conceito de governança foi aplicado inicialmente pelo Banco Mundial
como a capacidade do Estado e seu aparato de colimar seus objetivos pri-
mando pela eficiência, eficácia e efetividade das ações, avaliando os pro-
cessos e resultados de modo a possibilitar o reordenamento das mesmas de
forma tempestiva. Já a governabilidade refere-se à legitimidade do Estado.
Governança e governabilidade são faces opostas da mesma moeda confor-
me Bresser Pereira e Spink, (1998).
No Brasil, o debate sobre governabilidade e governança é indissociável
e está relacionado à consolidação da democracia, segundo Diniz (1996). A
autora define que a crise institucional decorrente do acirramento da defasa-
gem Estado-sociedade, ao lado da ineficácia do poder público na gestão
dos problemas mais prementes, impõe uma nova forma de caracterizar a
crise de governabilidade. Ainda segundo a autora, a ingovernabilidade do
país pode ser originária da liberação das demandas reprimidas pelos vinte
anos do regime autoritário e da exacerbação das perspectivas por políticas
públicas mais efetivas, conjugadas com a falência executiva do Estado. Nesse
contexto, a concepção de governabilidade está diretamente relacionada ao
conceito de governança. Rua (1997, p.135), corrobora essa definição afir-
mando que
30
mente política do processo de governo (governabilidade) e
uma outra restrita às rotinas de gerenciamento despolitizado
(governança).”
Ela também propõe a fusão dos termos baseando-se nos seguintes argu-
mentos: primeiro que a administração da coisa pública é política pela própria
natureza do significado de gerir a coisa pública, ou seja, pressupõe escolhas
que estabeleçam primazia do interesse público em detrimento dos interesses
privados. E segundo, por implicação, há existência de um vínculo indissolúvel
e de uma articulação dinâmica entre governabilidade e governança. Conclui
que a distinção entre as duas significa apenas um recurso de análise.
Resumindo, Governança diz respeito à capacidade governativa no sentido
amplo, envolvendo a capacidade de ação estatal na implementação das políti-
cas e na consecução das metas coletivas. Refere-se, também, ao conjunto dos
mecanismos e procedimentos para lidar com a dimensão participativa e plural
da sociedade, o que implica expandir e aperfeiçoar os meios de interlocução e
de administração do jogo de interesses (DINIZ, 1996, p. 12-13).
A operacionalização do conceito de governança institui um novo modus
operanti do Estado, voltado para os resultados e para os efeitos da sua ação,
assim como para a democratização do processo de formulação da agenda,
propostas, implementação, monitoramento e avaliação. Essa forma de ges-
tão é condicionada à ampliação e à porosidade da relação entre o Estado e
a sociedade civil.
A instituição de um novo modus operanti do Estado requer a moderni-
zação das estruturas de gestão e de seu processo de democratização, com-
plementando a estruturação das instituições políticas, conforme Abranches
(1992). Nesse caso, compreende-se por modernização o processo de consti-
tuição de cidadania e de otimização dos recursos públicos. O foco está, por
um lado, na satisfação dos usuários, na qualidade dos serviços, na promo-
ção da consulta ao público e na transparência. Por outro lado, procura-se
incorporar técnicas de gestão “mais avançadas para dotar o funcionamento
das instituições públicas de maior eficácia e eficiência”, conforme afirmam
Tohá e Solari (1997, p. 84).
Neste sentido, a constituição da assistência social como política pública
e a evidência da importância da função da Vigilância Sócio-assistencial e do
instrumento de gestão - o Sistema de Monitoramento e Avaliação, apontam
para a alteração do modus operanti vigente na administração pública (mo-
delo burocrático). Ou seja, a constituição da política pública de assistência
social força a instituição de um modelo de gestão que supere os limites da
burocracia e institua a gestão pós-burocrática ou Social, conforme é deno-
minado por vários autores.
Essa compreensão permite a assertiva que a elaboração e as estratégias
de implantação do SUAS estão em consonância com a Gestão Social, con-
31
forme é percebido nas duas principais normativas vigentes que são Política
Nacional de Assistência Social – PNAS 2004 e Norma Operacional Básica
do SUAS – NOB/SUAS 2005.
Conforme PNAS/2004:
Nesta definição a vigilância social é uma das três funções da PNAS que
cumpre um papel em relação à identificação e à localização da necessidade
de proteção sócio-assistencial no território. Também cabe a ela a vigilância
dos padrões de serviços sócio-assistenciais, que seria a “oferta”.
Ou seja, a função de Vigilância Sócio-assistencial tem foco na situação
problema da população em seu contexto territorial (necessidades4), visando
à responsabilização do poder público com a garantia dos direitos sócio-as-
sistenciais. A essa vigilância denominamos de macro-vigilância e conforme a
NOB/SUAS:
4
O conceito de necessidade é mais amplo que o de demanda, pois considera como “manifestação de necessidades, apresen-
tadas explicitamente pelo usuário ou identificadas pelo técnico, que exigem intervenções de natureza sócio-assistencial.” (Belo
Horizonte, 2007. p.31). Assim, a necessidade sócio-assistencial é aquela identificada por meio da Vigilância Sócio-assistencial
e que não se transformou necessariamente em demanda.
32
co gestor da Assistência Social para conhecer a presença das
formas de vulnerabilidade social da população e do território
pelo qual é responsável.” (BRASIL, 2005. p 21)
33
“A gestão da informação tem como objetivo produzir condi-
ções estruturais para as operações de gestão, monitoramento e
avaliação do SUAS, conforme as determinações dessa Norma.
Opera a gestão dos dados e dos fluxos de informação do SUAS
com a definição de estratégias referentes à produção, armaze-
namento, organização, classificação e disseminação de dado,
por meio de componentes de tecnologia de informação, obe-
decendo padrão nacional e eletrônico.” (BRASIL, 2005. p. 45)
34
3.3 - Articulação entre a Vigilância Sócio-assistencial e o Siste-
ma de Monitoramento e Avaliação
35
36
FIGURA 1
Vigilância Socioassistencial e Sistema de Monitoramento e Avaliação SUAS-BH
QUADRO 1
Descrição dos elementos da vigilância sócio-assistencial e sistema de M&A
37
38
A escolha de BH foi conceber todo o sistema nos aspectos que compe-
tem ao município. Essa visão do todo permitiu definir as etapas e atividades
predecessoras e, com isso, foi possível estimar que o tempo necessário para
implantar e implementar todo o sistema no que compete ao município é de
quatro a sete anos.
39
FIGURA 2
Representação da gestão e macro processo da política pública
de assistência social e sua relação com o sistema de vigilância
sócio-assistencial e monitoramento e avaliação do SUAS.
40
QUADRO 2
Descrição dos componentes da gestão e macro processo de
trabalho representados na FIGURA 2
41
Em resumo, o Sistema de M&A permite a identificação e mensuração das
etapas ciclo apresentado e quando são devidamente acompanhadas pela
sociedade civil, contribui para o fortalecimento do controle social e a trans-
parência da política pública.
42
4 - COMO TUDO COMEÇOU EM BELO
HORIZONTE...
5
O início das atividades de monitoramento e avaliação na Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social se deu em 2000,
no ensejo da reforma administrativa que criou a Gerência de Informação, Monitoramento e Avaliação – GEIM, atual GEIMA
(mesma denominação). Neste contexto, a GEIM, devido às suas atribuições publicadas no Diário Oficial do Município, assume
um papel de subsidiar o planejamento e gestão do órgão gestor da Política de Assistência Social em Belo Horizonte, uma vez
que, a partir do processo de descentralização gradual das ações da SMAAS para as Regionais Administrativas, a política em seu
nível central responsabilizar-se-ia pela coordenação, formulação de diretrizes, monitoramento e avaliação das ações em seu
formato descentralizado. A GEIM daria concretude ao monitoramento, avaliação, organização e gestão da informação, instru-
mentos de gestão necessários para atender as novas funções assumidas pela SMAAS a partir da Reforma Administrativa.
43
e na revisão conceitual e prática dos lugares da informação e informatização
nos processos de trabalho e gestão, culminando na realização de um semi-
nário em novembro deste mesmo ano.
O “Seminário sobre Sistema de Monitoramento e Avaliação e Projeto de
Informatização do SUAS-BH” foi o primeiro momento de publicização da
concepção do sistema de M&A e do projeto de informatização e de início da
elaboração coletiva em torno de quatro eixos: indicadores, territorialização
da Proteção Social Básica, Censo BH Social (Cadastro das Políticas Sociais) e
Prontuário Eletrônico, por meio da formação de Grupos de Trabalho (GT).
Estes trabalhos desdobraram-se ao longo do ano de 2006 envolvendo
número significativo de trabalhadores da Assistência Social. Sendo que, dois
desses Grupos de Trabalho tiveram uma intensa produção: o GT Indicadores
e o GT Território, além das atividades de desenvolvimento do Sistema de
Informação e Gestão das Políticas sociais.
4.1- Indicadores
6
Execução direta: refere-se à entrega de serviços e benefícios gerenciados diretamente pelo executivo dos órgãos públicos nas
esferas municipal, estadual e federal.
44
no registro das informações a serem processadas pelos indicadores. Nesse
sentido, um processo de trabalho paralelo foi iniciado sob a coordenação
da Gerência de Gestão da Política de Assistência Social, para a compilação,
produção e padronização de termos utilizados pelos trabalhadores e pela
política de Assistência Social. A coletânea dos 201 verbetes originou a publi-
cação do “Dicionário de termos técnicos da Assistência Social”.
As reuniões deste Grupo de Trabalho foram orientadas para a elaboração
dos indicadores considerando os seguintes aspectos: nome do indicador (sua
expressão sintética); conceito (a descrição da relação contida em sua fór-
mula); interpretação (explicitação daquilo que o indicador pretende apontar,
medir); fórmula de cálculo (abstração matemática do conceito); parâmetros
do indicador (referências para a interpretação do resultado apresentado pelo
indicador).
Ao mesmo tempo, atentou-se para a obtenção de um número não muito
grande de indicadores e que fossem o mais sintético e preciso possíveis de
modo que a simplicidade favorecesse a compreensão e interpretação e em
conseqüência, sua perenidade.
Nesse esforço conjunto, foram construídos a princípio 86 indicadores para
22 Serviços sócio-assistenciais: 15 indicadores para 5 Serviços da Proteção
Social Básica e 71 indicadores para 17 Serviços da Proteção Social Especial.
A obtenção desse produto deu início ao próximo passo na elaboração dos
indicadores: a fase de validações.
A primeira etapa de validação consistiu na divulgação e discussão dos
indicadores produzidos com os níveis operacional, gerencial e estratégico,
além das instâncias central e regional da política de assistência através dos
fóruns já instituídos e de reuniões específicas. A partir do debate e sugestões,
novas elaborações faziam-se necessárias.
A segunda etapa de validação ocorreu com a submissão do material pro-
duzido à apreciação de duas consultoras externas, Aldaíza Sposati e Maria
das Graças Rua. Em duas oficinas de trabalho mais restritas, as consultoras
debateram e apresentaram suas contribuições à proposta. A incorporação
das sugestões ensejou a realização de um novo evento em 25 de outubro de
2007, de caráter ampliado, visando ao compartilhamento das incorporações
ocorridas e a operação de novos ajustes aos indicadores apresentados na
presente publicação. Deste evento foram produzidos novos ajustes que resul-
taram nos indicadores em 39 indicadores descritos nesta publicação.
45
4.2 - Definição do território intra-urbano
7
Foi elaborada uma proposta preliminar de indicadores para vigilância socioassistencial que no momento encontra-se em pro-
cesso de avaliação e validação mediante consultoria externa e discussão pelos técnicos da SMAAS no Seminário de Indicadores
para SUAS-BH.
46
g. A análise da origem do usuário da rede sócio-assistencial (endereços
residenciais).
47
Havia inicialmente a proposta de construção de indicadores territoriais,
compostos por dados provenientes do Censo do IBGE e outras fontes muni-
cipais. Contudo, no município estão disponíveis e sendo utilizados em outros
órgãos municipais indicadores com essas características. A Secretaria Munici-
pal de Saúde possui desde 1996 o Índice de Vulnerabilidade à Saúde (2003),
mapeando a cidade em áreas de risco muito elevado, elevado, médio e
baixo. Esse índice tem sido utilizado para a distribuição das equipes do Pro-
grama de Saúde da Família, priorizando as áreas de maior vulnerabilidade.
A opção pelo uso desse índice nas análises do território da proteção social
básica se procedeu diante da verificação da proximidade entre os fenôme-
nos registrados pela área da Saúde e pela Assistência Social que dizem de
uma situação de vulnerabilidade social. Baseou-se também na perspectiva
de atualizações freqüentes, pois a Secretaria Municipal de Saúde mantém
periodicamente essas atualizações.
Para a construção dos mapas contendo as delimitações das áreas de
proteção social básica, geoprocessamento dos dados de entidades, usuários,
beneficiários entre outros, foi utilizado o software MAPINFO, versão 8.0. Para
a análise e tabulação das variáveis selecionadas para estudo do perfil da
população residente nas áreas de abrangência dos NAF/CRAS foi utilizado o
software TABWIN (DATASUS-MS).
8
A revisão do projeto de informatização SISAS gerou um projeto que foi selecionado como finalista ao Prêmio de Excelência em
Informática e Inovação na Gestão Pública oferecido pelo Congresso Nacional de Informática Pública - CONIP/SP de 2006.
48
a) qual a arquitetura tecnológica é mais adequada para atender as dire-
trizes de sistema de informação destinado à consolidação do SUAS em BH?
Neste aspecto observam-se: soft, hardware e rede.
b) Como proceder às mudanças no SISAS minimizando seus impactos na
credibilidade na tecnologia e nos gestores do projeto?
c) Quais alternativas existentes poderão ser utilizadas para financiar a
adequação do projeto de informatização? Qual é a melhor destinação dos
recursos?
49
dastramento tem um número significativo de dados, o que gerou resistência
na coleta e registro durante o atendimento do usuário. Outro aspecto é que
apenas este módulo foi efetivamente implantado, portanto, o cadastro não
se relaciona com nenhum outro registro o que limitava de forma significativa
a potencialidade de uso das informações, tanto no contexto da operação do
atendimento, quanto no aspecto gerencial e de planejamento.
Por fim, observou-se que a escolha da tecnologia utilizada para o desen-
volvimento do SISAS foi orientado por dois critérios, a solução de domínio
da Prodabel – Empresa de Informação de Informática do Município de Belo
Horizonte (na época) e a compatibilidade do seu uso na RMI – Rede Muni-
cipal de Informática. Por conseguinte, foi escolhida a linguagem Delphi 5.0,
de duas camadas - cliente-servidor -, com uma razoável performance no am-
biente da RMI, mas, tornou-se inviável nos NAFs, que não estão conectados
à RMI. A alternativa para conexão dos NAFs foi o banco de modem por meio
da linha discada, o que não foi resolutivo.
Atualmente a situação se mantém e os Núcleos de Apoio à Família (CRAS)
não foram conectados à RMI, pois a avaliação da relação entre custo e
quantidade de recursos informacionais operados em cada Núcleo de Apoio
à Família (CRAS) aponta para um alto TCO (Custos Operacionais e de Pro-
priedade). Essa avaliação conduziu à experimentação de outras tecnologias
de telecomunicação que fossem menos onerosa que a RMI. E somente no
1º semrestre de 2005 foi definido que não serão utilizadas alternativas tec-
nológicas à RMI, independente do resultado da análise de TCO. Ou seja,
será implantada a RMI nos NAFs e em todos os equipamentos externos da
SMAAS.
O balanço da implantação do SISAS no primeiro semestre de 2005 pode
ser resumido como no uso parcial em quatro GERASC (Gerência Regional de
Assistência Social) Barreiro, Leste, Noroeste e Oeste. O referido uso parcial
contempla apenas o cadastro de usuário/família, que foi avaliado com baixa
qualidade das informações. Por essas razões, as quatro GERASC usuárias
do SISAS foram orientadas a não obrigatoriedade do seu uso, aguardando
assim, uma proposta de adequação que supere os problemas relacionados
em dois grandes eixos: finalidade do sistema e infra-estrutura tecnológica
condizente com a finalidade.
Além dos aspectos apresentados observou-se a necessidade de rever a
metodologia de desenvolvimento e implantação do sistema, considerando
como preponderante para o sucesso da informatização a participação efetiva
do usuário final do sistema.
Ressalta-se também, que o contexto organizativo da política municipal
de assistência social não está mais focado na descentralização de serviços,
e sim, na consolidação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Este
contexto é resultante da aprovação da Política Nacional de Assistência Social
50
em novembro de 2004 e da NOB/SUAS Norma Operacional Básica em
julho de 2005. E reforça a concepção da informatização do sistema de in-
formação na assistência social orientada para o Monitoramento e Avaliação
(M&A), consolidando-o como instrumento de gestão. Baseando-se numa
tecnologia eficaz em relação à interoperabilidade e comunicabilidade, além
de TCO (Custos Operacionais e de Propriedade) baixo e sustentável, diante
da realidade da Assistência Social, fortalecendo assim, princípios como da
unificação de bases de dados e ampla possibilidade de expansão.
Sendo assim, foi indicada a reescrita do SISAS para uma linguagem Web
(Java), assim como, sua redefinição como recurso do Sistema de Informação
do Sistema de Monitoramento e Avaliação da A.S. no município.
51
CONCEITO ESTRUTURANTE DA INFORMATIZAÇÃO
O conceito de prontuário eletrônico único do usuário-família/cidadão do
SUAS pode ser escolhido para aorientar a solução tecnológica em questão e
foi extraído do conceito de Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) de Massad
et al (2003, p. 213) que o definem como:
52
QUADRO 3
Módulos do Sistema de Informação e Gestão de Políticas Sociais
53
5 - E O FUTURO?
54
O processo descrito em Belo Horizonte culminou-se com a identificação
de desafios para gestão municipal da assistência social que são:
55
56
Referências
ABRANCHES, Sérgio. O Estado. In: JAGUARIBE, Hélio et al. Sociedade, Estado e
partidos na atualidade brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
57
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: um breve século XX. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
MATUS, Carlos. Política, Planejamento e Governo. Tomo II. Brasília: IPEA, 1997
MENDES, E.V. et al. Território: conceito chave do distrito sanitário. In: DISTRITO
SANITÁRIO: o processo social de mudança das práticas sanitárias do Sistema
Único de Saúde. São Paulo, Hucitec, Rio de Janeiro, ABRASCO,1993.
58
RUA, Maria das Graças. Desafios da administração pública brasileira: governança,
autonomia, neutralidade. Revista do Serviço Público. Brasília, v. 48, n.3, 1997.
59
INDICADORES PARA
SERVIÇOS DE
EXECUÇÃO DIRETA
DA POLÍTICA MUNICIPAL
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
60
A proposta de elaboração dos indicadores nessa eta-
pa do processo de construção do Sistema de M&A abran-
geria todos os dezenove serviços de execução direta, mas
dois não foram contemplados porque estão em processo
de reestruturação conforme QUADRO 4.
61
QUADRO 4
Rede sócio-assistencial por tipo de execução e situação da elaboração
de indicadores no sistema
62
Os indicadores apresentados são de três naturezas, uma que se refere
aos aspectos gerais e de gestão de todo o sistema, outra que contempla os
aspectos comuns aos serviços, portanto denominados de indicadores comuns,
existindo neste caso serviços contemplados apenas com este tipo de indicador.
E finalmente a que contempla as especificidades dos serviços, QUADRO 5.
63
QUADRO 5
Relação de indicadores por natureza e localização (número de página)
64
65
66
01 – AQUISIÇÕES FAMILIARES PRODUZIDAS PELA PROTEÇÃO SÓCIO-ASSIS-
TENCIAL DO SUAS
67
02 - ENCAMINHAMENTOS COM ADESÃO DO USUÁRIO
69
Considera-se sustentabilidade dos resultados a não reincidência da de-
manda tratada pelo SUAS em um período de 2 anos. Não será considerada
reincidência de demanda aquelas tratadas nos serviços da proteção social
básica.
Interpretação: verifica a capacidade do SUAS em atingir resultados sus-
tentáveis em um período mínimo de 2 anos.
Método de Cálculo: Taxa de sustentabilidade dos resultados = (nº de famí-
lias que não registram nova demanda em um período de 2 anos após seu desli-
gamento / nº total de famílias desligadas do SUAS com avaliação satisfatória nos
últimos 2 anos) x 100
Abrangência de Análise: por serviço, por nível de proteção (PSB ou PSE),
por regional, municipal.
71
/ nº de famílias do PBF) x 100] + [(nº de beneficiários – famílias – que têm
simultaneamente o benefício do PBF e integrante (s) beneficiário (s) do BPC
inseridos/atendidos em serviços do SUAS/nº de beneficiários – famílias – que
têm simultaneamente o benefício do PBF e integrante (s) beneficiário (s) do
BPC) x 100]
Abrangência de Análise: por serviço, por território, por nível de proteção
(PSB ou PSE), por benefício, por regional, municipal.
Orientações para tratamento do indicador: Será considerado como pe-
ríodo de transição o processamento do indicador com duas unidades de
medida - indivíduo e família, o que leva ao cálculo de taxas que somadas
geram o indicador. Essa transição é necessária em função do Benefício de
Prestação Continuada que tem como unidade o indivíduo e o PBF a família.
A superação da transição só será possível quando todos os beneficiários do
BPC forem localizados e cadastradas suas respectivas famílias.
72
Considera-se família atendida aquela para as quais há registro de execu-
ção de procedimento metodológico/atividade9 previstos para o serviço.
Considera-se família referenciada aquela adstrita no território de abran-
gência do NAF/CRAS e cuja fonte de informação é o IBGE.
Interpretação: verifica a capacidade de cobertura de atendimento do
NAF/CRAS em relação às famílias referenciadas em sua área de abrangên-
cia, possibilitando a análise do cumprimento de metas previstas para o servi-
ço, em consonância com as estabelecidas pela NOB/SUAS.
Método de Cálculo: Taxa de cobertura a famílias referenciadas = (nº de
famílias atendidas / nº total de famílias referenciadas em área de NAF/CRAS)
x 100
Abrangência de Análise: por NAF, regional, municipal.
9
Procedimentos metodológicos: Atendimento Técnico, Encaminhamento, Acolhimento; Atividades: Grupo, Palestra, Oficina,
Reunião, Visita Domiciliar, Visita Institucional, Busca Ativa.
73
(freqüência escolar de crianças/adolescentes) e assistência social (ausência
de exploração do trabalho infanto-juvenil).
Interpretação: permite avaliar a função preventiva do NAF/CRAS junto às
famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família.
Método de Cálculo: Taxa de cumprimento de condicionalidades = (nº
de famílias beneficiárias do PBF, com crianças/adolescentes, referenciadas
em área de NAF/CRAS que cumprem as condicionalidades / nº total de
famílias beneficiárias do PBF com crianças/adolescentes referenciadas em
área de NAF/CRAS) X 100
Abrangência de Análise: por NAF/CRAS, regional, municipal
Orientações para tratamento do indicador: O cálculo do indicador deve-
rá considerar o número de famílias que cumprem as condicionalidades, após
a verificação do descumprimento por erro operacional.
15 – PREENCHIMENTO DE VAGAS
74
Considera-se vagas preenchidas quando o usuário/família se inscreve e
participa no mínimo de 50% das atividades oferecidas.
Interpretação: permite verificar a capacidade do serviço em contribuir
com a adesão dos usuários/famílias às atividades coletivas.
Método de Cálculo: Taxa de preenchimento de vagas = (n º de vagas
preenchidas / nº total de vagas ofertadas para atividades coletivas no NAF/
CRAS) x 100
Abrangência de Análise: por tipo de atividade, por NAF/CRAS, regional,
municipal.
75
17 - ADESÃO DE USUÁRIO A CURSO SOCIOPROFISSIONALIZANTE
76
Considera-se aprovado, com efeito de certificação em curso de qualifica-
ção socioprofissional, o aluno que obteve o domínio de 60% das habilidades
esperadas.
Interpretação: permite avaliar a capacidade do serviço em proporcionar
aos alunos a aquisição de habilidades esperadas ao término do curso.
Método de Cálculo: Taxa de aprovação em curso = (nº de alunos con-
cluintes em curso de formação socioprofissional que foram aprovados / nº
total de alunos concluintes em curso de formação socioprofissional) x 100
Abrangência de Análise: por curso, por turno, por unidade de atendimen-
to, no município.
Orientações para tratamento do indicador: O serviço já definiu critérios
que serão utilizados no tratamento da informação (Fichas de avaliação das
habilidades).
Ocorrerá avaliação técnica do serviço para aprovação ou não do usuário
nos casos em que o usuário tem entre 65% e 79% de freqüência e mais de
80% de aproveitamento.
77
Público alvo: famílias moradoras de rua, do município de Belo Horizonte,
que se encontram em processo de reinserção social, saindo das ruas e aces-
sando política de moradia.
20 – ORGANIZAÇÃO DE FAMÍLIAS
Público Alvo: idosos e pessoas adultas com deficiência, com direitos vio-
lados, no âmbito doméstico e suas famílias.
78
SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO, APOIO E PROTEÇÃO SOCIOFAMILIAR -
SOSF
79
Abrangência de Análise: por regional, município, por tipo de vulnerabilidade
(idoso, pessoa com deficiência).
SENTINELA
80
Público alvo:
- Crianças, adolescentes e suas famílias, vítimas efetivas e potenciais de
abuso e/ou exploração sexual;
- Instituições, serviços de ONG’s e OG’s, envolvidas com a proteção de
direitos de crianças e adolescentes, para questões envolvendo abuso ou ex-
ploração sexual, enquanto apoio técnico.
LIBERDADE ASSISTIDA
81
• Estabelecer com a família um contrato de ajuda mútua em torno das
necessidades dos adolescentes e os limites que o cumprimento da medida
impõe;
• Inserir e acompanhar o adolescente na vida escolar;
• Visualizar alternativas para a profissionalização e geração de renda;
• Desenvolver no adolescente a confiança e a capacidade de reflexão
sobre suas vivências, dificuldades, e sua ação no mundo;
• Periodicamente, avaliar com o adolescente o percurso dele no cumpri-
mento da medida de Liberdade Assistida.
Objetivos Específicos:
• Estabelecer, com o adolescente, um contrato preciso sobre as possibi-
lidades e limites de ajuda que irá encontrar e sobre as normas que regulam
seu período de cumprimento da medida de PSC;
• Mobilizar lideranças e organizações não-governamentais para inserção
dos jovens na própria comunidade, considerando-se o cumprimento da me-
dida e a rede de serviços;
• Desenvolver uma experiência no atendimento ao adolescente infrator
que possa contribuir com um atendimento de qualidade, condizente com os
princípios da cidadania, dignidade e justiça social;
• Estabelecer com a família um contrato de ajuda mútua em torno das
necessidades dos adolescentes e os limites que o cumprimento da medida
impõe;
• Inserir e acompanhar o adolescente na vida escolar;
• Visualizar alternativas comunitárias para a profissionalização e geração
de renda (Eixo Novas Oportunidades);
• Desenvolver, no adolescente, a confiança e a capacidade de reflexão
sobre suas vivências, dificuldades, e sua ação no mundo;
• Avaliar, ao final do acompanhamento, com o adolescente e o educador
de referência, o processo de cumprimento da medida de PSC.
82
Público Alvo: adolescentes que receberam a determinação judicial para
cumprirem a medida sócio-educativa de Prestação de Serviços à Comunida-
de - PSC, encaminhados pelo Juizado da Infância e da Juventude (Instrução
Normativa SMAS N° 001/2004).
PLANTÃO SOCIAL
Objetivos Específicos:
• Conceder benefícios à população, mediante escuta e/ou avaliação
sócio-econômica;
• Desenvolver trabalhos sócio-educativos;
• Realizar encaminhamentos;
• Fornecer informações e orientações.
27 - USUÁRIOS BENEFICIADOS
84
28 - CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS
MIGUILIM CULTURAL
85
Interpretação: verifica a capacidade de serviços, cujo público alvo são
crianças e adolescentes em situação de rua, de identificá-las e caracterizá-
las, possibilitando a execução de procedimentos metodológicos/atividades
necessários à proteção da criança ou adolescente.
Método de Cálculo:Taxa de identificação de crianças/adolescentes em
situação de rua = (nº de crianças e adolescentes em situação de rua identi-
ficados / nº de crianças e adolescentes em situação de rua visualizados e/ou
contactados) x 100.
Abrangência de Análise: municipal, por área de abordagem, por regional
da família, por tipo de vulnerabilidade (TVR ou TI), por serviço (Abordagem
ou Miguilim Cultural)
86
Método de Cálculo:Taxa de participação nas atividades lúdico-pedagó-
gicas = [(nº de crianças e adolescentes que participam de atividades lúdico-
pedagógicas oferecidas pelo Miguilim Cultural) / (nº total de crianças e ado-
lescentes que freqüentam o Miguilim Cultural nos dias de oferta de atividades
lúdico-pedagógicas)] x 100
Abrangência de Análise: por atividade, por turno.
Orientações para tratamento do indicador: Considera-se que a criança
ou adolescente participou de atividades lúdico-pedagógicas ofertadas, quan-
do as tiver freqüentado em 50% dos dias em que esteve presente no Miguilim
Cultural.
Objetivos específicos:
• Articular a rede de serviços com vistas à inserção e acompanhamento de
crianças e adolescentes em situação de trabalho e/ou mendicância nas ruas
• Inserir crianças e adolescentes em situação trabalho e/ou mendicância
nas ruas em serviços da rede socioassistencial e demais políticas sociais
• Monitorar a reiteração do fenômeno do trabalho e/ou mendicância de
crianças e adolescentes nas ruas
• Encaminhar os responsáveis legais e/ou familiares para Programas de
transferência de renda e qualificação profissional
87
crianças e adolescentes identificadas em situação de trabalho e/ou mendi-
cância encaminhados à Central pela Abordagem) x 100
Abrangência de Análise: por local de abordagem, por regional da família,
municipal.
34 - REITERAÇÃO
88
Interpretação: permite verificar a capacidade do serviço em contribuir
para a superação do fenômeno do trabalho e mendicância infanto-juvenis
nas ruas em Belo Horizonte.
Método de Cálculo:Taxa de reiteração = (nº de crianças e adolescentes
com reiteração do fenômeno/ nº total de crianças e adolescentes com as-
sinatura de termo de compromisso pelos responsáveis, garantia de vaga e
encaminhamento realizado) x 100
Abrangência de Análise: por local de abordagem, por regional da família,
municipal, por serviço que recebeu o encaminhamento.
35 - ACOMPANHAMENTO A USUÁRIOS
89
36 - PARTICIPAÇÃO DE USUÁRIOS EM ATIVIDADE COLETIVA ESTRUTURADA
Público Alvo: Mulheres adultas (18 anos até 59 anos e 11 meses) com
trajetória de vida na rua, acompanhadas ou não dos filhos de até 05 anos e
11 meses.
90
Objetivos específicos:
• Construir alternativa definitiva de saída das ruas;
• Possibilitar ao morador da República convivência comunitária;
• Possibilitar a referência de endereço.
37 – ORGANIZAÇÃO DE USUÁRIAS
38 - DESLIGAMENTO SATISFATÓRIO
91
- Aquisição de moradia própria
- Encaminhamento para ILP
- Moradia com companheiro
- Constituição de família
- Aluguel de moradia
- Emprego
92
39 . ADESÃO AO ACOMPANHAMENTO SÓCIO-FAMILIAR
93
MONITORAMENTO
DE AÇÕES NA
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL
3
Aldaíza Sposati 10
94
O entendimento quanto às implicações para a transi-
ção da assistência social de prática, pública ou privada,
para o campo da política pública é ainda um processo
em construção.
A versão mais difundida quanto a esse trânsito é a
da obrigatoriedade dos órgãos estatais em vincularem
recursos financeiros assim como realizarem a provisão de
recursos humanos para o desenvolvimento dessas ações.
Trata-se, no caso, do cumprimento do dever de Estado
em prover condições de financiamento através do Orça-
mento Público, bem como, em promover concursos públi-
cos que afiancem a admissão de quadros técnicos, ou de
agentes institucionais capacitados a operar essa política
pública.
10
Professora titular da PUC/SP de Pós Graduação em Serviço Social, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Seguridade e Assistência Social da PUC/SP – NEPSAS, coordenadora do CEDEST – Centro de Estudos das Desigualdades
Socioterritoriais (INPE-PUC/SP).
95
Uma e outra dimensão incidem na necessária ruptura com o trato resi-
dual, e por vezes informal, desse campo de proteção social não contributiva
pelas gestões estatais que mais se preocupam em apoiar iniciativas privadas,
ainda que sem fins lucrativos, do que capacitar os órgãos públicos com infra-
estrutura e recursos para a operação dessa atenção.
É sabido que poucas são as cidades brasileiras que em seu orçamento
municipal incorporam recursos próprios na função programática 8, ou me-
lhor, destinam recursos para a assistência social. Embora hoje, a quase tota-
lidade dos municípios já tenha um Fundo Municipal de Assistência Social, em
muitas cidades, principalmente as de pequeno porte, esse fundo existe mais
para a captação de recursos externos e/ou a transferência fundo a fundo
federal e, algumas vezes estadual, do que propriamente para operar recursos
próprios do orçamento municipal.
No campo dos recursos humanos é constatada a incidência da ação de
voluntários e de pessoal sem qualificação básica para o desempenho e a
gestão da assistência social carecendo de quadros próprios qualificados.
Sem dúvida, a política de financiamento e de recursos humanos são pila-
res fundamentais e insubstitutíveis na constituição da política pública, todavia
não são suficientes para erguer os andaimes da construção da política públi-
ca. É preciso também lembrar que, a política de assistência social precisa ter
clareza quanto ao escopo de suas responsabilidades para que possa inclusi-
ve dimensionar seu financiamento e os recursos que lhe são necessários.
A Política Nacional de Assistência Social - PNAS (2004) – trouxe eixos
decisórios para que a gestão de assistência social opere essas definições, das
quais se destacam:
- a assistência social como política de proteção social não contributiva
o que traz três questões: o que se entende por proteção social, o que
está sendo protegido e qual o patamar esperado dessa proteção;
- a matricialidade sócio-familiar, com base da proteção social de assis-
tência social, significa ter claro o que é capacidade protetiva de uma
família e até onde, e como, o Estado pode fortalecer essa capacidade
sem com isto produzir uma sobrecarga às famílias e às mulheres, em
especial por concentrar a maior carga da função protetiva familiar;
- a redução de danos provocados pelos riscos sociais e o desenvol-
vimento de condições de restauração desses danos exige também,
clarear de quais riscos estamos tratando, qual sua incidência e escala
de gravidade em suas ocorrências;
- a redução das vulnerabilidades sociais introduzindo o estatuto pre-
ventivo aos riscos sociais no campo da assistência social;
- a orientação pautada pela cidadania e pelos direitos que parame-
tra a assistência social como política ativa que se coloca na linha de
defesa de direitos sociais e humanos e promotora de condições de
96
fortalecimento (empowerment) do exercício da cidadania;
- a orientação pela territorialização que supõe novo modo de análise
da realidade a partir do conjunto de fatores que conformam a vivên-
cia cotidiana de pessoas, grupos familiares, grupos vicinais, bairros.
A observação da heterogeneidade dos modos de vida, bem como, a
dupla dimensão entre sujeitos e as condições objetivas de vida passam
a receber pesos iguais no exame das situações;
- a tridimensionalidade das funções da assistência social entre: pro-
teção social, vigilância social e defesa de direitos operada de forma
integrada, simultânea e interdependente. A estas funções, pela própria
natureza da gestão pública se agrega o desempenho da regulação
social. Isto significa ganhar capacidade para normatizar as ações de
assistência social, pública e privada, nos territórios abrangidos pelos
respectivos gestores.
Todos esses novos aportes construídos para a assistência social fluem da
concepção pela qual ela deve garantir seguranças sociais (inciso 2 da NOB/
SUAS – Resolução CNAS nº 130 de 15/07/2005):
- de acolhida
- de convívio e vivência familiar
- de sobrevivência a riscos circunstanciais
- de social de renda
- de desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social.
Portanto, aqui estão estabelecidas as finalidades da política e sua missão
que poderia, a partir da aplicação do princípio da universalização, ser enten-
dida como: responder a todas as demandas por proteção social de cidadãos
e famílias, ocasionadas pela vivência de riscos sociais com a oferta de bene-
fícios e condições para aquisições materiais e sociais voltadas à redução de
danos e restauração da ocorrência de vulnerabilidades sociais das famílias
no exercício da sua função protetiva e de convívio entre seus membros.
Todo este escopo de dimensões supõe superar a visão de resultados in-
tangíveis substituindo por um novo modo de gestão que permita ao mesmo
tempo construir a dimensão de escala nas ações de assistência social (volume
de respostas face às demandas), bem como, a dimensão de avaliação de
resultados de modo a tornar a ação mais efetiva em seus propósitos.
É esta dimensão da tangibilidade de resultados que se anuncia como um
grande desafio para a política pública. Enquanto as ações baseadas nos
princípios de benemerência, caridade, filantropia têm por principal feito a
perspectiva da acolhida através de uma porta aberta para atendimento, não
é esta a finalidade da política pública, principalmente no campo social.
A exemplo, em analogia com o relato do “bom samaritano” não basta
dizer que o viajante bebeu água, lavou os pés e comeu na casa ou junto
ao poço do samaritano. A política pública deve se preocupar com o resul-
97
tante para o futuro. Terá esse viajante condições de por si só concluir sua
caminhada? Seu estado de saúde o permite? As feridas dos seus pés estão
infeccionadas? O seu estado nutricional permite longas caminhadas? Ele
tem plena noção do caminho? Sabe para onde vai quando chegar ao seu
destino? Trata-se, no caso, de analisar as seguranças com que este “viajante”
vai pode contar para chegar a seu objetivo.
A tangibilidade de resultados na assistência social exige um sistema de
captação de informações, de observações que registradas permitam captar
a dinâmica de um processo de atenção no campo da assistência social.
Portanto, não basta o resultado: “viajante atendido”, mas detalhar o que
significou essa atenção, o que ela possibilitou, qual a sustentabilidade do
que ela possibilitou, se vai ocorrer a reincidência do “viajante” em busca
de acolhida. No caso da reincidência da presença do viajante no poço do
samaritano, ela tenderá a ocorrer por: ausência de poços no caminho, pela
propriedade particular dos poços, pela inabilidade do viajante em construir
condições favoráveis?
Esta discussão está pondo luzes nos processos de atenção prestados pela
política de assistência social no âmbito de benefícios, serviços ou projetos11.
Chegar a essa possibilidade exige outros pré-requisitos no processo orga-
nizativo da assistência social.
O primeiro pré-requisito é o de superar o entendimento de atenção por
segmentos: criança, adolescentes, idosos, população de rua, etc. É evidente
que os serviços são freqüentados por cidadãos que pertencem a esses seg-
mentos, mas a política púbica de assistência social não é responsável por to-
das as necessidades de cada um deles. A idade será uma das características
dos riscos sociais próprios ao ciclo de vida, todavia, há ainda a necessidade
de particularizar que riscos sociais são esses, por exemplo: crianças sob vi-
vência de abandono; idoso sob vivência de abandono, etc. É evidente que o
trato do abandono de uma criança ao de um idoso é diverso, a começar do
vínculo com o Judiciário que a atenção à criança exige. A proposta é a de
organizar as ações pela hierarquia das proteções sociais e segurança social
a afiançar.
O segundo pré-requisito para que seja desenvolvida a perspectiva do mo-
nitoramento do processo de atenção supõe objetivar rotinas de atenção, es-
tabelecer afinidades entre os serviços pela segurança que devem prover, pelo
tipo de proteção social, básica ou especial, de média ou alta complexidade.
Há portanto, um forte trabalho inicial de análise da dinâmica de serviço a
serviço e entre os diversos serviços da mesma finalidade, estabelecendo suas
regularidades e padrões de desempenho e qualidade.
11
Não se faz menção à categoria de programa por ser esta uma categoria organizativa da ação institucional com diálogo,
portanto, com a organicidade interna da ação pública e não propriamente relação com usuários, beneficiários e/ou cidadãos.
98
O terceiro grande pré-requisito supõe estabelecer as prioridades entre as
diversas finalidades do processo de monitoramento. O primeiro é o nível ime-
diato, isto é, do serviço com ele mesmo o que exige grau de detalhamento
interno que distingue o trabalho entre os agentes institucionais. À medida que
o processo é mais comparativo entre serviços similares também poderá ter
registros mais específicos entre os níveis do local/territorial, regional ou geral
da cidade, do Estado ou do país. Portanto, nem todos os registros se prestam
aos diferentes níveis de monitoramento.
Um quarto pré-requisito supõe entender que a finalidade do monitora-
mento pode ter finalidades diversas e com isto supor registros diferenciados.
A exemplo: os recursos humanos, a qualidade, a ação técnica, os recursos
financeiros, as instalações, o padrão de parcerias, a intersetorialidade das
ações, a prontidão e qualidade dos recursos para a atenção, a dinâmica do
controle social, etc. podem ser objeto de registro e monitoramento.
Quanto à qualidade da atenção ou a avaliação de resultados algumas
dimensões se colocam:
a) gestão do tempo: fila de espera ou espera para a atenção, tempo
de permanência, tempo de desligamento, reincidência;
b) gestão da cobertura: relação entre a oferta e demanda e sua vin-
culação territorial;
c) gestão da freqüência: análise da acessibilidade e da adesão e dos
modos de freqüência dos usuários e sua evasão;
d) gestão da completude em rede: mecanismos de referência e contra-
referência em acordos de intersetorialidade;
e) gestão das aquisições: neste bloco está o conjunto das ações in-
ternas e externas desenvolvidas para afiançar novas condições aos
usuários;
f) gestão dos resultados: no caso se coloca sob vigilância a superação
dos riscos pelas suas expressões concretas;
g) gestão do custo/custeio: que coloca o olhar sobre todas as uni-
dades de gastos/custos de cada ação a fim de medir a relação entre
custo e resultado.
99
100
A decisão para implantar o monitoramento de qualidade de resultados
deve incluir quais os campos da ação que serão monitorados. O segundo
movimento é o de fixar em cada campo a expressão concreta do que será
monitorado e a escala de medição a ser utilizada.
Este movimento exige fixar uma medida de bom, ótimo, regular, ruim.
Trata-se de fixar campos valorativos. Essas expressões concretas da variável
em exame que permitirá avaliá-la comporão o quadro de indicadores. Estes
serão transformados em índices a partir de uma dada correlação de inci-
dência em um grupo populacional (“x” crianças a cada “y” habitantes, por
exemplo).
Poucas são as cidades brasileiras que estão avançando no processo de
monitoramento das ações da assistência social que se concretiza pela cons-
trução de indicadores e índices que, através do cálculo por taxa, via de regra
101
em relação à população, permite uma nova apropriação dos resultados de
ação e a produção de estudos comparados. O índice através de comparação
longitudinal em tempos diferentes e/ou territorial, num mesmo período de
tempo, permite uma nova compreensão do comportamento da realidade e
nela das respostas que estão sendo construídas.
Todo este processo de monitoramento é um processo corajoso de uma
gestão que se quer democrática. A transparência gerada pelos indicadores e
índices alimenta o controle social através da transparência que produz.
Neste caso cumpre-se com mais um requisito fundamental da política pú-
blica: a possibilidade de enxergar criticamente a totalidade e nela captar as
diferenças entre partes e todo.
Este grande objetivo leva, sem dúvida, a alcançar um novo patamar críti-
co que indicará novos passos e conquistas.
É neste movimento que compreendo a iniciativa da gestão do SUAS na
cidade de Belo Horizonte o que, sem dúvida, trará enorme contribuição ao
avanço da gestão do SUAS no Brasil e através dele a concretização de novos
direitos à proteção social não contributiva.
102
Referência
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução
nº130 de 15 de julho de 2005. Aprova a Norma Operacional
Básica da Assistência Social – NOB SUAS. Diário Oficial da
União, Brasília, 25 jul. 2005.
103
O USO DOS INDICADORES
PARA O MONITORAMENTO
E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS,
PROGRAMAS E PROJETOS
PÚBLICOS
4
Maria das Graças Rua12
104
Embora a temática dos indicadores venha despertan-
do acentuada atenção entre os gestores brasileiros, nos
últimos anos, este é um assunto que já tem história. Na
década de 1920, nos EUA, começou a surgir a idéia de
que a sociedade deveria ter dados que permitissem uma
imagem precisa de si própria e de suas mudanças. Em
1929 foi criado um comitê presidencial com a tarefa de
produzir um relatório detalhado denominado “Tendências
Sociais Recentes”. Por trás da expressão “tendências so-
ciais” ou “indicadores” a única idéia existente era a de
que estes deveriam expressar um esforço ativo e delibera-
do para selecionar um conjunto de medidas de mudança
social.
O relatório do comitê teve poucos impactos imedia-
tos, mas levantou essas idéias e, a partir de então, alguns
dados passaram a ser coletados e sistematizados segun-
do as preocupações ali apresentadas. Bem mais tarde,
12
Doutora em Ciências Humanas e Ciência Política - IUPERJ, Professora adjunta IV da UnB. Atuação em Avaliação de Políticas
Públicas.
105
após a Segunda Guerra, consolidou-se o conceito de indicadores sociais,
que deveriam representar uma alternativa ao foco exclusivo sobre o cresci-
mento econômico e em 1953 já havia uma ampla coleção de dados estatís-
ticos, sobre taxas de desemprego, crimes, níveis de consumo etc. A busca de
indicadores sociais baseava-se numa concepção que poderia ser expressa
nos seguintes termos: “Nós sabemos que certas situações são insatisfató-
rias. Se coletarmos um boa quantidade de dados talvez venhamos a saber
como as coisas são e tenhamos uma idéia do que fazer”. Tratava-se de uma
abordagem exploratória, empiricista, intuitiva, sem fundamento em teorias
consistentes.
Na década de 1960 vários países já tinham começado a compilar regu-
larmente os dados para compor indicadores sociais e firmou-se a concepção
de que era preciso entender as “conseqüências de segunda ordem”, ou seja,
os efeitos não antecipados sobre extensas áreas da vida social, política e
econômica, que necessitariam amplas intervenções. Porém, demorou-se a
perceber que as medidas por si só não traziam soluções para os problemas.
E, que a definição do problema, a análise, o planejamento e o envolvimento
com a gestão teriam que amadurecer junto com os indicadores.
Em meados da década de 1960, uma pesquisa da NASA chegou à con-
clusão de que havia uma quase absoluta ausência de conceitos e de me-
todologia para a construção de indicadores, os quais foram definidos pelo
diretor do projeto, Raymond Bauer, como “estatísticas e séries estatísticas
e todas as outras formas de evidência que nos capacitem a avaliar em que
ponto estamos e para onde estamos indo com relação aos nossos objetivos
e valores”.
Logo depois, na década de 1970, a pesquisa envolvendo indicadores so-
ciais se disseminou para vários países e organismos internacionais. A OCDE
e as Nações Unidas começaram a adotá-los e desenvolveram-se novos con-
ceitos e metodologias para sua elaboração. Nessa época, pela primeira vez
começou-se a discutir se o maior objetivo das sociedades ocidentais desen-
volvidas deveria ser o crescimento econômico. Os custos sociais do cresci-
mento econômico e a pobreza como a outra face da moeda, tornaram-se
o foco do debate político. Passou-se a questionar cada vez mais a idéia de
que “mais significa o mesmo que melhor”, e surgiu uma demanda pública
de qualidade, em oposição a quantidade. Foi quando se desenvolveu a dis-
cussão sobre “qualidade de vida”, que contribuiu para o fortalecimento da
idéia de que seriam necessários indicadores mais rigorosos para apoiar as
avaliações de políticas então efetuadas.
Passaram a se diferenciar os indicadores sociais objetivos e os subjetivos.
Os primeiros correspondem a estatísticas que representam fatos sociais, in-
dependentemente de avaliações pessoais. São eles, por exemplo, renda per
capita, taxas de desemprego, taxa de pobreza, extensão média da jornada
106
semanal de trabalho, taxa de mortalidade perinatal, etc. Os indicadores sub-
jetivos, por sua vez, enfatizam as percepções individuais e avaliações das
condições sociais. São eles: satisfação com a vida, com o trabalho, percep-
ção de justiça distributiva, aspirações quanto ao futuro, etc.
Este período caracterizou-se pela constituição de grandes e complexos
sistemas de informação social, baseados em inúmeras pesquisas sobre qua-
lidade de vida e desenvolvimento social. Entretanto, ao final da década de
1970 devido à crise econômica decorrente do choque do petróleo reduziu-se
o interesse pelos indicadores sociais, de tal forma que, ao final da década de
1980 a sua utilização declinou e o seu desenvolvimento estagnou-se, perma-
necendo a ênfase apenas nos indicadores econômicos.
Somente na década de 1990 ressurgiu o interesse pelos indicadores, não
somente econômicos, mas também sociais e gerenciais. Ocorreu sua revalo-
rização tanto na esfera das políticas públicas e seus resultados substantivos,
como na esfera da gestão governamental. Passaram a ser discutidos e ado-
tados tanto no nível subnacional (estados e municípios), como nacional e su-
pranacional, especialmente com o estabelecimento de novas instituições de
monitoramento e avaliação e de bases de informação dotadas de sofisticada
infra-estrutura tecnológica.
Ao final da década de 1990, especialmente com o avanço e dissemina-
ção dos sistemas informatizados de gerenciamento de dados, e a formação
de redes virtuais de participação e controle social, fortaleceu-se a idéia da
utilização dos indicadores sociais e gerenciais com a finalidade de apoiar o
monitoramento e a avaliação das ações governamentais como um todo.
A partir de então, a discussão passou a girar em torno de conceitos, me-
todologias, para o uso e aperfeiçoamento dos indicadores. Hoje, existem
diversos conceitos de indicadores, expressando perspectivas sutilmente dife-
renciadas. Existem também diferentes adjetivos utilizados para caracterizar os
indicadores: econômicos, sociais, gerenciais, de desempenho, de processo,
de produto, de qualidade, de impacto, etc – dependendo muito do tipo de
intervenção e do aspecto a ser avaliado, da metodologia de avaliação e do
foco desta, entre outras coisas.
De uma maneira simplificada, os indicadores são unidades de medida
que representam ou quantificam um insumo, um resultado, uma característi-
ca ou o desempenho de um processo, de um serviço, de um produto ou da
organização como um todo. Os indicadores são uma atribuição de números
a objetos, acontecimentos ou situações, de acordo com certas regras. En-
quanto unidades de medidas, os indicadores referem-se às informações que,
em termos conceituais, são mensuráveis, independentemente de sua coleta
obedecer a técnicas ou abordagens qualitativas ou quantitativas. Indicadores
sempre são variáveis, já que podem assumir diferentes valores. Porém, nem
todas as variáveis são indicadores. Enquanto medidas, os indicadores devem
107
ser definidos em termos operacionais, ou seja, mediante as categorias pelas
quais eles se manifestam e podem ser medidos.
Existem várias tipologias de indicadores. Um indicador pode ser simples
(decorrente de uma única medição) ou composto; direto ou indireto em re-
lação á característica medida; específico (atividades ou processos especí-
ficos) ou global (resultados pretendidos pela organização como um todo);
e direcionadores (indicam que algo pode ocorrer) ou resultantes (indicam
o que aconteceu). Podem variar conforme os critérios a que se relacionam:
indicadores de eficácia, de efetividade, de eficiência, de celeridade, de tem-
pestividade, de sustentabilidade, de equidade, etc. Podem variar ainda con-
forme a dimensão do programa ou projeto a que se aplicam: indicadores de
processos, de resultado ou desempenho, de impacto, etc.
Entre os indicadores, especial destaque é atribuído aos índices. Estes con-
sistem, na realidade, em relações observáveis entre variáveis ou entre uma
variável e uma constante, que assumem uma forma padronizada, permitindo
indexar os valores obtidos. Por exemplo, o número de analfabetos por grupos
de 100 indivíduos é uma relação entre uma variável e uma constante. A in-
formação proporcionada por este tipo de índice mostra-se mais útil quando
é possível estabelecer comparações. Já os índices que expressam relações
entre variáveis contêm, em si mesmos, informações relevantes, ainda que
a comparação possa enriquecer a análise. Por exemplo, a proporção de
alunos aprovados sobre alunos matriculados expressa a relação entre duas
variáveis e traz informação sobre o desempenho de uma classe, uma escola,
um professor, uma metodologia, etc.
Alguns dos trabalhos mais significativos no campo da avaliação de mu-
danças na situação social mundial foram realizados em agências da Or-
ganização das Nações Unidas (ONU) trazendo importantes avanços na
construção de índices. Desses trabalhos duas vertentes de avaliação multi-
dimensional emergiram. Uma primeira trabalha ampliando o conjunto de
indicadores utilizados com o objetivo de aumentar a precisão das avaliações.
É o caso, por exemplo, do Índice de Progresso Social (IPS). Este é baseado
em uma concepção determinada de necessidades sociais e materiais básicas
das diversas populações mundiais e levanta 44 indicadores considerados re-
levantes para o bem-estar social para compor 11 subíndices, os quais, pon-
derados, compõem o IPS: Educação (4 pontos), Saúde (3 pontos), Condição
da Mulher (5 pontos), Esforço de Defesa (1 ponto), Demografia (5 pontos),
Geografia (3 pontos), Estabilidade Política (5 pontos), Participação Política
(6 pontos), Diversidade Cultural (3 pontos) e Esforços de Bem-estar Social (5
pontos).
A outra vertente busca a simplicidade na composição dos índices, como é
o caso do Índice de Qualidade de Vida Física (IQVF), composto por Morta-
lidade Infantil, Esperança de Vida ao Nascer e Analfabetismo entre Adultos.
108
Esse tipo de índice pode ser criticado porque ignora diversas esferas impor-
tantes do bem-estar humano, mas há razões para se buscar essa simplicida-
de: índices de baixa complexidade minimizam alguns problemas conceituais
e metodológicos decorrentes de sua composição, podem ser calculados para
um grande número de regiões, são facilmente compreensíveis e, portanto,
podem servir de complemento ou mesmo alternativa às analises baseadas
em indicadores de produto, como o PIB.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) pertence a esta última ver-
tente. Criado por uma das agências especializadas da ONU, o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDH possui componentes
referentes à saúde, educação e poder aquisitivo que são combinados para a
comparação do nível de desenvolvimento dos indivíduos nas diversas nações.
A maior parte dos índices multidimensionais enfrenta diversas dificuldades.
Uma delas é estabelecer a ponderação dada a cada uma das dimensões.
Sintetizar a informação de vários aspectos da vida humana em um único índice
(isto é, criar um indicador sintético) exige a definição de uma regra que atribua
peso específico a cada uma dessas dimensões. Um índice sintético como o
IDH, por exemplo, deve combinar indicadores de escolarização, PIB e espe-
rança de vida para gerar um resultado (número) único. Ao fazer isso o IDH
precisa, em última instância, determinar a quantos dólares equivale um ano
de vida para, assim, ponderar variações na renda em relação às variações na
esperança de vida ao nascer13.
Os indicadores são elementos essenciais ao monitoramento e à avaliação.
É por intermédio deles que se torna possível reconhecer quando uma meta ou
um objetivo são atingidos, ou não. Na linguagem cotidiana fala-se muito em
indicadores de resultados ou de desempenho. Estes referem-se aos objetivos
e metas. Um indicador de resultado consiste em uma unidade de medida nu-
mérica específica que indica o progresso de uma intervenção em direção ao
resultado a ser alcançado. Um indicador de resultado não é a mesma coisa
que o próprio resultado, por isso, cada resultado que se pretenda mensurar
exige um ou mais indicadores.
O processo de seleção dos indicadores envolve alguns cuidados, merecen-
do a utilização de metodologias similares àquelas que se utiliza para selecionar
as perguntas que orientam uma avaliação. Além disso, deve-se buscar indica-
dores que tenham a característica da rastreabilidade, vale dizer, sejam passiveis
de acompanhamento no passado e no futuro. Porém, ao longo do tempo de
vida de uma intervenção e de suas avaliações, muita coisa pode mudar e é
aceitável que novos indicadores sejam incorporados e antigos sejam elimina-
dos. Para eliminar um indicador é recomendável que ele tenha sido utiliza-
13
Embora índices sintéticos como o IDH sejam amplamente aceitos, é muito pouco provável que a comunidade de analistas que
o utiliza alcance um consenso razoável se o sistema de ponderação desses índices for colocado em debate. Isso, porém, não é
motivo para descartar a sua utilidade, especialmente quando utilizados em perspectiva comparativa, diacrônica ou sincrônica.
109
do (portanto, testado e se mostrado insatisfatório) em pelo menos três pontos
de avaliação. Por isso, e frente à precariedade dos registros administrativos,
pode-se trabalhar com indicadores provisórios, até que se tenham constituído
bases de dados que permitam trabalhar com indicadores permanentes.
Muitas vezes, não será possível ter os indicadores com a precisão que seria
desejável. Nesses casos, costuma-se usar indicadores indiretos ou “proxyes”.
São unidades de medidas que expressam indiretamente a característica medi-
da e que são usados quando houver disponibilidade dos dados destinados a
alimentar o indicador direto, ou quando não for possível coletar tais dados a
intervalos regulares. Ex: O número de televisores (ou outro eletrodoméstico)
como medida de renda familiar.
Em algumas áreas de intervenção, além dos indicadores específicos para
uma determinada política, programa ou projeto, podem ser usados indica-
dores pré-definidos. São os indicadores estabelecidos independentemente do
contexto de qualquer país ou de qualquer organização e que são muito usados
como parâmetro para avaliar desempenho. Ex: mortalidade infantil, número de
leitos por 1000hab, numero de mortes violentos por 100.000hab., etc. Muitos
deles são índices sintéticos como o IDH. A maioria deles provém de agências
de cooperação multilateral: PNUD, BIRD, FMI, etc.
Esses indicadores têm diversas vantagens: podem ser utilizados em progra-
mas/projetos de natureza similar; ajudam a reduzir os custos de construção de
múltiplos sistemas de M&A, padronizam a discussão dos resultados, permitindo
comparar conclusões, favorecem o diálogo com financiadores, etc. Mas tam-
bém têm desvantagens: não se prestam ao exame de metas específicas de um
país, não admitem desagregação em micro-unidades, não permitem a partici-
pação dos stakeholders na sua construção.
Seja como for, o trabalho com indicadores sempre irá exigir alguma sis-
tematização. Para que o monitoramento e a avaliação possam extrair dos in-
dicadores as informações necessárias, será preciso estabelecer sua linha de
base. Uma linha de base é um dado quantitativo ou qualitativo que fornece
informação sobre uma situação no começo do processo de intervenção ou
imediatamente antes que ela se inicie, ou ainda, no início do monitoramento.
A linha de base é usada para (a) aprendermos sobre o desempenho prévio do
indicador, inclusive seus padrões, caso haja séries de dados; (b) planejarmos
ou revisarmos metas; (c) medirmos o desempenho de uma política, programa
ou projeto.
Além disso, para chegarmos às conclusões necessárias em um trabalho
de Monitoramento e avaliação, devemos estabelecer padrões para aplicar aos
indicadores adotados para cada critério de avaliação. O padrão designa o
nível que o indicador deve atingir para que se possa considerar que o critério
correspondente foi satisfeito. O padrão permite ao avaliador julgar o resultado.
Por exemplo, se usamos o critério da equidade de gênero, podemos usar como
110
indicador o percentual de mulheres com remuneração equivalente aos homens
no exercício da mesma função. O padrão para concluirmos pela existência da
equidade de gênero seria, digamos, 50%. Tanto quanto os critérios, os padrões
devem ser negociados com os usuários e stakeholders. Muitas vezes essa ne-
gociação se dá a partir de padrões pré-existentes ou externamente definidos,
que podem ser aceitos ou não. Pode se basear, também, nas expectativas dos
stakeholders quanto a resultados. Ou pode, simplesmente se referir à linha de
base dos indicadores e ao planejamento das metas do programa.
Muitas vezes, não será possível ter os indicadores com a precisão que seria
desejável. Nesses casos, costuma-se usar indicadores indiretos ou “proxyes”.
São unidades de medidas que expressam indiretamente a característica medi-
da e que são usados quando houver disponibilidade dos dados destinados a
alimentar o indicador direto, ou quando não for possível coletar tais dados a
intervalos regulares. Ex: O número de televisores (ou outro eletrodoméstico)
como medida de renda familiar.
Em algumas áreas de intervenção, além dos indicadores específicos para
uma determinada política, programa ou projeto, podem ser usados indica-
dores pré-definidos. São os indicadores estabelecidos independentemente do
contexto de qualquer país ou de qualquer organização e que são muito usados
como parâmetro para avaliar desempenho. Ex: mortalidade infantil, número de
leitos por 1000hab, numero de mortes violentos por 100.000hab., etc. Muitos
deles são índices sintéticos como o IDH. A maioria deles provém de agências
de cooperação multilateral: PNUD, BIRD, FMI, etc.
Esses indicadores têm diversas vantagens: podem ser utilizados em progra-
mas/projetos de natureza similar; ajudam a reduzir os custos de construção de
múltiplos sistemas de M&A, padronizam a discussão dos resultados, permitindo
comparar conclusões, favorecem o diálogo com financiadores, etc. Mas tam-
bém têm desvantagens: não se prestam ao exame de metas específicas de um
país, não admitem desagregação em micro-unidades, não permitem a partici-
pação dos stakeholders na sua construção.
Seja como for, o trabalho com indicadores sempre irá exigir alguma sis-
tematização. Para que o monitoramento e a avaliação possam extrair dos in-
dicadores as informações necessárias, será preciso estabelecer sua linha de
base. Uma linha de base é um dado quantitativo ou qualitativo que fornece
informação sobre uma situação no começo do processo de intervenção ou
imediatamente antes que ela se inicie, ou ainda, no início do monitoramento.
A linha de base é usada para (a) aprendermos sobre o desempenho prévio do
indicador, inclusive seus padrões, caso haja séries de dados; (b) planejarmos
ou revisarmos metas; (c) medirmos o desempenho de uma política, programa
ou projeto.
Além disso, para chegarmos às conclusões necessárias em um trabalho
de Monitoramento e avaliação, devemos estabelecer padrões para aplicar aos
111
indicadores adotados para cada critério de avaliação. O padrão designa o
nível que o indicador deve atingir para que se possa considerar que o critério
correspondente foi satisfeito. O padrão permite ao avaliador julgar o resultado.
Por exemplo, se usamos o critério da equidade de gênero, podemos usar como
indicador o percentual de mulheres com remuneração equivalente aos homens
no exercício da mesma função. O padrão para concluirmos pela existência da
equidade de gênero seria, digamos, 50%. Tanto quanto os critérios, os padrões
devem ser negociados com os usuários e stakeholders. Muitas vezes essa ne-
gociação se dá a partir de padrões pré-existentes ou externamente definidos,
que podem ser aceitos ou não. Pode se basear, também, nas expectativas dos
stakeholders quanto a resultados. Ou pode, simplesmente se referir à linha de
base dos indicadores e ao planejamento das metas do programa.
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