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Monitoramento

e Avaliação da Política de

Assistência Social de Belo


Horizonte: sistema de
indicadores

Belo Horizonte, 2007


Ficha Técnica
COORDENAÇÃO:
Gerência de Coordenação da Política de Assistência Social (GPAS)
Léa Lúcia Cecílio Braga
Gerência de Informação, Monitoramento e Avaliação (GEIMA)
Adriana Dania Nogueira / Carla Andréa Ribeiro

ELABORAÇÃO:
Equipe de Monitoramento e avaliação da GEIMA:
Adriana Dania Nogueira (2006-2007)
Carla Andréa Ribeiro
Denise Amaral Soares
Maria de Fátima Queiroz Ribeiro (2005-2006)
Maria Nazaré Pereira (2006-2007)
Neuza Maria Lima (2005-2006)
Renata Silva Daniel Caldeira (2005-2006)
Verônica de Araújo Nunes
Gerência de Gestão da Política de Assistência Social (GGPAS)
Mário César Rocha Moreira
Gerência de Proteção Especial (GPES)
Eliane Quaresma Caldeira Araújo
Gerência de Proteção Social (GPSO)
Darci Maria de Sousa Vilaça
Gerências de 2º e 3º níveis, Coordenadores e Técnicos do nível central e regionais.

CONSULTORES:
Aldaíza Sposati
Maria das Graças Rua

REVISÃO E NORMALIZAÇÃO:
Fernando França Campos / Vanuza Bedeti da Silva

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO:


Núcleo de Mobilização e Comunicação Social / Rodrigo Furtini Cardoso

B452m BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal Adjunta de


Assistência Social.

Monitoramento e Avaliação da Política de Assistência Social de


Belo Horizonte: sistema de indicadores / Prefeitura de Belo Horizonte.
Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social. Belo Horizonte:
[SMAAS], 2007.
112 p.

1.Indicadores sociais. 2. Monitoramento e Avaliação. 3.


Indicadores de Resultados. 4. Gestão da Informação. I. Título
CDU: 301

Ficha catalográfica elaborada pelo Centro de Memória e Pesquisa - CMP


da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social - SMAAS
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

Fernando Damata Pimentel

Secretaria Municipal de Políticas Sociais

Jorge Raimundo Nahas

Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social

Rosilene Cristina Rocha


Apresentação

A Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte


elaborou e vem implantando o Sistema de Monitoramento e Avaliação dos
serviços socioassistenciais do município, em conformidade com as priorida-
des da gestão municipal em todas as áreas e de acordo com as normativas
federais que regulam a gestão da Política de Assistência Social cumprindo,
assim, um dos requisitos que a habilita à gestão plena desta política.
Além do cumprimento de requisito de gestão, a “Informação, o Monito-
ramento, a Avaliação e Sistematização de Resultados”, como um dos seus
eixos estruturantes do Sistema Único de Assistência Social junto a outros ins-
trumentos de planejamento técnico e financeiro, tornam-se estratégicos na
regulação e organização das ações socioassistenciais nos territórios. Este eixo
também é indispensável para o cumprimento das funções de Proteção Social,
Vigilância Socioassistencial e Defesa dos Direitos Socioassistenciais previstas
na Política Nacional da Assistência Social.
Com novos parâmetros de gestão da informação e ferramentas informa-
cionais, tornar-se-á possível alcançar a maximização da eficácia, eficiência e
efetividade na especificidade das ações socioassistenciais, fortalecendo, ainda
mais, o campo assistencial na Política de Seguridade Social do país.
Esta publicação é um dos produtos da construção coletiva iniciada em
2005 no Seminário de Informatização, Monitoramento e Avaliação. Nesta
ocasião, a proposta de Monitoramento e Avaliação foi, pela primeira vez,
debatida e grupos de trabalho foram constituídos para a execução das ativi-
dades propostas. Dentre estes, dois grupos ficaram encarregados de elaborar
indicadores para os serviços da Proteção Básica e Especial. A primeira versão
dos indicadores surgiu das diversas reuniões realizadas por estes grupos.
Este material foi divulgado e discutido com os níveis operacional, gerencial e
estratégico, além das instâncias central e regional da Política de Assistência
Social por meio dos fóruns já instituídos e de reuniões específicas, resultando
em novas reelaborações.
Concluída esta etapa, o documento foi submetido à apreciação de duas
consultoras externas, Aldaíza Sposati, da PUC de São Paulo e Maria das Graças
Rua, da Universidade de Brasília. Em duas oficinas de trabalho, as consultoras
debateram e apresentaram suas contribuições à proposta. A incorporação das
sugestões ensejou a realização de um novo evento em 25 de outubro de 2007,
de caráter ampliado, visando ao compartilhamento das incorporações ocorri-
das e possibilidade de operar novos ajustes aos indicadores.
A amplitude da participação nesta produção lhe confere grande riqueza
e enseja-nos a agradecer a todos os atores participantes do processo. Seu
foco concentra-se na apresentação dos indicadores elaborados para o mo-
nitoramento e avaliação dos serviços de execução direta do município, na
exposição das referências conceituais que nos orientam e na contextualiza-
ção desses indicadores na lógica sistêmica da proposta de Belo Horizonte,
ancorada na leitura da Política Nacional de Assistência Social 2004 e da
Norma Operacional Básica-SUAS 2005.
Propõe-se manter esta publicação atualizada à medida que o Sistema de
Indicadores for sendo incrementado e aperfeiçoado. A próxima edição irá
acrescentar os indicadores dos serviços de execução indireta contribuindo
para a conclusão de mais uma etapa na composição da gestão de um Sis-
tema Único operado pela complementaridade das ações socioassistenciais
organizadas em níveis da Proteção Social Básica e da Especial de média e
alta complexidade.
Esta publicação, aliada a outras iniciativas como o Dicionário de “Ter-
mos Técnicos da Assistência Social”, “Metodologias de trabalho social com
famílias na Assistência Social” e a delimitação dos territórios intra-urbanos
da Assistência Social, representam o esforço empreendido por este município
para a consolidação do SUAS-BH.
Registro meu especial agradecimento à Gerência de Coordenação da
Política de Assistência Social e à Gerência de Informação, Monitoramento e
Avaliação.
A todos os trabalhadores da Assistência Social de Belo Horizonte, que
ajudaram a dar o “tom” de realidade aos indicadores.
Aos gerentes que valorizaram o processo de elaboração, participando e
contribuindo no processo de validação dos indicadores.
Ao núcleo estratégico que sustenta o Sistema de Monitoramento e Avalia-
ção na pauta política da Assistência Social dessa secretaria.
E às consultoras, que de forma “pedagógica”, contribuíram não apenas
no processo de validação dos indicadores, mas também suscitaram importan-
tes reflexões sobre o processo de implantação do SUAS em Belo Horizonte.
Boa leitura e bom estudo!

Rosilene Cristina Rocha


Secretária Municipal Adjunta de
Assistência Social de Belo Horizonte
Sumário I - SISTEMA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO SUAS-BH:
CONCEPÇÃO E ELABORAÇÃO EM BELO HORIZONTE ---------------- 08

1 - Introdução ------------------------------------------------------------------- 09
2 - Referencial Conceitual e Teórico ----------------------------------------- 10
2.1 - Monitoramento e Avaliação (M&A) e Vigilância ----------------- 11
2.2 - Enfoques Avaliativos ------------------------------------------------- 13
2.3 - Indicadores e Sistema de Indicadores ----------------------------- 15
2.4 - Metodologia para concepção e elaboração do Sistema de
M&A e de Vigilância-------------------------------------------------------- 16
2.4.1 - Passo a passo do processo de elaboração do Sistema de
M&A e Vigilância ------------------------------------------------------ 17
2.4.2 - Metodologia participativa----------------------------------- 20
2.5 - Gestão da informação para o monitoramento e avaliação e
vigilância-- ------------------------------------------------------------------- 26
2.6 - Informatização-------------------------------------------------------- 27
2.7 - Território e tratamento espacial da informação ------------------ 27

3 - Governança da Política Pública de Assistência Social: a aplicação


da Vigilância Sócio-assistencial e do Sistema de Monitoramento e
Avaliação------------------------------------------------------------------------- 29
3.1 - Concepção da Vigilância Sócio-assistencial --------------------- 32
3.2 - Concepção do Sistema de Monitoramento e Avaliação em
Assistência Social ----------------------------------------------------------- 33
3.3 - Articulação entre a Vigilância sócio-assistencial e o Sistema de
Monitoramento e Avaliação ----------------------------------------------- 35
3.4 - Contextualização do Sistema de Monitoramento e Avaliação e
da Vigilância sócio-assistencial no macro processo de trabalho da
Política de Assistência social. ---------------------------------------------- 39
4 - Como tudo começou em Belo Horizonte ------------------------------- 43
4.1 - Indicadores ------------------------------------------------------ 44
4.2 - Definição do território intra-urbano -------------------------- 46
4.3 - O histórico da informatização da Política de Assistência
Social ------------------------------------------------------------------- 48
5 - E o futuro? ------------------------------------------------------------------- 54

II - INDICADORES PARA SERVIÇOS DE EXECUÇÃO DIRETA DA POLÍTICA


MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL -------------------------------------- 60

III - MONITORAMENTO DE AÇÕES NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL


Aldaíza Sposati ------------------------------------------------------------------ 94

IV - O USO DOS INDICADORES PARA O MONITORAMENTO E


AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS, PROGRAMAS E PROJETOS PÚBLICOS
Maria das Graças Rua------ -------------------------------------------------- 104
SISTEMA DE
MONITORAMENTO
E AVALIAÇÃO DO SUAS-BH:
CONCEPÇÃO E
ELABORAÇÃO EM
BELO HORIZONTE

8
INTRODUÇÃO

O texto a seguir apresenta algumas reflexões acerca do


Monitoramento e Avaliação no contexto da governança da
política pública de assistência social. Foi necessário debru-
çar sobre as normativas e as elaborações teóricas e empíricas
existentes para iniciar o processo de concepção e elaboração
dos principais meios operadores dos referidos instrumentos de
gestão e função da política de assistência social.
Este processo iniciou-se com a tentativa de compreensão
das definições teóricas sobre monitoramento, avaliação, vigi-
lância e gestão da informação. Observou-se que se tratam de
definições que se sobrepõem e se inter-relacionam intrinseca-
mente na teoria e na prática, o que é compreensível diante da
inovação da aplicação dos temas na gestão pública.
Essas características levaram, inevitavelmente, ao esta-
belecimento de escolhas e orientações visando à objetivação
do processo de elaboração. Tais escolhas foram pautadas nas
concepções expostas nas normativas da Política Nacional de
Assistência Social e no acúmulo teórico existente, devidamente
contextualizado na perspectiva de superação do modus operanti
da burocracia.
A primeira parte do texto apresenta as escolhas conceitu-
ais e teóricas que sustentam a concepção e elaboração dos
elementos do sistema de monitoramento e avaliação e sua
relação com a vigilância sócio-assistencial e a gestão da in-
formação, bem como, as relações estabelecidas entre os refe-
ridos elementos.
Também foi descrito o passo a passo do processo à luz da
experiência e da sistematização de conhecimento de outras
experiências.
A segunda parte descreve e analisa os conceitos traba-
lhados na primeira parte na perspectiva da governança da
política pública de assistência social e delimitados à luz das
normativas. Este conteúdo consubstanciou a concepção e a
elaboração, bem como o processo do sistema de indicadores
proposto.
Em seguida são descritos o processo e o contexto de pro-
dução em Belo Horizonte. E por fim, são apresentados os 39
indicadores que compõem, inicialmente, o sistema de indica-
dores do SUAS-BH.

9
2 - REFERENCIAL CONCEITUAL E TEÓRICO

Conceitos de M&A e vigilância, enfoques avaliativos,


indicadores e sistema de indicadores, gestão de informa-
ção e de conhecimento, informatização, territorialização e
tratamento espacial da informação são necessários para
sustentar a pretensão dos instrumentos de gestão propos-
tos à política de assistência social. Trata-se de aspectos
relativos à gestão que são explorados mais profundamen-
te na abordagem realizada pelo setor privado com termos
distintos. Observa-se que a apropriação desses conceitos
e instrumentos na gestão pública, além de estabelecer
termos próprios, o faz à luz de experiências do terceiro
setor e do enquadramento do Estado no cumprimento da
sua função protetiva junto à população.

10
Portanto, a literatura acerca dos conceitos é vasta e pode ser identificada
em uma escala entre a gestão privada e a pública, o que impinge a interpre-
tação e adaptação dos termos para sua aplicação na gestão da assistência
social.

2.1 - Monitoramento e Avaliação (M&A) e Vigilância

Monitoramento, avaliação, acompanhamento e vigilância são termos


relativamente similares ao serem verificados no dicionário da língua portu-
guesa (FERREIRA, 2004), observa-se que a distinção semântica dos termos
pouco contribui para elucidar sua aplicação na gestão.

Monitoramento: a consulta deste verbete redireciona para o verbete mo-


nitoração que é definido a partir do seu uso em uma frase:
‘Em sua opinião [De Mário Henrique Simonsen], ao recusar o monitora-
mento do FMI, o Brasil perdeu mais do que ganhou na rolagem da dívida.
(Rubeny Goulart, em Veja, 7 jan. 1987.).’
Avaliação:
1. Ato ou efeito de avaliar(-se).
2. Apreciação, análise.
3. Valor determinado pelos avaliadores:
A avaliação do quadro foi baixa.
Avaliação formativa. 1. Processo de avaliação realizado no decorrer
de um programa instrucional visando aperfeiçoá-lo.
Avaliação somativa. 1. Processo de avaliação final de um programa
instrucional visando julgá-lo.

Acompanhamento:
1. Ato ou efeito de acompanhar.
2. Cortejo; comitiva, séquito, préstito.
3. Astr. Movimento, paralelo ao equador celeste, realizado por um
instrumento astronômico a velocidade constante, e que permite acom-
panhar o movimento diurno dos astros.
4.Astr. V. rastreamento (2).
5.Educ. Etapa do processo de orientação em que o orientador, me-
diante contratos com escolas e locais de trabalho, acompanha a ativi-
dade de um estudante que esteve sob sua orientação.

Vigilância:
1. Ato ou efeito de vigilar(-se).
2. Precaução, cuidado, prevenção.
3. Zelo, diligência.”

11
Tendo em vista as definições apresentadas e a constatação na literatura
especializada que a distinção dos termos é um mero recurso didático e va-
loroso, para a operacionalização de um modelo avaliativo. Considera-se
então a necessidade de definição dos termos para efeito de sua operaciona-
lização:
Monitoramento: ação contínua de verificação do processo e/ou do resul-
tado de atividades, serviços, projetos e programas visando o suprimento, de
forma tempestiva, das necessidades para o processo avaliativo e de decisão
operacional, gerencial e estratégico. Baseia-se principalmente em indicadores,
mas também utiliza outras fontes de informação. Conforme Segone (2002)

“O monitoramento estabelece até que ponto recursos, crono-


gramas, produtos e outras questões estão sendo processados
de acordo com o planejado, de maneira que as decisões opor-
tunas possam ser tomadas para corrigir as deficiências detec-
tadas”.

Avaliação: o conceito chave do termo “avaliação” refere-se ao processo


de determinação do mérito, validade ou valor de algo, que pode ser continu-
ado, sobreposto ao termo ‘monitoramento’, ou periódico. Significa analisar
elementos dos processos e dos resultados julgando-os e produzindo conhe-
cimento que permite tomar decisões gerenciais e operacionais sobre o rumo
de uma ação.
Acompanhamento: ato de verificação do andamento de algo que requer
tomada de decisão imediata diante de alterações previstas ou não. Pode ser
tomado como sinônimo de monitoramento.
Vigilância: ato continuado de verificação de variáveis nocivas a algo,
como, pessoas, comunidade, território, estado como, saúde, proteção so-
cioassistencial e outros. Tais variáveis são definidas previamente e têm por
finalidade a indicação da gravidade de uma situação visando o acionamento
da ação preventiva.
Diante do exposto, reitera-se a necessidade de conjugar os termos Mo-
nitoramento e Avaliação (M&A), tendo em vista sua imbricação conceitual e
prática.
Também é importante ressaltar que o monitoramento e avaliação de uma
ação ou até mesmo de uma política pública deva ter claro sua finalidade, para
não ser compreendido como um mero processo de controle em si mesmo
ou até mesmo como legitimador de decisões já tomadas. Ou seja, deve ser
compreendido como instrumento de gestão que propicia identificar possíveis
diferenças entre o resultado real e o planejado, por meio de indicadores pre-
viamente estabelecidos. Nesse sentido, o monitoramento deve funcionar como
a base o processo avaliativo que realimenta o processo de planejamento.

12
Mokate (2006) sintetiza a discussão em torno do monitoramento e da
avaliação na perspectiva gerencial, ou seja, a avaliação como prática em
uma gerencia de característica social.

“la gerencia social moderna consiste en una gerencia adap-


tativa de resultados, una gerencia de modificaciones de con-
diciones de vida, enfocada en los objetivos que motivaron su
propia existencia”.

Já a vigilância funciona como mecanismo de alerta e de verificação se as


escolhas realizadas no planejamento são pertinentes à realidade vigiada.
Neste paradigma a avaliação é compreendia como instrumento de ges-
tão, e, portanto não deve ser compreendida como um ato isolado, com um
fim em si mesmo, mas inserida no planejamento das ações.

2.2 - Enfoques avaliativos

A avaliação pode ser relacionada ao processo e/ou aos resultados de uma


ação ou política. O adequado é que contemple essas duas dimensões a fim de
garantir a complementaridade das análises e a efetiva investigação das inter-
relações entre a metodologia (processo) e os resultados alcançados.
Conforme Ribeiro et al (2003), a avaliação do processo é qualitativa, quan-
do os elementos em interação nem sempre produzem manifestações mensu-
ráveis, e quantitativa quando se torna possível o estabelecimento de variáveis
mensuráveis. Ela ocorre durante a formulação, implantação, implementação
de uma ação e se sustenta nos princípios e diretrizes da política, metodologia
da ação e orientação do processo de planejamento. A avaliação do processo
ou avaliação formativa pode ser compreendida também como monitoramento
e acompanhamento amiúde do processo e produção de algo.
A avaliação de resultados ou avaliação somativa considera elementos
quantitativos e qualitativos, segundo os referenciais de expectativas em rela-
ção aos resultados e pactuados previamente estabelecidos no processo de
planejamento. Ocorre, ao final da intervenção da ação com princípio, meio
e fim, ou em período pré-determinado e condizente com o ciclo de planeja-
mento e gestão, para os casos de ações continuadas.
Além das dimensões, processo e resultado, pode-se compreender a ava-
liação segundo seus enfoques: eficiência, eficácia e efetividade/impacto e o
diagnóstico e/ou análise da situação para o caso da vigilância.
Os enfoques avaliativos podem ser concebidos como a natureza do julga-
mento de algo. A literatura sobre o tema define de forma diversa os conceitos
dos enfoques. Sendo assim, torna-se necessário fazer escolhas e esclarecê-
las para permitir melhor compreensão dos conteúdos relacionados a elas,
conforme mencionado.

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Eficiência: é o enfoque que permite o julgamento das correlações estabe-
lecidas entre a ação e o seu custo, custeio e recursos despendidos. Pode-se
avaliar a eficiência considerando três níveis: a) recursos disponíveis transfor-
mados em oferta de bens e serviços; b) recursos realizados/esforços empre-
endidos e os resultados obtidos; c) recursos realizados/esforços empreendi-
dos e os efeitos/impacto dos resultados
Eficácia: o foco está no julgamento do cumprimento dos objetivos e na
consecução de resultados esperados. Pode ser dividido em quantitativa e
qualitativa. Eficácia quantitativa: afere o alcance quantitativo dos objetivos
(resultados esperados) e metas, verificando se foram atingidos segundo o
previsto. A eficácia qualitativa está relacionada ao como os objetivos foram
atingidos, considerando se os instrumentos previstos para a execução foram
realmente os empregados e se os meios utilizados foram coerentes e adequa-
dos para se atingir o resultado esperado.
Efetividade: é a verificação dos efeitos dos resultados da ação. Que po-
dem ser esperados – efetividade ou não esperados – impacto. A avaliação
da efetividade pode ter como “recorte” o indivíduo ou o contexto social e
territorial; podendo ser objetiva, subjetiva e substantiva. A efetividade objetiva
é o critério de aferição da mudança quantitativa entre o antes e o depois da
execução da ação, considera aspectos objetivos e mensuráveis. A efetividade
subjetiva se refere às mudanças comportamentais, crenças e valores. A efeti-
vidade substantiva individual ou social valida as mudanças mais qualitativas
e duradouras nas condições sociais de vida dos usuários/beneficiários. A
efetividade social e/ou o impacto tem como lócus o território ou o contexto
social. Justifica-se sua importância por ser ela que afere o proveito que as
populações, comunidades ou segmentos obtiveram com o projeto.
Avaliação ex-ante ou Diagnóstico: é a identificação de um fenômeno ou
de conjunto de variáveis cujo resultado é a delimitação de problema e a sua
descrição, o que viabiliza o estabelecimento da linha de base para a compa-
ração necessária no memento da avaliação de efetividade. Um diagnóstico
pode contemplar variáveis em situação de vigilância, ou seja, verificáveis
rotineiramente a fim de prevenir algo.
Análise situacional: é aquela que produz conhecimento acerca de um
determinado “problema” e leva em consideração perspectivas e interesses
distintos. Pode-se utilizar de um diagnóstico, e agrega-se a sua descrição a
análise do fenômeno no contexto pessoal, social, histórico, cultural, organi-
zacional, econômico e político realizada por diversos interesses que atuam na
cena da situação em questão, conforme Matus (1997). Pode ser considerada
como o principal elemento do processo de planejamento, pois a falha na
análise pode induzir ao erro de escolha das estratégias e consequentemente
levar ao insucesso da ação.

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2.3 - Indicadores e sistema de indicadores

O indicador é um recurso de mensuração utilizado para levantar aspectos


quantitativos ou qualitativos de um dado fenômeno, ação ou das etapas de
planejamento e de gestão de uma ação (política pública, programa, projeto,
serviços e benefícios) com vistas à avaliação. Conforme Zingoni e Ribeiro
(2006, p.77) a definição e a relação do indicador com a avaliação pode ser
compreendida a partir da metáfora que utiliza da

“... doença, a temperatura corporal e a febre. A doença pode


ser compreendida como objeto que será avaliado ou diagnos-
ticado, ou também, aspecto que evidencia o desenvolvimento
e a evolução de um determinado quadro. Para diagnosticar a
doença é necessário verificar alguns aspectos clínicos, que se
alterados representam um sintoma, como por exemplo, a tem-
peratura corporal. Caso a temperatura corporal esteja acima
de 37o celsius temos um alteração que é classificada como
febre. A temperatura corporal é um indicador que tem um pa-
râmetro claro para o julgamento da normalidade ou não de
um aspecto clínico. Portanto, os indicadores têm como função
medir o grau, desenvolvimento, desempenho, performance de
um determinado aspecto do projeto.”

Ou seja, é um sinal que visa expressar algum aspecto sob uma forma que
possibilita observá-lo ou mensurá-lo. Não é possível compreendê-lo em si
e torna-se necessário agregar parâmetros à sua interpretação. Por fim, é o
principal instrumento operacional do M&A e da vigilância.
Já um sistema de indicadores é um conjunto de indicadores inter-relacio-
nados de forma complementar, a partir dos enfoques avaliativos e sua rela-
ção com as etapas de planejamento e de gestão da política pública. Dessa
forma sua concepção e elaboração tornam-se possíveis após o desenho dos
Sistemas de Vigilância Sócio-assistencial e de Monitoramento e Avaliação.
Por se relacionar com aspectos avaliativos é necessário que o sistema de
indicadores seja coerente com a visão e com a concepção que a organização
tem sobre os seus objetivos centrais e de suas ações (serviços, produtos, pro-
jetos e outros). Sendo assim, a elaboração do sistema de indicadores deve
ser resultante de um processo de negociação transparente, e não impositiva,
dos diferentes interesses e expectativas existentes na organização. Além disso,
o processo de concepção e elaboração deve considerar as particularidades
do contexto organizacional e ser capaz de estabelecer um conjunto de indi-
cadores que captem os resultados e efeitos atribuíveis às ações.
É importante também considerar, na elaboração do indicador e do sis-
tema, estratégias para a sua progressiva adesão pela organização e a sua
apropriação por todos, no cotidiano das ações desenvolvidas. Ou seja, um

15
processo impositivo e descolado do contexto organizacional pode compro-
meter a sua implantação, e até mesmo, o seu uso na perspectiva da produ-
ção do conhecimento.

2.4 - Metodologia para a concepção e elaboração de Sistema


de M&A e de vigilância

Sistema de M&A e de vigilância é um conjunto de elementos interligados


que compõem um modelo avaliativo. Isso representa a necessidade do esta-
belecimento a priori o que será avaliado, segundo quais enfoques e por meio
de quais indicadores e meios de verificação.
Por conseguinte produzir um modelo avaliativo em qualquer âmbito (ativi-
dade, serviços...) pressupõe definir com clareza os resultados esperados (pro-
dutos), a metodologia e suas condicionantes, variáveis, relações das variáveis
com os resultados, parâmetros avaliativos e de comparações, e indicadores.
Essa construção pode se orientar pela aplicação de recursos metodológicos
da pesquisa científica no campo das ciências sociais, principalmente para as
pesquisas avaliativas em profundidade, que levam em conta vários enfoques
e até mesmo metodologias quase-experimentais, no caso de avaliação de
impacto e efetividade. Assim como, podem-se utilizar recursos de metodolo-
gia de planejamento, como por exemplos, o Marco Lógico1 e o Planejamento
Estratégico e Situacional2, nos casos de avaliações de cunho gerencial.
A compreensão clara dos conceitos e da intencionalidade do uso do M&A
e da vigilância deve ser algo observado com cuidado pelos responsáveis
pela condução do processo, conforme observado por Armani (2002), uma
ótima elaboração de uma ação ou política não é suficiente para o seu su-
cesso. Além de ação ou política bem elaborada é necessário um ágil e eficaz
sistema do gerenciamento da execução para controlar a sua implementa-
ção. Essa capacidade gerencial é facilitada quando os processos de M&A
são estabelecidos com clareza, explicitadas as expectativas e acertados os
significados e sentidos atribuídos aos termos empregados. Quando a ação
ou política é elaborada de forma participativa, só se pode esperar que seja
gerenciada também de forma participativa, assim como construído de forma
participativa o modelo mental estruturador dos significados e sentidos atribu-
ídos aos diversos termos utilizados.

1
Trata-se de um método destinado à elaboração de projetos, mas adaptável às ações continuadas. Destina-se à construção
dos principais elementos de um projeto – objetivos gerais e específicos do projeto, produtos ou resultados imediatos, atividades,
indicadores, meios de verificação e premissas. O Marco Lógico baseia-se no método científico de pesquisa social, estruturando
os projetos sobre uma cadeia de hipóteses acerca de relações de causa e efeito envolvidas no enfrentamento da problemática
em questão, conforme Zingoni e Ribeiro (2006)

2
Matus (1987) critica o modelo tradicional de planejamento, que se baseia na visão normativa, e propõe um modelo que parte
da explicação dos problemas e dos fatos da realidade, compreendendo-os em um contexto de conexões particulares. Assim ele
defende a formulação de um modelo de descrição e de explicação de problemas que identifica o complexo de relações entre os
múltiplos processos, em diferentes planos e espaços e como a atuação de múltiplos atores e interesses.

16
A concepção e elaboração do M&A consistem em duas etapas: a primei-
ra é a delimitação dos objetos que serão avaliados e a indicação de como
poderão ser verificados, enfoques avaliativos e os meios. Essa etapa de con-
cepção permite planejar de forma cumulativa a elaboração e implantação
dos diversos elementos do sistema de M&A.
A segunda etapa, ou a elaboração, é o detalhamento daquilo que foi
concebido, em destaque o sistema de indicadores.
A implantação, implementação e aperfeiçoamento são etapas da opera-
cionalização do sistema e se sustentam na gestão da informação e na gera-
ção de conhecimento sobre o sistema de indicadores.

2.4.1- Passo a passo do processo de elaboração do sistema de


M&A e vigilância

PACTUAÇÃO CONCEITUAL OU COMPARTILHAMENTO DOS MODELOS MENTAIS


Esse passo é pressuposto do estabelecimento do Sistema de M&A, de vigi-
lância socioassistencial e de indicadores, pois só é possível implantá-los com
um vocabulário minimamente constituído. Apesar de ser um pressuposto ele
está em constante mudança, refletindo assim, a dinâmica do planejamento
e gestão. Essas mudanças devem ser percebidas e registradas para se manter
atualizado o modelo mental das pessoas e da organização.
Para efetivá-lo é necessário identificar os termos-chave utilizados no pla-
nejamento, nas diretrizes e princípios da política, na definição dos objetivos e
resultados esperados das ações e na constituição das metodologias. Deve-
se focar nos termos que estão diretamente relacionados aos elementos dos
referidos sistemas.
Após a constituição da lista de termos são registrados para cada um os
conceitos e os usos agregados a eles, assim, torna-se possível verificar con-
flitos semânticos.
Em seguida é pautado na organização o debate em torno desses termos
e pactuado o significado que serão atribuídos a cada um.
A pactuação deve ser disseminada para fomentar o uso dos termos e sua
incorporação na cultura organizacional.

DELIMITAÇÃO DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO


Essa é a etapa da concepção e elaboração do processo de M&A. Sugere-se
que ocorra logo após a etapa de planejamento e, preferencialmente, com o
mesmo grupo de atores, pois assim, amplia a possibilidade de manter a coerên-
cia entre a pretensão do planejamento e o que é factível no processo de M&A.
A tarefa dessa etapa é responder de forma clara, objetiva e bem delimita-
da as seguintes questões:

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•Quais são os objetivos e resultados pretendidos de cada ação e no seu
conjunto (política)?
•Quais os aspectos da execução da ação permitem verificar sua trajetória?
•Quais são os efeitos dos resultados esperados, por ação ou pelo conjunto?
•Qual a finalidade desse conhecimento? Quem o utilizará? Em qual instân-
cia de gestão?

As respostas das questões permitirão delimitar os objetos da avaliação do


resultado e do processo, tais como: consecução de objetivo, resultado espe-
rado, oferta de vagas, adesão ao serviço, e outros. E estabelecer a relação
com os enfoques avaliativos da eficácia, eficiência e efetividade que serão
identificados e avaliados através dos indicadores.

ELABORAÇÃO DE INDICADORES
A elaboração dos indicadores depende da clareza do objeto de avaliação
descrito e delimitado na etapa anterior. Quanto mais clara e objetiva a des-
crição do objeto, mais fácil se torna a tarefa de elaboração de um indicador
sintético e simples na sua concepção.

Os componentes de um indicador são:

I - Nome: expressa de forma sintética o que pretende indicar.


II - Conceito: é a definição mais detalhada do indicador considerando
principalmente as relações entre os seus elementos.
III - Interpretação: é a possibilidade de agregação de valor ao indi-
cador.
IV - Fórmula de cálculo: é a abstração matemática do conceito do
indicador.
V - Abrangência de análise: é a indicação dos níveis possíveis de de-
sagregação e agregação dos indicadores.
VI - Periodicidade: indicação dos períodos possíveis para a construção
do indicador, como: mensal, semestral, anual e outros.
VII - Parâmetro: é o estabelecimento de critérios objetivos que permi-
tem agregar valor ao indicador. Normalmente representam resultados
pactuados. Por meio dele torna-se possível dizer se o resultado do
indicador foi satisfatório ou não.
VIII - Orientação para o tratamento do indicador: é a descrição de
regras aplicáveis ao processamento e o detalhamento dos dados que
serão recuperados para o cálculo do indicador.
Os componentes descritos podem ser elaborados no momento de defini-
ção dos indicadores. Destaca-se que a definição dos parâmetros é importan-
te, mas não necessariamente na etapa de elaboração.

18
O parâmetro avaliativo do indicador é um dos principais elementos da
avaliação. É o parâmetro que orienta a análise do indicador e sem ele as
pessoas podem julgar o valor do indicador segundo critérios pessoais. Esses
julgamentos são mais suscetíveis aos erros.
Devem-se estabelecer os parâmetros avaliativos de forma participativa e
pactuada entre os atores da ação ou política. Leva-se em consideração a re-
alidade para a implementação da ação, os riscos, as dependências existentes
para o cumprimento de atividades-chave, a tempestividade da transferência
de recursos financeiros e outros. Após a análise dos elementos que interferem
diretamente no cumprimento do planejamento, e especificamente no objeto
que está sendo avaliado, propõem-se os parâmetros avaliativos. Eles podem
ser alterados a cada ciclo do planejamento.

VALIDAÇÃO DOS INDICADORES


Essa etapa pode ocorrer em dois momentos distintos e complementa-
res. Um logo após a elaboração do indicador e visa verificar os seguintes
atributos: sensibilidade, viabilidade, confiabilidade, inteligibilidade e comu-
nicabilidade e pode ser executada por meio de metodologias distintas e/ou
complementares se assim for escolhido, que são:

a. apreciação de especialistas (experts) no objeto em avaliação para qual


foi elaborado o indicador. O especialista tem condição de identificar incon-
sistências teóricas tanto no objeto em questão quanto no indicador. A expe-
riência pregressa e teórica no tema favorece a identificação de sutilezas e
nuances não percebidas facilmente.
b. apreciação de especialistas (experts) em metodologia de elaboração
de indicadores. O especialista tem condição de identificar inconsistências no
indicador e sua possível causa.
c. apreciação de pessoas que “vivenciam” o objeto em avaliação. Pessoas
que lidam com o objeto em avaliação a partir de referências vividas, expe-
rimentadas, e não necessariamente, formulam teoricamente sobre o objeto,
mas tem uma percepção aguçada e experiente sobre o tema.

O segundo momento é após a construção do indicador e pode ser reali-


zado utilizando as seguintes estratégias:
a. A comparação do indicador (s) entre instituições distintas.
b. A comparação do indicador (s) com indicadores similares e correspon-
dentes ao mesmo objeto.
Essas comparações permitem identificar a existência de discrepâncias sig-
nificativas, e com isso, elaborar hipóteses para tal fato. A investigação das
hipóteses possibilita certificar erros de elaboração e principalmente de pro-
cessamento do indicador.

19
c. Submissão à análise dos operadores da ação. Essa estratégia consiste
em apresentar aos técnicos operadores os resultados dos indicadores para
certifica-se do grau de reconhecimento desses resultados. A contestação dos
resultados permite o levantamento de hipóteses acerca do registro e proces-
samento dos dados.
O ideal é validar os indicadores nos dois momentos e considerando todas
as estratégias apresentadas. Os resultados da validação consubstanciam a
decisão sobre os indicadores que serão incorporados ao Sistema de Indica-
dores ou descartados.

2.4.2 - Metodologia participativa

A metodologia participativa é a mais consistente na perspectiva de cons-


trução de um modelo avaliativo voltado para geração do conhecimento,
conforme Barreira (2000). Ela aponta como princípios os elementos consti-
tutivos da avaliação que gera conhecimentos na perspectiva emancipatória.
Ou seja, avaliação que considera todos os agentes atuantes diretamente
ou indiretamente na ação/política (incluindo o usuário) compreendendo-os
como agentes ativos no processo de criação e compartilhamento do conhe-
cimento gerado no fazer e nas reflexões sobre o fazer.
É a constante abordagem que evidencia o conhecimento como elemento
diferenciador das ações auto-avaliativas, análises, interpretação, proposição
de soluções, aumento da motivação, o engajamento e o compromisso dos
atores. Neste sentido, o conhecimento promove a ação emancipatória dos
atores, pois estabelece condições reais para atuação dos atores de forma
crítica e construtiva.
Conforme Barreira (2000) essa abordagem metodológica do processo
avaliativo tem como principais diretrizes:

I. O amplo envolvimento dos membros ativos em todas as fases da ela-


boração, implementação e execução da ação/política considerando: a for-
mulação do problema, o desenho da metodologia, coleta de informações,
análise, interpretação, recomendações e elaboração de relatórios.
II. Mater como interesse central, conciliar o uso dos dados da avaliação
para a solução de problemas práticos inseridos em um contexto específico.
III. Co-responsabilização do processo de avaliação entre uma coordena-
ção específica para M&A, gestor e operadores da ação e coordenação da
política ou ação.

São pressupostos da metodologia participativa:


1. A organização responsável pelo ação/política precisa reconhecer o
valor da avaliação, comprometendo-a como o processo de aprendizagem
sistemático, como um caminho para sua própria melhoria.

20
2. A organização responsável pelo ação/política precisa conceder tempo
e recursos necessários para o processo avaliativo.
3. Os membros da equipe da ação precisam estar motivados para se
empenharem no desenvolvimento e aperfeiçoamento do processo.
Compartilhar o conhecimento para o aprendizado organizacional
A metodologia participativa propicia a produção de conhecimento e favo-
re o aprendizado organizacional.

AVALIAÇÃO E APRENDIZADO ORGANIZACIONAL


Os processos de aprendizagem e de avaliação se entrecruzam em vários
pontos. O ponto principal de convergência está na produção de análises que
demandam conhecimento da realidade, das diversas teorias sobre o objeto
em avaliação, do processo, do resultado e, principalmente, do conhecimento
individual das pessoas envolvidas.
O aprendizado organizacional bem sucedido depende da manutenção e
completude do ciclo de aprendizagem. Os autores desse tema partem da pre-
missa de que toda organização aprende, mesmo de forma incompleta, des-
conexa ou fragmentada. Esse processo de aprendizagem parte do princípio
que as organizações aprendem por meio de seus indivíduos e são afetadas,
direta ou indiretamente, por suas aprendizagens. Entretanto, a aprendizagem
do grupo é mais do que a soma da aprendizagem individual, é um conhe-
cimento novo, fomentado através do aprendizado organizacional. Portanto,
para compreender o processo de aprendizagem organizacional, é preciso
compreender como as pessoas aprendem e compartilham conhecimento.
Para o processo de aprendizagem individual, Kim (1998) utiliza o modelo
de Kofman, o OADI – Observe, Assess, Design e Implement, isto é, o proces-
so em que o indivíduo observa uma experiência concreta, reflete sobre esta
experiência e planeja ou forma conceitos abstratos a partir da reflexão e age,
implementando e testando os conceitos concebidos. O modelo de OADI,
segundo Kim, incorpora os conceitos desenvolvidos por Argyris e Schon que
diferenciam dois processos de aprendizagem: o single-looping learning e o
double-looping learning, ou a aprendizagem adaptativa e a generativa na
concepção de Senge (1998). O single-looping learning (ARGYRIS, 1978) ou
aprendizagem adaptativa (SENGE, 1998), é a forma mais básica de apren-
dizagem. Ocorre dentro de um conjunto de pressupostos já conhecidos e
aceitos sobre o ambiente da organização e seus projetos.
O conhecimento adquirido ocorre usando uma lógica gerencial dominan-
te, mas que pode vir a inibir a inovação, por sua rigidez. O resultado desse tipo
de aprendizagem na organização e no contexto do projeto é adaptativo, sendo
normalmente seqüencial, incremental e focado em oportunidades que estão
dentro do escopo tradicional das atividades da organização e do projeto.
O double-looping learning, ou aprendizagem generativa, ocorre quando
a organização se dispõe a questionar suas mais antigas e arraigadas supo-

21
sições sobre missão, clientes, capacidades ou estratégias. Isto requer uma
forma diferente de analisar as informações e questionar as relações de causa
e efeito aceitas nos projetos. Sendo assim, a aprendizagem generativa é re-
volucionária, inovadora e capaz de criar diferencial.
Kim (1998) acrescentou, ainda, ao processo de aprendizagem individual
os conceitos de modelos mentais de Senge (1998), afirmando que os mode-
los mentais influenciam a aprendizagem operacional e conceitual, durante o
cumprimento do processo OADI (de observação, reflexão, planejamento e
ação).
A aprendizagem organizacional, então, é descrita por Kim (1998) como
um processo mais complexo e dinâmico do que a aprendizagem individual.
Ele explica que, no contexto da aprendizagem organizacional, devem-se con-
siderar os pressupostos compartilhados e presentes na memória da organiza-
ção, provenientes de aprendizagens passadas. As rotinas são as expressões
desse aprendizado armazenado. Tudo isso influencia o processo de aprendi-
zagem individual e as ações realizadas.
O ciclo de aprendizagem organizacional se fecha à medida que os indiví-
duos realizam ações que provocam ações organizacionais que, por sua vez,
produzem respostas ambientais. Acrescentando o processo de captação de
informações e interpretação da realidade ambiental, o indivíduo reinicia seu
processo de aprendizagem e recomeça o ciclo. O autor enfatiza em todo
esse processo a importância do compartilhamento das aprendizagens indivi-
duais através da troca e compartilhamento de modelos mentais – o que em
sua opinião irá aumentar a capacidade de uma organização de tomar uma
ação efetiva.
De forma bastante similar, Nonaka e Takeuchi (1997), dissertando sobre
a transformação do conhecimento individual em organizacional, ressalta que
um novo conhecimento sempre começa com o indivíduo, seja um pesquisa-
dor que teve uma intuição que culminou em uma patente, um gerente médio
que pressente uma tendência de mercado e influencia na criação de um novo
conceito de produto, um trabalhador de fábrica que, com sua experiência,
sugere um processo inovador. Em cada caso, para que o conhecimento indi-
vidual se transforme efetivamente em uma inovação que irá agregar valor ao
mercado e aos investidores, é necessário, em primeiro lugar, que o conhe-
cimento individual seja compartilhado com outros membros da organização
e da equipe do projeto e se transforme em conhecimento disponível para a
organização como um todo.
Assim, o conhecimento individual nasce de uma curiosidade e de um
questionamento, que em seguida é testado, sustentado em uma premissa e
experimentado. Parte-se, então, para a observação dos dados e sua interpre-
tação, sendo o passo seguinte a aplicação dessas conclusões e resultados
ao mundo real. Mas, esta interpretação dos dados é realizada através de um

22
filtro pessoal, paradigmas individuais, que são os modelos mentais ou mapas
cognitivos formados pelas experiências passadas, pela relação de causa e
efeito em que se aprendeu a acreditar.
O processo de aprendizagem individual se inicia com a reflexão sobre
uma ação passada, depois passa para a fase de conexão, em que o in-
divíduo cria idéias e possibilidades para a ação e as reorganiza em novas
formas. O terceiro passo é a decisão, quando estabelece métodos para a
ação e finalmente a ação, executando uma tarefa com uma postura bastante
experimental, o que o leva novamente à reflexão sobre os resultados obtidos
e à repetição do ciclo.
Para que haja mudanças efetivas em uma organização e nas suas ações,
ou que essas reflexões conduzam à inovação de maneira mais rápida é ne-
cessário promover o ciclo de aprendizagem coletivo que consiste em:

(1) uma reflexão pública, na qual as crenças individuais e os modelos


mentais são compartilhados e desafiados de forma produtiva;
(2) significado compartilhado, que permite planejar as possibilidades para
uma ação, que são sustentadas em uma compreensão, visão e valores co-
muns;
(3) planejamento conjunto, em que de maneira formal ou não, tomam-se
decisões conjuntas e inclusive planejam-se as mudanças estruturais necessá-
rias para a execução do projeto e,
(4) a ação coordenada, que pode implicar em várias ações independen-
tes, executadas por vários membros da organização e dos projetos que tra-
balham em locais e funções diversas, mas que, devido à reflexão, construção
de significados comuns e planejamento conjunto, transformam estas ações
em iniciativas públicas.

O processo de aprendizagem organizacional, portanto, consiste em um


ciclo no qual as ações individuais levam às interações organizacionais com
o ambiente, o ambiente responde e as respostas são interpretadas pelos in-
divíduos, que aprendem atualizando suas crenças sobre o relacionamento
causa-efeito. Assim, membros da organização e equipe das ações compar-
tilham informação e criam memória organizacional, na forma de crenças
compartilhadas, pressupostos e normas.
Assim, a criação de conhecimento necessita de um ambiente organiza-
cional com condições corretas para se sustentar, fazendo que a organização
e as ações necessitem conceber de forma clara sua visão sobre qual tipo de
conhecimento é mais valioso para alcançar as metas e aplicar essa visão
como principal parâmetro de avaliação no julgamento da utilidade do novo
conhecimento, devendo ser dado à equipe responsável pela execução do
projeto certo grau de liberdade para ações com autonomia, para que eles
tenham motivação para experimentar e descobrir novos conhecimentos.

23
As ações e a política devem, ainda, estimular o processo de criação de
conhecimento e, por fim, devem fazer com que a diversidade interna reflita a
variedade e complexidade de seu ambiente externo, o que implica no acesso
imediato às informações, por parte de seus membros, para que estes possam
responder com rapidez às contingências (CHOO, 2003; NONAKA e TAKEU-
CHI, 1997).
A criação de conhecimento, segundo Choo (2003), não é uma atividade
da organização ou equipe da ação isolada, mas um resultado cooperati-
vo de seus membros trabalhando muito próximos, em grupos internos e em
parceria com outras organizações, devendo, as organizações, ser entendidas
como repositórios de capacidades, que são o resultado do conhecimento in-
dividual e de grupos da organização, dos processos e ferramentas utilizadas.
O autor afirma ainda que a aquisição e uso da informação são condiciona-
das pelos seguintes fatores:
- Identificação de vazios (Gap): na criação de conhecimento, a necessida-
de de informação surge de vazios no conhecimento, na compreensão ou nas
capacidades existentes nas organizações. Tais vazios podem situar-se, por
exemplo, na forma da organização/equipe do projeto solucionar problemas
ou aproveitar as oportunidades;
- Critérios de avaliação: a necessidade de informação deve ser identi-
ficada e elaborada. O processo de aquisição de informação é guiado por
crenças e suposições, que modelam e direcionam a especificação da neces-
sidade da informação, e validam os critérios pelo qual a nova informação
e conhecimento deveriam ser avaliados, à medida que são encontradas no
processo de aquisição;
- Fontes de conhecimento: os vazios existentes nas organizações podem
ser preenchidos de várias formas: localizando especialistas ou experiências
dentro das organizações, aprendendo ou desenvolvendo as capacidades de-
sejadas, ou transferindo conhecimento de fora da organização. Uma parte
importante da elaboração da necessidade de informação é descobrir fontes
e desenvolver estratégias para adquirir um conhecimento específico;
- Aquisição de informação: a busca de novo conhecimento, necessita
ser simultaneamente ampla e estreita. Geralmente, o processo começa pela
vasta busca e compartilhamento da informação, conectando-se com várias
fontes dentro e fora da organização. Os objetivos iniciais são avaliar o está-
gio de desenvolvimento de uma área, entender o conjunto de possibilidades
e identificar novas oportunidades ou necessidades do mercado. Em outro
estágio, quando o problema é suficientemente definido, a aquisição de in-
formação torna-se mais estreitamente centrada e cada vez mais rigorosa. A
aquisição de informação no contexto de criação do conhecimento é, prova-
velmente, influenciada pelas atitudes e preferências individuais sobre o tipo
de informação e o estilo de junção da informação;

24
- Acesso à informação: pode se dar de várias formas, tais como, assis-
tindo-se a conferências, conversando-se com indivíduos, visitando-se sites,
elevando o nível de leitura na organização/equipe do projeto. A aquisição
de informação durante a criação de conhecimento é, portanto, caracterizada
por busca e compartilhamento intensivos da informação, e pelo uso de um
número de canais de informação que introduz especialistas de outros grupos
ou organizações;
- Compartilhamento de informações: as organizações que estão efetiva-
mente envolvidas na criação de conhecimento constantemente expõem seus
membros a novas idéias e inovações de outras organizações. As organizações
precisam reconhecer que, mais do que nunca, o conhecimento é um recurso
largamente distribuído que deve ser compartilhado e conjuntamente criado
por vários grupos de participantes, incluindo clientes, fornecedores, compe-
tidores, consultores, pesquisadores, cientistas e outros. Penetrando dentro da
abundância de informações que está no ambiente externo, as organizações
buscam e mantêm fronteiras organizacionais porosas, que facilitam a ab-
sorção da informação externa. O compartilhamento da informação é uma
condição necessária na criação de conhecimento organizacional.

Assim, Choo (2003) conclui que a criação do conhecimento aumenta as


capacidades da organização/equipe do projeto, pelo nivelamento de espe-
cialização de seus membros e pela aprendizagem vinda de dentro e fora da
organização/equipe do projeto. Afirma ainda que, na mobilização do co-
nhecimento interno, o processo de informação é gerenciado para promover
o compartilhamento da informação, a conversão do conhecimento tácito,
a experimentação e prototipação, e a migração do conhecimento para ou-
tras partes da organização/equipe do projeto. Na importação de conheci-
mento externo, o fluxo de informação de fora é facilitado pela função de
comunicação dos sentinelas tecnológicos e extensores de limites, enquanto
a assimilação é influenciada pelo conjunto, diversidade e profundidade do
conhecimento que já existe na organização.
Outro aspecto relevante é o fato de que nem toda informação é formal,
e pode até mesmo não estar disponível nos computadores ou transitar pelos
meios eletrônicos de comunicação. O ambiente informal também produz
informações de extrema importância para o planejamento, conhecimento, e
a prática de intervenções nas organizações.
Portanto, a articulação da gestão do conhecimento, com a avaliação dos
processos e dos resultados das ações, e com o aprendizado organizacional
flui quase que naturalmente quando é promovida por intermédio de uma
proposta clara, bem instrumentalizada, que se baseia em ações simples e
concretas, e principalmente, quando faz parte da pauta dos decisores da
organização e não têm resistências por parte dos demais trabalhadores.

25
O processo de compartilhamento do conhecimento requer uma cultura
organizacional promotora de um ambiente de confiança e cooperação. Uma
cultura que permite as pessoas errarem, criticarem, pensarem divergente-
mente e conseqüentemente criarem. Esse ambiente deve ser compreendido
como estratégico no processo de avaliação. A metodologia de avaliação que
mais contempla essa perspectiva de compartilhamento do conhecimento é
indubitavelmente uma metodologia participativa, conforme mencionado.

2.5 - Gestão da Informação para o monitoramento e avaliação


e vigilância

É um conjunto de procedimentos que visa garantir a integridade do ciclo


de vida da informação. Compete à gestão da informação intervir nos aspec-
tos humanos, sociais/organizacionais e tecnológicos relativos à informação,
a fim de promover condições reais de superação das etapas e conclusão do
ciclo informacional que pode ser descrito como:
Necessidade informacional: são as questões orientadoras dos demais
procedimentos informacionais. No caso do Sistema de M&A proposto, a
necessidade informacional é representada, principalmente, pelo sistema de
indicadores. Deve ser tratada como um aspecto humano e social (organiza-
cional), pois quem detecta a lacuna (Gap) informacional e qualifica a ques-
tão orientadora são as pessoas, muitas vezes para cumprirem uma tarefa
organizacional ou social. Sendo assim, este aspecto deve ser gerido conside-
rando a dimensão subjetiva dos processos cognitivos humanos e da cultura
organizacional. Pode-se, também, partir do princípio que a concepção/ ela-
boração do sistema de indicadores utilizou metodologia participativa e assim
estabeleceu uma ambiência favorável para o processo informacional.
Registro/coleta: é um conjunto de procedimentos relacionados à cons-
trução de linguagem padronizada, formulários de registro de dados e o ato
de registrar a informação. Este último é estritamente humano e precisa ser
compreendido no todo do ciclo informacional. Ou seja, o responsável pelo
registro da informação deve ter compreensão dos procedimentos seguintes
ao registro e uso da informação. Ou seja, a informação registrada tem que
ter sentido para quem registra. Se o sentido não está diretamente relacionado
com a atuação de quem registra a informação, pelo menos deve estar explí-
cito e claro qual sentido tem ou terá aquele registro.
Processamento: são procedimentos de tratamento e transformação da in-
formação a fim de garantir seu armazenamento e recuperação conforme a
necessidade informacional. Nesta etapa do ciclo informacional os recursos
aplicados são na maioria, informatizados.
Recuperação e uso da informação: esta etapa também é predominante-
mente humana. Trata-se da etapa de busca da informação para a satisfação

26
das necessidades informacionais. É de amplo conhecimento que ao reduzir
as incertezas, outras incertezas são geradas, portanto, novas necessidades
informacionais são apontadas e o ciclo recomeça. Observa-se que nesta
etapa, além do acesso à informação expressa na necessidade informacional,
é também necessário disseminar outras informações coletadas e processa-
das, não necessariamente, expressas nas necessidades informacionais. Essa
disseminação permite potencializar o uso da informação e a produção de
conhecimento.
Sendo assim, a gestão da informação são principalmente da ordem hu-
mana e social/organizacional.

2.6 - Informatização

É uma estratégia, normalmente, planejada e executada como projeto (tem


início, meio e fim) que visa introduzir recursos de Tecnologias de Informação
e Comunicação – TIC – nos processos de trabalho e de gerenciamento de
serviços. Os principais recursos tecnológicos utilizados nos projetos são ha-
rware como o uso micro-computador no ato de registrar e recuperar a infor-
mação; software aplicação que viabiliza transações, registro e recuperação
da informação e rede de telecomunicação.
A informatização requer condição de intermediar os interesses (necessi-
dades) de ordem humana e social/organizacional, os interesses de ordem
técnica e da organização. Isso se dá por meio de metodologias de “análise
do negócio” (ação/política) que o descreve e identifica os principais aspectos
para a informatização.

2.7 - Território e tratamento espacial da informação

O uso do território como um dos mecanismos de identificação do público


alvo das intervenções, de suas especificidades, possibilitando a localização
dos fenômenos e dos problemas, constitui-se, sem dúvida, um instrumento
concretizador do processo de M&A e de vigilância. O foco na territorialidade
faz com que a realidade se apresente a partir da consideração de situações
de vida particulares e muito específicas, o que constitui por si só um grande
desafio para as políticas públicas em geral. Algumas concepções entendem
o território como:

“Produto de uma dinâmica social onde se tencionam sujeitos


sociais postos na arena política [...] transcende a sua redução
a uma superfície solo e às suas características geofísicas para
instituir-se como um território de vida pulsante, de conflitos,
de interesses diferenciados em jogo, de projetos e de sonhos.
(VELOSO citado por MENDES, 1995, p.74).

27
Esta concepção de território está voltada para um modelo de organiza-
ção de serviços que considera a construção social do espaço. As relações
entre diferentes grupos sociais vão estabelecer também diferentes formas de
ocupação e apropriação do espaço. Nesta perspectiva, a organização, pla-
nejamento e gestão das ações e serviços públicos deveriam considerar estas
heterogeneidades. Isso se dá a partir de aproximações sucessivas do territó-
rio, que envolve toda uma mudança de processos de trabalho perante uma
população que vive em um espaço delimitado. Tira-se a ênfase do limite
geográfico e da ordenação antecipada dos serviços e busca-se uma nova
operacionalização, que, principalmente, torne-se mais permeável às necessi-
dades da população.
A efetivação do território como uma unidade de planejamento e gestão
das ações /políticas depende de instrumentos para o tratamento espacial da
informação ou geoprocessamento ou georreferenciamento.
Trata-se de um conjunto de técnicas e recursos aplicados à localização de
“elemento” (pessoa, serviço, família, prédio e outros) no espaço delimitado
geograficamente (polígono). O processo de georreferenciamento agrega
ao elemento a informação de sua localização geográfica, que podem ser
coordenadas: latitude e longitude; identificação por meio da composição do
código de logradouro e nº do imóvel, enfim técnicas baseadas conceitual-
mente na geografia e com aplicação centrada em recursos tecnológicos, que
possibilitam plotar no mapa o referido elemento. Assim torna-se possível ma-
pear os fenômenos para atingir vários objetivos que vão da mera localização
a vigilância.

28
3 - GOVERNANÇA DA POLÍTICA PÚBLICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL: A APLICAÇÃO DA VIGI-
LÂNCIA SÓCIO-ASSISTENCIAL E DO SISTEMA
DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Para compreender a governança da política de


assistência social é necessário contextualizar o uso deste
termo na atualidade e sua relação com a governabili-
dade, bem como, o processo de mudança do modelo
de administração pública desencadeado pela crise do
Estado3 iniciada em 1970 e atualmente em franco pro-
cesso de superação.
Esse fenômeno (crise do Estado) caracterizado como
histórico e social trouxe em seu bojo contradições em

3
Após o fim da Era de Ouro e do pleno emprego o mundo atravessa uma crise de proporção mundial que abrange as dimen-
sões econômica, política e social. Hobsbawm (1995) denomina como Era do Ouro o período pós-guerra (segunda) onde a
economia mundial atravessou ciclo econômico virtuoso e de pleno emprego. O fim dessa Era foi atribuído às duas crises do
petróleo na década de 1970 (1973 e 1979).

29
processo de superação. A principal questão é a consolidação da democracia
como modelo político hegemônico. Hoje é inquestionável a importância dos
processos políticos democráticos para a consolidação da cidadania. Demo-
cracia e cidadania tornaram-se um binômio inseparável, que tem como tôni-
ca a igualdade e eqüidade.
A contradição está presente na pressão que o Estado foi submetido para
assumir o papel de promotor da eqüidade dos direitos e acessos da popula-
ção e em um regime democrático e com escassez gerada crise econômica.
Mas, a eqüidade necessita do fortalecimento institucional do Estado e de
respostas eficazes às demandas e necessidades da população. Para melhor
responder às necessidades da população e diante do constrangimento fiscal,
foi colocado em pauta o debate sobre a crise do Estado e a superação do
modelo burocrático de administração. O primeiro relacionado à abrangên-
cia do Estado e o segundo a modernização das instituições estatais. Apesar
do surgimento dos temas em um mesmo momento histórico as soluções são
distintas na sua natureza. Ou seja, a revisão da abrangência do Estado está
diretamente relacionada à formulação de sua agenda e a superação do mo-
delo burocrático de administração pública está relacionado à incorporação
das dimensões de governabilidade e de governança na gestão pública. Neste
texto será abordado o segundo debate.
O conceito de governança foi aplicado inicialmente pelo Banco Mundial
como a capacidade do Estado e seu aparato de colimar seus objetivos pri-
mando pela eficiência, eficácia e efetividade das ações, avaliando os pro-
cessos e resultados de modo a possibilitar o reordenamento das mesmas de
forma tempestiva. Já a governabilidade refere-se à legitimidade do Estado.
Governança e governabilidade são faces opostas da mesma moeda confor-
me Bresser Pereira e Spink, (1998).
No Brasil, o debate sobre governabilidade e governança é indissociável
e está relacionado à consolidação da democracia, segundo Diniz (1996). A
autora define que a crise institucional decorrente do acirramento da defasa-
gem Estado-sociedade, ao lado da ineficácia do poder público na gestão
dos problemas mais prementes, impõe uma nova forma de caracterizar a
crise de governabilidade. Ainda segundo a autora, a ingovernabilidade do
país pode ser originária da liberação das demandas reprimidas pelos vinte
anos do regime autoritário e da exacerbação das perspectivas por políticas
públicas mais efetivas, conjugadas com a falência executiva do Estado. Nesse
contexto, a concepção de governabilidade está diretamente relacionada ao
conceito de governança. Rua (1997, p.135), corrobora essa definição afir-
mando que

“... refletir sobre os dois conceitos e/ou optar por um deles


como elemento de recorte analítico não significa assumir a
existência de qualquer disjuntiva entre uma dimensão propria-

30
mente política do processo de governo (governabilidade) e
uma outra restrita às rotinas de gerenciamento despolitizado
(governança).”

Ela também propõe a fusão dos termos baseando-se nos seguintes argu-
mentos: primeiro que a administração da coisa pública é política pela própria
natureza do significado de gerir a coisa pública, ou seja, pressupõe escolhas
que estabeleçam primazia do interesse público em detrimento dos interesses
privados. E segundo, por implicação, há existência de um vínculo indissolúvel
e de uma articulação dinâmica entre governabilidade e governança. Conclui
que a distinção entre as duas significa apenas um recurso de análise.
Resumindo, Governança diz respeito à capacidade governativa no sentido
amplo, envolvendo a capacidade de ação estatal na implementação das políti-
cas e na consecução das metas coletivas. Refere-se, também, ao conjunto dos
mecanismos e procedimentos para lidar com a dimensão participativa e plural
da sociedade, o que implica expandir e aperfeiçoar os meios de interlocução e
de administração do jogo de interesses (DINIZ, 1996, p. 12-13).
A operacionalização do conceito de governança institui um novo modus
operanti do Estado, voltado para os resultados e para os efeitos da sua ação,
assim como para a democratização do processo de formulação da agenda,
propostas, implementação, monitoramento e avaliação. Essa forma de ges-
tão é condicionada à ampliação e à porosidade da relação entre o Estado e
a sociedade civil.
A instituição de um novo modus operanti do Estado requer a moderni-
zação das estruturas de gestão e de seu processo de democratização, com-
plementando a estruturação das instituições políticas, conforme Abranches
(1992). Nesse caso, compreende-se por modernização o processo de consti-
tuição de cidadania e de otimização dos recursos públicos. O foco está, por
um lado, na satisfação dos usuários, na qualidade dos serviços, na promo-
ção da consulta ao público e na transparência. Por outro lado, procura-se
incorporar técnicas de gestão “mais avançadas para dotar o funcionamento
das instituições públicas de maior eficácia e eficiência”, conforme afirmam
Tohá e Solari (1997, p. 84).
Neste sentido, a constituição da assistência social como política pública
e a evidência da importância da função da Vigilância Sócio-assistencial e do
instrumento de gestão - o Sistema de Monitoramento e Avaliação, apontam
para a alteração do modus operanti vigente na administração pública (mo-
delo burocrático). Ou seja, a constituição da política pública de assistência
social força a instituição de um modelo de gestão que supere os limites da
burocracia e institua a gestão pós-burocrática ou Social, conforme é deno-
minado por vários autores.
Essa compreensão permite a assertiva que a elaboração e as estratégias
de implantação do SUAS estão em consonância com a Gestão Social, con-

31
forme é percebido nas duas principais normativas vigentes que são Política
Nacional de Assistência Social – PNAS 2004 e Norma Operacional Básica
do SUAS – NOB/SUAS 2005.

3.1 - Concepção da Vigilância Sócio-assistencial

É estabelecida inicialmente na Política Nacional de Assistência Social


PNAS/2004 e reiterada na Norma Operacional Básica do Sistema Único de
Assistência Social – NOB/SUAS-2005.

Conforme PNAS/2004:

“Vigilância Social: refere-se à produção, sistematização de in-


formações, indicadores e índices territorializados das situações
de vulnerabilidade e risco pessoal e social que incidem sobre
famílias/pessoas nos diferentes ciclos da vida (crianças, ado-
lescentes, jovens, adultos e idosos); pessoas com redução da
capacidade pessoal, com deficiência ou em abandono; crian-
ças e adultos vítimas de formas de exploração, de violência e
de ameaças; vítimas de preconceito por etnia, gênero e opção
pessoal; vítimas de apartação social que lhes impossibilite sua
autonomia e integridade, fragilizando sua existência; vigilância
sobre os padrões de serviços de assistência social em especial
aqueles que operam na forma de albergues, abrigos, residên-
cias, semiresidências, moradias provisórias para os diversos
segmentos etários. Os indicadores a serem construídos devem
mensurar no território as situações de riscos sociais e violação
de direitos.” (BRASIL, 2004. p.38)

Nesta definição a vigilância social é uma das três funções da PNAS que
cumpre um papel em relação à identificação e à localização da necessidade
de proteção sócio-assistencial no território. Também cabe a ela a vigilância
dos padrões de serviços sócio-assistenciais, que seria a “oferta”.
Ou seja, a função de Vigilância Sócio-assistencial tem foco na situação
problema da população em seu contexto territorial (necessidades4), visando
à responsabilização do poder público com a garantia dos direitos sócio-as-
sistenciais. A essa vigilância denominamos de macro-vigilância e conforme a
NOB/SUAS:

“A vigilância sócio-assistencial consiste no desenvolvimento da


capacidade e de meios de gestão assumidos pelo órgão públi-

4
O conceito de necessidade é mais amplo que o de demanda, pois considera como “manifestação de necessidades, apresen-
tadas explicitamente pelo usuário ou identificadas pelo técnico, que exigem intervenções de natureza sócio-assistencial.” (Belo
Horizonte, 2007. p.31). Assim, a necessidade sócio-assistencial é aquela identificada por meio da Vigilância Sócio-assistencial
e que não se transformou necessariamente em demanda.

32
co gestor da Assistência Social para conhecer a presença das
formas de vulnerabilidade social da população e do território
pelo qual é responsável.” (BRASIL, 2005. p 21)

Uma outra dimensão da vigilância é sua operacionalização na prote-


ção social básica visando à ação preventiva ou pró-ativa de proteção. Neste
caso, a vigilância utiliza informações acerca da incidência de fenômenos e,
sempre que possível, desagregadas, visando à identificação das pessoas e
sua localização, para assim atuar por meio da busca ativa. Ou seja:

“A vigilância sócio-assistencial deve buscar conhecer o cotidia-


no da vida das famílias, a partir das condições concretas do lu-
gar onde elas vivem e não só as médias estatísticas ou números
gerais, responsabilizando-se pela identificação dos “territórios
de incidência” de riscos no âmbito da cidade, do Estado, do
país, para que a Assistência Social desenvolva política de pre-
venção e monitoramento de riscos.” (BRASIL, 2005. p. 22)

Em síntese a vigilância sócio-assistencial provoca à responsabilização do


Estado em relação às necessidades para a proteção sócio-assistencial, ao
torná-las transparente aos gestores e à população.

3.2 - Concepção do Sistema de Monitoramento e Avaliação em


assistência social
O monitoramento, avaliação e informação são apresentados nas norma-
tivas como um dos eixos estruturantes da política de assistência social e como
instrumento de gestão. Essa definição é oriunda dos registros da IV Conferên-
cia Nacional realizada em 2003, que destaca a necessidade para a

“...criação de um sistema oficial de informação que possibi-


lite (m): a mensuração da eficiência e da eficácia das ações
previstas nos Planos de Assistência Social; a transparência; o
acompanhamento; a avaliação do sistema e a realização de
estudos, pesquisas e diagnósticos a fim de contribuir para a
formulação da política pelas três esferas de governo.” (BRASIL,
2004. p.53)

A partir da concordância em relação a essa necessidade foi possível pro-


duzir, de forma cumulativa, uma concepção que vai além do Sistema de
Informação, ou seja, considera a gestão da informação como recurso que
viabiliza o Sistema de Monitoramento e Avaliação, conforme a NOB/SUAS.

33
“A gestão da informação tem como objetivo produzir condi-
ções estruturais para as operações de gestão, monitoramento e
avaliação do SUAS, conforme as determinações dessa Norma.
Opera a gestão dos dados e dos fluxos de informação do SUAS
com a definição de estratégias referentes à produção, armaze-
namento, organização, classificação e disseminação de dado,
por meio de componentes de tecnologia de informação, obe-
decendo padrão nacional e eletrônico.” (BRASIL, 2005. p. 45)

Observa-se na NOB/SUAS que a importância do Sistema de Monitora-


mento e Avaliação é significativa ao ser estabelecido como requisito para a
habilitação dos municípios na gestão plena, além de atribuir competências
aos entes federados para sua viabilização:

“g) instalar e coordenar o sistema municipal de monitoramento


e avaliação e estabelecer indicadores de todas as ações da
Assistência Social por nível de proteção básica e especial, em
articulação com o sistema estadual, validado pelo sistema fe-
deral” (BRASIL, 2005. p. 30)

Resumindo, o sistema de monitoramento e avaliação pode ser definido


como um conjunto de elementos inter-relacionados que viabilizam a cons-
trução de indicadores sobre o resultado, cobertura, gestão, qualidade, sa-
tisfação do usuário, processo e impacto das ações do SUAS, assim como, a
verificação da resolutividade das relações existentes entre as ações.
Fica claro que o foco do M&A é a oferta de serviços e bens do SUAS.
Neste caso, como tratar a sobreposição do Sistema de M&A com a vigilância
sócio-assistencial que também é responsável pela vigilância dos parâmetros
de qualidade dos serviços? São definições complementares? O Sistema de
M&A está contido na vigilância sócio-assistencial?
As respostas a essas questões partem da interpretação dos gestores e ope-
radores da política. No caso de Belo Horizonte, a interpretação é pautada
nas definições da NOB/SUAS e na compreensão que a Vigilância Sócio-as-
sistencial é uma das três funções da política e que na sua concepção existem
elementos operadores, como produção e sistematização de informação, ou
seja, não se restringe a uma definição de função, mas também em como é
operada. Esta interpretação corrobora a constatação nas normativas que o
Sistema de M&A e a Gestão da Informação estão desarticulados e operacio-
nalmente da Vigilância sócio-assistencial. Essa desarticulação deve ser supe-
rada, pois os sistemas têm a mesma natureza e são intrínsecos a governança
da política de assistência social.

34
3.3 - Articulação entre a Vigilância Sócio-assistencial e o Siste-
ma de Monitoramento e Avaliação

Pode-se observar que as normativas apontam aspectos convergentes do Sis-


tema de M&A e da vigilância sócio-assistencial, apesar de sua desarticulação.
O principal é que ambos se viabilizam por meio de sistema de indicadores.
Tal sistema seria único e articulador do olhar para a população e para
o território (necessidades de proteção sócio-assistencial) – Vigilância Sócio-
assistencial e do olhar para o SUAS (oferta) - Sistema de M&A -, conforme
FIG. 1.
Outro aspecto importante na promoção dessa articulação é a gestão da
informação. Conforme mencionado anteriormente, ela viabiliza o sistema de
indicadores. Portanto, a partir da compreensão da importância estratégica da
gestão da informação é possível conceber um modelo articulado do Sistema de
M&A e vigilância sócio-assistencial conforme representado na QUADRO 1.

35
36
FIGURA 1
Vigilância Socioassistencial e Sistema de Monitoramento e Avaliação SUAS-BH
QUADRO 1
Descrição dos elementos da vigilância sócio-assistencial e sistema de M&A

37
38
A escolha de BH foi conceber todo o sistema nos aspectos que compe-
tem ao município. Essa visão do todo permitiu definir as etapas e atividades
predecessoras e, com isso, foi possível estimar que o tempo necessário para
implantar e implementar todo o sistema no que compete ao município é de
quatro a sete anos.

3.4 - Contextualização do Sistema de M&A e da Vigilância só-


cio-assistencial no macro processo de trabalho da política de
assistência social

A gestão da política pública de assistência social requer, como qualquer


outra política pública, a capacidade dos agentes gestores em garantir a com-
pletude do ciclo de planejamento e gestão ver FIG. 2. Essa capacidade é
potencializada com o uso dos instrumentos de gestão. Desta forma, a formu-
lação dos Sistemas de M&A e de indicadores, são para atender as necessida-
des de mensurar e identificar as etapas do ciclo e julgá-las conforme enfoque
avaliativo da eficiência, eficácia e efetividade, permitindo assim, tomadas de
decisão mais qualificada.
Outra importante contribuir dos sistemas é agregar de forma qualificada
a participação da sociedade civil ao processo de gestão, possibilitando a efe-
tivação dos principais sustentáculos da Governança da Política de Assistência
Social.

39
FIGURA 2
Representação da gestão e macro processo da política pública
de assistência social e sua relação com o sistema de vigilância
sócio-assistencial e monitoramento e avaliação do SUAS.

40
QUADRO 2
Descrição dos componentes da gestão e macro processo de
trabalho representados na FIGURA 2

41
Em resumo, o Sistema de M&A permite a identificação e mensuração das
etapas ciclo apresentado e quando são devidamente acompanhadas pela
sociedade civil, contribui para o fortalecimento do controle social e a trans-
parência da política pública.

42
4 - COMO TUDO COMEÇOU EM BELO
HORIZONTE...

A concepção dos sistemas de monitoramento e avalia-


ção e de vigilância sócio-assistencial iniciou-se em 2005
com o propósito de fornecer à Política de Assistência
Social do município ferramentas informacionais e instru-
mentos de gestão para qualificação operacional e gestão
dos serviços sócio-assistenciais e suas articulações.
O período de concepção consistiu na análise de ex-
periências anteriores5, no estudo das normativas federais

5
O início das atividades de monitoramento e avaliação na Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social se deu em 2000,
no ensejo da reforma administrativa que criou a Gerência de Informação, Monitoramento e Avaliação – GEIM, atual GEIMA
(mesma denominação). Neste contexto, a GEIM, devido às suas atribuições publicadas no Diário Oficial do Município, assume
um papel de subsidiar o planejamento e gestão do órgão gestor da Política de Assistência Social em Belo Horizonte, uma vez
que, a partir do processo de descentralização gradual das ações da SMAAS para as Regionais Administrativas, a política em seu
nível central responsabilizar-se-ia pela coordenação, formulação de diretrizes, monitoramento e avaliação das ações em seu
formato descentralizado. A GEIM daria concretude ao monitoramento, avaliação, organização e gestão da informação, instru-
mentos de gestão necessários para atender as novas funções assumidas pela SMAAS a partir da Reforma Administrativa.

43
e na revisão conceitual e prática dos lugares da informação e informatização
nos processos de trabalho e gestão, culminando na realização de um semi-
nário em novembro deste mesmo ano.
O “Seminário sobre Sistema de Monitoramento e Avaliação e Projeto de
Informatização do SUAS-BH” foi o primeiro momento de publicização da
concepção do sistema de M&A e do projeto de informatização e de início da
elaboração coletiva em torno de quatro eixos: indicadores, territorialização
da Proteção Social Básica, Censo BH Social (Cadastro das Políticas Sociais) e
Prontuário Eletrônico, por meio da formação de Grupos de Trabalho (GT).
Estes trabalhos desdobraram-se ao longo do ano de 2006 envolvendo
número significativo de trabalhadores da Assistência Social. Sendo que, dois
desses Grupos de Trabalho tiveram uma intensa produção: o GT Indicadores
e o GT Território, além das atividades de desenvolvimento do Sistema de
Informação e Gestão das Políticas sociais.

4.1- Indicadores

O GT Indicadores teve como objetivo produzir indicadores para os ser-


viços sócio-assistenciais das proteções básica e da especial, constituindo-se
no núcleo do Sistema de Monitoramento, Avaliação e Vigilância Social do
SUAS/BH. Neste primeiro momento, optou-se pela construção de indicadores
com enfoque avaliativo nos resultados para os serviços da execução direta6.
Foram realizadas 26 reuniões com a participação de representantes da Ge-
rência de Gestão da Política de Assistência Social e dos serviços (gerentes e
técnicos) representantes dos serviços em níveis central e regional.
A metodologia estruturada para este trabalho, descrita neste texto consis-
tiu em: pactuação conceitual ou compartilhamento dos modelos mentais; de-
finição dos objetos de avaliação; elaboração e validação dos indicadores.
Os atores envolvidos debruçaram-se sobre os objetivos dos serviços e
seus processos de trabalho buscando delimitar quais aspectos permitiam
apreender os resultados esperados, o que era necessário e possível conhecer
com o monitoramento desses aspectos e a finalidade desse conhecimento
para as instâncias de gestão. O exercício de delimitação do objeto avaliativo
possibilitou a reflexão sobre a adequação dos objetivos dos serviços em rela-
ção ao que era pretendido e, tendo em vista as diretrizes do SUAS, apontou
para a necessidade de revisão ou reformulação de alguns deles.
Desse processo foi evidenciada a necessidade de padronização de no-
menclaturas e termos utilizados correntemente pelos serviços sócio-assisten-
ciais. Este procedimento era imprescindível para assegurar a uniformidade

6
Execução direta: refere-se à entrega de serviços e benefícios gerenciados diretamente pelo executivo dos órgãos públicos nas
esferas municipal, estadual e federal.

44
no registro das informações a serem processadas pelos indicadores. Nesse
sentido, um processo de trabalho paralelo foi iniciado sob a coordenação
da Gerência de Gestão da Política de Assistência Social, para a compilação,
produção e padronização de termos utilizados pelos trabalhadores e pela
política de Assistência Social. A coletânea dos 201 verbetes originou a publi-
cação do “Dicionário de termos técnicos da Assistência Social”.
As reuniões deste Grupo de Trabalho foram orientadas para a elaboração
dos indicadores considerando os seguintes aspectos: nome do indicador (sua
expressão sintética); conceito (a descrição da relação contida em sua fór-
mula); interpretação (explicitação daquilo que o indicador pretende apontar,
medir); fórmula de cálculo (abstração matemática do conceito); parâmetros
do indicador (referências para a interpretação do resultado apresentado pelo
indicador).
Ao mesmo tempo, atentou-se para a obtenção de um número não muito
grande de indicadores e que fossem o mais sintético e preciso possíveis de
modo que a simplicidade favorecesse a compreensão e interpretação e em
conseqüência, sua perenidade.
Nesse esforço conjunto, foram construídos a princípio 86 indicadores para
22 Serviços sócio-assistenciais: 15 indicadores para 5 Serviços da Proteção
Social Básica e 71 indicadores para 17 Serviços da Proteção Social Especial.
A obtenção desse produto deu início ao próximo passo na elaboração dos
indicadores: a fase de validações.
A primeira etapa de validação consistiu na divulgação e discussão dos
indicadores produzidos com os níveis operacional, gerencial e estratégico,
além das instâncias central e regional da política de assistência através dos
fóruns já instituídos e de reuniões específicas. A partir do debate e sugestões,
novas elaborações faziam-se necessárias.
A segunda etapa de validação ocorreu com a submissão do material pro-
duzido à apreciação de duas consultoras externas, Aldaíza Sposati e Maria
das Graças Rua. Em duas oficinas de trabalho mais restritas, as consultoras
debateram e apresentaram suas contribuições à proposta. A incorporação
das sugestões ensejou a realização de um novo evento em 25 de outubro de
2007, de caráter ampliado, visando ao compartilhamento das incorporações
ocorridas e a operação de novos ajustes aos indicadores apresentados na
presente publicação. Deste evento foram produzidos novos ajustes que resul-
taram nos indicadores em 39 indicadores descritos nesta publicação.

45
4.2 - Definição do território intra-urbano

O Grupo de Trabalho sobre Território foi composto por técnicos de di-


versas áreas da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social, da Se-
cretaria Municipal de Políticas Sociais e Secretaria Municipal de Tecnologia
da Informação e das Secretarias de Administração Regional. O Grupo de
trabalho iniciou suas atividades em janeiro de 2006 tendo como tarefas: a
delimitação do território da Proteção Social Básica; o geoprocessamento de
serviços e usuários; a construção de indicadores intra-urbanos.
Foram inicialmente enfrentados importantes desafios, sendo o primeiro de-
les a necessidade de aquisição de conhecimento sobre análise espacial e de
licença para uso do software MAPINFO, adquirido com recursos do BNDES.
Outro importante desafio foi a obtenção de listagens com a origem do
usuário nas diversas entidades conveniadas à Secretaria Municipal de As-
sistência Social e a localização do endereço do usuário realizada manu-
almente, através de estagiários de nível superior da área de geografia. É
importante pontuar que ao longo do processo de identificação do endereço,
foi observado que a base geográfica municipal possuía uma limitação nas
áreas de vilas, local de moradia da população alvo prioritária da Política de
Assistência Social.
O processo de territorialização da Proteção Social Básica se orientou pela
prescrição da NOB/SUAS que indica para as metrópoles territórios contendo
aproximadamente 5.000 famílias referenciadas.
Esse processo se baseou na definição do território não apenas como uma
unidade administrativa, mas também considerando a construção social do
espaço. Os pressupostos básicos adotados no processo de territorialização
foram:

a. A compreensão do território como dinâmico, permitindo uma recons-


trução permanente (diagnóstico intra-urbano);
b. O estabelecimento de uma base territorial que permitisse a caracteriza-
ção da população e de seus problemas;
c. A identificação das agregações territoriais já existentes no município;
d. A utilização das concepções de escala, distância, área de abrangência,
área de influência ao organizar a rede sócio-assistencial em um território;
e. A realização do diagnóstico de áreas de vulnerabilidade, com mensu-
ração dos riscos sociais a partir da construção de indicadores de vigilância
sócio-assistencial7;
f. A análise da área de influência da rede sócio-assistencial;

7
Foi elaborada uma proposta preliminar de indicadores para vigilância socioassistencial que no momento encontra-se em pro-
cesso de avaliação e validação mediante consultoria externa e discussão pelos técnicos da SMAAS no Seminário de Indicadores
para SUAS-BH.

46
g. A análise da origem do usuário da rede sócio-assistencial (endereços
residenciais).

Outra opção importante foi a do uso de setores censitários como unida-


des territoriais que são unidades básicas de coleta de dados para o censo
demográfico IBGE (2000). Os setores censitários são áreas territoriais contí-
nuas, de mesma situação (urbana ou rural) e do mesmo distrito administra-
tivo do IBGE. O número e a extensão dos setores variam conforme a área,
as dificuldades de transporte, a densidade demográfica e a proximidade ou
distanciamento dos domicílios. Os critérios abaixo nortearam o trabalho de
aglomerações de setores censitários:

a. Os limites dos setores censitários devem ser respeitados;


b. Os limites geográficos das regiões administrativas devem ser respeitados;
c. A organização espontânea da comunidade deve ser identificada e
considerada;
d. O fluxo espontâneo da população à procura dos serviços da Assistên-
cia Social deve ser identificado e considerado.

Além dos mapas em meio digital e da avaliação de acessibilidade aos


serviços de proteção social básica, foram utilizadas fontes de informações
secundárias sobre:

1) Dados socioeconômicos e demográficos: dados do censo demográfico


e contagem populacional, fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE (2002).
2) Dados da rede sócio-assistencial: lista de endereços dos locais de aten-
dimento aos usuários elaborada e disponibilizada pela Secretaria Municipal
Adjunta de Assistência Social - SMAAS.
3) Dados da rede de serviços de saúde e educação: localização geográ-
fica desses serviços no território.

A conclusão deste trabalho foi a delimitação de 140 territórios da prote-


ção social básica, sendo que 75 são indicados para a implantação do Nú-
cleo de Apoio à Família (NAF)/ Centros de Referência de Assistência Social
(CRAS). Atualmente, o município tem implantado 15 (quinze) NAF/CRAS em
09 (nove) regiões administrativas.
A identificação da vulnerabilidade social foi possível por meio do Índice
de Vulnerabilidade à Saúde e possibilitou a verificação que 58,9% dos mora-
dores das áreas NAF/CRAS estão em áreas consideradas de risco Elevado e
Muito elevado, que corresponde a 21,3% do total de domicílios do município
em áreas mais vulneráveis.

47
Havia inicialmente a proposta de construção de indicadores territoriais,
compostos por dados provenientes do Censo do IBGE e outras fontes muni-
cipais. Contudo, no município estão disponíveis e sendo utilizados em outros
órgãos municipais indicadores com essas características. A Secretaria Munici-
pal de Saúde possui desde 1996 o Índice de Vulnerabilidade à Saúde (2003),
mapeando a cidade em áreas de risco muito elevado, elevado, médio e
baixo. Esse índice tem sido utilizado para a distribuição das equipes do Pro-
grama de Saúde da Família, priorizando as áreas de maior vulnerabilidade.
A opção pelo uso desse índice nas análises do território da proteção social
básica se procedeu diante da verificação da proximidade entre os fenôme-
nos registrados pela área da Saúde e pela Assistência Social que dizem de
uma situação de vulnerabilidade social. Baseou-se também na perspectiva
de atualizações freqüentes, pois a Secretaria Municipal de Saúde mantém
periodicamente essas atualizações.
Para a construção dos mapas contendo as delimitações das áreas de
proteção social básica, geoprocessamento dos dados de entidades, usuários,
beneficiários entre outros, foi utilizado o software MAPINFO, versão 8.0. Para
a análise e tabulação das variáveis selecionadas para estudo do perfil da
população residente nas áreas de abrangência dos NAF/CRAS foi utilizado o
software TABWIN (DATASUS-MS).

4.3 - O histórico da informatização da política de assistência


social8

A implantação do Sistema Único de Assistência Social - SUAS e a habi-


litação do município de Belo Horizonte na condição de gestão plena desse
sistema, impingiram à Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social re-
ver seu projeto de informatização em curso, baseado em um aplicativo SISAS
(Sistema Integrado dos Serviços de Assistência Social), visando adequá-lo à
necessidade de execução de um sistema municipal de monitoramento e ava-
liação. Isso significou, principalmente, implantar um sistema que abrangesse
todo o SUAS-BH.

SISAS – SISTEMA INTEGRADO DOS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL


O SISAS – Sistema Integrado de Serviços de Assistência Social era o prin-
cipal produto do projeto de informatização da Secretaria Municipal Adjunta
da Assistência Social em Belo Horizonte no período de 2001 a 2004 que
foi revisto para se adequar às novas necessidades. O processo decisório da
revisão do projeto se baseou nas seguintes questões:

8
A revisão do projeto de informatização SISAS gerou um projeto que foi selecionado como finalista ao Prêmio de Excelência em
Informática e Inovação na Gestão Pública oferecido pelo Congresso Nacional de Informática Pública - CONIP/SP de 2006.

48
a) qual a arquitetura tecnológica é mais adequada para atender as dire-
trizes de sistema de informação destinado à consolidação do SUAS em BH?
Neste aspecto observam-se: soft, hardware e rede.
b) Como proceder às mudanças no SISAS minimizando seus impactos na
credibilidade na tecnologia e nos gestores do projeto?
c) Quais alternativas existentes poderão ser utilizadas para financiar a
adequação do projeto de informatização? Qual é a melhor destinação dos
recursos?

Na tentativa de responder tais questões foi analisado o projeto de infor-


matização desenvolvido até então, o contexto atual e as perspectivas. Essa
análise teve por objetivo principal subsidiar o processo decisório e fomentar
a elaboração de diretrizes para os projetos de informatização da SMAAS
– Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de BH.

Histórico – SISAS 2001 a 2004


O SISAS – Sistema Integrado de Serviços de Assistência Social – foi pro-
posto em 2001 no ensejo da descentralização de três serviços da rede direta
da Política Municipal de Assistência Social, que são: NAF – base local; SOSF
e Plantão Social – base regional. Coerente com o contexto de sua formula-
ção o SISAS destinava-se a auxiliar a execução de tais serviços, portanto, foi
concebido como ferramenta de trabalho.
Como ferramenta de trabalho o SISAS precisava contemplar as metodolo-
gias e a organização dos processos de trabalho que estavam em elaboração.
Este é o primeiro apontamento das dificuldades enfrentadas na implantação
do SISAS. Ou seja, como o processo de trabalho não estava minimamente
consolidado, ele sofreu a crítica e adequações quando efetivamente foi im-
plantado. Quando isso ocorreu o SISAS estava praticamente desenvolvido
e ao ser implantado foi considerado pelo usuário final como “estranho” ao
processo de trabalho em execução.
O segundo apontamento é a incoerência entre a proposta de ser uma fer-
ramenta de trabalho e a arquitetura tecnológica desenhada, que tecnológica
previa um microcomputador para cada serviço, independente do número
de técnicos ou de locais de atendimento ao usuário. A coleta de dados era
registrada no papel e depois digitada no SISAS, gerando inevitavelmente, o
re-trabalho. Motivo explícito da resistência para o não uso do aplicativo. A
escolha por essa arquitetura foi motivada pela escassez de recursos destina-
dos ao projeto.
O terceiro aspecto avaliado foi o cadastramento do usuário/família no
formato do Cadastro Único dos beneficiários do governo federal. Este ca-

49
dastramento tem um número significativo de dados, o que gerou resistência
na coleta e registro durante o atendimento do usuário. Outro aspecto é que
apenas este módulo foi efetivamente implantado, portanto, o cadastro não
se relaciona com nenhum outro registro o que limitava de forma significativa
a potencialidade de uso das informações, tanto no contexto da operação do
atendimento, quanto no aspecto gerencial e de planejamento.
Por fim, observou-se que a escolha da tecnologia utilizada para o desen-
volvimento do SISAS foi orientado por dois critérios, a solução de domínio
da Prodabel – Empresa de Informação de Informática do Município de Belo
Horizonte (na época) e a compatibilidade do seu uso na RMI – Rede Muni-
cipal de Informática. Por conseguinte, foi escolhida a linguagem Delphi 5.0,
de duas camadas - cliente-servidor -, com uma razoável performance no am-
biente da RMI, mas, tornou-se inviável nos NAFs, que não estão conectados
à RMI. A alternativa para conexão dos NAFs foi o banco de modem por meio
da linha discada, o que não foi resolutivo.
Atualmente a situação se mantém e os Núcleos de Apoio à Família (CRAS)
não foram conectados à RMI, pois a avaliação da relação entre custo e
quantidade de recursos informacionais operados em cada Núcleo de Apoio
à Família (CRAS) aponta para um alto TCO (Custos Operacionais e de Pro-
priedade). Essa avaliação conduziu à experimentação de outras tecnologias
de telecomunicação que fossem menos onerosa que a RMI. E somente no
1º semrestre de 2005 foi definido que não serão utilizadas alternativas tec-
nológicas à RMI, independente do resultado da análise de TCO. Ou seja,
será implantada a RMI nos NAFs e em todos os equipamentos externos da
SMAAS.
O balanço da implantação do SISAS no primeiro semestre de 2005 pode
ser resumido como no uso parcial em quatro GERASC (Gerência Regional de
Assistência Social) Barreiro, Leste, Noroeste e Oeste. O referido uso parcial
contempla apenas o cadastro de usuário/família, que foi avaliado com baixa
qualidade das informações. Por essas razões, as quatro GERASC usuárias
do SISAS foram orientadas a não obrigatoriedade do seu uso, aguardando
assim, uma proposta de adequação que supere os problemas relacionados
em dois grandes eixos: finalidade do sistema e infra-estrutura tecnológica
condizente com a finalidade.
Além dos aspectos apresentados observou-se a necessidade de rever a
metodologia de desenvolvimento e implantação do sistema, considerando
como preponderante para o sucesso da informatização a participação efetiva
do usuário final do sistema.
Ressalta-se também, que o contexto organizativo da política municipal
de assistência social não está mais focado na descentralização de serviços,
e sim, na consolidação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Este
contexto é resultante da aprovação da Política Nacional de Assistência Social

50
em novembro de 2004 e da NOB/SUAS Norma Operacional Básica em
julho de 2005. E reforça a concepção da informatização do sistema de in-
formação na assistência social orientada para o Monitoramento e Avaliação
(M&A), consolidando-o como instrumento de gestão. Baseando-se numa
tecnologia eficaz em relação à interoperabilidade e comunicabilidade, além
de TCO (Custos Operacionais e de Propriedade) baixo e sustentável, diante
da realidade da Assistência Social, fortalecendo assim, princípios como da
unificação de bases de dados e ampla possibilidade de expansão.
Sendo assim, foi indicada a reescrita do SISAS para uma linguagem Web
(Java), assim como, sua redefinição como recurso do Sistema de Informação
do Sistema de Monitoramento e Avaliação da A.S. no município.

Diretrizes para a Informatização da A.S. em BH


Considerando as análise apresentadas sugeriu-se que a informatização
do Sistema de Informação ou a adequação do SISAS se orientasse pelas
seguintes diretrizes:

a) adotar recursos tecnológicos compatíveis com a necessidade de serem


implantados e utilizados em toda a rede serviços do SUAS – direta e indireta;
b) fazer escolhas se orientando pelo menor TCO;
c) utilizar software livre sempre que possível ou compatível com platafor-
ma livre;
d) adotar arquitetura tecnológica baseando-se em Thin Clients de equipa-
mentos reciclados, sempre que possível;
e) adotar arquitetura tecnológica que permite o registro da informação no
ato do atendimento ou de sua geração;
f) construir base única de dados – convergência de dados assistenciais
com dados administrativos e financeiros;
g) utilizar a base cadastral do Censo BH Social como principal base de
dados dos usuários da assistência social, bemo como, integrá-la com a base
do Cadastro Único e do Benefício de Prestação Continuada;
h) garantir que o conhecimento utilizado no desenvolvimento das soluções
tecnológicas seja transferido à equipe de funcionários públicos da SMAAS e/
ou Prodabel, favorecendo assim, sua auto-sustentabilidade e internalização
do conhecimento empregado na solução;
i) garantir a participação do usuário final do sistema no processo de ela-
boração, desenvolvimento e implantação.

51
CONCEITO ESTRUTURANTE DA INFORMATIZAÇÃO
O conceito de prontuário eletrônico único do usuário-família/cidadão do
SUAS pode ser escolhido para aorientar a solução tecnológica em questão e
foi extraído do conceito de Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) de Massad
et al (2003, p. 213) que o definem como:

“uma forma proposta para unir todos os diferentes tipos de


dados produzidos em variados formatos, em épocas diferentes,
feitos por diferentes profissionais da equipe de saúde em dis-
tintos locais. Assim, deve ser entendido como sendo a estrutura
eletrônica para manutenção de informação sobre o estado de
saúde e o cuidado recebido por um indivíduo durante todo seu
tempo de vida.”

Essa definição orienta para a escolha do registro do atendimento do usu-


ário-família/cidadão na forma de um prontuário eletrônico, acessível por to-
dos os serviços que ofertam atendimento, por meio do acesso seletivo de seus
técnicos como usuários do aplicativo.
O registro do atendimento no prontuário eletrônico é vinculado a uma
família e/ou ao usuário (indivíduo). Para que essa vinculação não seja mul-
tiplicada em função da multiplicação dos cadastros, optou-se pelo uso do
cadastro populacional realizado em 70% do município. Trata-se do Censo
BH Social que teve origem na gestão municipal e foi incorporado no projeto
piloto do Cartão Nacional de Saúde e cumpriu o papel de permitir a identifi-
cação unívoca dos cidadãos cadastrados por meio de um número compatível
com NIS – Número de Identificação Social. O conceito principal do cadastro
é a validação do registro da informação no domicílio, elevando assim, a
qualidade da informação.
O terceiro conceito está relacionado ao tratamento espacial da infor-
mação que permite a construção de indicadores intra-urbanos da situação
sócio-assistencial contextualizados no território, por meio de tecnologias de
geoprocessamento da informação.
O desenvolvimento desses conceitos e sua representação levaram a defi-
nição dos seguintes módulos do Sistema de Informação e Gestão de Políticas
Sociais, conforme o QUADRO 3.

52
QUADRO 3
Módulos do Sistema de Informação e Gestão de Políticas Sociais

Atualmente o sistema está em processo de implantação com previsão de ser con-


cluído em três iterações durante o ano de 2008.

53
5 - E O FUTURO?

O processo de concepção e elaboração dos sistema


de M&A e da vigilância sócio-assistencial permitiu iden-
tificar que os avanços necessários requerem dedicação
concentrada para a superação de lacunas teóricas e em-
píricas no SUAS. Mas, não se trata de uma produção iso-
lada ou limitada a um nível de gestão, mas sim, de uma
produção coletiva e articulada entre os entes federados.
Essa estratégia permite otimizar recursos e qualificar os
conteúdos a partir das várias experiências.
A compreensão que a elaboração acerca da vigilân-
cia sócio-assistencial e dos sistemas de M&A e de indica-
dores avançará à medida que as formulações no Brasil
sejam sistematizadas e socializadas a fim de permitir re-
flexões a partir de acúmulos existentes, é correta e precisa
ser operada.

54
O processo descrito em Belo Horizonte culminou-se com a identificação
de desafios para gestão municipal da assistência social que são:

a. Implantação e aperfeiçoamento do sistema de indicadores e conclusão


da elaboração dos elementos do Sistema de Monitoramento e Avaliação;
b. Conclusão do desenvolvimento e implantação de sistemas de informa-
ção para a gestão tecnológica da informação;
c. Consolidação da mudança cultural subjacente à utilização de tecnolo-
gias de informação e comunicação (informatização).
d. Requalificação dos instrumentos de gestão da relação de parceria entre
a SMAAS e a rede sócio-assistencial conveniada. Esse avanço é pressuposto
para a elaboração dos indicadores dos serviços com execução indireta.

E como desafio e necessidade aos demais entes federados:

e. Regulamentação, articulação e validação dos sistemas de monitora-


mento e avaliação dos entes federados: união estado/distrito federal e muni-
cípios.
f. Estabelecimento de sistema de indicadores comuns para oferta do
SUAS.
g. Padronização de uma linguagem nacional para o SUAS: o uso de ter-
mos com o mesmo significado.
h. Padronização instrumentos de coleta de dados.
i. Estabelecimento de orientações padronizadas à operacionalização dos
serviços, bem como, padrões de qualidade.
J. Estabelecimento de modelo de diagnóstico da situação familiar e seu
enquadramento em uma escala de intensidade.
K. Estabelecimento de protocolos de atendimento e resultados esperados.
l. Estabelecimento de relacionamento do Sistema de M&A ao desempe-
nho técnico-profisional.
m. Financiamento para as iniciativas municipais de instituição dos siste-
mas e projetos de informatização.
n. Incentivo à academia para produzir conhecimento aplicável aos siste-
mas e sua ampla disseminação.

55
56
Referências
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59
INDICADORES PARA
SERVIÇOS DE
EXECUÇÃO DIRETA
DA POLÍTICA MUNICIPAL
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

60
A proposta de elaboração dos indicadores nessa eta-
pa do processo de construção do Sistema de M&A abran-
geria todos os dezenove serviços de execução direta, mas
dois não foram contemplados porque estão em processo
de reestruturação conforme QUADRO 4.

61
QUADRO 4
Rede sócio-assistencial por tipo de execução e situação da elaboração
de indicadores no sistema

62
Os indicadores apresentados são de três naturezas, uma que se refere
aos aspectos gerais e de gestão de todo o sistema, outra que contempla os
aspectos comuns aos serviços, portanto denominados de indicadores comuns,
existindo neste caso serviços contemplados apenas com este tipo de indicador.
E finalmente a que contempla as especificidades dos serviços, QUADRO 5.

63
QUADRO 5
Relação de indicadores por natureza e localização (número de página)

64
65
66
01 – AQUISIÇÕES FAMILIARES PRODUZIDAS PELA PROTEÇÃO SÓCIO-ASSIS-
TENCIAL DO SUAS

Conceito: mensura o percentual de famílias atendidas/inseridas/desliga-


das do SUAS que adquiriram meios para potencializar sua função protetiva
e fortalecer/requalificar os vínculos intra-familiares e sociais em relação ao
total de famílias atendidas/inseridas/desligadas do SUAS com identificação
do comprometimento das aquisições.
Consideram-se aquisições materiais, sociais, sócio-educativas ao cida-
dão e cidadã e suas famílias para suprir suas necessidades de reprodução
social de vida individual e familiar, o desenvolvimento de suas capacidades e
talentos para a convivência social, protagonismo e autonomia.
Conforme orientações técnicas para os CRAS são consideradas aquisi-
ções previstas para a proteção social básica: acesso a benefícios, serviços,
programas e projetos sócio-assistenciais; acesso à informação e aos serviços
sociais públicos; permanência na escola e maior aproveitamento escolar de
crianças, adolescentes e jovens; oportunidades de convívio e fortalecimento
de laços sociais, familiares e societários; fortalecimento de auto-estima; aces-
so a diversas manifestações artísticas e culturais; reconhecimento de direitos
e responsabilidades, da importância da intervenção na vida pública e acesso
a oportunidades para o exercício do protagonismo e da cidadania; desenvol-
vimento de potencialidades, ampliação do universo informacional e cultural e
de competências específicas para a inserção no mundo do trabalho; estímulo
à construção de projetos pessoais e sociais e alcance de autonomia pessoal
e social. Às pessoas com deficiência, para além das aquisições já menciona-
das, são oportunizados: 1) o convívio com iguais da mesma faixa etária; 2) o
acesso a brinquedos e brincadeiras que respeitem as diferenças; 3) o acesso
a espaços físicos inclusivos e acolhedores.
Interpretação: permite verificar a capacidade do SUAS em produzir aqui-
sições necessárias às famílias atendidas/inseridas/desligadas do SUAS.
Método de Cálculo: Taxa de aquisição = (n º de famílias atendidas/inseri-
das/desligadas do SUAS que adquiriram meios para potencializar sua função
protetiva e fortalecer/requalificar os vínculos intra-familiares e sociais) / (nº
total de famílias atendidas/inseridas/desligadas do SUAS com identificação
do comprometimento das aquisições) x 100
Abrangência de Análise: por NAF/CRAS, regional, municipal.
Orientações para tratamento do indicador: Para a produção desse indi-
cador é necessário o uso de uma escala que “mensure” as aquisições da fa-
mília. Essa mensuração será realizada na inserção e atendimento da família
e no seu desligamento para os serviços que inserem, ou periodicamente para
os demais.

67
02 - ENCAMINHAMENTOS COM ADESÃO DO USUÁRIO

Conceito: mensura o percentual de encaminhamentos com adesão dos


usuários em relação ao total de encaminhamentos realizados pelo SUAS, à
rede socioassistencial ou a serviços de demais políticas.
Considera-se encaminhamento com adesão do usuário aquele no qual o
usuário se apresenta ao destinatário do encaminhamento para efetivação do
mesmo.
Interpretação: verifica a capacidade dos serviços do SUAS em ofertar con-
dição e contribuir para a adesão de usuários/famílias aos encaminhamentos
propostos.
Método de Cálculo:Taxa de encaminhamentos com adesão do usuário =
(nº de encaminhamentos com adesão do usuário / nº total de encaminha-
mentos realizados pelo SUAS) x 100
Abrangência de Análise: por serviço que emitiu ou recebeu o encaminha-
mento, por PSB ou PSE, por regional, municipal (SUAS-BH).

03 - ATENDIMENTO DE DEMANDAS ENCAMINHADAS (EFETIVAÇÃO DE ENCA-


MINHAMENTO)

Conceito: mensura o percentual de demandas encaminhadas pelo SUAS,


à rede sócio-assistencial ou a serviços das demais políticas, que tiveram ade-
são do usuário ao encaminhamento e foram atendidas.
Entende-se por atendimento de demanda encaminhada as seguintes for-
mas de tratamento: inserção do usuário em serviço, concessão de benefício,
atendimento técnico ou acompanhamento a usuário/família, de acordo com
a natureza do serviço.
Considera-se encaminhamento com adesão do usuário aquele no qual
o usuário se apresenta ao serviço destinatário do encaminhamento para a
efetivação do mesmo.
Interpretação: verifica a capacidade do SUAS em atender demandas, por
meio de encaminhamento.
Método de Cálculo: Taxa de atendimento de demandas encaminhadas =
(nº de demandas encaminhadas e atendidas / nº total de demandas encami-
nhadas com adesão do usuário) x 100
Abrangência de Análise: por serviço que emitiu ou recebeu o encaminha-
mento, por nível de proteção (PSB ou PSE), por regional, municipal.

04 - ATENDIMENTO DE DEMANDAS PARA O SUAS

Conceito: mensura o percentual de demandas atendidas em relação ao


total de demandas registradas que são pertinentes aos serviços ofertados
pelo SUAS.
68
Considera-se demanda atendida aquela sobre a qual se deu alguma das
seguintes formas de tratamento: inserção em serviço, concessão de benefício,
inclusão em atividade coletiva, atendimento técnico ou acompanhamento ao
usuário/família, de acordo com a natureza do serviço.
Considera-se demanda pertinente ao SUAS aquela relacionada ao propó-
sito da política pública de assistência social e às suas seguranças afiançadas.
Interpretação: Verifica a capacidade do SUAS em cobrir às demandas de
usuários/famílias pertinentes aos serviços sócio-assistenciais, possibilitando
assim, a identificação das demandas reprimidas.
Método de Cálculo: Taxa de atendimento de demandas = (nº de deman-
das atendidas pelo SUAS / nº total de demandas registradas pertinentes ao
SUAS) x 100
Abrangência de Análise: PSB, PSE, por tipo de tratamento de demanda,
demandas tratadas por tipo de segurança.
Orientações para tratamento do indicador: As demandas pertinentes ao
SUAS serão identificadas conforme objeto e público dos serviços sócio-assis-
tenciais e suas relações com as seguranças afiançadas.

05 - FORTALECIMENTO DA FUNÇÃO PROTETIVA DA FAMÍLIA

Conceito: percentual de famílias acompanhadas pelo serviço que alcan-


çaram o fortalecimento de sua função protetiva para com seus membros mais
vulneráveis em relação ao total de famílias inseridas no SUAS.
Considera-se fortalecimento da função protetiva da família a sua capa-
citação para responder ao seu papel no sustento, na guarda e na educação
de suas crianças e adolescentes, bem como na proteção de seus idosos e
portadores de deficiência.
Interpretação: verifica a capacidade do SUAS em fortalecer a função pro-
tetiva das famílias acompanhadas.
Método de Cálculo: Taxa de fortalecimento da função protetiva = (nº de
famílias acompanhadas que alcançaram o fortalecimento esperado de sua
função protetiva / nº total de famílias inseridas no SUAS) x 100
Abrangência de Análise: por regional, município.
Orientações para tratamento do indicador: Para a produção desse indica-
dor é necessário o uso de uma escala que “mensure” o nível da função prote-
tiva da família. Essa mensuração seria realizada na inserção e desligamento
da família do SUAS.

06 - SUSTENTABILIDADE DOS RESULTADOS

Conceito: mensura o percentual de famílias que não registram uma nova


demanda no período de 2 anos após seu desligamento do SUAS em relação
ao total de famílias desligadas do SUAS com resultados satisfatórios.

69
Considera-se sustentabilidade dos resultados a não reincidência da de-
manda tratada pelo SUAS em um período de 2 anos. Não será considerada
reincidência de demanda aquelas tratadas nos serviços da proteção social
básica.
Interpretação: verifica a capacidade do SUAS em atingir resultados sus-
tentáveis em um período mínimo de 2 anos.
Método de Cálculo: Taxa de sustentabilidade dos resultados = (nº de famí-
lias que não registram nova demanda em um período de 2 anos após seu desli-
gamento / nº total de famílias desligadas do SUAS com avaliação satisfatória nos
últimos 2 anos) x 100
Abrangência de Análise: por serviço, por nível de proteção (PSB ou PSE),
por regional, municipal.

07 - TEMPO MÉDIO ENTRE A PRÉ-INSERÇÃO E A INSERÇÃO EM SERVIÇOS DO


SUAS

Conceito: mensura o tempo médio despendido entre a pré-inserção e a


inserção de usuário nos serviços do SUAS.
Considera-se pré-inserção o registro de vinculação do usuário a um servi-
ço sendo seguido de procedimentos metodológicos/atividades com a presen-
ça ou não do usuário/família que visam à efetivação da inserção do usuário
no serviço.
Considera-se inserção em serviços do SUAS a vinculação de usuário/fa-
mília ao serviço por meio da ocupação de uma vaga e com metodologia que
prevê o desligamento.
Interpretação: verifica a agilidade do serviço em executar os procedimentos
metodológicos/atividades necessários à efetivação da inserção do usuário.
Método de Cálculo: Tempo médio entre pré-inserção e inserção em servi-
ço = ∑ do tempo em dias entre a pré-inserção e a inserção de usuários/fa-
mílias no serviço / n° de usuários/famílias inseridos no serviço
Abrangência de Análise: por serviço, regional, municipal

08 –TEMPO MÉDIO DE PERMANÊNCIA DE USUÁRIOS EM SERVIÇOS DO


SUAS

Conceito: mensura o tempo médio de permanência de usuários/famílias


nos serviços do SUAS, possibilitando a construção de parâmetros de tempo
de permanência necessário ao alcance dos resultados do serviço / desliga-
mento satisfatório.
Considera-se tempo médio de permanência o intervalo de tempo em dias
entre a inserção do usuário/família no serviço e seu desligamento.
Considera-se desligamento satisfatório aqueles que estão relacionados
aos resultados esperados do serviço.
70
Interpretação:
a) possibilita o acompanhamento dos tempos médios de permanência
do usuário nos serviços do SUAS, auxiliando na gestão dos fluxos de
entrada e saída;
b) possibilita o acompanhamento do tempo médio de permanência
dos usuários/famílias verificando sua variação em relação ao tempo
estabelecido nos parâmetros construídos.
Método de Cálculo: Tempo médio de permanência = ∑ do tempo de
permanência no serviço, em dias, dos usuários/famílias desligados / n° de
usuários/famílias desligados do serviço.
Abrangência de Análise: por serviço, regional, municipal, por motivo de
desligamento/ vulnerabilidade superada / aquisição de potencialidades.

09 - TEMPO MÉDIO PARA ALCANCE DO FORTALECIMENTO DA FUNÇÃO PRO-


TETIVA

Conceito: mensura o intervalo médio de tempo despendido entre a inser-


ção da família no SUAS e o registro de avaliação técnica de fortalecimento
esperado da função protetiva.
Interpretação: verifica o tempo despendido para o alcance do resultado
de fortalecimento da função protetiva junto às famílias inseridas no SUAS.
Método de Cálculo: Tempo médio para fortalecimento da função proteti-
va = (∑ do intervalo em dias entre a inserção da família no SUAS e o registro
da avaliação de fortalecimento esperado da função protetiva) / (nº de famí-
lias com avaliação de fortalecimento esperado da função protetiva)
Abrangência de Análise: por regional, município.

10 - COBERTURA DE SERVIÇOS DO SUAS PARA BENEFICIÁRIOS DE PROGRA-


MAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA– BPC E PBF

Conceito: mensura o percentual de usuários/famílias beneficiários de pro-


gramas de transferência de renda vinculados à política de Assistência Social
– Programa Bolsa Família e/ou Benefício de Prestação Continuada, ou seja,
inseridos no SUAS, e que foram atendidos em serviços do SUAS.
Interpretação: verifica o grau de implantação do SUAS no município ten-
do como foco sua capacidade de inserir em seus serviços, os beneficiários
(famílias ou indivíduos) de transferência de renda do Programa Bolsa Família
e do Benefício de Prestação Continuada.
Método de Cálculo: Taxa de cobertura de beneficiários de transferência
de renda em serviços =∑ [(nº de beneficiários - indivíduos - do BPC inseri-
dos/atendidos em serviços do SUAS / nº de beneficiários do BPC) x 100] +
[(nº de beneficiários – famílias - PBF inseridos/atendidos em serviços do SUAS

71
/ nº de famílias do PBF) x 100] + [(nº de beneficiários – famílias – que têm
simultaneamente o benefício do PBF e integrante (s) beneficiário (s) do BPC
inseridos/atendidos em serviços do SUAS/nº de beneficiários – famílias – que
têm simultaneamente o benefício do PBF e integrante (s) beneficiário (s) do
BPC) x 100]
Abrangência de Análise: por serviço, por território, por nível de proteção
(PSB ou PSE), por benefício, por regional, municipal.
Orientações para tratamento do indicador: Será considerado como pe-
ríodo de transição o processamento do indicador com duas unidades de
medida - indivíduo e família, o que leva ao cálculo de taxas que somadas
geram o indicador. Essa transição é necessária em função do Benefício de
Prestação Continuada que tem como unidade o indivíduo e o PBF a família.
A superação da transição só será possível quando todos os beneficiários do
BPC forem localizados e cadastradas suas respectivas famílias.

SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL

Serviço de Atenção Integral às Famílias - Núcleo de Apoio à Família


– NAF/CRAS Objetivo Geral: contribuir para a inclusão social através do
fortalecimento dos vínculos familiares, comunitários e sociais e da inserção
na rede de serviços.
Objetivos Específicos:
- Encaminhar e acompanhar famílias e indivíduos para a rede de serviços
sócio-assistenciais.
- Promover o grupo familiar englobando a sua reorganização e o seu pro-
tagonismo para a superação de vulnerabilidades e riscos, bem como a sua
potencialização como matriz de convivência, cuidados, mediação e defesa
dos direitos dos seus membros.
- Promover a socialidade no território de abrangência do equipamento,
considerando o protagonismo das famílias na prevenção e superação de
vulnerabilidades e riscos, na potencialização de seus recursos, bem como na
promoção dos direitos da assistência social.

Público Alvo: famílias residentes nas áreas de abrangência dos NAFs/


CRAS.

11– COBERTURA DE ATENDIMENTO DO NAF/CRAS A FAMÍLIAS


REFERENCIADAS

Conceito: mensura o percentual de famílias atendidas pelo NAF/CRAS, con-


siderando-se o total de famílias referenciadas em sua área de abrangência.

72
Considera-se família atendida aquela para as quais há registro de execu-
ção de procedimento metodológico/atividade9 previstos para o serviço.
Considera-se família referenciada aquela adstrita no território de abran-
gência do NAF/CRAS e cuja fonte de informação é o IBGE.
Interpretação: verifica a capacidade de cobertura de atendimento do
NAF/CRAS em relação às famílias referenciadas em sua área de abrangên-
cia, possibilitando a análise do cumprimento de metas previstas para o servi-
ço, em consonância com as estabelecidas pela NOB/SUAS.
Método de Cálculo: Taxa de cobertura a famílias referenciadas = (nº de
famílias atendidas / nº total de famílias referenciadas em área de NAF/CRAS)
x 100
Abrangência de Análise: por NAF, regional, municipal.

12 - ROTATIVIDADE DA COBERTURA DE ATENDIMENTO DO NAF/CRAS A


FAMÍLIAS REFERENCIADAS

Conceito: mensura o percentual de famílias atendidas pelo NAF/CRAS


que não foram atendidas no ano anterior, considerando-se o total de famílias
atendidas no ano em avaliação.
Considera-se família atendida aquela para as quais há registro de execu-
ção de procedimento metodológico/atividade9 previstos para o serviço.
Interpretação: verifica a capacidade de ampliação da cobertura de atendi-
mento do NAF/CRAS em relação às famílias atendidas no ano anterior, possi-
bilitando a análise da rotatividade da cobertura de atendimento do serviço.
Método de Cálculo: Taxa de rotatividade da cobertura a famílias referen-
ciadas = (nº de famílias atendidas no ano e que não foram atendidas pelo
NAF no ano anterior / nº total de famílias atendidas no NAF no ano) x 100
Abrangência de Análise: por NAF, regional, municipal.

13 - CUMPRIMENTO DE CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA


FAMÍLIA

Conceito: mensura o percentual de famílias beneficiárias do Programa


Bolsa Família, com crianças/adolescentes, referenciadas em área de NAF/
CRAS que cumprem as condicionalidades do programa.
Considera-se cumprimento de condicionalidade do PBF a contrapartida
assumida pela família para todas as exigências previstas em relação à saúde
(pré-natal das gestantes e vacinação de crianças até 07 anos), educação

9
Procedimentos metodológicos: Atendimento Técnico, Encaminhamento, Acolhimento; Atividades: Grupo, Palestra, Oficina,
Reunião, Visita Domiciliar, Visita Institucional, Busca Ativa.

73
(freqüência escolar de crianças/adolescentes) e assistência social (ausência
de exploração do trabalho infanto-juvenil).
Interpretação: permite avaliar a função preventiva do NAF/CRAS junto às
famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família.
Método de Cálculo: Taxa de cumprimento de condicionalidades = (nº
de famílias beneficiárias do PBF, com crianças/adolescentes, referenciadas
em área de NAF/CRAS que cumprem as condicionalidades / nº total de
famílias beneficiárias do PBF com crianças/adolescentes referenciadas em
área de NAF/CRAS) X 100
Abrangência de Análise: por NAF/CRAS, regional, municipal
Orientações para tratamento do indicador: O cálculo do indicador deve-
rá considerar o número de famílias que cumprem as condicionalidades, após
a verificação do descumprimento por erro operacional.

14 – SUPERAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE CONDICIONALIDADES DO PRO-


GRAMA BOLSA FAMÍLIA

Conceito: mensura o percentual de famílias beneficiárias do Programa


Bolsa Família atendidas pelo NAF/CRAS que passaram a cumprir as condi-
cionalidades exigidas em relação ao total de famílias atendidas pelo NAF/
CRAS que descumprem condicionalidades.
Considera-se superação de descumprimento das condicionalidades as
famílias que passam a cumprir as condicionalidades imediatamente após
sua inserção no acompanhamento. O imediatamente após será considerado
na primeira apuração das condicionalidades ocorrida após a inserção no
acompanhamento.
Interpretação: permite verificar a capacidade do serviço em intervir na
superação do descumprimento das condicionalidades pela família.
Método de Cálculo: Taxa de superação de descumprimento de condicio-
nalidades = (nº de famílias beneficiárias do PBF que passaram a cumprir as
condicionalidades exigidas / nº total de famílias beneficiárias do PBF aten-
didas pelo NAF/CRAS que não cumprem as condicionalidades do PBF por
motivos pertinentes ao atendimento do SUAS) X 100
Abrangência de Análise: por NAF/CRAS, regional, municipal
Orientações para tratamento do indicador: Será identificado para o cál-
culo do indicador as famílias que descumprem as condicionalidades por mo-
tivos (demandas/necessidades) pertinentes ao SUAS.

15 – PREENCHIMENTO DE VAGAS

Conceito: mensura o percentual de vagas preenchidas pelos usuários/famílias


em relação ao total de vagas ofertadas para atividades coletivas nos NAF/CRAS.

74
Considera-se vagas preenchidas quando o usuário/família se inscreve e
participa no mínimo de 50% das atividades oferecidas.
Interpretação: permite verificar a capacidade do serviço em contribuir
com a adesão dos usuários/famílias às atividades coletivas.
Método de Cálculo: Taxa de preenchimento de vagas = (n º de vagas
preenchidas / nº total de vagas ofertadas para atividades coletivas no NAF/
CRAS) x 100
Abrangência de Análise: por tipo de atividade, por NAF/CRAS, regional,
municipal.

PROMETI - TRABALHO PROTEGIDO

Objetivo Geral: promover, por meio de intermediação de mão de obra,


oportunidade de trabalho para pessoas com deficiência.
Público alvo: pessoas (a partir de 16 anos) com deficiência física, visual,
auditiva, mental ou múltipla.

16 – ENCAMINHAMENTO AO MERCADO DE TRABALHO

Conceito: mensura o percentual de usuários com encaminhamento realiza-


do ao mercado de trabalho considerando o total de inseridos no PROMETI.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em encaminhar ao mer-
cado de trabalho pessoas cujas deficiências e habilidades sejam compatíveis
com as vagas ofertadas.
Método de Cálculo: Taxa de encaminhamento ao mercado de trabalho =
(nº de usuários encaminhados para vaga de emprego / nº total de usuários
inseridos no serviço) x 100
Abrangência de Análise: por empresa, no município.
Orientações para tratamento do indicador: Deverão ser considerados os
encaminhamentos por pessoa.

FORMAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL – CENTRO DE FORMAÇÃO PRO-


FISSIONAL – QUALIFICARTE

Objetivo Geral: oferecer cursos de qualificação socioprofissional na pers-


pectiva de contribuir para melhoria de suas condições de inserção ao merca-
do de trabalho, em conformidade com o Programa Municipal de Qualifica-
ção – PMQ/BH.
Público Alvo: jovens e adultos encaminhados pelos serviços da Política
Municipal de Assistência Social.

75
17 - ADESÃO DE USUÁRIO A CURSO SOCIOPROFISSIONALIZANTE

Conceito: mensura o percentual de usuários que permanecem freqüentes


nos cursos após a fase de adesão dos usuários aos mesmos em relação ao
total de alunos matriculados até o período inicial do curso, correspondente a
20% da carga horária.
Considera-se adesão o ato de concordância do usuário/família quanto
as possibilidades ofertadas pelo SUAS. Pode ser verificada de forma objetiva
por meio da assiduidade e/ou por meio da avaliação técnica.
Interpretação: a) permite verificar se o processo de captação do usuário
foi satisfatório o suficiente para orientar a escolha do usuário por meio do
reconhecimento de seus interesses e/ou habilidades em relação ao conteúdo
do curso; b) permite avaliar a adequação do curso ao interesse do usuário.
Método de Cálculo: Taxa de adesão de usuário a curso socioprofissiona-
lizante = (n º de alunos que permanecem matriculados após transcorridos
20% da carga horária do curso / n º de alunos matriculados nos cursos de
qualificação) x 100
Abrangência de Análise: por curso, por turno, por unidade de atendimen-
to, no município.

18 – CONCLUSÃO EM CURSOS DE FORMAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL

Conceito: mensura o percentual de alunos que concluem os cursos de for-


mação socioprofissional em relação aos que se mantêm matriculados após o
período de estabilização das matrículas.
Considera-se concluinte aquele aluno que apresentou freqüência mínima
de 80% da carga horária total do curso, podendo ser ou não aprovado com
efeito de certificação.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em intervir na manutenção
da adesão do usuário à proposta metodológica do curso.
Método de Cálculo: Taxa de conclusão = (n º de alunos concluintes / n º
total de alunos que se mantiveram no curso após o período de estabilização
das matrículas) x 100
Abrangência de Análise: por curso, por turno, por unidade de atendimen-
to, no município.

19 - APROVAÇÃO EM CURSO DE QUALIFICAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL

Conceito: mensura o percentual de alunos que obtiveram aprovação nos


cursos de qualificação socioprofissional considerando o total de alunos con-
cluintes.

76
Considera-se aprovado, com efeito de certificação em curso de qualifica-
ção socioprofissional, o aluno que obteve o domínio de 60% das habilidades
esperadas.
Interpretação: permite avaliar a capacidade do serviço em proporcionar
aos alunos a aquisição de habilidades esperadas ao término do curso.
Método de Cálculo: Taxa de aprovação em curso = (nº de alunos con-
cluintes em curso de formação socioprofissional que foram aprovados / nº
total de alunos concluintes em curso de formação socioprofissional) x 100
Abrangência de Análise: por curso, por turno, por unidade de atendimen-
to, no município.
Orientações para tratamento do indicador: O serviço já definiu critérios
que serão utilizados no tratamento da informação (Fichas de avaliação das
habilidades).
Ocorrerá avaliação técnica do serviço para aprovação ou não do usuário
nos casos em que o usuário tem entre 65% e 79% de freqüência e mais de
80% de aproveitamento.

SERVIÇOS DE PROTEÇÃO ESPECIAL


Serviço de Acompanhamento Sociofamiliar (SASF) - Bolsa Moradia

Objetivo geral: possibilitar, à população com trajetória de rua incluída no


Programa Bolsa Moradia /Urbel, a organização adequada ao novo contexto
de moradia provisória.
Objetivos Específicos:
•Criar espaços de interação e reflexão com cidadãos sobre suas condições
de vida, destacando o significado da moradia na construção da cidadania;
• Acompanhar cada usuário/família em sua particularidade, consideran-
do a intersetorialidade no poder público e de organizações não governamen-
tais, visando uma convergência de ações relativas ao desenvolvimento da
cidadania;
• Criar dispositivos que viabilizem o acesso à informação sobre os direitos
e deveres do cidadão, bem como o acesso na rede de serviços disponíveis,
através de atividades coletivas com o público atendido;
• Possibilitar experiência em moradia provisória, na qual o morador possa
refazer os vínculos necessários à moradia definitiva e ao convívio social;
• Possibilitar a organização e a idéia de grupo dos beneficiários;
• Possibilitar o desenvolvimento da autonomia do público atendido em
relação ao novo contexto;
• Possibilitar participação do público atendido em eventos culturais;
• Efetuar levantamento qualitativo e quantitativo do público atendido,
visando subsidiar a elaboração de políticas públicas destinadas a este seg-
mento.

77
Público alvo: famílias moradoras de rua, do município de Belo Horizonte,
que se encontram em processo de reinserção social, saindo das ruas e aces-
sando política de moradia.

20 – ORGANIZAÇÃO DE FAMÍLIAS

Conceito: percentual de famílias que atingem grau de organização satis-


fatório para o novo contexto de moradia provisória em relação ao total de
famílias inseridas no serviço.
Considera-se organização satisfatória o processo em que a família conse-
gue reinserção na rede de atendimento socioassistencial, a superação da vio-
lação de direitos e os cumprimentos legais do funcionamento do programa
(Decreto 11375 de 2 de julho de 2003; art. 6º)(variáveis e marco temporal
para avaliação).
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em contribuir com o al-
cance, pelas famílias acompanhadas, do grau de organização necessário à
adaptação ao novo contexto de moradia provisória.
Método de Cálculo: Taxa de organização = (nº de famílias que atingiram
grau de organização considerado satisfatório / nº total de famílias inseridas
no serviço) x 100
Abrangência de Análise: local, regional, municipal.
Orientações para tratamento do indicador: O serviço já definiu os crité-
rios de organização que serão utilizados no tratamento da informação.

SERVIÇO DE ACOMPANHAMENTO SOCIOFAMILIAR (SASF) - PESSOA


COM DEFICIÊNCIA E IDOSO

Objetivo geral: acompanhar, no âmbito da Proteção Especial, idosos e


pessoas adultas com deficiência, em situações de violação de direitos por
falta, omissão e/ou abuso da família.
Objetivos específicos:
• Atender idosos e pessoas adultas com deficiência e suas famílias, no
domicílio, buscando a superação da situação de violação de direitos;
• Atuar em interface com serviços, programas e projetos da proteção
social básica;
• Atuar junto à rede de atendimento para as intervenções e discussões de
caso;
• Buscar a integração das políticas públicas na intervenção junto ao pú-
blico atendido, visando a intersetorialidade das ações.

Público Alvo: idosos e pessoas adultas com deficiência, com direitos vio-
lados, no âmbito doméstico e suas famílias.

78
SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO, APOIO E PROTEÇÃO SOCIOFAMILIAR -
SOSF

Objetivo: possibilitar a função protetiva do grupo familiar em relação a


suas crianças e adolescentes, criando condições de fortalecimento de suas
potencialidades e a minimização dos fatores de risco.
Público alvo: famílias de crianças e adolescentes em situação de risco
social e ou pessoal sob medida de proteção de atendimento sociofamiliar
prevista na legislação específica: famílias de adolescentes com medida sócio-
educativa cumulada com art. 101, inciso IV e art. 129, inciso I do Estatuto da
Criança e Adolescente; vítimas de violência doméstica; vítimas de exploração
nas ruas (trabalho infantil e/ou mendicância); trajetória de vida nas ruas; fa-
mília de crianças e adolescentes, após cumprimento de medida de proteção
abrigo, quando necessário suporte a reinserção sócio familiar.

21 - ADESÃO DE FAMÍLIAS AO SERVIÇO

Conceito: percentual de famílias que aderem ao serviço em relação ao


total de famílias inseridas.
Considera-se adesão o ato de concordância do usuário/família quanto
as possibilidades ofertadas pelo SUAS. Pode ser verificada de forma objetiva
por meio da assiduidade e/ou por meio da avaliação técnica.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em ofertar condições e
mobilizar a adesão da família ao serviço.
Método de Cálculo:Taxa de adesão ao serviço = (nº de famílias que ade-
riram ao serviço / nº total de famílias inseridas) x 100
Abrangência de Análise: por regional, município.

22 - SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS

Conceito: mensura o percentual de usuários/famílias que superaram a


situação de violação de direitos em relação ao total de usuários/famílias
inseridos no serviço.
São considerados usuários/famílias que superaram a situação de viola-
ção de direitos as com avaliação técnica de restabelecimento dos direitos
para os quais há registro de violação pelo grupo familiar.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em intervir na superação
da situação de violação de direitos vivenciada pelos seus usuários/famílias.
Método de Cálculo:Taxa de superação da situação de violação de direitos
= (nº de usuários/famílias inseridos que superam a situação de violação de
direitos / nº total de usuários/famílias inseridos do serviço) x 100

79
Abrangência de Análise: por regional, município, por tipo de vulnerabilidade
(idoso, pessoa com deficiência).

23 – TEMPO MÉDIO PARA SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE


DIREITOS

Conceito: mensura o intervalo médio de tempo despendido entre a inser-


ção no serviço e o registro da superação da situação de violação de direitos.
(VER Superação da violação de direitos)
Interpretação: verifica o tempo médio despendido pelo serviço para o
alcance do resultado de superação da situação de violação de direitos junto
às famílias acompanhadas.
Método de Cálculo:Tempo médio para superação da situação de viola-
ção de direitos = ∑ do intervalo em dias entre a data de inserção da família
no serviço e o registro da superação da situação de violação de direitos / nº
total de famílias que superaram a situação de violação de direitos
Abrangência de Análise: por regional, município.

SENTINELA

Objetivo Geral: prestar atendimento sócio-assistencial especializado às


crianças e adolescentes vítimas da violência sexual e seus familiares, criando
condições para garantia de seus direitos fundamentais e de acesso aos Ser-
viços Públicos de Assistência, Saúde, Educação, Justiça, Segurança Esporte,
Cultura, Lazer, Trabalho/Geração de Renda.
Objetivos específicos:
- Conhecer, diagnosticar, monitorar, avaliar e divulgar incidência de vio-
lência sexual do município;
- Mobilizar e articular ações de indivíduos e grupos sociais para o reco-
nhecimento do direito ao desenvolvimento sexual saudável e conhecimento
do sistema de garantia de direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente;
- Garantir às vítimas e seus familiares o direito de acessar a justiça, orien-
tando de forma a coibir a reincidência, evitar a banalização dos delitos sexu-
ais e favorecer a cultura de exigibilidade dos direitos.
- Promover a atenção sócio-assistencial à família e as crianças/adoles-
centes com direito sexual violado, em rede, com o sistema de garantia de
direito de políticas sociais básicas;
- Assegurar ações que evitem ou diminuam riscos da violência contra
crianças e adolescentes em parceria com políticas básicas, orientando para
a auto - defesa;
- Promover a participação ativa de crianças e adolescentes na compreen-
são e defesa de seus próprios direitos.

80
Público alvo:
- Crianças, adolescentes e suas famílias, vítimas efetivas e potenciais de
abuso e/ou exploração sexual;
- Instituições, serviços de ONG’s e OG’s, envolvidas com a proteção de
direitos de crianças e adolescentes, para questões envolvendo abuso ou ex-
ploração sexual, enquanto apoio técnico.

24 - EFETIVAÇÃO DE REPRESENTAÇÕES CRIMINAIS PELAS FAMÍLIAS

Conceito: percentual de representações criminais efetivadas pelas famílias


acompanhadas em relação ao total de representações indicadas pelo serviço.
Considera-se representação criminal efetivada pela família quando há o ato
formal no qual a vítima (ou seu representante legal, nos casos de criança e/ou
adolescente) manifesta seu interesse na apuração do fato delituoso sofrido.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em intervir, mediante
orientação, nas condições apresentadas pelas famílias acompanhadas para
efetivar representação criminal.
Método de Cálculo: Taxa de representação criminal = (nº de represen-
tações criminais efetivadas por famílias acompanhadas pelo serviço / nº de
representações criminais indicadas pelo serviço) x 100
Abrangência de Análise: por regional, município.
Orientações para tratamento do indicador: A indicação para representa-
ção criminal ocorreria nos casos de não existência de processo formal contra
o abusador.

EXECUÇÃO DE MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS

LIBERDADE ASSISTIDA

Objetivo Geral: possibilitar aos adolescentes em conflito com a lei que


receberam a medida sócio-educativa de Liberdade Assistida, as condições
de assistência e orientação para o cumprimento da determinação judicial
que prevê sua inserção na escola, na família e nos espaços de qualificação
profissional e geração de renda.
Objetivos Específicos:
• Estabelecer, com o adolescente, um contrato preciso sobre as possibili-
dades e limites de ajuda que irá encontrar e sobre as condições que regulam
seu período de permanência em Liberdade Assistida;
• Mobilizar lideranças e organizações não-governamentais para inserção
dos jovens na própria comunidade;
• Desenvolver uma experiência no atendimento ao adolescente infrator
que possa contribuir com um atendimento de qualidade, condizente com os
princípios da cidadania, dignidade e justiça social;

81
• Estabelecer com a família um contrato de ajuda mútua em torno das
necessidades dos adolescentes e os limites que o cumprimento da medida
impõe;
• Inserir e acompanhar o adolescente na vida escolar;
• Visualizar alternativas para a profissionalização e geração de renda;
• Desenvolver no adolescente a confiança e a capacidade de reflexão
sobre suas vivências, dificuldades, e sua ação no mundo;
• Periodicamente, avaliar com o adolescente o percurso dele no cumpri-
mento da medida de Liberdade Assistida.

Público Alvo: adolescentes (12 a 18 anos, excepcionalmente até 21 anos)


que receberam a determinação judicial para cumprirem a medida sócio-edu-
cativa de Liberdade Assistida, encaminhados pelo Juizado da Infância e da
Juventude.

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE – PSC

Objetivo Geral: possibilitar aos adolescentes autores de ato infracional e


que receberam a medida sócio-educativa de Prestação de Serviços à Comu-
nidade - PSC, as condições de assistência e orientação para o cumprimento
da determinação judicial, garantidos os aspectos de proteção, segurança e
valorização da vida em sociedade (Instrução Normativa SMAS N° 001/2004).

Objetivos Específicos:
• Estabelecer, com o adolescente, um contrato preciso sobre as possibi-
lidades e limites de ajuda que irá encontrar e sobre as normas que regulam
seu período de cumprimento da medida de PSC;
• Mobilizar lideranças e organizações não-governamentais para inserção
dos jovens na própria comunidade, considerando-se o cumprimento da me-
dida e a rede de serviços;
• Desenvolver uma experiência no atendimento ao adolescente infrator
que possa contribuir com um atendimento de qualidade, condizente com os
princípios da cidadania, dignidade e justiça social;
• Estabelecer com a família um contrato de ajuda mútua em torno das
necessidades dos adolescentes e os limites que o cumprimento da medida
impõe;
• Inserir e acompanhar o adolescente na vida escolar;
• Visualizar alternativas comunitárias para a profissionalização e geração
de renda (Eixo Novas Oportunidades);
• Desenvolver, no adolescente, a confiança e a capacidade de reflexão
sobre suas vivências, dificuldades, e sua ação no mundo;
• Avaliar, ao final do acompanhamento, com o adolescente e o educador
de referência, o processo de cumprimento da medida de PSC.

82
Público Alvo: adolescentes que receberam a determinação judicial para
cumprirem a medida sócio-educativa de Prestação de Serviços à Comunida-
de - PSC, encaminhados pelo Juizado da Infância e da Juventude (Instrução
Normativa SMAS N° 001/2004).

25 - CUMPRIMENTO DE MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA (LIBERDADE ASSISTIDA


E PSC)

Conceito LA: percentual de adolescentes que concluíram o processo de


cumprimento de medida sócio-educativa (de Liberdade Assistida ou PSC) em
relação ao total de adolescentes inseridos desligados do serviço.
Considera-se cumprimento de medida de LA a comprovação, por meio
de avaliação técnica, que o adolescente tornou-se responsável pelos seus
atos relacionados à família, educação e trabalho.
Considera-se cumprimento de medida de PSC a freqüência integral do
adolescente à entidade parceira, considerando-se o tempo determinado pelo
Juizado para a medida de PSC.
Interpretação: verifica a capacidade dos serviços em intervir nas condições
apresentadas pelo adolescente para cumprir a medida sócio-educativa.
Método de Cálculo:Taxa de cumprimento da medida = (nº de adoles-
centes que cumpriram a medida sócio-educativa / nº total de adolescentes
inseridos e desligados dos serviços) x 100
Abrangência de Análise: regional, municipal, tipo de medida sócio-edu-
cativa/Serviço
Orientações para tratamento do indicador:Será excluído do denominador
- inseridos e desligados por motivos de desligamento externos ao serviço, tais
como: óbito, carta precatória, internação por motivo de saúde e outros.

26 - COBERTURA DE ORIENTADORES SOCIAIS

Conceito: percentual de presença de orientadores sociais, considerando-


se o n° de adolescentes em cumprimento de medida de LA com avaliação de
necessidade de acompanhamento de orientador.
Considera-se necessidade de acompanhamento de orientador social
aquela identificada por meio de avaliação técnica da função protetiva da
família e das relações comunitária e social do adolescente.
Interpretação: verifica a capacidade da instituição em mobilizar a socie-
dade, através da participação voluntária dos cidadãos, para a função de
orientação social.
Método de Cálculo: Taxa de cobertura de orientadores sociais = (n° de
adolescentes com avaliação de necessidade de orientador em cumprimento de
medida com acompanhamento de orientador social / n° de adolescentes em
cumprimento de medida com avaliação de necessidade de orientador) x 100
83
Abrangência de Análise: por regional, por município.

PLANTÃO SOCIAL

Objetivo Geral: acolher, proteger, promover e incluir nos serviços sócio-


assistenciais a população com dificuldades de subsistência do município,
encaminhando-a para os programas desenvolvidos pelo poder público, con-
tribuindo para a melhoria das condições de vida dos usuários, o resgate de
sua cidadania, minimizando os fatores de risco pessoal e/ou social.

Objetivos Específicos:
• Conceder benefícios à população, mediante escuta e/ou avaliação
sócio-econômica;
• Desenvolver trabalhos sócio-educativos;
• Realizar encaminhamentos;
• Fornecer informações e orientações.

Público alvo: população em situação de vulnerabilidade, risco pessoal


e/ou social, residente no município de Belo Horizonte.

27 - USUÁRIOS BENEFICIADOS

Conceito: percentual de usuários que tiveram a concessão do benefício


demandado em relação ao total de usuários atendidos pelo serviço que de-
mandaram o benefício e se encontram em condição de elegibilidade para
concessão do benefício.
Considera-se elegível o usuário que atende aos critérios estabelecidos
para a concessão de cada benefício.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em atender, com a con-
cessão de benefícios emergenciais, aos usuários elegíveis.
Método de Cálculo:Taxa de usuários beneficiados = (nº de usuários que
tiveram a concessão de benefício demandado / nº total de usuários elegíveis
ao recebimento de benefício demandado) x 100
Abrangência de Análise: regional, municipal
Orientações para tratamento do indicador: O serviço já definiu critérios
que serão utilizados no tratamento da informação (Critérios de elegibilidade
para concessão de cada benefício).

84
28 - CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS

Conceito: mensura o percentual de benefícios concedidos em relação ao


total de benefícios demandados pelos usuários em condição de elegibilidade.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em prover benefícios e
atender a demanda dos usuários elegíveis.
Método de Cálculo: Taxa de concessão de benefícios = (nº de benefícios
concedidos / nº total de benefícios demandados pelos usuários elegíveis) x 100
Abrangência de Análise: regional, municipal, por tipo de benefício.
Proteção especial a crianças e adolescentes em situação de rua
Público Alvo: crianças e adolescentes em situação de rua (trajetória de vida
nas ruas - TVR e em trabalho ou mendicância infanto- juvenil nas ruas - TI).

MIGUILIM CULTURAL

Objetivo Geral: acolher, atender e encaminhar crianças e adolescentes


com trajetória de vida nas ruas.
Público Alvo: crianças e adolescentes com trajetória de vida nas ruas.
Abordagem de rua - crianças e adolescentes
Objetivo Geral: abordar, atender, encaminhar e inserir em programas e
serviços sociais as crianças e adolescentes.
Público alvo: crianças e adolescentes em situação de rua: trajetória de
vida nas ruas e trabalho ou mendicância infanto-juvenil nas ruas.

29 - IDENTIFICAÇÃO DE CRIANÇAS/ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RUA


(ABORDAGEM E MIGUILIM CULTURAL)

Conceito: percentual de crianças e adolescentes em situação de rua, visu-


alizados e/ou contactados nas ruas que são identificados.
Considera-se identificados os usuários cadastrados mediante registro
das seguintes informações obrigatórias: nome completo do usuário; filiação
(nome completo da mãe e do pai), data de nascimento ou idade, raça, sexo,
endereço domiciliar.
Usuários visualizados são aqueles com os quais, por algum impedimento,
não foi possível estabelecer contato durante a atividade de abordagem; des-
ses são registradas as seguintes informações: sexo; idade presumida; tipo de
vulnerabilidade - TVR ou TI; local da visualização.
Usuários contactados são aqueles com os quais o técnico do serviço esta-
beleceu uma interação verbal, ou seja, foi considerado abordado. Crianças
e adolescentes em Situação de rua são aquelas que se encontram envolvidas
em atividades de trabalho ou mendicância infanto-juvenil nas ruas e que
tenham Trajetória de vida nas ruas.

85
Interpretação: verifica a capacidade de serviços, cujo público alvo são
crianças e adolescentes em situação de rua, de identificá-las e caracterizá-
las, possibilitando a execução de procedimentos metodológicos/atividades
necessários à proteção da criança ou adolescente.
Método de Cálculo:Taxa de identificação de crianças/adolescentes em
situação de rua = (nº de crianças e adolescentes em situação de rua identi-
ficados / nº de crianças e adolescentes em situação de rua visualizados e/ou
contactados) x 100.
Abrangência de Análise: municipal, por área de abordagem, por regional
da família, por tipo de vulnerabilidade (TVR ou TI), por serviço (Abordagem
ou Miguilim Cultural)

30 - TEMPO MÉDIO PARA IDENTIFICAÇÃO DE CRIANÇAS/ADOLESCENTES EM


SITUAÇÃO DE RUA (ABORDAGEM E MIGUILIM CULTURAL)

Conceito: intervalo médio de tempo em dias despendido entre a visuali-


zação e/ou contato com crianças e adolescentes em situação de rua e sua
identificação. (VER identificação de usuários).
Interpretação: verifica a agilidade de serviços cujo público alvo são crian-
ças e adolescentes em situação de rua em identificá-las, possibilitando a exe-
cução de procedimentos metodológicos/atividades necessários à proteção
da criança ou adolescente.
Método de Cálculo:Tempo médio para identificação de crianças/adoles-
centes em situação de rua = (∑ do intervalo em dias entre a data de visuali-
zação e/ou contato e a data de identificação de crianças e adolescentes em
situação de rua) / (nº total de crianças e adolescentes em situação de rua
visualizados e/ou contatados)
Abrangência de Análise: por área de abordagem, por regional da famí-
lia, municipal, por tipo de vulnerabilidade (Trajetória de Vida nas Ruas ou
Trabalho ou mendicância Infanto-juvenil) e serviço (Abordagem ou Miguilim
Cultural).

31 - PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM ATIVIDADES LÚDICO-


PEDAGÓGICAS

Conceito: percentual de crianças e adolescentes com trajetória de vida


nas ruas que freqüentam o Miguilim Cultural e participam de atividades lúdi-
co-pedagógicas ofertadas.
Interpretação: verifica a capacidade do Miguilim Cultural em ofertar ativi-
dades lúdico-pedagógicas atrativas a seus usuários, bem como em mobilizar
a participação destes.

86
Método de Cálculo:Taxa de participação nas atividades lúdico-pedagó-
gicas = [(nº de crianças e adolescentes que participam de atividades lúdico-
pedagógicas oferecidas pelo Miguilim Cultural) / (nº total de crianças e ado-
lescentes que freqüentam o Miguilim Cultural nos dias de oferta de atividades
lúdico-pedagógicas)] x 100
Abrangência de Análise: por atividade, por turno.
Orientações para tratamento do indicador: Considera-se que a criança
ou adolescente participou de atividades lúdico-pedagógicas ofertadas, quan-
do as tiver freqüentado em 50% dos dias em que esteve presente no Miguilim
Cultural.

CENTRAL DE ENCAMINHAMENTO E PROCESSAMENTO DE DADOS


– PROGRAMA DE COMBATE AO TRABALHO INFANTIL

Objetivo Geral: combater o trabalho e a mendicância infanto-juvenil


– nas ruas de Belo Horizonte contribuindo para a sua erradicação.

Objetivos específicos:
• Articular a rede de serviços com vistas à inserção e acompanhamento de
crianças e adolescentes em situação de trabalho e/ou mendicância nas ruas
• Inserir crianças e adolescentes em situação trabalho e/ou mendicância
nas ruas em serviços da rede socioassistencial e demais políticas sociais
• Monitorar a reiteração do fenômeno do trabalho e/ou mendicância de
crianças e adolescentes nas ruas
• Encaminhar os responsáveis legais e/ou familiares para Programas de
transferência de renda e qualificação profissional

Público alvo: crianças e adolescentes em situação de trabalho e/ou men-


dicância nas ruas.

32 - CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DADOS CONFIRMADOS

Conceito: mensura o percentual de crianças e adolescentes identificados


pela Abordagem que tiveram seus dados confirmados em relação ao total de
crianças e adolescentes encaminhados à Central de Encaminhamentos pela
Abordagem. (ver Dados confirmados)
Interpretação: mensura a capacidade da Central de Encaminhamentos
em confirmar os dados de crianças e adolescentes identificadas pelo serviço
de Abordagem em situação de trabalho ou mendicância nas ruas, possibili-
tando a execução de procedimentos metodológicos/atividades necessários à
proteção da criança ou adolescente.
Método de cálculo:Taxa de crianças e adolescentes com dados confirma-
dos = (nº de crianças e adolescentes com dados confirmados / n° total de

87
crianças e adolescentes identificadas em situação de trabalho e/ou mendi-
cância encaminhados à Central pela Abordagem) x 100
Abrangência de Análise: por local de abordagem, por regional da família,
municipal.

33 - CRIANÇAS E ADOLESCENTES ENCAMINHADOS

Conceito: mensura o percentual de crianças e adolescentes registrados na


Central que foram encaminhados à rede de serviços.
São considerados registrados na Central de encaminhamentos crianças e
adolescentes que tiveram os dados coletados pela abordagem confirmados
pela Central e que não que estejam sob medida protetiva ou sócio-educativa
(Artigos 101 e 112 do ECA).
Dados confirmados: são os dados que passaram por uma atividade de
checagem (ou conferência) sendo verificada a sua correção ou sendo possí-
vel a sua retificação ou complementação. Os dados de conferência obriga-
tória são: nome completo do usuário; filiação (nome completo da mãe e do
pai), nome do responsável legal, data de nascimento, raça , sexo, endereço
domiciliar da criança, nome da escola e horário em que estuda.
Interpretação: mensura a capacidade da Central de Encaminhamentos
em captar vagas e articular a rede de serviços para a inserção de crianças e
adolescentes em situação de trabalho nas ruas.
Método de cálculo:Taxa de crianças/adolescentes encaminhados = (n°
de crianças/adolescentes encaminhados à rede de serviços / n° de crianças e
adolescentes registrados na Central de Encaminhamentos) x 100
Abrangência de Análise: por serviço que recebeu o encaminhamento, por
regional, municipal.

34 - REITERAÇÃO

Conceito: mensura o percentual de crianças e adolescentes encontrados


pelo serviço de Abordagem novamente nas ruas de Belo Horizonte em situa-
ção de trabalho ou mendicância, após assinatura de termo de compromisso
pelos responsáveis, garantia de vaga nos serviços destinatários e realização
de encaminhamento.
Considera-se reiteração do fenômeno de exploração de trabalho e/ou
mendicância nas ruas quando há nova detecção, pelo serviço de Aborda-
gem, de criança ou adolescente em situação de trabalho ou mendicância
nas ruas de Belo Horizonte, após assinatura de termo de compromisso pelos
responsáveis, garantia de vaga nos serviços destinatários e realização de
encaminhamento.

88
Interpretação: permite verificar a capacidade do serviço em contribuir
para a superação do fenômeno do trabalho e mendicância infanto-juvenis
nas ruas em Belo Horizonte.
Método de Cálculo:Taxa de reiteração = (nº de crianças e adolescentes
com reiteração do fenômeno/ nº total de crianças e adolescentes com as-
sinatura de termo de compromisso pelos responsáveis, garantia de vaga e
encaminhamento realizado) x 100
Abrangência de Análise: por local de abordagem, por regional da família,
municipal, por serviço que recebeu o encaminhamento.

CENTRO DE REFERÊNCIA DE POPULAÇÃO DE RUA

Objetivo Geral: constituir espaço de referência, encontro, socialização e


acompanhamento social para a população em situação de rua.
Objetivos Específicos:
• Organizar um espaço de convivência e organização pessoal e coletiva
para população em situação de rua;
• Oferecer espaços diversificados para o atendimento de algumas de-
mandas essenciais, tais como: guarda-volume, higienização, guarda de do-
cumentos, lavagem de roupa;
• Articular e executar oficinas sócio-educativas que propiciem construção
de novos laços sociais e reflexão sobre a vida nas ruas e alternativas a esta
situação;
• Fortalecer os vínculos do público atendido com a cultura popular e
favorecer o seu acesso à cultura universal;
• Elaborar e executar projetos educativos, eventos cultural-esportivo-pe-
dagógicos específicos para este público.

Público Alvo: população adulta, acompanhada ou não de dependentes


legais, em situação de rua de Belo Horizonte.

35 - ACOMPANHAMENTO A USUÁRIOS

Conceito: percentual de usuários do serviço acompanhados em relação


ao total de atendidos.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em estender a seus usuá-
rios o recurso do acompanhamento considerando este um importante recurso
para a construção de alternativas à situação de vida nas ruas.
Método de Cálculo:Taxa de acompanhamento a usuários = (nº de usuá-
rios acompanhados pelo serviço / nº total de usuários no serviço) x 100
Abrangência de Análise: municipal.

89
36 - PARTICIPAÇÃO DE USUÁRIOS EM ATIVIDADE COLETIVA ESTRUTURADA

Conceito: mensura o percentual de usuários do serviço que participam de


atividades coletivas estruturadas ofertadas pelo serviço em relação ao total
de inscritos em atividades coletivas estruturadas.
As atividades coletivas desenvolvidas no Centro de Referência de Popu-
lação de Rua são de caráter mais aberto (jogos e atividades culturais) e as
de caráter mais estruturado, ou seja, que têm um tempo de duração deter-
minado e necessidade de inscrição para participação (oficinas, cursos do
telecentro e reuniões temáticas).
Variáveis para avaliação da Participação em atividade coletiva estrutura-
da: será considerado participante de atividade coletiva aquele usuário que
apresentar uma freqüência de 75% na atividade na qual se inscreveu.
Interpretação: permite verificar a capacidade do serviço em ofertar ativi-
dades coletivas estruturadas atrativas a seus usuários, bem como sua mobili-
zação à participação destas.
Método de Cálculo:Taxa de participação em atividade coletiva estruturada
= (n º de usuários do serviço que participam de atividade coletiva estruturada
/ nº total de usuários inscritos em atividades coletivas estruturadas) x 100
Abrangência de Análise: por atividade, municipal

REPÚBLICA MARIA MARIA – POPULAÇÃO DE RUA

Objetivo Geral: Constituir-se em espaço de moradia temporária (tempo


médio de 01 ano e meio) que possibilite a reorganização e planejamento da
vida das mulheres com trajetória de vida na rua que não inclua a rua como
espaço de moradia.
Objetivos específicos:
• Prestar serviços básicos às pessoas submetidas à vulnerabilidade social;
• Proporcionar inserção em serviços que garantam o convívio fora das
ruas.

Público Alvo: Mulheres adultas (18 anos até 59 anos e 11 meses) com
trajetória de vida na rua, acompanhadas ou não dos filhos de até 05 anos e
11 meses.

REPÚBLICA REVIVER – POPULAÇÃO DE RUA

Objetivo geral: Oferecer espaço de moradia temporária (01 ano a 01


ano e meio) para homens com trajetória de vida nas ruas possibilitando sua
reorganização.

90
Objetivos específicos:
• Construir alternativa definitiva de saída das ruas;
• Possibilitar ao morador da República convivência comunitária;
• Possibilitar a referência de endereço.

Público Alvo: População masculina adulta (entre 18 e 60 anos) com tra-


jetória de vida nas ruas.

37 – ORGANIZAÇÃO DE USUÁRIAS

Conceito: percentual de usuárias que atingem o grau de organização


satisfatório em relação ao total de usuárias inseridas no serviço.
Considera-se organização satisfatória a verificação de critérios que con-
siderem a relação em grupo e o processo de organização individual. In-
dividualmente considerar a adesão aos encaminhamentos realizados pelo
técnico; a realização de atividades da vida diária; cuidado com os filhos e;
realização/planejamento de projeto de vida.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em contribuir com o forta-
lecimento da autonomia das mulheres atendidas, auxiliando-as no planeja-
mento de ações para a vida.
Método de Cálculo:Taxa de organização = (nº de usuárias que atingem
grau de organização considerado satisfatório / nº total de usuárias inseridas
no serviço) x 100
Abrangência de Análise: municipal

38 - DESLIGAMENTO SATISFATÓRIO

Conceito: percentual de usuárias que obtém desligamento considerado


satisfatório em relação ao total de usuárias desligadas pelo serviço.
Considera-se desligamento satisfatório aqueles que estão relacionados
aos resultados esperados do serviço.
Interpretação: verifica a capacidade do serviço em contribui para o alcan-
ce, por suas usuárias, de condições que favoreçam a construção de alterna-
tivas para a saída das ruas.
Método de Cálculo:Taxa de desligamento satisfatório = (nº de usuárias
que foram desligadas por motivo considerado satisfatório / nº total de usuá-
rias desligadas do serviço) x 100
Abrangência de Análise: municipal.
Orientações para tratamento do indicador: Considerar desligamento sa-
tisfatório os seguintes motivos:
- Bolsa moradia
- Retorno à família de origem

91
- Aquisição de moradia própria
- Encaminhamento para ILP
- Moradia com companheiro
- Constituição de família
- Aluguel de moradia
- Emprego

ABRIGAMENTO DE FAMÍLIAS DE ÁREAS DE RISCO - ABRIGO GRANJA


DE FREITAS E POMPÉIA

Objetivo geral:oferecer proteção social especial através do abrigamento


de famílias em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social.
Objetivos Específicos:
• Prestar assistência social às famílias abrigadas;
• Realizar acompanhamento sócio-familiar;
• Mobilizar e estimular a organização familiar, comunitária e social do
público atendido nos Abrigos;
• Realizar atividades lúdicas, esportivas, de lazer, cultura, artes, geração
de renda e socialização para o trabalho, junto às famílias atendidas;
• Informar, orientar e encaminhar os usuários do serviço de abrigamento
para a rede de atendimento da Assistência Social e para as demais Políticas
Públicas, conforme demandas diversas apresentadas e/ou identificadas;
• Estimular as famílias abrigadas a acessarem seus direitos, enquanto
cidadãos, bem como a cumprirem seus deveres;
• Estimular o processo de autonomia e socialização das famílias abrigadas;
• Articular o estabelecimento de interfaces e parcerias afins ao trabalho
dos Abrigos, seja em relação à administração, gerenciamento e manutenção
das Unidades, seja no atendimento e acompanhamento social realizado jun-
to às famílias;
• Contribuir no processo de discussão, deliberação, encaminhamento e
agilidade do atendimento habitacional das famílias abrigadas.

Público Alvo: famílias que, em decorrência das chuvas, demandem abri-


gamento temporário, em razão ou iminência da perda parcial ou total de
suas moradias, oriundas de vilas e favelas de BH, em situação de vulnerabili-
dade e risco pessoal e social, cadastradas no Programa Estrutural para Áreas
de Risco da PBH.

92
39 . ADESÃO AO ACOMPANHAMENTO SÓCIO-FAMILIAR

Conceito: mensura o percentual de usuários/famílias que aderem ao


acompanhamento sócio-familiar em relação ao total de famílias inseridas no
serviço.
Considera-se adesão o ato de concordância do usuário/família quanto
as possibilidades ofertadas pelo SUAS. Pode ser verificada de forma objetiva
por meio da assiduidade e/ou por meio da avaliação técnica.
Interpretação: permite verificar a capacidade do serviço em promover
condições e motivar a adesão da família ao acompanhamento sociofamiliar.
Método de Cálculo:Taxa de adesão ao acompanhamento sócio-familiar
= (n º de usuários/famílias que aderiram ao acompanhamento sócio-fami-
liar / nº total de usuários/famílias inseridas no serviço com identificação de
necessidade para acompanhamento sociofamiliar) x 100
Abrangência de Análise: por abrigo (Granja e Pompéia), municipal.

93
MONITORAMENTO
DE AÇÕES NA
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL

3
Aldaíza Sposati 10

94
O entendimento quanto às implicações para a transi-
ção da assistência social de prática, pública ou privada,
para o campo da política pública é ainda um processo
em construção.
A versão mais difundida quanto a esse trânsito é a
da obrigatoriedade dos órgãos estatais em vincularem
recursos financeiros assim como realizarem a provisão de
recursos humanos para o desenvolvimento dessas ações.
Trata-se, no caso, do cumprimento do dever de Estado
em prover condições de financiamento através do Orça-
mento Público, bem como, em promover concursos públi-
cos que afiancem a admissão de quadros técnicos, ou de
agentes institucionais capacitados a operar essa política
pública.

10
Professora titular da PUC/SP de Pós Graduação em Serviço Social, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Seguridade e Assistência Social da PUC/SP – NEPSAS, coordenadora do CEDEST – Centro de Estudos das Desigualdades
Socioterritoriais (INPE-PUC/SP).

95
Uma e outra dimensão incidem na necessária ruptura com o trato resi-
dual, e por vezes informal, desse campo de proteção social não contributiva
pelas gestões estatais que mais se preocupam em apoiar iniciativas privadas,
ainda que sem fins lucrativos, do que capacitar os órgãos públicos com infra-
estrutura e recursos para a operação dessa atenção.
É sabido que poucas são as cidades brasileiras que em seu orçamento
municipal incorporam recursos próprios na função programática 8, ou me-
lhor, destinam recursos para a assistência social. Embora hoje, a quase tota-
lidade dos municípios já tenha um Fundo Municipal de Assistência Social, em
muitas cidades, principalmente as de pequeno porte, esse fundo existe mais
para a captação de recursos externos e/ou a transferência fundo a fundo
federal e, algumas vezes estadual, do que propriamente para operar recursos
próprios do orçamento municipal.
No campo dos recursos humanos é constatada a incidência da ação de
voluntários e de pessoal sem qualificação básica para o desempenho e a
gestão da assistência social carecendo de quadros próprios qualificados.
Sem dúvida, a política de financiamento e de recursos humanos são pila-
res fundamentais e insubstitutíveis na constituição da política pública, todavia
não são suficientes para erguer os andaimes da construção da política públi-
ca. É preciso também lembrar que, a política de assistência social precisa ter
clareza quanto ao escopo de suas responsabilidades para que possa inclusi-
ve dimensionar seu financiamento e os recursos que lhe são necessários.
A Política Nacional de Assistência Social - PNAS (2004) – trouxe eixos
decisórios para que a gestão de assistência social opere essas definições, das
quais se destacam:
- a assistência social como política de proteção social não contributiva
o que traz três questões: o que se entende por proteção social, o que
está sendo protegido e qual o patamar esperado dessa proteção;
- a matricialidade sócio-familiar, com base da proteção social de assis-
tência social, significa ter claro o que é capacidade protetiva de uma
família e até onde, e como, o Estado pode fortalecer essa capacidade
sem com isto produzir uma sobrecarga às famílias e às mulheres, em
especial por concentrar a maior carga da função protetiva familiar;
- a redução de danos provocados pelos riscos sociais e o desenvol-
vimento de condições de restauração desses danos exige também,
clarear de quais riscos estamos tratando, qual sua incidência e escala
de gravidade em suas ocorrências;
- a redução das vulnerabilidades sociais introduzindo o estatuto pre-
ventivo aos riscos sociais no campo da assistência social;
- a orientação pautada pela cidadania e pelos direitos que parame-
tra a assistência social como política ativa que se coloca na linha de
defesa de direitos sociais e humanos e promotora de condições de

96
fortalecimento (empowerment) do exercício da cidadania;
- a orientação pela territorialização que supõe novo modo de análise
da realidade a partir do conjunto de fatores que conformam a vivên-
cia cotidiana de pessoas, grupos familiares, grupos vicinais, bairros.
A observação da heterogeneidade dos modos de vida, bem como, a
dupla dimensão entre sujeitos e as condições objetivas de vida passam
a receber pesos iguais no exame das situações;
- a tridimensionalidade das funções da assistência social entre: pro-
teção social, vigilância social e defesa de direitos operada de forma
integrada, simultânea e interdependente. A estas funções, pela própria
natureza da gestão pública se agrega o desempenho da regulação
social. Isto significa ganhar capacidade para normatizar as ações de
assistência social, pública e privada, nos territórios abrangidos pelos
respectivos gestores.
Todos esses novos aportes construídos para a assistência social fluem da
concepção pela qual ela deve garantir seguranças sociais (inciso 2 da NOB/
SUAS – Resolução CNAS nº 130 de 15/07/2005):
- de acolhida
- de convívio e vivência familiar
- de sobrevivência a riscos circunstanciais
- de social de renda
- de desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social.
Portanto, aqui estão estabelecidas as finalidades da política e sua missão
que poderia, a partir da aplicação do princípio da universalização, ser enten-
dida como: responder a todas as demandas por proteção social de cidadãos
e famílias, ocasionadas pela vivência de riscos sociais com a oferta de bene-
fícios e condições para aquisições materiais e sociais voltadas à redução de
danos e restauração da ocorrência de vulnerabilidades sociais das famílias
no exercício da sua função protetiva e de convívio entre seus membros.
Todo este escopo de dimensões supõe superar a visão de resultados in-
tangíveis substituindo por um novo modo de gestão que permita ao mesmo
tempo construir a dimensão de escala nas ações de assistência social (volume
de respostas face às demandas), bem como, a dimensão de avaliação de
resultados de modo a tornar a ação mais efetiva em seus propósitos.
É esta dimensão da tangibilidade de resultados que se anuncia como um
grande desafio para a política pública. Enquanto as ações baseadas nos
princípios de benemerência, caridade, filantropia têm por principal feito a
perspectiva da acolhida através de uma porta aberta para atendimento, não
é esta a finalidade da política pública, principalmente no campo social.
A exemplo, em analogia com o relato do “bom samaritano” não basta
dizer que o viajante bebeu água, lavou os pés e comeu na casa ou junto
ao poço do samaritano. A política pública deve se preocupar com o resul-

97
tante para o futuro. Terá esse viajante condições de por si só concluir sua
caminhada? Seu estado de saúde o permite? As feridas dos seus pés estão
infeccionadas? O seu estado nutricional permite longas caminhadas? Ele
tem plena noção do caminho? Sabe para onde vai quando chegar ao seu
destino? Trata-se, no caso, de analisar as seguranças com que este “viajante”
vai pode contar para chegar a seu objetivo.
A tangibilidade de resultados na assistência social exige um sistema de
captação de informações, de observações que registradas permitam captar
a dinâmica de um processo de atenção no campo da assistência social.
Portanto, não basta o resultado: “viajante atendido”, mas detalhar o que
significou essa atenção, o que ela possibilitou, qual a sustentabilidade do
que ela possibilitou, se vai ocorrer a reincidência do “viajante” em busca
de acolhida. No caso da reincidência da presença do viajante no poço do
samaritano, ela tenderá a ocorrer por: ausência de poços no caminho, pela
propriedade particular dos poços, pela inabilidade do viajante em construir
condições favoráveis?
Esta discussão está pondo luzes nos processos de atenção prestados pela
política de assistência social no âmbito de benefícios, serviços ou projetos11.
Chegar a essa possibilidade exige outros pré-requisitos no processo orga-
nizativo da assistência social.
O primeiro pré-requisito é o de superar o entendimento de atenção por
segmentos: criança, adolescentes, idosos, população de rua, etc. É evidente
que os serviços são freqüentados por cidadãos que pertencem a esses seg-
mentos, mas a política púbica de assistência social não é responsável por to-
das as necessidades de cada um deles. A idade será uma das características
dos riscos sociais próprios ao ciclo de vida, todavia, há ainda a necessidade
de particularizar que riscos sociais são esses, por exemplo: crianças sob vi-
vência de abandono; idoso sob vivência de abandono, etc. É evidente que o
trato do abandono de uma criança ao de um idoso é diverso, a começar do
vínculo com o Judiciário que a atenção à criança exige. A proposta é a de
organizar as ações pela hierarquia das proteções sociais e segurança social
a afiançar.
O segundo pré-requisito para que seja desenvolvida a perspectiva do mo-
nitoramento do processo de atenção supõe objetivar rotinas de atenção, es-
tabelecer afinidades entre os serviços pela segurança que devem prover, pelo
tipo de proteção social, básica ou especial, de média ou alta complexidade.
Há portanto, um forte trabalho inicial de análise da dinâmica de serviço a
serviço e entre os diversos serviços da mesma finalidade, estabelecendo suas
regularidades e padrões de desempenho e qualidade.

11
Não se faz menção à categoria de programa por ser esta uma categoria organizativa da ação institucional com diálogo,
portanto, com a organicidade interna da ação pública e não propriamente relação com usuários, beneficiários e/ou cidadãos.

98
O terceiro grande pré-requisito supõe estabelecer as prioridades entre as
diversas finalidades do processo de monitoramento. O primeiro é o nível ime-
diato, isto é, do serviço com ele mesmo o que exige grau de detalhamento
interno que distingue o trabalho entre os agentes institucionais. À medida que
o processo é mais comparativo entre serviços similares também poderá ter
registros mais específicos entre os níveis do local/territorial, regional ou geral
da cidade, do Estado ou do país. Portanto, nem todos os registros se prestam
aos diferentes níveis de monitoramento.
Um quarto pré-requisito supõe entender que a finalidade do monitora-
mento pode ter finalidades diversas e com isto supor registros diferenciados.
A exemplo: os recursos humanos, a qualidade, a ação técnica, os recursos
financeiros, as instalações, o padrão de parcerias, a intersetorialidade das
ações, a prontidão e qualidade dos recursos para a atenção, a dinâmica do
controle social, etc. podem ser objeto de registro e monitoramento.
Quanto à qualidade da atenção ou a avaliação de resultados algumas
dimensões se colocam:
a) gestão do tempo: fila de espera ou espera para a atenção, tempo
de permanência, tempo de desligamento, reincidência;
b) gestão da cobertura: relação entre a oferta e demanda e sua vin-
culação territorial;
c) gestão da freqüência: análise da acessibilidade e da adesão e dos
modos de freqüência dos usuários e sua evasão;
d) gestão da completude em rede: mecanismos de referência e contra-
referência em acordos de intersetorialidade;
e) gestão das aquisições: neste bloco está o conjunto das ações in-
ternas e externas desenvolvidas para afiançar novas condições aos
usuários;
f) gestão dos resultados: no caso se coloca sob vigilância a superação
dos riscos pelas suas expressões concretas;
g) gestão do custo/custeio: que coloca o olhar sobre todas as uni-
dades de gastos/custos de cada ação a fim de medir a relação entre
custo e resultado.

Cada uma destas áreas de gestão para monitoramento supõe um conjun-


to de direitos e valores que merecem ser destacados:

99
100
A decisão para implantar o monitoramento de qualidade de resultados
deve incluir quais os campos da ação que serão monitorados. O segundo
movimento é o de fixar em cada campo a expressão concreta do que será
monitorado e a escala de medição a ser utilizada.
Este movimento exige fixar uma medida de bom, ótimo, regular, ruim.
Trata-se de fixar campos valorativos. Essas expressões concretas da variável
em exame que permitirá avaliá-la comporão o quadro de indicadores. Estes
serão transformados em índices a partir de uma dada correlação de inci-
dência em um grupo populacional (“x” crianças a cada “y” habitantes, por
exemplo).
Poucas são as cidades brasileiras que estão avançando no processo de
monitoramento das ações da assistência social que se concretiza pela cons-
trução de indicadores e índices que, através do cálculo por taxa, via de regra

101
em relação à população, permite uma nova apropriação dos resultados de
ação e a produção de estudos comparados. O índice através de comparação
longitudinal em tempos diferentes e/ou territorial, num mesmo período de
tempo, permite uma nova compreensão do comportamento da realidade e
nela das respostas que estão sendo construídas.
Todo este processo de monitoramento é um processo corajoso de uma
gestão que se quer democrática. A transparência gerada pelos indicadores e
índices alimenta o controle social através da transparência que produz.
Neste caso cumpre-se com mais um requisito fundamental da política pú-
blica: a possibilidade de enxergar criticamente a totalidade e nela captar as
diferenças entre partes e todo.
Este grande objetivo leva, sem dúvida, a alcançar um novo patamar críti-
co que indicará novos passos e conquistas.
É neste movimento que compreendo a iniciativa da gestão do SUAS na
cidade de Belo Horizonte o que, sem dúvida, trará enorme contribuição ao
avanço da gestão do SUAS no Brasil e através dele a concretização de novos
direitos à proteção social não contributiva.

102
Referência
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução
nº130 de 15 de julho de 2005. Aprova a Norma Operacional
Básica da Assistência Social – NOB SUAS. Diário Oficial da
União, Brasília, 25 jul. 2005.

103
O USO DOS INDICADORES
PARA O MONITORAMENTO
E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS,
PROGRAMAS E PROJETOS
PÚBLICOS

4
Maria das Graças Rua12

104
Embora a temática dos indicadores venha despertan-
do acentuada atenção entre os gestores brasileiros, nos
últimos anos, este é um assunto que já tem história. Na
década de 1920, nos EUA, começou a surgir a idéia de
que a sociedade deveria ter dados que permitissem uma
imagem precisa de si própria e de suas mudanças. Em
1929 foi criado um comitê presidencial com a tarefa de
produzir um relatório detalhado denominado “Tendências
Sociais Recentes”. Por trás da expressão “tendências so-
ciais” ou “indicadores” a única idéia existente era a de
que estes deveriam expressar um esforço ativo e delibera-
do para selecionar um conjunto de medidas de mudança
social.
O relatório do comitê teve poucos impactos imedia-
tos, mas levantou essas idéias e, a partir de então, alguns
dados passaram a ser coletados e sistematizados segun-
do as preocupações ali apresentadas. Bem mais tarde,

12
Doutora em Ciências Humanas e Ciência Política - IUPERJ, Professora adjunta IV da UnB. Atuação em Avaliação de Políticas
Públicas.

105
após a Segunda Guerra, consolidou-se o conceito de indicadores sociais,
que deveriam representar uma alternativa ao foco exclusivo sobre o cresci-
mento econômico e em 1953 já havia uma ampla coleção de dados estatís-
ticos, sobre taxas de desemprego, crimes, níveis de consumo etc. A busca de
indicadores sociais baseava-se numa concepção que poderia ser expressa
nos seguintes termos: “Nós sabemos que certas situações são insatisfató-
rias. Se coletarmos um boa quantidade de dados talvez venhamos a saber
como as coisas são e tenhamos uma idéia do que fazer”. Tratava-se de uma
abordagem exploratória, empiricista, intuitiva, sem fundamento em teorias
consistentes.
Na década de 1960 vários países já tinham começado a compilar regu-
larmente os dados para compor indicadores sociais e firmou-se a concepção
de que era preciso entender as “conseqüências de segunda ordem”, ou seja,
os efeitos não antecipados sobre extensas áreas da vida social, política e
econômica, que necessitariam amplas intervenções. Porém, demorou-se a
perceber que as medidas por si só não traziam soluções para os problemas.
E, que a definição do problema, a análise, o planejamento e o envolvimento
com a gestão teriam que amadurecer junto com os indicadores.
Em meados da década de 1960, uma pesquisa da NASA chegou à con-
clusão de que havia uma quase absoluta ausência de conceitos e de me-
todologia para a construção de indicadores, os quais foram definidos pelo
diretor do projeto, Raymond Bauer, como “estatísticas e séries estatísticas
e todas as outras formas de evidência que nos capacitem a avaliar em que
ponto estamos e para onde estamos indo com relação aos nossos objetivos
e valores”.
Logo depois, na década de 1970, a pesquisa envolvendo indicadores so-
ciais se disseminou para vários países e organismos internacionais. A OCDE
e as Nações Unidas começaram a adotá-los e desenvolveram-se novos con-
ceitos e metodologias para sua elaboração. Nessa época, pela primeira vez
começou-se a discutir se o maior objetivo das sociedades ocidentais desen-
volvidas deveria ser o crescimento econômico. Os custos sociais do cresci-
mento econômico e a pobreza como a outra face da moeda, tornaram-se
o foco do debate político. Passou-se a questionar cada vez mais a idéia de
que “mais significa o mesmo que melhor”, e surgiu uma demanda pública
de qualidade, em oposição a quantidade. Foi quando se desenvolveu a dis-
cussão sobre “qualidade de vida”, que contribuiu para o fortalecimento da
idéia de que seriam necessários indicadores mais rigorosos para apoiar as
avaliações de políticas então efetuadas.
Passaram a se diferenciar os indicadores sociais objetivos e os subjetivos.
Os primeiros correspondem a estatísticas que representam fatos sociais, in-
dependentemente de avaliações pessoais. São eles, por exemplo, renda per
capita, taxas de desemprego, taxa de pobreza, extensão média da jornada

106
semanal de trabalho, taxa de mortalidade perinatal, etc. Os indicadores sub-
jetivos, por sua vez, enfatizam as percepções individuais e avaliações das
condições sociais. São eles: satisfação com a vida, com o trabalho, percep-
ção de justiça distributiva, aspirações quanto ao futuro, etc.
Este período caracterizou-se pela constituição de grandes e complexos
sistemas de informação social, baseados em inúmeras pesquisas sobre qua-
lidade de vida e desenvolvimento social. Entretanto, ao final da década de
1970 devido à crise econômica decorrente do choque do petróleo reduziu-se
o interesse pelos indicadores sociais, de tal forma que, ao final da década de
1980 a sua utilização declinou e o seu desenvolvimento estagnou-se, perma-
necendo a ênfase apenas nos indicadores econômicos.
Somente na década de 1990 ressurgiu o interesse pelos indicadores, não
somente econômicos, mas também sociais e gerenciais. Ocorreu sua revalo-
rização tanto na esfera das políticas públicas e seus resultados substantivos,
como na esfera da gestão governamental. Passaram a ser discutidos e ado-
tados tanto no nível subnacional (estados e municípios), como nacional e su-
pranacional, especialmente com o estabelecimento de novas instituições de
monitoramento e avaliação e de bases de informação dotadas de sofisticada
infra-estrutura tecnológica.
Ao final da década de 1990, especialmente com o avanço e dissemina-
ção dos sistemas informatizados de gerenciamento de dados, e a formação
de redes virtuais de participação e controle social, fortaleceu-se a idéia da
utilização dos indicadores sociais e gerenciais com a finalidade de apoiar o
monitoramento e a avaliação das ações governamentais como um todo.
A partir de então, a discussão passou a girar em torno de conceitos, me-
todologias, para o uso e aperfeiçoamento dos indicadores. Hoje, existem
diversos conceitos de indicadores, expressando perspectivas sutilmente dife-
renciadas. Existem também diferentes adjetivos utilizados para caracterizar os
indicadores: econômicos, sociais, gerenciais, de desempenho, de processo,
de produto, de qualidade, de impacto, etc – dependendo muito do tipo de
intervenção e do aspecto a ser avaliado, da metodologia de avaliação e do
foco desta, entre outras coisas.
De uma maneira simplificada, os indicadores são unidades de medida
que representam ou quantificam um insumo, um resultado, uma característi-
ca ou o desempenho de um processo, de um serviço, de um produto ou da
organização como um todo. Os indicadores são uma atribuição de números
a objetos, acontecimentos ou situações, de acordo com certas regras. En-
quanto unidades de medidas, os indicadores referem-se às informações que,
em termos conceituais, são mensuráveis, independentemente de sua coleta
obedecer a técnicas ou abordagens qualitativas ou quantitativas. Indicadores
sempre são variáveis, já que podem assumir diferentes valores. Porém, nem
todas as variáveis são indicadores. Enquanto medidas, os indicadores devem

107
ser definidos em termos operacionais, ou seja, mediante as categorias pelas
quais eles se manifestam e podem ser medidos.
Existem várias tipologias de indicadores. Um indicador pode ser simples
(decorrente de uma única medição) ou composto; direto ou indireto em re-
lação á característica medida; específico (atividades ou processos especí-
ficos) ou global (resultados pretendidos pela organização como um todo);
e direcionadores (indicam que algo pode ocorrer) ou resultantes (indicam
o que aconteceu). Podem variar conforme os critérios a que se relacionam:
indicadores de eficácia, de efetividade, de eficiência, de celeridade, de tem-
pestividade, de sustentabilidade, de equidade, etc. Podem variar ainda con-
forme a dimensão do programa ou projeto a que se aplicam: indicadores de
processos, de resultado ou desempenho, de impacto, etc.
Entre os indicadores, especial destaque é atribuído aos índices. Estes con-
sistem, na realidade, em relações observáveis entre variáveis ou entre uma
variável e uma constante, que assumem uma forma padronizada, permitindo
indexar os valores obtidos. Por exemplo, o número de analfabetos por grupos
de 100 indivíduos é uma relação entre uma variável e uma constante. A in-
formação proporcionada por este tipo de índice mostra-se mais útil quando
é possível estabelecer comparações. Já os índices que expressam relações
entre variáveis contêm, em si mesmos, informações relevantes, ainda que
a comparação possa enriquecer a análise. Por exemplo, a proporção de
alunos aprovados sobre alunos matriculados expressa a relação entre duas
variáveis e traz informação sobre o desempenho de uma classe, uma escola,
um professor, uma metodologia, etc.
Alguns dos trabalhos mais significativos no campo da avaliação de mu-
danças na situação social mundial foram realizados em agências da Or-
ganização das Nações Unidas (ONU) trazendo importantes avanços na
construção de índices. Desses trabalhos duas vertentes de avaliação multi-
dimensional emergiram. Uma primeira trabalha ampliando o conjunto de
indicadores utilizados com o objetivo de aumentar a precisão das avaliações.
É o caso, por exemplo, do Índice de Progresso Social (IPS). Este é baseado
em uma concepção determinada de necessidades sociais e materiais básicas
das diversas populações mundiais e levanta 44 indicadores considerados re-
levantes para o bem-estar social para compor 11 subíndices, os quais, pon-
derados, compõem o IPS: Educação (4 pontos), Saúde (3 pontos), Condição
da Mulher (5 pontos), Esforço de Defesa (1 ponto), Demografia (5 pontos),
Geografia (3 pontos), Estabilidade Política (5 pontos), Participação Política
(6 pontos), Diversidade Cultural (3 pontos) e Esforços de Bem-estar Social (5
pontos).
A outra vertente busca a simplicidade na composição dos índices, como é
o caso do Índice de Qualidade de Vida Física (IQVF), composto por Morta-
lidade Infantil, Esperança de Vida ao Nascer e Analfabetismo entre Adultos.

108
Esse tipo de índice pode ser criticado porque ignora diversas esferas impor-
tantes do bem-estar humano, mas há razões para se buscar essa simplicida-
de: índices de baixa complexidade minimizam alguns problemas conceituais
e metodológicos decorrentes de sua composição, podem ser calculados para
um grande número de regiões, são facilmente compreensíveis e, portanto,
podem servir de complemento ou mesmo alternativa às analises baseadas
em indicadores de produto, como o PIB.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) pertence a esta última ver-
tente. Criado por uma das agências especializadas da ONU, o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDH possui componentes
referentes à saúde, educação e poder aquisitivo que são combinados para a
comparação do nível de desenvolvimento dos indivíduos nas diversas nações.
A maior parte dos índices multidimensionais enfrenta diversas dificuldades.
Uma delas é estabelecer a ponderação dada a cada uma das dimensões.
Sintetizar a informação de vários aspectos da vida humana em um único índice
(isto é, criar um indicador sintético) exige a definição de uma regra que atribua
peso específico a cada uma dessas dimensões. Um índice sintético como o
IDH, por exemplo, deve combinar indicadores de escolarização, PIB e espe-
rança de vida para gerar um resultado (número) único. Ao fazer isso o IDH
precisa, em última instância, determinar a quantos dólares equivale um ano
de vida para, assim, ponderar variações na renda em relação às variações na
esperança de vida ao nascer13.
Os indicadores são elementos essenciais ao monitoramento e à avaliação.
É por intermédio deles que se torna possível reconhecer quando uma meta ou
um objetivo são atingidos, ou não. Na linguagem cotidiana fala-se muito em
indicadores de resultados ou de desempenho. Estes referem-se aos objetivos
e metas. Um indicador de resultado consiste em uma unidade de medida nu-
mérica específica que indica o progresso de uma intervenção em direção ao
resultado a ser alcançado. Um indicador de resultado não é a mesma coisa
que o próprio resultado, por isso, cada resultado que se pretenda mensurar
exige um ou mais indicadores.
O processo de seleção dos indicadores envolve alguns cuidados, merecen-
do a utilização de metodologias similares àquelas que se utiliza para selecionar
as perguntas que orientam uma avaliação. Além disso, deve-se buscar indica-
dores que tenham a característica da rastreabilidade, vale dizer, sejam passiveis
de acompanhamento no passado e no futuro. Porém, ao longo do tempo de
vida de uma intervenção e de suas avaliações, muita coisa pode mudar e é
aceitável que novos indicadores sejam incorporados e antigos sejam elimina-
dos. Para eliminar um indicador é recomendável que ele tenha sido utiliza-

13
Embora índices sintéticos como o IDH sejam amplamente aceitos, é muito pouco provável que a comunidade de analistas que
o utiliza alcance um consenso razoável se o sistema de ponderação desses índices for colocado em debate. Isso, porém, não é
motivo para descartar a sua utilidade, especialmente quando utilizados em perspectiva comparativa, diacrônica ou sincrônica.

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do (portanto, testado e se mostrado insatisfatório) em pelo menos três pontos
de avaliação. Por isso, e frente à precariedade dos registros administrativos,
pode-se trabalhar com indicadores provisórios, até que se tenham constituído
bases de dados que permitam trabalhar com indicadores permanentes.
Muitas vezes, não será possível ter os indicadores com a precisão que seria
desejável. Nesses casos, costuma-se usar indicadores indiretos ou “proxyes”.
São unidades de medidas que expressam indiretamente a característica medi-
da e que são usados quando houver disponibilidade dos dados destinados a
alimentar o indicador direto, ou quando não for possível coletar tais dados a
intervalos regulares. Ex: O número de televisores (ou outro eletrodoméstico)
como medida de renda familiar.
Em algumas áreas de intervenção, além dos indicadores específicos para
uma determinada política, programa ou projeto, podem ser usados indica-
dores pré-definidos. São os indicadores estabelecidos independentemente do
contexto de qualquer país ou de qualquer organização e que são muito usados
como parâmetro para avaliar desempenho. Ex: mortalidade infantil, número de
leitos por 1000hab, numero de mortes violentos por 100.000hab., etc. Muitos
deles são índices sintéticos como o IDH. A maioria deles provém de agências
de cooperação multilateral: PNUD, BIRD, FMI, etc.
Esses indicadores têm diversas vantagens: podem ser utilizados em progra-
mas/projetos de natureza similar; ajudam a reduzir os custos de construção de
múltiplos sistemas de M&A, padronizam a discussão dos resultados, permitindo
comparar conclusões, favorecem o diálogo com financiadores, etc. Mas tam-
bém têm desvantagens: não se prestam ao exame de metas específicas de um
país, não admitem desagregação em micro-unidades, não permitem a partici-
pação dos stakeholders na sua construção.
Seja como for, o trabalho com indicadores sempre irá exigir alguma sis-
tematização. Para que o monitoramento e a avaliação possam extrair dos in-
dicadores as informações necessárias, será preciso estabelecer sua linha de
base. Uma linha de base é um dado quantitativo ou qualitativo que fornece
informação sobre uma situação no começo do processo de intervenção ou
imediatamente antes que ela se inicie, ou ainda, no início do monitoramento.
A linha de base é usada para (a) aprendermos sobre o desempenho prévio do
indicador, inclusive seus padrões, caso haja séries de dados; (b) planejarmos
ou revisarmos metas; (c) medirmos o desempenho de uma política, programa
ou projeto.
Além disso, para chegarmos às conclusões necessárias em um trabalho
de Monitoramento e avaliação, devemos estabelecer padrões para aplicar aos
indicadores adotados para cada critério de avaliação. O padrão designa o
nível que o indicador deve atingir para que se possa considerar que o critério
correspondente foi satisfeito. O padrão permite ao avaliador julgar o resultado.
Por exemplo, se usamos o critério da equidade de gênero, podemos usar como

110
indicador o percentual de mulheres com remuneração equivalente aos homens
no exercício da mesma função. O padrão para concluirmos pela existência da
equidade de gênero seria, digamos, 50%. Tanto quanto os critérios, os padrões
devem ser negociados com os usuários e stakeholders. Muitas vezes essa ne-
gociação se dá a partir de padrões pré-existentes ou externamente definidos,
que podem ser aceitos ou não. Pode se basear, também, nas expectativas dos
stakeholders quanto a resultados. Ou pode, simplesmente se referir à linha de
base dos indicadores e ao planejamento das metas do programa.
Muitas vezes, não será possível ter os indicadores com a precisão que seria
desejável. Nesses casos, costuma-se usar indicadores indiretos ou “proxyes”.
São unidades de medidas que expressam indiretamente a característica medi-
da e que são usados quando houver disponibilidade dos dados destinados a
alimentar o indicador direto, ou quando não for possível coletar tais dados a
intervalos regulares. Ex: O número de televisores (ou outro eletrodoméstico)
como medida de renda familiar.
Em algumas áreas de intervenção, além dos indicadores específicos para
uma determinada política, programa ou projeto, podem ser usados indica-
dores pré-definidos. São os indicadores estabelecidos independentemente do
contexto de qualquer país ou de qualquer organização e que são muito usados
como parâmetro para avaliar desempenho. Ex: mortalidade infantil, número de
leitos por 1000hab, numero de mortes violentos por 100.000hab., etc. Muitos
deles são índices sintéticos como o IDH. A maioria deles provém de agências
de cooperação multilateral: PNUD, BIRD, FMI, etc.
Esses indicadores têm diversas vantagens: podem ser utilizados em progra-
mas/projetos de natureza similar; ajudam a reduzir os custos de construção de
múltiplos sistemas de M&A, padronizam a discussão dos resultados, permitindo
comparar conclusões, favorecem o diálogo com financiadores, etc. Mas tam-
bém têm desvantagens: não se prestam ao exame de metas específicas de um
país, não admitem desagregação em micro-unidades, não permitem a partici-
pação dos stakeholders na sua construção.
Seja como for, o trabalho com indicadores sempre irá exigir alguma sis-
tematização. Para que o monitoramento e a avaliação possam extrair dos in-
dicadores as informações necessárias, será preciso estabelecer sua linha de
base. Uma linha de base é um dado quantitativo ou qualitativo que fornece
informação sobre uma situação no começo do processo de intervenção ou
imediatamente antes que ela se inicie, ou ainda, no início do monitoramento.
A linha de base é usada para (a) aprendermos sobre o desempenho prévio do
indicador, inclusive seus padrões, caso haja séries de dados; (b) planejarmos
ou revisarmos metas; (c) medirmos o desempenho de uma política, programa
ou projeto.
Além disso, para chegarmos às conclusões necessárias em um trabalho
de Monitoramento e avaliação, devemos estabelecer padrões para aplicar aos

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indicadores adotados para cada critério de avaliação. O padrão designa o
nível que o indicador deve atingir para que se possa considerar que o critério
correspondente foi satisfeito. O padrão permite ao avaliador julgar o resultado.
Por exemplo, se usamos o critério da equidade de gênero, podemos usar como
indicador o percentual de mulheres com remuneração equivalente aos homens
no exercício da mesma função. O padrão para concluirmos pela existência da
equidade de gênero seria, digamos, 50%. Tanto quanto os critérios, os padrões
devem ser negociados com os usuários e stakeholders. Muitas vezes essa ne-
gociação se dá a partir de padrões pré-existentes ou externamente definidos,
que podem ser aceitos ou não. Pode se basear, também, nas expectativas dos
stakeholders quanto a resultados. Ou pode, simplesmente se referir à linha de
base dos indicadores e ao planejamento das metas do programa.

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