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Filosofia Patrística
e Escolástica
Aula 9
coleçáo
História
Essencial da
Filosofia
filo6oft PÀt ístict e E§aolÁíiaâ
B!üror
EdIe Manoel ilê Oliv€in Fllto
Ptoôeio Gráú4ô
Mótrü6 §chsüd! e Dlsnff Rizzolo
Ih{6rdl*o
Álexandd Gi€g
fssencial da
(l)lcQáo Hisiória Essencial da Filosofia
nilosofia Pahísticâ e Escolásticâ - A[la 9
por Olavo de Carvalho
.-
ia corrscguir achar uma cxplicâçáo melhor do que aquela que os íalos
tr s'rx,{ jx (5ravam nrostrando. \unüa podemos esqueccr quc ãs pli-
nrc irâs gcraço€s de cristáos aindâ têm o impacto, comodizem, de quenl
viu Dcus. E quandovocê oviu, acho que náo sobmm muitas perguntas
qoc vocô queira fâzer, porque o fato mesmo já tem üma força, náo digo
cxplicátiva, mas uma forçâ de evidência muito grandc.
o próprio sentido da palavra "tevelaçáo" quer dizer que algo foi
Drosirado, c aquilo que foi moslrado não prccisâ sel demonstrado.
Ilma vez que você viu, náo tcm que explicar que aquilo existe e o que
ó, ctc. O próprio Cristo, quando se apresenta, já diz quem é e o que
veio fazer Então, toda a órbila dos acontccimentos humanos perde
nuita importância em facc disso, e náo podemos esqueccr que, alinal
dccontas, as elaboraçôes de doulrinas, teorias, opiniões, etc. sáo apenas
fatos humanos-
Podemos entáo dizeÍ quc cxistc aí üm certo desinteÍesse doutrinal
dessas primeiras geraçôss: a eles pârecia muito mais importânte atcn-
der ao apelo de Cristo de maneira mais dircta através dâ mclaní)ia, da
conversáo e da âdoçáo dc unr novo rumo dc vidâ, c isto iá os manlinha
suficiente entcocupados.
Náo observamos cntrc os s('guidorcs dc CrisL(), rro cotrtcço, ncnhu-
ma discussáo. A discussáo $urgc juslanrcnte pc[) hdo dc lbra. Sáo os
adversários, os descrentes, os âdeDlos dâ rcligirio anliga ou os adeptos
dojudaísmo que colocâm objcçoos c obri!ânr aqucles primeiros padres
a reflctir e pensar, coisa quc clcs por si náo tcriam rcalmcnte por que
lãzer Mâs note que isto - o lato dc a doutrina, a oxpressáo doulÍinal
cíistã nascer de uma caüsa, por a$sirrr dizcr, opositiva é natural, por_
quc no fim das contas toda doutrina é assim. A mente humana sempre
fun.iona dialeticamentc, funciona poÍoposiçoes. É como aquele caso do
Santo Agostinho, qüe quando lhe pcrguntavâm o que é o tempo dizia:
"Quando náo peÍguniâm cu seii quando perguntam cu náo sei mâis"-
Pode hâver um cerlo tipo de saber espontâneo que está impregnado em
você pclo simples Iâio de você estar vivo e de ter presenciado certos
âcontecimentos, mas cujo sentido doutrinal você não seriâ capâz de
expressar em sentenças, em afirmaçóes, e a necessidade de fazêlo só
surge em funçáo de um estimulo extemo,
Em Ézáo disso também acontece uma outra peculiâridâde, que ocor-
re à medida que a cultura toda se crisiiânizâ, quer dizer, todo mundo
vai sc convcrtendo ao cristiânismo, e essa cultüra cristá é a pÍimeira na
hisiória humanâ que não cda os seus púprios instmmentos de exprcssáo
escrita-dito de outro modo, náo c a os seus próprios gêneÍos literários.
Se observar o conjunto da literaturâ patrísiica, você vê que todos os
gêneros literários que eles praticavilm cram greco-romanos ou iudaicos,
eram os gêneros Iiterâios antigos. Podemos classilicá-los basicamente
em três tipos-
Primeiro, há aquelas obras que teriam unl sentido doutrinal ou
científico, aquelas que estáo tratando realmentc de idéias e doutrinas.
Destas, uma parte é apoloSctica, seriâ â dc'fesa da lileratura cristá, defesa
e elogio da Íeligiáo cristá; üma outra parte é constituída de discussóes
polànicas, respostas a obicçóes; e umâ terceira parte é constiiuída de
pequenos tntados sobre pontos muito deteminados. Somando tudo
isso, náo se forma üm edifício doutrinal de maneiÉ alguma, náo se forma
nada, éum caleidoscópio. Um segundo tipo sáo obrâs de tipo históÍico:
sáo relatos, diários, confissóes, cârtâs, etc. E o terceiro ó a litcratum
propriamerte litúrgica, litutgia: hinos da Igreia, prcces, etc.
a
Tudo isso sáo gêneros que iá existiam antigamente, cqueoscristãos
selimitam a continuar prâticândo com um conteúdo cristao, mas com a
estftrtura e com as formas herdadas da tradição antorior Basla cstc fato
para se ver que as necessidades expressivas dcsses princiros cr'istáos
náo eram táo foÍes. Se tudo âquilo que você tem â dizer pode continuar
sendo dito, embora seja totalmente novo, cmborâ no quc diz rcspe;to âo
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(olllcúd() clc nao caiba dc mancira âlgunra nos nroldes do pcnsânrcnto
$cco-ftnnano, sc âpcsar disso você continua cscrcvendo nos mcsmos
rn{)ldcs literários... É claro que esses moldes sáo deficientes em relação
ir(, conteúdo que você está tentândo exprimir Sevocê tem um contcúdo
l(Íâlmonte novo, é fâtal que tente algum arranio formal, cde um novo
gônero liieráÍio, uma coisaassim, para poder se expressat E náo fizeram
nada disso. Isto mostra quc náo haviâ muitâ iniciativa de expressáo dou-
trinal por parte deles. O quehâvia, amaiorparte do que se produzia ali
cra cvidentemente a apologética, eram prc8açóes pâra ver se convertiam
as pes§oas aocristianismo, i§tosim. Mas, quânto à explicaçáo doutrinal
do cístianismo, náo havia reâlmente muito inteÍesse.
O que vai criar os pÍimeiros esforços de orgânizaçáo doutrinal é
cxâtamente a lenta acumulaÉo dess€ mâteriâl pairísiico. Daqui a pouco
eles começam a empilhar Sáo milhâres de cârtas, milhares depequenos
tratados, milhares de sermóes, etc. Chega uma hora enl que os suieibs
vêem que existe uma imensa literatura cristâ, e a constataçáo da cxis-
tência dessa literatura já sugere a necessidâde de se cncontrâr alSuma
unidade por trás dela.
Ài temos a moiivaçáo filosófica pl()priârncntc d i1â, lâ1v0, nütll ifcstâda
da sua maneira mais pura. Quândo dctini â Íihs(Íia co ) unidade do
conhccimenro na u nidade da cuns! iincia I vi(,'v( rsir, crn rarüsucâsióes
você observa isto, assim, com tanta clârczu quanlo ncssa transiçâo da
fase patÍística para a fase cscolásticâ. Porquo ó iustamcnte o acúmulo
da massa de escritos e da massa de opi[i(_)cs cm circulaçáo que sügere
â algumâs mentes cristãs a neccssidâdc dc unilicâÍ, de encontrar uma
coerência por trás de tudo âquilo. E cssâ motivaçao náo cra âpenas de
ordem intelectuâ], pois isso se Íeflctiria imediatamcnte na condução da
Fópriâ vida cristâ daqueles indivíduos. Thatava-se, novâmente, de coeÍir
o conjunto do conhecimento parâ encontrar um modo dc existência
pessoal que traduzisse aquilo sob forma de vida humanâ, de biografia
humana, de tal odo que esÍa vida assinr conduzida retroativamente
csclarcccssc âquclc mesmo conteúdo que a havia inspjrado. Tenr-seestâ
intcrpenetraçâo dâ idéia de unidade do conhccimcnto com a idú;â dc
unidadeda consciênciae, portanio, tambóm uDidâde da própriâ conduta,
então podcmos considerar essâ uma molivaçao lilosólica genuina.
Esie eúbrço de sistenatização, poróor, lambérr náo podc começâr
âssim, sem mais nem mctros, mas tcrá quo pcrcorrcr umâ série de ela
pas. Por exemplo, o problcna quc sc colocavâ era cxâtamente de uma
multiplicidade dedocumentos escritos, cortaro pr(tprio Evangelho,
sern
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juizo l'ormâl, às vezes com diferença de modalidadc de expressão... Esta
scgunda tàse é chamada - nào por mim, mâs pelos historiadores de
"[asc concordísticâ".
Vocó vai tcntar fazeÍ a concordância cntrc todos os documentos,
c aquilo que 1(:)Í absolutamcntc discorde de tudo você iira forâ e diz:
"lsto aqüi rão vale, isio aqui ibi umê opinião pcssoal enitida, é um
clcpoinrcnto duvidoso". Já não se 1ü14 mais só dc coteiar documenbs,
Irâs do cxtrairdc dcntro (lclcs alirnra((')cs fi)rmais (lüc podcm n:io cstar
nclcs. íssir)r, lil.ralrrcDtc. 'liirla sc (lc lrâdtr/i'1,)s cnr
iüí/o! lornlâis dc
liDr) d(trrlrinâl (lu( Dr)ssx scr (.lrlno ronIIÍr(l's Ur) s(u errrterido ki-
l1i(1' Vlrx* s(lt!Í'rtr., (k unr ltl(lo. v(nc l(.lr Lrl' di§cllr$) âpologólico
,,1',,'rl',,l,hli,. ld,r ul||,,(:,flx,nr rrrrxlit.r pc\trJJl l-..vrdcnlc
"Irr
rtrx.c[ s ll (' cslir) (liscr, snrdo no nresnn) plâno. então não tclil icito de
vocr lirrcr conrDar.rçao dirctai vai pÍecisar puxar dos dois afinnâçales
quc pcrlcnçanr à Dresma clave, por assim dizer, parâ daí comparâr o
cr)ntcúdo c veÍ se batc ou náo. E isso tem qüe seÍ feilocom docuÍnentos
c nrâis documcntos.
Notc bcm, esse prcblema não foram os padrcs que buscaram, Eles
sinplesmente encontraram o problemâ, assim conro as objcçóes e â
resisiência do público também náo tbram elcs quc buscaram. Eles sim-
plesmentc cncontrârâm c toraÍn forncccndo cxpli!_açóes à Dledida quc
âs pessoas solicitavam. Ora, ó iDrpossívcl que públicos absolutamente
desencontrados c diierentes cntre si coli)câsscrl pLrgunlas nâ ordcn)
dc modo que simplesmentc colocionando ís resp()slas sc iivcssc um
sistcnâ. Náo é assim- os plânos dc âbordagcrn são dcscnconirados,
os níveis dc intcresse també não balcnr... litcralura pâtrística é um
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monte de gente làlando dc um morlc dc assuntos para um monte de
gente- No entario, tudo isto icln que ter unra unidadc no fundo. Por
quê? PoÍquc tudo isto é o cristianismo. A unidâde ai iá se enconira
somente no fundot nâ supcrficic Dâo tem nenhuma.
ll
O que chamamos de Filosofia Escolástica nasce desse problema.
Elâ é umâ cspócie de resíduo, de efeito colâteral, do esforço de reu-
nião, interpretaçáo e concordância dos vários documentos. Como isso,
evidentemente, Íequer um monte dc tócnicas, não só liieráriâs mas
também lógicas, acaba se tornando necessário adestrar as pessoas paÍa
essas técnicâs, e é aí que surge o reaproveitamenlo do legâdo filosófico
grego. O suieito decisivo era Boócio, que ó tido gemlnrente como o
primeiro dos escolásticos, o indivíduo quc rcúnc os mâteriais gregos
qüe tinham sobrado sobre lógica e dá àquilo üma Íormulaçáo cscolar
para o treinamento dos padrcs. Mas é claÍo que isso é só um âspecto
pequeno do trabalho â seÍ feito, seria somente a preparação técnica
de um aspecto dâ educaçáo necessária para que depois os camaradas
fizessem todo esse serviço.
Como isso também e umâ ubra colcliva. c ncccssário se assegurar
de geraçáo em gemção, a continuidade da compreonsáo dâquilo tudo.
Se estamos trabâlhândo aqui para iuntar a literatüÍa cristá o lhc dar
uma formulação coerente, mas o suieito quc cstá fazendo isso morre
no meio do caminho, o outÍo que vai continuâr tâmbém tem que ser
adestrado para poder trâbâlhâr dentrc de uma linha coerente- A ciü-
lizâçáo do Ocidente nasce disso. Praticamentc iodas as nossas hâbi-
lidâdes de leiiura, a nossa consciência de tempomlidade histórica, a
nossa consciênciâ da importância dos documentos, tudo, ludo nasce
disso- E náo é necessário dizer que, passado muito tempo, às vezes
basta um pequcno aJastamento do cristianismo para quc tudo isto se
perca também iunto.
Passada essa fase filológica, e passâda a fase concordísticâ, quando
se pode finalmente chegar a um ponto em que â doutriDa crisiâ pode
começar a ser expressa sistematicamente, aí surgem Dovos problemas
ãinda piores. Sempre que você vâi sintetizar uma nrassa de materiâl
heteÍogêneo tem que encontrar, teÍ os princípios cm Íunção dos quais
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você vai fazer a síntese. A síntese náo âpârece sozinha: você tem que
rr:r xma Íâzáo de sinteiizar assim e náo assado-
O pÍimeiro princípio que é adotado para isto é o pressuposto de
quc o conteúdo dos Êvangelhos, dc toda â mensagem c stá e de toda
a documentâQáo cristá deve ser râcional de algum modo, ou seja, deve
nodcr sercxpresso de maneira râcional e poder serdiscutido e p&vâdo
dc NaneiÍa racional. Esteé o primeiro ponio, e esseprincípio ninguém
liDhu pcnsado até cntáo. Durantc saculos, isio nem tinha passâdo pela
cubiiça dos cristtiosi sccra raci(nrâl ou iffilcional, cssâquestáonáo exis_
tc. Mas, dc fljp{rrlc, dizcrrri "Vu,nos odcn r islo c bolar uma síntcsc
(lÍuo ó (lu! vÍrnos luzcr isvi' Sc vnrrx,s liucl sob ft) r dc doutrina,
o nrxkú) (u(. (rÍrh('(x rrx)s c o (ltlc hcrd{rrÍ,s íc l'latáo c
(.rlto krlos ([rrr,rp[cssllr ^ri§l.Íclcs,
nllli! ou ntcnos conx)iilc§ cxprcssariâm.
issl,
liDtro c cvidcntc (ltlc â doulrinâ lcnr que tor uma oryanizaçáo lógica,
partindo dc priDcípios quc ou sejam logicamente su stentáveis ou §ciam
documentalmcnte sustentáveis, com base no primeiro testemunho que
ó o Evangeiho".
Aconteceque este pressuposto implica um outro mâis profundo: se
o uonjunto da Revelaçáo cristã é ücional, e a Revelaçáo cri§tá é o que
o próprio Cristo trouxe, e Gisto é o próprio loSos criado! é â pÍópria
força instituidora da realidade, isto significa que a realidâde como um
todo tâmbém tem que ser racional. Então vcja como um simples trâbalho
de você pegar a pâpelada e botar em orde acaba lcvando-o a âssumir
pÍincípios fi losóficos.
Uma vez assumido esse princípio, isto náo qucr dizer que você vai
conseguir aplicá-lo facilmente a toda aquclâ mâssa dc alirmações, e
nem que esta râcionalidade hipotótica do coniunlo do reâI, Íacionalj-
dade hipoiética do coniunto da I{evclâção cristã, vá se mostraÍ a vocô
nâ primeim. Quando se Íala de "oÍdcm racionâI", essa ordem vâi das
prcmissas para as conseqüências. E câdê as premissas? Entáo ela ne_
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'_
cessário, cm primeiro lugâr, explicitâr essas premissas tal como estâvâm
no Evangelho. Âgora, leia o Evangelho e vejâ se é lácil tirar alguma
prcrni!54 doutrinâl dâli. Quais sãô os primcims prin(ipios mais Bcrais
e quais os princípios derivados?
Veja o eslorço monstro de passagem de um discurso milopoótico para
um discurso iógico estrulurado. Tcnr que se pâssar por todas as fases,
retódca c dialética no meio. Nunca houvc um eslbÍQo tão grânde nesse
sentido, e por isso mcsmo isto âqüi é a espinha dorsal da civilizaçáo.
E não só da civilizaçào ocidcntal, poÍqüe no mundo islâmico se terá
exatamente o mesmo problema logo depois. O mundo islâmico náo
fârá senáo imitar este mesmo procedimcnto, com algumas diferençâs
específicas. Umâ providência que eles iomarâm, e qu€ talvez tenha sido
sábia, é resgüardar os aspectos náo racionalizáveis da dout na- Isto é,
entreosvárioselementosquecompócnadoutrina,tântocristáquÂnto
jslámica, existe em prinreiro lugar a Revelâçáo; cm scgundo, a tradiçâo,
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lcrratiAçáo tenr quc scr um só, unificado, e a doutrina que se obtiver
doutrina c stá. O fato mesmo de quc cxistam várias sumas mostra como
náo fácil lâzêlas, porque, se tivessom accrtado na primcirâ, teriaüma
ó
só. Mas âté chegar à suma âinda vai corrcr unt pouco mais dc tinta aí.
Uma vez âdotâdos esses dois prcssupost(,s i§to ó, de que o conteúdo
da Revclaçáo é racional c de que, portanto, o universo é racional ,no
momento deseencontr quâis sáo os princípios quecstruturam racio_
nâlmente aÍealidade, vai-se teÍ quc puxar esses principios dedentro do
próprio Evangelho, e o fato é que existem inúmeÍâs maneiras de fâzer
isso. Aí comeQam a surgir ptoblemas-
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Um problema é que o suieito tenta uma sintese, mas esta síntese
deixa de foÉ eoisas impoÍantes que, üma vez levâdas em consideÍaçáo,
derubâm a síntese. O suieito faz uma arma(áo lógica toda arumadinha
e diz: "Olha, está aqui â estrutura da doutrina cristá". Daí aparece um
outro suieito e diz: "Olha, mas tem uma frase lá no Evangelho que o
senhor esqueceu e que desmente isto". Entáo tem que começar tudo
ló
sonificaçóes, que permanecem inteiramente distintâs sendo umâ só-
Àí lá se tem um problema diâléiico monstro. Segundo: o problema da
Encârnâçáo, O que quer dizeÍ "e o verbo se fez carne"? Podemos en-
tendeÍ isso, porexemplo, poeticaments- Podemos eniender que, âqüilo
quc num ce o plano de rcalidade é um indiúduo humano, num oütro
plâno é üm discurso.
se em cima desse nível de vida que ocupamos, que é o nível hu-
mano, exisiissc um outro plano constituído inteiramente de discüÍso,
cnláo lcsus cquivâlcria a um deierminado discurso, como numa peça
dc leÂtro cnr quc, cada uflr dc Dós, :ro nrcsnn) tcDrpo cu sou eu, mâs
nâ(luclooll1ro ph ) sr)u o pc$onâ8crr (tuccstoü rcprcscntândo. Então
sc prxlcÍinnr dislirguir csscr ü,is plâIr)s. Mfls se há uora divcrsidadc de
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"sistemâtizaÇáo". que é a part€ racional e humana do negócio. Esta aqui
tem que ser um cco dâquela) mas acontcce que âquela náo se truduz
em sistematização poÍ si mesma: évocê mesmo que tem que fâzer, náo
ó Deus que vai fazer para você. Entáo vocô está fâzendo o máximo de
esforço racional construlivo e, ao mcsmo tempo, tem que estar ligâdo
à fó originária.
Náo pode haver maior tensào no espírito do que esta, pois vamos
supor qúc o indivíduo num ceÍto momento se concentra, rezâ, lê a Bl
blia, reza, e ele tem a resposia de Deus. Ele tem para si, náo sob forma
de douÍrina, mas sob formâ de rcsposta fática, respostâ real. Podemos
dizer: esse indivíduo coíhece Deus, mas ele náo conhecg Deus dou-
t nalmente- O lado douirinal é ele que vai fazer, e pâra esse trabalho
doutÍinal o esÍorao é exaiamente o contrário do esforço contemplativo
do homem quc cstá rczando. É un csforço oonstrutivo, arquitetônico
c 1âmttr:m ânâlítico.
Nâ iensáo entrc a 1õ c a inspiraçáo origináriâ e o esforço racionâl
construtivo, ali ó que surge iustamcnte todo o drama das heresias, das
interpretações paÍciais, dos erros, dos desvios. E precisamos entendeÍ
que, quandoum suieito cometiaumerro desses, os que cometiam effos
eram participantes do mesmo esforço; nâo era niÍguém que e§tava a
fim de sacanear, não. Havia um esforço coletivo de sistcmatizâçâo e
expressáo da rcligiáo crisiá, e lá pelas tantas um dos pedrciros come_
qou a construiruma parte do edifÍcio que náo combinâ com o resto. O
que vâmos lãzer? Às vezes náo se pode iogar Íora o quc o §ujcito fez.
Por quê? Porqüe às vezes o erro delecontém dentro dc si objcçóes que
podem ser prcciosas para esclarecer aqui o coniunto, cntáo náo se pode
iogar fora. Mâs tâmbém náo se pode dcjxâr como cstá- Isso quer dizer
que, com câda novo heresiarca qu€ apareciâ, âs discus§ôe§ podiâm se
pÍolongar por anos e anos- Hoje temos a idéia de que, se âparccia um
sujeito hercsiâra, meiia-se o cara na fogueirâ- Se tivesse sido assim
lcriü sido tácil, mas a doutrina crisiã não existiria.
Quando se chcga a construir o tribunal da Inquisiçáo, que foi em
1214, 1218, iá é numâ fâse muitissimo avânçada.lá é séctrlo Xlll, que
c a culnrinaçáo dâ EscolásÚca. Eles já têm Sânto Tomás de Aquino,
l)uns Scol, etc. A funçáo básica do tribunal da Inquisiçáo é examinar o
n tcrial cristáo, cxaninar tudo aquilo que está sendo distribuido como
'a
doutrinâ crisiá, e v€r seó. Mâs acontece que, às vezes, você também não
síhc sc ú, oú pcÍccbc quc tcm âlgo crrâdo mas nâo sabe o quê- PoÍque,
rn)lc hcnr, â intcrprct çiodo Ilvíngclhoóa trânsposiçáodo miiopoético
l).lr o ân litiro, clltru, a $crnprc ullr pÍolíon diÍiuil: há vários níveis
dc illtcrprclrçnt,, css(§ vr'r, ios tiv0is larl quc scr aÍticulados dc rnuilas
Ixrrr.irnscD(x nllill,s hr(l)s dilcrcntcs... Notc que, scvocêdcr u salio
dt.rlcz sr,cLrkrs c chcgur ar) súculo XX, vcrá que no dominio do direiio,
pol cx(i0rpl(). sonronlo ll() sóculo XX aparcce um sujeito que diz que o
cditicio do dircilo tcm que sertodinho rucional ebâseâdo numâ premissâ
riDica, como é a norma fundamental do Kelsen. Também a mim parece
(ibvioque, se nãotivesse havido todo esse gigantesco esforço, ninguém
tcria pensado nisso.
lsso quer dizer que toda a Escolástica é üma imensaapostanas pos-
sibilidades da expressáo racional hu mana de um conteúdo divinamente
revelado. Éaaposta mais dilícil que pode haver. Você também tem que
levar em conta que esse edifício da doulrina cristãainda náo está pronto.
Ele continua. De Concilio cm Concílio, cssc ncgócio ainda continua e
âs discussões teológicâs aindâ continuam. E váo conlinuar até o finl dos
tempos, pelo pÍóprio caráter iníiÍito da Revclâçto originituia. Aqu ilo tem
possibilidades quevocê não cntcndc, só entendc quando clas se rcvclam
nâ históriâ, quândo elâs âparecem dc alguin modo.
o {a1o de dizeÍmos que a Revelaqáo cristâvem numa lórmula mito-
poética náo querdizerqucela seja "mito" no conceito oposto à "histó-
ria". Normalmente o pessoal faz muita distinQào de mito ehistóriâ, mas
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acontccc quc umacoisaó um mito que foi inventado, umâ história que
foi invcntada, e outra coisa é um mito que aconteceu. A vida, paixâo e
moíe de Nosso SenhorJesus Cristo aconteceu. Éum con,unto de fatos
históÍicos com um sentido mitico. Semprc que isto acontece, tem_se
ali compactâdo um coniunto de possihilidades cujo desdobÍamento
tcmpoÍal será a Hisiória de uma civilizaçáo.
Assim como o ciclo judaico começa com o Gênesis e vai terminâr
na Jerusalém Celestc, o ciclo cristâo começa com o nascimento deiesus
Cristo evai tcrminar no Jüízo Final. lsso também quer dizeÍ que tinha
ali üm outrô elemento que só âos poucos foi sendo expÍesso, que é o
fato de qüe esta Revelaqào trazia dentro de si um modelo do desenvol-
vimento tcmpoml futuÍo em direçáo âo ruízo Final, continha algo que
vamos chamar de " Filosofia da História". Mas também nâo é exato dizer
quc é uma filosoíia da históriâ, porque tinha uma§ementc miiopoética
de múltiplas filosoÍiâs da hiskíria possíveis, todas iSualmente cri§tàs,
das quais a primeira expressáo é a de Santo Agostinho em scu livro
A Cidaile de Deus. PoÍém, esta possibilidade qüe Santo Agostinho é o
pdmeiÍoa cxplorar fica mais ou menos entreparênteses dutânte algum
tempo, e o problema da filosofia cristá da história só vai voltar a se
colocâr müito tempo depois.
Isto é para vocês terem idéia de como o edifício doutdnal nâo está
pronto. Podemos dizer tâxativamente que náo existe uma filosofiâ
cdstá dâ história. Náo existe uma doutrina cristá da históriâ. Existe a
possibilidade de umâ, existe a semcnte de umaque está dada no próprio
Fvangelhu, afinal de conlas o Etangelho diz que âs (oi§as conrccaram
assim e vão acabar assado- Como isso deve ser interyrctado? Se este é
o ârcabouço eterno da história humana, como é quc isso se lÍadüz nos
termos da história ieal?
Por exemplo, veja o problema que isto colocainstantaneamente paÍa
a própria Igreia como instituiçáo. Se a Igreia tem que durar no tempo,
zo
r,,r lrrzr) l,inâlnàoóparaamanhá-asprimeirasgeraçõescristâsacha-
vr r (üo iâ scr râpidinho , então a Igreja pas§a a tet um papel que se
l)rrll»ga no tempo. Qual é o papel da lgeia? Tirar essas pessoas destc
lrund{r c voltá-las para o outro? Sim, podeÍia ser Porém, ató lá, elâs
larr quc cstar crcscidinhas, é preciso alimentálas, vestilas, educá-las,
Ircparálas e, enquanto isso, darlhes ummeio de subsistência. Entáo a
lgreia, enquanio simples pofiadoÉ da Revelaçáo, é uma coisa, e a lgrejâ
cnquanto lbrçâ histo câmente atuante é outra. Qual é a ârticulaçáo
dclas? Você sabe? Eu não. Nem você sabc nem eü. Mas esse iá ó um
oulro problema que a Filosofia Escolástica inteira ncm mcxeu. Ficolr
lá com Santo Agostinho e depois, muito mâis tardc, no sa'culo XX, vai
2t
aos ponios que ela levantou, do jeiio quc ela levântou, no nível que
levantou. 'ILdo isso está inadequâdo: você está tÍâbalhando ainda com
os instrumenlos do adversário, e alé encontrar os seus próFios isso
é um problema. Veia como seria imporiantc hoje o problema de uma
tmlogiâ crisÍá da história.
A diferença básica da Revclaçáo crislãpaÍa a Teologia da Liberiâçáo,
e iambém da filosolia da história de Sanlo Agostinho para a Têologia
da Libertaçào, é que na primeirâ, na tcologia cÍistá, o fim da história
náo faz parteda história. O fim da históriaé a etemidade. Nâo sc pode
dizer que o Juízo Final seja um acontecimento dcntro da históriâ, ao
contrário, ele â âbarca toda. Éum momento em que todos os momentos
anteriores estáo contidos, porque todos seráo julgados ali dentro.
Náo ó prcciso scr muito esperto para ver que isto náo pode ser um
acontecimenLo deniro dahistória. Scria a mesma coisa quedizeÍ: "Olha,
o iulgamenlo do crimo náo faz parte do crime". Ao passo quc, para â
Teologia da Libcrtaçáo, a culDinaçáo dos tempos ó dcntro da história,
quc é exatamente aquele negócio caractcristicamente revolucionárjo,
gnóstico. de que a históriâ vai paraÍ, vai chegar num ce o patamar
de peÍfeição c dali parâ adiârrte o que vai acontcccr é ouÍo negócio
especificamente diferente que iá náo será mais a história. Como KaÍl
Mârx dizia: "Passarcmos da pré-história para a verdadcirâ históía".
Seria o que se pode châmar de "o fim da história" ou "o começo da
história". Pode ser o fim ou o começo, agora, história é que não seÉ.
Éntáo haverá dentro do tempo umâ espécie de pamdâ do tcmpo na quat
unla ccía socicdàde lemporalmenle e\istcnlc scrá corrro umâ e\pócie
de Jcrusâlém Celesie plantada estaticâment€ na suâ perleição por náo
se sabe quanto tempo,
O simples fato de â idéia da eternidadc scr rcbatidâ para dentro
de um certo tempo deteÍminado, por isso você iá vô, esse negócio não
pode ser cristáo! Cristo náo disse que â história ia tcrminar deniro da
22
hisi(iria. Falou qüe ia tcrnlinaÍ tüdo, é todo o orbe da manifestaçáo e
Finâl foi ontem, é hoie c scrá âmanhã, cstá scnrpre dc certo modo nesse
nurrncnto mesmo. É pcrmanente-
Apenas dentm dâ nossa escala podr,'mos vcr: â nossâ vidâ temporal
ó como sc fosse um certo raio que, partindo do círcuk), vâi rcbalcr nâ
superficie da esfera, comparuda a todos os ou tn)s raios quc csláo làzcndo
a mesmacoisa naquelemomcnto. Do ponlo dovislâdcssc único raio, a
csfeÍa está no fim, poÍque é só láquevocôvâi cncontrara §upcrlicic dela,
nras naveÍdadeéo raio que está dentro dâ eslera. Há unl dcsnivcl entrc
umâ percepçáo fundada na temporâlidâde humana e umaoutra fundada
Da eternidade. Atemporalidade humânâ podc ser compÍeendida desde
a etcrnidade, mas o contrário nao pode. Sevocê tentar compleendeÍ â
ctemidade dentro da temporalidade humana, o que fârá? lnventará umâ
pseudo-etcrnidade, que será a suposta forma final dâ sociedade, nâ qual
tudo será etemamente bclo (como é em Cuba, por exemplo).
É claro que essa é uma idóia deuma estupidcz monulnentâI, mas âs
idéias mais cslúpidas, quando expostas com uma certa complexidade,
embora se tornem mais cstúpidas aindâ, poÍ câusa disso mesmo elas
criam dificuldades e bloqucios scm lim. l§so quu dizcr quc, mcsmo o
teólogo cristáo sabendo que isto ó làlso, conú ó (luc ric vai responder
a este negócio?
23
haver sociedade nenhuma âssim, mas, sc houvesse.,. Também pode
acontecer qüe esse caráler estático dâ sociedade perÍeita final, perce-
bendo-se que isto é um absurdo, pode-se atenuar a idéia, dizcr: "Náol
Hâverá uma outra têmporâlidade, um outro nível de tempo", entâo a
idéia se torna aparentemcnte menos absutda.
Também nào é necessrírio dizerque, nesse ínterim, nos últimos tre-
zentos anos, toda a compreensáo dcsse edifício doutrinâl crisiáo "foi
pam a Cucüia". As pessoas náo são mais capazes de uu esforço deste
tamanho, nâo há mais rnnguém que seia capaz disto. No entanto, paÍa
respondcr a isto, para responder à teologia falsa, seÍia preciso ter a teo-
logiâ verdâdeira- E câdê a ieologia verdadeira? Não vejo outramaneira
sonáo reconquistá-la toda, rcconquistar os instrumentos intelcctuais
todos quc csse pessoal tinhâ e rcfazer dentro de si esta traietória que
loi a da Íormação da Escoláslica.
Muito bcm, os princípios nos quais a Escoláslicâ se bascou - a ra-
cionâlidadc dâ mcnsagcrÍ crisiá e, portanto, a racionalidade do real em
geral , isso nào inplicavâdc mâneira alguma a cxclusáode um elemento
dc mistório, um clcmenio incxplic.ável, só que esse inexplicável ia ser
reduzido ao mínimo e somcnie àquilo que estivesse no Evangelho. Vocô
náo vai inventâr [ovos mistéÍios, Se tem ponios ali que Deus reseúa â
explicação parâ si, entáo não seria nem um pouco râcional você ientar
explicartudo. Para explicar orestojá cstádificil, quanto mais esses pe-
dêços. Por oütro lado, esscs doi s pressupostos implicavam, para os que
trabalhavam nessa obra, â adoçáo de uma certâ técnicâ, e esta técnica
escolástica é iustamente o que vâi criar o modelo das sdmas.
As sumas são sempre organizâdâs :tssim: tcm-sc a colocaçâo do
problema na forma de uma pergunta; as várias altcrnalivas, as várias
respostas possiveis;os aÍgumentos pró e conÚa cada uma;â soluçáo do
pmblcma; e aí se tem a cítica final das soluções quc foram abandona-
das, que íoÉm impugnadas. Cada capítulo de umâ suma é organizado
74
,r\siIr, e à conclusâo final entáo servirá depremissa para demonstrâções
25
dizer que, mesmo depois da Reforma, do Renascimento, mesmo depois
de uma ampla descÍistianizaçáo do mundo, ainda estamos dentro dessa
oÍganicidad€ escolástica e gótica-
Nao sei o que âconteceria se isso fosse perdido ou esquecido de
todo, mas na passagem parâ a Filosofia Moderna obseÍamos iá àlgu-
mas catástofes cognitivas que suagem da perda de p€rcepção dessa
organicidade. Essâ perda, evidentemenle, nâo é vista como tal pelos
personagens que a üvenciâm a explicaçâo que eles dâo do que está
acontecendo é outra completamente diferents- Só para adiantar o
expediente, só pâra dar um exemplo da trânsiçáo do escolástico para
o modemo... PaÍa compreender uma certa filosofia, nada é mclhor do
que você ter idéia do que veio antes e do que veio depois. Vimos um
capítülo antes, e, âgora, se pe.guntarem: 'rE o câpÍtulo seguinte?". No
capitulo scguinte se tem o contrastc.
A Escolástica, segu indo Aristóteles (adaptândo-o c aperfeiçoando-o
cnoÍnremente, porque as cxplicaçóes de Aristóteles também sáo enor-
memcntc compactadas e obscuras), nos comentários de Sânto Tomás
de Áquino â Aristótcles, que é talvez a melhor obm dele, Aristóteles
aparece todo organizado como uma igreia gótica. Você tem mil chaves,
as châves váo se entremesclando... Ou seia, aquilo tem uma estrutura
poliíônicâ, na verdadc. É cunoso aié o sujeito falár dc polifonia, porque
durantc todo o peÍíodo gótico o canto ó o gregoriano, que é monofônico.
Mas a arquitetura iá era polifônicâ, entáo a polifonia iá estava dadâ nâ
estrutura da igreiâ.
26
i^luno: Mrs (...) essas üátias melodias üessupôetfi que sejam
ot\!fiizadas de ocotclo com essa u ídade? O suieito mais alto parcce
que (...).1
Sc náo tiver nenhuma conexáo entre elas não soarácomo polifonia,
mâs apenâs como mixóÍdia. O pessoâl âté tcntou no sécülo XX fazet
nras náo dá nadâ.
2A
,ll\ri, dc estudantc, dc intelectual, cortasse os laços do indivíduo com
ir suâ r)r'igem social. Â partir da hoÉ em que ele vestiu o uniforme de
cstudante, ninguém mais peÍguntava de onde ele vinha, qucm era seu
p ii quem em sua máe, se em nobre ou mendigo, se em da França ou
lla Alemanha. Tinla é que mostrar que era capiu de uma convivênciâ
dcntro das normas da vida estudantil e intelectual
Quândo tudo isso não se destaz no mundo modemo, mas é aban-
donado por uma parte dâ intelectualidadc em favor da vida inleleclual
LoÍÍo lrcelancet, é evidente qüe â primeira coisa quc acontcce é que se
pcrdc a possibilidade do diálogo internâcionâ|, nào sc tcm mais isto. E
isso acontece tustamente quando surye uma nova intelectuâlidadc já
náo universitária, mas palaciana, dâ qual fazem partc Dcscartes, Ma-
quiavel, Thomas Hobbes, etc, Eram ou âristocrâtas- como Descarte§, ou
servidores da classe aristocrática, como Maquiavel e Hobbes.lá üüâm
num ambiente completamente diJerente, e, evidentementc, também
as suas regras de convivência com as pessoas eram muito diferentc§.
veja, por exemplo, que qualquer livro de filosofia medieval que você ler
começa, geralmente! com umâ invocaçáo a Nosso SenhorJesus Cristo,
à Virgem Maria, alguma coisa assim. A pârtir do século XY XVI, os
novos livros de filosofia comcçam com u,n exóÍdio que em gcrâl é ba-
jülaçáo de âlgum rei, nobrc ou príncipc, alguórn quc dcu dinhciro paÍa
o sujeito escreveÍ aquilo. Basl isso parâ vocó dizcr: "Virou bagunça"-
Começou aí a corupgáo.
Náo havendo mâis a condiçáo do diílogo irtcrnacional, não se lem
mais a íiscalizaçáo sistemática. Náo sc podc csquccer que, dentro da
universidade mcdieval, o que quer qüe se disscsse cra dito parâ todâ a
congregaçáo, eniáo ia aparecer m uita gcnto discordando e reclamando,
e a algum acordo ia ter que se chegar ali. Àté quesechegava... Osu,eito,
quando alcançava a culminaçáo de sua carreira de professor, erâ conüdâ-
do a fazer uma sessáo do que eles chanravam q,restiones quodLibetalesl
29
o suj{jit() ticâva ali nâ Irente de ioda a congregaçáo - professores e cstu-
dânlcs- e tinha que responderbem â qualquer peÍgunta soble quâlqueÍ
coisa. Era uma monstruosidade, evidentemente, todo o conjunto dos
conhecimentos quehâviaali, o sujeito iinha que demonstrar que domi-
nava, É claro que era um universo de conhecimenlos mais limitâdo do
quc hoie, mas mesmo assim era um negócio monstruoso,
As ptóptias q estio es quoilLibetales mostravam a unidade de prc-
ocupâção da universidâde. Univenidadc não qucria dizer outra coisa
senão o conjunto dos estudantes e professores. Mais tarde vai-se inter-
pÍ:lar como tlioersitas literarum et scíentiatum (universalidade das
ciências e dâs letràs), mas isso é un sentido posterior. No começo, uni-
vcrsidadc quer dizer apenas "o universo de estudântes e professorcs".
Os novos intclcctuais que surgem dentro da casta aÍistocrática náo
perlencem â cstc univ.{so, c o público a que eles se dirigem é em geral
mcnos qualilicüdo irt(l(.cluülm(nt( do quc cle\. I unr publico quc lcm
maisdinhoiro, Inas lcü mcnos quâlilica(ão inÍelcctual. Entào, oconvite
ao charlatanismo aí iá ó imediato... Basta isso para se ver que a Filosofia
Modernâ não pode sel sériâ eln relâçáo à outiâ, é impossível scr; mas
podia pclo mcnos ter salvo as aparências. Para teridéia de como é que â
coisa muda repentinamenlc, você pode comparar, por exemplo, a teoria
da pelcepção que os escolásticos defenderam a partir de fuistótclcs com
qualqucr das teorias da percepçáo que aparecem em seguida.
Sobre apercepçáo, os escolásticos c Aristótcles diziam quc todo ob-
jeto tem em si, articulâdâs) uma multiplicidade de lbmras sinultâneas.
Por exemplo, se você pega um sapo, ele tem a fomra cspacial de sapo, e
por isso mesmo ele tem, considerado num outro plano, a forma visível
de sâpo. A forma visível não éâ mesmacoisaque a formacspâciâI, mas
cstáo juntas, náo sáo separáveis, Ao mesmo tempo, ele eÍrite um som
de sâpo, e se você o fritar e comer ele vaitcl gosto dc sapo- Esses vários
aspectos -o espacial, visíve], auditivo, tátil, etc. sâo as váriâs formas
30
.Ijr snrtosc inscparávcl compõe o objeto. No quc consiste a perccpçáo?
(\)nsistc âpenas na coÍreta leitura dessas várias Iormas, Se você o toca,
scntc o lormato cspacial de sapo; se o vê, interpreta aquilo como sâpo.
So, no lim, você icm idéia de que é um sapo, isso ocorre por quê? PoÍ_
quc, alóm de teÍ todas as formas sensiveis, ele tem a lbÍma intcligívcl
do sâpo, senâovocê náo inieligiria que é üm sapo. Sepcrcebeque éum
sapo, se percebe que este se enquadra nun conccito assim, é porque a
forma d€le é o coüespondente obietivo do que este conceito afirma.
Veiaque, no meio dctodoo prucesso sensitivo, exisic a inteligência-
Éa inteligênciaque intelige a íorma inteligível. Abaixo dela, há âs várias
oulras capâcidades que também são intelectuais, aseu modo, que tam-
bém sâo inteleciivas, a seu modo, que sáo capacidades de vocô apreender
cssas várias folmas articulâdamente num mesmo obieto sem esquecer
que vêm desse mesmo objeto. Aí você tem o desdobmmento dâs suas
faculdades nosvános sentidos: a visão pega os aspectos visíveis, o tâto
pega os aspectos espaciai§, etc.; ao mesmo tempo, o primciro nível da
síntese é simplesmenie â rcuniáo de todos esses scntidos num obicto
único, e a isso eles chamam "o scntido comum" «) se s s cofiu is),
que iá é um rudimento da intcligência.
Á teoria é bastante clegante, e de fato náo há nada que possa der-
Íubá-la; qualquer oulrâ coisa que você acresccnte, náo vejo como.,-
Náo creio que seja negável, por exemplo, que os seniidos próprios
como úsáo, audiçáo, etc. não captam as formas correspondcntes aos
outros sentidos. Ou seja, o olho não ouve, o ouvido náo vê, cada um
só pega o scu. Então, como é que você sabc que tudo estáno mesmo
objeio? Evidentemente, é porqucvocê tem a capacidadede fazcr isso
se você pega é porque pode fazer isso, Não sabcmos como funcio-
na, mas sâbemos que esta função existc, c a isto eles chamavam o
se süs con1ul1is, qu,e é a identificâçáo dâ fonte unitaria dos váÍios
31
Em pdmeiro luga! isso quer dizeÍ que Àristóieles e o§ escolásticos
viam o processo de peÍcepçáo como um simples processo de iaÍormaçáo:
entrada de infoÍmâção e sintese de infoÍmaçóes. Isto foi muitas vezes
irabalhâdo e Íetrabalhado em müitas versôes diferentes, cada vez mâis
elegantes. Derepente, apârece Thomas Hobbes e diz: "Istoé tudouma
besteiralO queacontece é o seguinte: o objeio da Percepçáo pÍessiona
o nosso corpo. e o nosso curPo de dentro reaSe a pressao. E assim que
se dá a peÍcepção". Por exemplo, se vocô apertar o seu olho, vê üma
luz; apertâr o ouúdo, ouve um som; quândo ouve um som de fora é
se
porque você está sendo aportado. lsto é o que na fâse modema se chama
uma "teoÍia da percepção". Mâis ainda, ele diz: "Os estímulos que vêm
do objeto apârecem em você como representaçôes. Se um obieto aper-
tou seu ouvido, você ouve um som, mas o som que você ouviu é uma
representâção. Esta reprcsentâçáo não está no objeto; o som que você
ouve nao é o som quc o objcto cmitiu, porqüe sc fos§e o som do objeto
ainda cstariâ nele e náo cm você. Portanto, em Princípio, náo há muita
rclaçáo entre o quc você oúve e o som quc foi ouvido fora"-
Mas isso nâo é üma coisa sóda. E as pessoas até hoie estudam isso
como se lbsse uma coisa digna de atençâo, quando é evidentemente
umâ bobagem! Mas é umâ bobagem exprcssa, âssim, com um tom de
superioridade: "Náo, aqueles cams vinhâm com aquelateoriâ da forma,
chamava espécies, que é da teoria da espécie, isso é tudo uma besteirâ,
na verdâde é assim: aperto seu olho, vocêvêumâ luz, puxo sua orelha,
você ouve um somi e) mais aindâ, o som que você ouviu náo tbi aquele
que emitiu! o som que e§tá em você não é o mesmo que está no objeto,
porque se estivesse Iá você não teria ouüdo nada". E assim vai. As
teorias de Descartes náo sáo melhores do que essa,
Isso é paÍâ vocês terem idéia do que é uma catástrofe intelectuâI.
Quando se passa de um esforço coletivo orgânizado durante séculos,
com milhóes e milhões de discussões enormemente cuidâdosas, para de
32
repente um sujeito que lá no castelo do conde tal inventou um náo-sei-
quê, e quando teve dinh€iro para publicâr o livm ele publicou. Só posso
entender isso como uma promoção de uma pseudo-intelectualidade,
promoçáo pÍoposital feita pela casta aÍistocrática para ver se disputava
um poucodo espaço com o clerc. só posso €ntender isto. 'Ah, ele§ tém
üm monte de intelectuais, vamos arrumâr uns tamhém. Pega uma grana
aí, tem um tâl de Hobbes, dá um dinheiÍo para c|e...". E, evidentemente,
sempre apareceráo pessoas talcntosas e ncccssitadas de dinheircque
aceitaráo isso, ou entáo algum aristocÍaiâ pode semeter alazersuas
própriss especulações depois qüe se aposenta, como, por exemplo,
fez Descartes,
Tendo este antecedcnte, este conseqüente da Escolistica, vocês iêm
reâlmente uma idéia do que foi isto e da força estruturante que isto
ainda tem residualmente em todas as nossas discussóes- Isto tem mais
forçá do que qualqucr Filosofiâ Moderna, porque nenhuma delâs abarca
um universo assim tão grande. Só podemos encontrar um paralelo de
esforço coletivo pÍosseguido ao longo de tanto tempo no marxismo.
O marxismo tem 150 anos mais ou menos, c cle é umâ colctividade
organizada que está [alando mais ou menos das mesmas coisas. Náo
deixa de ser uma escolástica, à sua maneira; é um esforço filosófico ao
mesmo tempo pessoal e coleiivo, da parte de câda um, e nâ qual c:rda
um, pariindo de suâ experiênciâ, de suâs veÍificações pessoais e de sua
própria busca de unidade do conhecimento na unidade da consciência
e vice-versa, propóe algo à coletiüdade, que lhe devolve com correçóes.
Neste sentido, o mârxismo é evideltemente uma escolásticâ.
Uma outra seria a psicanálise, Mas é evidente que nenbuma dessas
tem seja a amplitude de assunto scia a clovação dc inspiraçáo, e muito
menos tem a perfeiçáo técnica e â honradez intelectual da Escolástica.
Isso quer dizer que ainda dependemos da Escolástica, e para toda a
humanidade, quer saiba, quer náo, ela amda ó o ponto de referência.
33
Não a Escolástica consid€rada como conteúdo filosófico, mas como
forma de organização da atividade intelectuâI arraigada, por um lado'
na realidadc, na expeÍiência efeiiva, e, Por oütro lado, elaborada num
ediÍicio doutrinâl comum.
34
N4as claro que existcm, ó cvidente que existem! Se aparecer ali um
anjo, clevêvocê, vê o cachorÍo, entende tudo que você está percebendo,
o que o câchono está percebendo e a articulaçáo dos dois, etc. Mas,
note bemr tudo isto pressupõe uma estrutura não somente do sujeito,
rnas também do obieto. Ou seia, a idéia de formas a priotí dà percep-
çáo, só existem foÍmas, prioli da percepçáo porque existem foÍmas 4
p/íori da emissáo.
O objcto para o Kânt nen existe, ele só pcnsa no sujcito. Esie é o
problema qüe estudaÍemos quando cntrarmos Da Filosofia Moderna,
que é o problema da prio dâdc cognitiva do suieito, que é uma das
rnaiores cretinices queâlguém iá pôde terpensado ao longo dahistóriâ
- você achar que o sujeito é ceúo para si mesmo e o objeto é apenas um
lenômeno que se apresenta QuâlqüeÍ escolástico de décimo quinto
a ele-
escalão, táo logo você dissesse isso ele iá perguntariar "Mâs como você
poderia ser sujeito sem ser obicto tambóm?". Você náo pode conceber
o sujeito em si.
Vamos definü: sujeiio é aquele que recebe a informaçáo- lsso náo
é um raciocínio que se encontra em ncnhum Íilósofo escolástico, mas
que faço partindo dc uma inspirâçáo quc scriâ aristotólica - náo ianto
escolásticâ quanlo aristotélica. Quc diria Aristótclcs se cstivesse ouvindo
uma coisâ dêssas? Ele diria: "Muito sjmplos: o suicito é aquele que re-
cebe a intbrmação e o obieto é aquele que a cÍtilc". Você podc conceber
algum ente que somente receba informaqocs scm iamais emiti-lâs? Ou
outro que só as emita sem jamais reccbô-lâs? I mpossívcl, hein? Portanto,
tudo aquilo que é suieito sob ceúo aspccto c obieto sob outro ou sob
o mesmo aspecto, se você tem estroturas 4 2/rori do conhecimento
cnquanto suieito do conhecimento, vocô também as tem enquanto ob-
jeto, por isso que posso falar das suas cstru{uras- Nessemomento iá
e é
se você não sabe tudo a seu respeito, também náo sabe â lespeito de um
sapo. Mas isso faz parte da sua estrutura e faz parte da estrutura do sapo
tambóm. você náo pode saber tudo a respeito do sapo por quê? Porque
o sâpo lambém não pode marufe§tar tudo o que ele é simultaneamcnte.
O coitado dô sapo só pode emitir certas informações a cada momento
Ele tem uma forma de existência tempoÉI, náo tem a simultaneidade da
mânifestaçAo; portânto, ele náo pode ser conhecido na suâ inteireza Por
outÍo sertemporâI, pois ele tâmbém nâo exisie em sua inteieza. Entáo'
se você náo sabe tudo a respeito do sapo, issô náo é uma deficiência
sua, é uma deficiência do sapol E o conhecimento que você tem dele é
limitâdo porquc elc é limitado; portanto, esse conhccimenio é perfeita_
mente adcquado à Iormâ dc existôncia delel
Isto aqui qualqueÍ escolástico perceberia no pÍimeiro momento.
Mâs acontece que, quando Kânt abre a boca para falar desse negócio,
os escolásticos jánáo emm mais escolásticos, eram e§colásticos já con_
taminâdos de racionalismo clássico, como Christian WolÍf, que era um
escolástico meio espinosano, meio cartesiano. Náo eram mais escolás-
ticos de verdâde. Mas Santo'Ibmás de Aquino, nem precisariâ
se fosse
pensar, dormindo ele diria isso: "Olha, aüsa esse idiota qüe é assim,
assim, assim". Ele náo conhece o sapo_em-si porque o sapo tamÉm
náo está lá em-si! Como é que o sapo iâ estar_em_si, que sapo é esse?
O sapo teria que estâr presente com a totalidade dos seus momentos
num só momento. seria o suPersapol
37
cÍrururâ lógicâ, nào é o proccsso rcal.
Essâ é outm conlusáo quc nenhum escolástico lãria o que ú a
cstrulura dc um proccsso com o que ó a sua realidade temporal. Tem-
poralincntc, tudo isso é quase simultânco. fâz se ludo isso âo Drcsmo
tempo Não vou ter primciro a seDsaçao dc mariclâda no dedo pârâ
dcpois peÍceber quc dei umâ martelâda no dcdo, pelo amor dc Deusl
Voce iem a scnsação no mesmo instantc em quc tem a pcrccpçáo. Mas
que são coisas distintas, sáo. O ialo da martclada no dedo é distinio da
dor, claro, só que se percebe como síntcsc. Então essc proccsso - vai
üâs scn.â(o(. pura i' flndgcnr ctc. .. nLrnca p(n\r qLrc a\ c,,i\a\ ruo
reãLncnte assilni elas são csqucmaticamente assim. Todo csse esquema
se dá dc fato dc mancira quase siÍruliânca e absolutamenle inscparável,
porquc ô isso rrcsmír {lue nos dá a vivênciâ do quc ó 'rcalidadc": éa
inscparâbilidàdc dos âcidcnlcs.
ser verdâdeiro. e ao nresmo ienrpo é trágico. Náo podc sci . Mas. olhe,
não vejo escapatória.
40
Claro. claro I TYôs séculos dessabobagem só podiam icrminar lnesüo
r,) malxisn1o, nessacoisatoda. Eu diria assim: é unla câtástrole intelec-
tual loÍÂdo comum. Mas isso náo querdizer.. não podemos idcalizaro
pe ríodo cscolástico. Por qüê? Porque dentro dele você tinha as sementes
(lcssa cojsa todâ já. A idéia mesma dcvocô fazer oma exposição uniiá a
r sistemática de aoda a doutrina, poÍ un lâdo. é uma idóiâ rrajcslosa,
I)âravilhosa, mas, c se náo der parâ Íâzct isso? I1 sc a paricquc devcsse
scr dcixada ao mistério e à expcdôncin dircla dcvcssij ser um pouco
nrâior, como lbi ieito na Igrcia OricDtâl'l làlvcz iLrtrciurassc nrcllxn:
Você náotem uma suNa nâ lgÍcja Oricntâl A Igrcjâ Oricnlalconli
n ua na lâsc patÍsticâ alé hojc. sa)escrcvc sobrc aspcctos delemrinados.
"Viu, vamos aqui rcsolvcr todos os problenas da origem do mundo, o
pÍoblema dacultrrâ, dâ hislóriâ, iudo, tudo baseado na Rcvelaçáo cristã"
- clcs nunca tentâram fazer isso. É isto: "Vâmos pcgando os problemas
à nledida queeles âpârcccm". Evê-seque, ao longír dos tempos, algrcja
Oriental sobrcviveu mclhor do que a Ocidental. Ela sobrcviveu melhor
âo comunismo do que a nossa sobrevivcu ao capitalisnn,. Eles sobrc-
\ i!11n melhor i porrrdà do quc ao dirh( iru: l'l p rqu. rlrurrrrr li,rçr a
mais tsm, talvcz tcnha LrInâ Ilcxibilidadc rnâi(n tnn'quc... NuDr nruseu
nâ ltáiiavem iudo mislurâdo: "listá uqui unr quadro do sóculo XV com
unrâ eslátüâ do século ll. c dai... '. lir dissc: "Mlls c il5sinr rrcsoro?". E o
guia dissc: "Essâs coisas prccisârrr dc (rrr porc(, d. coDfusáo". Igreia
O ^ Por
entãl também, essas coisas prccistur dc unr poLrco dc conlusão
quê? Porqüe é mais fácil pcgâr a roisa às v./cs p( n inspiração poótica do
qüe explicar iudo; cxplicar tudo vai lcvlr rnuilo lc po.Aliás.csseéum
dos princÍpios do esoterismoi "Não cr pliq uc nada. Você d;sse. Iintendeu,
entendeü; não enÍendeu, cntcndcssc'. L oulra via possível.
I^lúna lb rna úelha histótia que diz (...) que dàt di heitu é
umacoisa, dar Ík»es é oultít, e o natnorudo queüaí dar a rcso paru a
túfiofada é ouÍro..- ()s muiÍos seiíidos que a tnesma...l
Senr sombÍa de dúvida. Agora, parâ ser todas essas co;sas ela tem
que ser a mcsmai porque se lossem duas rosâs já nâo valcria.
I
l:s1a muttiplicidade dcaspectos 1ãz parte da eslrutura do objcto. Tudo
já tcm esla capacidâde de lervários aspcctos e dc mosirá-los de âcordo
conl ángulos diferentes. O que ele náo tem ó a capacidadc dc trocar.
Por exemplo, você chcga cm casa c tcm lá uma mulhcr Você achâ que
ela ó a sra mulheÍ e o seu lilho êcha que é a mão dclc. Dá para 1rccar?
Conlo ó quc ela podcria? Ela lambém náo pode. Vocô náo podc irocar
de posição, nem cla, entáo clsa náo ó umâ limitação cognitivâ. O que
os caras cs1ão querendo nos vender como uma limitação cognitiva é a
12
rsirulura do mundo real, Dcus do Céul Que ú fcilo todinho de aiustes,
dc perspectivas entre {ormâs, como iá dizianr os escoláíico§. Um mes-
nro objeto é umâ sínlese de ibrmas clilercntcs, irlscparávcis nele, e que
sc mostram dilêrcntemcnic parâ obscÍvadorcs ditcrcnlcs en sitüaÇoes
dil(r(nle.. ma\ quc rambim ni,', sr,' lÍn lfi\
(...) eru uma coisa tdo Íorle, enlào, ne!úlibafircnle (.-.) que
l{lütto:
fieparece que tem que lerais aLgutna coisa aí Ou seia, tudo befi, o
suieito efi melido porque nào ha ia pessoí\s itltêrcssodas em (..-)-l
Náo, espera ai. o porquô dessc ncg(;cio, isto já é um abacaxi do
lâmânho de unl bonde. Estou mc dcdicando há algun tempo, e vou
dcdicar mais alguns anos, à dcsctiçáo do quc aconteceu. Agora, sabcr
por qüe acontcceu, você tem o resto da suâ vida pam invcsiigâr, c não
+l
vai dar tempo, Só pâra pegâr aütor por autor e ver como é a estrutura
da cxpressáo dele estar deslocada em relâçâo à estrutura do conteúdo
do que ele está djzendo cà situaçáo de discurso, isto iá é um problemão.
VeÍ como isto aconteceu sistematicamente, a paíir deuma certa época,
tcntar mais ou menos ver quando começou, qüem entrou ncssa, quem
náo enirou, isto já é um problemâ.
É assim: estou cdando um conceito hisiórico, a "era da paralaxc".
Você criar o conceito histórico... Vocô tcm uma estrutura que pcrmite
a descrição unificada de um grupo de fenômeno§. Só na horâ em que
você pegou a unidadc do fenômeno é que Íaz scniido tentar investigar,
ialvez, as causas dele. As minhas pretensóes nào chegam a ianto, saber
por que isto aconteceu..- Em primeiro lugar, já é suficiente, para que você
saia de dentro dcssa órbita, dizer: "Não sei por q ue aconteceu, mas cssc
negócio aí náo quero ráo". Sevocê soubcrâs causas, melhorainda. Mai
sem dúvida, entrc as inúrnerâs câusas, vocô podc dizcr que a c âçáo da
nova classe inlclcctual palacianâ é ccrlamcntc unradelas. Por ouiro lado,
isto tambóm nâo aconteceria se náo tivcsse havido antes a opçáo pela
exposiçâo global s,stemática. Entáo, antes de iÍvestigar propriamente â
causa, a gcnlc lcm quc \ er uma lisla de condiçôt's scm a\ quais a coisa
nao aconlcceria. Des\as condiçoes. algumas serao causas
ÍAlunot (-..) O suieiÍo cofiseque escleoer uma coísa sem... (...) ele
es i substitui do o mufido pot uma outra coisa que ndo exíste, por
efietfiplo, ou íantasia... ele esíá sübstihrinílo a realídade por üfia
Íahtasia (...)?l
Ainda existe uma outlavariável quc eu náo tiDha levado en consi-
demçáo até agora, mas queestou corneçando examinar Tcm um ouilo
a
pÍoblema que é o ncgócio da escrita ciliada, quc foi csiudada pelo Leo
Strauss. Leo Slrâuss descobriu que muitas das obras de filosofiaesc tas
nesse período têm uma cspéci€ de linguâgem cifrada e que, sem você
rncxer com isso, náo consegue entender direiio Às vezes, um âutor
parece estar ilizendo uma tremenda burrada, mâs não é üma tremenda
quc
burrada, éum eÍro propo§ital que ele está pondo ali Parâ atenuar o
elc mesmo ilisse antes. Por exemplo, háum estudo do Leo Strâuss sobre
Maquiavel onde ele diz: "Olha, Maquiavel parece ruim, mas vamos ver a
escrita cifrada". E quando tcrmina dc veÍ iá é muito Pior Estâvontade
de ocultar partes do pensamento às vezes ó para driblaÍ uma censurâ,
um prctesto público, uma coisa assim, c às vezcs é sacanâgem Pura e
simples.
pot que
ÍAluro: Uma úez peryu tei pafi um proíessot lti da USP
detemli ados aulorcs escreoíarfi (Le loú1a tão complicada o prcÍessot
rcspo íLeu: "Se fiào Íosse assin, não Íeria graqa" l
É, vamos ttizer, por motivo lúdico, entáo. Quc coisâ, hdn?
ÍAltrno Não, não é só isso! L,stoudize ilo que a parula@ é' entre
outrus caisas. uma forma de substiÍüi a tealidade pot ('- )' pot ufia
Íantasia, ao é? Mas ela oem nessa fiaré o mesfio fiofienlo em
que
k)gica. o prciexto conr quc vocô a ius(ilic.r tcm outrrr ligict{. lintao, tcrrl
e
+1
ser Mas você conhece um suicito que faça uma coisa dessas sem subir
nâ vida?
Mais ainda: o sujeiioque organiza umaaiividade cconómicâ só ganha
dinhciro. OIhe, o dinheiro só tem o poder dc comprar o que os outros
quiseren vendcrpârâele, é um podcr limitadissimo. Vocô, náo, âdquiÍe
poder dcgovcrno:pode mandar prcnder as pessoas. podc mandaÍbater
nclas, pode làzer um montc dc co;sa. Você tcm coisâ nuilo melhor do
que o outro ganhou, que é só dinheiro. Você tãz um irabalho pior e
ganha muito maisl
Essc raciocinio, iáo logo cnunciâdo, vê_se quc ele é óbvio. No cn_
tanro, a idéiâ, quando as pessoas falam em "iustiçâ social". o quc esiâo
querendodizcr? Queooulroqucganhoudinheiroorganizandotrabalho
é mais imorâl que aquele quc está orgâniTando crime. O capital dclc
ó csse: sc não houvcr pcssoas ressenlidas. acâbou o problema, clc náo
consegüc. Náo intcrcs§a se o rc§sculi,ncnto ó justo oü iniusto se lc,r
injusto vai luncionâr do rncsnrc nn)do.
Gcrâlnrenie, as pcssoas quc se intcrcssâui por isso, que cstáo em_
pcnhadês nisso, elas de lãto não sc intcressân eÍr pcgar o culpado
verdâdciro. O culpado vcrdadciro é o que nlcnos intcrcssa. Interessa o
scguinte: tem um outro que lambém lenr pode! ele enião qucr tirar o
poder deste. "Seja cl(r o culpâdo ou não, é cle que ienros quc iirar de
lá. então, parâ todos os eleitos, se náo é o culpado fica §cndo." Podc
scr o FHC ou qualqucr outro. E, assim, a rclaçáo de causa e clcito quc
as pcssoas vêem cntle a presença de um su;cito no govcrno c a sua
própÍia situaÇáo vitál e;mediaia.() sujeito eslá gânhando pouco, a
culpâ ó instâ ianeamcntc desse mesno prcsidcntc que cstá lá naqucic
momento. Mas não tem nexo causal, cntrc a polílica económica do
FHC e a sua siluaçáo náo tem nexo ncnhum, ncrrhun. A nào ser que
vocô scja um luncionário público. um olicialdas R)rças Armadas, efaz
um iempão que vocô náo ganha um aumcnto. Você acha que ganhâr
+8
aumento é natural. quando não é. É quc você simplcsmente tem um há,
bitor no tempo da inflação tinha aumenlo dc ,,)i", e agora vocô
continuâ
qucrcndo. Oulrâ coisa: você âchâ quc o seu trabâlho merccc aquela
rcmuncração. Você Dunca parou para pcDsar assjm: ,,Espera âi, mas o
quceslou làzcndo para mcreccr? Qualó â nriD hâ conirjbuição cieiiva?,,.
Assim que vocé lbr mcdir isso: "Pam qoc scrvc o rncu scrviço? Elc náo
se e pârâ nada'r... Há um montc dc trDci{n)ário pribliro seguro dc quc
o cârgo dclc não seÍve para nnda, no cnl nto, clc acha injusto rào ter
âumcnto. Náo tem isto?
Vor. achaouc,r r'r,isa tu.lir (:,F,ara, th( pàEàn.rn pcri vu(L nàn
|àzer nâdâ? Dar aunrcnlo... E ao rnesmo tcmpo iinha,sc aposcntadoria
intcgral. O conce;to do justiça quc eles têm... c dcpois dizcm quc os
outros sáo corruplos. O iuiz Lalâu? O juiz Lâiâu pcrto de você é um
saniol Tem cvidcntemcntc uma menialidadc de delinqücnte.
[Alrna O sefihot soube da piãtla tlo rlia? I)izeü que o Lula lalou:
"Esqueqit o que nào escÍerri".l
Vcja, esses prcblcmas polílicos hojc jú su'Xcn) dc llnrâ basc outtulal,
social, psicol(igica 1cn'ivcl. tlstarrros criando unra l1açáo dc dclinqilcntcs
nrcsnro. Ele acha quc as pessoas não pagârcn) pck) que Jlc ào lez éutl:l
supremo insulto à dignidadc. É a primcirâ raçâo na história quc ostá
sendo constluida com basc ncsses pressuposlos: quândo vocô nasce, já
tcm direiio à renluneração pelo falo de ter nascido... Tudo isso ó elêjto
sem causa. e no fim concluo assin: ,,Náo, tem lá uns....'. É o negócio
do motorista: "Há uns quinhentos bandjdos, se matâr acabâ ludo, fica
tudo bem".
19
qão l
l\lúÍra: Efifio! (...) O cotlsutno sem üod
O consumo sem Produçâo. . l'i
dirciÍo de cobrcr
l^luno: Pois á, ,,as il id éia de qüe a estatlão len
imposÍo, ort mais ünposlos. pltâ podet dar pttta o fiais pobrc' E
scmprc utido de tinha (...)...1
dislribuicão dc rcndê parâ o F:stado. qucm Ú que náosabc? "Va-
Isio ó
ganhar
nnrs ganhar unr pou{Irinln) dessc Viio dislribuir â rcnda vâmos
u pcdacinho."... l\4as cles vão gar)har um pcdaço Druito nraior. é claro'
50
v()cê se colocou âinda mais na mão dclc. Qüando com€ça a discussào
''Quel» deve cuidat diss(r aqui, â inicialivâ privada ou o Esiado? ,
vocô iá sâbc quc ó o EstadÍ). Quando lcvânlou a dúvida, sâbe, ó claro.
quc é o Estâdo. Qucln ó quc adrninistrâ a discussao? Quen é que vai
dccidir, no tim das contâs? É a iniciâtiva privada que vai decidir se
cla dccidc? Não, quen decide se ela decide é o Estado. Qucn dccidc
sobr(r â órbiia da sua âiuação é o própÍ;o llslado. Somenic o tsstado
sc limita a si mesDro, e só sc lirriia naquilo quc clc não pode lâzcri
aquilo quc não consegue Ia,,rr oslti lora dâ aluuçao dclc.
5l
ente üfia
l{luno: E é pot isso que üfi Estado nu dial setia certa
ililadtúa. paryue ào hti u a culÍ ra |nüfidial q e possa - )
Sem sombra de dúvida.
prificípio élico
lAluno: Nro, tliio! Não lenho como o se,ufule: o
básica, tlas cioiliza.los pelo ne os (éo qüeconstilui 'neu arqumenlo)
é de qüe as pessoas só poden ser rcsponsabilizadas pelos se s atos,
e
,2
I \lrdol "Síi
qucrcmos proclatnar mais um dircitol ' O Eslâdo, qrân1(,s
(iircilos vocôquiserele lhe dá, porquc éele mesmo que vâi gârantir Ertíio
cadâ uovo dircito tetn Iá mais uma vaÍa especiêlizada. mais uma dclc
ll.rria especiãlizada c mais uln imposto para financiar. para subsidiar a
tlplicâção daquele direito. lintáo teÍn que sâir lora dâ coisa de direiio.
lAlüno: Sim, mas a nleru Íorya rctótica desses at\unrctllos nào tem
tlgunla iillLuência sobrc o Eslado? Sobrc os oultrs...l
Tcm, tcm influêrciadco Estado, se scntirqucvocêlem razão, achar
quc ele d€ve assegurâr os scus dircitos c quc pâra isso clc prccisa icr
{)s rneios. Essa pâlavra- "direiio". é uma palavra rnaidital Cadâ vez quc
ialaln: "Vocô tcm um dircito'. digo: 'Pclo amor de Deus! Tenho tcrror
dc ler direilo. Vocô icm direito, vocé tcm problcmas"-
É o tal negócio: quando você nasceu. nirguónr pcrguntou sc vocô
tinha o "dircito" dc nâsccr ou não; hojc iá rrccistl icÍ. ârr conq istár {,
dirciio, não é? Artigamcntc âs pessoas âpcnlls ntlsei:rnrl I) írplrcccu
unra novela de rádio qua cllanlily-n () tlitcila fu rrsc.r. prrnl(). ai jrl
cornplicou.
Na hora cm quc comcçaram a dclcndor (r dircito de nascer pl{nrto,
comcçaram a natar criancinhâs Nâsccr Duncâ loi un) dircito, cÍa ünra
rcãlidade pura c simpics. Agora, ludo quc cntra dcntro dâ csfcrâ d.)
diÍeito. da esfem do iuÍidico. enlÍâ nâ esfera cstâtâl; e lodo o chamado
'progrcsso das inslituiçocs" ó o que o Miguel Reale chama "o prccesso
dc 'iurislãçáo' da socicdadc": tudo vai vn ando iurídico. tudo. Nos Esia-
dos Uridos, porexenplo. você náo podc entür sozinho commulherno
clcvador, porquc cla vai dizcr quc você t'cz assódio scxual. En1ão agora
já há unla Ici: cntrou sozinho no clcvador iá ó suspcito. Chcgou a cssc
ponlo, é â lei que regula os hoDrcDsl
Como quc começa isso? Ioicsso "dircilo". Quer mais direito, mais
ó
5ó
é uma responsabjlidade sua. Mas tem coisa§ sobÍe âs quai§ você náo
tem ingerência, não icnl poder de mcxer, enlão, por que vai assumir â
rcsponsâbilidade moral? Por cxcmplo, quando se prende um criminoso,
prende-se para puni lo ou prende para reeducá_lo? Essaé uma decisáo
moral terÍível, pois, se você pÍende para puni'lo, cntão assumiu o lugar
dc Deus: se você prende para reeducálo, assumiu â responsabilidâde
de reeducá-lo, coisa que você náo vai conscgu;t lazer Entáo, por quc
não iustificar assim: "Nós o prcndcNos sinrplcs enlc porquc náo o
agücnlamos nas ruas. Náo é por causa delc, náo, é por nossa causa. Não
tenho nada conlra ele, só icDho a nlcu favor, pois náo dá pára a gentc
agúentar ele aqui."l' Está enlendcndo? Você está conlêssando-..
51
âo mírirno. Quândo Deus diz 'â vingança é minha", Eic sabc iulgar e
âgücr)ia o lranco. A gcnte náo sabc, a gente náo âgüentâ, cntáo vamos
nos âbster de julgar tudo o quc pudermos rcsolver sem julga ento...
':^h. tem coisa que não dá..." lirm coisa que ó responsabilidadc §ua
nlesmo. Hoje a socicdade, o Estado, é um Dcus, it ga tudo - e qüanio
nrais responsabilidade motal atirar sobre suas ptóprias costas melho!
porque o Estado náo dá responsabilidâdc, clc cobra mais imposto. Por
exemplo: 'Agora somos responsáveis pclos pobrcs, dá unr dinhciro aí".
Se issovâi tàzer bcln para os pobres eu náo sci, mâs para o Estado, isso
vai. O benefÍcio âo pobre é apcnas uÍra hipritese remota iá o autncnto
dâ arrecadaçáo é imcdiâlo, e no fim das contas é somentc isso que
intcrcssa. Issc bicho crcscc. Como é quc sc diz? Essc é pioÍ que Aids,
a pior qúc...
Isso. mas daí iá inventâram aié o Imposto dc llcnda, qüc nâo exis-
tiê e que d umâ imomlidade. O Inposto de Renda ó uma imoralidade,
58
lAluna: Os porres es/áo semprc ali (...)l
No Brasil. uma vcz acharâm qüe o negócjo estava muito burocrati-
zado, inventâram o MinisléÍio da DesburocratizaÇáo. Lcmbram disso?
O ministro era o Hólio Beltráo.
scndo invcstigados, qual era o prejuízo global, e viu que aquilo ludo
oustâva nenos do que uma CPL
laxe entra por trás de tudo isso: o sujeito está vendo uma coisa, mâs
ele cstá râciocinándo sobre ouira completanente diferenic, assim náo
pode acerlar nuncâ.
ó0
Quer dizer que, so o proccsso da paralâxc comcça colll umâ inie'
lccÍ.,Jlidadc ÍreelatrceÍ, acho quc tcm quc scr oulra intelectualidade
h'eeLaficer paía clrÍar- Mas tcol q uc scr u nrí ir)iclc cllualidadc Írcelancet
investida da antiga rcsponsabilidadc univcrsil/üia. porque a noderna
náo tem responsabilidadc nenhunrâ, podc iazcr quâlqlrcr coisa. Eles
conquistaram o privilégio social de podoÍ cscrcvcr qualqucr bcstcira.
Agora, como é que se vai conscrtar cssa inslituiçr'll)? Irica aquela idéia:
as universidadcs devem ser eslâtâis ou privadus? Sou a l;rvrn d.r sxiiuçáo
de todas por igua,, estatais e privadas.
6l
M§ts útç'q.d.â§brtt*fet@dt Parxtu§r,ít ai4x.
li{dii coisrn' lt'lir
ffnií'Bilf4!, 199§.r
@l$nN,rri{iitiirá.erii.àÊdi6,
Its&iil Bd4.Íà6íi n
Dadc Inlmacionais dc Catolosêçáo .a Puhlicaçio «lr')
(Cdnea BrasileiE do rivm, SII lklsil)