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aos seus leitores textos clássicos da literatura econômica que versam sobre a Bahia e o
Brasil. Além de colaborar para a preservação da memória de contribuições intelectuais que
foram muito importantes para os estudiosos da economia regional a RDE pretende, com
esta iniciativa, tornar accessíveis às novas gerações trabalhos preciosos de difícil acesso
nos dias atuais.
Inaugurando a série é divulgada uma análise da economia estadual nos séculos XVIII e
XIX realizada por Rômulo Barreto de Almeida, considerado por muitos o maior
economista baiano do século XX. A matéria selecionada foi apresentada na primeira
conferência de um Curso de Economia promovido pelo Instituto de Economia e Finanças
da Bahia (IEFB), em 7 de novembro de 1949 e posteriormente publicada pela Revista de
Economia e Finanças (IV (4), p. 70-78. Salvador, 1952) daquele Instituto. Vinte e cinco anos
depois foi reeditada pela CPE na revista Planejamento (Salvador, 5(4): 19-54, out/dez
1977) da qual se extraiu o texto seguinte.
O Editor
1. Conjuntura internacional res livres e até mestres, leiloou os e não cuidavam de melhorar os mé-
Nos últimos decênios do século escravos que já escasseavam e enca- todos de trabalho. Certo, houve
XVIII, refizera-se a Bahia da crise receu o preço de tôdas as utilidades, imprevidência por parte de muitos,
que, com raras interrupções, perdu- ao mesmo tempo em que, com os não fazendo reservas nos anos bons.
rava desde a primeira metade do sé- embargos ao comércio com as Minas Falava-se também na “ganância” dos
culo XVII. É verdade que, no fim Gerais, era a Bahia impedida de com- intermediários e financiadores. E
dêste, o desenvolvimento do merca- pensar os seus prejuízos com o lu- ainda os impostos eram pesados, não
do europeu para o fumo, atenuou a cro dos fornecimentos para os ser- considerando o estado de depressão
dependência do açúcar. Mas a expor- tões do ouro. Enquanto a competi- da lavoura, e sendo lançados e
tação do fumo não poderia substi- ção das colônias de outras potências coletados de surprêsa e em épocas
tuir a da principal lavoura e indús- européias crescia, os custos de pro- muita vez impróprias. Mas todos
tria, fixadora por excelência de civi- dução também se elevaram assim êsses fatores foram realmente secun-
lização. E o açúcar teve a sua crise inevitavelmente. dários face àqueles dois que aponta-
agravada com a febre de mineração Costumava-se imputar a deca- mos. Também não era a baixa quali-
no século XVIII, a qual arrebatou dência da indústria açucareira à cul- dade dos produtos a responsável
para a aventura os seus trabalhado- pa dos produtores, que esbanjavam pela decadência das exportações.
”
os mesmos transportadores, encon-
travam entraves descoroçoadores,
Tal o prestígio dos princípios teóri-
cos vigorantes na época.
Apesar de ter aumentado a la-
voura, a situação dos pequenos la-
antes, a Câmara da Cachoeira reins-
taurava, numa postura, a obriga-
toriedade das 500 covas.28
Durante o período considerado,
no desembarque, no fisco, na com- vradores era má.”Fui testemunha há houve um grande impulso na acli-
pulsória entrega ao Celeiro Público, ano e meio, estando na povoação de matação e cultura de plantas exóti-
na distribuição dos talhos de açou- Nazaré, da desgraçada sorte do culti- cas, inclusive árvores frutíferas. Ao
gue, na incerteza e especulação dos vador de mandioca” (ainda F. Câma- que parece, a fruta pão e a jaqueira
preços, que entretanto estavam su- ra, para quem a solução era a liber- tiveram nessa ocasião maior difusão
jeitos a provisões quanto a máximos, dade de preço e do mais). no Recôncavo. Os quintais, as chá-
apesar da citada medida liberadora A tragédia, porém, era que, além caras e os jardins se terão enriqueci-
dos preços. Os lavradores eram tra- da diferença de poder econômico e do, e isto não terá pequena impor-
tados como uma classe tributária da político contra o cultivador da man- tância sôbre a alimentação regional.
grande lavoura de exportação e das dioca, outros fatores estruturais
populações urbanas, que tinham a eram também desfavoráveis a uma 4. Mudanças de perspectivas
seu serviço as autoridades. Ferreira próspera economia de abastecimen- A situação favorável, apesar dos
da Câmara, liberal esclarecido, se to. Enquanto os preços de exporta- pesares, da economia bahiana no
opunha a isto: “É muito ordinário ção estavam altos, todos os recursos comêço do século, se altera depois
ouvir aos que nada produzem e ain- se voltavam para êsses produtos profundamente, em razão principal-
da àqueles que se dão ao gênero de nobres: açúcar, algodão, fumo. Dimi- mente de dois fatores: os prejuízos
cultura mais lucrativo, que é o da nuiam, ao menos relativamente, as materiais da guerra da independên-
cana, queixarem-se da carestia da lavouras de subsistência: menor pro- cia, e a mudança da conjuntura in-
farinha, que talvez é o que menos dução, enquanto havia mais dinhei- ternacional.
convém a cultivar, e fabricar nesta ro procurando farinhas, grãos, car- A contribuição em bens, além das
Capitania, de quem lhes faz o gran- nes etc.: preços altos. Êstes preços, vidas, para a independência, “foi um
de bem de comprar aqui onde ela se fora as arbitrariedades desanima- golpe terrível para a vida econômi-
acha em abundância,para vender doras, provocariam naturalmente ca-financeira. Esta desconjuntou-se,
onde ela é rara, e necessária; como maior produção pelos agricultores e, desde então, começa a série infin-
se os Lavradores de pão devessem isolados. Consequência: os preços dável das desgraças que nos perse-
ser considerados como pessoas de tinham que cair. O equilíbrio não se guiram durante todo o século XIX”,
inferior qual idade à sua, a quem estabelecia, entretanto, mesmo no diz Gois Calmon.29
”
dispendiosos) empregando os meios,
Nossa posição apenas se alivia-
va em anos de excepcional procura,
de safras ruins ou perturbações nas
gócio.
O fumo se. desenvolvera a prin-
cípio nos “campos areuscos de Ca-
choeira”, mas especialmente São
áreas concorrentes, como parece ter
já mais ou menos conhecidos de pou- sido o período de lutas em Cuba pela Gonçalo, Inhambupe, que parece ter
par o excesso braçal...” independência. A fôrça da produção sofrido o maior golpe, e Brejões.
A insegurança era o signo do açú- cubana avultou depois com a “pre- Perdemos além disso o comércio
car. Honra a Cotegipe que, desejan- ferência cubano-americana”, a par- continental europeu, com a Indepen-
do como tantos outros empreende- dência e o péssimo tratado com Por-
tir da última década de século – mais
dores, mais o gôsto da experiência e tugal. O fumo em folha tinha garan-
outro fator de consolidação da crise
do exemplo do que a segurança do tido o mercado português, através
açucareira no Brasil. O Recôncavo
patrimônio, se lança em instalações do qual ia à Espanha a alhures. Não
não podia se salvar no mercado in-
modernas e dispendiosas; um servi- soubemos conservá-lo. Depois da
terno, dada a limitação dêste e a lo-
ço para a indústria do açúcar de todo Independência, tanto que, em 1835,
calização mais favorável dos cana-
o Brasil, pois dessa experiência, Miguel Calmon reclamara ainda,
viais de Pernambuco e de Campos e
“comêço da decadência da fortuna como oportuna, a renegociação do
Baixada Fluminense, além de outras
particular do seu fundador”, o Ins- Tratado, fazendo o confronto nosso
circunstâncias.
tituto Fluminense de Agricultura com o comércio florescente entre os
publicou um folheto de utilidade Entre 1873 e 1890, a crise no Estados Unidos e a Grã Bretanha.
geral.31 Recôncavo açucareiro, que já vinha Todos os gêneros coloniais ficaram
O principal fator de tudo era o de antes, se tornou aguda. Ela inspi- sem o apoio da preferência lusa, im-
comércio internacional. O pequeno rou em 1888 a isenção total de im- portante, na escala da época, en-
Portugal já não nos comprava com postos para o açúcar. Em meio da quanto eram excluídos ou desfavo-
preferência, a não ser talvez o das li- crise, 1879, o Presidente da Provín- recidos no comércio de outros paí-
gações tradicionais ou de sangue en- cia contratou 6 “centrais”. ses, particularmente da Inglaterra,
tre as casas de negócio daqui e de lá. Outros empreendimentos se su- que, apesar do tratado de 1810, “não
A Espanha tinha suas colônias, cederam, sobretudo de1892 em dian- consome produto algum nosso, afo-
que também (Cuba e Filipinas) reco- te, com a relativa reanimação nos ra o algodão”, segundo o testemu-
meçavam a fornecer aos Estados preços internacionais, e quiçá tam- nho de Miguel Calmon34.
Unidos e agora com progresso cres- bém a expansão monetária interna, Os esforços que vinham de Pom-
cente. A Inglaterra tinha as Indias com o seu efeito de capitalização for- bal35 para enfrentar a concorrência
Ocidentais e a própria lndia. A Fran- çada. do tabaco havanês prosseguiram. A
ça tinha as suas Antilhas. A Holanda Assistimos nesse período a um
acabava de desenvolver o parque
açucareiro de suas lndias Orientais.
É claro que êsses parques, tendo
mercados assegurados pelas tarifas
esfôrço maior de reequipamento,
com a instalação de várias “centrais”.
Foi a época encabeçada por um gran-
de empreendedor prematuramente
“ O fumo em folha
tinha garantido o mercado
aduaneiras, pela navegação, pelo falecido Jayme Vilas Bôas. português, através
aparelhamento comercial e financei- Fora anos excepcionais, a lavou-
ro das grandes potências, podiam ra da cana pôde se manter um pou- do qual ia à Espanha a
ainda imobilizar capitais em grandes co mais pela queda do câmbio, mas alhures. Não soubemos
conjuntos de produção e realizá-Ia nem isto a salvou. Sua nova oportu-
numa escala tal, que seria de todo nidade foi a guerra de 1914-1918. conservá-lo...
RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
”
Ano XI Nº 19 Janeiro de 2009 Salvador, BA 89
“ A situação o mercado da Europa Central. O con- 4.4. Café e cacau
sumo mundial se ampliou. E as pe- Hartt observa, na fase de prospe-
do fumo só veio a culiaridades dos fumos bahianos ridade do café no sul pais, que na
contribuiram para manter a prefe- região costeira e Recôncavo, a irre-
melhorar e estabilizar rência de muitos fumantes. E assim, gularidade das estações não o favo-
ampliado o consumo interno, e res- recia.39 O café que em quantidade
mais tarde, com o taurado o mercado mundial, depois relativamente pequena foi sendo ex-
desenvolvimento das de longo processo e várias peripéci-
as, chegou o fumo no final do século
portado vinha a princípio quase ex-
clusivamente da extremo sul do Es-
fábricas de rapé, a ser o nosso principal produto de tado, da Colônia alemã para cima de
exportação, atingindo em 1902 a sua Caravelas, a qual teria fracassado
de charutos e de maior exportação. com a abolição da escravatura.40 De-
Mas, tal como outros produtos pois ganhou o café os municípios da
cigarros...
”
Inglaterra preferia os fumos da Vir-
gínia, a França o das Antilhas. Nós
tropicais - a exceção única no nosso
caso foi a do café - encontraram-se
nas colônias terrenos favoráveis. A
técnica e o capital dos grandes paí-
orla do Recôncavo e algumas roças
isoladas aqui e acolá, como as que
criaram esplêndida variedade do
“café da Chapada” (Diamantina).
estávamos com a nossa principal ses mercantis haviam certamente de Mas só excepcionalmente se obser-
rota de comércio para o “fumo bran- voltar-se para elas e não para os vou o regime de maiores plantações
co”, cortada. Sofria ainda o comér- “Campos de Cachoeira”. Assim, nas como as do Vale do Paraiba.
cio fumageiro das especulações em Índias Orientais Holândesas as cul- A produção foi pequena, mas das
Gilbraltar, e ainda os reflexos da turas do fumo se desenvolveram lar- que contrlbulram pela variedade,
episootia entre 1829 e 1832, que de- gamente. Em Sumatra, de 50 fardos para reduzir o desequilíbrio na eco-
vastou os rebanhos próximos e sa- em 1864, já em 1903 produziam nomia exportadora do Estado. Essa
crificou o exterco necessário às ma- 255.000. Java passava de 182 em 1890 produção, porém, chegou a avultar
lhadas. Acrescentava ainda Miguel para mais de 400.000 em 1910.37 nas quadras dos preços altos, pre-
Calmon como um dos fatores secun- ponderando em parte entre 1893 e
dários da crise o “doce prurido do 4.3 Algodão 1903, sendo a maior safra em 1898.
ganho”, e mostrava que a importân- O algodão, em 1835, estava esta- Sua importância comercial foi sus-
cia vulgarmente atribuida aos im- cionário, se não regredindo, segun- tentada pelos esquemas de valoriza-
postos não era considerável. do Miguel Calmon, e prosseguiu ção posteriores ao Convênio de
A situação do fumo só veio a aproveitando algumas oportunida- Taubaté, mas isto não impediu a de-
melhorar e estabilizar mais tarde, des ocasionais, nenhuma porém cadência das lavouras.
com o desenvolvimento das fábricas como a da Guerra de Secessão dos O cacáu surgiu aos poucos, to-
de rapé, de charutos e de cigar- Estados Unidos, quando o algodão mando vulto depois de 1890. E foi
ros,36que aliás importavam fumos: a atraiu tudo, e foi um mal depois.38 A providencial. Abriu uma nova fase
fábrica de Areia Preta “preferia com- indústria terá favorecido, depois do em nossa economia. As exportações
prar aqui as 300 a de Virginia”, diz meado do século, e já antes a indús- sofriam uma crise cada vez maior.
Miguel Calmon, que apresentava tria mineira, desenvolvida sob a pro- A exportação do cacáu só em 1838-
um programa de aperfeiçoamento teção da distância dos portos, a pro- 39 superou 1.000 sacas (1.322). No
da lavoura fumícola. dução do algodão no sertão bahiano. período inicial parecem ter tido in-
As malhadas foram melhorando O Sertão de Caiteté fornecia mais a fluência considerável os alemães da
o produto e fornecendo mais às in- Minas que à Bahia, para cujas fábri- fracassada colônia estabelecida no
dústrias crescentes. Ao lado disso, a cas o algodão importado era mais Rio Almada, por ocasião da indepen-
guerra de Secessão favoreceu nossa acessível. dência, bem como espanhois fixados
exportação. A expansão do consumo Pequeno o mercado interno, con- no rio Cachoeira, ao lado do elemen-
mundial no final do século foi outro tinuava o produto na dependência to nacional. Garimpeiros das “la-
fator favorável, dando margem para do externo, incerto, em geral adver- vras” precisavam de emprêgo. A
todos, apesar da superioridade de so, pelas mesmas razões apontadas população crescente do Recôncavo
Virgínia, de Cuba, e das Índias Ori- ao tratarmos do fumo e do açúcar, e municípios vizinhos encontrou
entais Holandêsas, e do próprio de- apesar do aumento do consumo uma esperança. A zona cacaueira,
senvolvimento da’ produção euro- mundial. sobretudo Ilhéus e Itabuna, mas tam-
peia na faixa mediterrânea. Uma No comêço dêste século, o algo- bém desde a Barra do Rio de Contas
outra guerra nos favoreceu: a da in- dão bahiano havia declinado a pon- até Belmonte, atrai os mais enérgi-
dependência de Cuba. Com o desen- to de não chegar a suprir as própri- cos aventureiros disponíveis, inclu-
volvimento do comércio alemão, as fábricas no Estado. O transporte sive de Sergipe.
desprovido ao menos relativamente para o sertão devia ter sido o grande Em 1893 se registrou uma expor-
de colônias, chegamos a consolidar fator negativo. tação superior a 100.000 sacos. Em
“
quejamos para o perlodo inicial, a via, se não muito limitadamente (caso
situação do abastecimento terá me- surubim, no S. Francisco, e o cama-
Culturas que se
lhorado no final do século. Mas, con- rão sêco, no Recôncavo), a prática da adequavam fàcilmente à
tinuava sujeita às irregularidades conserva. lmportavam-se então gran-
crônicas. des quantidades de bacalhau portu- região costeira, úmida e
Os rebanhos se desenvolveram guês, que também atendiam a hábi-
na Bahia desde o I século. As regi- tos culinários tradicionais. florestal, não encontravam
ões pecuárias continuaram a expan- A crise dos produtos de exporta-
dir-se, apesar das sêcas, pragas, sal- ção e o aumento das populações teri-
escoamento no comércio:
vo talvez a do São Francisco, duran- am levado ao desenvolvimento das jaqueira, fruta-pão,
te o período considerado. economias fechadas de auto-abaste-
A Bahia se autoabastecia e expor- cimento, fomentada pela cultura de e outras fruteiras,
tava gado, pelas divisas Norte, em- quintais e chácaras. Há também uma
bora o importasse para engorda do razão ecológica. Culturas que se ade-
inclusive a laranja e a
Norte de Minas. É provável que seu quavam fàcilmente à região costeira, banana que hoje são
balanço de carne fosse favorável, úmida e florestal, não encontravam
apesar de continuar durante todo o escoamento no comércio: jaqueira, comerciáveis...
RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
”
Ano XI Nº 19 Janeiro de 2009 Salvador, BA 93
“
Matando o povo melhoramentos nos portos, cami-
Do lado na mercadoria51 nhos no Interior e linhas telegráficas,
do interior foram trabalhos do século passado,
No final do século, o dramático não continuados quiçá, na mesma
que fornecia farinha e episódio de Canudos desorganizou progressão, nêste século. Muitas des-
a produção do Nordeste, agravando sas obras pioneiras se fizeram con-
outros gêneros, o menos quiçá o seu empobrecimento. Mas as cluindo a redução dos indígenas nos
protegido e que pagava tropas e os fornecimentos militares
espalharam muito dinheiro, em pro-
sertões da Ressaca e da Conquista,
onde ainda no comêço dêste século
mais caro as veito ao que parece do comércio da se subjugavam e extinguiam aldeia-
capital e outras cidades. Resultou a mentos selvagens. Essas realizações
importações, a queixa carestia e mais uma vez a farinha fi- materiais contribuiram considerà-
cou pela “hora da morte”. Foi assim velmente para dominar a paisagem
era permanente...
e fazendeiros das culturas de abas-
tecimento; - as sêcas nos Estados do
” também um dos fatores ocasionais
de crise de abastecimentos.
5. Obras públicas
difícil do Estado, abrindo caminho
para realizações presentes, e se mais
não puderam alcançar, não se deve
tanto às más administrações, mas
Nordeste, que provocavam intensa As grandes obras ou serviços sobretudo às condições econômicas
procura de farinha e outros gêneros públicos requeridos para o desenvol- gerais da Província e Estado, que não
na Bahia, e resultavam em carestia; - vimento da Bahia encontravam fre- asseguravam a amortização dos ca-
as sêcas e as epidemias no próprio quentes iniciativas, mas arrojadas e pitais requeridos.
Estado (a febre amarela, a variola, e temerárias, face ao vulto dos capitais
o cólera, que devastou no meiado do locais, Também as tendências econô- 6. Indústria52
século, além do paludismo), diminu- micas, e quiçá as más administrações Além da do açúcar, vemos o
indo a produção; - as deficiências de (pois melhores deviam ser em face florescimento das de produtos do
transportes de armazenagem e de daquelas condições gerais menos fumo, estas urbanas (Capital e Ca-
crédito, impossibilitando estoques e animadoras), sem embargo de figu- choeira a principio). Em 1835, fala-
fomentando a especulação dos in- ras excepcionais como Gonçalves va-se na “indústria nascente de fa-
termediários; - o baixo padrão social Martins e J. M. Wanderlei, não atrai- zer charutos”, antes importados da
e político da agricultura de abaste- am o capital forasteiro, como o Sul, Havana, Nova York e Gibraltar. Mas
cimento, subordinada ao prestígio lá pelo fim do século. É enorme e a de rapé já era ampla, e a Bahia ti-
dos senhores de engenho e das po- admirável, porém, a lista de proje- nha monopólio. Contava a Bahia três
pulações consumidoras urbanas, tos e de realizações, em que avulta- fábricas, e já no ano seguinte referia
que forçavam medidas arbitrárias ou ram as obras do pôrto na quadra de o mesmo informante mais uma.
imediatistas em prejuizo dos peque- 1830-40, a Estrada de Ferro visando Um suiço teria aperfeiçoado a
nos agricultores. Talvez dos únicos o São Francisco (1858 em diante), técnica indígena. 53A fábrica de cigar-
atos que revelem uma reação seja um novo atêrro em 1867, companhia de ros Leite & Alves, filial do Rio, foi
que, apoiado ou inspirado na cam- carris, 1869, a estrada de ferro (Cen- estabelecida em 1856, e a de charu-
panha abolicionista, dá preferência tral da Bahia) que deveria alcançar tos Danemann, em 1873, mas antes
à produção de trabalhadores livres, Santa Isabel do Paraguassú, e ponte havia pequenos fabricos.54
na segunda metade do Século.50 sôbre o Rio Paraguassú (1884), Estra- Na indústria de tecer, Calmon
O normal, porém, é a sucessão de da de Ferro Nazaré, concedida em (1836) se refere a uma, “a braço”, no
gritas dos consumidores e de gritas 1870, o novo projeto de docas, obje- Cabeça. A importação, só de tecidos
dos produtores, enquanto nas zonas to de uma companhia fundada em de algodão, em 1835, era de 3.984
mais prósperas, como se tornou o Londres por Mauá, a qual se dissol- contos: 47% da importação bahiana,
caso típico da cacaueira, os trabalha- veu em face de “moras e complica- em que todos os tecidos participa-
dores ganham mais, mas passam re- ções da administração” (1870), as vam com 65% Pernambuco já tinha
lativamente pior, embora sejam mais companhias sucessivas de navega- uma fábrica “em grande escala”.
capazes de importar confortos con- ção no Recôncavo e litoral ao longo Depois se foram instalando ou-
vencionais e superfluidades. do século, o Serviço de Navegação tras na Bahia, para panos grossos as
Do lado do interior que fornecia do São Francisco, a Cia, de Gás, au- quais cresceram em número e certa-
farinha e outros gêneros, o menos torizada em 1861, os planos inclina- mente em qualidade de artigos, de-
protegido e que pagava mais caro as dos e os elevadores, a estrada de fer- pois da revogação do Tratado Inglês
importações, a queixa era permanen- ro de Santo Amaro, mais tarde a de em 1810, pela clarividente ação do
te e nunca poupava o govêrno: Ilhéus-Conquista, e afinal as vulto- Ministro Alves Branco, que era um
sas obras do pôrto da Bahia, a partir bahiano, em 1844. Uma dessas fá-
Governo novo de 1911. Os faróis da Bahia, Morro bricas, a de Valença, ficou conheci-
tá na Bahia. de São Paulo e Abrolhos, ao lado de da no meiado do século, como “a