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COMPRAS E SUPRIMENTOS
autor do original
EDUARDO FONSECA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial durval corrêa meirelles, juarez jonas thives júnior, luiz alberto
gravina belmiro, ornella pacífico
Diagramação fabrico
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
ISBN 978-85-5548-015-7
Prefácio 7
4. Gestão de estoques 72
7
1
Função de compras,
organização e
qualificação dos
compradores
1 Função de compras, organização e
qualificação dos compradores
O processo de compras se torna cada vez mais importante para oferecer efici-
ência e competitividade para as organizações. Através dele é que se pode obter
materiais com qualidade adequada para a oferta de produtos ou serviços e re-
duzir os custos desses materiais para que se possa participar do mercado com
preços competitivos. A eficiência do processo de compras evita investimento
excessivo de capital em estoques, o que também pode trazer custos financeiros
e operacionais para as organizações em geral.
Como veremos inicialmente nesse capítulo e mais em detalhes nos seguintes,
a organização, as políticas e as atividades de compras causam efeitos diretos na
gestão de estoques, de forma que esses dois setores das organizações não po-
dem ser estudados separadamente. A orquestração das atividades de compras
e estoque é o que garante o suprimento eficiente de materiais.
OBJETIVOS
• Saber quais são os objetivos e atividades da área de compras em uma organização. Além
disso, saber como ela se organiza, como se relaciona com o setor de estoques e quais são as
principais características de um bom comprador.
REFLEXÃO
Você já estudou ou ouviu falar de Estrutura Organizacional? Esse é um modelo que deter-
mina as relações formais de cargos nas organizações. A Estrutura Organizacional pode ser
desenhada de forma ampla, englobando todos os setores, ou dar foco a um setor específico.
Essa forma de estruturar a relação de cargos influencia diretamente na gestão dos proces-
sos operacionais.
10 • capítulo 1
1.1 A função compra
capítulo 1 • 11
Formular a especificação de produtos ou matérias-primas a serem compra-
dos é o ato de detalhar características que esses devem possuir. Trata-se de um
elemento bastante importante, muitas vezes subestimado, pois é o que determi-
na se o material comprado será exatamente o que é necessário para as atividades
da empresa. Essa caracterização de materiais, em geral, não deve ser totalmente
decidida pelo setor de compras da organização, pois quem decide a forma e a
qualidade dos materiais necessários para a atividade é o próprio usuário do mate-
rial. Dois tipos de especificação de materiais devem ser definidos: a especificação
de características/funcionalidades e a especificação de qualidade.
As solicitações de materiais por parte do usuários vão destiná-los à infraes-
trutura da empresa, à atividade de um serviço, à composição de outro produto
(matérias-primas) ou à revenda. Podemos citar alguns exemplos:
• Caso a empresa esteja construindo um novo bloco de escritórios, pre-
cisará solicitar materiais de construção, de acabamento, de instalação
elétrica etc.;
• Se for um prestador de serviços, como um salão de cabeleireiros, preci-
sará comprar tesouras, escovas, secadores, xampu ou cremes para exe-
cutar seus serviços. No caso de um desenvolvedor de softwares, precisa
de equipamentos de rede e computadores;
• Um fabricante de móveis, além das máquinas e ferramentas de produção,
necessita de madeira, fórmica, pregos, parafusos, vernizes e outras maté-
rias-primas que farão parte do produto final;
• Por fim, podemos considerar lojas de atacado ou varejo, como super-
mercados, que compram produtos para revenderem, em sua maior parte
sem nenhuma transformação do produto que recebeu do fabricante.
12 • capítulo 1
especificado de acordo com a estratégia de vendas da empresa, geralmente de-
terminada pelas área de marketing, vendas ou de desenvolvimento de produtos.
Esse planejamento vai determinar se a empresa está tentando atingir um mer-
cado com estratégia de diferenciação (isto é, com produtos mais caros e com
alta qualidade) ou com uma estratégia de custos (para um mercado mais am-
plo, cujos compradores preferem um produto ou serviço mais barato, mesmo
que sacrificando sua sofisticação).
Em geral, se a empresa pretende fornecer produtos ou serviços com maior qua-
lidade a ser percebida pelos clientes, ela necessita especificar o padrão de quali-
dade das matérias-primas, podendo até mesmo determinar as possíveis marcas a
serem compradas para uso na fabricação ou revenda. Se possui uma estratégia de
custos, pode determinar que os materiais a serem usados sejam os mais baratos
encontrados pelo setor de compras, atendendo a requisitos mínimos de qualidade.
As especificações gerais dos materiais devem conter todas as características
que evitem aquisições equivocadas. Elas devem ser claras o suficiente para o
comprador fazer uma boa cotação de preços, evitando consultas adicionais a
outras áreas (de vendas ou produção) para esclarecer dúvidas e garantir que o
fornecedor compreenda bem o que está sendo solicitado. Deve-se evitar nomes
de marcas e características excessivamente específicas nessas descrições, pois,
nesse caso, as pesquisas de fornecedores restringirão a participação de outros
fabricantes que possuam preços melhores.
Quanto à pontualidade do processo de compra, considerações semelhantes
às de especificações de qualidade devem ser feitas: nem sempre a compra mais
rápida é a melhor. O setor de compras deve, sim, ser a mais ágil possível, inclusive
para atender compras com eventuais urgências. Mas é mais importante que se
compre dentro de um período planejado, considerando todo o Ciclo Logístico.
Deve-se considerar que é essencial realizar uma boa cotação de mercado, uma
boa negociação e um agendamento preciso da entrega, na data mais adequada
para o abastecimento do estoque.
Como veremos com mais detalhes no Capítulo 3, a gestão de contratos de
longo prazo ameniza a carga de trabalho e os custos de compras, já que um es-
forço maior de negociação em um momento pode gerar acordos explícitos com
fornecedores, evitando que vários processos de compras sejam executados du-
rante seu período previsto. A área de compras deve auxiliar no estabelecimento
desses contratos e fazer o controle de seu andamento, auxiliando os usuários
dos materiais em sua gestão.
capítulo 1 • 13
Para gerenciar o processo de compras, é fundamental que sejam registrados
e compilados os indicadores de desempenho, os quais podem fornecer a seu
gerente um painel de controle para acompanhar o atingimento de objetivos e
metas, além de fornecer bases para melhorias contínuas. Alguns exemplos de
grupos de indicadores para a área são os seguintes:
14 • capítulo 1
1.2 Atividades do serviço de compras
capítulo 1 • 15
1.3.1 Relação com a área financeira
16 • capítulo 1
CONEXÃO
Veja essa pequena entrevista da TV Sebrae. São feitas algumas considerações gerais sobre
a gestão de estoques, como o custo de oportunidade e a integração com a área de vendas:
<http://tv.sebrae.com.br/home/sebraenacional/program/753/estoque-parte-1>
A relação mais direta que se pode perceber entre as funções logísticas e a área
de marketing é a de que esta última que determina o volume de vendas ou pres-
tação de serviços das empresas. Resumidamente, como objetivo final, o marke-
ting procura aumentar a quantidade de vendas e o preço que a empresa pratica.
Isso é feito através da geração de demanda: quando é feita uma promoção ade-
quada, ou o lançamento de um produto de sucesso, a demanda gerada poderá
aumentar as vendas e, em uma situação ainda melhor, aumentar o preço do
produto, já que mais pessoas estão dispostas a pagar mais por ele.
Esse aumento de vendas é desejado por todos na empresa, logicamente. Mas,
a situação também pode ser fonte de problemas, caso esse aumento não seja pla-
nejado e comunicado à todas as áreas em tempo hábil. Por exemplo, o pessoal de
marketing de uma grande loja de brinquedos pode planejar entre si a execução de
uma estratégia de promoção especial para o dia das crianças, a qual seria a mais
bem sucedida dos últimos anos. O diretor de marketing e vendas pode partici-
par dos planos, e, inclusive, o presidente da empresa pode apoiar o projeto, mas
imagine que o departamento de compras não ficou sabendo que haveria esse
impulso adicional às vendas. Apesar do grande investimento em marketing, os
brinquedos mais procurados poderiam ter seus saldos zerados em estoque uma
semana antes do dia das crianças, gerando uma perda de vendas. Isso faria com
que o investimento no projeto de marketing tenha sido em vão.
Uma outra relação importante entre essas áreas é a de que, dependendo das
atividades da empresa, quem determina as especificações das compras a serem
feitas é a gerência de marketing ou comercial, pois são essas que estudam as
necessidades de seu mercado. Isso pode ocorrer tanto porque, por exemplo:
• Há uma decisão de que o mix de produtos revendidos deve possuir pro-
dutos específicos, no caso de varejistas ou atacadistas, e então o setor
de compras deve adquirir tais marcas especificadas;
capítulo 1 • 17
• Ou porque há uma especificação da qualidade dos produtos a serem
fabricados, como no caso de uma fabricante de detergentes que quer
atingir um público de mais baixa renda e portanto quer produzir algo
mais barato.
18 • capítulo 1
Previsão de vendas
Marketing (em distribuidoras)
Previsão de vendas
(em fábricas) Suprimentos
Produção Planejamento de
Produção
Materiais
capítulo 1 • 19
O mesmo autor apresenta outra estrutura que dá maior destaque ao Plane-
jamento e Controle da Produção, agrupando os estoques sob seu gerenciamen-
to. Essa estrutura une algumas das atividades sob uma gerência, aumentando
sua coordenação.
ATENÇÃO
A representação da Estrutura Organizacional através do organograma é apenas uma das
formas de compreender a organização. Ela representa as relações hierárquicas formais, as
quais influenciam o comportamento das pessoas no trabalho. Outra forma de visualizar a
organização é através de processos de negócios, fluxogramas de atividades em sequên-
cias, que podem ser harmoniosos, ou não, em relação à hierarquia formal.
Suprimentos
PCP Transportes/
Compras
Distribuição
Estoques Importação
Almoxarifado
20 • capítulo 1
Conselho
Administrativo
Diretor-
presidente
Adminstração
Transporte PCP Materiais Compras Fabricação
de vendas
Relações setoriais
Relações interdepartamentais
CONEXÃO
Há várias formas de se desenhar organogramas. O formato apresentado nessa unidade é o
mais tradicional, o mesmo utilizado pela Petrobras: http://www.petrobras.com.br/pt/quem-
somos/perfil/organograma/
Veja também o organograma do Banco Central do Brasil, que possui um formato alternativo
bastante interessante que mostra atributos adicionais: <http://www.bcb.gov.br/?ORGANO-
GRAMA>
capítulo 1 • 21
1.5 Organização e cargos do setor de compras
Gerente de materiais
Chefia de Compras
Secretaria
Comprador de Comprador de
Materiais Diversos Comprador Técnico Matéria-prima
Auxiliar de
Compras
Follow-up
Motorista
22 • capítulo 1
de compras pode ter abaixo de si coordenadores ou supervisores que se respon-
sabilizem por resolver problemas mais específicos de andamento do processo.
A divisão por tipos de compradores (Materiais Diversos, Técnico e de Matérias
-primas) pode ser feita para que haja uma especialização de conhecimentos entre
os compradores. Por exemplo, se uma empresa faz compras de ferramentas de
engenharia especializadas, pode ser necessária a participação de uma pessoa com
conhecimentos técnicos mais detalhados.
A seguir são descritas as atividades desempenhadas por alguns dos cargos
presentes nesse organograma.
capítulo 1 • 23
ção do cadastro de produtos, de fornecedores e de preços e acompanhar o pro-
cesso de entrega.
O comprador técnico deve ter uma boa relação com os solicitantes das com-
pras na empresa, pois a especificação dos materiais pode exigir maior e me-
lhor comunicação. Ele deve ser capacitado para colaborar na especificação des-
sas compras e fazer uma boa pesquisa de fornecedores e seus catálogos. Deve
acompanhar a aderência dos materiais entregues às especificações e seu con-
trole de qualidade.
24 • capítulo 1
negociação sem incorrer em situações de conflito ou ceder muito facilmente,
sem a racionalização adequada, às investidas de vendedores habilidosos. Além
disso, precisa ter um senso de propósito bastante arraigado, pois a área de com-
pras pode ser bastante sujeita a conflitos éticos.
Para evitar situações de desvio de conduta, muitas empresas adotam códi-
gos de ética claros para o setor, como a proibição de recebimento de presen-
tes de fornecedores, ou a necessidade de apresentar documento comprovando
cada cotação de preços, com no mínimo três cotações e justificativas quando
isso não pode ser feito. Ainda assim, é necessário que o comprador tenha bom
senso e flexibilidade para julgar quando certos comportamentos são necessá-
rios para manter uma boa relação com as pessoas com as quais lida.
Além disso, o comprador deve ser uma pessoa que possa lidar bem com sis-
tematizações e organização, pois precisa manusear muitos dados, históricos e
cadastros, registrando ocorrências que possam vir a ser consultadas no futuro. As
especificações técnicas dos materiais a serem comprados devem ser muito bem
feitas, sendo de suma importância em alguns setores industriais e de serviços.
O comprador deve se interessar pelo impacto que suas compras vão causar
na organização, algumas vezes até mesmo conhecendo os processos de traba-
lho para saber mais sobre os materiais a serem comprados. Por exemplo, ele
deve saber se certos insumos são compatíveis com os equipamentos da empre-
sa, podendo até mesmo descobrir alternativas mais vantajosas, técnica e eco-
nomicamente, que os engenheiros da empresa não conheçam. Nesse caso, ele
deve explorar informações de mercado e de catálogos, conversar com técnicos
da organização e fora dela, acompanhar controles de qualidade etc. Com isso,
ele acumula conhecimentos que podem influenciar diretamente no valor pro-
duzido por ela, trazendo vantagens competitivas.
Resumidamente, estas são algumas das características e capacidades es-
senciais de um comprador apresentadas por Dias (2005):
• Objetividade, organização e idoneidade;
• Diversidade de conhecimento;
• Habilidade em negociação e flexibilidade para mudança;
• Se identificar com a política da empresa;
• Ser ético e íntegro;
• Saber ouvir e agir sensatamente;
• Ter espírito inovador e criativo;
• Saber ajudar sua organização a lidar com suas necessidades;
capítulo 1 • 25
• Ter disposição para assumir riscos;
• Não justificar as próprias falhas atribuindo a culpa a outros;
• Fazer com que seu trabalho adicione valor verdadeiro aos produtos ou
serviços da organização;
• Interessar-se pelos desafios da atividade de aquisição de materiais para
sua organização.
ATIVIDADE
1. (UFMT, 2014) Um dos passos do Ciclo de Compras utilizado por uma empresa é:
a) Solicitar que o fornecedor esteja próximo ao comprador.
b) Obter mercadorias e serviços na quantidade e qualidade necessárias.
c) Fazer acompanhamento para garantir que os prazos de entrega sejam cumpridos.
d) Selecionar critérios para avaliar fornecedores potenciais.
2. (CESPE, 2014) Uma das metas da gerência financeira é a minimização dos estoques;
para a gerência de vendas, ao contrário, é desejável um estoque elevado, para melhor
atender aos clientes.
( ) Certo
( ) Errado
3. (CESPE, 2014, adaptado) A inicialização de pedido de compras, o transporte dos itens
comprados até o local designado pelo comprador e a manutenção dos estoques são as
principais funções da administração de materiais. Essas funções objetivam satisfazer as
necessidades de uma linha de operação, de empresa privada ou de órgão público, de
acordo com a demanda dos clientes e(ou) dos usuários.
( ) Certo
( ) Errado
26 • capítulo 1
REFLEXÃO
Nas organizações, em geral, os processos de negócio não estão diretamente ligados à sua
estrutura organizacional. Por exemplo, o processo de abastecimento, que inclui da detecção
de necessidades de insumos, compras, recepção, armazenagem e distribuição, não necessa-
riamente colocam todos os cargos envolvidos sob um único gerente. Podemos dizer que,
nesse caso, esse processo de abastecimento é interdepartamental, mesmo que esses depar-
tamentos sejam próximos na estrutura hierárquica.
No entanto, a estrutura organizacional pode causar grandes influências no desempenho dos
processos, principalmente através da geração de conflitos causados por diferenças de obje-
tivos e estratégias. Por exemplo, se o gestor de estoques de uma empresa prefere que sejam
recebidos lotes menores de produtos, isso deve ser acertado com o gerente de compras, pois
essa tática pode criar um maior fluxo de compras e gerar gargalos em seu setor.
LEITURA
Se estiver interessado em aprofundar no assunto Estrutura Organizacional, mesmo não sendo
foco dessa disciplina, Mintzberg é um autor que faz análises muito interessantes a respeito de
suas implicações nas organizações no seguinte livro:
MINTZBERG, Henry. Criando Organizações Eficazes: estrutura em cinco configurações. São
Paulo: Atlas, 2010.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Marco Aurélio P. Administração de Materiais: Princípios, conceitos e Gestão. São Pau-
lo: Atlas, 2005.
capítulo 1 • 27
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Nesse primeiro capítulo vimos como a área de suprimentos e, mais especificamente, a de
compras se organizam e quais são seus cargos e atividades principais. No próximo capítulo
serão apresentadas as principais variáveis que condicionam as decisões dos compradores e
dos gerentes do setor, além das principais decisões a serem tomadas.
28 • capítulo 1
2
Variáveis e decisões
estratégicas de
compras
2 Variáveis e decisões estratégicas de compras
Quando uma organização formula seus processos e procedimentos de compra,
ela precisa considerar vários de seus parâmetros estratégicos para elaborar
suas políticas de compras. Se seu setor econômico se baseia em agilidade nos
processos logísticos e produtivos, seu ciclo de compra precisa ser rápido e con-
fiável. Mesmo que outras empresas de seu setor não tenham tal desempenho,
ela pode desenvolver seus processos de suprimento para que se tornem seu di-
ferencial competitivo.
Por outro lado, a organização pode se preocupar em posicionar seus produtos
e serviços em termos de um equilíbrio de custo-benefício. Isto é, ela pretende
vender um produto de qualidade comum mas barato ou um produto premium,
com qualidade e preço elevados? Essas estratégias influenciam nas especifica-
ções dos materiais a serem comprados e na escolha de seus fornecedores.
OBJETIVOS
Perceber:
• quais são as principais decisões estratégicas para o processo de compras que derivam das
estratégias organizacionais para seus produtos e serviços;
• como as definições de níveis de serviço e negociação com fornecedores influenciam nos
diferenciais competitivos de uma organização;
• como devem ser administradas variáveis como qualidade, custos e condições de compras
para que o setor de compras colabore para a competitividade da empresa.
REFLEXÃO
Você já percebeu como associamos a qualidade e o preço de um produto em função do
local onde é produzido? O que você pensa a respeito, por exemplo, de um automóvel ou uma
ferramenta de precisão quando sabe se ela é feita na Alemanha ou na China? Essas asso-
ciações mudam com o tempo, como é o caso de produtos fabricados no Japão, que um dia
já teve uma economia baseada em produtos como os chineses atuais. Essas características
têm origem em empresas e economias com diferentes estratégias para qualidade, custos e
integração logística, como veremos neste capítulo.
30 • capítulo 2
2.1 Variáveis para decisões de compras
2.1.1 Qualidade
capítulo 2 • 31
mas utilizadas e a limitação de custos. Nesse caso, o processo de fabrica-
ção determinará o grau de qualidade do produto.
• Aspectos Externos: a expectativa do cliente, o produto equivalente de
concorrentes, a definição de qualidade mínima por parte do governo ou
de órgãos de medição e fiscalização. Aqui, é a comparação do produto
com os fatores externos que gerará uma avaliação da qualidade.
32 • capítulo 2
2.1.2 Custo
capítulo 2 • 33
2.1.4 Prazo
2.1.5 Frete
34 • capítulo 2
por todos os custos de frete; suas responsabilidades com pagamento
de transporte, seguro e frete acabam no ponto de envio ou embarque
(porto, aeroporto, transportadora ou correios). Os custos subsequentes
ficam por conta do comprador.
• CIF (Cost, Insurance and Freight): nesse modelo, o fornecedor paga todos
os custos até a chegada do produto ao ponto de entrega combinado na
compra, mesmo que seja na entrada de estoque do comprador.
2.1.6 Embalagem
capítulo 2 • 35
• Embalagens primárias – são as que possuem contato mais próximo com o
produto. Podem ser individuais ou conter uma pequena quantidade, mas
em geral são aquelas que se observa no varejo, como o pacote de arroz no
supermercado, por exemplo. A menos que necessário, elas não são aber-
tas até o consumo;
• Embalagens secundárias – agrupam as embalagens primárias para faci-
litar transporte local e ainda podem possuir formato de varejo, como é o
exemplo de caixas de bombons. Em distribuições internas às empresas,
pode ser o formato preferido, já que é mais fácil controlar caixas de cane-
tas e pacotes de papel do que itens individuais.
• Embalagens terciárias e quartenárias – são embalagens predominantemen-
te logísticas, para manipulação em estoques, transporte logístico e vendas
no atacado. Por não serem normalmente utilizadas no varejo, não precisam
ser atraentes, importando mais seu custo e funcionalidade logística.
Essa classificação é uma forma geral que não pode ser aplicada para todos os
casos, pois muitos produtos podem ser transportados em suas embalagens primá-
rias, como os sacos de cimento ou de arroz. Também é comum haver embalagens
secundárias voltadas para a logística, como as caixas embaladas com uma dúzia
de litros de leite longa vida. Mas esses tipos de embalamento fornecem uma visão
geral dos formatos que podem ser adotados no transporte de materiais.
A embalagem logística é um fator importante para a proteção dos produtos em
seu transporte, mas, além disso, pode ser essencial para a empresa compradora
para a armazenagem em seus próprios estoques ou em sua distribuição interna.
Com a evolução da gestão logística, foi-se percebendo que alguns tipo de em-
balagens podem trazer mais custos que outras. Embalagens frágeis, que permi-
tam o produto estragar ou serem desperdiçados em seu transporte, devem ser
reforçadas. Ainda se fala muito que as tecnologias de transporte de alimentos em
todo o mundo estão defasadas, o que causa uma grande perda e aumento de pre-
ço. Em contraste, pode-se citar casos em que embalagens cilíndricas ou ovaladas
foram substituídas por outras quadradas ou retangulares porque esses formatos
aproveitam melhor o espaço no meio de transporte. Um caso real e recente é o de
algumas marcas de papel higiênico, que passaram a deformar, achatando leve-
mente o rolo de papel para que ocupasse menos espaço em estoque e transporte,
permitindo grande redução de custos - em casa, basta o cliente apertar o rolo em
outra direção para retorná-lo ao formato original.
36 • capítulo 2
Também é importante notar que as embalagens podem ser divididas em
retornáveis e não retornáveis. Em alguns casos, a organização não terá opção
entre utilizar um ou outro tipo, dependendo de variáveis como segurança,
higiene, legislação e aspectos técnicos. Mas em algumas situações é possível
determinar qual tipo de embalagem é mais apropriada do ponto de vista de
custos, eficiência logística e responsabilidade social. Algumas de suas carac-
terísticas são:
• Embalagens retornáveis: caixas, cestos e contentores de metal, madeira
ou plástico. Geralmente possui vida longa e o seu reaproveitamento de-
pende de uma logística reversa para seu recolhimento e disponibilização
para as atividades logísticas;
• Embalagens não retornáveis: são embalagens mais fracas feitas de pa-
pel, papelão, plástico fino e mesmo metal, como nas lata que contém
alimentos. Como não são reaproveitadas, seu custo total é adicionado
ao produto vendido. No entanto, atualmente, com a predominância de
políticas de responsabilidade ambiental e exigências legais de logística
reversa, as organizações devem se preocupar mais com a destinação fi-
nal desse tipo de material também.
CONEXÃO
Para saber mais características de embalagens, acesse o site da Associação Brasileira de
Embalagens (ABE) e navegue nos itens desse texto:
<http://www.abre.org.br/setor/apresentacao-do-setor/a-embalagem/>
Análise das condições de pagamento das compras envolve três fatores: prazo, par-
celamento e descontos. É claro que todas as empresas prefeririam receber o quan-
to antes de seus cliente e pagar o mais tarde possível a seus fornecedores, pois isso
cria uma ótima condição de fluxo de caixa onde é possível investir em estoques uti-
lizando o capital de seu próprio fornecedor - esse é o resultado final da obtenção
de prazos de pagamento. O que leva as empresas a fornecer prazo longo de paga-
mento para seus clientes são as condições de seu setor econômico, seu mercado e
a sua concorrência. Oferecendo maiores prazos de pagamento, é possível obter um
capítulo 2 • 37
diferencial para seus clientes, condição que seus concorrentes tenderão a seguir.
Por outro lado, algumas empresas possuem condições favoráveis que per-
mitam pagamento à vista e, por isso, requerem alguma vantagem em fazê-lo.
Assim, normalmente, as formas de pagamento são:
• a prazo e/ou parcelado: certo número de parcelas, que podem ter paga-
mento iniciado imediatamente (entrada) ou depois de um ou mais meses;
• à vista: pagamento total e imediato.
Como regra geral, o pagamento à vista envolve descontos que devem ser ana-
lisados pelo comprador. Se sua organização possui restrições de fluxo de caixa,
o pagamento a prazo deve ser sempre considerado, mesmo que os descontos de
pagamento à vista sejam interessantes. Normalmente, principalmente com as
taxas de juros predominantes na economia brasileira, não é vantajoso manter
empréstimos ou financiamentos bancários de curto prazo para cobrir fluxo de
caixa e utilizar esse capital para adquirir estoques com pagamentos à vista.
Outra situação comum em negociações de compras é a obtenção de descontos
para quando se adquire materiais em grandes quantidades. O fornecedor prefere
essa situação porque garante uma boa venda, além de simplificar seus processos
internos e aproveitar melhor o transporte da carga. O comprador deve fazer uma
análise dessa condição de quantidades em função, novamente, de seu fluxo de cai-
xa e também da sua estrutura disponível para armazenagem, como o espaço dispo-
nível e outras características dos processos de estocagem e distribuição.
38 • capítulo 2
cessos logísticos mais afinados, como se verá em tópico a seguir.
2.2 Negociação
capítulo 2 • 39
que podem influenciar seu andamento foram sumarizados por Dias (2005):
Catalisador: pessoa criativa, sempre com novas ideias, entusiasta dos grandes empre-
endimentos. Às vezes é considerado superficial e irreal. Para causar impacto junto a ela
é preciso apelar para aspectos de novidade, singularidade, liderança e disponibilidade.
Apoiador: pessoa que considera seres humanos muito mais importantes que qualquer
trabalho e gosta de trabalhar em equipe, agradar aos outros e fazer novos amigos. Às
vezes é considerada incapaz de cumprir prazos, desenvolver projetos, enfim, esse tipo
de pessoa é encarado mais como missionário do que como executivo e, para causar-lhe
impressão, devem-se mencionar harmonia, ausência de conflitos, garantia de satisfação
e realização a quatro mãos.
Controlador: pessoa que toma decisões rápidas, é organizada, concisa, objetiva, com
sentido de urgência. Muitas vezes é considerada insensível aos outros. Como argumen-
to de negociação, deve-se usar tudo que se relacionar com metas, resultados e ganhos
de tempo e dinheiro.
Analítico: pessoa que gosta de fazer perguntas, coletar dados; é perfeccionista e muito
detalhista. Fornecer dados disponíveis, alternativas para análise, decisões seguras e
pesquisas ajudará bastante na negociação.
CONCEITO
O que é uma joint venture?
Joint Venture é um tipo de acordo entre empresas que procura unir suas vantagens competiti-
vas para ações específicas de mercado. Podem originar novas empresas ou apenas projetos
específicos, podem ser permanentes ou temporárias. Servem, por exemplo, para desenvol-
ver novos produtos complexos, entrar em novos mercados ou competir com um concorren-
te comum. Exigem contratos complexos de cooperação e definição de responsabilidades.
40 • capítulo 2
Estabelecer contratos de longo prazo no fornecimento de materiais certa-
mente exige certas habilidades analíticas. Nesse tipo de contrato, a instalação
de uma relação conflituosa não é saudável para ambas as partes, sendo inte-
ressante para a parte compradora, inclusive, que o vendedor atinja objetivos
satisfatórios para seu negócio. Nessa situação, uma boa parceria pode reduzir
custos e garantir crescimento para todos os envolvidos.
Outro aspecto importante que dita as negociações é o poder de barganha de
fornecedores ou de clientes, e isso depende em grande parte da competitividade
de mercado. Um setor econômico que possui muitos fornecedores ou produtos
substitutos tende a diminuir o poder de barganha de fornecedores, isto é, nenhum
deles poderá ditar individualmente o preço de mercado, fazendo com que redu-
zam suas margens para melhorar sua competitividade – nesse caso, os clientes têm
maior poder para impor condições de negociação. Por outro lado, em um setor
com poucos e grandes fornecedores, sem muitas alternativas a seus produtos, eles
tendem a possuir mais poder sobre as negociações com pequenos clientes.
Além de coletar informações, analisar as condições para negociação e o rit-
mo em que se dará, é importante planejar o ambiente e os aspectos que surgi-
rão em seu decorrer, sua operacionalização. Gonçalves (2010) chama de regras
básicas para negociação, as quais são aqui resumidas:
• estabelecer alternativas táticas para o caso de mudanças de rumos na ne-
gociação;
• se for apanhado de surpresa na negociação, é melhor interrompê-la e re-
tomá-la posteriormente após análise da situação;
• estabelecer como será a reunião: aberta, fechada, formal, informal etc.
• planejar o local e horário da reunião, sendo que o ambiente pode in-
fluenciar a negociação;
• se for interessante, promover a negociação em equipe, planejando pa-
péis a serem desempenhados;
• examine bem as implicações contratuais se sua autoridade para decidir
sobre elas;
• registre a reunião em ata e recapitule as principais etapas ao final;
• esteja atento à linguagem corporal dos envolvidos na negociação.
capítulo 2 • 41
alguma forma atender às estratégias organizacionais globais e, para isso, sua
organização deve ser estruturada de forma a atender os objetivos logísticos e
de produção. Entre as principais estratégias, estão a decisão de centralizar ou
descentralizar o setor e a de comprar ou fabricar insumos essenciais. Além dis-
so, é necessário decidir se a empresa deve manter um setor próprio de compra
ou passar a maior parte dessa atividade para um terceiro especialista.
42 • capítulo 2
Um conceito atual utilizado para a centralização do processo de compras é
o de Centro de Serviços Compartilhados, que é uma forma de organizar proces-
sos que procura tornar mais eficientes certas atividades das empresas que pos-
suem divisões separadas, ou diferentes empresas que estabelecem parcerias
para obterem ganhos de escala. Eles podem ser criados e utilizados para diver-
sas de suas atividades de apoio, podendo abranger também processos logísti-
cos de forma geral ou de compras especificamente. Algumas configurações dos
centros de serviços compartilhados podem lembrar as dos serviços de compras
terceirizados, com a principal diferença de que não oferecem os serviços para
qualquer cliente, mas apenas para um grupo de organizações associadas.
CONEXÃO
Veja esse artigo que discute diversos aspectos da centralização vs. descentralização de com-
pras no setor de saúde. Ele foi feito como comentário a uma série de seminários sobre o
assunto: <http://gvsaude.fgv.br/sites/gvsaude.fgv.br/files/29.pdf>
capítulo 2 • 43
VANTAGENS DESVANTAGENS
Independência de terceiros
Maior investimento
Maiores lucros
Menor flexibilidade (perda de foco)
Maior autonomia
Aumento da estrutura da empresa
Domínio sobre tecnologia própria
VANTAGENS DESVANTAGENS
Redução dos custos
Menor controle tecnológico
Maior flexibilidade e eficiência
Deixa de auferir o lucro do fornecedor
Incorporação de novas tecnologias
Maior exposição
Foco no negócio principal da empresa
44 • capítulo 2
lidade de decidir entre fabricar um modelo inovador de motor hidráulico para
incluir em um caminhão de obras ou comprá-lo de um fornecedor que decide
produzi-lo. Nesse caso a decisão se baseará em um ponto de equilíbrio entre
custos e receitas, dependendo se as vendas projetadas conseguirão superá-lo.
Vejamos um exemplo numérico.
capítulo 2 • 45
2.3.3 Terceirização dos serviços de compras (Outsourcing)
ATENÇÃO
O termo em inglês outsourcing pode ser considerado mais amplo que “terceirização”, in-
cluindo concessões do governo para exploração de serviços públicos. Insourcing é a inter-
nalização de atividades que eram terceirizadas.
46 • capítulo 2
ATIVIDADE
4. (FJG, RIO, 2014, adaptado) A estratégia de aquisição de recursos materiais que consis-
te em comprar de terceiros o máximo possível dos itens que compõem o produto final
é denominada:
a) centralização
b) horizontalização
c) verticalização
d) descentralização
e) operação diagonal
5. (FGV, 2014) Em relação à especificação de materiais, assinale V para a afirmativa ver-
dadeira e F para a falsa.
( ) A especificação de materiais, quando feita de forma detalhada e completa, evita a
compra de materiais em desacordo com as necessidades.
( ) O sucesso da especificação de materiais depende da existência de uma cataloga-
ção padronizada, de bons padrões descritivos e de um bom programa de normalização.
( ) Uma desvantagem da especificação de materiais é a de, em muitos casos, gerar
dúvidas em relação à identificação de um material.
As afirmativas são, respectivamente,
a) F, V e F.
b) V, F e F.
c) V, V e V.
d) F, F e V.
e) V, V e F.
REFLEXÃO
A eficiência e a eficácia do processo de compras dependem muito da qualidade de dados
que se tem, principalmente em organizações maiores ou que faz uma grande quantidade
de aquisições. A acumulação e organização dos dados dá subsídios para as atividades dos
compradores quanto a históricos de compras, características dos fornecedores e de seus
catálogos. Uma empresa pequena pode até ter um funcionamento satisfatório com o conhe-
cimento acumulado pessoalmente por seus compradores, mas é importante não depender
de informações e conhecimentos que estão apenas na cabeça de poucas pessoas.
capítulo 2 • 47
As variáveis e as estratégias estabelecidas para o processo de compras de uma organização
criam a estrutura que direciona as decisões dos compradores. Dentro dessa estrutura, que
é como um caminho a seguir, os compradores podem tomar suas decisões com base em
dados que possuem, como se verá nos próximos capítulos.
LEITURA
Se desejar saber mais sobre a centralização de processos na organização, principalmente
levando em conta o conceito de Centro de Serviços Compartilhados, leia o seguinte artigo.
AFFONSO, Henrique José; MARTINS, Henrique Cordeiro. Centro de serviços compartilha-
dos: impactos da implementação do modelo na estratégia, na estrutura e na gestão de em-
presas do setor privado. Revista de Ciências Empresariais da UNIPAR, v. 11, n. 2, 2010.
Este artigo está disponível no link (25/10/2014): <http://www.simpoi.fgvsp.br/arqui-
vo/2011/artigos/E2011_T00154_PCN95452.pdf>.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Marco Aurélio P. Administração de Materiais: Princípios, conceitos e Gestão. São Pau-
lo: Atlas, 2005.
MARTINS, Antônio G.; ALT, Paulo Renato C. Administração de Materiais e Recursos Patrimo-
niais. São Paulo: Sairava, 2009.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Como foi visto nesse capítulo, muitas das decisões a serem tomadas na área de compras estão
relacionadas a variáveis diretamente ligadas a condições ditadas pelos fornecedores. No próximo
capítulo serão apresentados a importância e meios para estabelecer relações mais eficazes com
os fornecedores, garantindo uma rede de fornecimento mais estável e previsível.
48 • capítulo 2
3
Relações com os
fornecedores
3 Relações com os fornecedores
As relações da empresa com seus fornecedores são essenciais para a otimização
dos processos ligados a seu suprimento. Selecionar fornecedores que apresen-
tem produtos e serviços de qualidade não é uma tarefa muito fácil em diversos
setores econômicos. A classificação, avaliação e acompanhamento desses for-
necedores pode trazer vantagens importantes para a agilização das compras,
redução de problemas logísticos, obtenção de preços vantajosos além de esta-
bilizar as operações de abastecimento.
OBJETIVOS
• Entender a importância de fazer uma boa seleção de fornecedores e como mater um ca-
dastro informativo dessas empresas.
REFLEXÃO
Você sabe muito bem que algumas empresas mantém um bom cadastro de seus clientes, utili-
zando-o para manter uma boa relação que pode levar a novas compras no futuro. Mas você sabia
que o mesmo tipo de relação rica pode ser mantido com o fornecedor da empresa?
50 • capítulo 3
3.1.1 Classificação e seleção de fornecedores
Outra forma de classificar os fornecedores tem menos relação com suas ca-
racterísticas próprias do que com as decisões táticas internas da organização
compradora ou das condições de mercado. O gestor de suprimentos pode de-
cidir não depender de apenas um fornecedor ou pode preferir estabelecer re-
capítulo 3 • 51
lações estáveis no processo de aquisições. Assim, os fornecedores poderão ser
alocados na seguinte classificação de canais de fornecimento (ARNOLD, 1999):
• Fonte única de fornecimento: quando há exclusividade no fornecimento
de certo material, por motivos de propriedade intelectual, capacidades
técnicas, localização etc.;
• Fonte múltipla: é a situação mais comum, na qual uma gama maior de
fornecedores para determinados itens gera maior concorrência e pressão
para preços mais baixos e condições melhores de compras e entregas;
• Fonte simples: é a seleção de um único fornecedor, ao qual é oferecido
um certo grau de exclusividade, quando existem competidores seus no
mercado. Trata-se de uma estratégia de estabelecimento de parceria de
longo prazo com uma relação estratégica para estabelecimento de um
canal de fornecimento eficiente.
52 • capítulo 3
• Localização do fornecedor: dependendo dos tipos de materiais, produ-
tos ou serviços oferecidos, pode ser interessante que as empresas este-
jam fisicamente próximas, facilitando os processos logísticos e agilizan-
do as entregas;
• Serviços pós-venda: caso os produtos tenham características mais técni-
cas, como equipamentos, é importante que se garanta um suporte ade-
quado, com assistência, checagens e manutenção. É necessário avaliar
esse atendimento quanto à sua qualidade, organização e custo.
• Outras considerações: estão associadas principalmente a consições es-
peciais de pagamento e fornecimento, as quais podem envolver um rela-
cionamento de confiança.
ATENÇÃO
O que é Customer Relationship Management (CRM)?
Customer Relationship Management (CRM) é o processo de gestão de dados e re-
lações com clientes. Costuma ser estudado principalmente do ponto de vista dos sistemas
de informações em Marketing, já que envolve o registro de muitos dados relacionados à
captação de clientes, detecção de clientes potenciais, registros de seus dados, registro de
capítulo 3 • 53
todos os contatos efetuados entre empresa e clientes, históricos de compras, consultas e
reclamações, suas preferências etc. Sistemas de relações com fornecedores podem incluir
muitas dessas características, de uma forma adaptada.
É claro que essa não é a única forma de avaliar os fornecedores, mas essas
duas classificações de critérios podem englobar todos os aspectos dos forne-
54 • capítulo 3
cedores, desde a qualidade dos produtos e serviços até a saúde financeira do
fornecedor, a qual, eventualmente, pode impedi-lo de entregar produtos para
os quais foram feitos pagamentos adiantados ou serviços já combinados em
contrato. Ainda, segundo o mesmo autor:
Pode-se classificar um bom fornecedor quando ele é honesto e justo em seus rela-
cionamentos com os clientes, tem estrutura e know how suficiente, tem condições de
satisfazer às especificações do comprador, nas quantidades desejadas e prazos ne-
cessários, tem sólida posição financeira, preços competitivos, constante necessidade
de desenvolvimento de seus produtos, e quando que seus interesses são alcançados
quando atende melhor a seus clientes. .
capítulo 3 • 55
certificações de qualidade, como a ISO 9001, conseguem fornecer materiais
com menos falhas e atrasos.
Assim, é importante avaliar o ambiente em que a empresa se insere. Os forne-
cedores possuem qualidade garantida em suas atividades ou são desorganizados?
Pequenos erros podem causar graves consequências? A conferência detalhada
deve ser feita para todos materiais ou apenas para certos grupos mais importantes?
Entre as opções de fazer uma conferência detalhada ou não, a organização pos-
sui uma possibilidade intermediária, a de fazer uma conferência por amostragem.
Nesse caso, pode fazer conferência em recebimentos escolhidos aleatoriamente,
ou sob algum critério, seguindo preceitos de métodos de controle de qualidade.
Esses critérios podem incluir um maior rigor (e, portanto, atribuir maior probabi-
lidade de seleção) aos materiais essenciais, aos mais caros ou àqueles que provêm
de fornecedores sem certificações ou com histórico de problemas.
Deve existir uma formalização de processos para registro de ocorrências
no momento do recebimento: um formulário de inspeção (eletrônico ou em
papel), tarefas a serem desempenhadas a cada tipo de ocorrência (notificação
ao fornecedor e anotação no banco de dados de fornecedores) e ações correti-
vas (devolução do material, cobrança de quantidade faltante, separação de pe-
ças defeituosas detectadas posteriormente etc.). Também devem ser previstas
cláusulas em contrato para os casos de não cumprimento das especificações,
evitando disputas judiciais e determinando dispositivos de punição.
Algumas das causas mais comuns a serem observadas na conferência de
material são:
• atraso na entrega;
• erro na quantidade entregue;
• erro na especificação de material entregue (produto diferente do solicitado);
• data de validade vencida ou muito curta;
• erros em documentos;
• embalagem ou produto danificado.
56 • capítulo 3
banco de dados, e a área de suprimentos poderá se comunicar com o fornece-
dor pedindo correções e reparações, além de poder incluí-lo na rotina de confe-
rência detalhada de suas entregas.
Há ainda os casos especiais de setores que necessitam de um controle rigoroso
de matérias-primas, como o químico e o de alimentos. Nesses casos, a certificação
do fornecedor pode até mesmo vir a ser obrigatória por lei. O recebimento de pro-
dutos pode impor controles e testes feitos em laboratórios antes que sejam utili-
zados em produção, exigindo um desenho especial do processo de recebimento.
ETAPA DESCRIÇÃO
Pesquisa de fornecedor Procurar informações, contatos e catálogos de forne-
cedores disponíveis no mercado.
capítulo 3 • 57
ETAPA DESCRIÇÃO
Acompanhamento e regis- Acompanhar o desempenho dos fornecedores
tro do desempenho de for- constantemente, criando critérios de qualidade em
necedor produtos e serviços. Os melhores fornecedores são
candidatos ao estabelecimento de maior integração.
58 • capítulo 3
Em primeiro lugar, é necessário identificar quais são os insumos para os
quais é importante estabelecer parcerias consolidadas. Isso pode ser feito tanto
para matérias-primas essenciais quanto para materiais de apoio à produção.
O mais importante é que sejam identificadas oportunidades na garantia de
qualidade, nos custos mais baixos que os de mercado ou de serviços logísticos
eficientes. Para cada insumo que se identifica a necessidade especial de forne-
cimento, é necessário estabelecer estratégias diferenciadas de parcerias. A par-
tir de então é possível atrair fornecedores desejáveis, envolvê-los nos processos
produtivos e logísticos e continuamente avaliá-los, com o propósito de evoluir
esse relacionamento. A figura a seguir resume esse processo.
capítulo 3 • 59
A etapa de consolidação da parceria permite que se utilize um de vários mo-
delos de relacionamento com fornecedores, ou variações sobre boas práticas
aplicadas em cadeias de fornecimento desenvolvidas. A seguir são apresenta-
dos alguns desses métodos, os quais passaram a ser englobados sob a denomi-
nação de Programas de Resposta Rápida (PRR).
60 • capítulo 3
DESPERDÍCIO DESCRIÇÃO
Tempo e recursos necessários para materiais, peças e docu-
TRANSPORTE
mentos se deslocarem de uma tarefa até outra.
Quadro 3.2 – Os sete tipos de desperdícios (muda) segundo o conceito de produção enxuta
capítulo 3 • 61
Obviamente, esse tipo de produção requer uma grande disciplina dentro da
empresa e na relação entre empresas. Utiliza sistemas de coordenação, como o
Kanban (que literalmente significa “cartão”), que é um sistema de cartões pas-
sados entre etapas da produção indicando quando e quais materiais serão ne-
cessários, os quais serão produzidos e transportados em pequenos lotes.
CONEXÃO
Para saber mais sobre produção enxuta, visite o site do Lean Institute Brasil:
<http://www.lean.org.br>
62 • capítulo 3
Continuous replenishment program (CRP) - Programa de reposição contínua
O Programa de Reposição Contínua é aquele em que empresa cliente e seu for-
necedor estabelecem um forte vínculo e confiança e, através de acertos contra-
tuais e operacionais, o fornecedor passa a ter acesso aos dados de níveis de esto-
ques de seu cliente. Logicamente, esse tipo de controle se dá pelo uso de meios
de comunicação digital com bases de dados ágeis e confiáveis.
Através desses dados de níveis e consumo de estoques, o fornecedor pode fa-
zer previsões de demanda de seu cliente e se antecipar em suas necessidades,
estabelecendo prazos e quantidades adequados para o reabastecimento. A chave
nesse processo é o compartilhamento de dados. O fornecedor assume maiores
responsabilidades no abastecimento dos estoques de seu cliente, considerando
intervalos regulares de transporte e níveis máximos e mínimos de estoque, sendo
que esses podem variar em função de variações sazonais ou pontuais.
capítulo 3 • 63
grada, tornando o conceito uma evolução do JIT e de Quick Response.
A iniciativa de ECR se baseia em integrar a cadeia de fornecimento de di-
versas formas, de modo que seus participantes atuem coordenadamente para
trazer agilidade, menores custos e maior qualidade. Isso deve ser feito através
da gestão conjunta de fornecimento, integração de dados na gestão de compras
e na redução de obstáculos para se obter maior eficiência. A definição para o
ECR feita por Ghisi e Silva (2001) é a seguinte:
64 • capítulo 3
3.4 Uso de tecnologias em compras
Com base no ponto de pedido, por nível de estoque ou por periodicidade pré-
definida (conceitos da Unidade 3), o sistema informatizado pode emitir um
alerta de necessidade de abastecimento, o qual, após aprovação, se tornará
uma ordem ou pedido de compra. Esse aviso pode se chamar alerta de esto-
que, pedido de abastecimento ou algo assemelhado. As regras de negócio em-
butidas no sistema podem transformá-lo automaticamente em uma ordem de
compra ou direcioná-lo para um processo de aprovação, o que pode depender
de valores, volumes ou tipo de material.
Um processo de abastecimento previsível, com contratos de longo prazo esta-
belecidos, permite que a emissão de ordens de compra se torne mais rápida ou até
mesmo automática, desde que se encontre dentro de certos parâmetros definidos
nas políticas de estoque. Se for esse o caso, a emissão da ordem de compra apenas
passa por um processo mais rigoroso de análise se fugir do parâmetro designado.
Essa automatização deve considerar que o consumo dos materiais é previ-
sível e possui uma boa projeção. Se houver aumento da demanda durante o pe-
ríodo considerado e os contratos não o preverem, a partir de certo momento,
as ordens de compra poderão passar a conter quantidades solicitadas cada vez
maiores que extrapolarão o acordo.
A Gestão Logística através de contratos de longo prazo se torna cada vez mais
comum. Isso porque ela reduz o tempo de negociação nas compras, aumentan-
do velocidade de abastecimento e reduzindo custos de transação. Isso faz com
que seja necessário, além de controlar níveis de estoques, também controlar o
capítulo 3 • 65
andamento de contratos, que inclui seu vencimento, os preços estabelecidos
em relação aos de mercado, cláusulas e dados administrativos.
Para que não se perca o controle desses dados no decorrer do andamento de
contratos, que podem durar anos, é importante a utilização de um sistema es-
pecífico para isso. Sendo uma tendência recente, esse tipo de software não se
encontra incorporado em muitos sistemas de gestão. Trata-se de um misto de
sistemas de gerenciamento eletrônico de documentos (GED), os quais mantêm
os documentos como eles são registrados, com informações não estruturadas
(como arquivos do tipo PDF, de texto ou escaneados) e sistemas de gerenciamen-
to de dados estruturado (datas, valores, quantidades, códigos de materiais etc.).
Quando se faz esse tipo de controle, é possível antecipar o vencimento de
contratos e iniciar novas negociações, renegociar preços em função de varia-
ções de mercado ou apenas consultar seus dados – sem que seja necessário
procurar pastas de papel em arquivos – a qualquer momento e em qualquer lu-
gar. Também é possível, dessa forma, estabelecer regras de negócio específicas
para materiais contidos em contratos, dependendo de seu tipo (como materiais
de tecnologia, de infraestrutura, perecíveis e outros).
66 • capítulo 3
3.4.4 Troca eletrônica de documentos (Electronic Data Interchange – EDI)
capítulo 3 • 67
CONEXÃO
Para saber mais sobre padrões de troca de documentos eletrônicas e outras tecnologias
para web, visite o site brasileiro do World Wide Web Consortium (W3C). Esse site mantém
materiais explicativos introdutórios e em profundidade, inclusive de cursos ministrados pela
instituição: http://www.w3c.br
ATIVIDADE
1. De que modo as relações estáveis com fornecedores e o estabelecimento de contratos
de longo prazo contribuem para a redução dos custos logísticos?
2. (Adaptado de FJG, RIO, 2014) A forma de aquisição de recursos materiais realizada por
meio da utilização de um computador acoplado a um modem e a uma linha que fica li-
gado diretamente ao computador do fornecedor, independentemente dos hardwares e
softwares em utilização, na qual as ordens e os pedidos de compras são enviados sem a
utilização de papel, é conhecido como:
a) post
b) browse
c) EDI
d) hubs
e) purchase
68 • capítulo 3
próximo item.
A seleção de fornecedores, uma atividade secundária do processo de compras, não afeta
diretamente a qualidade do produto e do serviço final.
( ) Certo
( ) Errado
REFLEXÃO
O relacionamento com fornecedores é uma atividade crítica em vários setores produtivos e
de serviços. Por exemplo, se uma fábrica fica sem matérias-primas, sua linha produção tem
que parar e isso acarreta em custos altíssimos; nesse caso, para garantir seu funcionamento
contínuo, ela deve tornar seu abastecimento estável através da formação de estoque e/ou
através da garantia de um bom funcionamento de sua rede de fornecimento. Um grande hos-
pital pode incorrer no mesmo problema que uma fábrica, mas mais do que custos contábeis/
financeiros, pode acabar com custando vidas e saúde.
Com o propósito de eliminar estoques e flexibilizar sua produção, há décadas as empresas
japonesas estabeleceram novas formas de relacionamento entre empresas e seus fornece-
dores. Em seguida, suas práticas passaram a ser adotadas em outros países industrializados,
nos quais elas evoluíram para os vários métodos estudados nesse capítulo. Ainda há vários
setores econômicos e países que necessitam adotar práticas modernas de gerenciamento
de suprimento com integração de sua cadeia visando melhorar sua eficiência..
LEITURA
Para saber mais sobre o processo de implantação de um projeto de EDI e a implicação na
parceria entre empresas, leia o caso das Lojas Americanas. Apesar de essa empresa ter muitos
fornecedores, o sucesso do projeto apenas foi possível com uma parceria de uma outra grande
organização fornecedora. O seguinte artigo relata o caso:
HEES, Ana Paula Góes; MACULAN, Anne Marie. A adoção do electronic data interchange
(EDI) pelas Lojas Americanas. Anais do 24º Encontro da Anpad. Florianópolis, SC, 2000.
Este artigo está disponível (25/10/2014) em: <http://www.reocities.com/lucielnet/
americanas.doc>
capítulo 3 • 69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARNOLD, J. R. Tony. Administração de Materiais. Editora Atlas: São Paulo, 1999.
DIAS, Marco Aurélio P. Administração de Materiais: Princípios, conceitos e Gestão. São Paulo:
Atlas, 2005.
GHISI, Flávia A.; SILVA, Andrea L. Implantação do Efficient Consumer Response (ECR): um
Estudo Multicaso com Indústrias, Atacadistas e Varejistas. Revista de Administração Contem-
porânea. Vol.10, no.3. Curitiba: Julho/Setembro de 2006.
PACHECO, Diego Augusto J.; ROCHA, Elenise Angelica M.; SILVA, Marco Aurelio. Uma Dis-
cussão Sobre os Programas de Resposta Rápida e o planejamento Colaborativo no Gerencia-
mento de Cadeis de Suprimento: Evolução, Definições e Implicações. XXXI ENEGEP. Anais,
outubro de 2011.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Até esse capítulo, nosso foco principal foram as atividades do setor de compras das organizações.
Mas também foi discutido a todo momento que a relação e influência entre as atividades de com-
pras e a gestão de estoques são bastante fortes. No próximo capítulo serão descritas a função e
as atividades do setor responsável pela gestão de estoques, além de suas principais ferramentas.
70 • capítulo 3
4
Gestão de estoques
4 Gestão de estoques
Neste capítulo, será apresentada uma visão geral da atividade de Gestão de Esto-
ques, a qual complementa o ciclo de abastecimento juntamente com as ativida-
des de Compras, além de ferramentas de administração de materiais que permi-
tem a adequação e acurácia dos níveis de estoques. É importante ter em mente
que o controle de estoque é feito através de dados que representam um estoque
físico. É comum que o mundo físico e os dados tendam à divergência, sendo ne-
cessário utilizar métodos de previsão, conferência e custeio para alcançar eficiên-
cia e evitar perdas e desperdícios.
Os estoques são necessários para evitar problemas de fornecimento de materiais
para produção, vendas ou prestação de serviços, mas níveis exageradamente ele-
vados de estoque também significam capital investido, o qual cria grandes ne-
cessidades de capital de giro. A solução ideal inclui a organização dos processos
internos para evitar necessidades de estoque, ao mesmo tempo em que se cria
regras e planejamentos adequados para aquisição e armazenagem de materiais,
mantendo suas quantidades em níveis adequados.
OBJETIVOS
Ter uma visão geral das principais atividades de gestão de estoques, mais especificamente:
• O que são Gestão de Estoque e Logística;
• Como se faz planejamento de demanda e do abastecimento e seu acompanhamento;
• Como aperfeiçoar a gestão de estoque através de dados de controle;
• Como manter dados de controle de estoque fidedignos.
REFLEXÃO
Sempre que a economia nacional desacelera, vários setores econômicos são afetados, prin-
cipalmente o industrial. Quando isso ocorre, os noticiários da televisão costumam mostrar os
pátios das empresas montadoras de automóveis, os quais ficam lotados de carros prontos para
venda. Isso ocorre quando a desaceleração das vendas é maior do que a prevista, levando a
uma produção maior que a demanda no curto prazo. A imagem desses pátios cheios apenas
deixa o problema mais visível para as pessoas em geral.
72 • capítulo 4
4.1 Suprimentos e logística
capítulo 4 • 73
• Não permitir condições de falta ou excesso em relação à demanda de
vendas;
• Prevenir-se contra perdas, danos, extravios ou mau uso;
• Manter as quantidades em relação às necessidades e aos registros;
• Fornecer bases concretas para elaboração de dados ao planejamento de
curto, médio e longo prazos, das necessidades de estoque;
• Manter os custos nos níveis mais baixos possíveis, levando em conta os
volumes de vendas, prazos, recursos e seu efeito sobre o custo de venda
do produto.
74 • capítulo 4
ternos sem produção ou perda de vendas de produtos acabados. Por outro lado,
o excesso de estoque acarreta em custos, que podem estar associados à infraes-
trutura para manter o estoque (espaço físico, energia, pessoal etc.) e também ao
capital sem rentabilidade investido em um estoque com pouco giro.
Como fizemos para a função de compras, listemos alguns grupos gerais de in-
dicadores para se medir o desempenho das atividades de estoque no quadro 4.1.
capítulo 4 • 75
4.1.1 Planejamento do abastecimento
76 • capítulo 4
• Gasta-se mais com matérias-primas, equipamentos ou materiais de
manutenção ou de escritório? Quanto investimento foi feito em equipa-
mentos de informática em determinado período?
ATENÇÃO
O que são regras de negócio?
Regras de negócio são pontos de decisão em fluxos de dados e de tarefas, em que re-
gras são preestabelecidas para que não seja necessário que em todas as vezes se faça
avaliações demoradas do caminho a se seguir. Por exemplo, se for definido que “todas as
compras acima de R$20.000,00 precisam passar pela diretoria para aprovação”, essa é
uma regra de negócio que alivia a carga de trabalho dos diretores, dá autonomia ao pessoal
que executa a atividade e pode inclusive ser informatizado.
capítulo 4 • 77
transcorram sem problemas e minimizando os custo logísticos. O gerente de es-
toques deve garantir que seus dados de controle sejam fidedignos e garantam um
monitoramento adequado de previsões, quantidades armazenadas e seus custos.
Com a finalidade de executar bem essas atividades, elas devem ser baseadas
em ferramentas de controle: previsões de demanda, estimativa de custos de ar-
mazenamento, sistemas de conferência de estoques, classificação de materiais
e estoques e indicadores de desempenho.
78 • capítulo 4
mentos. Seu comportamento é diferente da demanda dos consumidores
finais porque, geralmente, as empresas compram em lotes e de forma
estável. Por exemplo, a demanda por motores automotivos é predomi-
nantemente dependente.
• Demanda independente: é a demanda dos consumidores finais, que cos-
tumam consumir individualmente. A demanda por carros novos é um
exemplo. O comportamento da curva que representa essa demanda é mais
suave, pois representa um número muito maior de pequenas compras.
Média móvel
A média móvel é uma média simples, mas cuja janela de valores considerados
muda, acompanhando o período presente. Essa média é muito utilizada como
uma das formas para expressar tendências de índices de inflação, que costuma
ser divulgado como o índice no último mês, como o índice acumulado durante
um ano, de janeiro a dezembro, ou como o índice acumulado nos últimos 12
meses – esse último caso é um cálculo de média móvel, que indica a tendência
do índice acumulado e se ele tende a convergir para uma meta de inflação. Da
mesma forma, esse método pode ser aplicado para o consumo de materiais.
O período que se considera para seu cálculo é chamado de janela de tempo.
O tamanho dessa janela pode ser estimado para cada situação, podendo ser de
três, quatro, seis meses ou qualquer outro período. No entanto, se existe uma
tendência no consumo, tanto de aumento como de redução, uma janela muito
capítulo 4 • 79
grande tende a subestimar ou superestimar os valores futuros. Por exemplo, se
o consumo está aumentando a cada mês, uma janela de 12 meses fará com que
quantidades consumidas muitos meses atrás pesem no cálculo de previsões.
Nesse ponto você pode se perguntar: se ocorre essa influência do passado, por
que se utiliza a média histórica então? O objetivo do uso da média é anular varia-
ções extremas de consumo em um ou outro mês. O planejamento realizado sobre
um único mês de consumo atipicamente alto poderia levar a aquisição de estoques
também muito altos. Por isso, o ideal é que se considere o consumo de mais de um
mês, de preferência mais recentes, como base para planejamento de materiais.
Veja, na Tabela 1, uma sequência histórica de consumo em 16 meses; a linha
com valores da média móvel procura estimar uma previsão de consumo para o
mês seguinte com base em uma média de 4 meses anteriores:
2 245
3 215
4 217
5 261 223,3
6 272 234,5
7 210 241,3
8 221 240
9 300 241
10 236 250,8
11 321 241,8
12 265 295,5
13 282 280,5
80 • capítulo 4
MÊS CONSUMO REAL MÉDIA MÓVEL
14 294 276
15 347 290,5
16 275 297
Tabela 1 – Exemplo de consumo real de brocas de aço em uma construtura e a média móvel
de consumo para uma janela de 4 meses
Nesse exemplo, como a janela de cálculo é feita sobre quatro meses ante-
riores, apenas podemos considerar valores a partir do quarto mês de registro.
Por exemplo, o valor da previsão de consumo para o mês 5 é feito com a média
sobre os valores de consumo real dos meses 1, 2, 3 e 4. Esse valor previsto de
consumo no mês 5 é igual a 223,3 unidades de brocas de aço, que, na verdade,
em um planejamento real, deve ser aproximado para cima, para 224 unidades.
Se colocarmos as duas linhas, de consumo real e de consumo previsto, em um
gráfico, podemos observar melhor sua relação.
400
350
300 Consumo real
Quantidade
Figura 7 – Gráfico baseado dos dados da Tabela 1 – Consumo real de brocas de aço em uma
construtora e média móvel simples de consumo para janela de 4 meses
capítulo 4 • 81
No gráfico da figura 7 é possível observar que a média móvel, representada
pela linha mais escura, tende a subestimar o valor real de consumo. Isso ocor-
re porque há uma tendência de aumento de consumo, e a média considera va-
lores de quatro meses anteriores, os quais pesam em seu cálculo. Se a janela
de tempo utilizada fosse menor, os valores históricos influenciariam menos,
mas a linha da média seria menos suave também, se aproximando mais das
oscilações do consumo real. Mesmo que “atrasada”, a média móvel consegue
captar a tendência de aumento de consumo.
MÊS PESO
M-1 Mês anterior 40%
82 • capítulo 4
MÊS CONSUMO REAL MÉDIA PONDERADA MÓVEL
1 216
2 245
3 215
4 217
5 261 221,9
6 272 237
7 210 252
8 221 239,5
9 300 231,9
10 236 255,5
11 321 249,6
12 265 281,3
13 282 279,5
14 294 280,1
15 347 287,3
16 275 309,9
Tabela 2 – Exemplo de consumo real de brocas de aço em uma construtura e a média móvel
ponderada de consumo para uma janela de 4 meses
capítulo 4 • 83
O gráfico que representa o consumo real (linha clara) e a previsão pela mé-
dia móvel ponderada (linha escura), é apresentado na figura 8. Observe que a
linha é menos suave do que a da média simples, pois os meses mais recentes
na janela possuem maior peso. Os picos de previsão são atrasados em relação
aos de consumo real, mas há uma maior aderência à tendência de oscilações.
400
350
300 Consumo real
Quantidade
Figura 8 – Gráfico baseado dos dados da Tabela 2 – Consumo real de brocas de aço em uma
construtora e média móvel ponderada de consumo para janela de 4 meses
Tendências e sazonalidades
Até o momento, falamos sobre a tendência do aumento do consumo nos exem-
plos de previsão apresentados. Mas o que significa isso? E qual a diferença en-
tre tendência e sazonalidade?
Usualmente, aplica-se o termo “tendência” para casos em que pode ser ob-
servado que uma série temporal converge definitivamente para um certo cami-
nho. Pode ser uma tendência de aumento, uma tendência de diminuição ou até
de estabilidade. É quando os valores tendem a algum ponto ou direção.
O conceito de “sazonalidade” é aplicado quando lidamos com ciclos, prin-
cipalmente quando são atrelados a algum evento, como períodos do ano. Por
exemplo, a média de temperaturas mensais apresenta comportamento sazonal
de forma natural na maioria das regiões do planeta, com aumentos no verão e
reduções no inverno. As vendas de roupas de frio também seguem sazonalida-
des, assim como a venda de guarda-chuvas.
Seguindo o exemplo das temperaturas, cientistas têm afirmado que, além
da sazonalidade normal para cada região, as médias de temperatura têm au-
84 • capítulo 4
mentado em todos os lugares nos últimos anos, com suspeita de causas liga-
das à ação humana. Isso, que se têm chamado de aquecimento global, é uma
tendência de aumento de temperatura, a qual pode interferir nas condições
econômicas de todos os países. Portanto, as tendências e sazonalidades po-
dem ocorrer ao mesmo tempo em uma série histórica de dados.
Figura 9 – Representações gráficas de séries temporais com sazonalidade (1), tendência (2)
e a união dos dois movimentos (3).
Regressão linear
A regressão linear é uma ferramenta matemática que cria uma reta que procu-
ra se aproximar, ao máximo, todos os pontos da sequência analisada. De uma
modo resumido, ela faz isso através do método dos mínimos quadrados, que
reduz ao máximo a soma dos quadrados de todas as diferenças entre cada valor
da série e a equação que expressa essa reta, isto é, cria a equação de uma reta
que está o mais próximo possível de todos os pontos em um gráfico. Chama-se
“linear” justamente porque é uma linha reta, que pode ser expressa por uma
equação do primeiro grau do tipo:
f(x) = ax + b
Além dos softwares estatísticos, os programas de planilha eletrônica são
capazes de calcular essa reta facilmente. Basta criar um gráfico de linha com os
valores da série temporal e, em sua configuração, solicitar a inserção da linha
de tendência (que, nesse caso, é feita pela regressão linear). Também é possível
capítulo 4 • 85
solicitar que seja incluída a equação da reta e seu coeficiente de determinação,
r2. Esse coeficiente de determinação pode variar entre 0 e 1, sendo que, quanto
mais se aproxima de 1, maior a adequação da equação para explicar o compor-
tamento futuro. Veja o gráfico da figura 10 como exemplo:
250
Regressão linear do
200 consumo real
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Mês
Figura 10 – Gráfico de consumo com dados das Tabelas 1 e 2, com reta de regressão linear,
sua função e seu coeficiente de determinação, inseridos por planilha eletrônica
86 • capítulo 4
ramentas de gerenciamento, como é o caso do cálculo do Lote Econômico de
Compra (LEC, que será visto no capítulo 5). O custo total de manter estoques
pode ser dividido em três elementos: custos diretamente proporcionais, custos
inversamente proporcionais e custos independentes.
capítulo 4 • 87
Custos Independentes
Custos independentes são aqueles que não variam em função das quantidades
armazenadas, pelo menos dentro de certos patamares. Por exemplo, o aluguel
de um galpão é fixo até que ele se encha; até isso ocorrer, não será necessário
alugar um novo espaço para armazenamento. Dependendo da forma de opera-
ção, também não variarão custos com segurança, iluminação, manutenção etc.
Além desses componentes do custo de manter estoques, fazem parte do cál-
culo total e mais amplo os custos de pedido e os custos de falta:
• Custo de Pedido: são os custos relacionado a se fazer pesquisas de mer-
cado, especificar os produtos a serem comprados, preparar pedidos de
compra, se comunicar com os fornecedores e acompanhar os pedidos.
Erroneamente se pode pensar que esses custos são baixos, mas eles de-
mandam tempo dos compradores, tornando-se bastante altos quando a
organização faz muitas compras.
• Custo de Falta: dependendo das relações logísticas que a empresa possui,
esse custo pode ser menos ou mais subjetivo. Em muitos casos, o custo de
falta será relativo ao cliente que a empresa deixou de agradar e portanto se
tornou uma venda perdida. Em casos em que há contratos de nível de servi-
ço, essencialmente entre empresas, se houver falha de fornecimento pode-
se acabar arcando com multas ou indenizações acertadas em contrato.
88 • capítulo 4
camente, evitando diferenças que possam acumular e causar transtornos ope-
racionais. O gerenciamento adequado do processo de abastecimento presume
que as quantidades armazenadas sejam iguais às indicadas em seus controles.
O método mais utilizado de conferência de inventário é o periódico, no qual
são determinadas certas datas em que as atividades de abastecimento param
e os saldos físicos e de controle são conferidos. Esses períodos costumam ser
anuais, e essa é uma das causas do famoso fechamento para balanço, além de
conferências financeiras e contábeis.
Se as diferenças entre os saldos e as causas não são identificadas, os valores de-
vem ser conciliados e registrados contabilmente. Quanto melhores os processos e
sistemas de controle das empresas, menor a incidência de erros, mas, na prática,
uma acurácia de 100% é muito difícil, o que retoma o conceito de nível de serviço, já
que um controle extremo para evitar erros pode levar a custos muito altos.
Quando se pratica a conferência de estoques em datas determinadas, é neces-
sário que as atividades de movimentação fiquem suspensas, pois pode ser difícil
detectar materiais que estão se deslocando entre as áreas. Esse tempo parado pode
causar perdas devido a vendas ou a produção não efetuadas, mas pode ser uma boa
oportunidade para providenciar férias coletivas ou recesso para parte da equipe.
Durante esse período, que pode ser, por exemplo, de uma semana no ano, também
é possível mobilizar o pessoal da área de estoques para fazer a conferência. Por ou-
tro lado, a informatização e o aperfeiçoamento dos processos de controle, intensi-
ficados nos últimos anos, permitem que o processo seja mais rápido.
Outra desvantagem da conferência periódica é o intervalo de tempo entre
cada checagem e conciliação. Causando transtornos para as atividades normais,
elas são feitas eventualmente, e as organizações que possuem um alto grau de
divergência podem acumulá-los em longos períodos. No fim do período, haverá
um grande número de materiais com índices elevados de não conformidade, o
que pode acarretar em indicadores ruins de níveis de serviço à medida que o tem-
po passa em relação ao último levantamento.
Essas desvantagens fazem com que um outro método se torne interessante,
a conferência rotativa ou cíclica. Nesse método, a conferência de saldos é feita
durante o ano todo, alguns materiais por dia ou por semana. O princípio básico
é o de que, conferindo e conciliando alguns materiais diária ou semanalmente,
todos os itens serão revisados em um determinado período (anual, semestral
ou qualquer outro que convenha), e o inventário total apresentará um desvio
médio menor em relação aos saldos reais. A conferência cíclica pode apresen-
capítulo 4 • 89
tar as seguintes vantagens em relação à periódica:
• Nnecessita grandes paradas de atividades, mas apenas o bloqueio de al-
guns materiais por um curto período;
• Pode utilizar uma equipe pequena e permanente, com essa atividade
exclusiva;
• Mantém baixo o índice geral de não conformidade;
• Permite maior controle de materiais mais importantes ou mais caros.
O objetivo é que esse valor seja elevado, o que indicaria que a maior parte
dos itens tem um inventário registrado que bate com a quantidade real armaze-
nada. Como os custos de manter o indicador de Acurácia do Estoque em 100%
são muito altos, sendo esta uma situação difícil, na prática procura-se mantê-lo
em uma margem de tolerância. Qual margem de tolerância é aceitável? Isso de-
90 • capítulo 4
pende muito do tamanho da empresa, dos tipos de materiais que administra e
de características de seu setor. É interessante que se faça uma pesquisa no setor
de sua empresa para saber como outras lidam com isso, e então estabelecer
metas para que se torne competitiva. Se a acurácia for muito baixa, estabeleça
um valor mínimo aceitável, como 85%, busque melhorias de processo para al-
cançá-lo e procure aumentar a meta no longo prazo. Trata-se de um processo de
melhoria contínua, e esse é um indicador para orientação.
Outra forma de utilizar o indicador de acurácia é associando-o à classifica-
ção ABC (explicada algumas páginas à frente). Se os materiais mais importan-
tes para as atividades da organização, ou os mais caros, mesmo sendo uma mi-
noria, estão na classe A, então a tolerância de erro para seus estoques deve ser
mais baixa. Para a classe C, a tolerância pode ser maior. Pode-se, por exemplo,
estabelecer o seguinte critério:
TOLERÂNCIA DO ÍNDICE DE
CLASSIFICAÇÃO
ACURÁCIA DE ESTOQUE
A 1%
B 5%
C 15%
Isso significa que o patamar desejado para acurácia dos materiais da classe
A deveria ser 99%, o da classe B seria 95% e o da C 85%.
capítulo 4 • 91
mas, de produtos acabados ou de itens de almoxarifado. Também é necessário
separar materiais perecíveis, refrigerados ou contaminantes. Além disso, dentro
de cada agrupamento de estoques, é importante classificar os seus itens, mesmo
que sejam armazenados no mesmo espaço e manipulados de maneira similar.
Martins e Alt (2006) citam cinco grandes categorias de classificação as quais
servem, principalmente, para efeitos contábeis:
• Estoques de materiais: são os materiais utilizados nos processos produ-
tivos para a fabricação de produtos acabados ou de prestação de serviços.
Nessa classificação são incluído materiais diretos, que serão agregados
ao produto final, ou aqueles que servem para os processos de apoio. Aqui
também entram as matérias-primas.
• Estoques de produtos em processos: esses são os materiais que se en-
contram no meio do processo produtivo. Em fábricas, são os pequenos
estoques que aguardam para dar entrada em alguma etapa de produção.
• Estoques de produtos acabados: são os produtos após a transformação,
os quais aguardam para serem vendidos. Podem estar armazenados na
fábrica ou unidades de armazenamento descentralizadas.
• Estoques em trânsito: são os estoques despachados que ainda não che-
garam ao seu destino.
• Estoques em consignação: são os produtos que ainda pertencem ao fa-
bricante, mas é armazenado em seu cliente. Fazem parte de um contrato
de consignação, em que a transferência contábil só se dá quando é fei-
ta uma venda para o consumidor final. Caso não aconteça essa venda, o
produto pode voltar ao fabricante sem ônus financeiro.
92 • capítulo 4
máquinas, ferramentas, mesas de escritório etc. Normalmente esses materiais
podem passar pelo setor de estoques para controle, mas depois são encami-
nhados para seus departamentos de uso efetivo.
capítulo 4 • 93
5. A tabela deve ser ordenada em ordem decrescente de valor total de
consumo. Pode ser adicionada uma coluna que demonstra o valor
acumulados dos itens (o total até o item anterior mais o valor de con-
sumo do item atual);
6. Calcula-se a porcentagem acumulada de valor dos itens, dividindo o va-
lor acumulado daquela linha pelo total de consumo de todos os itens;
7. Por fim, os itens devem ser classificados como sendo A, B ou C de acor-
do com critério de porcentagem acumulada que seja desejável para o
estudo em andamento. Costuma-se inserir os itens com 70% ou 80% do
valor total na classe A
94 • capítulo 4
CUSTO QUANTIDADE VALOR TOTAL
NOME DO TOTAL PORCENTAGEM
CLASSE UNITÁRIO CONSUMIDA CONSUMIDO POR
MATERIAL ACUMULADO ACUMULADA
(R$) POR MÊS MÊS (R$)
Tabela 3 – Simulação de tabela de Classificação ABC para estoque, por valor de consumo.
capítulo 4 • 95
100%
90%
80%
70%
Porcentagem acumulada
60%
Grupo C
50%
40%
Grupo B
30%
20%
Grupo A
10%
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Materiais
Na prática, o gráfico não é mais útil do que a tabela, já que o nosso interesse
é em saber exatamente quais materiais caem na classificação A, B ou C. O pri-
meiro grupo deve receber atenção especial em sua administração, já que pos-
sui maior peso em termos de quantidade utilizada, custo unitário ou ambos. Os
materiais classificados como C podem ser submetidos a sistemas de controle
menos custosos. A inclinação da curva mostra que os primeiros itens na série
ordenada levam o valor acumulado muito mais rapidamente para próximo de
100% do que os itens finais da classe C.
96 • capítulo 4
4.2.6 Indicadores
A acurácia pode ser medida a cada vez que se faz uma conferência total ou
parcial dos estoques. Esse indicador não leva em consideração a diferença en-
tre real e virtual de cada item, mas apenas quantos deles estavam errados no
sistema de controle, independentemente do desvio. Ele indica a capacidade da
organização em manter um controle adequado das quantidades armazenadas.
Se em dado momento o indicador é de 85%, isso significa que a cada 100 itens,
15 possuíam quantidade real divergente dos registros de controle. Se a organi-
zação não faz conferência contínua, a acurácia tende a diminuir com o tempo,
até que se chegue ao próximo período de ajustes.
capítulo 4 • 97
Giro de estoques
O giro de estoques ou índice de rotatividades dos estoques é um dos indicado-
res mais utilizados. Ele demonstra, para determinado período, o quanto o esto-
que girou, isso é, quantas vezes o estoque teve que ser reabastecido para atender
sua demanda. O indicador faz isso de maneira aproximada, contando quantas
vezes a demanda de um período foi maior que o nível médio do estoque:
Demanda no período
Giro de estoque =
Estoque médio no período
O giro de estoque deve ser calculado para cada produto. Por exemplo, para
uma empresa que vende telefones celulares saber o giro de estoque de um mo-
delo específico, ela deve somar quantos celulares foram vendido em dado ano.
Em seguida, pode fazer uma média dos níveis de estoque desse produto ao fim
de cada mês. Se ela vendeu 1.200 aparelhos no ano, e seu estoque médio era de
150 aparelhos ao fim de cada mês, seu giro de estoque desse aparelho foi igual
a 8, ou seja, o estoque se renovou oito vezes.
Cobertura de estoque
A cobertura de estoque é uma forma alternativa do indicador de giro do estoque
que, ao invés de mostrar quantas vezes ele foi renovado durante um período, ele
indica quanto tempo o estoque médio duraria considerando a demanda pelo
material em questão. Sua fórmula é a seguinte:
98 • capítulo 4
indicador para dimensionamento dos estoques, e não um controle preciso.
Em determinados momentos do ano, como no Natal, a demanda por celulares
pode ser muito maior, e na maior parte do tempo o nível do estoque será dife-
rente de seu valor médio no período. Mesmo assim, o indicador mostra que os
estoque são mantidos em níveis adequados e que é necessário que o período de
reabastecimento seja menor que esse valor.
Taxa de atendimento
A Taxa de Atendimento também é eventualmente chamada de nível de serviço,
mas esse último termo também denomina conceitos mais gerais de acordos de
indicadores entre fornecedor e cliente. A Taxa de Atendimento simplesmente
indica quantos dos pedidos de materiais foram atendidos em determinado pe-
ríodo. Sua fórmula é:
capítulo 4 • 99
de que a demanda de materiais possa sofrer variações além do previsto e, por
isso, mesmo que se utilize uma margem de segurança nas quantidades arma-
zenadas, eventualmente a demanda pode ser maior que a própria margem.
Manter estoque de segurança muito elevado para tentar superar todos impre-
vistos pode acarretar em custos desproporcionalmente altos, os quais seriam
repassados para os preços dos produtos ou dos serviços que, dessa forma, atin-
giriam patamares indesejáveis para os clientes.
ATENÇÃO
O que é Seis Sigma?
O Seis Sigma é um conceito ligado à produção enxuta e aos programas de melhoria de
qualidade. Seu nome vem da utilização do desvio-padrão como medida de variabilidade em
processos produtivos, significando que os resultados devem ter uma tolerância de variação
muito pequena (sigma é a letra grega utilizada para representar o desvio-padrão). Além
disso, o método do Seis Sigma envolve atividades de capacitação dos funcionários e im-
plementação do programa de controle.
CONEXÃO
100 • capítulo 4
Acesse o seguinte documento elaborado pelo Inmetro. Ele fala da importância da ISO 9001
para compradores, que podem ser consumidores finais ou compradores institucionais:
<http://www.inmetro.gov.br/qualidade/pdf/CB25docorient.pdf>
capítulo 4 • 101
da variabilidade no tempo de reabastecimento e em variações da deman-
da no período. É portanto um meio de reduzir o risco e, quanto maior esse
risco, maior também será o Estoque de Segurança a ser mantido.
ATIVIDADE
1. Como as atividades logísticas se relacionam:
a) Com a área de marketing?
b) Com a área financeira?
c) Com a área de produção?
3. O que significa o índice de Acurácia de Registro de Inventários? Explique com suas palavras.
102 • capítulo 4
REFLEXÃO
O gerenciamento de estoques se resume em planejar quantidades que atendam à demanda,
garantir que os dados utilizados para essa gestão sejam fidedignos, distribuir os suprimentos
adequadamente e se certificar, através de indicadores, que está cumprindo bem esses pa-
péis. Em grandes armazéns, essas atividades podem se tornar desafiadoras. É essencial para
isso que sejam elaboradas boas políticas e regras de estoques e que os sistemas de controle
sejam de boa qualidade..
LEITURA
O seguinte artigo apresenta um estudo de caso em que são aplicados indicadores de de-
sempenho na gestão de estoques de uma farmácia hospitalar. Esse tipo de estoque inclui
materiais bastante caros, que possuem datas de validade variadas e uma diversidade grande
de itens, além de ter um movimento intenso de entradas e saídas em estoque.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTINS, Antônio G.; ALT, Paulo Renato C.. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais.
São Paulo: Sairava, 2009.
capítulo 4 • 103
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo serão apresentados os principais modelos que ditam as políticas de
estoques. Estes são modelos matemáticos que requerem a manutenção de dados com certa
qualidade dentro da organização. No entanto, mesmo que esses modelos não sejam direta-
mente aplicados, seus conceitos gerais são de extrema importância para a compreensão da
formulação de políticas de estoques adequadas.
104 • capítulo 4
5
Modelos de
gerenciamento de
estoques
5 Modelos de gerenciamento de estoques
Após apresentar diferentes variáveis e estratégias de compras e ferramentas utili-
zadas para o gerenciamento de estoques, resta aprofundar nos modelos de geren-
ciamento de estoques. Basicamente, há duas grandes variáveis que determinam o
modelo a ser adotado por uma organização: o período de tempo entre cada compra
e a quantidade a comprar a cada vez.
Essas políticas fazem uma conexão direta entre compras e estoque pois, se esco-
lhermos comprar pequenas quantidades, teremos que fazer compras mais fre-
quentes e vice-versa. Essa decisão pode depender de muitos fatores, como o custo
e a dificuldade de se fazer cada pedido, o espaço físico para armazenamento, a pe-
ricibilidade dos materiais, custo financeiro de se manter estoques, a eficiência do
setor de produção, entre outros.
Os modelos de gerenciamento de estoques são representados por modelos teóri-
cos que podem ser utilizados pelas empresas para estimar seus ciclos de compra e
os tamanhos ideais de lotes de compra, além de calcular níveis de estoque de segu-
rança que evitem seu desabastecimento.
OBJETIVOS
Saber:
• O que é Ponto de Pedido;
• O que são os métodos de Reposição Contínua e de Reposição Periódica;
• Como calcular o Lote Econômico de Compra (LEC);
• Camo calcular estoques de segurança.
REFLEXÃO
Você já deve ter enfrentado várias vezes em sua vida a situação em que não encontrava
na loja um produto que procurava. Já deve ter até mesmo ouvido a resposta um tanto
engraçada “tem, mas acabou”. Para muitas empresas, a minimização do risco desse tipo
de falta em estoque é essencial, pois ele pode trazer muitos prejuízos. Em uma fábrica,
a parada de uma linha de produção por falta de materiais incorre em custos perdidos.
106 • capítulo 5
5.1 Políticas de pontos de pedido
ATENÇÃO
Nas organizações e na sociedade, “políticas” são princípios que dão base a certas regras ou
procedimentos que se deseja alcançar. Nesse contexto, o termo tem um significado diferente
de “político”.
capítulo 5 • 107
5.1.1 Reposição contínua (ponto de pedido por nível de estoque)
Recebimento de
Nível de lote comprado
Estoque
Consumo gradual
de estoque
Nível do ponto de
pedido
Q
t Tempo
Figura 12 – Gráfico Dente de Serra com ponto de pedido por nível de estoque.
108 • capítulo 5
A fórmula para o ponto de pedido é a seguinte. Discutiremos brevemente
o Estoque de Segurança contido nesta expressão:
PP = D x TR + ES
Onde:
PP = Ponto de Pedido.
D = Demanda ou consumo em um período.
TR = Tempo de Reposição ou abastecimento, na mesma unidade de tempo.
ES = Estoque de Segurança.
O que se pode concluir desse fórmula é que, quanto maior o tempo de abas-
tecimento (Tempo de Reposição), maior o ponto de pedido. A tendência é que o
tempo de abastecimento também aumente a necessidade de estocar e, portan-
to, do capital investido nesse estoque.
capítulo 5 • 109
meses “às cegas”, sem verificar se a quantidade de abastecimento para todos os
materiais, em um mês, pode superar o espaço físico suportado em estoque.
Uma vantagem desse tipo de pedido é a possibilidade de arranjar os recebi-
mentos no tempo, permitindo, por exemplo, que materiais semelhantes ou do
mesmo fornecedor sejam entregues em conjunto. A previsibilidade nas datas
de entrega pode ser vantajosa para ambas as partes, caso seja possível dentro
das condições do setor.
110 • capítulo 5
Nível de
Estoque
Período com
consumo atípico
Tempo
Falta em
estoque
Figura 13 – Gráfico Dente de Serra com período de consumo atípico, incorrendo em falta de material
Nível de
Estoque
Período com
consumo atípico
Nível do ponto de
pedido
Estoque de
segurança
Tempo
Evita-se falta
em estoque
Figura 14 – Gráfico do ponto de pedido por nível de estoque, mais estoque de segurança.
capítulo 5 • 111
Existem vários métodos de cálculo do estoque de segurança, desde a utiliza-
ção de um valor arbitrário, escolhido por intuição ou por ser uma quantidade
razoável (como uma margem de 10% ou 20%), até o uso da distribuição de pro-
babilidades em sua fórmula. Um resumo de alguns métodos estão no quadro
5.1. As fórmulas e nomes dos métodos variam de autor para autor.
112 • capítulo 5
MÉTODO DESCRIÇÃO FÓRMULA
ES = ( 2 2
TR × σD2 + D × σ TR
2 + σ 2 σ2
D × TR )
Da mesma forma que no mode-
Onde:
Variabilidade lo anterior, assumindo distribui-
ES = Estoque de Segurança
do consumo ções normais, pode-se considerar
TR = Tempo médio de reposição
e do tempo conjuntamente a variabilidade no
D = Demanda média em um período
de reposição tempo de reposição (TR) e no
σD = Desvio Padrão do consumo du-
consumo mensal (D) do material.
rante o tempo de reposição
σTR = Desvio Padrão do tempo de
reposição
Quadro 5.1 – Alguns dos principais modelos para cálculo de margens de estoque de segurança
ATENÇÃO
O que é desvio padrão?
O desvio padrão, em estatística, é a raiz quadrada da Variância. Essas são medidas de variabi-
lidade, que podem ser usadas em diversas áreas. Por exemplo, em Finanças, o desvio padrão
pode ser usado como uma medida de risco de investimentos, e em processos organizacio-
nais, a variabilidade indica falta de qualidade ou previsibilidade. Essas medidas procuram
expressar em um valor a dispersão de diversos pontos em torno de uma média: quanto mais
dispersos os valores, maior a variabilidade do conjunto.
capítulo 5 • 113
Como conclusão, devemos perceber que a variabilidade de consumo e de
reposição sempre influenciarão no cálculo de estoques de segurança: quanto
maiores as variabilidades, maiores os estoques para garantir o abastecimento.
Assim, fica clara a importância de se gerenciar essas variabilidades para que se-
jam menores e previsíveis. Apenas dessa forma será possível manter um menor
nível de estoque e reduzir seus custos.
114 • capítulo 5
um item de estoque.
CONEXÃO
Para saber mais sobre a Distribuição Normal, veja na Wikipédia:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Distribui%C3%A7%C3%A3o_normal>
Nível de atendimento
Exemplo = 85%
Grau de risco
Exemplo = 15%
capítulo 5 • 115
0,85 (de 85%) é o de 0,8508, que está destacado na tabela. A linha horizontal
corresponde a 1,0 e a coluna vertical corresponde a 0,04. Portanto, o valor que
procuramos é igual a k = z = 1,0 + 0,04 = 1,04.
CONEXÃO
Para saber mais sobre a consulta à tabela da Distribuição Normal, veja esse vídeo:
<http://youtu.be/ec9HWoY2kt8>
Z 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09
0,0 0,5000 0,5040 0,5080 0,5120 0,5160 0,5199 0,5239 0,5279 0,5319 0,5359
0,1 0,5398 0,5438 0,5478 0,5517 0,5557 0,5596 0,5636 0,5675 0,5714 0,5753
0,2 0,5793 0,5832 0,5871 0,5910 0,5948 0,5987 0,6026 0,6064 0,6103 0,6141
0,3 0,6179 0,6217 0,6255 0,6293 0,6331 0,6368 0,6406 0,6443 0,6480 0,6517
0,4 0,6554 0,6591 0,6628 0,6664 0,6700 0,6736 0,6772 0,6808 0,6844 0,6879
0,5 0,6915 0,6950 0,6985 0,7019 0,7054 0,7088 0,7123 0,7157 0,7190 0,7224
0,6 0,7257 0,7291 0,7324 0,7357 0,7389 0,7422 0,7454 0,7486 0,7517 0,7549
0,7 0,7580 0,7611 0,7642 0,7673 0,7704 0,7734 0,7764 0,7794 0,7823 0,7852
0,8 0,7881 0,7910 0,7939 0,7967 0,7995 0,8023 0,8051 0,8078 0,8106 0,8133
0,9 0,8159 0,8186 0,8212 0,8238 0,8264 0,8289 0,8315 0,8340 0,8365 0,8389
1,0 0,8413 0,8438 0,8461 0,8485 0,8508 0,8531 0,8554 0,8577 0,8599 0,8621
1,1 0,8643 0,8665 0,8686 0,8708 0,8729 0,8749 0,8770 0,8790 0,8810 0,8830
1,2 0,8849 0,8869 0,8888 0,8907 0,8925 0,8944 0,8962 0,8980 0,8997 0,9015
1,3 0,9032 0,9049 0,9066 0,9082 0,9099 0,9115 0,9131 0,9147 0,9162 0,9177
1,4 0,9192 0,9207 0,9222 0,9236 0,9251 0,9265 0,9279 0,9292 0,9306 0,9319
1,5 0,9332 0,9345 0,9357 0,9370 0,9382 0,9394 0,9406 0,9418 0,9429 0,9441
116 • capítulo 5
Z 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09
1,6 0,9452 0,9463 0,9474 0,9484 0,9495 0,9505 0,9515 0,9525 0,9535 0,9545
1,7 0,9554 0,9564 0,9573 0,9582 0,9591 0,9599 0,9608 0,9616 0,9625 0,9633
1,8 0,9641 0,9649 0,9656 0,9664 0,9671 0,9678 0,9686 0,9693 0,9699 0,9706
1,9 0,9713 0,9719 0,9726 0,9732 0,9738 0,9744 0,9750 0,9756 0,9761 0,9767
2,0 0,9772 0,9778 0,9783 0,9788 0,9793 0,9798 0,9803 0,9808 0,9812 0,9817
2,1 0,9821 0,9826 0,9830 0,9834 0,9838 0,9842 0,9846 0,9850 0,9854 0,9857
2,2 0,9861 0,9864 0,9868 0,9871 0,9875 0,9878 0,9881 0,9884 0,9887 0,9890
2,3 0,9893 0,9896 0,9898 0,9901 0,9904 0,9906 0,9909 0,9911 0,9913 0,9916
2,4 0,9918 0,9920 0,9922 0,9925 0,9927 0,9929 0,9931 0,9932 0,9934 0,9936
2,5 0,9938 0,9940 0,9941 0,9943 0,9945 0,9946 0,9948 0,9949 0,9949 0,9952
2,6 0,9953 0,9955 0,9956 0,9957 0,9959 0,9960 0,9961 0,9962 0,9963 0,9964
2,7 0,9965 0,9966 0,9967 0,9968 0,9969 0,9970 0,9971 0,9972 0,9973 0,9974
2,8 0,9974 0,9975 0,9976 0,9977 0,9977 0,9978 0,9979 0,9979 0,9980 0,9981
2,9 0,9981 0,9982 0,9982 0,9983 0,9984 0,9984 0,9985 0,9985 0,9986 0,9986
3,0 0,9987 0,9987 0,9987 0,9988 0,9988 0,9989 0,9989 0,9989 0,9990 0,9990
capítulo 5 • 117
Representa a soma dos custos
Custo total de pedido e de armazenamento,
em função de tamanho de lote.
Custo
Essa relação pode ser facilmente observada quando são imaginadas duas si-
tuações extremas. A primeira seria o caso de uma empresa que decide comprar
de uma vez, para um ano todo, um tipo material que consome em grande quan-
118 • capítulo 5
tidade, o que exigiria uma estrutura de armazenamento tão grande que seria ne-
cessário construir outro galpão e empregar mais pessoal, ou contratar serviços
de terceiros para armazená-lo. A outra situação extrema seria a de uma empresa
que fragmenta tanto os pedidos de compras que precisa contatar o fornecedor
algumas vezes ao dia para comprar os mesmos materiais – nesse último caso,
necessitaria de mais funcionários na área de compras, teria que gastar mais re-
cursos com os contatos e o fornecedor teria que fazer várias entregas. Em ambos
os casos, os custos poderiam chegar a níveis insuportáveis para a empresa.
É importante obter um equilíbrio entre custos de armazenagem e custos de
pedidos. No entanto, o uso do Lote Econômico de Compras se apresentará como
um desafio para a maioria das empresas, já que depende de se conhecer, com
certo grau de precisão, os custos associados à estrutura, aos processos de esto-
cagem e à execução de um pedido de compra, bem como de um método de seu
rateio para cada pedido ou material armazenado. Além disso, existem efeitos de
economia de escala nessas atividades, como por exemplo, quanto mais pedidos
de compras se faz com uma estrutura organizacional determinada, mais são dilu-
ídos seus custos fixos, o que barateia o custo de cada pedido, até o momento em
que é necessário ampliar essa estrutura, contratando mais pessoas para a função
de compradores, o que volta a encarecer um pedido único. Essa complexidade
na formação e conhecimento de custos faz com que o LEC seja importante de
um ponto de vista conceitual, e que sua utilização prática possa ser de maneira
aproximada, com finalidade de estimativa ou de referência.
Para explicar como se calcula o LEC, devemos passar pelos conceitos de custo
de pedido, custos de armazenagem e estoque de segurança. Aqui serão apresen-
tadas algumas fórmulas, cujas siglas podem mudar de autor para autor em vários
livros do assunto. Faremos uma união da forma apresentada por Moreira (2008)
e Gonçalves (2010), então usaremos os termos “custo de pedido” (que pode ser
chamado de custo de reposição, custo de compra) – representado pela letra P –
enquanto para os custos de armazenamento usaremos a letra M, de “manter”.
O Custo Total de Pedido (CTP) é igual a quantidade de pedidos no ano vezes
o custo de cada pedido. Na prática, isso pode ser calculado para cada material
ou para grupos de materiais em um único de pedido, mas, para identificação do
custo de pedido para um material, deve ser calculado individualmente:
D
CTP = × c p
Q
capítulo 5 • 119
Onde:
CTP = Custo Total de Pedir
D = Demanda do material no ano (quantidade consumida no ano)
Q = Quantidade no lote de compra (quantidade por pedido)
cP = custo de cada pedido
Q
CTM = × cm
2
Onde:
CTM = Custo Total de Manter
Q = Quantidade no lote de compra (quantidade por pedido)
cm = custo de armazenamento de cada unidade de material por período de
tempo
A soma dos custos de pedir e dos custos de manter já é informação suficien-
te para gerenciar as quantidades mais adequadas por pedido. Mas pode ser in-
teressante adicionar à equação o custo do material em si, que Gonçalves (2010)
chama de Custo Fixo do material, – valor gasto na aquisição, ou seja, o preço
unitário do produto. Esse custo é a quantidade consumida multiplicada pelo
valor de cada unidade:
CF = D × c
120 • capítulo 5
Assim, o custo logístico total de um material em determinado período,
como um ano, é o seu valor total de compra mais o custo de fazer seus pedido
mais os custos de mantê-los em estoques:
CT = CF + CTP + CTM
D Q
CT = D × c + × c p + × cm
Q 2
2 × D × cp
Q=
cm
Portanto, para estimar a quantidade ideal a cada compra, segundo essa teoria,
basta saber a demanda no período (D), o custo do pedido (cP) e o custo de manter
(cm). O desafio para utilização do LEC, portanto, é implementar uma boa metodo-
logia de apuração de custos no setor de abastecimento.
É importante destacar que o Lote Econômico de Compra apenas é adequa-
do em certas situações propícias. Arnold (1999) destaca quatro suposições para
aplicação do LEC: a demanda deve ser relativamente constante; o abasteci-
mento é feito em lote, e não de forma contínua; os custos de pedido e de arma-
capítulo 5 • 121
zenagem são constantes e conhecidos; a reposição é imediata. Apesar dessas
restrições, o LEC é um conceito que possibilita uma visão interessante sobre a
necessidade de equilíbrio de quantidades a serem compradas e estocadas.
ATIVIDADE
1. Explique os dois principais tipos de pontos de pedido para abastecimento de estoques.
2. Argumente o porquê de as políticas de pontos de pedido periódico e contínuo não seriam
adequados em uma organização que utiliza o método de Just In Time em sua produção.
Para isso, pesquise na internet como funciona o JIT.
3. Como o tempo do ciclo de abastecimento de uma empresa influencia em seus níveis de
estoque? Como o conceito de estoque de segurança se encaixa nesse contexto?
REFLEXÃO
Nesse capítulo, vimos quais são os principais determinantes das políticas de estoques. Eles pa-
recem bastante técnicos por envelverem fórmulas e conceitos estatísticos, mas são problemas
enfrentados diariamente pelas organizações. As fórmulas de Estoque de Segurança e, principal-
mente, de Lote Econômico de Compra podem não ser práticas ou aplicáveis em certos contextos,
mas, mesmo assim, as pessoas que trabalham nas área de compras e estoque devem se preo-
cupar com seus conceitos.
LEITURA
Como fazer um bom controle e implementar boas políticas de estoque se os insumos seguem
diferentes padrões de demanda. O artigo a seguir apresenta uma proposta com base em um
estudo de caso realizado em uma empresa do setor químico.
122 • capítulo 5
SANTOS, Antônio Marcos dos; RODRIGUES, Iana Araújo. Controle de estoque de materiais
com diferentes padrões de demanda: estudo de caso em uma indústria química. Gestão &
Produção, v. 13, n. 2, p. 223-231, 2006.
O artigo está disponível (25/10/2014) em: < http://www.scielo.br/pdf/gp/v13n2/31169.pdf>
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARNOLD, J. R. Tony. Administração de Materiais. Editora Atlas: São Paulo, 1999.
DIAS, Marco Aurélio P. Administração de Materiais: Princípios, conceitos e Gestão. São Pau-
lo: Atlas, 2005.
capítulo 5 • 123