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13 A PARTICIPACAO DAS MASSAS BRASILEIRAS NA REVOLUCAO ANTI-ESCRAVISTA E ANTI-MONARQUICA (1888-1891) Décio Saes * 1, Introdugio: algumas tendéncias de interpretagio da Revolucio anti-escravista € anti-monarquica ‘Uma intencio bisica anima, atualmente, um amplo continente de ‘estudiosos da Histéria do Brasil: a de fazer a critica dos erros cometi- dos, por muitos de nossos pesquisadores, na. avaliagdo da participacdo das massas nas grandes transformacées politicas por que passou a for- macio social brasileira, a partir da crise do sistema colonial. & que, salvo raras excecdes, os nossos autores tém subestimado, ou mesmo ignorado, a participacdo das classes dominadas nos mais diversos pro- cessos de transformacao politica, como a conquista da Independéncia e a formacao do Estado Nacional (1808-1831), a Revolugéo de Trinta ‘ou a Redemocratizacio de 1945. Nosso objetivo, aqui, é dar alguma con- tribuicdo a esse esforco de redescoberta da presenca das massas na Historia do Brasil, e de critica as andlises que afirmam a existéncia de uma “Historia sem massas”. Para tanto, buscamos avaliar a participa- ¢Go das massas num proceso especifico de transformagao politica: @ Revolucdo anti-escravista ¢ anti-monarquica que se desenrola, essen- cialmente entre 1888 e 1891, através de episddios sucessivos como a Abolicdio da Escravatura (1888), a Proclamacéo da Repitblica (1889) ea Assembléia Constituinte (1891). Desde logo, coloca-se a pergunta: qual é a natureza dessa Revo- Juco? Defini-la implica nao s6 descobrir qual a relacéo existente entre a Abolicio da Escravatura, a Proclamacao da Reptiblica e a Assembléia Constituinte, como também superar caracterizacoes simplificadas desses episcdios, consideredos isoladamente: seja a caracterizacéo da Aboli- Géio como a conclusao légica do processo de substituicéo do trabalnador escravo pelo trabalhador imigrante, seja a caracterizacao da Procla- macdo da Republica e da Assembléia Constituinte como os aspectos centrais de um processo de substituiedo do regime monérquico por um regime presidencial. Na verdade, a Abolicéo da Escravatura, a ‘Procla- macio da Republica e a Assembléia Constituinte constituem aspectos e momentos de um processo mais profundo de transformacdo da natu- reza de classe do estado brasileiro; ou seja, 0 processo de transforma- cio de um Estado escravista moderno, cujas instituigdes politicas esto fundadas no privilégio do homem livre com relagao ao escravo (0 Es- tado imperial), num Estado burgués, cujas instituicées politicas estao fundadas na concessio, a todos os individuos, do atributo formal da cidadania (o Estado republican). A Abolicéo do trabalho escravo mina a base escravista do Estado imperial, ao destruir o critério — a distingao “ entre homem livre e escravo — a partir do qual se organizam todas as instituicdes politicas imperiais (Executivo, Senado, Burocracia, Guar- da Nacional, ete.); a Proclamagao da Republica completa a tarefa des- truidora da’ Abolicio, ao derrubar, nfo apenas o regime mondrquico, como tmbém todas as instituicdes politicas de base escravista (= insti- tuigdes particularistas); a Assembléia Constituinte se define como o momento de construcéo de novas instituigdes politicas, formalmente abertas a todos os cidaddos e portanto dotadas de uma aparéncia uni- versalista. Em suma, a Revolucdo anti-escravista e anti-monarquica dos anos 1888-1891 representa a formagao de um novo tipo de Estado de classe, o Estado burgués; ou, por outra, a defini¢éo de um outro tipo de dominacao de classe, @ dominacdo politica burguesa, Agora podemos perguntar: que classes sociais participam desse proceso de transformacao burguesa do Estado? Qual a natureza dessa participaciio? F, mais especificamente, que classe social assume a dire- G40 (= definicio de objetivos politicos, de formas de acéo e organiza- Go politicamente eficazes) da luta anti-escravista e anti-monérquica? # dificil encontrar uma resposta para essas perguntas na historio- gratia e na literatura sociolégica brasileiras, j4 que a Abolic&io da es- cravatura e a Proclamacéo da Reptiblica séo encaradas, na maioria dos trabalhos conhecidos, como processos isolados, quando nao relacio- nados de modo superficial (1). O isolamento, na anélise, desses pro- cessos constitul sem dtivida um sério obstéculo ao entendimento cor- reto da participacio das diferentes classes sociais na Revolucdo anti- escravista e anti-monérquica; nao se trata, todavia, do tnico obsté- culo. Em muitos dos trabalhos sobre o tema "Capitalismo e escravidéo no Brasil”, escritos hé 10 ou 15 anos por socidlogos da. USP (fundamen- talmente os de Paula Belguelman, mas também os de Fernando Hen- rique Cardoso e Octavio Tannt) (2), sdo visivels as consequéncias, ac nivel da andlise das lutas sociais anti-escravistas, da influéncia entéo exerclda sobre esses autores pelo pensamento de Max Weber. Tals tra- balhos atribuem burguesia aos fazendelros de café do Oeste Novo pau- Usta a infelativa e a direcéo do movimento abolicionista, encarado co- mo um prolongamento e uma consequéncla naturais da decisio de in- troduzir o trabalhador imigrante na regiéo cafeeira. Ora, nessa linha de interpretagéo é razoavelmente clara a insplracéio weberians: & a transformacéo de sua mentalidade senhorial (= tradicional) em men- talidade empresarlal (= racional) que levaré uma fracio da classe dominante — os fazendelros de café do Oeste Novo paulista — a promo- ver uma ampla aco racionelizadora na esfera do trabalho, tal ago se estendendo da utilizacio do trabalhador imigrante até a ‘Abolicao do trabalho escravo. Em suma, tais andlises conferem a uma fracdo da classe dominante toda a responsabilidade pelas grandes transformacées sociais anti-escravistas. Ainda que reconhecam o vulto das revoltas escravas, nao Thes atribuem nenhum papel preciso no desencadeamen- to do movimento abolicionista e na conquista final da Abolicéo; e, ain- da que reconhegam a presenga, no movimento abolicionista, de setores sociais urbanos néo facilmente identificaveis com qualquer fracio da classe dominante, nao avancam na caracterizacao da situacdio de classe 5 € dos objetivos politicos de tais setores. ‘Também a maioria dos ensaios dedicados a interpretagao sociolé- giea do movimento republicano e da Proclamagio da Republica admite, de modo mais ou menos explicito, o carater politicamente revoluciona- Tio dos fazendeiros de café do Oeste Novo paulista. Para autores como Nelson Werneck Sodré e Leoncio Basbaum (3), a Proclamacao da Re- publica constitui o resultado da acdo politica dos cafeicultores paulis- tas, em alianca com a classe média urbana, civil e militar, subentendida ‘a hegemonia dos fazendeiros na alianca. Segundo essa linha interpreta- tiva, os fazendeiros de café do Oeste Novo paulista, excluidos do Poder politico monopolizado pela velha classe dominante escravista, véem na derrubada do regime monarquico o meio de aceder ao Poder e de colo- car a maquina do Estado a servico dos seus interesses particulares. Evi- dentemente, os autores mencionados nao chegam a tais conclusées por se inspirarem no pensamento de Max Weber. E nem se pode dizer que essas conclusdes decorrem de uma pura constatacéo dos fatos: é pro- blemético sustentar o cardter revolucionario da fracao dos fazendeiros de café, quando se leva em conta os obstéeulos que estes opdem, no interior do Partido Republicano Paulista, ao desenvolvimento de uma aco claramente anti-escravista e anti-monarquica (4). Na verdade, autores como Werneck Sodré ou Basbaum parecem aplicar, na andlise da realidade historica brasiletra, uma tese mais geral: a de que as Re- volugées politicas burguesas so feitas, basicamente, pela burguesia no interesse da burguesia. Se as tendéncias de andlise acima mencionadas procuram atestar © papel dirigente da. fracdo dos fazendeiros de café nas lutas abolicionista e republican, uma outra tendéncia, ainda em gestacdo, enceta o mesmo caminho, embora 0 faca com o intuito de criticar aquelas orientacées. Mais precisamente: essa nova corrente — que ainda néo dispoe de re- presentantes autorizados ou de textos basicos sustenta, como as cor- rentes j4 mencionadas, que a Abolicfio e a Proclamagao da Republica foram primordialmente 0 resultado da acéo politica da classe domi- nante; porém, ao contrario daquelas, considera que tals transformacdes em nada constituiram uma avanco, do ponto de vista das classes domi- nadas. Portanto, nessa perspectiva — que se define como a da “His- téria do ponto de vista das classes dominadas” —, seria totalmente il6- gica a participacdo das massas em movimentos como 0 abolicionista e © republicano, isto é em lutas por transformagées sociais e politicas tdo superficiais e formais. Alguns dos adeptos dessa tendéncia chegam, mesmo, @ propor a construcdo de uma “Hist6ria das classes dominadas” paralela & “Historia das classes dominantes”; vale dizer, o abandono da Revolugio Burguesa como objetivo tedrico e, portanto, a recusa a qualquer avaliacao da participacdo das massas em processos historicos particulares de Revolucao Burguesa, 2. A posicao do bloco cafeciro paulista diante da luta anti-escravista ¢ anti: monarquica. Nossa intencdo, aqui, é problematizar as interpretagdes acima ex- postas, Para melhor sugerir, desde ja, o sentido geral de nossa critica, sirvamo-nos de uma famosa. passagem de Lénin, em Duas titicas da 16 social-democracia na revolucéo democrética: “Assim, a revolugdo bur- guesa apresenta para o proletariado as maiores vantagens. A revolucdo burguesa é absolutamente indispensivel, no interesse do proletariado”. E ainda: “(...) a revolucdo burguesa 6, num certo sentido, mais van- tajosa para o proletariado que para a burguesia. Eis aqui o sentido pre- ciso em que esta afirmacao € incontestdvel: é vantajoso, para a burgue- sia, apoiar-se sobre certos vestigios do passado contra o proletariado, por exemplo, sobre a monarquia, o exército permanente, etc. # vanta. Joso para a burguesia que a revoluco burguesa nfo varra de modo de- masiado resoluto todos os vestigios do passado, que ela deixe subsistir alguns deles, isto é que a revolucéo nao seja totalmente consequente, nao va até o fim, ndo se mostre resoluta e implacdvel” (5). Como apli- car as ligoes teéricas, contidas nessa passagem, & andlise de uma Revo- lugao politica burguesa que se desenrola no quadro de uma formacdo social onde inexistem a industria e 0 proletariado, e onde escravos ¢ camponeses constituem as classes dominadas fundamentais? £ que também a Revolugao anti-escravista e anti-monarquica €, num certo sentido, mais do interesse do conjunto das classes trabalhadoras (rurais € urbanas) que do interesse dos fazendeiros de café (propriedade fun- diria), comissdrios e exportadores de café (capital mercantil ligado & producao cafeeira). Como justificar essa afirmacao? Ela pode parecer arbitraria e anti- cientifica, se se aceita a tradicional e praticamente incontestada ca- racterizacdo dos cafeicultores paulistas do Oeste Novo como progressis- tas. Todavia, é preciso avancar na qualificagao do “‘progressismo” dessa fracio. De um lado, é inegével que tal fracdo (ainda que sob a pressio da Tevolta escrava) desenvolve uma ag&o econémica transformadora, ao introduzir o trabalhador imigrante na regiao cafeeira e, portanto, Propér na, prética uma alternativa conereta ao trabalho escravo. De outro lado, € certo que a despeito das suas vacilacées, os interesses liga- dos ao café paulista se definem, sobretudo a partir de 1870, como uma forca de oposigao, no plano parlamentar, ao bloco escravista interregio- nal que controla o aparelho de Estado imperial. Todavia, do progressis- mo econémico e do oposicionismo politico do bloco cafeeiro, nao se deve deduzir o seu empenho em destruir as instituicdes politicas escravistas: isto €, promover a libertacéo dos trabalhadores escravos, transformar todos os trabalhadores — libertos, colonos imigrantes ou homens li- vres do interior — em cidadaos, garantir amplos direittos civis e politi- Cos as massas trabalhadoras. Bem ao contrario: o bloco cafeeiro paulis- ta (propriedade fundidria cafeeira + capital mercantil cafeeiro) 6 in- capaz de dirigir um processo de transformacao burguesa do Estado, dado que a utilizacéo do trabalhador imigrante néo deve implicar, seu ver. 0 abandono de formas de dominaciio politica pré-burguesa. His- toriadores e socidlogos brasileiros ainda ‘ndo tiraram todas as conse- Quéncias politicas do fato de os fazendeiros de café terem substituido Progressivamente 0 trabalhador escravo, no pelo trabalhador livre (isto €, separado dos meios de producio), e sim, pelo trabalhador pes- soalmente dependente do proprietario fundiario ‘que Ihe cede 0 uso da terra: ou seja, 0 colono, o parceiro, o meeiro. Ora, formas de producao “ a ‘como 0 colonato, a parceria e a meacSo garantem a reprodugdo de for- mas de dominac&o politica, distintas da dominacao escravista, mas tao pré-burguesas quanto esta’ ou seja, relagdes de dominagao pessoal (6), expressas concretamente como lealdade pessoal do trabalhador depen- dente para com o proprietério que Ihe cede o uso da terra. Se a finali- dade incondicional do trabalhador pessoa do proprietario de terras é claramente conflitante com o exercicio, pelo trabalhador, dos direitos civis e politicos burgueses (direito de ir e vir, liberdade de trabalho, di- reito de reunido e associacao, etc.), como ento supor que o bloco ¢a- feeiro, apegado a relacdes de dominacao pessoal, poderia se lancar & construgio de instituic6es politicas burguesas? De resto, no se pense que a adocdo das formas de trabalho men- cionadas, como sucedaneos do trabalho escravo, foi a mera decorréneia de uma necessidade econémica. Muitos dos representantes mais escla- recidos do bloco cafeciro entreviram o colonato, nao como uma pura solugio econémica para a questao da substitui¢do do trabalho escravo, mas também como uma solucdo politica para a questéo da substituicao da dominacdo escravista; a partir da década de 1870, propostas de “feu- dalizacéo” do campo brasileiro, como via para a instauracao de uma ordem social harmoniosa, fundada nos lacos pessoais entre fazendeiros e trabalhadores, e isenta dos perigos trazidos pelo exercicio quotidiano da violénci (caso da ordem social escravista), aparecem frequente- mente na imprensa e na literatura politica. Cumpre, além disso, relem- brar a resisténcia imposta pelo bloco cafeeiro, ao longo de toda a Pri- meira Reptiblica e mesmo depois, & implantacdo das instituicdes po- Iiticas burguesas no campo: no s6 0 direito de greve, de sindicalizacao ou de organizacdo partidaria, mas até a liberdade de trabalho ou o di- reito elementar a reivindicacao coletiva. Como, & vista disso, pode-se sustentar o interesse politico da fracio “progressista” da classe domi- nante na formacdéo de uma “Repiiblica democratica” ou de uma “de- mocracia liberal” no Brasil? # essa preocupacao com o reforco dos mecanismos de dominacio politiea no campo que estabelece os limites da participacao do bloco ca- feeiro no movimento republicano. A andlise da linha de agdo desse blo- co no seio do Partido Republicano Paulista nos revela a verdadeira na- tureza do seu republicanismo. De um lado, pelo fato de os seus mem- bros serem radicalmente contra a Abolicio, ou por defenderem — a t{- tulo de concessio 20 movimento popular — a Emancipacdo gradual dos esctavos —, esse bloco logra impor ao PRP, pelo menos até 1887 (quan- do 0 movimento abolicionista popular esta praticamente vitorioso), uma posicdo de omissio (ao nfvel dos programas partidarios e da agao poli- tica) com relae&o ao problema da escravidao. Esse republicanismo, ca- paz de coexistir com a defesa (por acdo ou omisséo) da escravidao, re- vela-se portanto um republicanismo superficial e limitado, mais refe~ rido ao modo de escotha do chefe do Poder Executivo que A transforma- gio de todos os individuos em cidadaos. De outro lado, a Repiiblica néo constitui, para esse bloco, um objetivo estratégico; a agitacio, pelo PRP, de 'palavras de ordem republicanas Ihe serve como instrumento de pressdo sobre 0 bloco escravista interregional, pela obtengao de con- 18 cessdes politicas nos limites do Estado escravista imperial. A rigor, 0 loco cafeeiro agita o fantasma republicano a fim de obter, do bloco escravista, uma descentralizacao politica e administrativa do Estado escravista’ monArquico; a agitacdo republicana é, antes de mais nada, um expediente tético na busca da autonomia provincial (SP), capaz de assegurar ao bloco cafeeiro a gestdo, antes monopolizada pelo apare- Tho de Estado central. dos recursos financeiros (tributos, empréstimos estrangeiros) necessarios A promocdo da expansao cafeeira. Essa orien- tacdo explica, de resto, o carater progressivamente conciliador da ado politica desenvolvida pelo PRP, as suas tentativas de entendimento ‘com os ultimos gabinetes imperiais, bem como os esforgos da alta dire- ao partidéria (monopolizada pela “‘cafeicultura”) no sentido de frear 8 aco dos “radicais” do Partido, e de obstaculizar os seus contatos com os militares republicanos do Rio de Janeiro. Em suma: & medida que se intensifica a luta popular anti-escra- vista e anti-monarquica, as fracdes ligadas & produgao e ao comércio do café se lancam a aplicacio de uma estratégia politica de compromis- so com a velha classe dominante escravista, Essa estratégia politica é, 20 mesmo tempo, reformista ¢ conservadora: cla envolve, simultanea- mente, a luta por reformas politicas de carater descentralizador, e a aceitacao de cardter escravista e monarquico das instituicdes politicas. Nao se pense, todavia, que tal situagao é inédita na historia das Revo- luc6es politicas burguesas. Albert Soboul, em suas obras sobre a Revo- lugdo Francesa, demonstra que a grande burguesia comercial, as vés- peras da Revoluciio, desenvolve sua luta por uma maior participacdo na definicao da politica de Estado, segundo uma estratégia politica de compromisso com os monarquianos (a nobreza progressista) : buscando, néo a derrubada do Estado absolutista, ¢ sim, reformas politieas de ca- rater liberalizador, a burguesia comercial, apés a revolta popular de julho de 1789, contemporizaré sobre a questao dos direitos senhoriais, defenderé a manutencdo da monarquia hereditéria e proporé o estabe- lecimento de um regime censitério para a Assembléia Nacional e para a Guarda Nacional (7). ‘© que foi dito acima no implica, entretanto, ignorar o fato de que @ ac&o econémica transformadora e a acao politica reformista do bloco cafeeiro contribuem para a criacdo de condigSes politicas favordvels ac desencadear e & intensificacdo da luta revolucionaria anti-escravista anti-monarquica, de que participam outras classes sociais. Aqui, interes- sa-nos sobretudo sublinhar o carter ndo-revolucionario do bloco ca- feeiro, e problematizar as teses que Ihe conferem a condicdo de forca di- rigente do processo de transformagao burguesa do Estado no Brasil. 3. As classes trabalhadoras na Revolugio anti-escravista ¢ anti-mo- narquica. A compreensio do verdadeiro cardter da Revolucdo anti-escravista, e anti-mondrquica de 1888-1891 exige. portanto, uma ampliacdo do fo- co de anilise: & preciso verificar porque e como certas classes trabalha- doras, rurais ou urbanas, participam da luta anti-escravista e anti-mo- nérquica. Para tanto, deve-se comecar por introduzir na cena o persona- gem mais incOmodo para a maioria dos analistas: a massa escrava, a Sabemos que a historiografia tradicional habitualmente interpretou a Abolicdo do trabalho escravo como o fruto de uma magnfnima decl- séo imperial, isto ¢, como uma doagao generosa a uma massa impotente e softedora. Mas mesmo pesquisadores argutos, conhecedores da ampli- tude do movimento de revolta escrava na segunda metade do século XIX, se abstiveram de atribuir um papel definido & revolta eserava, na conquista da Abolicdo, para nao falar da destruidéo das instituic6es politicas escravistas. ‘Alguns poucos autores tém, contudo, procurado inverter essa ten- déncia de andlise, ao atribuir ao movimento de revolta escrava um pa- pel central na destruicao do escravismo no Brasil; dentre os trabalhos que vém contribuindo decisivamente para a instauragao dessa nova li- nha de interpretacio, impée-se citar os importantes ensaios de Jacob Gorender (8) e de Ronaldo Marcos dos Santos (9). Nossa intengao, aqui, @ incorporar a contribuicdo desses autores e, a0 mesmo tempo, tentar aprofundar um aspecto da questao situado fora dos limites tematicos desses trabalhos: as relacdes entre o movimento de revolta escrava e 0 movimento anti-escravista ¢ anti-monérquico urbano. Para um enten- dimento correto dessas relacdes, é preciso levar em conta o duplo as- pecto do movimento de revolta escrava. De um lado, deve-se considerar que a luta do trabalhador escravo pela conquista de sua liberdade pes- soal ¢ a principal forca de destruigao do regime de trabalho escravo; isto €, que tal regime nao pode ser abolido sem que se exerea sobre cle uma vilenta pressio dos principais interessados na sua destruicao: a massa escrava. Dito por outra forma: a contradicéo fundamental de uma formacao social escravista, ainda quando a producdo escravista é dominada pelo capital mercantil (caso do Brasil imperial), é aquela que opée senhores a escravos. Portanto, essa contradicéo determina, em ultima instancia, a destruicdo das relagdes de producdo escravistas, © que significa sustentar que as revoltas escravas tém um papel deter- minante na destruicéo do escravismo brasileiro. De outro lado, deve-se reconhecer, a fim de evitar a simplificagao daquilo que é complexo, que 0 movimento de revolta escrava, ainda que necessério, nao é por si s6 suficiente para provocar a destruicio do esera- vismo brasileiro. Ao longo de trés séculos (periodo colonial), 0 movi- mento de revolta escrava pouca influéncia teve sobre 0 desenvolvimento da formacdo social escravista, jA que ele se expressava. concretamente, como luta pela formacao de comunidades negras de fugitivos, isoladas espacialmente e fechadas sobre elas mesmas (0s quilombos). A rigor, € somente na segunda metade do século XIX que o movimento de revolta escrava encontra condicées de superacéo dos objetivos isolacionistas, e adquire uma eficécia transformadora. Mas 0 salto qualitativo do movi- mento de revolta escrava, a partir desse momento, nao é casual. A década de 1830 marca o inicio de uma fase nacional de desenvolvimento da formacéo social escravista brasileira, caracterizada pela formacéo de um Estado (escravista) nacional, de uma burguesia mercantil nativa (distinta da burguesia metropolitana), de uma burocracia civil e mili- tar de Estado, de um aparelho urbano de comereializagao da producio agricola. Ora, é 0 desenvolvimento econémico e social, tipico dessa fase, 20 que cria condicées para a formacao de um movimento anti-escravista urbano, capa de reorganizar o movimento de revolta escrava. Qual é a natureza desse movimento anti-escravista urbano? E por- que se diz aqui que tal movimento promove a reorganizacdo do movi- mento de revolta escrava? Para responder a essas perguntas, 6 preciso considerar as implicagdes sociais do desenvolvimento do comércio ca- feeiro e da formacdo do Estado nacional (meados do século XIX). A im- plantacao de servicos urbanos de comercializagao/financiamento da producéo cafeeiras a criacio de uma burocracia estatal determinam a emergencia, no seio da formagao social escravista, de uma categoria particular de “homens livres”; uma camada de trabalhadores nfo ma- nuais urbanos, socialmente distinta do campesinato ou da pequena burguesia de artesdos e pequenos comerciantes. Ora, é essa classe m dia urbana, composta por funcionarios pitblicos, militares, profissionais liberais, empregados de banco ou de escritério, jornalistas, quem vai di- rigir um amplo movimento de destruico das instituicdes politicas es- cravistas, do qual constituem aspectos a luta anti-escravista e a luta anti-monrquica. Muitos autores sublinham a auséncia de radicalismo € de igualitarismo social no movimento abolicionista; este parece, como bem mostra o romancista Afonso Schmidt no seu clissico A Marcha, procurar resolver antes 0 problema do “braneo” que o do “negro”. Tal fato & inconstestavel; mas é preciso, na anélise, fazer algo mais que simplesmente constaté-lo. Se 0 movimento abolicionista nao luta pela reparticao do latifundio e pela transformagdo dos trabalhadores esera- vos em pequenos proprietarios independentes, ou mesmo pela melhoria das condicoes materiais de vida e de trabalho dos trabalhadores negros, € porque essas transformagies no fazem parte dos abjetivos politicos da forca social que dirige a luta. anti-escravista: a classe média urbana, Esta busca, fundamentalmente, a destruicao do privilégio inerente ac Estado escravista, © @ conquista da cidadania, propria de um Estado murgué Assim, 0 conflito entre a classe média urbana e o Estado imperial na segunda metade do século XIX. no é uma repeticao do conflito en- tre a pequena burguesia tradicional (artesdos, pequenos comerciantes) e o Poder central, na primeira metade do século XIX. A participacdo da pequena burguesia tradicional (os ‘‘sans-culottes” brasileiros, a que se refere Emilia Viotti da Costa), confere a movimentos como a Revolu- cao pernambucana de 1817, ou a Revoluedo praicira de 1848, um com- ponente radical e igualitarista, que se manifesta através de palavras de ordem com as de “expropriagao do grande comércio” ou de “repartic&o do latifindio”. Ora, este igualitarismo sécio-econémico, tipico de pe- quenos proprietarios (que, sintomaticamente, relegam a um plano se- cundario a questao da libertacao dos escravos), estard ausente do mo- vimento da classe média urbana, ndo-proprictaria, na segunda metade do século XIX. £ 0 igualitarismo juridico, e nao 0 igualitarismo sécio- econémico, que pée em movimento a nova classe média, empurrando- @ para o terreno prioritério da luta pela transformacao do trabalhador escravo em trabaihador livre e cidadao. a Parecemos, portanto, estar diante de um paradoxo: no é a bur- guesia, e sim, a classe média urbana, a primeira portadora da ideologia juridica burguesa na formagéo social brasileira. Todavia, 0 paradoxo 56 € aparente. Jé examinamos anteriormente as razées pelas quais mes- mo o setor mais avancado da burguesia se mantém distanciado do ver- dadelro republicanismo burgués. Quanto so igualitarismo juridieo, da classe média urbana, ele nada tem de paradoxal. & claro que essa ten- Géncia ideclégica permaneceré inexplicada, se supusermos que a classe média, nesse periodo, s6 pode lutar pelos seus interesses econdmicos de curto prazo. Na verdade, € o seu interesse politico geral que a leva a lu- tar pela cidadania: s6 a supressio do trabalho escravo e a igualizacéo juridico — formal de todos os individuos permitiréo o desenvolvimento de um processo — impossivel numa formagdo social escravista — de valorizagio social do trabalhador néo-manual. Por que a valorizacéo social do trabalhador nao-manual é impossi- vel na formacdo social brasileira de meados do século XIX? E que, tendo o trabalho manual um caréter dominantemente eompulsorio, toma-se impossivel para os trabalhadores néo-manuais, provar — para cles mes- ‘mos e para as outras classes sociais — que a sua superioridade social so- pre o escravo advém de uma superioridade de “dons e méritos”. Imposs!- bilitado 0 confronto de capacidade entre o trabalhador manual (escravo) eo trabalhador nao-manual, torna-se impossivel, para toda e qualquer classe social, alimentar a ilusdo da existéncia de uma “meritocracia” no pais; aos trabalhadores nfio-manuais, s6 resta reconhecer que a sua superiotidade social sobre os trabalhadores manuais advém daquilo que Roberto Schwarz caracteriza, com muita acuidade, como uma “rela- 40 de favor” entretida com as classes proprietarias (10). Valorizar-se socialmente implica portanto, para a classe média emergente, destruir a “relacdo de favor” e evadir-se da condicao de “homem livre” protegido pelas classes proprietérias. Para tanto, essa classe deve lutar pela ins- tauragio da possibilidade de verificagdo, segundo os critérios fornecidos pela ideologia burguesa, da superioridade do trabalhador néo-manual sobre o trabalhador manual; ou, dito de outra forma, deve buscar a construeao de uma hierarquia do trabalho, fundada na suposigso da existéncia de uma escala de “dons e méritos”. Ora, a instauragao dessa, competigdo social simulada exige a igualizacao formal de todos os in- dividuos, mediante a sua conversio em iguais sujeitos de direitos (= ci- adios). Eis porque a classe média do Segundo Império nao se entrega, prioritariamente, 4 1uta pela abolicéo do regime censitdrio imperial ou pelo acesso aos privilégios j4 gozados pelos “homens livres ticos”, prefe- tindo aplicar as suas energias na luta contra o escravismo e pela cons- trugdo de instituicdes politicas burguesas, Parafraseando Sartre (Huis Clos): para a classe média, “o inferno, so os outros” (0s escravos). Esses objetivos politicos explicam portanto, de um lado, que a classe média lute pela libertacéo do “escravo”, sem se preocupar funda- mentalmente com a melhoria das condicdes materiais de vida e de tra- balho do “negro”; de outro, que 0 movimento abolicionista da classe média encontre um prolongamento ldgico no movimento republicano. Nessa medida, a classe média se constitui na forca dirigente da Revolu- 2 do anti-escravista e anti-mondrquica que promove a transformacao burguesa do Estado. Esse papel dirigente se exprime, antes de mais na- da, como capacidade de reorganizacéo do movimento de revolta escrava. # Sob a influéncia do movimento abolicionista de classe média que o movimento de revolta escrava redefine os seus objetivos politicos; nao mais a constituigéo de comunidades isoladas (até meados do século XIX, a formacio do quilombo ¢ 0 objetivo estratégico), e sim, a trans- formacao do trabalhador escravo em trabalhador livre, dentro da for- magio social brasileira (nessa nova fase, a formacio do quilombo ad- quire um valor puramente tatico). Além disso, é 0 movimento abolicio- nista de classe média quem passa, sobretudo na década de 1880, a coor- denar as lutas locais (fugas, insurreicdes), aumentando-lhes a'eficécia € colocando-as a servigo do objetivo politico mencionado. Lembre-se, a titulo de ilustracfo, a ago de agitacio e propaganda, desenvolvida por clubes radicais, confederacées abolicionistas ou tribunos populares; a acéo de organizar insurreicdes ¢ de proteger as fugas, cumprida por Antonio Bento e os seus “caifazes” (SP), bem como outros grupos regionais; a sabotagem, pela média oficlalidade do to, das tare- fas de repressio ao movimento de revolta escrava; a pressao exercida pela “fracdo radical”, dentro do PRP, a fim de que esse partido encampe as palavras de ordem anti-escravistas. Mas o papel dirigente da classe média néo se restringe & luta abo- lclonista. # ainda a classe média, civil e militar, que se pde em movi- mento para a derrubada das instituicdes politicas escravistas, poucc mais de um ano apés a Abolicéo, O abandono da cena politica pela forea principal da Revoluefo anti-cscravista (a massa escrava, 6 Uber ) néo impediré que a classe média leve as wltimas consequéncias a sua luta contra o privilégio. Nessa perspectiva, a derrubada das insti. fulgtes polldoas partioularistas do Tmpério nko deve ser vista, nem como 0 resultado da aco politica da fracéo “progressista” da classe do- minante, nem como o fruto de um mero “golpe de mio” do Exérelto, desprovido de todo apoio popular. A esse respelto, duas observacdes s¢ impéem. Em primelro lugar: a Proclamac&o da Republica, em 1889, é © coroamento de um amplo movimento social anti-escravista (massa escrava, classe média urbana); a deposicdo do Imperador e do gabinete smperial apenas completa um processo iniciado nas fugas e revoltas es- cravas, e continuado nas fugas organizadas, nos comiclos e manifesta. gies dé rus. Em segundo lugar: a Proclamagio da Republica nilo deve ser caracterizada como um processo especificamente militar, e sim, como um movimento social mals amplo, reunindo setores clvis e milita- res da classe média, Mesmo a reconstruc&o isolada dos acontecimentos politicos de novembro de 1889 deve, pelo menos para ser honesta, reco- nhecer que a aco militar de 15 de novembro é precedida de amplos con- tatos e entendimentos entre a média oficialidade do Exército, a classe média civil do Rio de Janeiro (ex.: Quintino Bocayuva) e a “fracéo ra- dical” do PRP (de resto, desautorizada pela direcdo partiddria a esta- belecer qualquer contato com os militares do Rio). Constatar o papel dirigente da classe média no movimento republicano nao implica, con- tudo, em sustentar uma nova tese, inédita na literatura brasileira. Es- 23 se papel néio passou desapercebido a um observador arguto como José Maria dos Santos: para esse autor, monarquista e conservador, a mo- narquia imperial teria evoluido progressiva e pacificamente para uma ‘monarquia constitucional moderna, parlamentar e democrética, nfo tivesse esse processo, conduzido pelos cafeicultores, sido interrompido pela aco de grupos “radicais”, civis e militares, do Rio de Janeiro e de Sao Paulo (11). 4. Conclusao # incontestével que a Revolugdo anti-escravista e anti-mondrquica de 1888-1891 se revelou incapaz de promover transformagies sociais pro- fundas: repartigao do latifindio, conquista de amplos direitos para as classes trabalhadoras, etc. Todavia, nao se pode explicar essa caracte- ristica mediante o apelo a teses que nao encontram apoio nos fatos: seja a do papel dirigente de uma fracdo da classe dominante no processo re- volucionario, seja a da nao-participacdo das massas nesse processo. Ela decorre, antes, do fato de que a massa escrava se submete, desde meados do século XIX, a direcdo politica da classe média urbana, orientada pela ideologia juridica burguesa (na sua versao liberal-democratica ou na sua versio positivista-ditatorial). Ou seja, estamos aqui diante de um jacobinismo limitado, que nos traz, de algum modo, 4 memoria, as observacées de Gramsci sobre o jacobinismo na “inacabada” Revolugéo burguesa italiana (12). "A Revolucdo anti-escravistta e anti-mondrquica, pelo seu carater limitado, deixa intactos o poder social e a capacidade de organizacao Ppolitica/militar do bloco cafeeiro, facilitando a luta desta fracéo pela conquista da hegemonia no seio do novo aparelho de Estado. Os limites do jacobinismo da classe média permitirao que a “reacao termidoria- na” da burguesia desague rapidamente (e com menos violéncia que no caso francés) numa vitria. Em 1891, 0 bloco cafeeiro paulista domina a Assembléia Constituinte, impondo um carater federativo ao Estado burgués em formacao; a descentralizacdo politica e administrativa de 1891 permitira que o bloco cafeeiro paulista inicie, aos niveis politico sobretudo militar (a formagdo da poderosa Forca Publica paulista), um de acumulacao de foreas, com vistas ao confronto com a ‘‘dita~ dura jacobina” da classe média; em 1894, o bloco cafeeiro paulista li- quida a ditadura militar e passa a controlar diretamente 0 aparelho central de Estado. () Dep. Ciéneias vocials, Instituto de Filosofia e Ciéncias Humanas, UNICAMP NOTAS (1) Dols exemplos de raciocinio que estabelece uma ligacdo causal superficial ‘entre a Aboligko e @ Proclamacio da Republica: a) “A repdblica foi pro- elamada porque os proprietarios de escravos, a derrotados pela Abolicao, se desinteressaram da sorte do Império”; b) "a reptblica foi proclamada Porque os proprietarios de escravos, desfavorecidos pela Aboligao, se vol- taram contra o Imperador, que a tinha decretado”. (2) Ver Paula Beiguelman, Formagio politica do Brasil, vol. 1 e 2, Livraria Pioneira Editora, Sio Paulo, 1967; Pequenos estudos de Ciéncia Politica, @) w 6) 6) a 3) o ao ay aay vol. 1 ¢ 2, Livraria Pioneira Editora, Sio Paulo, 1968; A formacio do povo ho complexo cafeeiro: aspectos politicos, Livraria Pioneira Editora, Sio Pau- lo, 1968, De Fernando Henrique Cardoso, consultar Capitalismo e escravidao no Brasil Meridional, 2. edicao, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1977. De Octavio Tani, consultar As metamorfoses do eseravo, Difusio Euro- péla do Livro, Si0 Paulo, 1962. Ver Nelson Werneck Sodré, Formagao Histériea do Brasil, 3.0 edicio, Edi- tora, Brasiliense, Sio Faulo, 1964; e Ledncio Basbaum, Historia Sincera da Repabliea, vol. 2, Bditora Fulgor, Sio Paulo, 1968, 3.a edigio. ‘A esse respelto, ver nossa andlise mais adiante. Ct. V. Lénine, Deux tactiques de la social-démocratie dans 1a révolution démocratique, Editions du Pregrés, Moscou, 1968, pp. 52-53. Ver Karl Marx, Formacses Econémicas Pré-Capitalistas, Editora Paz ¢ ‘Terra, Rio de Janeiro, 1975, p. 96. Consultar Albert Soboul, A Revolucao Francesa, Ed. DIFEL, Sio Paulo, 1974, Jacob Gorender, O Escravismo Colonial, Editora Atica, Sio Paulo, 1978. Ronaldo Marcos dos Santos, Término do escravismo a Provincia de Si0 Paulo, mimeo, S40 Paulo, 1972, tese de mestrado apresentada & Faculdade de Ciéncias Econdmicas ¢ Administrativas da USP. Consultar Roberto Schwarz, “As idéias fora do lugar”, in Estudos Cebrap 3, janeiro de 1973, 80 Paulo. Ver José Maria dos Santos, Bernardino de Campos e o Partido Republicano Paulista, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1960. Consultar Antonio Gramsci, El “Risorgimento”, Granica Editor SA, Bue- nos Aires, 1974,

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