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PARTES E PROCURADORES

1. SUJEITOS DO PROCESSO E SUJEITOS DA LIDE


A expressão “sujeitos do processo” possui significado mais abrangente do
que “sujeitos da lide ou da demanda”.
Os sujeitos da lide são os titulares da relação de direito material que figuram
como partes no conflito de interesses deduzido em juízo. Nesse sentido, todos os que
participam do contraditório são sujeitos da lide. Nem sempre coincidem os sujeitos da
lide com os sujeitos do processo. No caso de substituição processual, por exemplo, o
substituto é sujeito do processo (e da ação), e o trabalhador substituído processualmente
é o sujeito de direito material (ou da lide).
Os principais sujeitos do processo são:
• as partes (autor e réu) – como o próprio termo está a dizer, parte é sempre
parcial, pois tem interesse jurídico em sair vencedora na lide; logo, as partes são sujeitos
do processo e sujeitos da lide. Os terceiros intervenientes também são sujeitos do processo
e da lide.
• o juiz – como representante do Estado é sujeito do processo cujo papel é
compor o conflito com imparcialidade e justiça, fazendo atuar o ordenamento jurídico. O
juiz é, pois, sujeito (desinteressado) do processo no que concerne à pretensão deduzida
pelas partes; logo, ele não é sujeito da lide.
Há, no entanto, outras pessoas que também atuam no processo, praticando
atos processuais, mas não têm qualquer interesse (jurídico) na lide. São também sujeitos
do processo os auxiliares da Justiça, que podem ser permanentes (p. ex.: distribuidor,
secretário de audiência, oficial de justiça), eventuais (p. ex.: peritos, tradutores,
intérpretes e outros) e terceiros (p. ex.: testemunhas, licitantes e outros).
Há, ainda, outros sujeitos que atuam no processo, incluído o do trabalho,
representando as partes, como os advogados (CLT, art. 791, §§ 1º e 2º), e o Ministério
Público do Trabalho, que pode atuar em nome próprio como órgão agente (substituto
processual ou legitimado autônomo para a condução do processo) na defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses metaindividuais, difusos, coletivos,
sociais e individuais homogêneos ou indisponíveis (CF, art. 127; LC n. 75/93, art. 83; Lei
n. 7.347/1985) ou como órgão interveniente (fiscal do ordenamento jurídico), emitindo
pareceres nos autos quando entender presente o interesse público (social) que justifique a
sua intervenção (LC n. 75/93, art. 83, II, VII, XII e XIII; Lei n. 5584/70, art. 5º).
2. CAPACIDADE PROCESSUAL E MATERIAL
Como nós sabemos, as pessoas são sujeitos que possuem o atributo jurídico
da personalidade. A personalidade é a aptidão que as pessoas têm, portanto, de contrair
direitos e adquirir obrigações. As pessoas físicas (ou naturais) adquirem a personalidade
a partir do nascimento com vida, apesar da lei já por a salvo, desde a concepção, os
direitos do nascituro (CC, art. 2º). Já as pessoas jurídicas (privadas) adquirem a
personalidade a partir do seu respectivo registro no órgão competente.
A personalidade está ligada com a titularidade de direitos e de obrigações, ou
seja, de se adquirir e se tornar titular destes. A partir daí, passa-se a questionar a
possibilidade de exercê-los, e quando analisamos o exercício, voltamos atenção para o
que chamamos de capacidade. A capacidade, portanto, é a possibilidade de exercer
direitos e responder por seus deveres.
A capacidade se divide em dois conceitos técnicos:
a) Capacidade Jurídica (ou de direito): aquela que toda pessoa tem. É pessoa,
nasceu com vida, tem personalidade, pode contrair direitos e obrigações e, por isso, pode
exercê-los, ou seja, tem capacidade jurídica.
b) Capacidade de fato (ou de exercício): é a possibilidade de exercer
pessoalmente os direitos conferidos, bem como responder pelas obrigações impostas.
Essa capacidade nem todo mundo tem. Algumas pessoas não podem exercer
pessoalmente os atos da vida civil. Por ser assim, a capacidade de fato (ou de exercício)
permite dois estágios distintos. Pessoa capaz e pessoa incapaz.
A pessoa incapaz pode exercer os seus direitos e responder pelas suas
obrigações, pois ela tem capacidade jurídica, mas ela não pode exercê-los pessoalmente,
já que não tem a capacidade de fato.
Essa incapacidade pode ser absoluta ou relativa. O absolutamente incapaz
(CC, art. 3º) não pode exercer quaisquer atos sozinho, devendo, por isso, ser representado.
Já o relativamente incapaz (CC, art. 4º) pode exercer certos atos até certa medida, devendo
ser simplesmente assistido.
Feitas essas considerações do Direito Civil no que tange à capacidade,
podemos, agora, analisar esse assunto sobre o prisma processual, o que se faz com uma
simples associação. A capacidade jurídica (ou de direito), no processo civil é chamada de
capacidade de ser parte. Já a capacidade de fato (ou de exercício) é chamada, no processo
civil, de capacidade processual.
A capacidade de ser parte, portanto, é a possibilidade de ser autor ou réu num
processo, ou seja, estar em juízo defendendo um direito seu ou, mesmo, respondendo à
demanda proposta por outrem.
Já a capacidade processual é a possibilidade de estar em juízo pessoalmente.
Se a parte é incapaz do ponto de vista material, será também incapaz do ponto de vista
processual, ao que deverá ser representado ou assistido no processo.

Quem detêm a capacidade postulatória em um processo são apenas aqueles que


estão inscritos na OAB, porém na justiça do trabalho o empregado poderá atuar em um
processo sem advogado, contanto que seja até o 2º grau.

3. SUCESSÃO PROCESSUAL
A sucessão processual, ou de partes, não se confunde com a substituição
processual. Nesta, o substituto age em nome próprio na defesa de interesse material de
pessoa (ou pessoas) que não figura formalmente na relação processual. Naquela, uma
parte sai da relação processual e em seu lugar entra outra pessoa, que vai assumir a
titularidade da ação, seja no polo ativo, seja no passivo. A sucessão de parte pode decorrer
de ato inter vivos ou causa mortis.
A sucessão processual da parte, quando esta é pessoa física, ocorre com a
morte. Assim, falecendo empregado ou empregador durante o processo, serão
substituídos pelo espólio, que é, segundo já vimos, representado pelo inventariante.
Nestes casos, opera-se o incidente processual da habilitação, devendo o juiz determinar a
suspensão do feito e proferir decisão.
É de se destacar, porém, que a morte do empregador pessoa física (ou
constituído em empresa individual) não implica, necessariamente, a extinção do contrato
de trabalho (CLT, art. 483, § 2º), mas, se a morte ocorrer no curso do processo, deverá o
juiz intimar o espólio, como sucessor da parte, que passará a ser representado pelo
inventariante.
Tratando-se de “pequenas heranças”, a Lei n. 6.858, de 24 de novembro de
1980, permite que os “dependentes econômicos” do empregado falecido possam receber,
por meio de alvará judicial, as suas respectivas cotas de salários, saldos salariais, férias,
décimo terceiro salário, FGTS etc., relativas ao extinto contrato de trabalho,
independentemente de inventário ou arrolamento. São dependentes para essa modalidade
de sucessão processual os beneficiários do de cujus perante a Previdência Social (art. 16
da Lei n. 8.213/1991).

Quando o empregador for pessoa jurídica, haverá sucessão processual nas


hipóteses previstas nos arts. 10 e 448 da CLT, in verbis:

Art. 10. Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os


direitos adquiridos por seus empregados.

Art. 448. A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não


afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados.

Esses dois dispositivos legais demonstram que, para efeito da relação


empregatícia, o contrato de trabalho vincula-se à empresa, pouco importando quem seja
o seu titular. Assim, se a sucessão de empresas ocorrer antes do ajuizamento da ação
trabalhista pelo empregado, a empresa sucessora será a legitimada passiva para a causa.

Se a sucessão de empresas ocorrer no curso do processo, dá-se mera alteração


da titularidade da ação, uma vez que a sucessora passa a responder integralmente pelos
débitos trabalhistas. Trata-se, em ambos os casos, do instituto da despersonalização do
proprietário da empresa, pois os contratos de trabalho vinculam-se ao empreendimento,
à empresa, e não à figura do seu proprietário.

No que concerne à cessão de crédito trabalhista, o que implicaria sucessão


(por sub-rogação) no polo ativo da demanda, o art. 100 da Consolidação dos Provimentos
da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho veda tal espécie de negócio jurídico entre
empregado e terceiro que não figure como sujeito da lide.
Todavia, com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho (EC n.
45/2004), poderá haver cessão de créditos de natureza não trabalhista, isto é, entre
demandantes não considerados empregados ou empregadores, razão pela qual o conceito
de sucessão processual deverá ser ampliado, nos moldes do CPC, para permitir a sua
aplicabilidade nas demandas oriundas das relações de trabalho distintas da relação de
emprego.

4. SUBSTITUIÇÃO DAS PARTES


Além da legitimação ordinária, que implica a coincidência entre a titularidade
do direito material e a legitimidade para ser parte, o nosso direito positivo prevê a
chamada legitimação extraordinária, por meio da qual, em determinadas circunstâncias,
pessoas ou entes, desde que autorizados por lei, podem figurar no processo em nome
próprio, mas defendendo direito alheio.
Dá-se, pois, a legitimidade extraordinária quando aquele que tem
legitimidade para estar no processo como parte não é o mesmo que se diz titular do direito
material discutido em juízo.
Regra geral, a substituição processual pode ser classificada:
a) quanto ao momento da sua formação
b) quanto à exclusividade ou não do direito de ação
É de registrar, en passant, que o TST vem admitindo a substituição processual
passiva quando o sindicato figura como réu na ação rescisória proposta contra decisão
proferida em processo no qual tenha atuado, nessa qualidade, no polo ativo da demanda
originária.
Partindo-se da premissa de que os direitos ou interesses individuais
homogêneos são materialmente individuais, embora, em razão de sua origem comum,
possam ser processualmente tutelados por demanda coletiva, conclui-se que a legitimação
conferida às pessoas jurídicas e instituições arrolados no sistema integrado de acesso
coletivo à justiça (CF/LACP/CDC) é do tipo extraordinária, ocorrendo aí o fenômeno da
substituição processual.
5. DIREITOS E DEVERES
A reforma trabalhista que entrou em vigor no final de 2017 alterou a CLT no
ponto que concerne às responsabilidades das partes. Agora a CLT tem um capítulo de
responsabilidade que vai do art. 793-A ao 793-D:
Art. 793-A. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como
reclamante, reclamado ou interveniente.
Art. 793-B. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
Art. 793-C. De ofício ou a requerimento, o juízo condenará o litigante de má-
fé a pagar multa, que deverá ser superior a 1% (um por cento) e inferior a 10% (dez por
cento) do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta
sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.
§ 1o Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juízo condenará
cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que
se coligaram para lesar a parte contrária.
§ 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser
fixada em até duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência
Social.
§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juízo ou, caso não seja possível
mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.
Art. 793-D. Aplica-se a multa prevista no art. 793-C desta Consolidação à
testemunha que intencionalmente alterar a verdade dos fatos ou omitir fatos essenciais ao
julgamento da causa.
Parágrafo único. A execução da multa prevista neste artigo dar-se-á nos
mesmos autos.
6. PROCURADORES
Empregado e empregador podem demandar na justiça do trabalho sem
advogado. Podem também acompanhar suas reclamações até o final.
Se contrata um advogado no processo do trabalho, a parte tem o dever de
juntar procuração nesse processo. Porém, mesmo sem a juntada da procuração, a
representação estará regularizada, quando o advogado acompanhar a parte em audiência
e requerer verbalmente que se consigne em ata a sua constituição como procurador da
parte. O juiz deve requerer a anuência da parte representada. Precisa desses 3 requisitos
para um advogado sem procuração regularizar sua representação. É a chamada
procuração “apud acta”. Ainda, ao representação pode ser regularizada por meio do
mandato tácito, que ocorre quando o advogado pratica vários atos no processo e acaba se
habilitando.
7. LITISCONSÓRCIO
Quando figuram na relação processual apenas autor (reclamante) e réu
(reclamado), diz-se que são as partes singulares. Vale dizer, a singularidade de partes
ocorre no polo ativo ou passivo da relação processual.
É possível, no entanto, que haja pluralidade de pessoas no polo ativo ou no
polo passivo da relação processual, ou em ambos. Dá-se, em tais situações, o fenômeno
do litisconsórcio, que é a cumulação de lides que se ligam no plano subjetivo.
É preciso lembrar que não se aplica, no processo do trabalho, o prazo em
dobro para os litisconsortes com procuradores distintos, tal como previsto no art. 191 do
CPC/73 (art. 229 do NCPC).
O litisconsórcio pode ser classificado quanto à posição dos litisconsortes
(NCPC, art. 113, caput). Neste caso, pode ser ativo o u passivo, ou, ainda, misto. Ocorre
o litisconsórcio ativo quando duas ou mais pessoas se reúnem para ajuizar uma ação em
face de uma única pessoa. Se uma só pessoa ajuíza ação em face de duas ou mais pessoas,
estaremos diante do litisconsórcio passivo.
Finalmente, se duas ou mais pessoas ajuízam ação em face de duas ou mais
pessoas, teremos, aí, o litisconsórcio misto.
Outra classificação do litisconsórcio concerne ao momento da sua formação.
Temos o litisconsórcio inicial, quando indicado, desde logo, na petição inicial, ou o
litisconsórcio ulterior, que se forma no decorrer do prosseguimento do processo.
O art. 842, parágrafo único, da CLT, ao que nos parece, permite ambas as
modalidades, sendo certo que o litisconsórcio ulterior se estabelece, em regra, quando for
do tipo necessário.
O litisconsórcio também pode ser classificado segundo a obrigatoriedade ou
não da sua formação. Neste caso, há o litisconsórcio facultativo e o necessário. Diz o art.
114 do NCPC:
O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza
da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que
devam ser litisconsortes.
Tratando-se de litisconsórcio necessário passivo, o juiz tem o dever de
ordenar que o autor, no prazo que determinar, promova a citação de todos os litisconsortes
passivos, sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito por ausência de
pressuposto processual (NCPC, art. 115, parágrafo único, c/c art. 485, X). Todavia,
estando “ausente litisconsórcio necessário ativo, tem o juiz o dever de determinar a sua
citação de ofício (intervenção iussu iudicis)”.
Iussu iudicis é instituto de direito processual que estava previsto
expressamente no CPC de 1939, que facultava ao juiz trazer para o processo qualquer
pessoa para fazer parte do contraditório.
O CPC/73 e o NCPC não tratam, expressamente, da matéria, mas o art. 115,
parágrafo único, do NCPC prevê a possibilidade de aplicação do instituto somente na
hipótese de litisconsorte necessário.
Parece-nos, porém, que o dispositivo em causa tem lugar em se tratando de
litisconsórcio necessário, unitário e passivo, devendo o juiz determinar a intimação do
autor para que este promova a citação do litisconsorte passivo necessário, sob pena de
extinção do feito sem resolução de mérito (NCPC, arts. 485, X, e 115, parágrafo único).
Na hipótese de ausência de litisconsorte necessário, unitário e ativo, parece-nos que o juiz
mandará intimar (e não “citar”) o possível litisconsorte ativo unitário, dando-lhe ciência
da demanda, para que venha, querendo, integrar o polo ativo da relação processual,
explicitando que sofrerá os efeitos da coisa julgada.
Finalmente, o litisconsórcio pode ser classificado quanto à exigência ou não
da uniformidade da decisão a ser proferida. Assim, se a sentença tiver que ser uniforme
para todos os litisconsortes, haverá o litisconsórcio unitário; não havendo tal
uniformidade, estar-se-á diante de litisconsórcio simples.
No processo do trabalho, Mauro Schiavi48 lembra a hipótese da ação
anulatória de cláusula de convenção coletiva ajuizada pelo Ministério Público do
Trabalho, na qual os sindicatos representativos das categorias econômica e profissional,
subscritores do pacto coletivo, devem figurar como litisconsortes passivos necessários.
Neste caso, pensamos que se trata de litisconsórcio passivo/necessário/unitário, pois a
sentença que julgar procedente a ação anulatória retirará do mundo jurídico a cláusula
convencional de maneira uniforme para os réus.
Outra hipótese de litisconsórcio necessário ocorre no mandado de segurança
contra ato judicial, pois o réu (ou autor) da ação originária figurará obrigatoriamente no
polo passivo da ação mandamental ao lado da autoridade coatora. Neste caso, trata-se de
litisconsórcio necessário e simples, pois a decisão não será uniforme para os
litisconsortes.

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