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Empreendedorismo e Inovação em Moçambique: Panorâmica Actual

Conference Paper · November 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.2040.7761

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2 authors:

Ibraimo Hassane Mussagy Alfandega Estevao Manjoro


Universidade Católica de Moçambique Universidade Católica de Moçambique
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Conferência Internacional Sobre Empreendedorismo e Inovação:
COMO CONSTRUIR UMA BASE EMPRESARIAL COMPETITIVA EM MOÇAMBIQUE?
Maputo, 04 de Novembro de 2015

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO EM MOÇAMBIQUE:


PANORÂMICA ACTUAL

Ibraimo Hassane Mussagy1


Universidade Católica de Moçambique
imussagy@ucm.ac.mz

Alfândega Manjoro2
Universidade Católica de Moçambique
amanjoro@ucm.ac.mz

1
Doutorado em Economia de Desenvolvimento pela Universidade Aberta do Zimbabwe. Na Universidade
Católica de Moçambique é Professor Auxiliar, desde 2011 Assessor do Magnifico Reitor para a Área de
Administração Finanças e Contabilidade e desde 2015 Coordenador do Doutoramento em Economia.
2
Doutorado em Economia de Desenvolvimento pela Universidade Aberta do Zimbabwe. Na Universidade
Católica de Moçambique é Professor Associado, desde 2000 é Director da Faculdade de Economia e Gestão
desde e desde 2011 é Director do Centro Regional Sede.

1
I. CONSIDERAÇÕES DE PARTIDA

O Empreendedorismo é um tópico bastante abordado na literatura actual, despertando


bastante interesse em todo o mundo e aparece destacado como sendo o motor da economia
(Kuratko, 2005). Para Hisrich et al (2005) o empreendedorismo é um processo dinâmico de
criação de riqueza incremental, resultante da tomada de riscos de um indivíduo, sendo que o
produto ou serviço criado pode ou não ser único, mas de alguma forma de elevado valor.

O termo empreendedorismo é atribuídas a várias origens. No entanto, foi através de Jean-


Batiste Say, no início do Século XIX, que a expressão tornou-se de fato conhecida, referindo-
se à pessoa que movia recursos econômicos de qualquer natureza, de uma área de menor
retorno, para uma área de maior produtividade e melhores resultados (Drucker, 1985).
Aproximamos a ideia do surgimento deste termo através do economista francês Jean-Batiste
Say onde o ele destaca que o empreendedor tinha um papel central no processo de
desenvolvimento económico. Na visão economicista o empreendedor é alguém que combina
recursos, trabalho, materiais e ativos de forma a obter um valor superior. É alguém que
introduz mudanças, inovação e uma nova ordem. Por outro lado, ainda na origem do termo,
vários economistas clássicos destacavam os meios de produção de uma função de produção
normal: terra, trabalho e capital. Contundo, durante o feudalismo e surgimento do capitalismo
o papel do empreendedorismo através do agente empreendedor ganha destaque,
salientando-se a sua importância para as vantagens competitivas dos países, surgindo assim
como um quarto fator produtivo.

O empreendedorismo tem originado nas últimas décadas um surgimento de novas Pequenas


e Médias Empresas (PME), com especial destaque para as de crescimento rápido. Estas novas
empresas entendem-se como cruciais nos processos de inovação e na condução de mudanças
tecnológicas que potenciam aumentos de produtividade. As mesmas tem contribuindo para
a criação de riqueza, criação de emprego e melhor qualidade de vida das populações e
destacam-se pela sua capacidade de adaptação a um ambiente de mudança (Kuratko, 2003).
2
Moçambique, depois da assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), passou a assistir a um
diálogo bipartido anual contínuo entre o governo e o setor privado e, desde então, o governo
empreendeu uma série de reformas, destinadas a melhorar o ambiente de negócios. Apesar
do optimismo do governo quanto à sua política e ações de reforma do ambiente empresarial,
o crescimento das PME’s não tem sido rápido e em consequência dessa lentidão, os postos
de trabalho criado tem sido mínimo e limitado aos setores dominados por grandes
investidores internacionais (por exemplo, a indústria extrativa e os serviços financeiros). Estas
PME’s são afectadas por uma série de barreiras.

As PME’s desempenham um papel fundamental na redução da pobreza. Elas estão


actualmente a contribuir para a redução da pobreza através do crescimento da produção,
criação de empregos e geração de renda acrescida para a população de baixa renda. Dai a
importância de compreender que mecanismos, políticas acções que Moçambique tem
conduzido no contexto do ambiente empresarial para a promoção das PME´s.

Sem ignorar os aspectos de gestão, nesta comunicação vamos adotar a perspetiva


economicista, assumindo o empreendedor como motor do desenvolvimento. O
empreendedorismo é aqui usado como um quarto factor de produção para qualquer função
de produção tal como explícito pelos economistas clássicos. De acordo com a Global
Entrepreneurship Monitor (GEM) empreendedorismo é qualquer tentativa de criação de um
novo negócio ou novo empreendimento, como, por exemplo, uma atividade autônoma, uma
nova empresa, ou a expansão de empreendimento existente, por um indivíduo, grupos de
indivíduos ou por empresas já estabelecidas (GEM, 2003, p. 5). Dai que nem sempre se discute
com destaque os sectores em que as PME’s se possam inserir tais como, a hotelaria, a
manufatura, a agricultura, a construção civil, os transporte e comunicações, entre outros. No
entanto, com uma estratégia devidamente articulada entre os vários sectores da economia,
as PME’s podem contribuir de forma acelerada para a criação de riquezas ao nível local e de

3
recuperação do subdesenvolvimento, de combate à pobreza e à exclusão social, de melhoria
das condições de vida da população, de ascensão social e, da melhoria da autoestima, até, de
consolidação da democracia.

Na óptica da GEM há, pelo menos, quatro medidas de empreendedorismo. A primeira


considera o número de trabalhadores por conta-própria ou de proprietários de empresas. A
segunda focaliza somente os novos negócios, e a terceira medida incorpora à segunda medida
os empreendedores no processo de criação do novo negócio: o empreendedorismo nascente
na definição da GEM. A quarta medida de empreendedorismo é a participação das pequenas
empresas na produção ou no emprego.

A moldura metodológica resulta de consultas críticas a variada literatura versando sobre esta
temática e os vários documentos, politicas, estratégicas nacionais de orientação as
actividades das PME’s. Destaca-se aqui a Agenda 2025 – Estratégias e Visão da Nação um
documento de referência na definição das prioridades da Nação (www.mpd.gov.mz), a
Estratégia para o Desenvolvimento das PME´s em Moçambique (www.mpd.gov.mz), a
consulta a informação relevante do Instituto de Promoção das PME´s (www.ipeme.gov.mz).
É também recolhida informação sobre a literatura de outros países olhando para a informação
cedida pela Global Entrepreneurship Monitor (www.gemcosortium.org). Nesta consulta é
retirada informação referente a o comportamento empreendedor as atitudes das pessoas e
o impacto nacional das actividades empreendedoras que serve de referência para analise
comparativa.

4
II. O DESENHO DA ESTRUTURA ECONÓMICA ACTUAL E O DINAMISMO DA ECONOMIA

O processo de construção do Estado e da economia do país tem o seu início no seculo XIX e
em meados do seculo XX. Sem percorrer muito a história, nessa altura o colonialismo
português desenvolvia o recurso sistemático ao trabalho forçado e as culturas obrigatórias.

As mudanças de sistemas e regimes políticos vem caracterizando a economia do país, desde


o seculo XIX e sobretudo com a independência e com a experiência da guerra dos 16 anos,
factor que agravou a crise económica de Moçambique. Aplicou-se um modelo de
administração que fosse de encontro a visão ideológica marxista-leninista que culminou com
um conjunto de reformas que conduziu a adopção de um modelo de economia centralmente
planificada, um modelo de desenvolvimento socialista. Assistiu-se a um período em que os
meios de produção era controlados por um estado centralizador e tentador do suprimento
das necessidades de sua polução. Pelas descontinuidades económicas o regime socialista
ficou interrompido. Dai que o colapso do regime de economia de planificação centralizada
que se adotou emergiu para uma economia de mercado.

O seculo XX pode ser caraterizado como o século que desenhou a estrutura económica e
social que hoje temos no nosso país. Foi um período em que assistiu a períodos longos
caraterizados por vários regimes políticos e varias estratégias económicas distintas, no
entanto, muitas delas resultaram em fracasso e houveram muitos outros elementos de
continuidade da estrutura económica.

O fim da guerra em 1992 teve um grande impacto positivo imediato para a vida das populações
de todo o país. A circulação de pessoas e bens em todo território nacional estimula a produção
nacional e cria um bem-estar em todos os moçambicanos. A economia foi-se consolidando
rumo a uma economia do mercado de Laissez-Faire, Laissez-Passer, onde os consumidores
devem “maximizar utilidade” e as empresas “maximizarem lucro”, termo adoptado por Adam
Smith.

5
A economia de mercado surge numa altura de vicissitudes para Moçambique, ditadas pela
guerra e pelas calamidades naturais. A ordem do liberalismo económico, proclamando a mais
absoluta liberdade de produção e comercialização das mercadorias e da existência de uma
ordem natural à busca do interesse individual leva ao bem-estar coletivo. A integração de
economias de pequena escala na economia de mercado teve lugar através de mecanismos
que caraterizam esta forma de organização.

O país continua a seguir o padrão típico de economias impulsionadas por fatores como o IDE,
fortemente concentrado nas indústrias extrativas, ao mesmo tempo que as infraestruturas.
Moçambique emergiu de décadas de guerra para se tornar uma das economias africanas com
melhor desempenho. O bom desempenho dos sectores dos transportes, comunicações e
construção, a recuperação ligeira na agricultura, a implementação consistente de reformas
fundamentais, a estabilidade macroeconómica global, reforma de políticas, aumentos
consideráveis do investimento directo estrangeiro, etc. estão na origem desse dinamismo.

Os resultados Económicos e Sociais nos últimos 20 anos foram destacáveis. A economia


conheceu melhorias nos indicadores de actividade macroeconómica global e individual.

O crescimento económico comporta o aumento da produção da economia de bens e serviços


e é geralmente definido pela taxa de crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) per
capita. A economia nacional tem crescimento a uma taxa constante de aproximadamente 7%
ao ano. Os últimos dez anos foram marcado por este acelerado crescimento. Esta taxa de
crescimento é das mais altas entre os países africanos importadores de petróleo. Este
crescimento é entregue principalmente ao clima de investimento liberal eu culminou com a
atracão de “mega projectos”. Em consequência os indicadores individuais de renda
melhoraram consideravelmente. Aqui, o PIB percapita evoluiu de USD150 em 1998 para

6
USD498 em 2012. Assistiu-se também a um nível de estabilidade de preços registando-se em
2012 uma taxa de inflação histórica de 2.7%.

A agricultura que representa o sector com maior contribuição no PIB retoma ligeiramente. O
crescimento da produção foi da ordem de 5,6% a partir de 1992, em que metade é devido à
expansão da área e o restante ao crescimento da força de trabalho e melhorias nos
rendimentos agrícolas. A percentagem de agregados familiares agrícolas rurais, que
adoptaram técnicas recomendadas pelos agentes agrícolas externos, subiu de 2,4% em 2000
para 13% em 2004.

A falta de capacidade para criar e desenvolver laços de interdependência regional tem vindo
aumentar pelo facto de se estar a verificar a reduções nos custos dos transportes. As estradas
classificadas em boas condições ou em condições regulares septuplicaram, passando para
70%, e as estradas intransitáveis baixaram 10 vezes, representando apenas 5%.

Não obstante o desempenho positivo que o País tem vindo a registar, os desafios para o
combate à pobreza ainda persistem.

Boom (2011) destaca que


As três "Avaliações Nacionais da Pobreza" consecutivas realizadas para Moçambique
forneceram um manancial de informações sobre os padrões da pobreza e suas alterações no
período recente de 1997-2009. Este relatório analisa as evidências, observando uma
incongruência marcante nos padrões de pobreza ao longo do tempo, bem como nos diversos
grupos populacionais e províncias. Por exemplo, a avaliação concluiu que a incidência da
pobreza diminuiu acentuadamente de 69% em 1997 para 54% em 2003, mas manteve-se
praticamente a mesma no período recente de 2003-2009 (de 54,1% para 54,7%). No entanto, a
economia apresentou taxas altas de crescimento sustentado e há pouca evidência de que a
distribuição da renda tenha mudado dramaticamente.

7
A situação do desenvolvimento humano contínua desfavorável. Quase 10 milhões de
moçambicanos vivem em situação de pobreza, com problemas de insegurança alimentar,
baixos rendimentos e desemprego. Os inquéritos dos agregados familiares sobre as
condições de vida (IAF) a pobreza tem vindo a reduzir. De acordo com o IAF (1996/97-2002/03)
Pobreza reduziu ao nível mais alto: entre 1997-2003 a pobreza diminuiu em 15% (de 69% para
54%), três milhões de pessoas saíram da pobreza absoluta, a pobreza caiu mais nas zonas
rurais em 16% (de 71% para 55%) do que nas regiões urbanas em 10% (62% para 52%) e
Moçambique é o segundo país do mundo que conseguiu este feito, a seguir ao Vietname.

III. EMPREENDEDORISMO E O PAPEL DAS PMEs NO CRESCIMENTO ECONÓMICO

O Estatuto Geral das Micro, Pequenas e Médias Empresas (Decreto n.º 44/2011, de 21 de
setembro) define o que é uma PME em Moçambique.

 Micro empresa- Empresa com menos de 4 trabalhadores ou com volume de negócio


anual inferior a 1.2 milhões de meticais;
 Pequena empresa- Empresa com o número de trabalhadores compreendido entre 5 e
49 e volume de negócios entre 1.2 e 14.7 milhões de meticais;
 Média empresa- Empresa com o número de trabalhadores compreendido entre 50 e
99 e o volume de negócios superior a 14.7 e inferior a 29.97 milhões de meticais;

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Observa-se que dois critérios são fundamentais: volume de negócios e número de
trabalhadores. Além disso, uma PME não pode ter mais de 25% de participações detidas por
uma grande empresa ou pelo Estado. O critério de volume de Negócio é determinante.

Repisamos a esta altura a definição que usamos para centrar nossa discussão. Sabemos todos
que o empreendedorismo tem a ver com as pessoas e não as organizações. Dai que
assumimos a definição inicial destacada pela GEM (2005) onde esta considera
empreendedorismo como sendo a participação das PME´s na criação do emprego. Lopes
(2014) em seu trabalho sobre empreendedorismo em Moçambique também não fornece
nenhuma informação específica sobre a capacidade das empreendedoras, e empreendedores
em geral, sobreviverem no ambiente de mercado e negócio tão idiossincrático como é o
moçambicano. Queríamos ter adoptado uma definição mais precisa mais focalizada como
aquela que define a actividade empreendedora como sendo aquela em que é quantificada
pela atividade dos trabalhadores por conta-própria ou pelo nível de criatividade. Da forma
como os resultados do Censo das Empresas (CEMPRE) estão colocados não nos permite fazer
esse aprofundamento, dai que para não ter uma definição insipiente, usamos o conceito do
empreendedorismo muito associados a criação de uma PME e de geração de mais postos de
trabalho.

Os dados do CEMPRE realizado em 2004 indicam que no País existem cerca de 28.474 PMEs
registadas na base de dados, com 129.225 trabalhadores empregues formalmente. Das 28.474,
cerca de 2.621 são médias empresas, enquanto 25.853 são pequenas empresas. As pequenas
e médias empresas constituem 89,5% e 9,1% do número total de empresas, respectivamente.
Estes números estão ainda aquém do desejado.

Embora a mensuração da atividade empreendedora seja bastante complexa, pode-se olhar


neste caso para a contribuição que estas PME’s tem para o Produto Interno Bruto (PIB). De
acordo com o (GM, 2007) o valor acrescentado total do sector empresarial para o PIB é de
cerca de 68,6%, do qual as PMEs representam 33,47%. Apesar de seu reconhecido potencial

9
como motor de crescimento, a contribuição das PMEs para o PIB é baixa, podendo assim
inferir a baixa actividade empreendedora uma vez que gera poucos empregos em
consequência vários factores limitantes.

Embora as pequenas empresas tenham contribuído em cerca de 16,5% para o PIB do país, as
médias empresas acrescentaram 12% e as grandes empresas contribuíram com 40,1%. Estes
números começam a ser reveladores da fraca competitividade do sector empresarial para o
peso da produção nacional. Esta competitividade nacional exige habilidades capazes de criar
e manter um desempenho económico sustentável em relação aos principais concorrentes, o
que, em parte, depende da capacidade das empresas nacionais em atingir altos níveis de
produtividade e qualidade dos produtos.

De acordo com os dados do CEMPRE (2004), as PME´s empregam 129.225 pessoas, ou 42,9%,
do número total de trabalhadores, enquanto as grandes empresas retêm 171.920, ou 57,1%.
Cerca de 69.076 trabalhadores, ou 22,9% do total de trabalhadores, encontram-se nas médias
empresas.

Os dados indicam que as PMEs, em especial as micro-empresas, são as unidades empresariais


predominantes. Não obstante constituírem uma parte dominante das PME´s na área de
negócios, o impacto destas no emprego formal é marginal: apenas 1,3% da força de trabalho
existente no país, ou seja 129.225, são recrutados por 28.474 PMEs.5 Este número é muito
inferior ao número de postos de trabalho disponibilizado pelas PMEs nas economias
avançadas. Tomando em consideração que o crescimento anual da população é, em média,
de 2,37% nos últimos 10 anos e que o País necessita de gerar cerca de 3,7 milhões de postos de
trabalho para poder retirar cerca de 20% da sua população da pobreza, o crescimento do
sector das PMEs é insuficiente para dar uma modesta contribuição à situação d o emprego do
país.

10
A partir da análise bibliográfica, facilmente se conclui que o empreendedorismo cumpre um
importante papel em relação a criação de novas PME’s e consequentemente ao
desenvolvimento de uma determinada região. Foi reconhecendo este papel de impulsionador
do crescimento e do desenvolvimento que em 1993 a Organização das Nações Unidas (ONU)
aprovou uma resolução reconhecendo o empreendedorismo como uma força social e
econômica da maior importância.

No nosso contexto, tendo em conta a organização, e o resultado das acções


empreendedoras, as PME’s pode-se relacionar estas ações ao papel das PME’s na economia
nacional.

1. Criação do emprego. Partindo do princípio que uma grande empresa e uma pequena
empresa produzem o mesmo artigo ao mesmo valor, a grande empresa tem a
característica de ser de capital intensivo, enquanto a pequena, de mão-de-obra
intensiva. Isto implica que as PMEs oferecem maiores oportunidades de emprego à
força de trabalho de um país, ao contrário das grandes empresas. Crescimento Anti-
desenvolvimientaista. A economia moçambicana apresenta uma baixa transformação
estrutural, confinada principalmente a megaprojetos nos setores do alumínio,
indústrias extrativas e energia. A natureza de capital intensivo não gera empregos
suficientes para proporcionar oportunidades para responder ao rápido crescimento da
população jovem. (www.africaneconomicoutlook.org).
2. As PMEs são cruciais para a competitividade de um país. Elas encorajam a
concorrência e a produção e inspiram inovações e o empreendedorismo. As PMEs são
inerentemente guiadas para o mercado, procurando capturar as oportunidades de
negócio criadas pela procura de mercado. A barreira relativamente mais baixa de
entrada aos mercados e a natureza ágil da estrutura decisória incentiva a concorrência
a qual, por sua vez, promove a competitividade das PMEs. As PMEs sólidas e

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competitivas tornam-se em grandes empresas sólidas e competitivas, que podem ser
traduzidas em competitividade nacional como um todo.
3. As PME diversificam as actividades, estimulam a inovoção e a criatividade. As PMEs
diversificam as actividades económicas oferecendo produtos e serviços que o mercado
procura num determinado momento, disponibilizando assim novas linhas de produtos
e serviços que ainda não foram introduzidos no mercado. Deste modo, as PMEs
estimulam a inovação e a criatividade. O empreendedor é considerado sendo um
indivíduo que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos
e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploraç ão de novos
recursos materiais (SCHUMPETER, 1961).

4. As PMEs mobilizam recursos sociais e económicos. As PMEs são os agentes sociais


que mobilizam recursos sociais e económicos nacionais que ainda não tenham sido
explorados. Daí o papel chave desempenhado pelas PMEs no desenvolvimento
socioeconómico dos países.

A análise do ambiente de negócios das PMEs mostra que existe uma série de obstáculos que
impedem o crescimento das PMEs. As dificuldades dos empreendedores são de vária ordem.
Baker Tilly Moçambique (2014) conduziram um estudo sobre as PME’s em todo o país com o
objectivo de apreciar a envolvente das mesmas. Nesse estudo foram d algumas barreiras
nomeadamente: a fraca qualificação de mão-de-obra, gestão financeira ineficiente, corrupção
e complexidade dos processos públicos (barreiras reguladoras), relacionamento entre o
sector público e privado, carga fiscal excessiva e um custo elevado do pagamento de
impostos, acesso ao financiamento da banca, baixo espírito empreendedor. Uma explicação
sobre cada uma destas barreiras aqui selecionadas é explicitada:

12
1. Escassez da Mão-de-obra Qualificada

A escassez de mão-de-obra qualificada é considerada um dos maiores desafios que se colocam


ao desenvolvimento da economia moçambicana segundo a Comissão Consultiva do Trabalho
(CCT), uma vez que pode originar perdas de competitividade face ao exterior. Este problema
é sentido em todo o país embora os impactos sejam mais centrados no norte do país devido
à menor concentração de instituições de ensino nessa zona. A actual legislação é pouco
flexível e considerada demasiada restritiva no que concerne à contratação de estrangeiros, o
que dificulta a angariação de mão-de-obra qualificada, dada à fraca qualificação da mão-de-
obra nacional.

A partir dela, fica evidente a grande contribuição que o sistema educacional estabelecido
pode oferecer para o estabelecimento e o fortalecimento da cultura empreendedora, com
desdobramentos significativos para o desenvolvimento em seu sentido mais amplo (Dolabela,
2003).

Segundo Sena, et al (2007) a influência da cultura empreendedora é de fundamental


importância para o processo de desenvolvimento de uma nação. Neste sentido, a introdução
de disciplinas de empreendedorismo na educação básica tem um caráter revolucionário. Isto
significa uma quebra de paradigmas na tradição didática,uma vez que aborda o saber como
conseqüência dos atributos do ser.

A maior vantagem competitiva de qualquer nação ou sem dúvida é o ser humano, educado
com qualidade, preparado e motivado. Aristóteles afirmava que todo Homem tem impulso
pelo conhecimento. De sua cabeça saem ideias de êxito ou caminhos que levam ao sucesso.
Daí a importante necessidade da educação e do treinamento dos cidadãos e dos povos, em
quantidade e em qualidade. Revela-se assim essencial que as comunidades de ensino superior
ajam de forma a ir de encontro às necessidades da comunidade, através do desenvolvimento

13
de competências e inclusão de um currículo que promova capacidades empreendedoras nos
seus estudantes (Anselm, 1993)

Melhorar nossa providade porque frente aos mais desenvolvidos perdemos posições e isto
traz apreensão quanto ao futuro.

Além disso, sendo uma característica de indivíduos, é compreensível que o


empreendedorismo esteja proximamente relacionado à cultura e educação. Por conseguinte,
pode-se facilmente observar o potencial para o desenvolvimento/fortalecimento de uma
cultura empreendedora a partir da utilização do sistema educacional estabelecido.

A produtividade laboral, só por si, não garante de forma alguma o nível de competitividade.
Contudo, serve de indicador da qualidade da mão-de-obra, que é uma parte intrínseca da
eficiência global. A este respeito, é possível deduzir que a baixa produtividade laboral
normalmente conduz à fraca competitividade.

2. Gestão Financeira Ineficiente

A falta de capacidade de gestão financeira foi evidenciada na generalidade em todo o país

14
Uma empresa é formada por pessoas, processos, hábitos. Quanto mais produtivos forem as
pessoas e os processos, mais tempo você terá. E mais dinheiro também. Melhore a
produtividade da sua equipe, dos processos da sua

3. Corrupção e Complexidade dos Processos Públicos

Obstáculo com menor impacto na zona norte do país devido ao tamanho reduzido do meio
empresarial e elevado nível de convivência entre cidadãos, o que reduz o nível de corrupção.
Os sectores que sentem esta lacuna com maior intensidade são a prestação de serviços,
comércio, agricultura, construção e serviços associados e indústria.

As barreiras reguladoras impedem a flexibilidade e a agilidade, que são os principais motores


da competitividade das PMEs. Deste modo, a economia deve eliminar o peso regulador tanto
quanto possível.

4.Carga fiscal excessiva e um custo elevado do pagamento de impostos

Em relação à carga tributária, as empresas consideram que os impostos são elevados e não
são adequados a jovens empresas e empresas em crescimento. Destaca-se aqui o diferencial
entre o ISPC (3% do volume de negócios se este for igual ou inferior a 2.5 milhões de meticais)
e o IRPC (34% do volume de negócios se este for superior a 2.5 milhões de meticais) preocupa
as empresas pois pretendem crescer e aumentar o volume de negócios mas temem que o
imposto a aplicar possa agir como uma barreira ao crescimento. Estas consideram que deveria
ser criado um imposto intermédio para potenciar o crescimento das empresas.

15
Say sucintamente declara que o auto-interesse e a busca de lucros é que empurram os
empresários em relação à satisfação da demanda do consumidor. "A natureza dos produtos é
sempre regulada pelas necessidades da sociedade", portanto, "a interferência legislativa é
completamente supérflua". Seus comentários sobre uma série especial de atos legislativos são
muito instrutivos. Say não hesita em identificar os gastos do governo como consumo
improdutivo e a excessiva tributação como uma espécie de suicídio. Contrariamente, hoje, há
muitos escritores que insistem em que as altas taxas de impostos e os altos níveis
concomitantes de gastos do governo, de alguma forma fazem com que uma sociedade seja
mais próspera.

6. Acesso ao Financiamento da Banca

O volume de crédito da economia tem vindo a aumentar desde o ano de 2011. Em 2012, o Banco
de Moçambique continuou a manter este espaço monetário com vista a aumentar o crédito
concedido a economia, e desta forma contribuir para o aumento da competitividade e da
produtividade do sector privado num ambiente com níveis de preços estáveis.

Numa fase em que a economia tem-se dinamizado, verifica-se naturalmente um forte


crescimento do crédito. Em de 2014, espera-se uma ligeira redução no crescimento do crédito,
uma vez que alguns bancos comerciais já começam a falar de encerramento de algumas linhas
de crédito devido a fraca capacidade de reembolsos que alguns sectores vão apresentando
face a situação que se tem vivido no país.

Espera-se, que nos próximos anos, na presença de uma estabilidade macroeconómica global,
que o crédito a economia venha a atingir em média um crescimento de 20% ao ano. O crédito
interno mantém um potencial de crescimento significativo pois se comparados com outras
economias da região, esta taxa de crescimento estaria muito aquém destes.

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Obter financiamentos disponíveis de apoio as PME é uma outra barreira. O empresário deve
ter um alicerce forte ou dificilmente alcançara o sucesso. Dai que o auto financiamento
conduz a continuidade e muitos dos negócios. Muitos empresários reinvestem seu lucro e tem
este como a principal fonte de financiamento.

7. Barreiras a Entrada

Um país pobre não pode se dar ao luxo de exigir que as empresas reúnam o exagerado
número de 9 procedimentos ou documentos para poder obter uma ligação de energia
eléctrica – condição básica para uma empresa no século XXI – quando todos os países da
região exigem menos. A Tanzânia, as Ilhas Maurícias e a África do Sul exigem apenas 4
documentos ou procedimentos. Para uma empresa obter uma licença de construção leva mais
de um ano (370 dias) em Moçambique, contra cerca de 3 meses na Swazilândia ou 4 meses na
África do Sul.

A distribuição das PME ao longo do país.

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IV. AMBIENTE MACROECONÓMICO E POLITICO

As Políticas e Intervenção do Estado são consideradas como tendo relevância significativa nas
actividades das empresas, influenciando directamente a eficiência dos processos em termos
de tempo e custos. A Legislação Laboral que é caracterizada como exageradamente
protectora, a elevada Carga Tributária para jovens empresas e empresas em crescimento e os
processos de Tributação do IVA, considerados ineficientes, são as disposições legais mais
mencionadas pela amostra.

O ambiente de negócios é o agregado de todas as condições, eventos e influências que


afectam a actividade económica. O Índice de Ambiente de Negócios é baseado nas
percepções dos agentes económicos em relação aos factores chave que influenciam negativa
ou positivamente a actividade económica.

Na sequência de alguns incidentes e do aumento da tensão social (protestos), as autoridades


decidiram reintroduzir os subsídios ao preço do pão. O subsídio foi concedido directamente
aos produtores que fazem parte da associação das Panificadoras de Moçambique, consistindo
num subsídio de 200 meticais por 50kg de pão produzido. Como forma de compensar este
aumento da despesa, as autoridades introduziram cortes nas ajudas de custos aos membros
de conselhos de administração de empresas públicas e nos cargos mais elevados da função
pública.

18
A economia se fez enraizar na Constituição romana que vinculava o poder político à
propriedade da terra e ao serviço militar. Nesse período, guerras e conquistas eram as
principais fontes de riqueza, e os soldados eram frequentemente recompensados com
concessões de terras. Moçambique deve continuar a envidar esforços para garantir a
manutenção de um ambiente de paz e estabilidade e a consolidação da democracia.

O risco para Moçambique é o de perder oportunidades, avaliando que crescer com


instabilidade significa parar de crescer. Nos momentos de incerteza, os agentes económicos,
esses por si só já sabem que medidas adoptar.

O pessimismo deteriora mais do que podemos acreditar, extingue até a inquietação e a


inteligência, desencoraja, deprime. A situação política deteriorou-se, devido, em grande parte,
a confrontos de baixa intensidade registados entre o governo e a oposição…

É crucial que a estabilidade política se mantenha para que o país continue a atrair o IDE que
permita melhorar as infraestruturas e o desenvolvimento humano.

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os empreendodores operam num ambiente precário, com imensas dificuldades no contexto


de regras de uma economia de mercado. Portanto, destacamos que o ciclo de intervenção do
Estado não se encerrou.

As PME’s lutam pela sobrevivência do seu negócio na medida que elas competem de forma
desigual com o sector informal e com empresas internacionais.

O Estado deve assumir um certo número de responsabilidade para uma sociedade civil, na
medida em que a educação constitui um bem de natureza colectiva que não pode ser regulado
apenas pelas leis de mercado.

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REFERÊNCIAS

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