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Fichamento crítico do texto “Por uma teoria jurídica da integração regional: a

inter-relação direito interno, direito internacional público e direito da integração”,


de Diz e Júnior.

Otávio Lopes de Souza (201604050GV)

A integração regional pode ser entendida como um sistema que visa estabelecer
associações entre estados a partir de pontos comuns de interesses e valores
compartilhados entre eles. Trata-se, por certo, de uma fonte de interesses de membros
da sociedade acadêmicos em geral. Especificamente neste meio, a integração em
questão tem se tornado uma disciplina independente, na medida em que possui, assim
como muitas outras, objeto, métodos e fontes próprios e, dessa forma, capacidade para
desenvolvimento de teoria próprio.

O direito internacional, não raro, utiliza-se de métodos indutivo, dedutivo e


hipotético dedutivo na medida em que os internacionalistas, em regra, preocupam-se
com explicação de fenômenos oriundos dos direitos das pessoas. Não obstante, é
preciso ter em mente que, face ao direito da integração ter sistema institucional e
normativo próprio – e, assim, distintos dos do direito internacional –, vê-se clara
dificuldade no que diz respeito à aplicação de métodos tradicionais, já que, por vezes,
não mais suprem as necessidades estabelecidas pelos da integração, da mesma forma
que, em tese, supriram do direito internacional até então. Por conseguinte, não é viável
analisar o funcionamento da ONU, por exemplo, da mesma forma que se analisa o da
União Europeia, sobretudo por serem, respectivamente, uma organização internacional
clássica e uma organização de integração, isto é, distintas entre si de sobremaneira,
inclusive no que diz respeito ao tipo organizacional.

Não obstante, é preciso visualizar que não se busca, nesta análise, afastar pontos
de interseções comuns de aplicação metodológica entre direito internacional clássico e
direito de integração a qualquer custo; o que se busca, na verdade, é demonstrar que, a
partir de inovações trazidas, passa-se a demandar por métodos que consigam “supri-las”
com êxito.

Além disso, que, “para a compreensão de um método interpretativo de aplicação


(e não de criação) para o direito da integração pode-se adotar um recorte singular a
partir de distintas variáveis, entre elas: i) a análise dos sistemas normativos de
integração com base em cada processo integrador; ii) a análise das decisões emanadas
dos órgãos de solução de controvérsias naqueles processos de integração regional que
contam com um sistema judicial próprio; iii) com base na atuação das instituições
legislativas e da formação de um processo legislativo específico para a criação de
normas comuns, entre outras” (p. 144). Pensa-se, então, na validação de aplicação de
métodos interpretativos tradicionais, desde que se estabeleça a necessidade de também
se pensar na forma diferenciada com que eles devem ser aplicados ao direito da
integração, dentre outras coisas, em razão das peculiaridades da normatividade
decorrente do processo integrador.

“O reconhecimento de um direito da integração próprio e autônomo pode ser


comprovado, ainda, pela coexistência de um sistema de fontes jurídicas, estabelecidas
nos tratados constitutivos e cujo enunciado fixa quais serão os atos que servirão de
sustento para o ordenamento jurídico integracionista” (p. 146). As características
derivadas dessas fontes reforçam a existência de um direito autônomo, desvinculando-se
dos chamados posicionamentos tradicionalistas. Em face das peculiaridades do regime
jurídico adotado pelos Estados que estão dispostos a se associarem tomando como base
princípios e valores comuns entre si, conforme dito inicialmente, tem-se, também,
peculiar forma de produção normativa que, na grande maioria das vezes, não conta com
mecanismos institucionais necessários no que diz respeito ao dever de cumprimento de
certas determinações por parte dos Estados participantes. O Mercosul, por exemplo,
encaixa-se nessa realidade. Todavia, isso não serve para negar o direito da integração
como um direito independente, mas tão somente para reforçar o entendimento de que a
falta de coercibilidade potencializa a não profundidade do desenvolvimento do processo
integrador.

Retornando àquele, sabe-se que ele “possui base claramente internacionalista,


mas [que] os seus objetivos foram expressamente definidos com base na concepção de
um processo de integração regional, divergindo, portanto, de uma natureza meramente
cooperativa” (p. 148-149). Os resultados dos acordos entre Estados, como é o caso do
próprio Mercosul, não têm eficácia apenas sobre seus membros dotados de soberania
internacional, como também sobre seus povos. Ainda, percebe-se que, naturalmente, o
problema do sistema de fontes reside no fato de que cada Estado-membro tem
autonomia para adotar as interpretações que melhores lhes convém, principalmente em
de Mercosul, na medida em que as Constituições de cada país fazem diferenciações
“quanto à preponderância de ato externo formulado por um órgão supraestatal” (p.149),
o que pode representar tanto um avanço quanto um retrocesso do processo de integração
e “prejudicar ou favorecer a formação de um sistema institucional supranacional” (p.
149).

Autores como Díaz Labrano e Molina del Pozo têm posicionamento majoritário
no que fiz ao fato de que o Mercosul ser um processo devidamente amparado pelos
princípios da integração, que tem como intuito formar um mercado comum. Isso pode
ser pensado, ainda, graças ao fato daquele oscilar, em uma zona de transição, entre a
cooperação e comunitarização. “A integração seria o instrumento adequado para
regular o comportamento dos Estados-membros e das pessoas – públicas ou privadas –
bem como dos atos ditados pelos órgãos do processo no âmbito do Mercosul. No
entanto, esse direito, por sua singularidade e aspecto inovador, está consubstanciado
pelos limites da ordem interna de cada partícipe e como tal circunstância determina a
necessidade de mandamentos imperativos para fazer cumprir a norma acordada nos
órgãos integradores” (p. 149).

Por não contar com mecanismos institucionais comuns, a obrigação dos Estados-
membros da integração pode se encontrar em momento específico de enfraquecimento.
Não obstante, destaca-se esse fato única e exclusivamente para mostrar que a falta de
coercibilidade é capaz de inviabilizar a implementação de um mercado comum entre os
Estados-membros, por exemplo, o que não resulta em falta de reconhecimento de um
direito específico ou mesmo autônomo, tendo em vista que assim continua sendo
entendido. “Pode parecer paradoxal a existência de um direito que não forneça
instrumentos jurídicos e os imperativos legais para conformar um substrato normativo
que venha a determinar e limitar a atuação do estado que participa de um espaço
multinacional integrado. A realidade nos leva a aceitar não só a existência desse direito,
mas defender até mesmo sua aplicabilidade, mesmo que ainda não integralmente
observado pelos Estados” (p. 150).

De qualquer forma, entende-se que os princípios do direito da integração


derivam do direito internacional, mas que, em seguida, passam a adquirir natureza
própria, tornando-se autônomo com relação ao DI propriamente dito. Trata-se do caso
de alguns princípios, dentre eles, da gradualidade, da flexibilidade, do equilíbrio e da
reciprocidade.
Ainda, destaca-se que “os sujeitos da integração são os Estados – na mesma
acepção do direito internacional público – mas a integração modifica substancialmente
os elementos clássicos utilizados para a definição destes, ao possibilitar a livre
circulação de pessoas, bens, serviços e capital” (p. 153). No que diz respeito às
transformações do sistema de cooperação interestatal clássico, fortemente influenciados
pelos postulados do direito internacional, tem-se que aquelas não necessariamente
atingem diretamente todos os elementos estatais, principalmente por não acarretar em
mudanças no território e na população, “ainda que possa modificar, em maior ou menor
grau, o exercício do poder soberano por esse Estado, na medida em que, ao integrar-se a
outro sujeito de direito internacional (seja Estado ou organização internacional), deverá
submeter-se aos objetivos que compõem o acordo de associação ou adesão” (p. 153-
154). Entretanto, ainda assim, percebe-se que o Estado não perde sua integralidade com
relação ao seu poder soberano, levando-se em consideração que ainda tem meios de
optar ou não pela sua participação na supracitada integração.

No sistema de comunitarização, fundado a partir de premissas estabelecidas pelo


direito da integração, assim como no direito comunitário, as transformações afetam, de
uma forma ou de outra, os elementos constitutivos do Estado, partindo-se do
pressuposto de que para atingir os resultados inicialmente pretendidos passa-se a
necessitar da criação de normas que possibilitem aprofundar nos objetivos de uma
integração estabelecidos. Por isso, pode-se mudar, por exemplo, estruturas de território
ao permitir abertura de fronteiras para possibilitar mobilidade transfronteiriça, sem suas
respectivas eliminações; ou mesmo na população, que normalmente passa a não mais
fazer distinção de igualdade de tratamento no fluxo de nacionais e estrangeiros dos
países membro. Forma-se, a partir disso, um substrato derivado de uma cidadania
comum, cujo exemplo mais notório é a própria União Europeia, onda aquela perspectiva
traz reflexos importantes mediante aos conceitos de povo, território e soberania,
principalmente com relação aos clássicos.

Além disso, estabelece-se que “o elemento mais controvertido do debate sobre


os processos de integração está relacionado com a questão de transferência de
competências ou cessão da soberania que, em tese, pode ser desenvolvida por cada
Estado” (p. 155). Mas é importante deixar claro que a potestade do poder soberano dos
países não é diminuída quando eles se vinculam à participação de integral regional, por
exemplo; e que o direito comunitário não nega tampouco exclui soberania, pelo
contrário, reafirma-a de forma mais ampliada, tendo em vista que tem-se uma
“compatibilidade” entre soberanias dos Estados membros.

Ainda, cabe retornar ao que foi dito incialmente e primar, em larga medida, pelo
devido reconhecimento com relação a um sistema próprio, por mais que este
compartilhe alguns pontos em específicos com o direito internacional, “mas que permite
aos Estados associados integrar-se num acordo com disposições comuns, sem que tenha
especificamente adotado a supranacionalidade num sentido amplo” (p.156), cuja
diferenciação entre instituições supranacionais, organizações de integração e relações de
cooperação internacional “resultam na diversidade da natureza jurídica, das funções,
competências e alcance das atribuições de cada uma delas” (p.156).

Em suma, trata-se de um texto bem escrito, metodologicamente muito bem


dividido e didaticamente bastante interessante. Traz uma série de considerações
importantes sobre vários assuntos importantes, dentre outras, algumas envolvendo
relações entre direito de integral e direito internacional. Os exemplos trazidos ao longo
do texto, sobretudo os relacionados à União Europeia e Mercosul, também foram outro
ponto bastante positivo à leitura e entendimento do texto. Vale a pena lê-lo.

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