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GÊNESIS

Polêmicas e Cronologia

Bruno Chaves

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................... 5

ADÃO DEU NOME A TODOS OS ANIMAIS? ............................ 7

ESPOSA DE CAIM ............................................................... 11

GÊNESIS 6: ANJOS E GIGANTES? ...................................... 21

NÃO CHOVIA ANTES DO DILÚVIO? ..................................... 33

MIGRAÇÃO PARA OS CONTINENTES APÓS O DILÚVIO ....... 43

DILÚVIO GLOBAL OU PARCIAL? ......................................... 51

A BÍBLIA E OS DINOSSAUROS ............................................ 71

CRONOLOGIA DO GÊNESIS ................................................ 89

Data do dilúvio ................................................................ 89

A ordem cronológica da história ....................................... 92

A morte de Isaque ............................................................ 99

Continuação da cronologia ............................................. 101

Idade de José quando foi vendido ................................... 102

De quantos anos foi a escravidão no Egito? .................... 107


Cronologia dos reis de Judá ........................................... 111

Conclusão ..................................................................... 113

BIBLIOGRAFIA .............................................................. 115

INTRODUÇÃO

Sem dúvidas, o Gênesis é um dos livros bíblicos que

mais têm sido mal compreendidos. Muitas doutrinas divergem

pensamentos, quanto à forma ensinada nas escolas teológicas.

Dentre elas, citam-se a forma em que Deus criou o mundo, a

forma em que ocorreu o dilúvio, a idade da Terra, a genealogia

de Adão.

Além disto, temas como a esposa de Caim, a raça

humana não adâmica, os homens-macacos, os gigantes filhos

de anjos, a chuva antes do dilúvio e os dinossauros têm gerado

discussões e debates entre os estudiosos evangélicos.

Desta forma, os leitores têm sido vítimas de alguns

teólogos sensacionalistas, que procuram inserir fantasia e mito

no Gênesis, para satisfazerem ao seu ego. É preciso esclarecer

certas polêmicas que têm raízes no livro mosaico e desmitificar

a imagem que tais teólogos construíram, passando por cima da

hermenêutica e da lógica bíblica.


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ADÃO DEU NOME A TODOS OS

ANIMAIS?

O sexto dia seria pequeno demais para que Adão

nomeasse todos os animais da Terra. É nisto que se baseia um

dos argumentos da teoria dos Dias-Eras, que alega a

necessidade de ser o sexto dia um período muito superior a um

dia solar literal.

“Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo

animal do campo e toda ave dos céus, os trouxe a Adão, para

este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda

a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pôs os nomes a todo

o gado, e às aves dos céus, e a todo animal do campo; mas para

o homem não se achava adjutora que estivesse como diante

dele” (Gn 2.19,20).

Um dia seria pouco tempo para que Adão desse nome a

todos os animais do planeta. De fato, não apenas um dia, mas

até mesmo dezenas de anos seriam pouco tempo para que um

único humano nomeasse todos os seres viventes.

Atualmente a Terra possui 8,7 milhões de espécies, das


quais apenas 1,3 milhões foram nomeadas e catalogadas.

Como a cada dia são extintas 150 espécies, a quantidade que

havia naquele tempo era muito superior. Ressalta-se,

entretanto, que a taxa de extinção atual é muito alta em

relação à média das épocas anteriores.

Para que Adão nomeasse 8,7 milhões de animais,

necessitaria de 9 anos, sem intervalo para dormir e comer, ou

de 27 anos, caso trabalhasse apenas 8 horas por dia. E isto se

demorasse apenas 30 segundos por cada nome inventado. É

uma tarefa árdua e extremamente cansativa.

Dificilmente Deus teria levado exatamente todos os

animais a Adão. O mais provável é que tenha apresentado a ele

apenas os principais. Este fato independe de quanto tempo

Adão dispunha para tal função. Se um dia, ou mil anos, é

presumível que Deus não lhe exigiria tanto.

Note que os seres microscópicos não poderiam sequer

ser vistos por Adão, para que ele os nomeasse. Observe

também que há uma improbabilidade física de que Adão visse

todos os animais marinhos. Estes somariam 2,5 milhões de

espécies, das quais, a maioria não poderia apresentar-se diante

dele.

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O versículo é claro ao dizer que todos os animais foram

levados a Adão. No entanto, raramente a palavra “todos” na

Bíblia representa 100 por cento. E, para ilustrar esse fato, não

são necessários vários exemplos. Eis apenas alguns:

“Todo o mundo procurava ir ter com ele para ouvir a

sabedoria que Deus lhe pusera no coração” (1Rs 10.24). “Levou-

o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os

reinos do mundo e a glória deles” (Mt 4.8). “Vós sois a nossa

carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os

homens” (2Co 3.2). “Ora, estavam habitando em Jerusalém

judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do

céu” (At 2.5).

E mais outros igualmente importantes: Ex 10.5; Nm

22.5,11; 1Sm 30.16; 1Rs 20.27; Dn 4.20; Jo 12.19; At 11.28;

17.6; 18.17; 19.10,27,29; 21.28; 24.5; Rm 1.8; 10.18; 16.19;

Cl 1.6; 1Ts 1.8; Hb 3.16.

Sabemos que, nem todo o mundo foi ter com Salomão.

Estamos cientes de que o diabo não mostrou exatamente todos

os reinos do mundo a Jesus. A vida dos coríntios não foi lida

por todos os homens. Nem todas as nações de debaixo do céu

tinham representantes habitando em Jerusalém.

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Até mesmo em nossa linguagem habitual usamos estas

palavras para designar a totalidade de um grupo, e não a

totalidade do globo terrestre:

“Todo mundo vai à festa hoje”.

“Ele deve dinheiro ao mundo inteiro”.

“Todos gostam de churrasco”.

Conclui-se que Adão não nomeou toda a complexidade

de espécies existentes no mundo, por três razões. A primeira é

o simbolismo intrínseco na palavra “todos” dentro das

Escrituras. A segunda se baseia no bom senso, o qual nos

impele a crer que Deus não colocaria tamanho fardo sobre

Adão. E a terceira é que Deus precisaria utilizar poder para

fazer com que todos os animais, inclusive os microscópicos e os

marinhos se apresentassem diante de Adão.

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ESPOSA DE CAIM
Após matar Abel, Caim foi para a terra de Node e

conheceu sua esposa, com a qual teve um filho. Este fato tem

levado muitas pessoas a crer que existiam humanos além dos

descendentes de Adão. Doutra sorte, como Caim teria

encontrado uma mulher em outra terra?

“E saiu Caim de diante da face do Senhor e habitou na

terra de Node, da banda do oriente do Éden. E conheceu Caim a

sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma

cidade e chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho

Enoque” (Gn 4.16,17).

Mas é um erro supor que aquele foi seu primeiro filho.

O nome de Enoque foi mencionado apenas por causa de sua

relevância, e não por ter sido o primeiro. Enoque teve uma

cidade batizada com seu nome. E ele é da linhagem de

Lameque, que também teve registro histórico.

Ademais, não é seguro afirmar que aquela foi sua

primeira esposa. E, ainda que aquela tenha sido a primeira

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mulher de Caim, não está escrito que ele a conheceu naquele

momento. A Versão Atualizada de Almeida registra que ele


coabitou com sua esposa na terra de Node. Coabitar, ou

conhecer, no original hebraico, é yada„, que significa

“conhecer”, que tanto pode ser um conhecimento visual, como

o conhecimento carnal, isto é, com relação sexual. Não é

seguro afirmar que Caim nunca vira aquela mulher antes.

Um exemplo prático da palavra yada„ pode ser

encontrado neste mesmo capítulo bíblico:

“Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu

e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio

do Senhor (...) Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu

à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela,

Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que

Caim matou” (Gn 4.1,25).

Adão conheceu Eva e gerou Caim. Depois ele tornou a

conhecê-la e gerou Sete. Nenhuma dessas vezes representa a

primeira vez que Adão viu Eva. Portanto, um homem pode

conhecer a mesma mulher várias vezes. E, quando isto

acontece, nascem filhos. Por isto que não é bíblica a certeza de

que Caim viu sua mulher pela primeira vez na terra de Node.

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Outro fato que gera dúvidas sobre a possibilidade de

existirem outros povos não adâmicos é que Caim se tornara


fugitivo. Havia outras pessoas que poderiam persegui-lo:

“Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua

presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra;

quem comigo se encontrar me matará. O Senhor, porém, lhe

disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete

vezes. E pôs o Senhor um sinal em Caim para que o não ferisse

de morte quem quer que o encontrasse. Retirou-se Caim da

presença do Senhor e habitou na terra de Node, ao oriente do

Éden” (Gn 4.14-16).

Quem seriam essas pessoas? A resposta é óbvia. Uma

vez que não existiam outros humanos antes de Adão, tais

pessoas só podem ser descendentes dele e de seus filhos Caim

e Abel.

Observe que Adão teve filhas, com as quais Caim e Abel

poderiam ter obedecido a ordem divina “crescei e multiplicai-

vos”:

“E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete,

oitocentos anos, e gerou filhos e filhas” (Gn 5.4).

Mas, como as filhas não tinham destaque histórico

relevante, foi omitida a narração do nascimento delas.

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Uma coisa que temos que entender é que, na época do


assassinato de Abel, não haviam apenas Adão, Eva e Caim. A

terra já estava cheia de descendentes de Caim e de Abel, além

de filhas de Adão e Eva. Existiam muitos humanos naquele

tempo.

Caim e Abel já eram adultos antes de Sete nascer, pois

Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra:

“Depois, deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de

ovelhas, e Caim, lavrador” (Gn 4.2).

O versículos seguinte ainda exige um tempo posterior,

que indica um prolongamento das idades deles:

“Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do

fruto da terra uma oferta ao Senhor” (Gn 4.3).

Certamente Caim e Abel já eram de idade avançada e,

por isto, tiveram muito tempo para expandir seus

descendentes. Ainda que não admitamos que naquela época

seja permitida a poligamia, uma única mulher pode gerar

vários filhos. Matematicamente é possível que haja grande

população de pessoas antes da morte de Abel.

Não dispomos de nenhuma data aproximada, que nos

informe o dia saída do Éden, ou o do nascimento de Caim e

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Abel. A data mais retrógrada que temos é a do nascimento de


Sete, aos 130 anos da idade de Adão:

“Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua

semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete” (Gn

5.3).

Sete surgiu em lugar de Abel:

“Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz

um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me

concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou”

(Gn 4.25).

Adão, quando foi expulso do paraíso, já era homem

adulto e casado. Portanto, já era apto a gerar filhos. Muito

provavelmente, assim que saiu do Éden, Eva deu à luz Caim.

Por esta razão, pode-se supor que Caim e Adão tinham

basicamente a mesma idade, com diferença de apenas nove

meses, dependendo de quanto tempo Adão permaneceu no

Éden. Um cálculo otimista pode estimar que Caim já tinha uns

128 anos quando matou Abel. Porque Sete nasceu,

aproximadamente, aos 130 anos de Caim, assim que Abel

morreu.

Isto dá uma margem de tempo muito grande para a

expansão da árvore genealógica e para a formação de vários

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descendentes. Caim e Abel já tinham uma vasta descendência

antes da morte de Abel, como se pode observar em Gênesis

4.14-16, que descreve uma grande população no lugar aonde

Caim fugiu.

Quanto ao fato de existirem humanos antes de Adão, a

Bíblia se posiciona inflexivelmente contra. Adão foi o primeiro

que surgiu:

“E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a

mãe de todos os seres humanos” (Gn 3.20). “Cainã, filho de

Enos, Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de Deus”

(Lc 3.38). “De um só fez toda a raça humana para habitar sobre

toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente

estabelecidos e os limites da sua habitação” (At 17.26). “Pois

assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma

vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante (...) O

primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem

é do céu” (1Co 15.45,47). “Porque, primeiro, foi formado Adão,

depois, Eva” (1Tm 2:13). “Porém, desde o princípio da criação,

Deus os fez homem e mulher” (Mc 10.6).

Contra a Bíblia não há argumentos. De fato, Adão foi o

primeiro homem, e Eva, a primeira mulher.

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Nunca existiu outra raça humana, que não seja

descendente de Adão. Observe que ele procurou por algum

animal, cuja espécie se adeque à sua, mas não encontrou:

“Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem

esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea (...) Deu

nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus

e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se

achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea” (Gn 2.20).

Todos os animais formavam pares, menos o homem.

Isto é uma prova de que Adão era o único humano existente.

E Eva era a única varoa. A palavra “varoa” se adequa

apenas à Eva e às suas descendentes, pois é o feminino de

“varão”.

“E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e

carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão

foi tomada” (Gn 2.23).

Eva nasceu a partir da costela de Adão. Por isto,

chamou-se varoa. Qualquer outra humana que existisse não

poderia ser cognominada de varoa. E o próprio nome Eva foi

dado em função dela ser a primeira mulher:

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“E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a


mãe de todos os seres humanos” (Gn 3.20).

O significado do nome Eva é “vida”, “vivente”. Adão

atribuiu esse nome a ela, pelo fato dela ter dado vida a todos os

seres humanos.

Além disso, não é possível haver outra raça humana

além deste casal, porque a promessa de remissão de pecados

foi dada exclusivamente aos descendentes de Adão:

“Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim

também todos serão vivificados em Cristo” (1Co 15.22).

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no

mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a

todos os homens, porque todos pecaram. Porque até ao regime

da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em

conta quando não há lei. Entretanto, reinou a morte desde Adão

até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à

semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele

que havia de vir” (Rm 5.12,14).

A salvação está atrelada à condenação. Os filhos de

Adão são participantes da redenção pelo sangue do Cordeiro.

Porque, assim como todos foram condenados pelo pecado de

Adão, todos podem alcançar a remissão pelo ato de justiça de

Cristo.
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“Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi

feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante.

Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o

espiritual. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o

segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o terreno,

tais são também os demais homens terrenos; e, como é o homem

celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a

imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do

celestial” (1Co 15.45-49).

Somente aqueles que trouxeram a imagem do primeiro

Adão poderão trazer a imagem do segundo Adão, que é Jesus.

Portanto, se admitirmos que existem humanos que não são

descendentes de Adão, estaremos afirmando que os tais não

têm parte em Cristo e não podem lavar-se com Seu sangue.

Desta feita, conclui-se que Adão foi o primeiro homem,

Eva foi a primeira mulher, e que não havia raça humana

diferente desta. As pessoas com quem Caim se relacionou eram

descendentes dele, de seu pai, de seu irmão e de suas irmãs.

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GÊNESIS 6: ANJOS E GIGANTES?


O sexto capítulo de Gênesis narra a vontade de Deus de

punir a Terra com o dilúvio. O motivo dessa punição seria o

pecado da humanidade.

No entanto, tal capítulo tem sido alvo de interpretações

estapafúrdias, cujo objetivo é inserir fábulas, mitos e folclore

num texto genuinamente literal. Em Gênseis 6 lê-se que os

filhos de Deus possuíram as filhas dos homens:

“Havia, naqueles dias, gigantes na terra; e também

depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens

e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na

antiguidade, os varões de fama” (Gn 6.4).

Muitos teólogos interpretam que os anjos possuíram

carnalmente as mulheres humanas, tendo como resultado o

nascimento de gigantes. Esse teria sido o motivo pelo qual

Deus decidiu destruir a vida na Terra.

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Sinto-me constrangido de perder o meu tempo

refutando uma heresia de tal gabarito! Porque é de se esperar

que até mesmo as crianças da escola bíblica dominical tenham

a capacidade de ler o capítulo e extrair o verdadeiro significado,

sem recorrer a métodos absurdos de inserir ficção científica

desnecessária.
É incrível e até inacreditável como no meio evangélico

haja quem se preste a inventar uma interpretação tão

descabida para um texto tão simples! A insanidade, que ora se

apodera de alguns que se dizem teólogos, age de tal forma que

faz aflorar doutrinas completamente alheias aos olhos de

qualquer professor de interpretação de texto!

Pois bem, aqui estão alguns argumentos que elucidam a

questão e desmitificam de vez a interpretação proposta:

Primeiro argumento:

Afirmam os proponentes que toda vez que aparece a

expressão “filhos de Deus” no Velho Testamento refere-se a

anjos. Porque, se fossem homens, seriam filhos dos homens, e

não de Deus.

Na verdade, existem apenas três referências de anjos

como filhos de Deus:

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“E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram

apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre

eles” (Jó 1.6). “E, vindo outro dia, em que os filhos de Deus

vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás

entre eles apresentar-se perante o Senhor” (Jó 2.1).

Estes dois versículos não afirmam diretamente que os


anjos são filhos de Deus, embora seja verdade que toda

criatura viva o seja. Pelo contrário, os versículos dizem que

Satanás não está sendo chamado de filho de Deus, pois há a

menção de duas classes de seres que visitaram o Senhor: os

filhos de Deus e Satanás. São grupos distintos. Satanás não foi

chamado de filho de Deus nos versículos supracitados.

“Quando as estrelas da alva juntas alegremente

cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?” (Jó 38.7).

Neste caso, os anjos foram realmente chamados de

filhos de Deus. Mas é uma única referência bíblica e, além de

tudo, está isolada do texto do dilúvio. Se, em Jó, os filhos de

Deus são anjos, não é motivo para que, em Gênesis, também

seja. Tudo depende do contexto, e o livro de Jó é bem distinto

de Gênesis. Um não serve de contexto para o outro, sobre este

tema. Se quisermos interpretar Gênesis, devemos apreciar os

versículos do contexto de Gênesis, e não transportar o assunto

a outro livro e a outras situações totalmente distintas.

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Acima de tudo, é válido frisar que existem, pelo menos,

quatro referências de homens como filhos de Deus no Velho

Testamento:

“Tributai ao Senhor, filhos de Deus, tributai ao Senhor


glória e força” (Sl 29.1). “Direi ao Norte: entrega! E ao Sul: não

retenhas! Trazei meus filhos de longe e minhas filhas, das

extremidades da terra” (Is 43.6). “Assim diz o Senhor, o Santo

de Israel, aquele que o formou: Quereis, acaso, saber as coisas

futuras? Quereis dar ordens acerca de meus filhos e acerca das

obras de minhas mãos?” (Is 45.11). “Mataste a meus filhos e os

entregaste a elas como oferta pelo fogo” (Ez 16.21).

Portanto, é uma falácia essa história de que todas as

vezes que se lê “filhos de Deus” no Velho Testamento é uma

referência a anjos. E assim, a única pretensa base bíblica dos

proponentes da teoria cai por terra.

Ainda em tempo, não se pode pegar uma expressão de

tratamento e supor que ela sempre se refere à mesma pessoa.

É necessário tomar cuidado com essa forma de associar

versículos. Por exemplo, em Apocalipse, Jesus é a “Estrela da

manhã”, mas não podemos dizer o mesmo de Isaías, onde

“estrela da manhã” era Lúcifer:

“Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas

coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante

25

Estrela da manhã” (Ap 22.16). “Como caíste do céu, ó estrela da

manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que


debilitavas as nações!” (Is 14.12).

Da mesma maneira, não podemos dizer que “filhos de

Deus” são anjos em Gênesis, pelo fato de o serem em Jó.

Essa

distinção

que

reza

que

“filhos

de

Deus” são anjos, enquanto que “filhas dos homens” são

mulheres é irreal. Ela se baseia em dois fundamentos:

1) Apenas Adão é filho de Deus. Os demais são filhos de Adão.

Contudo, os homens não são também filhos de Deus? Por

que apenas Adão seria filho de Deus? Todo aquele que

procede do homem pode ser chamado de filho de Deus,

segundo a carne, pois foi criado por Ele. A Bíblia sempre

chama de “pai” todos os antecessores da mesma linhagem.

Por isto se diz que Deus é nosso Pai, assim como se diz que

Adão é nosso pai. Não é possível supor que Deus seja avô

de Sete, e bisavô de Enos. Deus é Pai de todos eles.

2) As mulheres não recebem o tratamento de filhas de Deus, e


sim dos homens. Para os teoristas dessa heresia, isto é

uma prova de que elas são diferentes dos verdadeiros filhos

de Deus, que são os anjos. Mas o fato das mulheres

receberem o tratamento de filhas dos homens é um fato

cultural. Naquela época, as mulheres solteiras pertenciam

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a seus pais, e as casadas pertenciam a seus maridos. Toda

mulher

era

conhecida

como

filha

de

alguém,

principalmente quando o assunto é o namoro ou o

casamento, como nos versículo citados. Por isto se diz

“filhas dos homens”.

Segundo argumento:

Os versículos do contexto em questão dizem claramente

que se trata de homens, e não de anjos:

“Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes

nasceram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos


homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que,

entre todas, mais lhes agradaram. Então, disse o Senhor: O meu

Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e

os seus dias serão cento e vinte anos. Ora, naquele tempo havia

gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus

possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos;

estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade. Viu o

Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra

e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração;

então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e

isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da

face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis

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e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito” (Gn

6.1-7).

Não há a palavra “anjo” aqui. Por outro lado, a palavra

“homem” está em toda parte, mostrando que os únicos

personagens da narrativa eram homens. O verso 3 diz que o

homem é carnal. O verso 5 diz que a maldade do homem se

havia multiplicado na terra. O verso 6 expressa que Deus se

arrependeu de ter feito o homem. E o verso 7 declara que Deus

exterminará o homem.
Dessarte, não há como negar que somente o homem foi

o réu, o culpado e o condenado. Os anjos não tiveram

participação neste capítulo bíblico.

Terceiro argumento:

Quando os filhos de Deus tomaram as filhas dos

homens, Deus puniu a humanidade. Se fossem anjos isso não

faria sentido, pois seria injusto punir a humanidade pelo

pecado dos anjos.

“Vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram

formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais

lhes agradaram. Então, disse o Senhor: O meu Espírito não

agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias

serão cento e vinte anos” (Gn 6.2,3).

28

O homem é carnal e mau. Portanto, é ele quem deve

pagar pelo seu pecado. É com a maldade do homem que Deus

estava decepcionado.

Como Deus mataria tantos “inocentes” por causa do

pecado de anjos? Ele é tão misericordioso que teria poupado

Sodoma e Gomorra, se houvessem ali dez justos (Gn 18.32).

Quarto argumento:

O pecado que moveu a mão de Deus não foi unicamente


o de relações sexuais ilícitas. A Terra foi punida também por

causa de sua violência:

“A terra, porém, estava corrompida diante da face de

Deus; e encheu-se a terra de violência. E viu Deus a terra, e eis

que estava corrompida; porque toda carne havia corrompido o

seu caminho sobre a terra. Então, disse Deus a Noé: O fim de

toda carne é vindo perante a minha face; porque a terra está

cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra” (Gn 6.11-

12).

Portanto, o suposto pecado, por parte dos anjos, de

fazer conjunção carnal ilícita não é explicado como a causa do

dilúvio.

29

Quinto argumento:

A teoria apregoa que os seres em questão só podem ser

anjos, porque o resultado de sua relação sexual com as

mulheres foram os gigantes.

Mas, se perguntarmos para um biólogo, ele nos dirá que

não é necessária a copulação de um anjo para que e uma

mulher gere um gigante. Temos que parar de pensar que a

palavra “gigante” se refere a monstros de quinze metros de

altura. São seres humanos, de dois a três metros.


Os gigantes sempre existiram, e nunca foram frutos de

relações sexuais com anjos. Isto pode ser explicado, não só

pela biologia, mas também pela própria Bíblia. Porque há

vários exemplos de gigantes que não estão em Gênesis 6: Js

13.12; 2Sm 21.16,18,20,22; 1Cr 20.4,6,8.

E, em Números, vemos o mesmo vocábulo utilizado em

Gênesis, que é n@phiyl:

“Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque são

descendentes de gigantes, e éramos, aos nossos próprios olhos,

como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos” (Nm

13.33).

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Certamente, nenhum desses gigantes era filho de algum

anjo.

Ademais, façamos uma correção. Em Gênesis 6 os

gigantes já existiam antes mesmo dos filhos de Deus

possuírem as filhas dos homens:

“Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também

depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos

homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes,

varões de renome, na antiguidade” (Gn 6.4).

Os gigantes existiam antes e depois que ocorreram


essas relações sexuais ilícitas. Portanto, não são filhos de

anjos.

Sexto argumento:

Anjos não se casam, nem se dão em casamento:

“Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em

casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mt 22.30).

Anjos são assexuados e não se reproduzem de forma

animal. Foram feitos assim por que são imortais, não havendo

a necessidade de se multiplicarem.

31

Além disso, eles devem ter formas de sentir prazer

muito mais evoluídas do que a sexual. Não haveria, por

conseguinte, razão para se deleitarem com mulheres.

No entanto, alguns teoristas desta heresia admitem que

os anjos não podem fazer conjunção carnal, baseados em

Mateus 22.30. Todavia, esquivam-se da questão ao afirmar que

os anjos possuíram os corpos dos homens e estupraram as

mulheres.

Mas essa tentativa de se justificar só vem a agravar a

falta de nexo da teoria. Se um homem endemoninhado possuir

uma mulher, isto não dará origem a um gigante. O sêmen

continua sendo humano normal. O sêmen de um anjo, se é que


existe, não seria transmitido à mulher.

Sétimo argumento:

Nunca se viu coisa semelhante na Bíblia. É totalmente

extraordinário um anjo ter relação sexual com uma humana. A

teoria cai simplesmente por falta de bases bíblicas.

Oitavo argumento:

Os anjos não têm a permissão de Deus para fazer o que

querem com os humanos. E não haveria razão, nem tampouco

lógica para Deus permitir tal coisa.

32

E assim, podemos afirmar categoricamente que os anjos

não copularam com mulheres, nem em Gênesis 6, nem em

parte alguma das Escrituras. E os gigantes que existiam na

Terra não eram fruto dessa relação.

Esta heresia é mais uma herança de teólogos

alucinados, que querem dar ênfase ao sobrenatural. Sempre

preferem interpretar a Bíblia do jeito mais fantasioso, ao invés

do modo mais simples e direto. Seu combustível é a ficção

científica e o êxtase apocalíptico. Por não se contentarem com o

básico e natural, precisam de algo a mais, para dar maior

sensacionalismo à história. Tudo é vaidade. O intérprete

enxerga no texto bíblico apenas aquilo que quer ver, e não o


que está translúcido literalmente.

33

NÃO CHOVIA ANTES DO DILÚVIO?

É propício prestar alguns esclarecimentos sobre um fato

de certa forma obscuro. Há uma influente doutrina que

assevera que não chovia sobre a terra nos tempos primitivos,

mas apenas um vapor subia da terra e regava os vegetais. Esta

condição teria durado até o dia do dilúvio, quando houve a

primeira chuva do planeta.

Tal ideologia foi fundada por uma interpretação

equivocada de Gênesis 2.5,6:

“Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra,

pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o

Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não

havia homem para lavrar o solo. Mas uma neblina subia da

terra e regava toda a superfície do solo” (Gn 2.5,6).

Munidos desses versículos, a teoria ganhou espaço e

credibilidade no meio evangélico. No entanto, não obteve êxito

diante dos mais eruditos teólogos.

34

Comecemos explicando o texto Gênesis 2.5,6, o qual

afirma que não chovia. Bom, se a Bíblia disse que não chovia, é
verdade, não o podemos negar. Porém, o verbo está no

passado, e temos que analisar a qual época se refere.

Esta é a forma em que começa o capítulo dois de

Gênesis:

“Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o

seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua

obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que

tinha feito” (Gn 2.1,2).

O texto dá a impressão de que o capítulo primeiro fora

selado, e que passou a fazer parte do passado na narrativa.

Isto nos induz a pensar que todo o conteúdo seguinte se refere

a outro tempo subsequente. Dessarte, o capítulo dois de

Gênesis está sendo equivocadamente interpretado como sendo

referente a outra criação de Deus, posterior à primeira.

No entanto, o texto continua nestes termos:

“Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram

criados; no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus” (Gn

2.4).

35

Se houvesse pontuação no hebraico, caberia aqui os

“dois pontos”, pois se trata de uma frase introdutória, a qual

explica que todo o conteúdo seguinte é uma repetição do


capítulo da criação. Tudo o que segue após essa afirmação

tende a descrever as “origens dos céus e da terra”, porém de

uma forma mais detalhada, informando minúcias que não

foram pormenorizadas anteriormente.

O autor não explanara no capítulo 1 sobre todos esses

detalhes, pois fugiria do tema da narrativa da criação, e da

formação sequencial dos seis dias. Preferiu, portanto, encerrar

a semana, e depois relatar, no capítulo seguinte, os

pormenores que ocorreram durante ela.

Além disso, existe ali a informação de que a narrativa se

refere ao dia em que foram criados os céus e a terra:

“Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram

criados; no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus” (Gn

2.4).

O versículo informa que os fatos sequentes aconteceram

no dia da criação original. Desse modo, o capítulo dois de

Gênesis nada mais é do que uma explicação do que ocorreu

dentro dos seis primeiros dias.

36

Para comprovar isto, há um importante versículo que

repete a informação de que os animais foram criados no

capítulo dois:
“Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os

animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao

homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o

homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome

deles” (Gn 2.19).

Ou os animais foram criados novamente no capítulo

dois, ou tal capítulo é apenas uma explicação do primeiro.

Veja que até o próprio Adão foi criado no capítulo dois:

“Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e

lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser

alma vivente” (Gn 2.7).

Se o homem já fora formado no capítulo um, por que

está sendo criado novamente no segundo capítulo?

E quanto a Eva? Ela foi criada também no capítulo dois:

“E a costela que o Senhor Deus tomara ao homem,

transformou-a numa mulher e lha trouxe” (Gn 2.22).

37

Isto também é uma repetição, pois Eva já fora criada

desde o capítulo um:

“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de

Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.27).

Repare ainda que os versículos subsequentes


coadunam com o fato de ter duas pessoas no capítulo 1, pois

trazem as formas verbais no plural:

“E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos,

multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os

peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que

rasteja pela terra. E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado

todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de

toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente;

isso vos será para mantimento. E a todos os animais da terra, e

a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que

há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E

assim se fez” (Gn 1.28-30).

Tanto Adão, quanto Eva estavam lá no sexto dia da

criação. E o mesmo podemos dizer também das plantas do

campo e das árvores, que também foram criadas no mesmo

contexto.

38

Por fim, analisemos os versículos que informam que não

chovia na terra:

“Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra,

pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o

Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não


havia homem para lavrar o solo. Mas uma neblina subia da

terra e regava toda a superfície do solo” (Gn 2.5,6).

Além do fato de o capítulo dois ser uma explicação do

que ocorreu no capítulo um, há ainda nestes versículos outra

informação bastante relevante. O motivo pelo qual não havia

brotado nenhuma planta do campo na terra foi exatamente a

falta de chuva, não obstante haver neblina regando a superfície

do solo. É o que está explícito no texto, que afirma claramente

que a neblina não era suficiente para fazer brotar os vegetais.

Veja que o trecho da Bíblia que diz que não chovia

refere-se ao tempo em que não tinham brotos na terra. Os

vegetais foram criados, no terceiro dia. Então está bastante

óbvio que é antes disso que não chovia. De modo que, se

dissermos que não chovia antes do dilúvio, estaríamos

automaticamente dizendo também que não existia vegetação

naquele período, pois, se nenhuma erva brotasse até o dia do

dilúvio, toda a vegetação ter-se-ia extinguido.

39

Portanto, para resolver a questão, basta ler o capítulo

dois inteiro, que ele é autoexplicativo. A teoria de que não

chovia no passado não tem lugar na Bíblia. E assim, todos os

fatos ocorridos no capítulo dois desenvolveram-se dentro da


primeira semana da Terra. Citam-se, a criação de Eva, a

criação do jardim do Éden, a tarefa de Adão em dar nomes aos

animais, e a neblina que caía antes da primeira chuva.

Para todos os efeitos, a hermenêutica normatiza que,

havendo duas interpretações possíveis, é mais sensato optar

pela mais simples e menos extravagante. E o só visualizar um

cenário onde não chove durante dois milênios já é bizarro por

demais.

O FIRMAMENTO

Já vimos que Deus chamou o firmamento de “céus”. Há

aves sob esse firmamento, águas em cima e embaixo, e estrelas

no meio.

Os defensores da teoria de que não chovia antes de Noé

apregoam que as comportas do céu romperam-se no dia do

dilúvio, abrindo caminho para haver chuvas daquele momento

em diante.

40

Todavia, ainda que concordemos que a linguagem de

Gênesis foi simbólica e adaptada ao conhecimento humano da

época, a Bíblia não diz que as comportas do firmamento foram

abertas:

“No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias


do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do

grande abismo, e as comportas dos céus [shamayim] se

abriram” (Gn 7.11).

O original apresenta a palavra céu, e não firmamento.

Então, a suposta redoma de vidro não fora sequer tocada

naquele dia.

E, mesmo se tivesse sido, o céu foi fechado da mesma

maneira que foi aberto:

“Fecharam-se as fontes do abismo e também as

comportas dos céus, e a copiosa chuva dos céus se deteve” (Gn

8.2).

Deste modo, uma vez que o firmamento fora fechado

novamente ao término dos quarenta dias, como se explicam as

chuvas que ocorreram e que ocorrem até hoje? Pois que, se as

chuvas realmente dependem da abertura das comportas do

firmamento, teriam cessado definitivamente depois dos

quarenta dias.

41

Analisemos agora outros versículos propostos a favor da

redoma no céu:

“Coberto de luz como de um manto. Tu estendes o céu

como uma cortina, pões nas águas o vigamento da tua morada,


tomas as nuvens por teu carro e voas nas asas do vento” (Sl

104.2,3).

Visualmente imaginando, os defensores da tese pintam

o cenário da Terra antiga, como havendo colunas e vigas sobre

as águas que repousam acima do firmamento. Tais colunas

sustentam a morada de Deus.

No entanto, o versículo nem especifica em quais águas

está o vigamento da morada de Deus, se nos oceanos, ou nas

nuvens, ou sobre o firmamento. Também não especifica se a

morada de Deus está à altura das nuvens, ou das estrelas.

Assim sendo, os versículos não se constituem em prova de que

há oceanos sobre uma redoma.

Mormente, não há base bíblica para supormos que

existem esses pilares físicos e literais. Está claro que se trata

de uma metáfora.

É válido observar que, mesmo depois do dilúvio, ainda

existem águas em cima do céu:

42

“Louvai-o, céus dos céus e as águas que estão acima do

firmamento” (Sl 148.4).

Isto nos leva a crer que, nem mesmo sob a perspectiva

do autor de Gênesis, a redoma do firmamento abriu suas


portas para escoar a água no dilúvio. Até hoje ainda existe

água no céu, segundo o versículo acima, o que nos leva a crer

que as fontes do abismo abertas no dia do dilúvio nada mais

são do que as nuvens. Quanto a isto, há concordância também

com os ensinamentos de Salomão:

“Quando firmava as nuvens de cima; quando estabelecia

as fontes do abismo” (Pv 8.28).

Abismo compreende os mares. Suas fontes são as águas

das chuvas. Tanto este versículo, quanto o de Gênesis,

referem-se às nuvens. São elas que correspondem às águas

sobre o firmamento. E isto não é nada sobrenatural. Elas

foram criadas no segundo dia, e já começou a chover desde

aquela época. Naquele dia Deus fez separação entre as águas

debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento (Gn

1.6,7).

Em suma, no que tange o tema principal abordado,

pode-se concluir seguramente que houve sim chuvas antes do

dilúvio. Eram tão naturais e comuns quanto as chuvas de hoje.

43

MIGRAÇÃO PARA OS

CONTINENTES APÓS O DILÚVIO

A chave da questão a ser solucionada reporta-se a um


tema que instiga curiosidade e polêmica em qualquer teoria

criacionista. Quando a arca de Noé repousou sobre as

montanhas de Ararate, os seres que saíram dela foram

responsáveis por repovoar a Terra.

Como explicar a existência de infinitas espécies de seres

vivos em continentes distantes, separados por enormes

oceanos? Como teriam se locomovido para os quatro cantos do

planeta? Há ursos polares e pinguins na Antártida, onças

pintadas e sucuris no Amazonas, leões, rinocerontes e

elefantes na África, coalas na Austrália. Como essas espécies

andaram milhares quilômetros e alcançaram tais regiões?

É impossível que os animais tenham migrado para tão

longe sobre a água salgada, sem nenhum tipo de frota naval.

Estamos falando de milhões de espécies, e não de uma dezena.

Qualquer embarcação, ou objetos flutuantes não poderiam

44

alocar tantas espécies, nem seriam capazes de fornecer

alimento e água doce por vários meses, até que cruzem os

oceanos.

Então como poderiam ter migrado as espécies terrestres

para os continentes? Existem pelo menos três explicações por

parte dos teólogos:


1) O continente Pangeia ainda não se havia separado

depois do dilúvio;

2) Houve uma era do gelo após o dilúvio, a qual

congelou pontes sobre o mar para a passagem dos

animais;

3) O dilúvio foi parcial, e não global.

É necessário fazermos algumas observações sobre estas

três alternativas que teriam tornado possível a migração da

fauna e da flora pelo globo terrestre.

UNIÃO DOS CONTINENTES

No que tange à primeira alternativa acima, há um

bilhão de anos, as massas de terra se uniram em um único

continente, chamado Rodínia, situado no polo sul. Há 630

milhões de anos começou a se separar. Posteriormente, há 300

45

milhões de anos, os continentes se uniram novamente,

formando Pangeia. Sua divisão teve início há 180 milhões de

anos.

Alguns teólogos da Terra Jovem atribuem à essa união

de massas continentais a razão pela qual os animais passaram

a habitar nos mais diversos locais do globo. O que torna essa

teoria absolutamente improvável é o extenso período de


movimentação das placas tectônicas. Comparando com o

dilúvio, que ocorreu há aproximadamente 4 mil anos, não há a

menor lógica. O contraste entre 4 mil e 180 milhões de anos é

tão aberrante, que é como se o dilúvio tivesse ocorrido ontem.

Nada mudou desde aquela época.

A velocidade da movimentação dos continentes é a

mesma do crescimento das unhas, que é 2,5 centímetros por

ano. Não houve tempo para que os continentes se afastassem

tanto. Em 4 mil anos, os continentes só percorrem 100 metros.

Essas massas de terra não são navios flutuantes, que viajam

rapidamente sobre o oceano. Elas percorrem seu trajeto sobre

o chão sólido, deslizando na crosta terrestre.

Acredito, espero, que essa teoria seja repudiada pela

maioria dos teólogos criacionistas, dada a completa falta de

concordância com os princípios básicos da geologia.

46

ERA DO GELO

Já há algum tempo, a teoria que aprova uma era do gelo

após o dilúvio desenvolveu-se na arguição de vários escritores.

Seu objetivo foi, mormente, tentar explicar a disseminação das

espécies terrestres por toda a superfície do planeta.

Tais estudiosos se encarregaram até de agrupar provas


físicas de que um dilúvio global possa desencadear uma era do

gelo. Não é relevante discutir essas provas aqui, devido à

considerável falta de lógica aprestada.

Em suma, a teoria sustenta que um período glacial teria

criado uma ponte de gelo que uniu a Rússia ao Alasca. Essa

ponte teria sido o canal para a migração.

Existem tantas inconsistências nesta teoria, que nem

sei por onde começar. Por exemplo, imagine quão grande é a

distância entre o Ararate e o Alasca. Quantos anos os animais

teriam levado para sair do ponto inicial até a suposta ponte

glacial? Que razões teriam eles para saírem de seus habitats

originais e fazerem tão grande jornada, afligidos pelo deserto

gélido da Ásia?

Note que todas as ilhas do planeta, por menores e mais

distantes que estejam, apresentam riquíssimas fauna e flora. É

inexequível uma era do gelo ser capaz de criar pontes glaciais

47

para todas elas, sem exceções. E, mesmo se tivesse criado, é

altamente improvável que centenas de milhares de espécies

diferentes tenham se dirigido a cada uma delas. Quando

muito, chegariam uma ou duas espécies sobreviventes.

Quanto ao tempo para a realização desse fenômeno, a


história só dispõe de 4 mil anos. Seria esse período suficiente

para que uma era do gelo se inicie e depois se derreta?

Ocorreram 6 grandes eras glaciais no último bilhão de

anos. A última aconteceu há 60 milhões de anos atrás. A mais

longa durou 100 milhões de anos, no período geológico

chamado de Permo-Carbonífero. A próxima era do gelo deve

ocorrer daqui a cerca de 50 a 200 milhões de anos.

Era glacial é diferente de período glacial. Nos períodos

glaciais o gelo cobria cerca de 32 por cento da terra e 30 por

cento dos oceanos, enquanto que nas eras glaciais, cobria todo

o globo. As eras glaciais duram milhões de anos,

diferentemente dos períodos glaciais, que nunca chegam a 60

mil anos.

Só no último milhão de anos foram registrados, na

Europa e na América do Norte, quatro períodos glaciais. O

último ocorreu entre 12 e 18 mil anos atrás, e o próximo

deverá acontecer daqui a 10 ou 15 mil anos. O aquecimento

global só adiaria o inevitável.

48

O último período glacial começou há 100 mil anos e

terminou há 12 mil anos. Lembremo-nos de que, há 100 mil

anos, não existia Noé, nem sequer Adão. A própria Terra não
era tão antiga, segundo a datação fornecida pelo Gênesis e pela

cosmovisão da teoria da Terra Jovem. E demoram milhares de

anos para que a superfície da Terra vença a camada de gelo.

Não é um evento que acontece em um ano e termina no outro.

Portanto, o breve lapso que existe entre Noé e os dias

atuais não é suficiente para que se formem geleiras em todo o

globo, e para que se dissipem posteriormente.

Se observarmos na Bíblia, Noé e seus descendentes não

passaram por uma era do gelo. Nem Terá, nem Abraão. Este

cataclismo, caso tenha ocorrido nas épocas deles, teria

marcado algum traço nas Escrituras. Se foi registrado o

dilúvio, por que não o seria a suposta era glacial?

Pelo contrário, todos os registros bíblicos informam a

existência de água em seu estado líquido, terra seca, vegetação,

animais e outras características de um clima normal.

Além da Bíblia, a história humana em geral registra a

existência de civilizações muito antigas, as quais não passaram

por era do gelo. Cita-se os Sumérios, no sul da Mesopotâmia, e

outros povos na Assíria, na Babilônia e no Egito. Não havia

sequer traços de geleiras nas cidades por eles habitadas.

49

Vale ressaltar ainda que as eras do gelo são


devastadoras e causam extinções em massa. A maioria das

espécies complexas teria desaparecido do planeta. Foi com

grande dificuldade que as espécies atuais sobreviveram ao

último período glacial. Muitas outras foram extintas.

E isto, apesar de o planeta estar superpovoado de seres

vivos. Quão mais desastroso seria uma era do gelo após o

dilúvio, quando só existia um par de cada espécie? Tão pouca

quantidade de animais não poderia ter sobrevivido a uma era

glacial.

Se não morressem de frio, teriam morrido de fome, pois

não há vegetação em uma era do gelo. Os animais de Noé

teriam que comer uns aos outros, até restarem poucos

sobreviventes. Deus não teria salvo das águas um par de cada

espécie, se tivesse a premeditada intenção de castigar o mundo

com uma era do gelo logo após o dilúvio, devastando todos os

animais da arca.

E, pasmem, o tamanho do problema não se resume a

isto. Suas dimensões ultrapassam o dobro de tudo o que já

dissemos aqui! Porque, mesmo que a estapafúrdia ideia de um

período glacial pós-diluviano seja válida, só conseguiria

explicar a saída dos animais da arca. Mas como eles teriam

chegado até ela antes do dilúvio? Será que houve outro período
50

glacial fazendo pontes marinhas para todas as ilhas antes do

começo das chuvas? Neste caso, após o primeiro período

glacial, todos os animais tiveram a chance de se locomoverem à

arca. Depois as geleiras teriam se derretido instantaneamente,

para dar lugar ao dilúvio. E, por fim, congelaram-se novamente

para que os animais tivessem o acesso de volta.

A falta de amparo bíblico atesta que a teoria da era do

gelo após o dilúvio está fadada a ser desconsiderada. E não

somente na Bíblia, mas também na área científica, não há

espaço para esta ideia. Hoje em dia, até mesmo a classe

estudantil está apta para apontar as discrepâncias existentes

na teoria. Amanhã, com a evolução da ciência, as próprias

crianças estarão cientes disto.

51

DILÚVIO GLOBAL OU PARCIAL?

De todas as três alternativas para a explicação da

existência de animais nos continentes, a teoria de um dilúvio

parcial parece ser a única que apresenta um pouco de

coerência. Mas será que tal ideologia é válida diante da Bíblia?

Não existe unanimidade entre os teólogos sobre a

concordância com um dilúvio parcial. O objetivo deste capítulo


não é defender esta ou aquela posição, mas apenas oferecer

diretrizes para a tomada de decisão. Há argumentos muito

convincentes, tanto de um lado, quanto de outro. Abaixo estão

relacionados os prós e os contras de um dilúvio parcial,

expostos de forma alternada.

A FAVOR DE UM DILÚVIO PARCIAL

Como primeiro argumento, menciona-se a mera

observação do globo terrestre. Existe espalhada pelo mundo

uma enorme variedade de espécies, das quais os cientistas

52

modernos não conseguiram catalogar nem a metade. E a

riqueza dessa fauna está presente em todos os continentes e

em todas as ilhas. Se a totalidade das espécies do mundo

tivesse perecido no dilúvio, os raros exemplares de Noé jamais

teriam expandido seus habitats para milhares de quilômetros

além dos oceanos, tampouco conseguiriam atingir todas as

minúsculas ilhas do mundo.

É digno de nota também que nem todas as ilhas

possuem presença humana, o que faz sentido, visto que toda a

civilização primitiva se concentrava apenas na Mesopotâmia.

Se o dilúvio tivesse devastado apenas aquela região, teria

matado toda a espécie humana e preservado o restante da vida


na Terra. Aliás o motivo principal do dilúvio foi justamente

exterminar os filhos de Adão, por causa do pecado. Não havia

necessidade de sacrificar todo o globo, apenas para atingir os

humanos.

Posteriormente, como o homem tem a possibilidade e a

faculdade de construir embarcações, pôde ampliar seus

horizontes a algumas ilhas e continentes. O homem, e apenas

ele, possui meios de navegação e de levar mantimentos a

bordo. Vale ressaltar que qualquer barco que tenha pelo menos

10 por cento da engenharia da arca de Noé seria capaz de

cruzar a Ásia em direção ao Alasca, ou de partir de ilha em

ilha, passando pela Indonésia, até chegar à Austrália.

53

CONTRA UM DILÚVIO PARCIAL

A Bíblia, se interpretada de forma literal, é

absolutamente contra um dilúvio parcial. Observe estes

versículos:

“Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda

carne, porque a terra está cheia da violência dos homens; eis

que os farei perecer juntamente com a terra” (Gn 6.13) . “Porque

estou para derramar águas em dilúvio sobre a terra para

consumir toda carne em que há fôlego de vida debaixo dos céus;


tudo o que há na terra perecerá” (Gn 6.17) . “Prevaleceram as

águas excessivamente sobre a terra e cobriram todos os altos

montes que havia debaixo do céu” (Gn 7.19). “Pereceu toda

carne que se movia sobre a terra, tanto de ave como de animais

domésticos e animais selváticos, e de todos os enxames de

criaturas que povoam a terra, e todo homem. Tudo o que tinha

fôlego de vida em suas narinas, tudo o que havia em terra seca,

morreu. Assim, foram exterminados todos os seres que havia

sobre a face da terra; o homem e o animal, os répteis e as aves

dos céus foram extintos da terra; ficou somente Noé e os que

com ele estavam na arca” (Gn 7.21-23). “Pela qual veio a

perecer o mundo daquele tempo, afogado em água” (2Pe 3.6).

E, adiante, versículos que informam que todos os

homens foram exterminados, restando apenas quatro:

54

“São eles os três filhos de Noé; e deles se povoou toda a

terra” (Gn 9.19). “Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da

terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as

aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito” (Gn 6.7).

“A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência.

Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo ser

vivente havia corrompido o seu caminho na terra” (Gn 6.11,12).


“E não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a

todos, assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mt

24.39). “Os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a

longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto

se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas,

foram salvos, através da água” (1Pe 3.20).

E agora pergunta-se: dá para dizer que estes versículo

não sugerem totalidade, sem ficar com dor na consciência? É

preciso muita ousadia para contradizer tantos versículos sem

confrontá-los com outros.

A FAVOR DE UM DILÚVIO PARCIAL

De fato, o objetivo de Deus era eliminar apenas a

humanidade. Os seres viventes da terra não eram o alvo de

Deus. Desta feita, até os adeptos de um dilúvio parcial

55

acreditam que toda a espécie humana foi morta, exceto a

família de Noé.

Quanto, porém, aos versículos que afirmam que toda a

terra foi submersa, é necessário estarmos aptos a reconhecer

quando a Bíblia utiliza, ou não, a linguagem figurada. Não há

uma exigência que nos força a interpretar literalmente todas as

passagens bíblicas. Raramente a palavra “todos” na Bíblia


representa 100 por cento. Observe alguns exemplos:

“A árvore que viste, que cresceu e se fez forte, cuja altura

chegava até ao céu, e que foi vista por toda a terra” (Dn 4.20).

“E, descendo, o guiou. E eis que estavam espalhados sobre a

face de toda a terra, comendo, e bebendo, e dançando, por todo

aquele grande despojo que tomaram da terra dos filisteus e da

terra de Judá” (1Sm 30.16). “E cobrirão a face da terra, que a

terra não se poderá ver; e eles comerão o resto do que escapou,

o que ficou da saraiva; também comerão toda árvore que vos

cresce no campo” (Ex 10.5). “Enviou ele mensageiros a Balaão,

filho de Beor, a Petor, que está junto ao rio Eufrates, na terra

dos filhos do seu povo, a chamá-lo, dizendo: Eis que um povo

saiu do Egito, cobre a face da terra e está morando defronte de

mim (...) Eis que o povo que saiu do Egito cobre a face da terra;

vem, agora, amaldiçoa-mo; talvez eu possa combatê-lo e lançá-lo

fora” (Nm 22.5,11). “Todo o mundo procurava ir ter com ele para

ouvir a sabedoria que Deus lhe pusera no coração” (1Rs 10.24).

56

“Também aos filhos de Israel se passou revista, foram providos

de víveres e marcharam contra eles. Os filhos de Israel

acamparam-se defronte deles, como dois pequenos rebanhos de

cabras; mas os siros enchiam a terra” (1Rs 20.27).


E ainda há versículos do Novo Testamento, os quais,

por falta de espaço, não transcreverei aqui: Mt 4.8; Jo 12.19;

At 2.5; 11.28; 17.6; 18.17; 19.10,27,29; 21.28; 24.5; Rm 1.8;

10.18; 16.19; 2Co 3.2; Cl 1.6; 1Ts 1.8; Hb 3.16.

Por isto não é seguro fundamentar doutrinas com base

na palavra “todos”, ou na expressão “toda a terra”, visto que

existem muitas exceções quanto à literalidade.

O fato de estar registrado que toda a terra foi submersa

tem relação com a perspectiva do autor e dos leitores de

Gênesis. Na época, seria lógico supor que o dilúvio fora global,

pela razão de que as águas romperam-se no horizonte, até

onde a vista alcançava. Do ponto de vista dos homens

contemporâneos ao dilúvio, certamente tamanha inundação

abrangeria todo o mundo. Para a humanidade daquela época,

que estava aglomerada em tão pequeno espaço de terra,

qualquer inundação teria caráter global.

Ressalta-se ainda que a palavra “terra” sempre aparece

com letra minúscula na Bíblia, pois este planeta ainda não

tinha nome na época. Portanto, a palavra “terra” de modo

57

algum poderia referir-se ao planeta inteiro, mas à terra

próxima, circunvizinha.
CONTRA UM DILÚVIO PARCIAL

Um dilúvio local não atende às normas da física, porque

teria causado um desnível na água. A superfície das águas

sempre está à mesma altitude, respeitando a lei da gravidade.

No dilúvio de Noé, elas prevaleceram quinze côvados

acima dos montes mais altos (Gn 7.19,20).

A FAVOR DE UM DILÚVIO PARCIAL

Conjecturas fundadas em explicações científicas devem

ser anuladas na discussão sobre o dilúvio. Uma inundação

como a de Noé, para princípio de análise, jamais se

desembocaria de forma natural. Todos os argumentos deste

cunho têm bastante lógica. Seu único defeito é que são

baseados em possibilidades físicas, esquecendo-se de que, para

Deus, tudo é possível. Ora, não se pode esperar que um

fenômeno bíblico seja comprovado pela ciência, para que seja

tido como verdade. Porque, se assim fosse, os cristãos não

58

poderiam crer, nem no dilúvio, nem em coisa alguma das

Escrituras.

O dilúvio, sendo parcial ou global, teve suas origens no

poder de Deus, e não em alguma catástrofe natural que pode

ser repetida ao longo da história. As águas simplesmente


apareceram, e não nos cabe buscar informações físicas para

isto. O Todo Poderoso dispõe de outros métodos para agir, além

das leis da física que o homem analisa.

Tente explicar cientificamente a multiplicação de pães,

de Jesus. Não é necessário buscar lógica nos atos

sobrenaturais do poder Divino. Senão, estaremos confrontando

a Palavra de Deus, simplesmente, com a lógica científica. A

física não deve ser nossa base de fé.

E, mesmo que se queira transportar a discussão ao

âmbito das possibilidades físicas, há argumentos científicos,

tanto contra, quanto a favor de um dilúvio parcial. Por

exemplo, se o dilúvio fosse global, de onde surgiria tanta água

para cobrir a superfície da Terra, e ainda permanecer nivelada?

Todo o vapor d’água hoje contido na atmosfera não poderia

elevar o nível do oceano inteiro mais do que alguns poucos

centímetros. E para onde teria escoado a água no término da

inundação? A improbabilidade maior reside no fato de que a

maioria das águas do dilúvio era doce. Considere que a água

59

da chuva nunca é salgada. Além disso, Noé e os animais

necessitaram beber durante um ano de confinamento, além de

encontrarem rios de água doce formados depois do escoamento


global.

Desta feita, os argumentos referentes à física

favoreceriam mais um dilúvio parcial do que um global. Para

ocorrer um dilúvio parcial, bastariam megatsunamis causados

pela queda de um asteroide no mar.

CONTRA UM DILÚVIO PARCIAL

É possível que a arca tenha sido suficiente para salvar

todo o vasto conjunto de espécies do planeta, pois a Bíblia

afirma categoricamente que todos os animais que respiram,

sem exceções, entraram naquela embarcação:

“De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie,

macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares vivos

contigo. Das aves segundo as suas espécies, do gado segundo

as suas espécies, de todo réptil da terra segundo as suas

espécies, dois de cada espécie virão a ti, para os conservares em

vida” (Gn 6.19,20). “De toda carne, em que havia fôlego de vida,

entraram de dois em dois para Noé na arca” (Gn 7.15).

60

Não sobrou nenhuma espécie terrestre que não tenha

embarcado.

A FAVOR DE UM DILÚVIO PARCIAL

Como refutação à argumentação anterior, a teoria do


dilúvio parcial apela novamente à simbologia contida na

palavra “todos”, e admite que a mesma deve ser considerada

uma mera expressão de linguagem.

A incrível variedade de espécies que existe hoje é tão

vasta, que dificulta a aceitação de que todas elas tenham

entrado na arca. Atualmente a Terra possui 8,7 milhões de

espécies, das quais 6,2 milhões são de animais terrestres.

Como a cada dia são extintas 150 espécies, a quantidade que

havia naquele tempo era muito superior.

Não podendo entrar todas na arca, haveria extinção em

massa, caso o dilúvio tivesse sido global. Desta forma, hoje não

existiriam 6,2 milhões de espécies terrestres, a menos que

admitamos que todas entraram na arca. Vale lembrar também

que na arca entraram um, ou sete pares de cada espécie. Se

multiplicarmos 6,2 milhões por sete pares, teremos a

exorbitante quantidade de 86,8 milhões de seres a bordo da

arca de Noé. Isto equivale à população de humanos de um país

61

relativamente grande! A arca necessitaria ter centenas ou

milhares de vezes o seu tamanho, para conter tantos animais e

ainda estocar comida para um ano!

Outro fato importantíssimo para ser considerado é que


existiam infinitas espécies que não residiam no mesmo habitat

que Noé. Por exemplo, os pinguins, o ornitorrinco, o leão

marinho, o elefante marinho, as focas, a ariranha, o coala, os

quais deveriam ter se locomovido por milhares de quilômetros

até chegarem ao local da arca. Para que isto tivesse acontecido,

eles deveriam ter começado a migração desde o dia em que

nasceram, prevendo a data do dilúvio. Moveram-se,

hipoteticamente, dos mais longínquos continentes e das mais

numerosas ilhas, até atingirem, no fim de suas vidas, o local

destino, que era a morada de Noé.

Vejam o tamanho da discordância. Uma quantidade

inumerável de espécies terrestres, que entrou na arca

justamente porque não sabia nadar, teve que cruzar o Oceano

Pacífico, ou o Atlântico, ou o Índico, para finalmente chegar à

arca e escapar das águas! Isso não tem lógica! O fato de se

salvar os animais terrestres em uma embarcação firma-se no

pressuposto de que eles não podem sobreviver na água. Assim,

um dilúvio global só poderia ter salvo as vidas de animais

presentes no mesmo continente da arca, pois a água dos mares

e dos rios tê-los-iam impedido de acessar o local.

62

E, depois do escoamento das águas diluvianas, teriam


que refazer todo o caminho de volta às suas casas. Imagine um

elefante marinho se arrastando em solo quente por 10 mil

quilômetros na ida, e 10 mil quilômetros na volta! Este é

apenas um dos milhares de exemplos.

Nenhum biólogo do mundo veria o menor cabimento em

um dilúvio global! Para nós, leigos, é compreensível

concebermos a ideia. Mas, para eles, que estão em contato com

a variedade e o número de espécies existentes no globo, é

impossível que todas elas tenham se locomovido à arca, cabido

nela e retornado aos seus antigos habitats.

CONTRA UM DILÚVIO PARCIAL

É corrente no meio evangélico a teoria de que as

espécies daquela época eram poucas, e teriam cabido na arca.

O que aconteceu foi que, posteriormente, elas foram

multiplicando-se, isto é, uma espécie dando origem a outras

espécies.

Por exemplo, um único par de cachorros daria origem a

incontáveis raças diferentes. Um único casal de humanos deu

origem aos brancos, aos negros, aos amarelos e aos vermelhos.

63

E assim, as poucas espécies de Noé transmudaram-se

tornando-se as várias espécies de hoje.


A FAVOR DE UM DILÚVIO PARCIAL

Observa-se claramente que se trata de uma teoria

infantil e frustrada. Não é preciso muita argumentação para

convencer qualquer um, que tenha um mínimo de estudos, de

que isto é uma falácia. Não existe reprodução interespecífica,

nem pode uma espécie originar outras diferentes. São leis da

natureza, as quais o próprio Deus criou.

A criação de novas espécies é chamada de “evolução”, a

qual, caso exista, necessita de milhões de anos para fazer uma

espécie dar origem à outra. Quatro mil anos não são

suficientes para mutação alguma.

Não confundamos as coisas. Uma raça de cachorro

pode originar outras. Mas isto é uma característica válida

unicamente para as raças, e não para as espécies. A espécie

continua sendo canina. Não é possível haver cruzamento entre

espécies diferentes. Da mesma forma, os tipos de humanos,

brancos, negros, amarelos e vermelhos, são considerados

raças, e não espécies.

64

Um jumento pode cruzar com uma égua, mas o

resultado dessa fusão, no caso o burro, é estéril. Não procria,

nem perpetua.
CONTRA UM DILÚVIO PARCIAL

Que necessidade teria Deus de salvar cada uma das

espécies, se o dilúvio fosse parcial? Todas permaneceriam

intactas, se a inundação fosse apenas local.

A FAVOR DE UM DILÚVIO PARCIAL

A resposta é que Noé não poderia viver sozinho sem os

animais. Deus queria povoar a terra de Noé com todas as

espécies, para que ele dê seguimento natural à sua vida.

Senão, ele teria que migrar para outro continente, a fim de

encontrar animais.

CONTRA UM DILÚVIO PARCIAL

Existem teólogos que acreditam que os dinossauros e o

homem coexistiram ao mesmo tempo. Essa classe de

65

estudiosos necessita de um dilúvio global para explicar a

extinção dos répteis gigantes.

A FAVOR DE UM DILÚVIO PARCIAL

Os dinossauros nunca existiram simultaneamente com

o homem. Sobre isto, discorreremos no próximo capítulo.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O DILÚVIO

Ainda existem certas lacunas que carecem de

esclarecimento. Trata-se de um tema que não requer a


distinção entre um dilúvio parcial ou global. Alguém já se

perguntou sobre o que os animais comeram após descerem da

arca? Como Deus teria alimentado os sobreviventes do dilúvio?

No mundo pós-diluviano não existia nada, pois toda a

vegetação ficara por mais de um ano submersa. Tudo fora

destruído pelas águas. Assim, não tinha vegetais para os

animais herbívoros. Também não havia carne para os

carnívoros, porque, se estes comessem uns aos outros,

segundo a cadeia alimentar, teriam acabado as espécies de Noé

antes de haver reprodução. E todos os animais, inclusive o

66

homem, teriam morrido depois de descerem da arca, ou por

fome, ou por predadores.

Desde a criação, o homem e os animais só podiam

comer vegetais (Gn 1.29,30). Mas, depois de passado o dilúvio,

Deus permitiu comer toda criatura viva (Gn 9.3).

Se crermos num dilúvio parcial, haveria uma possível,

mas improvável resposta. Bastaria que os animais migrassem

para uma parte da Terra que não tinha sido submersa. Lá

encontrariam mantimento.

Entretanto, não há lógica nessa ideia. Em primeiro

lugar, porque nenhuma espécie conseguiria viajar para tão


longe antes de morrer de fome. Além disso, se fosse necessário

migrar para um lugar que não fora inundado, logo perderia a

razão de Deus ter reservado o reino animal para Noé, visto que

todo ele fugiria do local para encontrar áreas não devastadas.

Se fosse para Noé ficar sozinho, sem os animais, bastaria ele

próprio ter entrado na arca.

Uma explicação aceitável é que Deus deve ter mantido

grande parte da vegetação, com o fim de alimentar os animais

da arca. A pomba que Noé enviou voltou com uma folha nova

de oliveira (Gn 8.11).

67

Não precisamos crer somente naquilo que tiver amparo

na ciência. A mão de Deus age sobrenaturalmente sobre sua

criação, fazendo coisas que são inexplicáveis pela física.

REGISTROS HISTÓRICOS DO DILÚVIO

A Bíblia não é o único livro que descreve o dilúvio.

Daniel Hammerly Dupuy compilou um total de 218 tradições

do dilúvio somente nos dois continentes americanos. 97

tradições da América do Sul, 22 da América Central e 99 da

América do Norte. (Hammerly Dupuy, D. 1971. Bajo el signodel

terremoto. Lima, Ed. Peisa, p.401).

Ariel Roth assegura que há o registro de 270 histórias


sobre o dilúvio ao redor do mundo (Roth, A. A. 1999. Los

Origenes, eslabonesentre la ciencia e las escrituras. Florida,

ACES., pp.346-351.).

O Dr. Bruce Marcy descobriu e estudou 175 mitos de

dilúvios, de 2807 a.C., data que quase coincide com o dilúvio

bíblico. Como as localizações das ocorrências desses mitos

centralizavam-se em um único ponto, Bruce achava que a

causa do dilúvio teriam sido megatsunamis causados pela

queda de um cometa no mar Índico, perto de Madagascar, há

mais ou menos 4800 anos.

68

Quando um corpo celeste cai sobre o mar, causa uma

cratera no fundo e uma muito maior na superfície da água. Tal

cratera deixa um vão que precisa ser novamente preenchido

com água. Esse fenômeno gera o que chamamos de

megatsunamis.

Baseada em seus estudos, uma equipe fez uma busca

nessa região, a fim de descobrir se realmente um cometa havia

caído ali. Bem, devido à força da gravidade, a altitude do nível

do mar varia de acordo com o relevo do solo no fundo. Isto os

levou a descobrir uma cratera de 28 quilômetros de diâmetro

no solo, a quase 5 quilômetros abaixo das águas, localizada a


1500 quilômetros a sudeste de Madagascar. E, pelas amostras

de solos, foram descobertos alguns indícios de que a cratera

fora provocada pelo impacto de um cometa. Aliás, para

coincidir com as chuvas narradas em Gênesis, a chuva é um

dos vários fenômenos que sucedem a queda de um cometa no

mar.

Não há provas, mas apenas indícios. Todavia, a nós

pouco importa, pois cremos no dilúvio ainda que não tenha

comprovação científica.

Essas observações de outros sobreviventes de dilúvios

podem representar indícios de que o dilúvio tenha sido

realmente causado pela queda de um cometa ou asteroide. Mas

69

também podem significar meramente mitos baseados no

dilúvio de Noé. Talvez sejam a mesma história contada de

formas diferentes.

Sem, filho de Noé, viveu mais 502 anos depois do

começo do dilúvio. Ele morreu quando Isaque tinha 50 anos de

vida, e isto foi apenas 10 anos antes do nascimento de Jacó.

Então, Sem deve ter contado as coisas das quais foi

testemunha ocular. Seus ouvintes devem ter espalhado a

história do dilúvio por todo o globo. Naquela época a escrita


ainda não tinha sido inventada. O único registro confiável era o

de Gênesis, o qual surgiu com a inspiração de Deus. As outras

histórias, antes do aparecimento da escrita foram bastante

modificadas à medida que se disseminavam de ouvinte a

ouvinte. Daí a variação existente.

CONCLUSÃO

É perfeitamente plausível que o dilúvio tenha sido

universal, como narra a Bíblia, ainda que não tenha lógica pela

visão da física. Mas também é possível que tenha sido parcial.

Quem é o homem para que o diga? Para Deus tudo é possível.

Sabemos que Ele não está preso às leis da física, e que pode

usar poder sobrenatural para fazer qualquer coisa que queira.

70

71

A BÍBLIA E OS DINOSSAUROS

O que o leitor espera encontrar neste capítulo? Fortes

evidências bíblicas sobre a existência de dinossauros e de sua

relação com a humanidade? Sei que já está cansado de ler

sempre a mesma coisa. Teorias sensacionalistas e

mirabolantes. Cada autor tenta dar a seus leitores o prazer de

acreditar que os dinossauros estiveram presentes nos relatos

bíblicos.
Os teólogos que defendem tais coisas, na verdade o

fazem porque sentem vontade de que esta seja a verdade. Pelo

simples desejo de que os dinossauros tenham feito parte da

humanidade, e pela oportunidade de escreverem algo a

respeito, desejam que este fato realmente tenha acontecido.

Todavia, a concepção sobre o passado não deve ser

como desejamos, e sim como lemos. A Bíblia e a história devem

ser interpretadas com racionalidade, e não com emoção. Não

devemos buscar nas Escrituras fundamentos para nossas

72

ideias pré-concebidas. O fiel intérprete lê a Palavra com

imparcialidade, deixando de lado suas convicções.

Destarte, o que o leitor encontrará neste capítulo é

exatamente o contrário. Substituirei o que você porventura

queira ler por aquilo que precisa ler. Permutarei uma

maravilhosa e encantadora mentira por uma verdade sem

graça.

A Bíblia não fala dos dinossauros. E a explicação é

muito simples: estes seres não existiram na mesma época dos

humanos. Portanto, não é possível encontrar menção de

dinossauros em nenhum livro da Bíblia, nem mesmo no

Gênesis, na narração da criação dos animais.


Isto varia de acordo com qual teoria criacionista você

crê. Por exemplo, a dos Dias-Eras admite enquadrar os

dinossauros nos versículos seguintes:

“Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos

os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas,

segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas

espécies. E viu Deus que isso era bom (...) E fez Deus os animais

selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos,

conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a

sua espécie. E viu Deus que isso era bom” (Gn 1.21,25).

73

E só. Depois disto, foram extintos, antes do término do

sexto dia-era, isto é, antes do nascimento da raça humana. A

teoria dos Dias-Eras acredita na extensa idade da Terra e dos

fósseis. Sabe que os dinossauros foram extintos há 65,5

milhões de anos, enquanto que os humanos dominaram o

planeta há 10 mil anos.

Se, porém, você crê na Teoria do Intervalo, os

dinossauros teriam que estar na entrelinha que fica entre os

dois primeiros versículos da Bíblia. Desta forma, outrossim

teriam desaparecido milhões de anos antes do surgimento de

Adão.
Se sua doutrina preferida for a da Terra Jovem, tais

répteis jamais existiram. O que existiu e ainda existe são

unicamente seus fósseis.

As variações entre as teorias são grandes, mas a certeza

comum entre elas é que os dinossauros foram criados antes do

ser humano e também extintos antes dele. Seja qual for a

teoria criacionista, nenhuma admite encontrar dinossauros

vivendo na mesma época em que os humanos. Nenhum dos

patriarcas mais antigos chegou a ver um deles.

As diversas teorias criacionistas visam adequar a longa

idade da Terra aos seis dias da criação descritos no Gênesis.

Mas todas elas entendem que os dinossauros foram extintos há

74

65,5 milhões de anos. Algumas até admitem raça humana

antes de Adão. Mas, mesmo assim, a espécie humana só teria

um milhão de anos, o que é muito distante da era dos répteis

gigantes.

O que as teorias não se atrevem a fazer é estender a

vida dos dinossauros até depois de Adão, ou de Noé. Isto seria

um absurdo! Não se pode arrancar uma página do começo de

um livro de história e colá-la no final. É o mesmo que pisar em

todos os fundamentos da ciência, como néscios imprudentes.


Até que poderíamos fazer isso, se a Bíblia registrasse com

clareza. Mas, diante do silêncio das Escrituras, ninguém tem

autoridade para ferir os registros históricos.

As teorias criacionistas foram inventadas justamente

para conciliar a ciência com a Bíblia. Como, pois, cometeriam

tamanho insulto à sanidade dos paleontólogos e geólogos?

Portanto, considero o ápice da ignorância e um

verdadeiro atestado de falta de estudos, acreditar que:

1) Os dinossauros conviveram com os patriarcas.

2) Os dinossauros entraram, ou não, na arca de Noé.

3) Algum dos autores da Bíblia tenha visto um dinossauro, e

escrito algo sobre ele.

75

Os dinossauros não podem ter a mesma idade que os

humanos. Os fósseis de daqueles só se encontram nas rochas

que estão entre os períodos Triássico e Cretáceo, sendo que os

mais evoluídos começaram a surgir no período intermediário,

que é o Jurássico. Não existem fósseis humanos nessas

camadas da crosta terrestres, tampouco a datação dos fósseis

coincide.

Há de se mencionar que os fósseis petrificados de

dinossauros não podem ser obra de um dilúvio que tenha


ocorrido há 4300 anos. Para petrificar um fóssil são

necessários milhões de anos.

Se partirmos do pressuposto de que os dinossauros

conviveram com Adão, estaríamos induzindo a hipótese de que

eles estiveram também presentes na época do dilúvio. Neste

caso, a primeira premissa é que todos eles entraram na arca,

pois a Bíblia sugere que todas as espécies de animais terrestres

foram salvas, ou pelo menos as principais.

Alguns pensadores afirmam que, para entrarem na

arca, Deus selecionou casais de filhotes, para não lotar a

embarcação. Com isto, pretendem adequar a enorme

quantidade de espécies de gigantes com a capacidade da arca.

Mas existe uma incógnita. Se Deus fez os dinossauros

entrarem na arca é porque pretendia salvar suas espécies. Mas

76

onde estão os dinossauros hoje? O que deu errado? Teria Deus

falhado na tentativa de salvar os dinossauros, de forma que

absolutamente todas as espécies desses répteis foram extintas?

Desta feita, não há motivo algum para Deus tê-los colocado a

salvo na arca, se ao descerem de lá, tivessem que morrer.

Uma explicação apresentada por esses teólogos para a

extinção é que o mundo pós-diluviano não era o mesmo do


mundo antes das chuvas. Não havia ervas, nem vegetais para

alimentá-los. Tudo tinha sido destruído pelas águas.

Esta explicação é refutada pela própria essência da

situação. Analisemos que o mundo se tornara informe e sem

condições de sobrevivência para todas as espécies, e não

somente para os dinossauros. De forma que, se estes se

extinguiram, todos os outros deveriam também ter se

extinguido. Não há motivo para entender que justamente todas

as espécies de dinossauros morreram, e exatamente todas as

espécies dos outros animais sobreviveram. É uma divisão sem

lógica.

A Terra ficou por mais de um ano submersa. Assim, não

tinha vegetais para nenhum animal herbívoro, seja dinossauro

ou não. Também não havia carne para os carnívoros, porque,

se estes comessem uns aos outros, segundo a cadeia

77

alimentar, teriam acabado as espécies de Noé antes de haver

reprodução.

Isto significa que Deus usou alguma forma sobrenatural

para garantir a sobrevivência das espécies. Se isto Ele fez, teria

salvo também os dinossauros. A medida de sobrevivência

adotada para uma classe de animais também vale para todas.


E, se a sobrevivência dos dinossauros não fosse a vontade de

Deus, não precisaria tê-los colocado na arca.

Tendo supostamente os dinossauros repovoado a Terra

após o dilúvio, deveriam estar presentes, não só nos relatos

bíblicos, como também em alguma parte da história da

humanidade. Alguém deveria tê-los visto em algum momento.

Como eram seres monstruosamente grandes, de certo,

qualquer um que os visse, teria registrado algo sobre eles.

O dilúvio, em relação às eras de formação da vida no

planeta, foi bem recente. Ocorreu no ano 2348 a.C. No relógio

da criação do mundo, isto equivale a menos do que um

segundo. E a invenção da escrita se deu por volta de 2000 anos

a.C. Todavia não se encontra absolutamente nenhum registro

de seres deste tipo. Onde eles estiveram por todo o tempo?

Nenhum dos antigos escreveu sobre ele. Nem mesmo desenhos

nas cavernas. Os poucos registros encontrados, certamente são

fraudes, pois não têm comprovação de autenticidade.

78

Outra pergunta: por que todas as espécies até mesmo

dos dinossauros aquáticos se extinguiram? Se eles estivessem

vivos antes do dilúvio, não haveria razão nenhuma para terem

morrido, uma vez que água não mata seres aquáticos. No


entanto, como as espécies aquáticas não existem hoje, por

conseguinte, chega-se à inevitável conclusão de que também os

dinossauros terrestres não existiam na época do dilúvio.

E a questão da improbabilidade dos dinossauros serem

contemporâneos aos humanos ainda mais se agrava, se

considerarmos a possibilidade do dilúvio ter sido parcial.

Haveria a necessidade de outro fenômeno natural para

justificar o desaparecimento desses seres. Do contrário, todos

deveriam estar vivos até hoje, pois um dilúvio local só teria

destruído parte da criação. No entanto, tais espécies estão

absolutamente extintas. Nem o mais otimista paleontólogo

supõe encontrar um dinossauro vivo.

Agora, chegando finalmente à análise bíblica, vejamos

como muitos teólogos simpatizantes de ficção científica gostam

de encontrar versículos que parecem tratar de dinossauros. Eis

alguns:

“Contempla agora o beemote, que eu fiz contigo, que

come erva como o boi. Eis que a sua força está nos seus lombos,

e o seu poder, nos músculos do seu ventre. Quando quer, move

79

a sua cauda como cedro; os nervos da suas coxas estão

entretecidos. Os seus ossos são como tubos de bronze; a sua


ossada é como barras de ferro. Ele é obra-prima dos caminhos

de Deus; o que o fez o proveu da sua espada. Em verdade, os

montes lhe produzem pasto, onde todos os animais do campo

folgam. Deita-se debaixo das árvores sombrias, no esconderijo

dos canaviais e da lama. As árvores sombrias o cobrem com a

sua sombra; os salgueiros do ribeiro o cercam. Eis que um rio

trasborda, e ele não se apressa, confiando que o Jordão possa

entrar na sua boca. Podê-lo-iam, porventura, caçar à vista de

seus olhos, ou com laços lhe furar o nariz?” (Jó 40.15-24).

Qualquer análise pouco acurada detectaria que se está

falando do hipopótamo, meramente. Com que objetivo criar-se-

ia fantasia onde não tem? Para que conferir tanto escândalo e

sensacionalismo a um texto tão simples e comum? Somos

adultos e instruídos, não devemos esperar ouvir histórias como

as que nossos avós contavam quando éramos crianças. Já é

hora de crescermos, e analisarmos os textos bíblicos com mais

maturidade e lucidez.

Até as versões bíblicas mais atuais de Almeida

traduzem como hipopótamo, e não como beemote. Esta

palavra, no original, é b e hemowth, cuja raiz hebraica é usada

para se referir a animais bovinos.

80
Entretanto, alguns professores alegam tratar-se de um

dinossauro, pelo fato de sua cauda ser grande e grossa como o

cedro. Mas, se atentarmos ao respectivo versículo, veremos que

a Bíblia não diz que a cauda era grande como o cedro, mas que

o animal a curvava como o cedro:

“Quando quer, move a sua cauda como cedro” (Almeida

Revista e Corrigida).

“Endurece a sua cauda como cedro” (Almeida Revista e

Atualizada).

O original significa “mover, curvar”. Provavelmente se

trata de uma hipérbole. Observe que as outras características

também empregam metáforas desse tipo, pois os ossos são

comparados a tubos de bronze. Sabemos que, nem o

hipopótamo, nem dinossauro algum tem ossos tão fortes

quanto o bronze, tampouco o arcabouço como barras de ferro.

E Deus continua seu sermão falando de outro animal,

que também foi erroneamente interpretado como um

dinossauro:

“Poderás pescar com anzol o leviatã ou ligarás a sua

língua com a corda?” (Jó 41.1).

81

O texto continua até o versículo 34. A leitura completa


desse capítulo é recomendada, pois as características são

muito semelhantes às de um crocodilo:

“Debaixo do ventre, há escamas pontiagudas; arrasta-se

sobre a lama, como um instrumento de debulhar” (Jó 41.30).

A edição Revista e Atualizada de Almeida traduz como

crocodilo, e não como leviatã.

Há algumas descrições que exageram propositalmente

sobre as características do animal, fazendo parecer que ele é

muito mais forte do que um crocodilo. Mas isto não significa

que o leviatã seja um dinossauro. São apenas figuras de

linguagem. Note que a criatura emitia luz e soltava fogo pela

boca:

“Cada um dos seus espirros faz resplandecer a luz, e os

seus olhos são como as pestanas da alva. Da sua boca saem

tochas; faíscas de fogo saltam dela. Do seu nariz procede

fumaça, como de uma panela fervente, ou de uma grande

caldeira. O seu hálito faz acender os carvões; e da sua boca sai

chama (...) As profundezas faz ferver, como uma panela; torna o

mar como quando os unguentos fervem. Após ele alumia o

caminho; parece o abismo tornado em brancura de cãs.” (Jó

41.18-21,31,32).

82
Nenhum ser da Terra jamais soltou fogo pela boca, nem

mesmo os dinossauros, o que descarta a possibilidade de que o

capítulo tenha caráter literal.

O original hebraico é livyathan, e aparece em mais

algumas passagens bíblicas (Jó 3.8; 41.1; Sl 74.14; 104.26; Is

27.1), nas quais assume a representação da perversidade,

tipificando o mal combatido por Deus.

Nem todas as referências parecem tratar do mesmo

animal. Ele adquire a forma de crocodilo, ou baleia, ou

serpente:

“Eis o mar vasto, imenso, no qual se movem seres sem

conta, animais pequenos e grandes. Por ele transitam os navios

e o monstro marinho [livyathan] que formaste para nele folgar”

(Sl 104.26).

O salmista descreveu os mistérios do mar, utilizando a

imaginação, segundo a sua concepção da biodiversidade

marinha.

“Naquele dia, o Senhor castigará com a sua dura

espada, grande e forte, o dragão [livyathan] , serpente veloz, e o

dragão [livyathan] , serpente sinuosa, e matará o monstro que

está no mar” (Is 27.1).

83
Esta descrição de dragão em forma de serpente

assemelha-se ao sinal que o profeta João viu no céu:

“E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se

chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi

atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos (...) Então, a

serpente arrojou da sua boca, atrás da mulher, água como um

rio, a fim de fazer com que ela fosse arrebatada pelo rio” (Ap

12.9,15).

Observa-se que, a despeito de que o idioma do Novo

Testamento seja o grego, a palavra hebraica livyathan confere

mais simbolismo do que de início se supõe. Provavelmente o

trecho mais literal deles é exatamente aquele no qual Deus

exibia a Jó o poder dos animais que Ele criara (Jó 41.1). Aquele

texto representa a única passagem proferida pela boca do

próprio Deus, enquanto que os outros sofreram influências da

imaginação dos profetas, os quais mitificavam esse ser

chamado leviatã.

Existe ainda outra palavra hebraica que muito tem sido

alvo de interpretações equivocadas, para atender aos conceitos

pré-concebidos de alguns teólogos, que buscam encontrar

vestígios de dinossauros nas páginas da Bíblia. A palavra é

tanniyn, que pode significar monstro marinho, baleia, chacal,


84

serpente venenosa e crocodilo. Abaixo estão sublinhadas as

palavras que contêm o original tanniyn:

“Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos

os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas,

segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas

espécies. E viu Deus que isso era bom” (Gn 1.21). “Pois

lançaram eles cada um o seu bordão, e eles se tornaram em

serpentes; mas o bordão de Arão devorou os bordões deles” (Ex

7.12). “O seu vinho é ardente veneno de répteis e peçonha

terrível de víboras” (Dt 32.33). “Nos seus palácios, crescerão

espinhos, e urtigas e cardos, nas suas fortalezas; será uma

habitação de chacais e morada de avestruzes” (Is 34.13). “Fala

e dize: Assim diz o Senhor Deus: Eis-me contra ti, ó Faraó, rei do

Egito, crocodilo enorme, que te deitas no meio dos seus rios e

que dizes: O meu rio é meu, e eu o fiz para mim mesmo” (Ez

29.3).

No livro de Lamentações o referido animal é reconhecido

como mamífero:

“Até os chacais dão o peito, dão de mamar a seus filhos;

mas a filha do meu povo tornou-se cruel como os avestruzes no

deserto” (Lm 4.3).


Se é mamífero, não pode ser um dinossauro.

85

O bordão de Arão se transformou em serpente, a qual

no hebraico é tanniyn, em Êxodo 7.9,10,12. Mas a serpente

desse mesmo bordão também foi chamada de nachash, em

Êxodo 4.3; 7.15. Nachash significa literalmente cobra,

serpente. Portanto, pode-se considerar ambas as palavras

como sinônimas, em alguns casos. A diferença é que nachash

não adquire significado mítico, como tanniyn. Este vocábulo

admite certo sentido simbólico:

“Eis aí um rumor! Eis que vem grande tumulto da terra

do Norte, para fazer das cidades de Judá uma assolação,

morada de chacais [tanniyn] ” (Jr 10.22). “Tu, com o teu poder,

dividiste o mar; esmagaste sobre as águas a cabeça dos

monstros marinhos [tanniyn] ” (Sl 74,13).

E esta é a totalidade das ocorrências bíblicas do

vocábulo, caso sejam necessários:

Gn 1.21; Ex 7.9,10,12; Dt 32.33; Ne 2.13; Jó 7.12;

30.29; Sl 44.19; 74.13; 91.13; 148.7; Is 13.22; 27.1; 34.13;

35.7; 43.20; 51.9; Jr 9.11; 10.22; 14.6; 49.33; 51.34,37; Lm

4.3; Ez 29.3; 32.2; Mq 1.8.

Mesmo que se queira forçar a interpretação de que


todos os versículos dessa argumentação se referem a

dinossauros, ficaria imposta a exigência de que esses seres

tenham existido na mesma época dos autores bíblicos. Senão,

86

com que objetivo Deus daria informações sobre animais que já

foram extintos há 65,5 milhões de anos? Como os escritores

bíblicos entenderiam que estavam escrevendo sobre espécies

nunca vistas por ninguém?

O contexto de cada um destes versículos não aponta

para o passado, nem sugerem a mais remota ideia de que os

animais referidos pertenceram a eras antigas. Deus disse a Jó:

“Contempla agora o hipopótamo, que eu criei contigo” (Jó

40.15).

Essa afirmação dá a entender que tal criatura era

contemporânea de Jó. Não é uma referência ao passado.

Portanto, teria que ser um animal que viveu naquele tempo.

De modo que, se fossem mesmo dinossauros, Deus

estaria dando uma informação ininteligível aos homens

daquela época. E as Escrituras não são assim. Deus sempre

utilizou uma linguagem fácil para o homem primitivo

compreender. A Bíblia está cheia de antropomorfismos, que

permitem a todos os leitores, ainda que antigos, a compreensão


da mensagem.

A relação entre o homem e os dinossauros tem sido

muito mitificada pelas literaturas evangélicas modernas.

Desnecessariamente criaram polêmica onde não cabe, e

87

idealizaram fortes pilares em torno da convivência dos répteis

gigantes com os autores bíblicos, quando, na verdade, o ser

humano jamais contemplou um exemplar vivo daquelas

espécies.

88

89

CRONOLOGIA DO GÊNESIS

Data do dilúvio

Podemos associar o dia do dilúvio com a data da criação

da Terra. Fazendo a somatória das idades das gerações, é

possível chegarmos facilmente à data do início do dilúvio. O

capítulo 5 de Gênesis ilustra a genealogia de Adão até Noé.

Noé tinha 600 anos no dia do começo do dilúvio, o que

significa que o dia exato em que as águas inundaram a Terra

foi: 17 do segundo mês de 1656 após a criação (Gn 7.6,11).

O gráfico a seguir ilustra, dentre outras coisas, como a

idade dos patriarcas serviu de base para o cálculo da data:


90

algumas

curiosidades

que

merecem

ser
evidenciadas. Observe a parte inferior do gráfico. Antes do

dilúvio, os pais viam muitas gerações de seus descendentes

nascerem, devido à grande idade que alcançavam.

91

Apenas quatro homens viram as águas do dilúvio e não

morreram: Noé e seus filhos. Os demais que viram morreram

afogados. Deus não permitiu que ninguém da genealogia de

Cristo morresse pelas águas. No gráfico, apenas Noé e Sem

cruzaram a linha azul das águas. Os restantes morreram

antes, ou nasceram depois.

Metusalém morreu no mesmo ano do dilúvio. Lameque,

seu filho, pai de Noé, morreu cinco anos antes. Caso

estivessem vivos, teriam morrido pelo dilúvio, ou teriam

entrado com Noé na arca. Eles acompanharam praticamente

toda a construção dela. O que talvez eles não sabiam é que

estariam mortos antes da grande inundação.

Adão era vivo, quando nasceu Lameque, pai de Noé. O

único que Adão não viu nascer foi Noé.

Adão viu Enoque, mas morreu poucos anos antes que

este fosse transladado.

Agora observe a parte superior do gráfico. Depois do

dilúvio os pais continuavam a ver muitas gerações de seus


descendentes. Mas, ao contrário do que ocorria antes do

dilúvio, os pais não só viam os filhos e netos nascerem, como

também os viam envelhecerem e morrerem, devido ao

decrescente tamanho das idades.

92

Noé viu Naor, avô de Abração, morrer de velho. Noé, por

2 anos, quase viu Abraão nascer.

Sem, filho de Noé, viveu até 10 anos antes do

nascimento de Jacó. Sem viu morrer de velhice todos os seus

descendentes anteriores a Abração, exceto Héber.

Sem era a testemunha ocular do dilúvio mais

duradoura de que se tem relatos. Viveu 502 anos depois do

começo do dilúvio. Ele sobreviveu até o aparecimento da

escrita.

A ordem cronológica da história

Nas histórias contadas atualmente, os fatos ocorridos

com os patriarcas não têm amparo real de datas e idades.

Vemos ilustrações bíblicas que não refletem a idade fidedigna

de cada personagem. Esse erro também ocorre em filmes, onde

93

atores novos fazem papéis de personagens que eram, na

verdade, mais velhos.


Porém, aqui está relacionada a real idade de cada

personagem nos momentos em que participavam de alguma

história. É um mapa de consultas, mas serve também como

leitura para dirimir curiosidades. As informações a seguir são

oriundas de comparações entre os versículos do Gênesis. São

cálculos matemáticos e, portanto, verídicos.

Metusalém nasceu aos 687 anos de Adão.

Conforme Gênesis 5.32, Noé gerou seus três filhos aos

500 anos, enquanto que, normalmente, não se pode ter três

filhos em um único ano, a não ser que sejam de mães

diferentes. Trata-se de uma data aproximada, pois Sem, o

primeiro filho, foi gerado aos 502 de Noé (Gn 7.6,11; 11.10).

Noé os gerou provavelmente antes de começar a construir a

arca.

Sem é o mais velho (Gn 10.21). Cam é o mais novo,

apesar de ser citado em segundo lugar: (Gn 9.24).

Sem tinha 98 anos no ano do começo do dilúvio. Como

era o mais velho, a arca pode ter sido construída em menos de

98 anos. Porque, dois anos após o dilúvio, Sem tinha 100 anos,

e gerou seu primeiro filho (Gn 11.10). Nessa data, Noé tinha

94

600 anos (Gn 7.6,11). A expressão “depois do dilúvio”, de Gn


11.10, significa depois do começo do dilúvio (Gn 9.28,29; 7.11).

Portanto, a arca não demorou 120 anos para ser

construída, como alguns têm proposto, através de uma

interpretação errônea do seguinte versículo:

“Então, disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para

sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento

e vinte anos” (Gn 6.3).

O texto não está afirmando que a humanidade teria

mais 120 anos até que Noé termine de construir a arca. Está

simplesmente determinando qual era a idade máxima que os

homens passariam a ter daquele dia em diante. Porque, antes

daquele ponto, os homens viviam mais de 900 anos. Porém,

assim que Noé completou 500 anos, a humanidade passou a

envelhecer mais rápido, decrescendo pouco a pouco, até atingir

um teto de 120 anos. José morreu de velhice com 110 anos.

Uma constatação da veracidade da data do dilúvio pode

ser extraída do significado do nome de Metusalém. Este

homem morreu no mesmo ano do dilúvio. E seu nome

significa: “quando ele for removido, virá” , ou “quando ele for

morto será mandado” .

95

Outra confirmação: Lameque, filho de Metusala não


chegou a viver até a data do dilúvio, pois morreu 5 anos antes.

Isto coaduna com outros trechos bíblicos que dizem que

apenas quatro homens sobreviveram ao dilúvio: Noé, Sem, Cão

e Jafé.

O dilúvio começou no dia 17 do segundo mês de 1656

depois da criação (Gn 7.11). Nesse dia, acabaram de entrar na

arca, Noé e todos os animais (Gn 7.11-14). A ordem para entrar

foi dada 7 dias antes (Gn 7.10).

O dilúvio demorou 1 ano e 10 dias (Gn 8.14). Cada mês

tinha 30 dias (Gn 7.11,24; 8.3,4; Dn 7.25; 12.7; Ap 11.2,3;

12.6,7,14; 13.5).

Tera, pai de Abraão, saiu de Ur dos caldeus e habitou

em Harã, levando consigo Abrão, Ló e Sarai (Gn 11.31). Naor,

irmão de Abraão, tinha o mesmo nome de seu avô e se casou

com a sobrinha (Gn 11.29). Rebeca, nora de Abraão, é neta da

sobrinha de Abraão e neta de seu irmão Naor (Gn 24.24;

11.26-29). Abraão se casou com sua irmã da parte do pai (Gn

11.26-29; 20.12). Ló era filho de Harã, irmão de Abraão.

Aos 75 anos de idade, Abrão recebeu a promessa de

Deus e saiu de Harã, chegando a Siquém, terra dos cananeus

(Gn 12.4-6). Harã é uma cidade que ficava ao norte da

Mesopotâmia, às margens do rio Balique, um afluente do


96

Eufrates. Seu nome é oriundo de Harã, irmão de Abrão e pai de

Ló (Gn 11.26-28).

Isto ocorreu momentos depois da morte de Tera, seu

pai, como narra Estevão em Atos dos apóstolos (At 7.4). Porém,

como isso seria possível, se o Gênesis diz que Tera Viveu 70

anos e gerou Abrão, a Naor e a Harã, sendo que os anos da

vida de Tera são 205? Pois, quando Tera morreu, seu

primogênito tinha 135 anos, e não 75 (Gn 11.26,32).

A resposta é simples: Abraão, embora tenha sido citado

primeiro, não era o primogênito. Supondo que Estêvão não se

equivocou, e que realmente Abraão partiu de Harã depois da

morte de seu pai, este tinha 130 anos quando gerou Abrão.

Depois, Abrão partiu para o Egito, onde os egípcios se

encantaram com a beleza de Sarai, sua esposa e irmã (Gn

12.14,15). Ela era formosa, mas não era jovem, como se

imagina. Tinha mais de 65 anos (Gn 12.4; 17.17).

Abrão voltou do Egito para Canaã (Gn 13.1-4).

Ao fim de 10 anos que Abrão habitara na terra de

Canaã, tomou a Hagar, serva de Sarai, para conceber um filho.

Assim, quando Abrão a engravidou, tinha 85 anos (Gn 16.3;

12.4). E Ismael veio a nascer aos 86 anos de Abrão (Gn 16.16).


97

Os 10 anos que Abrão habitara na terra de Canaã são contados

desde sua primeira ida até lá.

Novamente Sara foi cobiçada por outros homens (Gn

20.2). Tinha 89 ou 90 anos. Mas, desta vez, a Bíblia não

informa sobre sua formosura.

Aos 100 anos de idade, Abraão gerou Isaque (Gn 17.17;

21.5). Mas recebeu a notícia disto um ano antes. Porque, no

dia em que Deus lhe falou sobre seu filho, ordenou também a

circuncisão (Gn 17.10). E esta foi cumprida no mesmo dia (GN

17.23). Dia este em que Abraão tinha 99 anos (Gn

17.1,21,24,25; 18.10,14; Rm 4.19).

Assim, Ismael tinha 14 anos quando Isaque nasceu (Gn

16.16; 17.24,25; 21.5).

Deus pediu que Abraão oferecesse Isaque em

holocausto (Gn 22.1,2). Não se sabe com exatidão a idade de

Isaque naquela época, exceto que tinha menos de 37 anos (Gn

22.20; 23.1; 17.17; 21.5). Porém, não era uma criança, como

muitos acreditam. Era crescido, pois levou a lenha (Gn 22.6), e

era jovem (Gn 22.12).

Sara morreu com 127 anos (Gn 23.1). Abraão tinha 137

anos (Gn 17.17); Ismael, 51 (Gn 16.16); Isaque, 37 (Gn 21.5).


98

Abraão tinha 140 anos quando mandou seu servo

Eliézer procurar uma esposa para Isaque (Gn 24.1,2). Este se

casou aos 40 anos, 3 anos após a morte de sua mãe. (Gn

24.67; 25.20).

Aos 50 anos de vida de Isaque, morreu Sem, filho de

Noé.

Isaque ficou 20 anos orando para que Deus lhe desse

descendência: Esaú e Jacó (Gn 25.20,21,26). Quando eles

nasceram Isaque tinha 60 anos; e Abraão, 160.

Abraão morreu com 175 anos (Gn 25.7). Esaú e Jacó

tinham 15; Isaque, 75; Ismael, 89. Este é mais um texto

deslocado de Gênesis. Abraão morreu em Gênesis 25.7-8, texto

que deveria estar inserido entre os versículos 26 e 27, ou seja,

depois do nascimento de Esaú e Jacó, e antes de Esaú comer

do guisado de Jacó.

Rebeca também foi cobiçada por outros homens, por

causa de sua formosura (Gn 26.7). A data conhecida não é

exata. Apenas sabemos que Isaque tinha mais de 75 anos, pois

isto ocorreu depois da morte de Abraão (Gn 26.12,18). Desta

forma, Rebeca já tinha mias de 35 anos de casada quando foi

desejada por outros homens.


99

Ismael morreu com 137 anos (Gn 25.17). Isaque tinha

123; e Jacó, 63.


A morte de Isaque
Depois de 14 anos, quando Isaque atingiu a mesma

idade de Ismael (137 anos), pensou que iria morrer e abençoou

Esaú e Jacó (Gn 27.1,2). Mas estes não eram jovens como nas

estórias que ouvimos. Tinham 77 anos. Isto foi 37 anos depois

do casamento de Esaú. O cálculo desta data é bem complexo:

1) Quando Isaque, estando no leito de morte, abençoou a Jacó

em lugar de Esaú, este ameaçava matá-lo. Por isto, Rebeca

e Isaque mandaram Jacó para morar com Labão e se casar

com alguma de suas filhas (Gn 27.41-46; 28.1,2).

2) Quando Jacó habitou por 14 anos na casa de Labão, gerou

José, pois este nasceu 7 anos após os 7 que Jacó trabalhou

para ganhar Raquel, sua mãe (Gn 30.25,26).

100

3) José tinha 30 anos quando previu que teria 7 anos de

fartura e mais 7 anos de fome (Gn 41.46,47). Ao

terminarem 7 anos de fartura e 2 anos de fome, José trouxe

Jacó para o Egito. Pela soma, vemos que José tinha 39

anos (Gn 45.6,9,11). E o texto de Gênesis 47.7-9 declara

literalmente que Jacó tinha 130 anos. Este dado é até

dispensável, pois em Gênesis 47.28 há base para


calcularmos a idade de 130 anos. Isto nos leva à conclusão

de que Jacó tinha 91 anos quando gerou José (130 menos

39).

4) Como José nasceu 14 anos após a benção de Isaque,

subtraímos 14 de 91 e concluímos que Jacó tinha 77 anos

quando recebeu a benção. Consequentemente, Isaque tinha

137, pois era 60 anos mais velho do que Jacó.

101

Continuação da cronologia

Mas Esaú também foi abençoado (Hb 11.20; Gn 27.38-

40).

Labão, pai de Lia e Raquel, é irmão de Rebeca e filho de

Betuel, filho de Milca e de Naor, irmão de Abraão (Gn 24.24;

11.26-29). Logo, Jacó é sobrinho de Labão. Lia e Raquel são

primas de seu próprio esposo Jacó (Gn 27.43).

Jacó tinha 84 anos quando Lia ficou grávida de Rúben,

seu primeiro filho (Gn 29.20,25,32). Sete anos depois, nasceu

José. Isto significa que os 11 filhos de Jacó (Benjamin não),

foram gerados em menos de 7 anos (Gn 30.25,26; 32.22). A

diferença de idade entre Rúben e José é de apenas 6 anos e 3

meses, considerando uma gravidez de 9 meses para o primeiro

(Gn 30.25).
Quando Jacó retornou para Isaque, José tinha 6 anos;

Rúben tinha 12; Jacó, 97; Isaque ainda era vivo, com 157 anos

(Gn 31.18,41).

102

Aos 97 anos, Jacó lutou com o anjo (Gn 32.24). Mais

uma vez, não era um jovem, como retratam as ilustrações

bíblicas.

Hebrom fica na terra de Canaã (Gn 23.2).

Idade de José quando foi vendido

Ao lermos o capítulo 37 somos levados a crer que José

tinha 17 anos quando foi vendido aos egípcios:

“Esta é a história de Jacó. Tendo José dezessete anos,

apascentava os rebanhos com seus irmãos; sendo ainda jovem,

acompanhava os filhos de Bila e os filhos de Zilpa, mulheres de

seu pai; e trazia más notícias deles a seu pai” (Gn 37.2).

Na verdade, esta é a idade que ele tinha quando seu pai

foi habitar na terra de Canaã, como se pode ver no versículo

anterior:

103

“Habitou Jacó na terra das peregrinações de seu pai, na

terra de Canaã” (Gn 37.1).

José não tinha apenas 17 anos quando foi vendido, pois


ele foi vendido depois do versículo 11.

O capítulo 37 narra a estória de José como filho mais

querido de Jacó. Porém, este capítulo tem um grande intervalo

de tempo entre os versículos 11 e 12, dividindo-se em dois

trechos. O primeiro, de Gênesis 37.1-11, narra os sonhos que

José teve aos seus 17 anos: o sonho dos molhos e o das

estrelas. E, no segundo trecho, a partir do versículo 12, está

descrito como seus irmãos tramaram contra ele e o venderam

aos ismaelitas. Neste tempo, José tinha muito mais de 17 anos.

Certamente a primeira parte está inserida antes do

capítulo 34. Desta forma, no intervalo compreendido entre Gn

37.1-11 e Gn 37.12, acontecem três coisas:

1) O caso de Diná, filha de Jacó, que foi violada pelo filho do

príncipe (Gn 34).

2) O nascimento de Benjamin e a morte de sua mãe (Gn 35).

3) Nasceram mais filhas a Jacó, além de Diná. Adiante

veremos os argumentos bíblicos a favor disto.

O capítulo 37 começa com a frase “esta é a história de

Jacó” , que sugere uma história separada do contexto, que está

104

unida apenas pelo desenvolvimento dos fatos, sem relação

cronológica com o que foi narrado anteriormente. Neste


momento, José tinha 17 anos, e Rubem, o mais velho, tinha 23

anos. Entre esta faixa de idade encontravam-se Simeão e Levi,

que são os envolvidos na história do capítulo 34. Se tal

capítulo realmente estivesse alinhado com a ordem do capítulo

37, os filhos de Jacó seriam muito jovens para agir no caso de

Diná.

Na última parte, José tinha bem mais de 17 anos e bem

menos de 28. Porque, na primeira parte (Gn 37.1-11),

Benjamim ainda não tinha nascido. Jacó considerava José o

filho da sua velhice, significando que este era o último filho até

então.

“Ora, Israel amava mais a José que a todos os seus

filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica talar

de mangas compridas” (Gn 37.3).

José teve um sonho, no qual aparecem o Sol e a Lua,

que representam seu pai Jacó e sua mãe Raquel. (Gn 37.9,10).

O próprio Jacó interpreta que a Lua significava a mãe de José.

Esta, porém, é a mesma mãe de Benjamim, que morre de parto

ao gerá-lo.

“Contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o o

pai e lhe disse: Que sonho é esse que tiveste? Acaso, viremos,

105
eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?”

(Gn 37.10).

Jacó falava como se Raquel ainda estivesse viva. E, se

ela ainda vivia, significa que Benjamim ainda não tinha

nascido, embora apareciam onze estrelas no sonho. O número

de estrelas que se prostraram perante José era onze, pois

Benjamim também se prostrou no Egito.

Na segunda parte, em Gênesis 37.12-36, Benjamim já

tinha nascido. Ele reconheceu José no Egito (Gn 45.12), e

chorou com ele (Gn 45.14).

Quanto ao nascimento das outras filhas de Jacó, elas

são mencionadas no segundo trecho (Gn 37.35) e no capítulo

34.16.

José, quando foi vendido, ainda conservava sua túnica

colorida de quando ainda tinha 17 anos (Gn 37.3,23).

Aos 28 anos, José já era próspero no Egito, e foi preso

por causa da esposa de Faraó. Na prisão, interpretou dois

sonhos (Gn 40.8; 41.1,46). Isaque ainda era vivo, e tinha 179

anos.

Isaque morreu com 180 anos (Gn 35.28,29). Isso foi 43

anos depois de quando ficou cego e passou a esperar a morte!

106
Jacó tinha 120 anos; José, 29. É um texto deslocado, que

deveria ficar entre os capítulos 40 e 41. Talvez Isaque tenha

morrido depois de sua esposa Rebeca, embora já tenha se

prostrado no leito bem antes dela.

Aos 30 anos, José interpretou os sonhos de Faraó, e

começaram os 7 anos de fartura. Durante algum período

destes 7 anos, nasceram Manassés e Efraim (Gn

41.1,46,47,50). Portanto, quando José tinha 36 anos, seus

filhos tinham de zero a seis anos. Em outras palavras, José

tinha de 30 a 36 anos quando gerou Manasses e Efraim.

Depois dos 7 anos de fartura, ao completarem dois anos

de fome, José trouxe seu pai e irmãos para o Egito. Isso foi

quando José tinha 39 anos; e Jacó, 130 (Gn 41.46,53; 45.6;

47.7-9).

Na lista completa de pessoas de Jacó que foram ao

Egito aparecem 70 nomes. E, no final do texto, o autor explica,

dizendo que os que vieram com Jacó eram 66, mas que ao todo

eram 70. Os 66 contam com Jacó e excluem Er e Onã, que

morreram em Canaã, e excluem também José, Manassés e

Efraim, que já estavam no Egito (Gn 46.12,19,20,26,27). O

versículo 27 de Gênesis 46 não conta com Jacó (Ex 1.5).

Estêvão disse que eram 75 pessoas, mas não


especificou se estavam incluídas as esposas (At 7.14).

107

Jacó viveu 17 anos no Egito, e morreu com 147 anos

(Gn 47.28). José tinha 56 anos. Efraim e Manassés tinham de

20 a 26 anos, quando Jacó os abençoou. Não eram duas

crianças, como retratam algumas gravuras dos livros de hoje.

José morreu com 110 anos (Gn 50.22,26). Manassés e

Efraim tinham de 74 a 80 anos. A idade da Terra neste ponto

era de 2369 anos.

Após a morte de José, segue-se um período de

escravidão no Egito (Ex 1.6-8).

De quantos anos foi a escravidão no

Egito?

Agora um impasse que, na verdade é mais complicado

do que parece. Foi de 400 ou de 430 anos o tempo de Israel no

Egito?

108

“Então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua

posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à

escravidão, e será afligida por quatrocentos anos” (Gn 15.13).

“E falou Deus que a sua descendência seria peregrina em terra

estrangeira, onde seriam escravizados e maltratados por


quatrocentos anos” (At 7.6). “Ora, o tempo que os filhos de Israel

habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos. Aconteceu

que, ao cabo dos quatrocentos e trinta anos, nesse mesmo dia,

todas as hostes do Senhor saíram da terra do Egito” (Ex 12.40-

41).

Observamos que os 400 anos se referem à escravidão e

que os 430, à mera habitação no Egito.

Mas vejamos a genealogia de Moisés, para saber se é

possível enquadrar os 400 anos (Ex 6.16-20; 1Cr 6.1-

3,16,18,49,50).

Levi, bisavô de Moisés, tinha aproximadamente 43

anos quando foi ao Egito. Coate, seu filho, já era nascido.

Anrão, filho de Coate e pai de Moisés, já nasceu no Egito.

Como Coate morreu com 133 anos, e Anrão com 137, não dá

uma soma de 430, pois Moisés tinha 80 anos quando libertou

os israelitas.

Antes de Coate chegar ao Egito, José já estava lá por

aproximadamente 20 anos. Por isto, respondo sinceramente,

109

não entendo porque a Bíblia conta 430 anos. O mais ousado

dos cálculos não comportaria nem 370. E isto supondo que

Coate gerou Anrão em sua velhice, e Anrão gerou Moisés em


sus velhice: 133 + 137 + 80 + 20 = 370.

Porém, vejamos:

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu

descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de

muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é

Cristo. E digo isto: uma aliança já anteriormente confirmada por

Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a

pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa” (Gl

3.16-17).

O texto bíblico diz que a lei (promulgada após a saída

do Egito) veio 430 anos depois da promessa ter sido feita a

Abraão. Passaram-se 215 anos entre o dia em que a promessa

foi feita e o dia da chegada de Jacó no Egito, data em que Levi

tinha aproximadamente 43 anos, e Coate já era nascido (Gn

12.1-4). Como Levi era bisavô de Moisés, isto torna possível

que este tenha nascido 135 anos depois.

Assim, conclui-se que, da promessa à libertação,

passaram-se realmente 430 anos. Mas Israel habitou no Egito

por apenas 215 anos (a metade de 430) e foi escravizado por

144 anos. O número 144 pode ser encontrado se subtrairmos

110

de 215 os 71 anos em que José viveu após Jacó ter ido ao Egito
(Gn 41.46,53; 45.6; 47.7-9). Ou poderemos considerar que,

quando Abraão foi a Siquém, aos seus 75 anos, já estava no

Egito, uma vez que Canaã também pertencia ao país naquela

época. E foi exatamente por ocasião da promessa que Abraão

foi para lá, ou seja, é a mesma data.

Não nos preocupemos quanto ao elevado número de

israelitas no dia da libertação, pois 215 anos são

matematicamente suficientes para que 70 homens se

transformem em 600 mil, já que eles eram muito fecundos

naquela época (Ex 1.7).

111

Cronologia dos reis de Judá

Após a saída do Egito, registra-se que se passaram 476

anos até o início do reinado de Salomão:

“No ano quatrocentos e oitenta, depois de saírem os

filhos de Israel do Egito, Salomão, no ano quarto do seu reinado

sobre Israel, no mês de zive (este é o mês segundo), começou a

edificar a Casa do Senhor” (1Rs 6.1).

Se fizermos o cálculo baseado na soma dos reinados de

Salomão e de todos os reis de Judá até o exílio para a

Babilônia, encontraremos o total de 409 anos.

O cativeiro babilônico durou 70 anos. Após esse tempo,


teve início o primeiro ano do reinado de Dario (Dn 9.1,2). Nesse

mesmo ano (538 a.C.), surgiu o decreto do rei Ciro para edificar

o templo (2Cr 36.22,23).

A partir destes dados, podemos calcular a idade de

Adão até Cristo. Lembrando que, da criação à morte de José,

passaram-se 2369 anos, e que o povo de Israel foi escravizado

por 144 anos após a morte de José, obtemos a seguinte soma:

112

Da criação à morte de José:

2369

Israel no Egito após a morte de José: 144

Do Egito ao reinado de Salomão:

476

Salomão e os reis de Judá:

409

Cativeiro na Babilônia:

70

De Dario ao ano um:

538

Idade da terra antes do ano um:

4006

Para efeito de cálculo, é necessário frisar que o ano


4006 é o ano um, mas não coincide com a data real do

nascimento de Jesus.

113

Conclusão

É importante conhecermos as idades dos patriarcas,

para termos a noção do tempo em que ocorreu cada fato

descrito em Gênesis. Nem sempre os filmes estreados na

televisão acertam quanto à aparência de idade dos

personagens. Tampouco condizem as ilustrações que

encontramos em pinturas, ou em livros de história bíblica.

Um erro muito comum do leitor casual de Gênesis, e

que deve ser evitado sempre, é tomar a ordem em que os fatos

aparecem narrados no livro como a ordem cronológica. O único

dado confiável é o conteúdo do texto, e não a ordem sequencial

de apresentação do mesmo. Se não atentarmos para este fato,

estaremos enganando a nós mesmos e podando as

possibilidades de expansão do conhecimento.

114

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