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RESUMO
O presente artigo aborda o papel da linguagem na apropriação do conhecimento como uma
tentativa de reorganizar socialmente o império romano, em Agostinho, e tem por objetivo
contextualizar o conceito de linguagem, ainda expor o papel da palavra para a formação da
filosofia cristã e discorrer o papel da educação na reabilitação social do império romano. Esses
objetivos serão apresentados por meio de uma análise do diálogo com seu filho Adeodato
encontrado na sua obra De Magistro.
INTRODUÇÃO
VIDA E OBRA
DE MAGISTRO
1
Religião de origem persa fundada por Mani no século III – visão dualista do mundo perpetuamente em luta
entre dois princípios equivalentes, o Bem e o Mal.
inatismo. O segundo propósito da palavra leva em consideração o homem buscando o
significado nas recordações dentro de si mesmo (considera o apóstolo Paulo ao dizer que a
santíssima Trindade2 habita interiormente o indivíduo). A crescença da conversa conduz o
jovem a entender que a palavra (sinal) precisa ter significado literal, ou seja, o homem mostra
o significado das palavras só pelas palavras, no entanto, Agostinho mostrará ainda que isso é
ilusão ao questionar a Adeodato se é possível mostrar alguma coisa sem o emprego de um sinal,
a conclusão é afirmativa, visto que pode se explicar o que é uma parede apontando para ela,
todavia essa resposta também é provisória, pois, no discurso ficará firmado que nem todo
apontamento suprirá o significado do sinal, um exemplo é apontar o cavalo para significar um
animal, entretanto nem todo animal é um cavalo, daí também o problema da literalidade das
palavras.
Os argumentos de Agostinho convergem para a seguinte proposta, a voz (palavra, nome)
fere o ouvido de modo a perceber, num processo onde a memória busca o conhecimento
interiorizado, atribuindo valor as coisas exteriorizadas.
Num jogo gramatical, Agostinho induz Adeodato a entender que o conhecimento das
coisas é mais importante do que os próprios sinais e que esse conhecimento só pode acontecer
num ato que chamaremos de iluminação divina, pois os homens possuem como que fagulhas
dessa divindade, pois dela se tornaram a própria moradia.
Todo esse jogo de palavras serviu para conduzir, como que por cercas, o pensamento do
jovem Adeodato a compreender que não se entende pelas palavras que repercutem
exteriormente, mas pela verdade que ensina interiormente, essa verdade é apresentada como
sendo Cristo, que por sua vez habita pela fé no interior de cada um, assim sendo,
O discurso acima apresentado, objetiva construir um caminho para a filosofia cristã, que
diferente dos argumentos platônicos, aponta a origem do conhecimento não na reminiscência
2
I Coríntios 3. 16 – Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? —
Agostinho ainda considerou o apóstolo João que diz: No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com
Deus, e era Deus (João 1.1).
da alma, mas na iluminação recebida de Cristo, que por serem centelhas, carregam consigo a
imagem e semelhança dessa divindade.
Agostinho mostrou o caminho de uma fé racional pautado no discurso da linguagem
humana, que por sua vez se enche de sentido quando do alto recebe a iluminação para conhecer
cada signo, sinal, palavra e nome. A sutileza do filósofo mostra ao filho que o conhecimento
não depende apenas das palavras que ferem aos ouvidos, mas também da revelação interior que
advém de Deus. Nesse caso as palavras proporcionam a maneira correta de enxergar no seu
interior, e passam a servir como um estímulo, palavras consideradas por Adeodato ao ser
instigado por seu pai a resumir as impressões sobre todo o diálogo.
O discurso encontrado no diálogo De Magistro prepara o caminho para a defesa
encontrada em sua obra “A cidade de Deus”. Ali, considera a decadência do império, e a
contrapõe ao sentido sacro da cidade Roma, esse significado fora dado pela iluminação que
recebera da divindade em seu interior, ficando assim justificado a necessidade de por meio da
educação reabilitar socialmente o império. O teólogo considerou os bárbaros dotados da mesma
natureza humana, no entanto precisavam da educação para que a revelação divina fizesse
sentido e pudessem a representar as próprias virtudes romanas.
Nesse sentido, o pensador reaproveita o sentido de pólis empregado e discutido pelos
filósofos gregos como um designativo a própria Roma, e considera a necessidade de oportunizar
aos bárbaros a mesma iluminação que receberam os romanos. Danilo Marcondes (2007) deixa-
nos um importante relato, afirmando que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS