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Desembarque aliado em Dieppe

Primeiro ataque à Muralha do Atlântico

Junho, 5, 1942. Congregados na ampla sala de conferências do Comando de Operações Combinadas, em


Londres, altos chefes das forças armadas britânicas mantêm uma reunião secreta. Preside as deliberações, o
General Bernard Montgomery, que, meses mais tarde, alcançaria a fama como vencedor de Rommel em El
Alamein. Mapas e documentos cobrem a mesa, em torno da qual se acham o General John Hamilton Roberts
da 2a Divisão canadense, o Vice-Marechal-do-Ar Leigh Mallory, chefe do 11 o Grupo de Caças da RAF e o
Contra-Almirante Baillie-Grogham.

Montgomery e seus companheiros discutem os detalhes de uma operação decisiva: o desembarque


inesperado de forças de assalto britânicas no porto francês de Dieppe. A operação será o primeiro ataque
aliado contra a Muralha do Atlântico, a gigantesca linha fortificada que Hitler fez construir ao longo da costa
francesa.

O projeto, colocado em marcha por iniciativa de Winston Churchill e Lord Mountbatten, chefe do Comando
de Operações Combinadas, tem por objetivo principal ensaiar as táticas de desembarque que, no futuro, serão
utilizadas pelos exércitos aliados para invadir o continente europeu. Simultaneamente, o ataque a Dieppe
servirá de ajuda aos russos, pois a Wehrmacht será obrigada a retirar parte de seus efetivos da frente oriental
para reforçar suas unidades sediadas na França.

Inúmeras dificuldades cercam a empresa. Em primeiro lugar a falta de experiência e de conhecimentos


adequados para a realização de uma operação anfíbia de tão vastas proporções. Mais de 6.000 soldados, na
maior parte canadenses, intervirão na incursão conduzidos por uma frota de cerca de 200 embarcações. Além
disso, um forte contingente de pára-quedistas e tropas aerotransportadas secundarão o ataque.

No transcurso da conferência, o Vice-Marechal Leigh Mallory fornece a seus colegas uma grave informação.
Contrariando o previsto, não intervirá no assalto a Dieppe a força de bombardeiros pesados encarregados de
destruir as fortificações do porto antes do desembarque das tropas. O chefe do Comando de Bombardeio da
RAF, Marechal Arthur Harris, negou-se, terminantemente, a que seus aviões fossem desviados da tarefa
específica de bombardear as cidades e centros industriais da Alemanha para auxiliar na operação contra
Dieppe.

Este fato introduz uma modificação fundamental no plano da operação. Por decisão de Montgomery,
planejava-se que o grosso das tropas fosse lançado em ataque direto sobre as praias situadas em frente ao
porto, onde estava concentrada a maior parte das defesas alemães. Se os bombardeiros não puderem intervir,
os soldados deverão enfrentar uma mortífera resistência por parte das baterias e metralhadoras montadas nos
redutos e casamatas de concreto armado.

Apesar de tudo, Montgomery e os chefes presentes resolvem levar adiante a empresa. Confiam que o fator
surpresa compensará a falta de apoio do bombardeio aéreo. Além disso, várias esquadrilhas de caças
Hurricane se encarregarão de metralhar em vôo rasante as fortificações no momento antecedente ao
desembarque.

Suspende-se o ataque

Com febril entusiasmo, os soldados da 2 a Divisão canadense terminam seu treinamento nas praias da costa
sul da Inglaterra. A 27 de junho, cerca de 300 oficiais da força atacante foram reunidos pelo General Roberts,
com o fim de informá-los acerca dos planos. O chefe canadense exibiu um modelo em relevo, de 3 metros de
comprimento por 2 de largura, do porto de Dieppe e das zonas vizinhas. Os oficiais se agruparam em torno
da maquete, que reproduzia com minúcias todos os acidentes naturais, as estradas, as casas e o relevo do
terreno. Roberts, dirigindo-se a seus homens, disse: - Senhores, esperamos mais de 2 anos para entrar em
combate com os alemães; agora chegou o momento... Esta maquete em escala é o objetivo...
O nome de Dieppe não foi citado por Roberts, porém muitos dos presentes identificaram rapidamente o
local. No mesmo dia, o Contra-Almirante Baillie-Grogham, chefe da força naval, reuniu os capitães dos
navios que participariam da operação e explicou-lhes o alcance do empreendimento.

Assim se ultimaram os preparativos finais do ataque, cuja realização foi fixada para as primeiras horas do dia
4 de julho de 1942.

No dia 3, todas as tropas receberam ordem de embarque. Mais de 200 naves e lanchas de assalto foram
empregadas na operação, que se realizou dentro do mais absoluto segredo. Ao entardecer, os chefes dos
batalhões comunicaram aos seus soldados que a ação estava próxima e que o objetivo determinado era atacar
de surpresa o porto francês de Dieppe. A notícia foi recebida pelos homens com exclamações de entusiasmo.
Horas mais tarde, o General Roberts, visitando barco por barco, falou aos oficiais e soldados prevenindo-os:
- Isto não é uma manobra: finalmente vão lutar contra o inimigo... Pouco depois da meia-noite zarparão para
a França... O objetivo é o porto de Dieppe... Esta é a operação para a qual vocês foram treinados... Boa
sorte!

Na mesma noite do dia 3, o chefe supremo da operação, Lord Mountbatten, visitou a frota para despedir-se
pessoalmente das tropas que partiam rumo à ação. Ele dirigiria as operações de uma central de comandos,
situado na Inglaterra. O comando direto das forças atacantes ficava a cargo do General Roberts, que
estabeleceu seu QG no destróier Calpe.

Meia-noite chegou. Nessa hora, fixada para a partida, os barcos permaneceram imóveis. Um acontecimento
inesperado havia alterado os planos previstos. Quando Lorde Mountbatten voltou ao porto, depois de sua
visita aos barcos, recebeu uma comunicação urgente do chefe das tropas aerotransportadas que participariam
da operação, informando-o que, de acordo, com o boletim meteorológico, as condições do tempo não
permitiram a ação dos pára-quedistas.

O mau tempo prolongou-se até 5 de julho. Nesse mesmo dia, também, o Serviço de Inteligência recebeu a
notícia que a 10a Divisão Panzer, alemã, acabava de ser transferida para a cidade de Amiens, situada a 8
horas de marcha de Dieppe. Como fôra planejado manter as tropas durante 15 horas em território francês, os
alemães estavam agora em condições de aniquilar com seus carros blindados as forças atacantes. Os chefes
britânicos decidiram então alterar o plano e reduzir o prazo de permanência de suas tropas em Dieppe.
Fixou-se a nova data do ataque: madrugada do dia 8. Emitiram-se as ordens correspondentes às unidades. O
desalento, contudo, espalhou-se pelo Alto-Comando. No dia 6, Lord Mountbatten manteve uma conferência
no Ministério da Guerra com os chefes de Estado-Maior e anunciou que resolvera suspender
temporariamente a operação e dispensar as tropas, no caso de que o ataque não pudesse ser realizado no dia
8.

Enquanto isso, os alemães não permaneciam inativos. Às 6 da manhã de 7 de julho, quatro aviões da
Luftwaffe apareceram inesperadamente sobre a zona onde estava concentrada a frota e bombardearam os
transportes Princess Astrid e Princess Losephine Charlotte.

Os dois barcos foram atingidos pelos projéteis e o Princess Josephine sofreu graves avarias. As tropas que se
achavam a bordo tiveram que ser transportadas imediatamente para a terra. A este fato somou-se uma nova
piora nas condições do tempo. A sorte da operação contra Dieppe estava selada. Nesse mesmo dia, Lord
Mountbatten cancelou definitivamente o ataque e ordenou o desembarque de todas as tropas.

Na manhã de 8 de julho as unidades da 2 a Divisão canadense retornaram a seus quartéis. O espírito


combativo dos soldados, depois das vicissitudes vividas, havia sofrido um rude choque. Ignoravam que,
poucos dias depois, estariam novamente em marcha rumo a Dieppe.

“Operação Jubilee”

Na noite de 8 de julho, Lord Mountbatten se reuniu com os chefes da expedição para discutir os
inconvenientes sofridos e tomar novas decisões. Amargamente, os chefes presentes fizeram notar a Lord
Mountbatten que, no futuro, não se poderia contar com as forças de pára-quedistas, que eram sujeitas a um
elemento imprevisível como o tempo. Todos acharam, contudo, que havia necessidade de efetuar, o mais
cedo possível, uma nova incursão. Insistiu nisso, especialmente, o Capitão-de-Marinha Hughes-Hallett, o
mais entusiasta promotor do ataque a Dieppe. Lord Mountbatten mostrou-se totalmente de acordo com seus
oficiais e abandonou a reunião, depois de ordenar aos presentes que estudassem a foram de lançar um novo
ataque. Para Hughes-Halett a solução era fácil: devia repetir-se a tentativa falhada. Expressou-se assim aos
presentes: - Dado que as tropas estão perfeitamente treinadas nas suas respectivas tarefas, não necessitam,
sem dúvida, receber novo adestramento. Se estamos de acordo nesse ponto, podemos voltar a concentrá-las
no último momento, e sem aviso prévio...

A 12 de julho, Hughes-Hallett e o General Roberts apresentaram a Lord Mountbatten o seu projeto. No dia
seguinte, este o submeteu aos chefes do Estado-Maior britânico, que o aprovaram imediatamente. A 14 de
julho foi emitida a ordem que pôs em marcha a “Operação Jubilee”. O ataque a Dieppe estava novamente em
pé.

Às 3 da tarde do mesmo dia 12, Lord Mountbatten reuniu-se no comando de Operações Combinadas com o
General Roberts, o Vice-Marechal Leigh-Mallory e o Capitão Hughes-Hallett, que havia sido designado
chefe das força naval. Rapidamente se traçaram os contornos do novo plano. As tropas aerotransportadas
foram eliminadas e substituídas por duas unidades de “comandos”, cuja missão seria apoderar-se das baterias
costeiras situadas nas localidades de Berneval e Varengeville, a leste e a oeste de Dieppe. Estes “comandos”
seriam acompanhados por um reduzido contingente de “rangers” americanos. Três batalhões da 2 a Divisão
canadense faria o ataque principal, contra o porto, apoiados por um batalhão de tanques pesados Churchill.
Outros três batalhões, da mesma unidade, realizariam desembarques secundários sobre os flancos de Dieppe,
numa manobra destinada a envolver, pela retaguarda, as posições alemães. A operação repousaria,
principalmente, sobre o fator surpresa, pois, tal como no projeto anterior, não se poderia contar com o apoio
da aviação de bombardeio, nem com grandes unidades da esquadra.

A 25 de julho, o Primeiro-Ministro Winston Churchill deu sua aprovação ao ataque, cuja realização se havia
fixado, em princípio, para a madrugada dos dias 18 ou 19 de agosto. Com a finalidade de manter o mais
absoluto segredo sobre o plano, decidiu-se que a 2 a Divisão canadense permaneceria em seus quartéis até o
próprio dias marcado para o embarque das tropas. As unidades zarpariam dos portos da costa sul da
Inglaterra e algumas delas se dirigiriam diretamente ao objetivo a bordo de lanchas de desembarque. Várias
esquadrilhas de caças Hurricane atacariam em vôo rasante as fortificações inimigas no minuto que
antecedesse ao desembarque.

A partir de 5 de agosto, iniciou-se a concentração de materiais e armamentos e a operação ficou preparada 10


dias depois. Tudo estava pronto para a grande empresa.

Às 10 horas da manhã de 18 de agosto a ordem foi dada. A senha “A função começou... Agora!” colocou em
marcha o mecanismo da “Operação Jubilee”.

Às 7 horas da noite do mesmo dia 18, as tropas já estavam a bordo dos transportes e das lanchas de assalto,
nos diverso portos. O General Roberts, acompanhado pelo Capitão Hughes-Hallett, subiu a bordo do
destróier Calpe; em outro destróier, o Fernie, embarcou o Tenente-Coronel Churchill Mann, vice-comandante
da expedição. No caso do Calpe ser afundado, este último assumiria o comando da operação. Duas horas e
meia depois, em meio à escuridão, a frota iniciou a travessia do Canal da Mancha.

Rumo ao objetivo

Navegando a meia velocidade, rumo ao objetivo, a canhoneira SGB 5, sob o comando do Comandante
Wyburd, encabeça uma flotilha integrada por 23 lanchas de desembarque. A bordo vão 460 homens da Força
de “Comando” n° 3. Sua missão consiste em destruir as baterias alemães montadas em Berneval, a leste de
Dieppe. Ao cruzar o campo de minas espalhado frente à costa, a flotilha manobrou, dispersando-se. Na
confusão resultante, muitas lanchas atrasaram-se, e apenas 15 continuaram navegando atrás do SGB 5. Além
disso, a flotilha não havia conseguido estabelecer contato com os dois destróieres encarregados de protegê-
la. O começo da operação não era promissor. Apesar de tudo, os chefes resolveram que ela devia ser levada
adiante.

Um inesperado acontecimento, contudo, veio frustrar seus propósitos. Pouco depois das três da madrugada
estourou, repentinamente, uma bengala de luz diante das embarcações britânicas. Quase imediatamente uma
chuva de projéteis caiu sobre os barcos. Uma trágica coincidência ocorrera. Um comboio alemão, integrado
por cinco transportes e três caça-submarinos, havia cruzado, acidentalmente, a rota da frota de invasão. Os
barcos alemães concentraram o fogo sobre a canhoneira e em poucos minutos atingiram-na várias vezes,
ocasionando muitas vítimas entre a tripulação. Ainda quatro das lanchas de desembarque foram atingidas
pelos disparos e ficaram seriamente danificadas. O violento encontro cessou em poucos instantes quando as
naves alemães se retiraram. O chefe da força de “comandos”, ante as perdas sofridas, decidiu não realizar a
operação planejada.

Não pôde, contudo, comunicar sua decisão ao comando supremo, pois o transmissor de rádio da canhoneira
fôra destruído no combate. Por sua vez, tampouco os barcos alemães puderam transmitir o alarma aos
comando da defesa costeira em Dieppe, pois seus transmissores também foram avariados pelo fogo britânico.
A surpresa, portanto, continuava sendo possível. Nem todas as lanchas retornaram à Inglaterra, no entanto.
No transcurso do combate, cinco embarcações, escoltadas por um torpedeiro, haviam prosseguido sua
navegação rumo à costa francesa e se dirigiam, em linha reta, para o objetivo determinado. Outra lancha, a
LCP 15 (lancha de desembarque de infantaria), também conseguiu infiltrar-se através do comboio alemão e
seguiu o mesmo rumo das anteriores. A bordo iam 17 soldados e três oficiais da Força de “Comandos” n° 3,
sob o comando do Major Peter Young. Este grupo seria protagonista de uma incrível façanha. Pouco depois
das 4 da madrugada, a LCP 15, silenciosamente, deslizou sobre a areia de uma pequena praia, situada três
milhas a leste de Dieppe, nas proximidades de Berneval. Rapidamente, os “comandos” desembarcaram e
correram através da praia. Depois de cruzar os alambrados de arame farpado, escalaram a escarpa que se
erguia à sua frente. Em seguida, ocultando-se entre as moitas, aguardaram a chegada de seus companheiros.
Às 5h30 da manhã, as cinco lanchas restantes tripuladas por 96 “comandos” e 6 “rangers” se aproximaram
da praia em formação de leque. Sua chegada, no entanto, não havia passado inadvertida para os alemães; 150
soldados alemães estavam prontos e os aguardavam, entrincheirados em seus ninhos de metralhadoras.
Quando as lanchas chegaram a uma distância de 100 metros, os alemães desencadearam um fogo mortífero,
com todas as suas armas. Os projéteis varreram as águas em torno das embarcações e penetraram através dos
cascos atingindo numerosos soldados. As lanchas, no entanto, continuaram avançando e chegaram à praia.
Os “comandos” sobreviventes lançaram-se sem vacilar à terra, disparando seus fuzis-metralhadoras contra as
invisíveis posições alemães. Alguns “comandos” conseguiram alcançar o início da escarpa e lançaram suas
granadas contra as metralhadoras alemães ali montadas. O “ranger” Edwin Loustalot jogou-se sobre uma das
metralhadoras, porém mal chegou a alcançá-la. Cego pelos projéteis, caiu morto a poucos metros dela.
Loustalot foi o primeiro soldado americano morto em terras européias.

Enquanto isso, os “comandos” sobreviventes haviam-se entrincheirado nos acidentes naturais da escarpa e
resistiram ao ataque alemão. Ali permaneceram até as 10 horas da manhã, quando, depois de serem atacados
por três companhias de infantaria alemães, depuseram as armas, entregando-se. O pequeno grupo comandado
pelo Major Young, entretanto, havia conseguido infiltrar-se para o interior e, guiado por um civil francês,
alcançou o povoado de Berneval, onde a população os recebeu entusiasticamente. Young, numa decisão
audaz, resolveu lanças seus 20 “comandos” ao ataque contra a bateria situada a poucos quilômetros do
povoado. Deslocando-se silenciosamente através do matagal, os “comandos” tomaram posição a uns 200
metros dos canhões alemães. Enquanto isso, os soldados alemães, em número de 200, sem perceber a
presença dos “comandos”, estavam entregues às tarefas de rotina. A um sinal de Young, os 20 “comandos”
abriram fogo sobre a bateria. A inesperada descarga ocasionou muitas baixas entre os desprevenidas forças
alemães. Contudo, a reação não se fez esperar. Acreditando estarem sendo atacados por forças muito
superiores à reais, os artilheiros alemães giraram seus grandes canhões para o lugar de onde provinha o
ataque.

Dada a proximidade do alvo, as peças de artilharia foram ineficazes. Os projéteis, passando sobre os
“comandos”, explodiram a mais de 2 km às suas costas. Esse singular combate entre um punhado de homens
e uma bateria de canhões de grosso calibre prolongou-se por mais de uma hora. Young conseguiu assim
cumprir com a missão designada para a Força de “Comandos” n° 3: impedir a ação dos canhões de Berneval
sobre a frota de invasão que, nesse momento, estava em frente de Dieppe.

Às 8h20 da manhã, os 20 “comandos” e seu chefe, alguns deles feridos, chegaram à costa e reembarcaram na
lancha que os aguardava. Todos conseguiram regressar à Inglaterra.

Luta em torno de Dieppe

No instante em que esse fatos se desenrolavam, a Força de “Comandos” n° 4, liderada pelo Tenente-Coronel
Lovat, executava a incursão contra bateria “Hess”, situada em Varengeville, a leste de Dieppe. Este grupo era
integrado por 245 “comandos”, 6 “rangers” americanos e 2 membros das forças do General De Gaulle, que
atuavam como guias. As tropas de Lovat se dividiram em dois grupos e desembarcaram em duas praias
distantes entre si poucos quilômetros. O primeiro contingente, integrado por 70 homens, desembarcou pouco
depois das 4 horas da madrugada e, sem ser descoberto, avançou para o interior, com a missão de realizar um
ataque frontal contra a bateria, para distrair sua guarnição. Simultaneamente, o resto das forças (170
soldados, sob as ordens de Lord Lovat) se deslocaria num movimento envolvente, pela retaguarda, para
atacar os canhões. Enquanto o grupo de entretenimento fazia fogo sobre as posições alemães, defendidas por
112 soldados, as tropas de Lovat se dispuseram numa distância de quase 300 metros da bateria. Nesse
momento, tal como havia sido planejado, várias esquadrilhas de caças Hurricane atacaram inesperadamente,
e metralharam as posições inimigas. Quando cessou a ação dos aviões, os “comandos” se lançaram ao
ataque, com baioneta calada, e aniquilaram a guarnição alemã. Somente quatro alemães sobreviveram e
foram levados como prisioneiros. Os seis grandes canhões e as instalações da bateria foram dinamitados. Às
7h30 da manhã os “comandos” reembarcaram e abandonaram a costa. As forças da 2 a Divisão canadense, por
sua vez, haviam entrado em ação. Nas praias da localidade de Puits, desembarcaram, debaixo de uma
mortífera chuva de fogo disparada das casamatas alemães, mais de 500 soldados do Royal Regiment of
Canada. O ataque fracassou por completo. Os homens não conseguiram avançar além da praia e foram
praticamente aniquilados. Apenas 65 soldados chegaram às lanchas que não haviam sido afundadas e
regressaram para a Inglaterra. Este desastre teve decisiva influência nos acontecimentos posteriores, pois o
Royal Regiment havia recebido a missão de destruir as baterias localizadas no espigão oriental de Dieppe.
Não podendo concretizar seu objetivo, as tropas que deviam desembarcar ficavam portanto, expostas ao fogo
dessas baterias. Simultaneamente, outras duas unidades canadenses, o South Saskatchenwans Regiment e o
Cameron Highlanders of Canada, atacavam do oeste as posições alemães. Esse ataque, apesar de alguns
êxitos iniciais acabou por estancar-se ante a rápida reação dos alemães. A localidade de Pourville foi
conquistada, porém as forças canadenses não conseguiram abrir caminho até Dieppe. Submetidas a um
violento contra-ataque alemão, recuaram até as praias para reembarcar, desafiando o fogo das unidades
alemães. As lanchas se aproximaram da costa protegidas por alguns destróieres e trataram de recolher os
sobreviventes que, com água na altura do peito, tentavam alcançá-las. Inúmeros soldados, entretanto, caíram
vitimadas pelos disparos dos alemães.

Uma reduzida força de retaguarda, comandada pelo Tenente-Coronel Merritt, cobriu a retirada dos
combatentes até o último instante. Às duas da tarde, tendo já esgotado praticamente as munições, e com uma
grande quantidade de feridos em suas fileiras, esse punhado de bravos rendeu-se aos alemães.

Esse segundo fracasso selou definitivamente a sorte das unidades encarregadas de realizar o ataque contra o
porto de Dieppe.

Morte nas praias

Paralelamente às operações descritas, desenrolou-se o ataque principal. Foi realizado contra a praia situada à
frente da cidade de Dieppe. Cerca de 2.000 soldados da 2 a Divisão canadense, a bordo de dezenas de lanchas
de desembarque, aproximaram-se da costa, numa frente de 4 km de extensão. Atrás deles navegavam os
transportes de tanques conduzindo, ao todo, 46 carros blindados Churchill.

As tropas da primeira onda de invasão estabeleceriam uma cabeça-de-ponte na praia. Em seguida, os


destacamentos de sapadores e engenheiros abririam brechas no paredão que separava a praia da zona urbana.
Imediatamente, os tanques desembarcariam e, passando através das brechas, apoiariam o avanço da
infantaria.

As unidades encarregadas do ataque foram, no setor oeste da praia, os Essex Scottish e, no oeste, o Royal
Hamilton Light Infantry. Como reserva, o General Roberts manteve, embarcados, os Fuziliers Mont Royal,
para lança-los na luta no setor que conseguisse romper primeiro.

As lanchas de assalto se aproximaram da praia e, exatamente às 5h12 da manhã, os quatro destróieres que
apoiavam o ataque romperam fogo contra as fortificações costeiras. No mesmo momento, os alemães
replicaram com um bombardeio violentíssimo que apanhou as barcaças pelos lados e pela frente. Do ar, os
Hurricane metralhavam incessantemente as baterias e redutos inimigos, e outros aviões lançaram cortinas de
fumaça para proteger as tropas.

Oito minutos mais tarde, quando as lanchas estavam a apenas 200 metros da praia, duas luzes de bengalas
vermelhas explodiram no céu. Com esse sinal, os Hurricane e os destróieres cessaram o fogo. Chegara o
momento do desembarque. As tropas ficaram surpresas com a interrupção do bombardeio. Ninguém, salvo os
chefes de regimentos, havia sido informado de que a aviação suspenderia o apoio às tropas no momento mais
crítico da ação, quando atingissem as praias. Contudo, os ataques dos Hurricanes haviam conseguido
neutralizar em parte a reação dos defensores alemães. Esse fato permitiu aos soldados canadenses da
primeira leva chegar às praias e entrincheirar-se ao longo do paredão. Quinze minutos depois, três
transportes de tanques embicaram com as proas na areia e depois de baixar suas rampas, começaram a
desembarcar os carros blindados. Logo depois encostou a segunda seção de tanques. Vários navios,
entretanto, haviam sido atingidos e afundados pelo fogo alemão.

Às 6h da manhã, 28 tanques estavam na praia. A maioria deles, porém, imobilizados pelas avarias causadas
pela artilharia alemã. Continuavam, contudo, fazendo fogo com seus canhões. Uma terrível confusão reinava
nas praias. Centenas de soldados canadenses haviam tombado vítimas dos disparos alemães. Os mortos e os
feridos espalhavam-se pela areia. As baterias alemães, localizadas sobre os espigões de ambos os lados da
praia, concentravam um fogo devastador sobre os atacantes. Os gemidos dos feridos mesclavam-se com o
estrondo dos disparos das armas de todos os calibres.

No flanco esquerdo, alguns homens do Essex Scottish conseguiram cruzar a esplanada situada além do
paredão e atingiram a zona urbana. Logo, no entanto, foram obrigados a recuar. A maioria, porém, havia siso
aniquilada. Essa incursão motivou uma informação errada que chegou ao Calpe. Com efeito, a mensagem
enviada ao General Roberts dizia que o Essex Scottish havia conseguido abrir passagem para a cidade. O
chefe canadense, então, decidiu lançar na luta a sua reserva (Fusiliers Mont Royal) e os últimos tanques, na
direção do setor onde, supostamente, o Essex havia rompido a defesa inimiga. O tempo urgia. Se a cidade
não caísse até as 9 horas da manhã era de se esperar um violento contra-ataque no qual as forças aliadas
corriam o risco de serem aniquiladas. De fato, estava a caminho do local da luta a 10 a Divisão Panzer, cuja
chegada estava calculada para as 12 horas. A retirada, portanto, devia efetuar-se, no máximo, até as 11 da
manhã.

Os Fusiliers Mont Royal, a bordo de 24 lanchas de assalto, rumaram para a costa. A violência do fogo
alemão e a correnteza impediram que a flotilha se aproximasse da zona determinada previamente. As tropas,
em vista disso, desembarcaram no flanco oposto. Ali, foram surpreendidas por um terrível bombardeio que
lhes ocasionou elevadas perdas.

Culmina a tragédia

À medida que transcorriam as horas, fazia-se mais real o fracasso da operação. Nenhum dos objetivos
previstos havia sido alcançado. Uma completa desorganização reinava nas fileiras aliadas. O General Roberts
havia perdido o controle de suas forças e carecia totalmente de informes acerca do que estava acontecendo
nas praias. Algumas mensagens de rádio chegavam a bordo do Calpe mas só contribuíam para aumentar a
incerteza do comandante. Os Royal Hamilton Light Infantry, apoiados pelos Fusiliers Mont Royal, haviam
conseguido, após encarniçado combate corpo a corpo, apoderar-se de parte do edifício do Cassino, situado na
praia e, protegidos pela sua estrutura, avançaram sobre a cidade e penetraram, em número reduzido, até as
ruas centrais. Contudo, foram rapidamente rechaçados pelos alemães. Este fato deu margem a outra
desastrada confusão. Às 8h17, recebeu-se no Calpe uma mensagem da terra, anunciando que o setor oeste da
praia estava sob firme controle. Com base nessa informação, que não tinha a menor realidade, Roberts tomou
nova e infeliz decisão. Enviou rapidamente sua última reserva (Royal Marine “Comando”). Essa força, assim
que chegou à praia, foi praticamente exterminada.

Ao receber a notícia deste último e trágico acontecimento, Roberts, desesperado, compreendeu a amplitude
do desastre. Resolveu então unir-se a seus homens, na praia, porém, ao tentar embarcar em um dos lanchões,
o jovem oficial que o comandava negou-se a transportá-lo, dizendo: - Sinto muito, senhor... Não posso levá-
lo sem ordem do comandante naval...

Ao General Roberts restava apenas uma saída: ordenar a imediata retirada de todas as tropas que ainda
combatiam. Se não fizesse isso, aqueles homens estavam condenados à morte. A senha da retirada
“Vanquish” foi pronunciada. Eram 11 horas.

Às 10h22, o Capitão Hughes-Hallett ordenou às suas unidades rumar para as praias. Era necessário evacuar
daquele inferno aquelas centenas de homens que ainda lutavam, sem nenhuma esperança.
As lanchas de desembarque foram dispostas em dois grupos, com a missão de resgatar as tropas nos dois
setores em que a praia havia siso dividida. Sob o bombardeio constante das unidades alemães, iniciou-se a
dramática operação. A primeira leva de lanchas alcançou a praia debaixo de um terrível fogo cruzado das
baterias alemães. Amparados por cortinas de fumaça lançadas pelos aviões britânicos, centenas de homens
correram pela praia, ocultando-se por trás dos tanques destruídos, numa tentativa derradeira para alcançar as
lanchas que os aguardavam. Os alemães suspenderam, então o fogo. Quando os soldados aliados estavam
mergulhados na água, reiniciaram-no com violência inaudita. O episódio converteu-se num verdadeiro
massacre de homens, sem possibilidade de defender-se. Durante longos minutos as metralhadoras fizeram
muitas vítimas.

Um pouco depois das 13 horas, o destróier Calpe internou-se através da fumaça para realizar uma última
inspeção das praias. A ausência de sinais de vida indicava que tudo estava concluído. No entanto, cerca de 70
homens, em sua maioria feridos, restavam estendidos na praia, impossibilitados de qualquer movimento.

O Calpe virou bruscamente e se afastou a todo vapor. Os alemães, então, avançaram lentamente para as
praias e desarmaram os feridos que ali estavam.

Vinte minutos depois, um pombo-correio, lançado do destróier Fernie cruzava o Canal da Mancha rumo à
Inglaterra. Levava uma mensagem do Tenente-Coronel Churchill Mann. Anunciava a derrota. O informe,
contudo, terminava numa valente invocação: “Sentimos muito não ter podido concretizar nossas
esperanças... A Marinha executou um grande trabalho... Desejamos tentar outra vez!”.

O regresso

Para trás ficara o inferno das praias de Dieppe. Milhares de homens mortos, feridos e prisioneiros, foi o
preço pago pela audaciosa incursão que britânicos e canadenses haviam realizado na costa da França. As
perdas sofridas superavam tremendamente as previsões dos planejadores da operação. Às vésperas do ataque
calculou-se que as forças empenhadas no desembarque sofreriam 10% de baixas em homens e de 10 a 20%
em material de tanques e veículos blindados. O resultado real, catastrófico, superou amplamente as cifras
citadas, Mais de 60% dos homens e todos os tanques haviam ficado nas praias de Dieppe. Da 2 a Divisão
canadense integrada por mais de 4.000 soldados, apenas regressaram 1.000 homens em pé, e 600 feridos. A
unidade que com tanta coragem havia enfrentado a sua primeira prova de fogo estava praticamente reduzida
a nada.

Precedidas pelos destróier Calpe, em que viajava o General Roberts e o Capitão Hughes-Hallett, as
embarcações repletas de homens extenuados e feridos se aproximaram da costa britânica ao cair da tarde do
trágico 19 de agosto. Havia-se planejado, em princípio, que a frota se dirigiria ao porto de Newhaven para
desembarcar ali os feridos. Os médicos, no entanto, aconselharam que fossem transportados diretamente ao
porto de Portsmouth, onde os destróieres poderiam atracar nos cais; assim se evitaria o penoso transbordo
dos muitos feridos cujo estado era desesperador.

Em Portsmouth, ao se receber a notícia da iminente chegada dos sobreviventes de Dieppe, foram organizados
aceleradamente os serviços de auxílio necessários. Todas as ambulâncias civis e militares foram enviadas ao
porto. Cinco hospitais da cidade prepararam instalações de emergência para receber as vítimas. Médicos,
enfermeiras e pessoal auxiliar trabalharam sem descanso, ao chegarem os feridos, durante a noite. Nas salas
de cirurgia, as mesas estavam continuamente ocupadas. Um médico, verdadeiro herói anônimo, realizou 167
cirurgias numa só noite. O esforço sobre-humano do pessoal médico rendeu frutos. Muitos dos homens,
condenados a morrer, tiveram ali a vida salva.

A operação Dieppe foi objeto de muitas críticas. O General Roberts, que havia liderado o ataque, assinalou
claramente os erros, que a seu ver não devia repetir-se. Em primeiro lugar, os tanques apenas deviam ser
empregados em operações de desembarque que tivessem por fim estabelecer uma frente permanente de
invasão, e não em reides de curta duração. Além disso, antes de desembarcar unidades blindadas, teria que
assegurar-se uma cabeça-de-ponte sólida. As lanchas de desembarque teriam que ser protegidas com
blindagens e armadas com artilharia defensiva para proteger os homens que transportassem. Não devia ser
levado em conta, tampouco, como elemento determinante, o efeito que porventura pudesse causar nas
populações das cidades costeiras uma intensa ação de bombardeio, prévia ao desembarque.
O Capitão Hughes-Halett, por sua vez, expressou que existia a necessidade de contar com uma frota
permanente, altamente adestrada, de embarcações de assalto, que incluísse naves de todos os tipos, e
manifestou que no futuro deviam-se evitar os ataques a portos inimigos fortemente defendidos.

Todas essas considerações, e mais as de outros chefes que haviam intervido na operação, serviram para
elaborar as táticas e criar as armas que seriam usadas mais tarde nas operações de desembarque na África do
Norte, Itália e Normandia. O sacrifício de Dieppe não havia sido em vão.

Os que ficaram...

Enquanto em Londres, o Alto-Comando britânico estudava os fatos e recapitulava a experiência, em Dieppe,


2.000 soldados prisioneiros, britânicos e canadenses, marchavam para o cativeiro. Muitos deles, desprovidos
de uniformes, seminus, pois haviam se despojado das roupas para poder salvar-se a nado ao serem afundadas
sua embarcações. Depois de curta permanência nas cercanias do porto, onde foram submetidos aos primeiros
interrogatórios, os homens foram separados em dois grupos, antes de serem enviados aos campos de
prisioneiros. Os oficiais partiram em diversos comboios, sob forte escolta, até um campo de reclusão, na
Baviera. Os suboficiais e soldados rasos foram enviados para a Alemanha oriental, onde permaneceram até o
fim da guerra.

Um episódio insólito foi protagonizado pelos oficiais aliados prisioneiros. O Serviço de Inteligência alemão,
ao interrogar os soldados alemães que haviam estado temporariamente em poder os ingleses, em Dieppe,
foram informados por estes acerca do tratamento que haviam recebido; contaram que haviam sido
manietados. Isto, efetivamente, se havia feito, a fim de impedir que atrapalhassem a ação dos britânicos. O
Comando alemão, no entanto, considerou que se tratava de uma violação das leis internacionais, e decidiu
tomar represálias: comunicou que colocaria a ferros todos os soldados aprisionados em Dieppe. O Ministério
da Guerra inglês emitiu um comunicado anunciando que, se havia existido uma ordem de manietar os
prisioneiros, esta seria cancelada. No dia seguinte os alemães anunciaram que deixariam sem efeito a
represália. A 7 de outubro, porém, voltaram atrás, e declararam que todos os oficiais capturados seriam
acorrentados. O governo britânico, como contra-medida, ordenou que um número equivalente de prisioneiros
alemães fossem assim submetidos ao mesmo tratamento. Assim, os 300 oficiais canadenses e britânicos,
recolhidos na Baviera, foram separados do resto dos prisioneiros e acorrentados. Quando aumentou o
número de soldados alemães prisioneiros, nos anos posteriores, a medida foi tornada sem efeito pelos
alemães.

Anexo
Os pombos
França, 1940. Os exércitos alemães irrompendo através das desorganizadas linhas aliadas, avançam irresistivelmente.
Nada mais poderá detê-los. As forças francesas, em plena retirada, dão a tônica da derrota iminente e total. E, com
efeito, as armas aliadas sofrem o grande desastre: a França se rende e fica à mercê dos vencedores. Os soldados da
Wehrmacht, dispersando-se pela zona ocupada, apoderam-se de cada cidade, cada povoado, cada aldeia. A reação
anterior à ocupação propriamente dita, já se materializara. São muitos os que fogem ante o avanço dos alemães. Por
todos os meios, por todas as estradas.
Num pequeno porto pesqueiro, perto de Calais, uma barca de pescadores faz-se ao largo. A bordo, colaborando na
manobra, três jovens franceses se afastam da pátria, rumo à Inglaterra. Vão continuar a luta. Dois deles levam como
único equipamento a coragem, decisão de não render-se, e sua rebeldia. O terceiro, em troca, não quis abandonar o que
possuía de mais querido: seus pombos-correios. Encerrados num caixa de papelão, os animais o acompanhavam na
viagem para a liberdade. Não imaginam a aventura que os aguarda. Depois de chegar à costa inglesa, os jovens se
apresentam às autoridades militares britânicas. Em seguida foram enviados à presença de oficiais franceses, onde são
incorporados ao incipiente exército francês de resistência em formação. Para os dois primeiros não haverá problemas. O
terceiro, porém, cria para as autoridades um problema que parece insolúvel. Declara terminantemente que não se
separará dos seus pombos...
Primeiro um oficial, depois outro, procuram convencer ao jovem que seus pombos serão bem tratados... que nada lhes
faltará... Porém o rapaz é irredutível. Os pombos seguirão com ele. É um oficial de alta-patente que dá a solução.
Acerca-se do rapaz e lhe ordena que o siga. Quando ficam a sós, lhe diz: - Estes são pombos-correios... E bem
treinados, suponho... O francês o encara, sem compreender. O chefe continua: - Você acha que eles estão em condições
de voar à França... levando uma mensagem?
Tudo está claro agora. E a alegria brilha nos olhos do jovem combatente quando compreende que seus pombos serão
soldados, como ele. Poucos dias depois, a primeira mensagem parte para a França. Trata-se simplesmente de uma
experiência. Nada conduz de importante. Porém a pombinha cumpre a sua missão como veterano. Uma mensagem de
rádio o confirma. É hora então de utilizá-la em operações mais importantes. E começa, interminável, uma série de
viagens portando mensagens, instruções e pedidos de informações. Vários pombos seguem o mesmo rumo. E a rede se
aperfeiçoa, conectando os membros do grupo a uma emissora clandestina, que opera próxima à costa, e transmite para o
interior da França. O processo obedece ao seguinte esquema: por meio de um pombo-correio interrogam-se os membros
do grupo, residentes na França; estes, por sua vez, se comunicam pelo rádio com seus agentes do interior e recolhem a
informação requerida. Porém, foi durante uma das transmissões que aconteceu o inesperado. O operador estava
debruçado sobre seu aparelho quando fortes pancadas sacudiram a porta da casa. O homem compreende imediatamente:
foi descoberto. Rapidamente destrói as chaves e cuida de inutilizar o aparelho. É tarde, porém. Vários soldados alemães,
sob o comando de um oficial, invadem o quarto, lançando-se sobre o homem e o sujeitando. Conduzido ao comando
militar da zona, é submetido a um interrogatório. Hora após hora, sem um minuto de descanso, as perguntas de
sucedem. Por fim, ante a evidência da tortura próxima, o homem cede. É um minuto de debilidade que o vence, afinal.
Dá um passo que o transforma num traidor. E oferece aos alemães algo, em troca de sua vida. E o “algo” que lhe é
exigido será nada mais, na menos, do que a sua colaboração, para continuar enviando mensagens falsas...
Vencido, o operador aceita. E começa a irradiar respostas ditadas pelo Abwehr (Serviço Militar de Inteligência).
Poucos dias depois, um pombo-correio chega ao território francês. Num pequeno tubo de alumínio, atado numa das
patas, leva um bilhete. O conteúdo é breve: “Informe quantidade forças e números unidades zona Dieppe”.
Os alemães tem a intuição de que algo se prepara. Informes recolhidos em outras fontes assinalam que os britânicos
mostram-se particularmente interessados nessa zona. E armam então a sua rede. O operador francês, que está a serviço
deles, deve irradiar como resposta: “Em Dieppe 110 a Divisão de Infantaria”. O motivo dessa resposta é simples. A 110 a
Divisão não se encontra ali, mas na frente russa, muito distante. Ali, em Dieppe, em troca, estão outras unidades mais
fortes e melhor armadas, a 302a Divisão de Infantaria entre outras, cujo chefe, o Major-General Conrad Haase, recebe
ordens de mantê-las alerta e prontas para qualquer eventualidade.
A operação Dieppe começou sob mais auspícios.
Uma pomba, símbolo da paz, levou a mensagem que desencadeará o drama de muitos povoados e de muita gente.

A força de ataque
Comandante-chefe: Major-General John Hamilton Roberts
Chefe da força naval: Capitão John Hughes-Hallett
Unidades da segunda Divisão Canadense:
Cameron Highlanders of Canada: Tte.-Cel. Alfred Gostling
Fusiliers Mont Royal: Tte.-Cel. Menard
Royal Hamilton Light Infantry: Tte.-Cel. Labbat
Royal Regiment of Canada; Major Douglas Gate
Essex Scottish: Tte.-Cel. Jasperson
South Saskatchewan Regiment: Tte.-Cel. Merritt
Toronto Scottish Machine Gun Regiment: Tte.-Cel. Guy Gostling
Royal Canadian Engineers: Major Sucharov
Galgary Tanks: tte.-Cel. Andrews
Efetivos: 4.963 oficiais e soldados
46 tanques Churchill
Comandos:
Força de Comando n° 3: Tte.-Cel. Durnford Slater
Força de Comando n° 4: Tte.-Cel. Lord Levat
Royal Marine Comando
Contingente de rangers americanos (50 homens)
Efetivos: 1.075 oficiais e soldados
Frota de invasão: Transportes de infantaria Prince Albert, Glengyle, Queen Emma, Princess Astrid, Duke of Wellington,
Prince Charles, Prince Leopold, Princess Beatrix e Invicta
Destróieres Calpe (capitânia), Fernie, Brocklesby, Garth, Bleasdale, Berkeley, Albrighton e Slazak (polonês).
Total de embarcações: 237

O tenente decide
Depois de decidida a realização da operação Dieppe, o passo seguinte constituiu na reunião das tropas de terra, mar e ar
que participariam dela. Passou-se ao treinamento intensivo de seus soldados e oficiais. Tudo isso consumiu tempo,
elementos e dinheiro. Os comandos das diferentes forças participantes realizaram dezenas de reuniões que se
prolongaram, em todos os casos, durante longas horas. Marechais-do-ar, generais e almirantes discutiram
exaustivamente o alcance da operação e suas possibilidades. Altos-comandos, de todas as armas, foram consultados.
Chefes superiores intervieram de uma ou de outra forma, na realização dos planos respectivos. Oficiais de patentes
inferiores a tenente-coronel ignoraram, inclusive durante os trabalhos de preparação da operação, o alcance da mesma.
E não foram poucos os chefes superiores que apenas conheceram vagamente, e em linhas gerais, a amplitude do
desembarque. Contudo, paradoxalmente, a decisão final, o “cumpra-se” definitivo, esteve em mãos de um oficial que
ocupava o último posto no escalão militar. Com efeito, foi um simples tenente que decidiu a operação, que pronunciou o
“sim” decisivo. E foram generais, marechais-do-ar, e almirantes que escutaram em silêncio a sua palavra. O Tenente
Ronald Bell, que foi depois foi membro do Parlamento Britânico, foi o homem que decidiu a viabilidade da operação
Dieppe. O então jovem Tenente Bell foi chamado para participar da última reunião que realizaram os comandantes
supremos das forças de terra, mar e ar. Ali, os altos comandos relutaram ante a responsabilidade de ordenar a execução
do projetado ataque e puseram nas mãos de Bell a decisão final. Bell, na ocasião oficial meteorológico, teve que decidir
e dar o “sim” definitivo. Suas palavras: “Na minha opinião reinará bom tempo na zona do Canal”, foram a aprovação
decisiva. Em seguida, marechais-do-ar, almirantes e generais se mobilizaram. A operação se realizaria. O Tenente Bell
assim decidira...

As defesas de Dieppe
No mês de setembro de 1941, a organização Todt iniciou a construção de defesas na área de Dieppe. Essas defesas
faziam parte da chamada Muralha do Atlântico, uma série de fortificações destinadas a impedir o desembarque dos
efetivos aliados. Os trabalhos no setor de Dieppe consistiram na construção de casamatas de cimento armado, ninhos
para peças de artilharia de grosso calibre, para metralhadoras, alambrados e obstáculos contra as barcaças de
desembarque. Paralelamente à construção das defesas, o General Haase, comandante das forças alemães sediadas na
zona (quatro regimentos da 302a Divisão de Infantaria), ordenou a realização de intensos exercícios destinados a manter
as tropas em ótimas condições de treinamento. Foi assim que a zona compreendida entre Puits e Pourville se converteu
em palco de freqüentes manobras, desembarques simulados e combates na praias.
Durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 1942, as defesas de Dieppe foram reforçadas sem descanso.
Construíram-se novos redutos para peças de artilharia de grande calibre e as cavernas vizinhas da praia foram
convertidas em pontos fortificados, com a adição de ninhos de metralhadora e peças de artilharia de calibre menor,
canhões antitanque e morteiros. Um tanque francês capturado, foi desmontado e sua torre adaptada no extremo anterior
de um dos espigões que protegiam o porto de Dieppe. Esse ponto foi assim convertido num reduto fortificado que
ameaçava o flanco de uma possível força invasora que se aproximasse da costa.
As casamatas eram construídas em cimento e tinham 1.80 metro de altura; a espessura da parede era de 45 cm. Ao longo
da praia se estendiam dois alambrados de arame farpado, separados entre si por um espaço aberto de 5 metros. Perto de
14.000 minas havia sido dispostas em toda a área de Dieppe. As armadilhas “para tolos” eram abundantes e haviam sido
dissimuladas em latas de conservas, ligadas com portas de casas desabitadas ou elementos os mais diversos (lapiseiras,
pacotes, quadros, etc.)
A composição das tropas alemães tinha uma característica curiosa: com efeito, grande parte das unidades eram
integradas por combatentes poloneses, prisioneiros de guerra da campanha da Polônia. O 571 o Regimento possuía em
suas fileiras dois poloneses para cada oito alemães e, em um de seus batalhões, metade de seus integrantes eram da
Polônia.
A área compreendida entre Dieppe e Pourville estava defendida por dois batalhões de infantaria, um batalhão de
sapadores, um batalhão de artilharia, três batalhões de artilharia costeira de obuses pesados, numerosos obuses leves e
baterias de morteiros; além disso, havia inúmeros ninhos de metralhadoras. Também colaboravam na defesa
marinheiros alemães, uma companhia de castigo, e grupos de polícia militar. Quatro regimentos de infantaria,
totalizando 600 homens, e uma companhia de tanques integravam a reserva.

A ponte
Dieppe. A 20 milhas a oeste da cidade se encontra a pequena povoação de Pourville, ligada a Dieppe por uma estrada.
Um rio, o Scie, é o único obstáculo que se interpõe entre as cidades.
De Pourville, precisamente, se aproximam as embarcações que conduzem o Regimento South Saskatchewans, sob as
ordens do Tenente-Coronel Merritt. Sua missão, após o desembarque, será acercar-se de Dieppe pelo flanco e apoiar a
ação das forças que efetuam o ataque principal contra a cidade.
As tropas alemães que defendem a zona de Pourville estão integradas por algumas companhias dispersas que
rapidamente se agrupam ante a ameaça dos invasores. Parte das tropas alemães, efetua uma retirada até a linha natural
de defesa, representada pelo rio Scie, e ali espera o ataque. Os comandos alemães, de acordo com os planos previstos,
localizam a massa de seus efetivos na única ponte que cruza o Scie. A explosão da mesma, reservada para o caso
extremo de não deterem o inimigo, fica nas mãos de uma unidade de demolição.
A chegada dos elementos aliados ao Scie desencadeia o combate. Os alemães, entrincheirados na margem oriental do
rio, impedem, durante longo tempo, a passagem. Só resta um caminho aos canadenses: a ponte. E para ela convergem
os esforços das suas unidades. A manobra, inesperada, encontra distante dela o pelotão de demolição, que se vê assim
impossibilitado de fazer a ponte voar pelos ares. Os alemães, sentindo a iminência concreta do cruzamento do rio por
parte do inimigo, redobram seus esforços para impedi-lo, transformando a ponte no alvo do seu bombardeio. Uma
verdadeira cortina de balas de metralhadoras varrem sua superfície. Os aliados, simultaneamente, convergem sobre a
ponte, e decidem cruzá-la, a qualquer custo. Diversas vezes, os oficiais conduzem seus homens até a cabeceira ocidental
e procuram forçar a passagem. E nas diversas vezes, a conseqüência é a mesma: a retirada, deixando para trás mortos e
feridos. A empresa se torna impossível, na opinião dos comandantes aliados. Mas a travessia é tentada uma vez mais,
com a massa dos efetivos. O resultado é um novo revés. A ponte fica coberta com os cadáveres de dezenas de soldados
canadenses. Outros combatentes se retiram, sob o fogo alemão, levando consigo os feridos.
Uma hora depois, a situação não mudou. O chefe do South, Tenente-Coronel Merritt, reúne seus oficiais e diz: - É
necessário cruzar essa maldita ponte, Precisamos atingir a outra margem sem demora... Em Dieppe esperam e
necessitam do nosso apoio...
Os oficiais subalternos arriscam opiniões: “Os homens tem lutado bem” e “a ponte está coberta pelo fogo inimigo: é
impossível atravessá-la”. Merritt, erguendo-se, lembra a seus homens que para eles não pode existir “impossíveis”. E
ordena a todos que o sigam. Cinco minutos depois, com o Tenente-Coronel Merritt à frente, os soldados canadenses se
aproximam da ponte. Os alemães, imediatamente, abrem fogo cruzado, que varre tudo. Merritt, sem se impressionar,
levando na mão direita o seu revólver de combate, grita: “Adiante! Adiante!” e segue avançando. Os homens caem ao
seu redor. As balas assobiam e recocheteiam contra as estruturas da ponte. Merritt, destemidamente, segue adiante. Parte
de seus homens chegaram já até a metade. Deitados por terra, os canadenses apontam duas metralhadoras pesadas e
respondem ao fogo dos alemães. Merritt, retrocedendo, chega-se a um novo grupo de homens que permaneceram na
cabeceira da ponte e ordena que o sigam. Os soldados obedecem e se lançam às carreiras atrás dos eu chefe. Alguns
homens tombam. Porém Merritt segue em frente. Ao chegar ao meio da ponte dispõe seus homens, e retrocede
novamente. Grita ordens e novos efetivos o seguem. Pela terceira vez avança. Merritt, esgotado, tira o capacete, que lhe
protege a cabeça e corre para a frente. Os homens animados, o seguem. Com o capacete na mão esquerda, e o revólver
na direita, Merritt os incita a seguir em frente. E desta vez não se detém no meio da ponte. Vai adiante. E os homens
correm atrás dele. Dez minutos depois, o Tenente-Coronel Merritt, seguido pelos seus efetivos, captura a cabeça
oriental. Depois dele, todo o regimento cruza a ponte.
A coragem de um homem tornou possível a conquista de uma posição de parecia inexpugnável.

O padre Foote
O fogo alemão aumentava nas praias de Dieppe. Os efetivos aliados buscam a proteção de suas barcaças de
desembarque, numa derradeira tentativa de abandonar as praias. Desordenadamente, porém respondendo ao fogo até o
instante de embarcar, os soldados se retiram rumo às embarcações. Alguns, no entanto, demoram a chegar. Feridos,
arrastando-se, procurando não abandonar os seus companheiros impossibilitados de andar, encontram-se ainda muito
longe das praias. Sozinhos não conseguirão chegar, sem dúvida. Muitos são os que percebem isso. E muitos são os que
voltam, arriscando tudo, para auxiliar seus companheiros. Alguns soldados saltam das barcaças e se lançam novamente
às águas. Sem armas, alguns até sem capacete, correm pela praia, debaixo do fogo inimigo, até onde se encontram os
feridos. Ajudam-nos, e amparando-os, cambaleantes, levam-nos até a beira do mar. Ali, novas mãos se estendem, novos
braços erguem os feridos até as barcaças. A situação porém, está-se agravando. Os alemães, combatendo cada vez mais
perto da praia, já estão sobre eles. Os disparos são feitos a queima-roupa. As balas picoteiam o mar, as areias, as
embarcações. Uma chuva de fogo envolve os fugitivos. Alguns soldados que regressam à praia batem em retirada.
Correndo, parando, fazendo fogo e voltando a correr, os homens tentam chegar até a beira do mar. Enquanto isso, longe
da costa, imobilizados por seus ferimentos, vários soldados canadenses jazem esperando o fim. E então, vê-se
desembarcar um homem. É um soldado. Tem uniforme e capacete. Dois detalhes apenas distinguem-no dos outros
combatentes: não carrega fuzil, e no seu capacete se destaca uma pequena cruz branca. O soldado, combatente de uma
causa que luta há 2.000 anos pela redenção do homem, é o capelão. Trata-se do Padre Foote, um vigoroso sacerdote, de
perto de 40 anos, a pele curtida e os cabelos ralos. O padre Foote, saltando da barcaça, corre pela praia e se acerca do
ferido mais próximo. Passando o braço sob o ombro do caído, levanta-o e suspende-o em suas costas. Depois, correr,
cambaleante, até a barcaça mais próxima e deixa lá o soldado. Regressa à praia e procura outro combatente ferido.
Repete a operação várias vezes, até que não fique nenhum ferido por perto. Por fim, depois de esperar que o último
combatente suba a bordo, o Padre Foote regressa à praia e arroja-se ao solo para evitar os projéteis. Das lanchas, alguns
homens o chamam. Aos gritos avisam que não resta mais nenhum ferido. O padre Foote faz um gesto com as mãos e
aponta as linhas alemães. Ninguém compreende e muitos repetem o chamado. Novamente o padre Foote aponta as
linhas alemães. Por fim, ante a insistência dos chamados, o Padre Foote ergue-se e corre, agachado, até a água. Olhando
então os companheiros que se afastam, grita: - Eles precisam mais de mim do que de vocês! Eu fico!
À bordo, todos ficam em silêncio. Compreenderam que o Padre Foote acabara de renunciar à liberdade para ficar junto
com os soldados prisioneiros. Eles precisam dele.
A História, que somente registra os grandes acontecimentos, não guardará o nome do Padre Foote. Contudo, muitos
homens recordarão, até o fim de suas vidas, a imagem de um soldado, sem fuzil, com uma cruz branca pintada no
capacete, que se inclinou sobre eles e os carregou nos braços, em meio a um dilúvio de balas.

Fugitivos
Depois da derrota, os efetivos aliados capturados pelos alemães foram concentrados ou separados segundo seus postos.
O objetivo era facilitar o transporte dos homens aos seus futuros destinos, nos campos de prisioneiros. Os combatentes
eram agrupados em dois setores: oficiais e suboficiais, e soldados. Os do primeiro grupo seriam transportados para a
Alemanha, para o Oflag VII B, em Eichstatt, Bavária; os do segundo, para o Stalag Landsdorf no leste da Alemanha.
Um deles, o Capitão Browne, durante a viagem para a Alemanha fugiu do trem que o transportava e procurou refúgio na
França ocupada. Lá, porém, se bem pudesse confiar na ação de muitos patriotas franceses, não podia esquecer a polícia
de Vichy, que estava, voluntária e involuntariamente, a serviço da Gestapo. E foi precisamente essa polícia que prendeu
Browne, e o enviou à França ocupada pelos alemães, Porém o capitão não se deu por vencido, e tentou novamente a
fuga. Teve êxito e conseguiu fugir outra vez. E foi, outra vez, capturado. Desta vez, porém, seu destino sofreu uma
variante. Browne foi entregue aos italianos, responsáveis, a partir desse momento, pela sua detenção. O capitão Browne,
sem perder o ânimo e a confiança em suas próprias forças, tentou a fuga pela terceira vez. E, desta vez, foi bem
sucedido. Depois de atravessar a França ocupada, chegou aos Pirineus, e ali, com a ajuda de dois contrabandistas
espanhóis, internou-se na Espanha. Posteriormente, conseguiu chegar até Gibraltar. Dali, em seguida, foi enviado para a
Inglaterra onde chegou a 26 de janeiro de 1943.
Um destino semelhante ao do Capitão Browne, teve também o Capitão Runcie. Também ele teve que escolher entre o
Oflag VII B e a fuga. E preferiu a segunda. Seu itinerário levou-o através da França até Paris. Depois, decidido a
regressar à Inglaterra, abandonou o refúgio inseguro e começou a odisséia. Cidade por cidade, povoado por povoado,
sua rota o foi aproximando da fronteira da Espanha. Por fim, depois de cruzar os Pirineus, chegou a San Sebastian, onde
buscou refúgio no domicílio do cônsul inglês. Mais tarde, a Embaixada da Inglaterra possibilitou-lhe chegar a Gibraltar.
Pouco tempo depois, estava na Inglaterra, pronto para reiniciar a luta.

Morte no Cassino
Nas praias de Dieppe se ergue o edifício do Cassino. Ali, os alemães instalaram um dos seus mais poderosos redutos.
Peças de artilharia leve e dezenas de metralhadoras apontam as bocas ameaçadoras e varrem, com fogo devastador, os
soldados canadenses que avançam para o edifício. Essa estrutura é o único refúgio que pode cobrir o avanço dos
invasores até o interior da cidade. É necessário, portanto, conquistá-la a qualquer preço.
O Capitão Whitaker, seguido por uma dezena de soldados, lançou-se às carreiras até o amplo terraço que rodeia o
prédio. As balas silvam em torno dos homens. O estrondo da artilharia leve, e a metralha, fendem o ar, produzindo
terríveis ecos. Os canadenses, contudo, abrem caminho, arrojando granadas e disparando suas armas leves. Conseguem
chegar assim até o edifício. O inimigo está ali, a poucos metros. Podem ver seus rostos e escutar suas ordens. Porém,
não vacilam. Lançam várias granadas contra uma das pesadas portas e a fazem voar. À frente, penetra no interior do
edifício, o soldado Henderson. Consegue dar dois passos e cai, crivado de balas. Um companheiro, entrando depois dele
atira uma após outra, várias granadas. As explosões abalam o edifício até suas bases. Em meio à fumaça, surgem cinco
soldados alemães, com os braços erguidos. Os canadenses os afastam com as culatras de seus fuzis e seguem
avançando. Inicia-se assim, uma luta mortal, sem piedade, às cegas, nos corredores e nos quartos envoltos em
penumbra. Os canadenses se protegem atrás dos ângulos de um dos salões. Um cabo, seguido por dois ou três soldados,
penetra em outra sala. Ali se encontra um soldado alemão, que lhes aponta sua arma. Com um movimento quase
instintivo, o cabo joga uma granada e se atira atrás de um móvel. A explosão estraçalha o soldado inimigo. Outro
alemão, surgindo das sombras, lança, por sua vez, uma granada sobre o cabo. O projétil cai aos pés do soldado aliado.
Este, erguendo-se de um salto, corre desesperadamente. Às suas costas, a granada explode. O cabo, contudo, salvou a
vida.
Assim, à ponta de baioneta, os canadenses conseguem entrincheirar-se no Cassino. Outros companheiros logo poderão
incorporar-se a eles. A luta continuará.

As forças frente a frente e o número de baixas


O curto, porém violento combate de Dieppe ocasionou grande quantidade de baixas. As forças aliadas, principalmente,
tiveram suas fileiras dizimadas. Os alemães, por sua vez, também sofreram as conseqüências do combate. Não escapou
sem dano a população civil apesar de ter-se mantido afastada, de modo geral, da zona da luta. As unidades canadenses,
principalmente, suportaram o preso da batalha e foram praticamente exterminadas. O total dos efetivos empregados na
operação pelas unidades aliadas e as baixas sofridas foram as seguintes (no gráfico baixo).
As forças alemães totalizaram 600 baixas entre mortos e feridos. A população civil registrou 40 mortos e 40 feridos.

Efetivos Baixas % de baixas


Unidades Navais 3.875 550 14.5
Canadenses 4.963 3.367 68
Comandos 1.075 247 22.9
Rangers americanos 50 13 26
RAF 1.179 153 13

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