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A TRANSFORMAÇÃO DOS MÉTODOS PUNITIVOS DA

MODERNIDADE PARA A CONTEMPORANEIDADE: UMA


COMPARAÇÃO ENTRE AS WORKHOUSES DO SÉCULO XVII E O
PROJETO DE LEI DO SENADO 580/2015

OBJETO

A transformação dos métodos punitivos da modernidade para a contemporaneidade:


uma comparação entre as workhouses do século XVII e o projeto de Lei do Senado
580/2015.

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DA PESQUISA

Esta pesquisa se faz necessária uma vez que abordará o tema sob um aspecto
criminológico, num viés econômico e marxista, estabelecendo conexões entre o sistema
capitalista e o surgimento e transformação do sistema punitivo, numa correspondência
entre crime, mercado e controle penal (PASTANA; SILVA, 2017, p. 2), mais
especificamente nas workhouses, abordadas por Marx em sua obra O Capital, crítica da
economia política; e os fundamentos que dão ensejo à Lei do Senado 580/2015, que se
relaciona, numa primeira impressão, às instituições citadas, mas que acabam por ter
justificativas diferentes, dada a transformação econômica e social ocorrida nos últimos
séculos (RUSCHE; KIRCHHEIMER, 2004, p. 20).

Nesta pesquisa compreender-se-á que as classes sociais mais pobres são


perseguidas pelas sanções penais do estado a partir do novo modelo econômico
capitalista. Na divisão de classes sociais, as classes determinantes moldam o destino das
pessoas menos abastadas. Como tentativa de controle para manter a mão de obra
disponível para o mercado de trabalho. (LUCENA, 2017, pp.75-77)
As medidas penais vão ganhando significado diferente ao longo do processo
histórico. No final do século XVI, as condições de mercado estavam se modificando e
ocorreu a escassez de mão de obra de trabalho, com o sistema mercantilista surgia uma
necessidade de trabalho para dar conta da ampliação do comércio. A dificuldade para
recrutar pessoas para o mercado de trabalho, principalmente na França e na Espanha fez
com que surgissem novas formas de castigos capazes de angariar ganhos econômicos
como: “escravidão nas galés, deportação para novas terras descobertas e a servidão
através de trabalhos forçados. Isso deixa evidente que o método penal escolhido tinha
sua razão de ser mais no caráter econômico do que no seu aspecto meramente punitivo.”
(RUSCHE; KIRCHHEIMER, apud, LUCENA, 2017, p. 79).

Já século XVI os mecanismos de penas naquela época, como as prisões, estavam


se esvaziando em seu valor, pois não compensava os custos e supervisões das pessoas
presas, além de que as prisões não cumpriam mais o papel de causar temor às pessoas.
Passou-se a reivindicar o retorno das penas corporais, mas os ideais humanistas se
opuseram fortemente a essa ideia. (LUCENA, 2017, pp. 79-80).

A alteração da Lei nº 7.210/84 remete às antigas medidas de punições de séculos


passados, forçando pessoas que cometeram atos criminosos a trabalharem para a
máquina do capital, evidenciando, assim, que as medidas penais, como trabalhadas por
Rusche e Kirchheimer (2004), são determinadas pela economia.

Esta pesquisa terá como objetivos estudar como o surgimento do capitalismo


alterou os propósitos punitivos, estudar a correlação entre as workhouses e a Lei do
Senado 580/2015, observando as particularidades e semelhanças nos objetivos dessa e
daquelas.

METODOLOGIA

Nessa pesquisa, será utilizada a abordagem qualitativa, já que ela permite melhor
compreender o fenômeno no contexto do qual faz parte, analisando-o numa perspectiva
integrada (GODOY, 1995, p. 21).
Terá também cunho explicativo, pois, segundo Gil (2008, p. 28), a pesquisa
explicativa tem como objetivo básico a identificação dos fatores que determinam ou que
contribuem para a ocorrência de um fenômeno. É o tipo de pesquisa que mais aprofunda
o conhecimento da realidade, pois tenta explicar a razão e as relações de causa e efeito
dos fenômenos.

Adotar-se-ão como técnicas de pesquisa a bibliográfica e documental, já que se


pretende utilizar, além pesquisas científicas sobre o tema, documentos jurídicos. De
acordo com Godoy (1995, p. 21), “a pesquisa documental representa uma forma que
pode se revestir de um caráter inovador, trazendo contribuições importantes no estudo
de alguns temas”.
No que concerne ao método, esta pesquisa se valerá do dedutivo, pois é o que
melhor permite analisar um contexto geral que afeta, por conseguinte, individualidades
(MARCONI, LAKATOS, 2003, p. 92), como será necessário para estudar os princípios
modernos e contemporâneos da pena e como eles afetam uma população específica.

RESULTADOS E CONCLUSÕES

As workhouses foram criadas com o intuito de habilitar pessoas para o mercado


de trabalho que precisava cada vez mais de mão-de-obra (PASTANA, SILVA, 2017,
p.3), passando por um lento processo de criminalização da miséria, como sustenta Marx
(1996, p. 344). Dessa forma, há semelhanças com o Projeto de Lei do Senado 580/2015
no sentido de transformar o preso em mão-de-obra, ainda que inútil para o real mercado
de trabalho, já que suas condições serão piores dentro da prisão do que fora dela
(LUCENA, 2017, p. 75-76).

Entretanto, é possível notar que, com a transformação dos fundamentos


punitivos, que passaram a exigir uma resposta do preso e a crescente tendência de
responsabilização mínima do estado, o qual estuda cada vez mais avidamente a
privatização, o preso passa de sujeito mão-de-obra para a negação de sua subjetividade
como matéria-prima (PASTANA; SILVA, 2017, p. 10-11), distanciando-se do propósito
da workhouses. O Projeto de Lei do Senado 580/2015 vem nesse sentido de redução da
responsabilidade do estado com o preso e marginalização das pessoas que cometeram
crimes, numa cobrança de resposta à sociedade, muito mais do que preparação para o
mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei do Senado 580/2015. Altera a Lei nº 7.210,
de 11 de julho de 1984 – Lei de Execução Penal, para estabelecer a obrigação de o preso
ressarcir o Estado das despesas com a sua manutenção. Disponível em
<https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=577937&disposition=inline>.
Acesso em: 25 de jul. de 2018. Texto Original.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas,
2008.
GODOY, Arilda Schmidt. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de
Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 20-29, maio/jun. 1995.
Disponível em:
<http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/disciplinas/392_pesquisa_qualitativa_godoy2.p
df> Acesso em: 07 jul. 2018.
LUCENA, Mariana Barrêto Nóbrega de. A criminologia marxista de Rusche e
Kirchheimer. RBSD Revista Brasileira de Sociologia do Direito, v. 4, n. 3, p. 68-85,
set./dez. 2017.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa:
planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração,
análise e interpretação de dados. 5. ed. 3. São Paulo: Atlas, 2003.
MARX, K. O capital: crítica a economia política. Tradução de Regis Barbosa e Flávio
R. Kothe. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Tomo 2.
PASTANA, Debora Regina; SILVA, Danler Garcia. A lógica econômico-punitiva em
mutação: do sujeito como mão-de-obra ao não-sujeito como matéria-prima. Revista de
Direito Brasileira, São Paulo, v. 18, n 7, p. 374 – 392, set./dez. 2017.
RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. Tradução de
Gizlene Neder. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004.

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