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Da atualidade dos conceitos de caráter e composição.

A tarefa de identificar tendências em uma determinada obra de arte e avaliar se


esta é de qualidade, não é tão fácil como parece. Diante de tantos exemplos
desiguais ao seu redor, o crítico precisa de ajuda para não se perder em seu
trabalho e entregar um trabalho incompleto e confuso.

Para que isso não ocorra, as obras de arquitetura devem ser divididas em
categorias, com a ajuda de filtros para ordenar essas produções. Mas quais
categorias analíticas adotar? Parece que o melhor caminho seria olhar a
produção atual a partir de alguns conceitos ligados à pratica do projeto.

Os conceitos aplicáveis à análise de arquiteturas de qualquer período são:


composição e caráter. Durante os dois últimos séculos, acreditou-se que para
um edifício ser considerado de qualidade, teria que ser constatada a presença
de uma composição apropriada e um caráter adequado. Esses dois conceitos
são válidos até hoje para a concepção arquitetônica.

O conceito de composição durante muito tempo teve uma conotação negativa.


Era associado à tradição acadêmica de imitação estilística. A noção de
composição sempre foi baseada no entendimento de que qualquer artefato
arquitetônico é um todo formado por partes. No século XVIII, na Inglaterra, surgiu
um segundo conceito de composição: “o arranjo ou justaposição de diferentes
corpos para formar um todo unitário.”

Mais adiante, no século XIX, a composição passa a ser um procedimento


segundo o qual o artista cria a partir “do nada”, segundo as leis geradas no
interior da própria obra.

O conceito de caráter é mais complexo. Para Norberg-Schulz o caráter de um


espaço ou edifício é determinado por sua constituição física. Assim, todo espaço
ou edifício teria algum tipo de caráter.

A presença de caráter, desde Quatremére de Quincy, é decorrente de alguma


particularidade evidente, aquilo que torna o edifício único.

Walter Lucas Soares


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Norberg-Schulz define caráter como a atmosfera geral de um lugar. Para Jean


Louis Nicolas Durand, o caráter de um edifício está diretamente ligado à sua
distribuição, é resultante da combinação de fatores ao mesmo tempo
bidimensionais, tridimensionais e de relação com o seu entorno.

Tipo de caráter:

 Caráter imediato: definido pelas técnicas construtivas e pelos


materiais usados na construção de um edifício.
 Caráter genérico: determinado pela estrutura formal e pelas
relações que esta determina entre os espaços interiores por um
lado, e entre edifício e contexto, por outro lado.
 Caráter essencial: basicamente abstrato, que consiste no conteúdo
psicológico que a obra é capaz de suscitar: estranheza, infinitude,
variedade, fantasia, serenidade, etc.
 Caráter programático vem em duas formas:
I. Uma delas visa exprimir, por meio do emprego de uns
poucos elementos que representam o topo, o
propósito para o qual o edifício se destina.
II. A segunda forma, transforma componentes
essenciais de um edifício, não necessariamente
reveladores de sua função, em elementos
expressivos como, por exemplo, escadas e
elevadores, sistemas mecânicos, ou a própria
estrutura.
 Caráter associativo: se baseia no emprego de elementos
convencionais, mais ou menos literais, que visam efetuar transposição de
caráter, ou seja, ganha novo significado por associação com um objeto
conhecido, existente ou não, que seja valorizado por um determinado
grupo social.

Portanto, composição correta e caráter adequado não podem ser definidos de


maneira permanente. A relativização destes conceitos vai depender sempre da
confrontação das escolhas feitas com o programa a que o objeto deve atender e
o contexto físico/ cultural/ socioeconômico em que ele se insere.

Walter Lucas Soares


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Walter Lucas Soares

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