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Resumo
Este artigo trata do princípio da Proteção ao Trabalhador no âmbito do Processo do Trabalho. Ele se
inicia mostrando porque o princípio é da maior relevância do processo do trabalho devido à sua
instrumentalidade em relação ao Direito Material do Trabalho. Relata como esse Princípio tem seu
papel da garantia da efetividade das Normas Trabalhistas e como, com embasamento nele, foram
estabelecidas as regras mais protecionistas aos trabalhadores no Processo.
Traz ainda os apontamentos da melhor doutrina sobre o tema e como a jurisprudência tem lidado
com diversos pontos que abraçam a temática.
Introdução
Américo Plá Rodriguez já ensinava à respeito da razão de existência deste princípio, como um
necessário instrumento de efetivação dos Direitos dos Trabalhadores :
Mauro Schiavi, ao tratar do tema do Princípio da Proteção do Trabalhador, diz que poderíamos
chamá-lo de Princípio da Igualdade Substancial das partes do processo trabalhista. O que nos parece
muito acertado, uma vez que é exatamente isso que ele faz, cria uma desigualdade de regras para as
diferentes partes para que, em juízo, elas tenham o mesmo poder de demonstrar e comprovar as suas
alegações e argumentos. A regra tem fundamento na nossa Constituição Federal no artigo 5º, caput e
inciso XXXV, que dizem:
“art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
O Princípio processual da Proteção ao Trabalhador garante que o trabalhador, por sua inferioridade
de condições não pode ser afastado e impedido de pleitear em juizo os seus direitos e é por esse
motivo que o juiz no caso concreto deve corrigir as desigualdades permitindo o acesso à justiça, a
efetivação das leis e realização do tratamento igualitário. Não corrigir as desigualdades existentes
entre empregados (ou trabalhadores) e empregadores é inviabilizar àqueles o acesso ao Poder
judiciário e análise do seu pleito.
No entanto não é toda a doutrina que é favorável à sua aplicação. Na verdade há parte dos
doutrinadores que olhem muito desconfiadamente para a maneira como ele é aplicado nos dias de
hoje. É o caso do professor Wagner Giglio, que relata a existência de benefícios a apenas uma das
partes, como vemos:
Os doutrinadores mais desconfiados, como Sérgio Pinto Martins, costumam alertar para a
importância de se respeitar a distrinuição legal do ônus probatório para evitar que o trabalhador seja
privilegiado. Para tanto ele argumenta:
Há autores que não percebem no Processo do trabalho princípios próprios da esfera processual
trabalhista. É o caso de Valentim Carrion que, dentre outros, dividem o Direito Processual em civil e
penal apenas. Para ele o direito Processual Trabalhista seria apenas uma subespécie do Direito
Processual Civil. Assim, o Princípio da Proteção ao Trabalhador, por não ser um princípio do
Processo Civil, não seria uma das bases do Processo do Trabalho, como pensamos de fato ser. A ideia
presente na obra deste doutrinador, em nossa opinião, não respeita o Processo do Trabalho como
ramo autônomo do direito mas o trata como parte dependente do Processo Civil. Realmente o
Processo do Trabalho tem ligação próxima e divide mesmos institutos com o Processo Civil, mas dele
se distancia em alguns relevantes pontos por ter origem diferente e principalmente por ser
instrumento de um Direito diferente e, por esse motivo, albergar distintas preocupações do
legislador. Apenas a título de ilustração enquanto no Direito civil temos a máxima “os contratos
devem ser cumpridos” no direito do trabalho, sendo o contrato assinado pelas partes abusivo para o
trabalhador e ferir as normas postas na CLT, mínimas garantidoras da dignidade do trabalhador, o
contrato não deve ser cumprido, ao contrário, as cláusulas abusivas são consideradas nulas e o
empregador responde pelos prejuízos que causar ao empregado.
O caráter protecionista do Direito Material do Trabalho, de tutelar o trabalhador, sempre mais frágil
nas relações de trabalho, se transmite e vigora também no Direito Processual do Trabalho. Isso
porque a inferioridade do trabalhador perante o empregador não desaparece uma vez que ele adentre
o judiciário visando o atendimento de seus direitos legalmente assegurados, ao contrário, ela persiste
patente no processo. E essa situação ocorre em virtude de o Direito Processual ser instrumental em
relação ao Direito material, ou seja, por aquele ser meio através do qual se garante a aplicação
jurisdicional deste. Dentre as normas que corroboram o princípio protecionista do processo do
Trabalho podemos destacar, a título de ilustração, dentre as principais: a isenção de pagamento de
custas e despesas; a assistência judiciária gratuita; a inversão do ônus da prova e o impulso
processual ex officio.
O "in dubio, pro operário", ou, como também é chamado em várias das mais respeitadas
doutrinas, “in dubio pro misero”, que se trata da previsão posta em lei de que, ocorrendo
alguma dúvida quanto à aplicação de normas relacionadas ao direito do empregado, a solução
deverá se pautar pela escolha de uma regra mais favorável a este, ou seja, dentre as várias
interpretações que poderia adotar o juiz diante de uma norma posta ele deverá escolher a mais
favorável ao trabalhador.
Aplicação da Lei que trouxer a norma mais favorável. O que significa que se houver mais de
uma Lei aplicável ao caso concreto sempre a opção do aplicador do direito deverá ser a de
privilegiar a adoção da norma que seja a mais benéfica ao trabalhador, não importando que a
norma preterida seja hierarquicamente inferior àquela aplicada. Hieraquia esta que extraimos
da Teoria de Hans Kelsen, em que se estabelece uma ordem valorativa de normas pela qual a
norma constitucional, por seu processo de criação e edição, merece mais respeito do que as Leis
Complementares e Ordinárias, e estas mais do que os Decretos e Regulamentos. Também não é
relevante na aplicação da regra que trouxer a norma mais favorável a anterioridade, ou seja,
não importa o momento em que foram publicadas as normas a serem adotadas. Aqui não se
aplica a máxima constitucionalista de que a norma posterior revoga a anterior que trate do
mesmo tema. Isso porque se ainda estiver em vigência a norma mais favorável ao trabalhador
sempre deve prevalecer à outra menos favorável, ainda que esta última seja mais atual.
Aplicação da condição mais benéfica ao trabalhador, que determina que a edição de uma nova
norma trabalhista nunca terá o poder de diminuir os direitos adquiridos pelo trabalhador. A
aplicação deste subprincípio deve ser entendida sob a ótica de que as vantagens já adquiridas
pelos trabalhadores (seja nas normas presentes no ordenamento jurídico pátrio ou naquelas
previstas nos contratos de trabalho ou nas Convenções Coletivas e Acordos Coletivos de
Trabalho) não podem mais ser retiradas, como uma expressão do direito adquirido, previsto na
Constituição Federal no artigo 5º, inciso XXXVI. Se temos, por exemplo um Contrato de
Trabalho e há alguma mudança na norma interna da empregadora esta revogação de benefícios
só poderá ser aplicada aos contratos de trabalho futuros e não mais àqueles que estão sendo
executados, pois nestes casos estes empregados já incoporaram esses benefícios à suas esferas
de direitos. Lembramos aqui que a essa regra, como todas, se aplicam as exceções previstas na
lei, que não vamos exemplificar por não ser do nosso interesse no momento.
Uma visão mais atenta ao observar estes dois últimos subprincípois filhos do princípio do
protecionismo processual do trabalhador perceberiam que na verdade são apenas diferentes
vertentes do primeiro subprincípio aqui elencado, o do “in dubio, pro operário”. Este olhar perspicaz
perceberia que aplicar a interpretação mais favorável de uma norma, aplicar a melhor Lei no sentido
desta trazer as regras que melhor aproveitam ao trabalhador e dizer que a condição do trabalhador
não pode regredir pela edição de uma nova norma, são in suma, a mesma coisa: aplicar ao caso
concreto, de todas as normas vigentes e aplicáveis, a que melhor atender aos interesses dos
trabalhadores.
Nos parece que, de fato, se o juízo estivesse impossibilitado de igualar processualmente as partes
observando que o trabalhador raramente detêm as provas de que precisa para comprovar os fatos dos
quais decorre seu direito não seria viável permitir que o trabalhador adentrasse a Justiça sem um
procurador. No entanto é facilmente perceptível que, mesmo diante da presença de um Advogado
que defenda os interesses do trabalhador em juízo, ainda assim a relação processual ainda é marcada
por uma desigualdade gritante, pois é a maior parte dos objetos de prova é de posse do empregador e,
por esse motivo, o juiz deveria sempre, caso a caso, averiguar quem é que tem a maior facilidade ou
aptidão para produzir a prova, mesmo que isso seja divergente da previsão legal. Mas essa é a nossa
opinião, que difere da opinião do autor do mencionado artigo tanto como parece diferir do
entendimento de José Augusto Rodrigues Pinto, como veremos adiante.
O professor Rodrigues Pinto nos ensina que “o Direito Processual do Trabalho, em cujo ventre se
confrontam indivíduos asperamente desigualados por sua condição econômica e, consequentemente,
social, é um campo fértil para sua aplicação”, com isso querendo dizer que o Direito Processual do
Trabalho é um lugar extremamente propício para a aplicação do Princípio do Protecionismo ao
Trabalhador. Especialmente porque, para o professor, o Processo do Trabalho tem a importante
tarefa de fazer prevalecer a regra de que todos são iguais perante a lei, ou seja, a igualdade de poderes
e forças durante o julgamento.
Almeida, imbuído das mesmas ideias, questiona se poderia “o juiz, na ausência de provas, aplicar a
regra do in dubio pro misero e solucionar a lide em favor do trabalhador?” Ou, se poderia,
“interpretar a norma jurídica em favor do obreiro? E, tendo conhecimento das dificuldades do
trabalhador”, (se poderia) “dispensá-lo do pagamento das despesas processuais?” O que o autor
pretendeu com esses questionamentos foi justamente investigar os limites que existiriam à aplicação
deste princípio. Neste espaço ele levanta a interessante discussão de ponderação entre Isonomia e o
Princípio do Protecionismo no processo do Trabalho, e assim questiona: “Se o protecionismo é
princípio norteador do Direito do Trabalho, incontestável afirmar que a regra da isonomia, e seus
princípios decorrentes, são aplicáveis ao processo trabalhista.”[8]
(file:///C:/Users/luciana.salgado/Documents/Artigo%20n.1%20Bloco%201%20da%20P%C3%B3s.doc#_ftn8) Concluindo
que, por este motivo, ou seja, por serem ambos princípios igualmente importantes, devemos conciliar
a sua aplicação para impedir a anulação de algum deles e encontrar o equilíbrio entre a proteção do
direito material e a isonomia do processo.
A respeito dessa busca do equilíbrio entre os dois princípios o professor RODRIGUES PINTO nos
ensina que:
A partir desta declaração percebemos a preocupação que tem o professor em diferenciar a proteção
ao trabalhador dada no bojo do processo de dar uma vantagem no processo ao trabalhador. Para ele
haveria um risco muito grande de se confundir a proteção ao trabalhador com uma tutoria realizada
pelo magistrado, o que quebraria a isonomia. Rômulo Luiz Salomão de Almeida, em seu artigo
referenciado anteriormente, defende que o juiz, em nenhuma hipótese, aplicar o in dubio pro misero
quando houvesse ausência de provas para julgar a lide favoravelmente ao trabalhador. Em sua
opinião cabe ao juiz “observar quem não se desvencilhou do ônus de produção da prova e, a partir
deste raciocínio, decidir a lide, seja contra o empregador, seja em desfavor do empregado”. Além
disso ele se preocupa muito seriamente em afirmar que “ao processo não interessa saber quem tem
maior dificuldade em provar os fatos alegados. Isto é posto para o direito material”. O que difere, e
muito, do nosso entendimento conforme anteriormente tentamos explicar. Para ele ao processo do
trabalho foram estipuladas as regras de divisão do ônus da prova e cabe ao aplicador apenas ver
quem é que tinha esse ônus, devendo o julgador analisar a questão e julgar o pedido
independentemente do in dubio pro misero, como assim está determinado pelo Diploma Processual,
art. 333, e pelo art. 818 da CLT.
A Consolidação das Leis do Trabalho regula a distribuição do ônus da prova no seu art. 818, em que
diz: a prova das alegações incumbe à parte que as fizer. Regra semelhante traz nosso Código de
Processo Civil no art. 333, que afirma ser do autor o ônus da prova quanto aos fatos constitutivos de
seu direito, e do réu quanto aos fatos extintivos, impeditivos e modificativos do direito do autor.
No entanto, apesar de parte da jurisprudência seguir parecendo esquecer de um dos princípios mais
básicos do Processo do Trabalho, é com felicidade que percebemos decisões em que se atenta para a
Aplicação da Norma mais Benéfica ao Trabalhador:
Conclusão
Para os que estudam o Direito Processual do Trabalho sabem a importância que esse princípio
que foi objeto do nosso estudo tem em razão de sua instrumentalidade para o Direito do Trabalho. É
em razão da origem do Direito do Trabalho e da necessária proteção ao trabalhador, que é parte em
inferioridade econômica, social e quase sempre em subordinação jurídica. É em consequência de o
trabalhador, na maior parte das vezes, não possuir os documentos probatórios dos seus direitos.
Por todos esses motivos verificamos que na aplicação do Direito do Trabalho, ou seja, durante
o processo que se dá na esfera trabalhista, os aplicadores devem se atentar para caso a caso
identificar qual a interpretação deve ser dada a determinada norma para que ela seja a melhor para o
empregado, para que seja adotada a melhor norma a ele aplicável. O juízo deve, ao se deparar com a
realidade, distribuir o ônus probatório conforme a aptidão para a sua produção.
Bibliografia Consultada
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RODRIGUES PINTO, José Augusto. Processo Trabalhista de Conhecimento, São Paulo: LTr, 5ª ed.,
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Autor
Luciana Salgado de Oliveira
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