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ACÓRDÃO Nº: 20090325790 Nº de Pauta:008

PROCESSO TRT/SP Nº: 01302200601702000


RECURSO ORDINÁRIO - 17 VT de São Paulo
RECORRENTE: Lilian Barretto
RECORRIDO: 1. Natura Cosméticos S/A 2. Sercom S/A 3.
Cooperdata Coop Trab Prof Proces Dados e

EMENTA
RELAÇÃO DE EMPREGO CONFIGURADA.
INTERMEDIAÇÃO FRAUDULENTA DE
MÃO-DE-OBRA. FALSO COOPERADO. APLICAÇÃO
DO ART. 9º DA CLT. A prestação pessoal
de serviços exclusivamente para uma
empresa, no desempenho de funções
ligadas à atividade-fim do
empreendimento, submissão às ordens e
mediante benefícios típicos do vínculo
de emprego, como a ajuda alimentação, o
adiantamento salarial e o
vale-transporte, levam à conclusão que
foi arregimentada mão-de-obra essencial
através de contratação fraudulenta de
cooperativa. A adesão à cooperativa
perde substância ante os elementos
fáticos que demonstram a inequívoca
relação de emprego. Configurado o liame
empregatício para o tomador, mascarado
por evidente fraude, aplica-se do art.
9º da CLT. Vínculo empregatício
reconhecido com a empresa que subordinou
e assalariou a empregada.

ACORDAM os Juízes da 4ª TURMA


do Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região em:
por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso
ordinário para julgar parcialmente procedente o pedido a fim
de reconhecer o vínculo empregatício com a SERCOM S/A no
período de 03.03.2005 a 30.06.2005, condenando
solidariamente a COOPERDATA e de forma subsidiária a
terceira reclamada NATURA COSTMÉTICOS, devendo os autos
retornar à origem para julgamento dos pedidos remanescentes,
como de direito, não havendo custas neste momento
processual, tudo nos termos da fundamentaçao do voto.

São Paulo, 05 de Maio de 2009.


SERGIO WINNIK
PRESIDENTE

PAULO AUGUSTO CAMARA


RELATOR

ROCESSO TRT/SP Nº 01302200601702000 – 4ª TURMA


RECURSO ORDINÁRIO DA 17ª VARA DE TRABALHO DE SÃO PAULO
RECORRENTE: LILIAN BARRETTO
RECORRIDAS: NATURA COSMÉTICOS S/A
SERCOM S/A
COOPERDATA COOPERATIVA DE TRABALHO DE PROFISSIONAIS DE
PROCESSAMENTO DE DADOS E INFORMÁTICA

Ementa: Relação de emprego configurada. Intermediação fraudulenta de mão-de-obra.


Falso cooperado. Aplicação do art. 9º da CLT. A prestação pessoal de serviços
exclusivamente para uma empresa, no desempenho de funções ligadas à atividade-fim do
empreendimento, submissão às ordens e mediante benefícios típicos do vínculo de
emprego, como a ajuda alimentação, o adiantamento salarial e o vale-transporte, levam à
conclusão que foi arregimentada mão-de-obra essencial através de contratação
fraudulenta de cooperativa. A adesão à cooperativa perde substância ante os elementos
fáticos que demonstram a inequívoca relação de emprego. Configurado o liame
empregatício para o tomador, mascarado por evidente fraude, aplica-se do art. 9º da CLT.
Vínculo empregatício reconhecido com a empresa que subordinou e assalariou a
empregada.

Inconformada, com a r. sentença de fls. 293/295, interpôs a reclamante recurso ordinário


às fls. 297/305, alegando, em síntese, equívoco na valoração do conjunto probatório e na
aplicação do direito. Insiste no reconhecimento do vínculo empregatício, pois se ativava
de forma onerosa, pessoal e habitualmente executando a atividade-fim da tomadora,
SERCOM, restando configurada a intermediação de mão-de-obra, no período de
03.03.2005 a 30.04.2006, sendo que a partir de 1.05.2006 foi registrada na mesma função
"operadora de telemarketing" pela primeira reclamada. Assevera que recebia salário fixo
"por hora" e que os serviços eram prestados de forma subordinada. Diz, ainda, que os
serviços receberam o rótulo de "cooperados" apenas para desvirtuar a verdadeira natureza
trabalhistas e sonegar os direitos assegurados ao trabalhador. Busca, por fim, a
condenação da terceira reclamada Natura efetiva beneficiária dos serviços prestados em
regime de terceirização, na qualidade de responsável subsidiária.

Custas isentadas à fl. 295.


Contra-razões às fls. 3309/363 e 315/334.
Desnecessário o r. parecer da D. Procuradoria do Ministério Público do Trabalho.
É o relatório.
VOTO
Conheço do recurso, uma vez que presentes os pressupostos legais de admissibilidade.

Com efeito, merece acolhida a irresignação obreira.


A reclamante, ora recorrente, insiste no reconhecimento do vínculo empregatício, por
reputar fraudulenta sua contratação através da cooperativa e por entender que as provas
demonstram, a contento, os elementos caracterizados da relação de emprego, nos moldes
do art. 3º Consolidado.
Noticia a reclamante na peça inicial que a contratação se efetivou sob o rótulo de "sócia
cooperada" em razão da intervenção da segunda reclamada COOPERDATA, mas para
prestar serviços à primeira ré SERCOM, a qual, por sua vez, e em regime de
terceirização, atuou na qualidade de empresa prestadora no fornecimento de serviços à
terceira reclamada NATURA.
Informa, ainda, ter trabalhado como "cooperada" no período de 03.03.2005 a 30.04.2006,
quando teve formalizada a sua contratação pela segunda reclamada SERCOM, nas
mesmas condições de trabalho anteriores ao registro, quando exerceu a função de
"operadora de telemarketing", conforme anotação na CTPS de fl. 15.
Assiste-lhe razão.
O exame dos autos revela que a prestação de serviços restou incontroversa, embora a
recorrida haja imputado-lhe a natureza jurídica autônoma sob o formato de
cooperativismo.
Ao fazê-lo, a demandada carreou para si o encargo probatório, nos termos dos artigos 818
da CLT e 333, II do CPC. Entretanto, não logrou produzir prova eficiente e capaz de
corroborar a tese defensiva.
Contrariamente ao foi decidido pelo Juízo de origem, todo o conjunto probatório
consubstanciado nos autos trilha no sentido de evidenciar a relação empregatícia nos
moldes preconizados no art. 3º da CLT e a fraude perpetrada no sentido de descaracterizar
o contrato de emprego.
Ressalto, desde logo, que o objeto social da tomadora de serviços, SERCOM S/A, é,
dentre outras, a gestão de relacionamento de clientes, funcionários e fornecedores
(estatuto social, fls. 57/66).
A reclamante foi admitida para desempenhar as atividades de operadora de telemarketing,
ou seja, realizar os procedimentos de relacionamento e prestava serviços para a
SERCOM, exercendo função ligada exatamente à atividade-fim da mesma e mediante o
cumprimento de ordens.
Ante a necessidade de obter mão-de-obra para a consecução de atividade-meio, a terceira
reclamada NATURA firmou contrato de prestação de serviços de call center com a
primeira reclamada (fls. 188/201) e, sob a modalidade de terceirização, essa última
beneficiou-se pelos serviços prestados pela autora.
Salta aos olhos os requisitos caracterizadores da relação de emprego, bastando uma
simples análise do documento de fl. 16. Dele extrai-se que a contratação da recorrente se
efetivou em 03/03/2005, data indicada no campo "início do contrato", mediante o
recebimento de salário que teve como unidade de referência o valor da hora trabalhada
acrescido do valor pago a título de "ajuda de custo por dia" e obrigada ao cumprimento
de horário pré-determinado, elementos típicos da relação de emprego.
E nem se argumente eventual concordância da reclamante com tal esquema de trabalho,
porquanto é juridicamente irrelevante. Comprovada a existência de labor nos moldes
celetistas, não pode o empregador se eximir de suas obrigações primárias. Nesse
contexto, perde substância o documento comprobatório da adesão à cooperativa, utilizado
como mero instrumento formal destinado a mascarar objetivos escusos, ante a
preponderância das normas trabalhistas de ordem pública e da prevalência do princípio
do contrato-realidade apto a repudiar manobras destinadas a desvirtuar direitos
trabalhistas legalmente assegurados (art. 9º da CLT).
O disposto no artigo 442 da CLT não inibe o julgador de perquirir sobre a presença das
condições tipificadoras do verdadeiro trabalho em sistema de cooperativa, ante a
possibilidade da utilização de tal sistema como simples fachada apto a camuflar a
qualidade de autênticos empregados em pseudo-cooperados.
E esse é o caso em apreço, porquanto, a prestação dos serviços como sócia cooperada
mostrou-se fictícia, destinada apenas à intermediação de trabalho subordinado, com o
único objetivo de assegurar vantagens para terceiros, numa verdadeira desvirtuação do
sistema cooperado ante a existência de procedimentos e métodos de trabalho que com ele
não se compatibilizam, em evidente afronta aos princípios e garantias trabalhistas.
Ademais, quanto a esse aspecto, chama a atenção ainda, o fato de que a reclamante
iniciou trabalhando como "sócia cooperada", exercendo as funções de "operadora de
telemarketing" e assim permaneceu até 30.04.2006, sendo certo que a partir de
01.05.2006, teve o contrato de trabalho pela primeira reclamada SERCOM, a real
empregadora, sem que nenhuma alteração fosse pactuada ou levada a efeito no dia-a-dia
da trabalhadora.
O representante da primeira ré, em depoimento à fl. 280 afirmou que :
"a reclamante fazia parte do atendimento da 3ª ré; que a reclamante continuou no mesmo
local, com as mesmas funções; que mudou a forma de pagamento; que antes era horista e
passou a ser mensal; que não sabe quanto a reclamante ganhava como horista; que ...
respondia para os líderes e supervisores...."

A primeira testemunha da autora asseverou à fl. 281 afirmou que os líderes responsáveis
pelas ordens de serviços eram da primeira reclamada Sercon. A segunda testemunha
obreira, em consonância ao depoimento anteriormente prestado, confirmou que o trabalho
se desenvolvia sob os comandos dos líderes da equipe (fl. 282).
Surge evidente o requisito da subordinação, elemento essencialmente caracterizador da
relação de emprego que se amolda aos institutos celetistas e é incompatível com o
cooperativismo.
Além disso, a única testemunha da reclamada confirmou que ele próprio foi admitido na
qualidade de cooperado e posteriormente registrado, sem nenhuma diferença prática em
relação ao trabalho, tanto antes quanto depois do registro. Restou claro, portanto, que o
tratamento conferido as cooperados era o mesmo dispensado ao empregado comum. É
justo, portanto, que recebam a mesma proteção legal.
Não se coadunam ainda com tal sistema o recebimento de valores fixos, mais
assemelhados a salários, propriamente ditos, ainda que rotulados de "produção"
Nada há ainda, em desabono dos pressupostos da pessoalidade e da continuidade,
também caracterizadores da relação de emprego.
Dessarte, conclui-se que a demandada arregimentou mão-de-obra essencial à consecução
de sua atividade-fim através da Cooperativa de Trabalho de profissionais de
Processamentos de Dados e Informática – COOPERDATA, e que a relação de emprego
está mascarada por evidente fraude.
Despicienda a tese defensiva formulada com supedâneo na legislação pertinente às
sociedades cooperativas (Lei nº 5.764/71 e art. 442, parágrafo único da CLT), pois o ato
jurídico consubstanciado na contratação da reclamante na qualidade de cooperado é nulo.
Não é permitido olvidar que a relação de emprego é informada pelo princípio do contrato
realidade e qualquer manobra destinada a desvirtuar direitos trabalhistas legalmente
assegurados está eivada de nulidade.
A respeito da matéria, doutrina e jurisprudência já se manifestaram, conforme transcrito:

Cooperativa. Vínculo de Emprego. Reconhecimento. O instituto do Cooperativismo (Lei


nº 5.764/71) deve ser analisado com reservas, tendo em vista que pode ser utilizado como
forma de fraudar a aplicação dos direitos trabalhistas, desvirtuando-se de seu real
objetivo social. (TRT 6ª Reg., Proc. RO-1804/97; Rel. Juiz Gilvan de Sá Barreto; BJ nº
6/97).
Outros aspectos relevantes a serem destacados é a fixação da trabalhador junto a um
único tomador e a inexistência de vínculo associativo que lhe garanta participação ativa
nos interesses comuns, características essas que, somadas às evidências anteriores,
distanciam-se das genuínas cooperativas e deixam entrever a fraude, a atrair a incidência
do disposto no art. 9º da CLT.
Considerando que a contratação da prestação de serviços, da forma como exposta, não
atende aos requisitos de adesão à cooperativa nos moldes da Lei nº 5.764/71 e que estão
demonstrados os pressupostos do art. 3º da CLT e que o art. 9º da CLT, reputam-se nulos
quaisquer atos que tenham por objetivo privar o empregado dos direitos que lhe são
assegurados pela Legislação Trabalhista, sendo certo ainda que a relação empregatícia
não se desnatura apenas pelas características que o empregador pretende lhe atribuir,
porque melhor se afinam às suas expectativas.
Dessarte, é impositivo o reconhecimento do vínculo empregatício diretamente com a
primeira reclamada SERCOM S/A, mantidas as demais reclamadas no pólo passivo,
sendo a segunda (COOPERDATA) declarada responsável solidária ante a fraude
constatada em relação aos direitos trabalhista, e a terceira (NATURA COSMÉTICOS) na
qualidade de responsável subsidiária, à vista da condição de tomadora e beneficiária
pelos serviços prestados pela reclamante, na função de "operadora de telemarketing".

Reformo o decidido para reconhecer o vínculo empregatício com a reclamada SERCOM


S/A
, no período de 03.03.2005 a 30.04.2006 e ante a perpetração da fraude, declaro a
responsabilidade solidária da COOPERDATA. Em face do decidido, deverá a CTPS ser
retificada para constar como ingresso a data de 03.03.2005. A terceira reclamada é
considerada devedora solidária.
Objetivando evitar a supressão de instância, determino a baixa dos autos à origem para
que sejam julgados os pedidos remenescentes que exijam a apreciação de matéria fática,
como se entender de direito.

Ante o exposto, conheço do recurso da reclamante e, no mérito, dou-lhe provimento para


julgar parcialmente procedente o pedido a fim de reconhecer o vínculo empregatício com
a SERCOM S/A no período de 03.03.2005 a 30.06.2005, condenando solidariamente a
COOPERDATA e de forma subsidiária a terceira reclamada NATURA COSTMÉTICOS.
Retornem os autos à origem, para julgamento dos pedidos remanescentes, como de
direito. Não há custas, nesse momento processual. Tudo nos termos da fundamentação.

PAULO AUGUSTO CAMARA


Desembargador Federal Relator

a.09.12

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