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Premium Centenas de bolseiros sem remuneracdo ha meses Juristas do governo arrasam lei do Parlamento que queria acudir aos bolseiros que estavam sem bolsa e dao raz & FCT para no pagar r Marcelo recebe Miguel Marujo 02 Agesto 2018 — 600 Topicos 5 “4 t-te an ’ “*BOLSEIRO= ve ice T IN CONTRA To Te ‘Sandra Perera, presidente da ABIC, num protesto de bolselos. © Diana Quintela/ Giobal Imagens T J mma lei mal felta com uma redago ambigua e uma interpretagao restritva, por parte da counravos Fundagao para a Ciéncia e Tecnologia (FCT), fez com que largas centenas de Bewesre ceereseaeto bolseiros de pos-doutoramento tenham ficado a arder, literalmente sem receber qualquer remuneragdo, muitos deles desde 1 de janeiro, E em alguns casos ja ultrapassam um ano, continuando a trabaihar. Nesta quinta-feira a Associagao dos Bolseiros de Investiga¢ao Cientifica é recebida pelo Presidente da Republica, ao final da tarde, numa audiéncia em Belém prometida na semana BOLSEIROS passada por Marcelo Rebelo de Sousa. ‘Anténio Costa apupado por investigadores A Assembleia da Republica procurou acudir sem sucesso aos muitos contratos de bolsa que estavam a terminar sem que fossem abertos concursos para as "centenas de bolselros sem bolsa” que ja deviam ter sido contratados pelas instituigdes ao abrigo de uma norma transitéria da legisiagdo de estimulo ao emprego cientifico, aprovada ja em 2016. Alei aprovada em 11 de maio, promulgada pelo Presidente da Republica cinco dias depois e publicada em Diéric da Repdblica em 8 de junho passado ¢ arrasada num parecer do JurisAPP - Centro de Competéncias Juridicas do Estado, num parecer pedido pela FCT, para "aferir se a renovagao de bolsas ali determinada pode ocorrer em data anterior entrada em vigor da lei". Os juristas do Estado, sob tutela da Presidéncia do Conselho de Ministros, nao s4o meigos na avaliagdo do texto legislativo: "A Lei n.° 24/2018 é de leitura extremamente dificil, pela prolixidade, redundancia e falta de clareza das suas disposi¢des, somada @ auséncia de tomada de posigdo expressa sobre uma questo elementar, a do momento em que se renovam as bolsas a que a lel se refere.” E este o problema que a lei se propunha resolver - e que se depreende da leitura das quatro propostas entregues por PCP, PSD. BE € CDS, mas que no ficou explicito na lei entretanto aprovada. A FCT foi taxativa na sua apreciago, so admitindo pagar no dia seguinte a publicagdo da lei, ou seja, 9 de junho. E, perante a contestagao de bolseiros, a instituigao resguardou-se no parecer do JurisAPP. Resultado: os bolseiros ficaram sem qualquer vencimento entre o momento em que terminou 0 seu contrato e o da abertura Ge procedimentos concursals, que 86 em muitos casos teve lugar. Paulo Pinto é um destes bolseiros que ficou sem receber desde 1 de janeiro de 2018, depois de terminado o seu contrato. Investigador no CHAM - Centro de Humanidades na Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Paulo Jorge de Sousa Pinto questionou deputados da Comiss4o Parlamentar de Educagao e Ciéncia sobre o que entende ser "uma incorreta execugao" da lei por parte da FCT. Gabinete do ministro refugia-se em parecer Questionado pelo DN, © gabinete do ministro da Ciéncia e do Ensino Superior, Manuel Heitor, refugiou-se, depois de um siléncio prolongado, também no parecer dos juristas do Estado (que néo tem data). ODN procurou saber se a orientagéo da fundagao ndo estava a violar 0 espirito do legislador, que procurou renovar e prorrogar as bolsas as datas em que as mesmas terminavam, sem que houvesse novo concurso, e se iria dar instrucdes a FCT para que as. bolsas fossem pagas retroativamente, nos casos devidos. Sem responder a estas questées, 0 gabinete remeteu o DN para "o parecer juridico solicitado pela FCT quanto a questo da retroatividade das bolsas", que "esta publicado no site da FCT". Sem mals. Um parecer taxativo: nao ha retroativos Ja 0s grupos parlamentares estao neste momento a estudar a melhor maneira de resolver a questo. O deputado socialista Porfirio Silva reconheceu ao investigador Paulo Pinto que, do lado do PS, esto a "estudar 0 problema’ do "ponto de vista da intengao do legisiador” do "ponto de vista da abordagem positiva 4 lel". Pelo BE, © assessor Manuel Grilo (0 novo vereador em Lisboa), incumbido pelo Geputado Luis Monteiro, respondeu que os bloquistas esto "a ponderar a melhor iniciativa para, num curtissimo espago de tempo, desbloquear a sua plena aplicagao". E a deputada centtista ‘Ana Rita Bessa notou que "a FCT faz, de facto, uma interpretagao restritiva do espirito da lei" e que o CDS esta "a tentar perceber que diligéncias eficazes" podem realizar. O espirito da lei e a intengao do legislador socobrou perante a lei, que de facto nao esclarece 0 momento em que se renovam as bolsas. © Centro de Competéncias Juridicas do Estado é taxativo em nao considerar a retroatividade da lei, segundo o parecer ja citado. "A Lei n.° 24/2018 é, num certo sentido, ‘retroativa’, pois vem dispor sobre bolsas vigentes antes da sua entrada em vigor. Ora, 0 que nos diz a lei € que, mesmo que a ‘retroatividade’ da Lei n.° 24/2018 seja a tida em vista no art. 12.° do Cédigo Civil, 'ficam Tessalvados 0s efeitos ja produzidos' pela legislagao anterior, ou seja, a cessagao das bolsas que deviam ter cessado ocorreu efetivamente, com a respetiva perda do rendimento como bolseiros dos seus titulares, no periodo anterior & entrada em vigor da lei nova. £ agora, com a lei nova, que ha uma «renovagéio», que Ihes pode repor, doravante, esse Tendimento. E isto o que decorre do art. 12.2, n.° 1, do Cadigo Civil e o que consta da informagao disponibilizada pela FCT. Para repor aos bolseiros o rendimento anterior Lei n.° 24/2018, seria necessario que a lei assim dissesse." Allei nao o diz. Mas num oulro parecer - da advogada do Sindicato Nacional do Ensino ‘Superior (SNESup) - defende-se que a razo esta do lado dos bolseiros e que a lei "aplica- se retroativamente, desde a data da cessacao (...), renovando os contratos de bolsa de todos os bolseiros doutorados que se encontravam vigentes € que cessaram pela conclus’io do plano de atividades ou decurso do prazo pelo qual a bolsa fol atribuida, bem como, aos contratos que se encontravam vigentes € prestes a cessar em 29 de agosto de 2016, procedendo igualmente & renovagao e & prorrogagao dos contratos dos bolseiros abrangidos pelo artigo 23.° da Lei n.° 57/2017, de 19 de julho, que tenham cessado pelos mesmos motivos € que se consideram renovados e/ou prorrogados até a conclusdo do respetivo procedimento concursal” Paulo Pinto é um destes bolseiros que ficou sem receber desde 1 de janeiro de 2018, depois de terminado o seu contrato. Investigador no CHAM - Centro de Humanidades na Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Paulo Jorge de Sousa Pinto questionou deputados da Comiss4o Parlamentar de Educagao e Ciéncia sobre o que entende ser "uma incorreta execugao" da lei por parte da FCT. Gabinete do ministro refugia-se em parecer Questionado pelo DN, © gabinete do ministro da Ciéncia e do Ensino Superior, Manuel Heitor, refugiou-se, depois de um siléncio prolongado, também no parecer dos juristas do Estado (que néo tem data). ODN procurou saber se a orientagéo da fundagao ndo estava a violar 0 espirito do legislador, que procurou renovar e prorrogar as bolsas as datas em que as mesmas terminavam, sem que houvesse novo concurso, e se iria dar instrucdes a FCT para que as. bolsas fossem pagas retroativamente, nos casos devidos. Sem responder a estas questées, 0 gabinete remeteu o DN para "o parecer juridico solicitado pela FCT quanto a questo da retroatividade das bolsas", que "esta publicado no site da FCT". Sem mals. Um parecer taxativo: nao ha retroativos Ja 0s grupos parlamentares estao neste momento a estudar a melhor maneira de resolver a questo. O deputado socialista Porfirio Silva reconheceu ao investigador Paulo Pinto que, do lado do PS, esto a "estudar 0 problema’ do "ponto de vista da intengao do legisiador” do "ponto de vista da abordagem positiva 4 lel". Pelo BE, © assessor Manuel Grilo (0 novo vereador em Lisboa), incumbido pelo Geputado Luis Monteiro, respondeu que os bloquistas esto "a ponderar a melhor iniciativa para, num curtissimo espago de tempo, desbloquear a sua plena aplicagao". E a deputada centtista ‘Ana Rita Bessa notou que "a FCT faz, de facto, uma interpretagao restritiva do espirito da lei" e que o CDS esta "a tentar perceber que diligéncias eficazes" podem realizar. O espirito da lei e a intengao do legislador socobrou perante a lei, que de facto nao esclarece 0 momento em que se renovam as bolsas. © Centro de Competéncias Juridicas do Estado é taxativo em nao considerar a retroatividade da lei, segundo o parecer ja citado. "A Lei n.° 24/2018 é, num certo sentido, ‘retroativa’, pois vem dispor sobre bolsas vigentes antes da sua entrada em vigor. Ora, 0 que nos diz a lei € que, mesmo que a ‘retroatividade’ da Lei n.° 24/2018 seja a tida em vista no art. 12.° do Cédigo Civil, 'ficam Tessalvados 0s efeitos ja produzidos' pela legislagao anterior, ou seja, a cessagao das bolsas que deviam ter cessado ocorreu efetivamente, com a respetiva perda do rendimento como bolseiros dos seus titulares, no periodo anterior & entrada em vigor da lei nova. £ agora, com a lei nova, que ha uma «renovagéio», que Ihes pode repor, doravante, esse Tendimento. E isto o que decorre do art. 12.2, n.° 1, do Cadigo Civil e o que consta da informagao disponibilizada pela FCT. Para repor aos bolseiros o rendimento anterior Lei n.° 24/2018, seria necessario que a lei assim dissesse." Allei nao o diz. Mas num oulro parecer - da advogada do Sindicato Nacional do Ensino ‘Superior (SNESup) - defende-se que a razo esta do lado dos bolseiros e que a lei "aplica- se retroativamente, desde a data da cessacao (...), renovando os contratos de bolsa de todos os bolseiros doutorados que se encontravam vigentes € que cessaram pela conclus’io do plano de atividades ou decurso do prazo pelo qual a bolsa fol atribuida, bem como, aos contratos que se encontravam vigentes € prestes a cessar em 29 de agosto de 2016, procedendo igualmente & renovagao e & prorrogagao dos contratos dos bolseiros abrangidos pelo artigo 23.° da Lei n.° 57/2017, de 19 de julho, que tenham cessado pelos mesmos motivos € que se consideram renovados e/ou prorrogados até a conclusdo do respetivo procedimento concursal”

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