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Aula 13 – História e Cultura 2018 Primeiro ensaio: Frontispício de Leviatã, de Hobbes.

Tema: Iconografia, história e Política Caráter introdutório tanto aos conceitos, quanto à
metodologia. Quer mostrar atualidade de Hobbes (11
Texto: GINZBURG, Carlo. Medo, Reverência e terror: quatro setembro 2001)
ensaios sobre iconografia política. São Paulo: Companhia das
Letras, 2014. Central: ação do medo na origem da RELIGIÃO E DO
ESTADO.
[Traduzido no Brasil em 2014, livro reúne artigos, sendo o
mais antigo de 1999] – Fio condutor dos artigos: o conceito
Método: encadeamento de ideias, palavras, obras e
Pathosformeln – MEMÓRIA DOS GESTOS.
tempos. Ênfase: VESTÍGIO – o uso da palavra to awe
Como é tradicional, Ginzburg na introdução (prefácio) faz na tradução de Tucídides, A guerra do Peloponeso.
apresentação do método e de questões teóricas.
O que faz: perscruta a origem da expressão – quer
“Deus está nos detalhes”, costumava dizer Aby Warburg chegar numa FÓRMULA DE IDEIAS.
diante das imagens.
Fórmula de ideias [LOGOSFORMELN]: que está
Aby Warburg: intelectual alemão, historiador da arte, presente no frontispício do Leviatã, onde noções de
Estudou transição da iconografia antiga à cultura europeia medo, terror e reverência são postas em evidência.
moderna. Atlas Menmosine, coleção de imagens, quase sem
texto. Influenciou: Panofsky, Gombrich, Walter Benjamin,
To awe – ligação dos elementos religiosos com
Ginzburg.
emoções que perpassaram a filosofia política de
Hobbes.
Ginzburg começa seus estudos sobre arte com Investigando
Piero, livro no qual articula obra de Pierro della Francesca
rede de relações e significações. Conclusão Central: nesse sentido, a secularização da
política proposta por Hobbes teria uma relação
Desde a década de 1960 – Ginzburg estabeleceu vínculos bastante próxima com elementos e sentimentos
com a obra de Warburg. suscitados pela religião.

MÉTODO: estudo da imagem junto aos diversos Percurso do Capítulo


elementos que estavam em seu entorno. TEIA – fios
tecendo uma TEIA DE SIGNIFICADOS. Passo 1: começa comparando edições do livro Os
elementos da lei, de Hobbes [algo que lembra o que faz
TEIA → contexto + artista e seus referências + círculos com Thomas More] – e percebe que nas diversas
intelectuais + processos de circulação e recepção. reescritas e traduções do livro – algumas noções, antes
embrionárias, foram sendo desenvolvidas – entre elas,
Pressuposto: IMAGENS COM MÚLTIPLAS o MEDO.
POSSIBILIDADES
O que isso proporciona: permite ao historiador ver a
Warburg: Renascimento não apenas copiou gestos centralidade do tema para Hobbes.
gregos. Eles sobreviveram, ressurgiram de forma
fantasmal, como novos significados, funções e “O medo e eu somos gêmeos”, teria dito Hobbes em
sentidos. Muitas vezes opostos. autobiografia. Conclusão: a centralidade do medo na
filosofia política.
[Ginzburg, citando trabalho de Edgard Wind, mostra
onde isso acontece – Maria Madalena e as bacantes] Análise do papel do medo em Os elementos da lei –
medo recíproco, todos contra todos (estado da
IDEIA CENTRAL: gestos semelhantes assumem natureza), nasce o Estado. Estado nasce do medo.
significados diferentes. MEMÓRIA DOS GESTOS E
EMOÇÕES. Passo 2: Como chega até suas obras, especialmente em
Leviatã. O que leu, como leu [referências intelectuais,
Ginzburg: Com obras de tempos históricos diferentes, leituras]
mostra como o historiador pode fazer dialogar política
e arte junto aos medos e terrores. O que quer: entender quais os caminhos o levam a
formulação dessa ideia. Busca vestígios.
Acha: a tradução da história da Guerra do Peloponeso, Leviatã: criação artificial, se ergue diante daqueles que
de Tucídides. [Modo como leu e traduziu – tradução com seu pacto o criaram, aqueles dos quais é feito –
interpretação] Citar P20. como um objeto que incute sujeição.

Diante da morte iminente, até o medo dos deuses Passo 4: A Bíblia. referências hebraicas – temor a Deus
perdera toda a eficácia. Dissolução do corpo político, não é idêntico ao medo. Medo e sujeição. – traduções
lembra estado da natureza. “experimento mental” para da bíblia. Awesome(reverência) x Awful (terrível).
Hobbes.
Capítulo 2: Marat em seu último suspiro
Tradutor/intérprete: uso da palavra awed –“nem o
temor dos deuses nem as leis dos homens incutiam Obra de Jacques-Louis David e seus inúmeros
sujeição (awed – admiração). P21 entrelaçamentos e perspectiva.

Hobbes traduziu o verbo grego apeirgein (“manter sob Obra muito estudada – mas Ginzburg trilha outros
controle”) por um verbo inglês – to awe. Surge a ideia. caminhos. Referenciais em textos e imagens
VESTÍGIO. diferenciados.

Passo 3: entender a inserção da palavra, seus Obra em conexão: Revolução + pintura + política +
significados e como ela se transforma numa ideia. secularização + religião.

Como faz: amplia circuito de referências intelectuais O que encontra: mescla de MEMÓRIAS E TEMPOS
de Hobbes, leituras que fez, acumulou. provindos da Antiguidade e do Cristianismo.
Confluências sobre elementos da antiguidade e
1 - Livro de viajantes (A peregrinação de Purchas), para modernidade.
chegar no Leviatã, o monstro (livro de Jó), descrição de
religião de outros povos. Purchas: religião não é senão CENTRAL: artista, obra e contexto dialogam com outros
um costume inventado, uma política mais sagaz tempos, imagens e textos. [comparação Balaban]
destinada a manter os homens em sujeição – “to hold
men in awe”, no livro. IMAGENS → PORTADORAS DE TEMPOS DIFERENTS
ENTRE SI.
Ecos de leituras. Purcha lê Montaigne – Ensaio: “Sobre
o costume e sobre a impossibilidade de mudar Instigado pelo detalhe – particularismos imagéticos
facilmente uma recebida”. [23] [no caso de Marat, a data]

Montaigne lê obras medievais – De tribos Marat: formas capturaras indiretamente da religião e


impostoribus – obra ainda não escrita, que circulava que teriam favorecido o “culto” a esse personagem
somente o título – “impostura das religiões”. político.
Impostores: Moisés, Jesus e Maomé.
Ginzburg: historiografia que tem relacionado o político
“Essa tradição, evocada por Montaigne e à dimensão visual [Arte e suas implicações na
pontualmente repelida por Purchas, via na religião um sociedade]
mero instrumento político, apropriado para controlar
os impulsos dos ignorantes”. História Cultural no Brasil – acostumou-se trabalhar
com emoções e sensibilidades, nem sempre entram
TRILHA OS CAMINHOS DE UMA IDEIA. Ecos das chaves de leitura como medo e pouca articulação com
leituras de Hobbes em seu Leviatã. o político.

Entrelaçamento entre arte, política e religião.


Cita ainda: Epicuro, Lucrécio, Tácito. Referenciais
Antiguidade Percurso do Capítulo

Conclusão: “Portanto, seja no caso da origem da Passo 1: “Começo por um detalhe” – a data do quadro.
religião, seja na origem do Estado, encontraremos no Calendário revolucionário – não cristão – acrescentada
início o medo (feare) e, no fim, como resultado, a no último minuto. [Data 1793 ainda visível, embora
sujeição ou reverência (awe). parcialmente coberta pela tinta] Ou seja: disputa entre
os dois calendários – revolucionário x cristão.
Passo 2: Resgata posição política de David, seu Passo 7: Coloca David em diálogo com Rousseau,
engajamento na revolução e na arte. /Resgata história Hobbes, Maquiavel.
dos quadros.
David – seguidor de Robespierre e de sua “política
Quadro sobre Le Pelletier, assassinado ao dizer que religiosa”, que por sua vez lia Rousseau e inspirava-se
tinha votado pela execução do rei. [Quadro que foi na ideia de “religião civil” – se inspirava em iconografia
destruído posteriormente] cristã para representar Marat, mártir republicano.

Revolucionários encharcados de Plutarco, Rousseau, Como faz: identifica trecho em que Rousseau, em seu
viam na Antiguidade virtudes heroicas. Logo, olham Contrato Social, fala de Hobbes [P58] - “único que
para Antiguidade buscando formas e valores. – Mas procurou reunir duas cabeças – o poder religioso e o
invertem sentidos: cristianizam. poder secular. Rousseau identifica Hobbes como “autor
cristão”.
Dois quadros: Le Pelletier e Marat, ambos assassinados
no contexto da revolução. História dos quadros. Conclusão: invasão da esfera do Sagrado é outra face
da secularização. O Poder secular se apropria da aura
Passo 3: compara os quadros (incluindo os feitos por (que também é uma arma) da religião. Isso que Marat
alunos de David sobre quadro destruído de Le Pelletier) faz.
– revolucionários em contestante perigo.

Comparação: no de Marat não há alegorias. Tudo é Texto: BALABAN, Marcelo. “A Soberana dos países
literal, até o último detalhe. [Aristocrata Le Pelletier x constitucionais: o público e o povo nos desenhos de
homem comum, Marat] Angelo Agostini”.

Passo 4: Deixa de olhar só os quadros, busca circuito de Tenta no texto mostrar que caricatura não é simples
referências maior de David – se volta para seu ilustração, mas documento complexo – ambíguo, com
CADERNO DE ANOTAÇÕES e outras obras; a várias possibilidades de leitura.
Antiguidade estampada em suas referências.
Ultrapassar a “aparência” – a leitura simples, direta, o
Marat – “falava uma língua clássica”, mas com olhar para caricatura como “humor ingênuo”.
“sotaque cristão” [44] – Argumento.
Autor aqui traz uma outra chave de leitura: O HUMOR
Passo 5:
1 - O que a bibliografia e estudiosos tem dito sobre o Método: analisar o periódico, a sua geografia e lógica,
quadro – não há acordo sobre elementos cristãos no relação com o público, personagens e narradores,
quadro. contextualizar situações e estabelecer interlocuções e
diálogos.
2 – Como contemporâneos viram e comentaram o
quadro. Ou logo posteriores – Baudelaire (1846) PROCURAR – “LÓGICA PECULIAR DE CADA JORNAL”,
Baudelaire usa vocabulário religioso + rococó para se analisar pistas indiretas, entender a “piada”.
referir a alguns aspectos da obra.
Dificuldade: “Como captar o público dessas revistas?”
Ou seja: vê que sua leitura é possível, verossímil.
O máximo que consegue: observar o público
Passo 6: construindo seu próprio argumento – imaginado, desenhado pelo próprio periódico e seus
comparação com escultura de Pierre Legros – Stanislas colaboradores.
Kostka [beato jesuíta - exemplo de virtude] – escultor
francês exposto em Roma. [53] Público x Povo – questão central para o entendimento
do texto e a forma como revistas ilustradas entendem
Conjuntura imediata + repertório de longo prazo. o conteúdo que produzem.
LINGUAGEM DE TRADIÇÕES.
Imagens prontas – Agostini abolicionista vira uma
ARGUMENTO: Em Marat coexistem tradições “chave de leitura” que precede análise dos desenhos.
diferentes e distantes, a clássica greco-romana, e a EVITAR – POIS ISSO LIMITA SENTIDOS.
cristã.
Pergunta: como Agostini – e seus personagens – Texto: BALABAN, M. “Transição de cor”: raça e abolição
tematizaram o público e o povo? nas estampas de negros de Angelo Agostini na Revista
Illustrada” (Topoi, 2015)
1ª imagem: A opinião pública conversa com presidente
de província – sobre recrutamentos em 1865-67. Objetivo: desvendar os sentidos raciais nas estampas
de negros de Angelo Agostini - personagens negros ora
Procedimentos: vistos como vadios, ora como perigosos e irracionais.
A – Procura notícias sobre recrutamento nos jornais –
varredura sobre sentidos atribuídos a ele. Diferença Revista Illustrada conhecida pela campanha
entre seções do jornal. abolicionista, por denunciar violências da escravidão.
“Herói da abolição”?
B – Sai da imprensa e vai para outro tipo de fonte:
circulares oficiais entre autoridades – sobre Tomar cuidado com chave de leitura pronta - FUGIR
recrutamento. DAS LEITURAS UNÍVOCAS E LAUDATÓRIAS.

C – Detecta um problema: desencontro entre Evidenciar NUANCES, CONTRADIÇÕES, RACISMO,


autoridades x denúncias da imprensa. TEMORES.

D – Fala sobre o autor – quem é Agostini em SP, no Meta: desvendar significados políticos mais profundos,
início da carreira. Como colabora nos jornais, por em evidência novas abordagens. SAIR DA
personagens, anonimato x conhecido, etc. Como MENSAGEM PRINCIPAL – RAMIFICAÇÕES E
funciona o Cabrião. PRESSUPOSTOS.

E – Análise da imagem – análise densa. Pessoas bem Procedimentos:


vestidas ao fundo, todos temem recrutamento.
Primeiro plano: opinião pública e presidente provincial. 1º passo: rastreia todas as imagens de negros na
revista (1876-1888), contabiliza, tipifica, observa de
[Alusão à Revolução Francesa, opinião é soberana; forma quantitativa, temática, cores, livres x escravos,
alerta] – Análise: “opinião pública” é o próprio roupas, vocabulário, etc. traça um panorama do que
periódico, porta-voz, cobrando do governo. “Auto- encontra e das dificuldades encontradas, problemas.
imagem” – Soberana era a revista e não o público. Como identifica-los?

Agostini vai para o Rio – 2ª parte do texto. Ele no 2º passo: Sistematização de resultados – vê que
Mosquito. representação dos negros é profundamente
RACIALIZADA na revista. Racialização das relações
2ª imagem: interlocução entre as folhas, desenha-se a sociais.
diferença entre público e povo. Entendendo a piada:
público seleto, que consome a revista. 3º passo: análise da 1ª imagem – Congresso Agrícola –
discussão do trabalho – substituição escravo pelo livre
Passos: entender a imagem como “programa”, – profundamente racializada. Análise densa da
entender “personagens” dos periódicos. Entender imagem e suas legendas. Todos os trabalhadores
diferença entre Agostini desenhar e ser o autor das representam, de alguma forma, uma ameaça, não
ideias; eram dignos de confiança.

Entender a piada: “o povo soberano” – tão piada Crítica ao governo e à Lavoura – não oferece
quanto a promessa de prêmios em dinheiro. argumento marcadamente abolicionista. “País ficar à
mercê dos trabalhadores” se estes percebessem a
Importante: Entender para quem se pretende falar – divisão na classe dirigente. Perigos.
para quem Mosquito quer falar?
O que conclui: centralidade das percepções da raça no
Desqualificam povo, que não é visto por eles como debate + desenho operava com múltiplos sentidos.
soberano/ Formar o público, leva-lo a tomar posição;
2ª imagem: “transição da cor” – qual é a piada?
Mulato com roupa de branco, reivindicando ser o
intermediário na evolução. Mulato protestando.
Imigração provocaria ódios sociais latentes –
argumento.

Mulato deslocado – roupa social não lhe cai bem,


“piada”. Como vê esses integrantes do povo, da
sociedade. Cidadãos?

4º passo: 3ª imagem – “capoeira” – identificando


ESTEREÓTIPOS - usa outra fonte – livros da Casa de
Detenção – com descrição dos presos – perfil, cor,
condição social, roupas.

O QUE ESTÁ FAZENDO: contrapondo imagens que


revista faz dos capoeiras e negros com livros da Casa de
Detenção (real) para entender que a revista não copia
o real, mas cria tipos.

Negros, pardos, livres e escravos – não são entendidos


como sujeitos políticos, mas pessoas perigosas, difíceis
de controlar, ameaça à ordem pública.

5º passo: Análise da imagem cenas da escravidão.

Mensagem direta – horrores, sofrimentos, torturas e


violências.

Leitura a contrapelo – todos escravos são parecidos


(um só, tipo, estereótipo), expressão de dor, pavor,
vadio, vitimizado, impotente ou violento e irracional
quando sem controle, vítimas passivas x perigosos
sem a tutela.

Conclusão: Não brancos não faziam parte do cálculo


político de Agostini para futuro – visão racializada,
incapacidade de ação.

Análise da última imagem – negro sendo puxado.

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