You are on page 1of 53

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

CURSO DE TURISMO

CAROLINA SOUZA DO CARMO DA SILVA LIMA

TURISMO E CINEMA: A INFLUÊNCIA DAS FILM COMMISSIONS NO MERCADO


TURÍSTICO

Rio de Janeiro
2018
Carolina Souza do Carmo da Silva Lima
20141104987

TURISMO E CINEMA: A INFLUÊNCIA DAS FILM COMMISSIONS NO MERCADO


TURÍSTICO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Turismo da
Universidade Veiga de Almeida,
orientado pelo professor José Carlos
Dantas.

Rio de Janeiro
2018
Carolina Souza do Carmo da Silva Lima

TURISMO E CINEMA: A INFLUÊNCIA DAS FILM COMMISSIONS NO MERCADO


TURÍSTICO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Turismo da
Universidade Veiga de Almeida.

Aprovado em ___ de ________________ de ______.

BANCA AVALIADORA

________________________________________________________
Prof. José Carlos de Souza Dantas – Orientador

_________________________________________________________
Profª. Ana Luisa Verdejo Núñez

Rio de Janeiro
2018
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu orientador Profº José Carlos Dantas por todo
o auxílio e apoio na execução desse projeto.
Aos meus pais por me proporcionarem as melhores oportunidades na vida e
me apoiarem em todas as minhas escolhas com muita compreensão.
Aos meus amigos Eduardo, Natália e Rodrigo por me darem todo o apoio que
precisei nas horas de desespero e cansaço e por sempre acreditarem em mim, mesmo
quando eu pensei que não era capaz. Não existem palavras suficientes para
agradecer por tudo o que vocês fizeram por mim.
E a todas as pessoas que torcem por mim e acreditam no meu potencial e no
meu sucesso.
RESUMO

Esta monografia apresenta a importância do Cineturismo no mercado turístico,


identificando o aumento da procura a diversas cidade e/ou países após a divulgação
dos mesmos em obras cinematográficas, além de explicar e contextualizar a ação das
Film Commissions. Tem como objetivo apontar os impactos causados pelo turismo
induzidos pelas produções audiovisuais e analisar influências que as Film
Commissions resultam em determinada localidade quando administradas da maneira
correta, podendo ser extremamente benéfico não só para a localidade como também
para os moradores locais. Também será apresentado exemplos de FCs de sucesso e
filmes que estão diretamente ligados ao aumento da procura de muitas cidades,
relacionando inclusive o imaginário turístico de certas cidades com as imagens que
elas transmitem pelos filmes. Abordará a importância do turismo cinematográfico em
níveis mundiais, principalmente quando realizados de maneira bem-sucedida.

Palavras-chave: Turismo; Segmentação turística; Cinema; Cineturismo; Film


Commissions
ABSTRACT

This essay showcases the importance of Cinetourism in the tourism market, identifying
the search for cities and countries after seeing them portrayed in movies, explaining
and contextualizing Film Commissions. The main goal of this academic work is to bring
to light the touristic impact caused by audio and visual productions and to study the
influence of Film Commissions and its results that, when well managed, can be
beneficiary to not only to the location but also to the local population. It will also present
examples of successful Film Commission that are linked directly to the rise of search
and demand of many different cities, relating the imaginary side of tourism to the image
portrayed by the movies. It shows the importance of cinematographic tourism on a
worldwide scale, especially when done properly.

Keywords: Tourism; Tourist segmentation; Cinema; Cinetourism, Film Commission.


LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 – Cena do filme “Viagem à Lua” de George Méliès (1902) ....................... 23


Imagem 2 – Pôster do filme “O Nascimento de uma Nação” de D.W. Griffith (1915) 24
Imagem 3 – Pôster do filme “O Grande Ditador” de Charles Chaplin (1940) ........... 25
Imagem 4 – Pôster do filme “O Cantor de Jazz” de Alan Crosland (1927) ............... 26
Imagem 5 – Pôster do filme “Sem Novidade no Front” de Lewis Milestone (1930) .. 27
Imagem 6 – Pôster de “Cantando na Chuva” de Gene Kelly (1952) ........................ 29
Imagem 7 – Martin Scorsese e Robert DeNiro nos bastidores do filme “Taxi Driver”
(1976) ........................................................................................................................ 30
Imagem 8 – Steven Spielberg e boneco E.T. divulgando seu filme “E.T. – O
Extraterrestre” (1982) ................................................................................................ 31
Imagem 9 – Sofia Coppola e Kirsten Dunst nos bastidores do filme “As Virgens
Suicidas” (1999) ........................................................................................................ 31
Imagem 10 – Pôsteres dos 8 filmes da franquia “Harry Potter” (2001 – 2011) ......... 32
Imagem 11 – Cena do filme “Sex and the City – O Filme” de Michael Patrick King
(2008) ........................................................................................................................ 34
Imagem 12 – Tabela “Impactos do Turismo Cinematográfico” (2007) ....................... 36
Imagem 13 – Hotel Sidi Driss na Tunísia inspirado em Star Wars ............................ 38
Imagem 14 – Cena do filme “O Senhor dos Anéis” de Peter Jackson (2001) ........... 40
LISTA DE FILMES MENCIONADOS

Le Voyage dans la Lune (Viagem à Lua) de George Méliès – 1902 ......................... 23


In Old California (Na Velha Califórnia) de David Griffith – 1910 ................................ 24
The Birth of a Nation (O Nascimento de Uma Nação) de David Griffith – 1915 ........ 24
The Great Dictator (O Grande Ditador) de Charles Chaplin – 1940 .......................... 25
Gone with the Wind (...E o Vento Levou) de Victor Fleming – 1939 .......................... 25
The Jazz Singer (O Cantor de Jazz) de Alan Crosland – 1927 ................................. 26
Lights of New York (Luzes de Nova York) de Bryan Foy – 1928 …………………….. 26
All Quiet on the Western Front (Sem Novidade no Front) de Lewis Milestone – 1930
………………………………………………………………………………………………. 27
Singin’ in the Rain (Cantando na Chuva) de Gene Kelly – 1952 ……………………. 28
Ben-Hur de William Wyler – 1959 ……………………………………………………….. 29
Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (Dr.
Fantástico) de Stanley Kubrick – 1964 ………………………………………………….. 29
The Godfather (O Poderoso Chefão) de Francis Ford Copolla – 1972 ..................... 29
Taxi Driver (Táxi Driver – Motorista de Táxi) de Martin Scorsese – 1976 ................. 29
Vidas Secas de Nelson Pereira dos Santos – 1964 .................................................. 30
Macunaíma de Joaquim Pedro de Andrade – 1969 ................................................... 30
E.T. (E.T. – O Extreterrestre) de Steven Spielberg – 1982 ........................................ 30
The Shining (O Iluminado) de Stanley Kubrick – 1980 .............................................. 30
Reservoir Dogs (Cães de Aluguel) de Quentin Tarantino – 1992 .............................. 31
The Virgin Suicides (As Virgens Suicidas) de Sofia Copolla – 1999 ......................... 31
Franquia Harry Potter – 2001 a 2011 ........................................................................ 32
Franquia The Lord of The Rings (O Senhor dos Anéis) de Peter Jackson – 2001 a
2003 .......................................................................................................................... 32
Star Wars Episode IV: A New Hope (Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança) de
George Lucas – 1977 ................................................................................................ 37
Mad Max de George Miller – 1979 ……………………………………………………..... 39
Trilogia Matrix de Lana e Lilly Wachowski – 1999 a 2003 ......................................... 39
Mission: Impossible II (Missão Impossível II) de John Woo – 2000 ........................... 39
The Piano (O Piano) de Jane Campion – 1993 ......................................................... 39
The Last Samurai (O Último Samurai) de Edward Zwick – 2003 ............................... 39
Turistas de John Stockwell – 2006 ............................................................................ 40
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10

1. TURISMO E SUAS DEFINIÇÕES ................................................................. 12


1.1 O turismo e a segmentação ....................................................................... 12
1.2 Tipos de segmentação da atividade turística .......................................... 15
1.2.1. Ecoturismo ........................................................................................ 15
1.2.2. Turismo de Aventura ........................................................................ 15
1.2.3. Turismo Cultural ............................................................................... 16
1.2.4. Turismo de Intercâmbio ................................................................... 16
1.2.5. Turismo de Negócios e Eventos ..................................................... 16
1.2.6. Turismo Rural ................................................................................... 17
1.2.7. Turismo de Sol e Praia .................................................................... 17
1.2.8. Turismo Cinematográfico ............................................................... 17
1.3 O produto turístico ..................................................................................... 18

2. O CINEMA ..................................................................................................... 22
2.1 A história do cinema .................................................................................. 22
2.2 O cinema no século passado e atualmente ............................................. 26
2.3 Cinema além do entretenimento ............................................................... 32

3. TURISMO E O CINEMA ................................................................................ 35


3.1 Cineturismo e as Film Commissions ........................................................ 35
3.2 Pesquisa e Metodologia ............................................................................. 42
3.3 Análise dos resultados .............................................................................. 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 47

APÊNDICE .......................................................................................................... 51
10

INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta como o cinema pode influenciar no fluxo de


turistas de uma determinada cidade e enfatizar a importância das Film Commissions
nesse processo.
No primeiro capítulo é abordada principalmente a segmentação turística e de
que forma ela é benéfica para o mercado, mostrando vários tipos de áreas de
interesse para turistas específicos e como o desenvolvimento de um produto
turístico pode ser a solução para a falta de desenvolvimento do turismo em certos
locais.
O segundo capítulo apresenta a história do cinema desde o seu nascimento
até os dias atuais. Além disso, também mostra como o cinema não se atém mais
apenas ao entretenimento e se tornou uma verdadeira indústria.
No terceiro capítulo o foco é desenvolver a ideia do cineturismo e de que
maneira essa atividade pode melhorar o mercado turístico de um locar, além de
explicar a atuação das Film Commissions e os seus prós e contras.
O que se observa é que essa segmentação do mercado tem estimulado cada
vez mais cidades e países a utilizarem o cinema como forma de divulgação dos
destinos que não teriam tanta visibilidade ao redor do mundo com a ajuda das Film
Commissions e dos ministérios de vários países que conseguem enxergar o turismo
como uma atividade lucrativa. Essas Film Commissions são organizações estatais
que se dedicam a atrair a realização de produções audiovisuais no seu local de
atuação com o intuito de fomentar o turismo em sua determinada cidade.
Os objetivos dessa pesquisa são apresentar como a segmentação auxilia o
mercado turístico, entender como se desenvolve um produto turístico, compreender
a história do cinema, refletir sobre as relações entre cinema e turismo, explicar o que
são as Film Commissions e como elas atuam no mercado turístico de uma cidade,
mostrar de que maneira uma cidade pode se desenvolver turisticamente pelo
cinema.
Essa pesquisa é importante para demonstrar que a influência do cinema no
turismo é bastante relevante e auxilia no desenvolvimento turístico de uma
localidade. Filmes são importantes para várias pessoas por diversos motivos e não
existe nada que combine mais com o turismo do que vender um sonho a alguém. As
viagens são produtos imateriais que dependem das expectativas e experiências do
11

turista para que haja a satisfação nessa compra e a utilização do imaginário que
existe nos filmes é importantíssima para trazer essa sensação de satisfação
podendo sentir todas as emoções que o cinema nos proporciona de uma forma mais
vívida, no local onde as cenas preferidas podem se tornar realidade.
Este trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas com autores
de turismo e cinema, artigos científicos, monografias, sites e vídeos relacionados à
área da pesquisa em questão.
12

CAPÍTULO 1: TURISMO E SUAS DEFINIÇÕES

1.1 – O TURISMO E A SEGMENTAÇÃO

O ser humano é motivado por conhecimento e experiências. Desde os


primórdios do mundo, o homem viaja em busca de novas terras para serem
exploradas, para ampliar seus contatos de comércio e encontrar novas especiarias,
além de muitas outras motivações. De acordo com Ignarra (2003, p. 15) “O turismo
em termos históricos se iniciou quando o homem deixou de ser sedentário e passou
a viajar (...). É aceitável, portanto, admitir que o turismo de negócios antecedeu o
turismo de lazer.”
Por ser uma atividade complexa, há muitas definições sobre o que é o
Turismo de fato. De acordo com Beni (1997), existem três tipos de definições: a
econômica, a técnica e a holística. O primeiro conceito de turismo foi criado em 1910
sob a ótica econômica por Herman von Schullern, que dizia: “A soma das
operações, principalmente de natureza econômica, que estão diretamente
relacionadas com a entrada, permanência e deslocamento de estrangeiros para
dentro e fora de um país, cidade ou região.”1
A partir da década de 30, a atividade turística crescia cada vez mais e
começou a haver a necessidade de uma definição técnica, mas só em 1963 que foi
criada a divisão entre turistas e excursionistas. Então, a partir de 1968 a OMT
passou a incentivar o uso dessa definição, que é utilizada até hoje e que classifica o
turista como alguém que permanece mais de vinte e quatro horas em um local, seja
por lazer, negócios, entre outros fatores e o excursionista como quem permanece
por até vinte e quatro horas no local. Sendo assim, de acordo com (Ignarra, 2003 p.
25): “Podemos definir o turismo como deslocamento de pessoas de seu local de
residência habitual por períodos determinados e não motivados por razões de
exercício profissional constante.”
Já a definição holística é a que, de fato, abrange todas as possibilidades do
turismo. De acordo com Beni, turismo é:
Um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar,
onde, como e a que preço. Nesse processo intervém inúmeros fatores
de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica,
cultural ecológica e cientifica que ditam a escolha dos destinos, a

1Apud Mário Carlos Beni, Análise Estrutural do Turismo, São Paulo: Editora SENAC, 1997.
13

permanência, os meios de transporte e o alojamento, bem como o


objetivo da viagem em si para a fruição tanto material como subjetiva
dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de
enriquecimento. existencial histórico-humanístico, profissional, e de
expansão de negócios. (BENI, 1997 p. 37)

Em sua definição, Beni também divide o conceito em bens turísticos


(materiais, imóveis, duráveis, de consumo, capital, básicos e naturais) e em serviços
turísticos (receptivos, de alimentação, de transporte, públicos e de recreação).
Podemos perceber que o turismo é uma área muito abrangente e que engloba
praticamente todas as áreas sociais. Por ser uma atividade tão vasta foi observado
que a segmentação da prática turística seria a maneira mais correta de atingir o
turista em potencial para aquele local, além de identificar o público que mais se
identifica com o que o destino tem a oferecer turisticamente. Mas antes de
conceituar a segmentação no turismo é importante entender como funciona o
mercado turístico e suas necessidades. Pelo ponto de vista econômico, Ignarra
(2003, p. 75) dizia que "o mercado turístico é constituído pelo conjunto dos
consumidores de turismo e pela totalidade da oferta de produtos turísticos." Já pelo
ponto de vista do marketing, Kotler (2015) diz que "o mercado consiste em todos os
consumidores em potencial que compartilham de uma necessidade ou desejo
específico, dispostos e habilitados para fazer uma troca que satisfaça essa
necessidade ou desejo.”2
Diante disso, podemos explicar da seguinte maneira:
Os segmentos de mercado turístico surgem devido ao fato de as
empresas e os governos desejarem atingir, de forma mais eficaz e
confiável, o turista ou o consumidor em potencial. É praticamente
impossível um destino turístico abarcar todo o público que em algum
momento estaria interessado em consumir seus bens e produtos,
assim, a segmentação torna-se o meio mais preciso de se atingir o
público desejado. (ANSARAH e PANOSSO, 2009 p. 19)

Não existe maneira mais eficaz de trabalhar com turismo sem antes descobrir
o que agrada o turista que costuma escolher o local em questão. Além disso, ter em
mente que por mais que a segmentação seja, basicamente, dividir o turista em
grupos com interesses semelhantes, ainda assim serão pessoas distintas, cada uma
com sua particularidade. Antigamente essa tarefa parecia ser menos árdua, pois
além do mundo não ser tão globalizado como nos dias de hoje, as opções não eram
tão vastas. Hoje em dia o turista está cada vez mais exigente, com desejos cada vez
mais específicos, e a diversidade de escolhas de destinos faz com que a oferta

2Apud Luiz Renato Ignarra. Fundamentos do Turismo. São Paulo: Thomson, 2003.
14

turística esteja sempre se renovando e, consequentemente, a segmentação esteja


cada vez mais adequada à demanda.
Observando o cenário por outra perspectiva, não há como conceituar a
segmentação sem observá-la pelo âmbito do marketing turístico. De acordo com
Dias e Cassar (2005):
Do ponto de vista do marketing, a segmentação da demanda assume
um aspecto dos mais importantes, pois permitirá a diminuição de
custos e a adequação da infraestrutura do destino a um determinado
público alvo. Com isso, evita-se a dispersão de esforços no
atendimento a um público desordenado e que variará na medida em
que não tenham sido atendidas as suas expectativas. (DIAS e
CASSAR, 2005 p. 132)

No turismo, os critérios para a segmentação variam bastante de acordo com


cada autor. De acordo com o Ministério do Turismo (2010), os critérios utilizados
pelo mercado para definir a segmentação são: objetivo de viagem (lazer, férias,
negócios, visita a amigos); demográficos (gênero, idade, classe, renda, profissão,
religião, raça, ocupação); região geográfica (região de origem, país, clima,
população, densidade); psicográficos e psicossociais (atitudes socioculturais,
opiniões, personalidade, estilo de vida); benefícios (tranquilidade, refrescar-se,
compras, boa comida). Já Beni sugere que a segmentação seja feita por afluências
turísticas (de descanso, desportivas, negócios e compras, convenções e
congressos, gastronômicas, saúde, científicas, culturais, religiosas, aventura,
ecológicas e rurais) e faixa etária (família e amigos ou estudantil).
Essas divisões não limitam as possibilidades de criação de novos segmentos
de acordo com as necessidades do turismo. Inclusive, quando algum desses
segmentos cruzados se tornam relevantes e bem definidos, mas ainda possuem
poucas empresas especializadas na atividade, podemos chamar de nicho de
mercado, como por exemplo as viagens gastronômicas feitas em regiões específicas
na Europa.
Atualmente, o Ministério do Turismo (2010) aponta como os principais
segmentos: ecoturismo, turismo de aventura, turismo cultural, turismo
cinematográfico, turismo de estudos e intercâmbio, turismo náutico, turismo de
negócios e eventos, turismo de pesca, turismo rural, turismo social e turismo de sol e
praia. Além dessas, existem uma infinidade de outros segmentos e com o passar do
tempo a tendência é aumentar ainda mais, devido às grandes influências do mundo
globalizado e o surgimento de novas tendências no ramo turístico.
15

1.2 – TIPOS DE SEGMENTAÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA

A segmentação da atividade turística é muito vasta, contemplando os desejos


de muitos turistas pelo mundo. De acordo com Beni (1997) o motivo da viagem é o
principal meio para segmentar o mercado, ou seja, quem determina a criação de um
novo segmento é o próprio turista e seu desejo de consumir certo tipo de turismo.
Listaremos aqui alguns dos principais segmentos no Brasil atualmente, de acordo
com o Ministério do Turismo (2010).

1.2.1 – ECOTURISMO

De acordo com Beni (1997), é o deslocamento de pessoas a espaços naturais


delimitados e protegidos pelo estado ou controlados em parceria com associações
locais e ONGS.
Muitos podem confundir com o turismo ecológico – que consiste no turismo
explorando o meio ambiente, mas sem enfoque da natureza como atrativo turístico –
porém o ecoturismo se diferencia por trazer a natureza como principal atrativo
turístico. Junto desse segmento também podem ser ofertadas outras atividades,
como por exemplo o turismo de aventura, de pesca, náutico, esportivo e cultural,
sempre priorizando a sustentabilidade.

1.2.2 – TURISMO DE AVENTURA

No início da atividade do turismo de aventura no Brasil era comum a confusão


entre o ecoturismo e atividades que não eram relacionadas ao turismo. Com o
desenvolvimento do turismo de aventura no país, foi-se criando estruturas e,
eventualmente, o Ministério do Turismo (2008) o definiu como “os movimentos
turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e
não competitivo.” Ou seja, tendo deslocamento de turistas de seu local habitual,
atividades em contato com a natureza e sem competição, é considerado turismo de
aventura. A atividade vem crescendo cada vez mais no Brasil, principalmente em
locais na floresta amazônica e no pantanal mato-grossense.
16

1.2.3 – TURISMO CULTURAL

Atividade onde o principal produto turístico é a cultura de um destino, onde o


turista se propõe a vivenciá-la e conhece-la a fundo. De acordo com a UNIVALI
(2000), é aquele que se pratica para satisfazer o desejo de emoções artísticas e
informação cultural, visando a visitação de monumentos históricos, obras de arte,
relíquias, antiguidades, concertos musicais, museus, pinacotecas, etc.
As segmentações que normalmente estão atreladas ao turismo cultural são:
turismo cívico, religioso, místico e esotérico, étnico e gastronômico.

1.2.4 – TURISMO DE INTERCÂMBIO

É o segmento conceituado pelo Ministério do Turismo (2008) como a


movimentação turística gerada por atividades e programas de aprendizagem e
vivências para fins de qualificação, ampliação de conhecimento e de
desenvolvimento pessoal e profissional.
Esses programas podem ser ensino médio, educação superior, cursos livres,
ensino de idiomas, estágios profissionalizantes ou trabalho voluntário. Muitos
associam o turismo de intercambio apenas como um turismo emissivo, porém já
existe o conhecimento das empresas em que o estrangeiro também se interessa
pela vivência no Brasil, além de suas áreas de referência acadêmicas e
profissionais.

1.2.5 – TURISMO DE NEGÓCIOS E EVENTOS

De acordo com o Ministério do Turismo (2010), o segmento de Turismo de


Negócios e Eventos é “o conjunto de atividades turísticas decorrentes de encontros
de interesse profissional, associativo, institucional, de caráter comercial,
promocional, técnico, científico e social”. Essa atividade se divide em dois
subgrupos: turistas de negócios – normalmente viajam sozinhos para reuniões de
trabalho, visitas técnicas, feiras de negócios, etc em outras regiões – e turistas de
eventos – profissionais autônomos ou não, que viajam para eventos de cunho
comercial, técnico científico, promocionais ou sociais e que normalmente passam
uma semana no local.
17

1.2.6 – TURISMO RURAL

É a viagem que envolve vivência em propriedades rurais usualmente com o


acompanhamento da rotina de trabalho destas (São Paulo, s.d.).3 Em outras
palavras, é o turismo praticado em áreas rurais que abrange outras atividades como
o agroturismo e que visa a imersão do turista na vida rural, se preocupando com a
produção de produtos agrários e com o plantio, colheita e manejo dos animais. O
serviço é oferecido e organizado pelos próprios agricultores, cobrando preços
acessíveis.

1.2.7 – TURISMO DE SOL E PRAIA

Este segmento, de acordo com o Ministério do Turismo (2010), constitui-se


das atividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em
praias, em função da presença conjunta de água, sol e calor. Antes de definir o
nome turismo de sol e praia, já foi chamado de turismo de sol e mar, turismo
litorâneo, turismo de praia, turismo de balneário, turismo costeiro, dentre outros.
É uma atividade que engloba turista de muitas idades e muitos perfis
diferentes, porém também sofre com a tendência em atrair muitas pessoas em
determinadas épocas do ano, fazendo com que o turismo seja muito bem planejado
para que não haja insatisfação do turista. Também engloba outros segmentos como
o turismo náutico, cultural, de aventura e de esportes.

1.2.8 – TURISMO CINEMATOGRÁFICO

Também conhecido como Cineturismo, é uma forma de turismo que se baseia


na visitação às locações onde são produzidos filmes e séries televisivas e
cinematográficas (Nascimento, 2009). Esse segmento vem encontrando seu espaço
no mercado turístico há um tempo e a tendência é só crescer. De acordo com o
Ministério do Turismo (2010), em uma pesquisa mostra que mais de 30% dos

3Apud UNIVALI. Turismo: Visão e Ação (Glossário). Santa Catarina: 2000.


18

britânicos decidem seu destino turísticos após assistirem a um filme ou série de


televisão.
E não é apenas como emissor que o turismo cinematográfico funciona no
Brasil. Muitos estrangeiros se interessam em conhecer o país por conta das muitas
aparições das cidades em filmes mundialmente famosos e algumas cidades já
perceberam o potencial do cinema como divulgação do produto turístico e investem
cada dia mais em se tornarem locações para produções audiovisuais.
Visando esse potencial, essa segmentação turística é o tema de estudo deste
trabalho, tendo como foco as Film Commissions - órgão governamental que
incentiva, facilita e apoia a produção audiovisual (Curitiba Film Commissions, 2015).
Existem muitas outras segmentações muito importantes como o turismo
náutico, turismo social, turismo de saúde, turismo de megaeventos, turismo da
terceira idade, além de outras áreas mais recentes como por exemplo o turismo
espacial e o turismo virtual. Essas segmentações são muito importantes para a
divulgação e venda do produto turístico e como fazer para atingir o público-alvo de
cada destino.

1.3 – O PRODUTO TURÍSTICO

Como observado anteriormente, a segmentação auxilia o turismo de várias


formas e uma delas é auxiliando no desenvolvimento do produto turístico. O produto
é qualquer coisa que possa ser oferecida a um mercado para apreciação, aquisição,
uso ou consumo e que pode satisfazer um desejo ou uma necessidade (Kotler e
Armstrong, 2015). Ele pode tanto ser tangível – como um celular ou uma roupa –
como também pode ser intangível – como uma viagem ou uma consulta médica.
Esse produto intangível pode ser conceituado também como serviço.
Os serviços são formas de produto que consiste em atividades, benefícios ou
satisfações oferecidas para venda que são essencialmente intangíveis e não
resultam na posse de nada. (Kotler e Armstrong, 2015).
Sabemos que o turismo não é um produto palpável e o sucesso da venda
depende de vários fatores atrelados a ela, como o transporte, a hospedagem, os
atrativos turísticos, dentre outros. É a partir desse conjunto de fatores que podemos
começar a conceituar o produto turístico.
19

O produto turístico, em uma primeira aproximação, poderia ser


definido como: o conjunto de elementos ou atividades realizadas e
destinadas à satisfação das necessidades do turista. Essa definição
nos leva a conceituar o produto turístico, do ponto de vista do
consumidor, como o conjunto de atividades realizadas durante toda a
viagem, isto é, desde o momento em que a pessoa sai de sua
residência, desloca-se ao destino escolhido até retornar ao seu local
de origem. (CASSAR e DIAS, 2005 p. 184)

Em outras palavras, o produto turístico é a junção do produto tangível – as


obras de arte de um museu – e dos serviços – hospedagem e outros. Ainda
podemos dizer que o produto turístico, segundo Beni (1997):
Está baseado no fator tempo, é irrecuperável se não for usado, não é
cumulativo, não pode ser transportado, sua matéria prima não se
agrupa, é extremamente dinâmico e instável por gostos, preferencias,
modas e opcional na escala de necessidade do consumidor. (BENI,
1997)4

As principais características para a execução do produto turístico, de acordo


com Cassar e Dias (2005), são que os serviços são prestados em tempo real,
geralmente na presença do turista; o cliente participa da criação do produto; a
qualidade está diretamente ligada à habilidade e à capacidade de relacionamento
dos recursos humanos envolvidos; e é necessário o aprimoramento constante do
produto para satisfazer o cliente.
Por ser um produto não concreto, o produto turístico depende muito do gosto
e das peculiaridades de cada turista. E é por isso que a segmentação é tão
importante como vimos anteriormente, pois sem ela o produto não alcançaria seu
objetivo principal de satisfazer o cliente e acabar não atingindo seu público principal.
No marketing, sabemos que um produto é vendido não só por sua
funcionalidade, mas por outros fatores. De acordo com Kotler e Armstrong (2015),
mais do que simplesmente fabricar produtos e entregar serviços, elas [as empresas]
estão criando e gerindo experiências para os clientes das quais seus produtos fazem
parte. Isso ocorre com todo tipo de produto, como por exemplo, a Nike, que não
vende, promete apenas a venda de seus produtos, como também promete dar
motivação para o cliente com o slogan “Just Do It”.
Esse fenômeno se relaciona muito facilmente com o turismo, pois uma das
melhores maneiras de proporcionar novos ares ao cliente é uma viagem a um lugar
especial.

4Apud José Carlos de Souza Dantas. Qualidade do atendimento nas agências de viagens: Uma
questão de gestão estratégica. São Paulo: Editora Roca, 2008.
20

No entanto, por ser intangível e variável, o produto turístico sofre mais com as
consequências de um serviço mal prestado do que outras atividades. Como não é
possível haver uma prova do produto antes da compra, ou seja, não há como
experimentarmos um hotel sem de fato ficarmos hospedados nele, as chances de as
expectativas não serem correspondidas e a viagem acabar sendo decepcionante é
grande. Nos dias de hoje já é possível que haja a demonstração do serviço oferecido
por fotos e pela opinião de outros clientes pelas redes sociais, mas ainda assim não
existe certeza sobre o que o cliente pode esperar.
É por conta desse e de outros fatores – como o serviço ser prestado por
humanos, na maioria das vezes, e acontecerem falhas inesperadas, por exemplo –
que o produto turístico é tão inconstante. E para tentar diminuir a causa dessas
adversidades e melhorar cada vez mais a venda do produto turístico o Ministério do
Turismo coletou informações e criou um modelo que tem como objetivo trazer ao
destino turístico mais turistas, fazer com que eles voltem mais vezes e, também, que
o turista se envolva, se apaixone tanto pelo destino que seja capaz de convencer
outras pessoas a visitá-lo também. (Ministério do Turismo, 2010). A esse modelo
deram o nome de Ambiente de Marketing, que é definido como:
É o conjunto de fatores e forças que afetam a capacidade da
administração de desenvolver e manter relacionamentos bem-
sucedidos com seus clientes. (...)O ambiente de marketing é
composto de um microambiente e um macroambiente. O
microambiente refere-se a elementos próximos ao dia a dia do
destino, que afetam sua capacidade de servir seus clientes. O
macroambiente consiste em forças sociais maiores que afetam todo o
microambiente. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010 p. 29)

São seis os elementos que compõem o microambiente: o destino em si; os


serviços que ele tem a oferecer (água, luz e infraestrutura em geral); os
intermediários que fazem a venda do destino como as agências de viagens;
determinar quais são os turistas em potencial e o turista real, auxiliando nas
melhorias que o local necessita para atrair mais clientes; identificar os concorrentes
e quais destinos atrapalham ou auxiliam o fluxo de turistas na cidade; e o público em
geral, não só o turista mas também a pessoa que possa se interessar em saber mais
sobre o destino e tudo que possa causar algum impacto na forma de atrair turistas.
(Ministério do Turismo, 2010)
Já os elementos do macroambiente buscam analisar os impactos do turismo
naquele destino de forma mais abrangente. “Os ambientes demográficos, políticos,
econômicos, tecnológicos, sociais, culturais e ambientais influem no
21

desenvolvimento de políticas internas e estratégias para o desenvolvimento


sustentável do turismo” (Ministério do Turismo, 2010).
Com esse estudo é possível entender como funciona o interesse do turista em
visitar o destino em questão e fazer as mudanças necessárias para atrair cada vez
mais clientes. Neste capítulo vimos que é importante, acima de tudo, entender os
desejos do turista e saber o que está de fato fazendo as pessoas viajarem. É
importante também entender o que há de melhor e do que as pessoas gostam mais
em um local e fazer daquela sua principal força de atração e, assim, atrair o seu
público alvo. A boa oferta do produto turístico seguida de uma precisa segmentação
de mercado pode ser uma excelente fórmula para obter sucesso na oferta turística
de uma localidade.
22

CAPÍTULO 2: O CINEMA

2.1 – A HISTÓRIA DO CINEMA

Conhecido por muitos como a sétima arte o cinema é uma das grandes
atividades artísticas do mundo. Muito se especula sobre a verdadeira “descoberta”
do cinema e de acordo com Kemp (2011):
Embora o exato momento de sua criação seja discutível, a maioria
dos estudiosos concorda que foi em 1895: o ano em que os irmãos
Louis e Auguste Lumière projetaram A saída dos operários da fábrica
Lumière para os integrantes da Société d’Encouragement pour
L’Industrie Nationale, em 22 de março, e, em 10 de junho fizeram
uma demonstração particular de seus filmes no Congresso
Fotográfico, em Lyon. Seis meses depois, em 28 de dezembro, no
Hotel Scribe, em Paris, organizaram a primeira exibição de filmes de
todos os tempos para um público pagante. (KEMP, 2011, p. 8)

Desde o seu início o cinema desperta a emoção e a curiosidade em seus


espectadores. Nesta primeira exibição, em dezembro de 1895, basicamente foram
apresentados filmes curtos, mudos e em preto e branco. Porém, um em especial
chamou a atenção do público.
A vista de um trem chegando na estação, filmada de tal forma que a
locomotiva vinha vindo de longe e enchia a tela, como se fosse
projetar-se sobre a plateia. O público levou um susto, de tão real que
a locomotiva parecia. Todas essas pessoas já tinham com certeza
viajado ou visto um trem, a novidade não consistia em ver um trem
em movimento. Esses espectadores todos também sabiam que não
havia nenhum trem verdadeiro na tela, logo não havia por que
assustar-se. A imagem na tela era em preto-e-branco e não fazia
ruídos; portanto, não podia haver dúvida, não se tratava de um trem
de verdade. Só podia ser uma ilusão. (BERNARDET, 1981 p. 5)

Com a invenção do cinematógrafo5 pelos irmãos Lumière o cinema passou a


ser popular na Europa e chamou a atenção de vários artistas da época. Os primeiros
gêneros explorados foram o documentário e a ficção. Os documentários surgiram
com alguns homens sendo enviados para cidades fora da França para que
trouxessem novas imagens de outros lugares para exibi-las aos franceses. O
primeiro documentário da história teria sido a coroação do Czar Nicolau II em
Moscou, Rússia. (Almanaque Abril, 1998). Já as ficções se iniciaram, principalmente,
a partir das ideias de um dos grandes nomes e pioneiro do cinema mundial: George
Méliès.

5O aparelho – uma espécie de ancestral da filmadora – é movido a manivela e utiliza negativos


perfurados, substituindo a ação de várias máquinas fotográficas para registrar o movimento.
(Almanaque Abril)
23

Georges Méliès (1861-1938), diretor, ator, produtor, fotógrafo e


figurinista, é considerado o pai da arte do cinema. Nasce na França e
passa parte da juventude desenvolvendo números de mágica e
truques de ilusionismo. Depois de assistir à primeira apresentação
dos Lumière, decide-se pelo cinema. Pioneiro na utilização de
figurinos, atores, cenários e maquiagens, opõe-se ao estilo
documentarista. Realiza os primeiros filmes de ficção – Viagem À Lua
(Voyage dans la lune, Le – 1902) e desenvolve diversas técnicas:
fusão, exposição múltipla, uso de maquetes e truques ópticos,
precursores dos efeitos especiais. (ALMANAQUE ABRIL, 1998 p. 3)

Até os dias atuais, “Viagem à Lua” é usado como referência por muitos
diretores e a cena do foguete aterrissando nos olhos da lua é conhecida
mundialmente por todo amante de cinema.

IMAGEM 1 – Cena do filme “Viagem à Lua” de George Méliès (1902)

(Fonte: http://mundodecinema.com/viagem-a-lua/)

O cinema em seus primórdios era bem diferente do que estamos


acostumados hoje em dia. Inicialmente, os filmes eram curtos, durando normalmente
entre 9 e 11 minutos, a imagem era em preto e branco e eram mudos. Isso auxiliou
muito para que o costume de ir ao cinema fosse popularizado, pois por serem
mudos e curtos, chamam a atenção do público que normalmente não se
interessariam. Muitas pessoas inclusive se dispunham a ajudar quem não sabia ler a
entender o que se passava nas partes escritas, fazendo com que quase todas as
pessoas fossem incluídas nessa atividade.
Ao contrário do que possa parecer, o cinema não começou a crescer em
Hollywood, mas na Europa, principalmente na França. Muitos se interessaram e
levaram a arte para os Estados Unidos, porém a maior concentração de produções
24

no início estava na Europa. A primeira película filmada em Hollywood foi o curta-


metragem de 17 minutos intitulado In Old California (Na Velha Califórnia) em 1910
dirigida por David Griffith (Kemp, 2011) e o primeiro longa-metragem também foi
feito por ele, em 1915, chamado The Birth of a Nation (O Nascimento de Uma
Nação). Griffith é considerado o criador da linguagem cinematográfica (Almanaque
Abril, 1998).

IMAGEM 2 – Pôster do filme “O Nascimento de uma Nação” de D.W. Griffith


(1915)

(Fonte:http://vertentesdocinema.com/2013/08/17/critica-o-nascimento-de-uma-nacao/)
Porém, com a chegada da 1ª Guerra Mundial, a Europa encontra-se destruída
e sem verbas para investir no cinema. E é a partir deste momento que Hollywood
passa a ganhar destaque. Além de ter condições financeiras maiores para bancar
novas produções, outros gêneros começaram a surgir e crescer pautados na forma
hollywoodiana de produção.
Com o recesso do cinema europeu durante a 1a Guerra Mundial, a
produção de filmes concentra-se em Hollywood, na Califórnia, onde
surgem os primeiros grandes estúdios. (...) A década de 20 consolida
a indústria cinematográfica americana e os grandes gêneros –
western, policial, musical e, principalmente, a comédia –, todos
ligados diretamente ao estrelismo. (ALMANAQUE ABRIL, 1998 p. 3)

Na década de 20 – coincidentemente com a ascensão dos Estados Unidos na


indústria – os filmes mudos passaram a ser substituídos gradativamente por filmes
25

falados, mas um gênero em especial ainda era muito popular com produções mudas
– a comédia – e não há como falar de comédia muda sem citar Charles Chaplin.
Contratado por um empresário norte-americano, [Chaplin] vai para os
Estados Unidos em 1913 e, um ano depois, realiza seu primeiro filme
Carlitos Repórter (Making a Living - 1914). Seu personagem, Carlitos,
o vagabundo com bengala, chapéu-coco e calças largas, torna-se o
tipo mais famoso do cinema. (ALMANAQUE ABRIL, 1998 p. 3)

Com muitos filmes mudos em sua filmografia, Chaplin resistiu ao som durante
bastante tempo. Ele foi um dos diretores que achava que incluindo falas nos filmes
eles perderiam sua magia, mas em 1940 acabou cedendo ao sucesso dos filmes
falados lançando The Great Dictator (O Grande Ditador) – uma comédia muito
famosa por satirizar Hitler em plena 2ª Guerra Mundial.

IMAGEM 3 – Pôster do filme “O Grande Ditador” de Charles Chaplin (1940)

(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grande_Ditador)

A partir da década de 30, onde o cinema falado se popularizou pelo


mundo inteiro e os Estados Unidos supera a Grande Depressão, Hollywood passa
por seus Anos Dourados entre 1938 e 1939 lançando superproduções como Gone
with the Wind (...E o Vento Levou - 1939). Mas com a chegada da 2ª Guerra Mundial
o cenário do cinema se altera e a prevalência da Europa nas produções acaba,
dando espaço para que os Estados Unidos evoluíssem e ganhassem seu espaço na
indústria.
26

2.2 – O CINEMA NO SÉCULO PASSADO E ATUALMENTE

O medo de inserir o som no cinema sempre foi grande. Achavam que o


grande diferencial do cinema era o fato de não precisar dizer nada para passar sua
mensagem e muitos resistiram aos filmes falados por bastante tempo. O primeiro
filme com som da história foi The Jazz Singer (O Cantor de Jazz) lançado em 1927,
um musical que continha apenas duas sequencias de diálogo, além das músicas. O
primeiro filme completamente falado da história foi Lights of New York (Luzes de
Nova York) lançado em 1928 (Kemp, 2011).

IMAGEM 4 – Pôster do filme “O Cantor de Jazz” de Alan Crosland (1927)

(Fonte: http://www.filmsite.org/jazz.html)

Com o desenvolvimento das técnicas de captação e gravação de som ficou


cada vez mais difícil não se render ao cinema falado. Essa transição foi um divisor
de águas para muitos que acabaram perdendo seu espaço na indústria, pois muitos
diretores não aceitavam essa mudança, atores que tinham as vozes consideradas
feias perderam seu lugar dando espaço para novos talentos.
27

O advento do som, nos Estados Unidos, revoluciona a produção


cinematográfica mundial. Os anos 30 consolidam os grandes estúdios
e consagram astros e estrelas em Hollywood. Os gêneros se
multiplicam e o musical ganha destaque. A partir de 1945, com o fim
da 2a Guerra, há um renascimento das produções nacionais – os
chamados cinemas novos. (ALMANAQUE ABRIL, 1998 p. 4)

Muito utilizado como propaganda de guerra, era muito comum tanto na 1ª


quanto na 2ª GM6 o lançamento de filmes que criticavam ou afirmavam as barbáries
que aconteciam naquela época. Hitler e Stalin, por exemplo, eram fãs da sétima arte
e fizeram questão de utilizá-la para propagar seus ideais para o seu povo e para o
resto do mundo. Em contrapartida, nos Estados Unidos outras obras que criticavam
a guerra e a onda nazista e fascista que rodeava a Europa começaram a aparecer
também. Na 1ª GM, por exemplo, foi lançado o filme All Quiet on the Western Front
(Sem Novidade no Front) em 1930 e mostra a história de jovens patriotas que se
alistam ao exército alemão e acabam descobrindo como a guerra não faz sentido
algum. (Kemp, 2011)

IMAGEM 5 – Pôster do filme “Sem Novidade no Front” de Lewis Milestone


(1930)

(Fonte: http://cinemalivre.net/filme_sem_novidade_no_front_1930.php)

6 Guerra Mundial
28

Na 2ª GM também não poderia ter sido diferente e principalmente por conta


da grande ascensão dos Estados Unidos nas produções cinematográficas as
propagandas anti nazismo eram cada vez mais comuns nas obras daquela época.
De acordo com Kemp (2011):
Em 1941, talvez Hollywood já estivesse em melhores condições para
enfrentar uma guerra do que o Exército americano ou qualquer órgão
de defesa nacional. Conformada com a perda do mercado europeu e
alinhada com a política de “boa vizinhança” do Presidente Roosevelt,
a indústria investiu nas mais variadas tentativas de se expandir (...)
com os musicais da Twentieth Century Fox estrelados por Carmem
Miranda, feitos para seduzir os mercados das Américas do Sul e
Central. Mesmo antes da entrada dos Estados Unidos na guerra,
Hollywood vinha produzindo uma série de obras com tendências
propagandistas. Semanas antes de Pearl Harbor, já estaria realizando
filmes de guerra patrióticos. (KEMP, 2011 p. 155)

Simultaneamente aos filmes com contexto de guerra, um gênero se destacou


nesta mesma época – os musicais. Desde o início do som no cinema, os musicais
passaram a fazer bastante sucesso e eram normalmente inspirados no teatro
musical que já fazia bastante sucesso naquela época. Mesmo sendo feitos para
encantar os espectadores, os musicais ainda tinham um cunho político e tentavam
seduzir novos aliados, assim como foi feito com Carmem Miranda.
Muitos atores ficaram mundialmente famosos com seus filmes musicais,
podendo citar Fred Astaire, Judy Garland, Debbie Reynolds e Gene Kelly, que ficou
conhecido pelo grande musical Singin’ in the Rain (Cantando na Chuva) lançado em
1952.

IMAGEM 6 – Pôster de “Cantando na Chuva” de Gene Kelly (1952)

(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Singin%27_in_the_Rain)
29

Com o fim da guerra, Hollywood havia lucrado mais que nunca e bateu
recordes de bilheteria nos anos subsequentes. Porém, com a “ameaça comunista”
assombrando os estadunidenses, todos que fossem acusados de simpatizar com o
comunismo eram impedidos de trabalharem nos estúdios e com isso o medo se
instalou, fazendo com que as produções caíssem de qualidade e as bilheterias do
cinema entrassem em decadência (Kemp, 2011). A televisão ganhou forças nessa
época e o futuro de da indústria cinematográfica nos Estados Unidos já era incerto.
Para competir com a televisão, filmes épicos começaram a ser produzidos
como Ben-Hur, lançado em 1959. Outras estratégias foram criadas para trazer o
público de volta as salas de cinema: as telas ficaram maiores, gêneros novos foram
criados, o fim da censura permitiu que os cineastas tivessem mais liberdade, entre
outros (Kemp, 2011).
Durante todos esses anos, muitos movimentos foram nascendo e tomando
forma em vários lugares do mundo, podendo citar a Nouvelle Vague, na França, o
Neorrealismo italiano, a New Wave britânica, dentre muitos outros. Nos Estados
Unidos, entre as décadas de 60 e 70 começam a despontar nomes conhecidos e
aclamados até hoje como por exemplo Stanley Kubrick (Dr. Fantástico – 1964),
Francis Ford Copolla (O Poderoso Chefão – 1972) e Martin Scorsese (Taxi Driver –
1976).

IMAGEM 7 – Martin Scorsese e Robert DeNiro nos bastidores do filme “Taxi


Driver” (1976)
30

(Fonte: http://www.imdb.com/title/tt0075314/mediaindex?ref_=tt_mv_close)

No Brasil, considera-se a grande revolução do cinema a partir do Cinema


Novo na década de 60. Segundo Bernardet (1981), até o golpe militar de 1964 o
cinema brasileiro era basicamente com temática rural, tendo como exemplo “Vidas
secas”, lançado em 64. Após o golpe, o enfoque passa a ser nas classes médias e
chegando a atingir sucesso internacional com Macunaíma de 1969.
Voltando a Hollywood, já na década de 80 muitas variedades de gêneros se
estabeleceram nessa época, surgindo muitos sucessos aclamados até hoje,
reafirmando o nome de muitos diretores como Steven Spielberg (E.T. – 1982) e
Stanley Kubrick (O Iluminado – 1980)7.

IMAGEM 8 – Steven Spielberg e boneco E.T. divulgando seu filme “E.T. – O


Extraterrestre” (1982)

(Fonte: http://www.denofgeek.com/uk/movies/steven-spielberg/45886/spielberg-at-70-indy-et-and-the-
1980s)

Na mesma época o cinema independente teve o despontar de seu sucesso,


ficando cada vez mais forte com a chegada da década de 90 e a estreia de grandes
diretores como por exemplo, Quentin Tarantino (Cães de Aluguel – 1992) e Sofia
Coppola (As Virgens Suicidas – 1999)8.

7 Fonte: <https://cinema10.com.br/materias/decada-de-1980-um-periodo-amado-pelos-cinefilos>
8 Fonte: Almanaque Abril (1998) e Revista Moviement <Disponível em: https://revistamoviement.net/o-
cinema-na-decada-de-90-parte-2-9b4945ba30ea>
31

IMAGEM 9 – Sofia Coppola e Kirsten Dunst nos bastidores do filme “As


Virgens Suicidas” (1999)

(Fonte: https://www.ufmg.br/cedecom/labcon/disciplinas/jornalismo-on-line/mostra-cidades-cinema-
erotica-territorial/attachment/the-virgin-suicides-coppola/)
O início do século XXI foi marcado, principalmente, por adaptações literárias
que fizeram muito sucesso como Harry Potter (2001 – 2011) e O Senhor dos Anéis
(2001 – 2003), além da popularidade dos filmes de super-herói que voltaram a
aparecer nesta época (Kemp, 2011).

IMAGEM 10 – Pôsteres dos 8 filmes da franquia “Harry Potter” (2001 – 2011)

(Fonte: https://bloglibros.universia.es/las-mejores-10-peliculas-basadas-en-libros/)
32

Hoje em dia, com a evolução da tecnologia e do grande interesse do público


pelo cinema, a arte não para de crescer e inovar. Muitos outros países tiveram os
despertares de suas produções cinematográficas ao longo dos anos, como por
exemplo o cinema latino-americano e asiático, e nos dias de hoje só tendem a
crescer e achar seus espaços na indústria. Quanto mais o mundo se transformar e
evoluir, mais o cinema tende a crescer e inovar, retratando para nós a realidade e o
desejo humano como sempre fizera.

2.3 – CINEMA ALÉM DO ENTRETENIMENTO

Quando assistimos um filme no cinema é comum nos encantarmos pela


história e pelos personagens. Mas além disso, outros elementos chamam a atenção
dos espectadores como a fotografia, a trilha sonora, a locação, o figurino, dentre
outros. Podemos dizer que o cinema não é para ser apenas assistido, mas também
absorvido, explorado, estudado. Segundo Xavier (1983):
A presença (...) de escritos que procuram explicar como se estrutura
a relação filme/espectador evidencia um critério básico: dar privilegio
às tentativas de caracterizar, discutir, avaliar o tipo de experiencias
audiovisuais que o cinema oferece – como suas imagens e sons se
tornam atraentes e legíveis, de que modo conseguem a mobilização
poderosa dos afetos e se afirmam como instancia de celebração de
valores e reconhecimentos ideológicos, mais talvez do que
manifestação de consciência crítica. (XAVIER, 1983 p. 10)

No seu início, não poderíamos considerar a indústria cinematográfica como


uma realidade. De acordo com Moreira (2016), os filmes não eram produzidos como
um conjunto completo como é hoje em dia, mas em blocos e os exibidores detinham
os direitos integrais de um filme quando os adquiriam. Por conta disso, muitos
exibidores misturavam histórias, alternando blocos e criando assim outras histórias.
Com a ideia de linguagem cinematográfica9 ficando cada vez mais forte na mente
dos produtores, os filmes passaram a ser feitos como peças únicas e não sendo
mais vendidos aos exibidores, mas sim alugados pelo intermédio das distribuidoras.
Com essa mudança os exibidores passaram a ter mais verba para alugar mais filmes
e a demanda ficou maior, o que consequentemente aumentou a necessidade de

9 “Chamamos de linguagem cinematográfica o conjunto de planos, ângulos, movimentos de câmera e


recursos de montagem que compõem o universo de um filme.” (Fonte:
cinemahistoriaeducacao.wordpress.com/cinema-e-educacao/sobre-cinema-e-educacao/linguagem-
cinematografica)
33

produzir mais filmes. O resultado dessas mudanças foi a transformação do cinema –


antes uma forma simples de entretenimento – em uma indústria sólida e lucrativa.
A indústria cinematográfica é a segunda mais lucrativa no ramo audiovisual
atualmente, perdendo apenas para os games, faturando US$38,5 bilhões em 2016. 10
Isso mostra como o cinema é influente e por mais que atualmente o capitalismo seja
um guia para produzir mais – quanto mais filmes forem produzidos, mais pessoas
continuam consumindo e as empresas continuam lucrando – não há como negar
que a beleza do cinema é relevante e importante apesar disso. De acordo com
Canevacci (1984):
O espírito do cinema é a forma alienada através da qual o capital se
manifesta em sua fenomenologia; é a ideologia do capital que põe a
si mesmo como contingência, como aparição milagrosa, como
parábola-fábula-mito. É espírito porque sua potência não é tanto de
natureza físico-material imediata, porém mais insidiosa, impalpável,
luminosa, como que transfigurada. (CANEVACCI, 1984 p. 32)

A forma como os espectadores consomem cinema também mudou com o


passar do tempo. Atualmente os filmes são produtos prontos que nos fazem
consumir não apenas o ingresso do cinema ou o aluguel on demand11 mas também
faz com que desejemos o que assistimos, seja uma peça de roupa, um alimento, um
objeto de decoração ou até mesmo conhecer o local que foi gravado. É inevitável,
por exemplo, assistir um filme ambientado em Nova York (EUA) e não sentir vontade
de conhecer aqueles locais onde os personagens vivem.

IMAGEM 11 – Cena do filme “Sex and the City – O Filme” de Michael Patrick
King (2008)

(Fonte: https://vimeo.com/80643636)

10 Fonte: <https://mundoestranho.abril.com.br/cultura/que-industria-fatura-mais-do-cinema-da-musica-
ou-dos-games/>
11 “Disponível, pronto para entrega, (produzido) conforme a demanda.” (Fonte:
www.teclasap.com.br/o-que-on-demand-significa/)
34

No turismo, essa é uma atividade – chamada Turismo Cinematográfico (ver


1.2.8) – que vem crescendo bastante nos últimos anos e já é um segmento bem
estruturado. No capítulo seguinte este segmento será abordado de forma mais
aprofundada, além de apresentar outras maneiras que o cinema influencia nossas
vidas e serve como objeto de estudos.
35

CAPÍTULO 3: TURISMO E O CINEMA

3.1 – CINETURISMO E AS FILM COMMISSIONS

Como já fora citado acima, o cinema influencia nossa vida de muitas formas e
já deixou de ser apenas um meio de entretenimento há alguns anos. As imagens na
tela do cinema são convidativas para entrarmos naquela atmosfera e vivenciarmos
tudo aquilo que vemos e não demorou muito para que os responsáveis pelo turismo
percebessem o potencial do cinema para promover viagens e destinos. De acordo
com Nascimento (2009):
Se tanto a literatura, como o cinema ou mesmo a pintura, entre tantas
outras linguagens artísticas, sempre estimularam imaginários de
viagens, como negócio, somente nos últimos dez anos essas formas
de arte passam a ser estrategicamente combinadas e/ou associadas
a um mix maior de produtos e serviços. Além disso, muito mais do
que simples instrumentos de promoção turística, passaram a ser
formatadas como novos atrativos e produtos por si próprios.
(NASCIMENTO, 2009 p. 11)

A partir dessa descoberta de interesses mútuos entre as duas atividades


surgiu o cineturismo, uma forma de turismo que se baseia na visitação às locações
onde são produzidos filmes e séries televisivas e cinematográficas (Nascimento,
2009 p. 12). O cineturismo tem sido cada vez um sucesso maior e os turistas desse
segmento ganharam um nome próprio: Set Jetters. Os impactos do turismo
cinematográfico são reais e podemos observar seus impactos em vários países
diferentes, de acordo com a tabela abaixo produzida pelo Ministério do Turismo
(2007):
36

IMAGEM 12 – TABELA “IMPACTOS DO TURISMO CINEMATOGRÁFICO” (2007)

(*) Filme não lançado no Brasil.


(Fonte: Estudo de Sinergia e Desenvolvimento entre as Indústrias do Turismo e Audiovisual
Brasileiras. Ministério do Turismo. 2007)

Se analisarmos com clareza é fácil perceber como essa atividade se


popularizou tão rápido no mundo inteiro. Quando pensamos em Paris, por exemplo,
logo associamos a uma cidade muito romântica e esse pensamento parte
principalmente dos filmes que nos mostraram milhares de casais e cenas de amor
filmadas em terras parisienses. Quando pensamos em Nova York sempre ligamos a
uma cidade que nunca dorme, muito cosmopolita e moderna, mais uma vez uma
imagem que já foi mostrada milhares de vezes – tanto no cinema quanto em séries
de televisão – e é fácil de deduzir que, sem o cinema, grande parte do imaginário
que acompanha esses destinos não seria o mesmo e talvez não fossem tão
populares como são atualmente.
Os seres humanos são extremamente ligados a emoções e experiências e
desde sempre foi assim. Além de sermos exploradores, também somos sonhadores
e o cinema nos desperta a vontade de encontrar na vida real o que é apresentado
de forma lúdica e perfeita nas telas. De acordo com Ury (1999)12:
Influenciados por essas mídias [cinema, televisão e literatura], os
indivíduos vão buscar viver “na realidade” os mesmos fatos criados e

12 Apud Flávio Martins e Nascimento. Cineturismo. São Paulo: Aleph, 2009.


37

reforçados em seu imaginário. Este é um estímulo tão intenso que


quando alguém tem a possibilidade de conhecer a terra dos seus
sonhos, mais do que se imaginar nesse território idílico, vai desejar
sentir as experiências vividas nas narrativas que lhe foram
apresentadas. (NASCIMENTO, 2009 p. 22)

Com o crescimento do Cineturismo muitos países perceberam a força que as


produções audiovisuais têm para atrair turistas e começaram a investir neste
segmento. Em Londres, por exemplo, existe o Warner Bros. Studio Tour London -
The Making of Harry Potter, um tour pelos estúdios onde foram filmados os filmes da
saga Harry Potter. No site oficial do turismo de Londres, esta é a primeira atração
divulgada da seção “Melhores tours de Londres”13. Na Tunísia, existe um hotel que
desde 2015 oferece aos hóspedes uma experiencia de viver dentro da atmosfera de
Star Wars, construído no mesmo lugar onde foi filmado Star Wars Episódio IV: Uma
Nova Esperança. Em Nova York existe uma empresa especializada em tours
dedicados a visitações de locações de séries e filmes na cidade chamada On
Location Tours14 disponibilizando passeios pelos sets de séries como Sex And The
City, Gossip Girl e um tour completo inspirado em muitas produções já feitas na
cidade.

IMAGEM 13 – HOTEL SIDI DRISS NA TUNÍSIA INSPIRADO EM STAR WARS

(Fonte: https://www.uniqhotels.com/hotel-sidi-driss-star-wars)

13 Best London Tours. Disponível em: < https://www.visitlondon.com/things-to-


do/sightseeing/sightseeing-tours/top-london-tours>.
14 Disponível em: <https://onlocationtours.com>
38

Foi pensando na oportunidade de expandir o turismo em seus países que


foram criadas as Film Commissions, denominação reconhecida internacionalmente
de um escritório de apoio à produção audiovisual, além de oferecer serviços
gratuitos de apoio logístico e facilitação de autorizações de filmagem de todo tipo de
conteúdo audiovisual (SOLOT, 2017). Sua principal função é promover cidades e
fazê-las locação de novas produções audiovisuais no intuito de atrair mais turistas.
De acordo com Nascimento (2009):
A atuação das Film Commissions vai além. Além de facilitadoras na
superação das burocracias locais e do gerenciamento logístico na
hora da filmagem, também atuam como promotoras de suas regiões
antecipando-se em prospectar projetos de filmagem em fase de pré-
produção, apresentando as vantagens de suas locações e serviços
locais. (...) Em termos de marketing e promoção turística, as
estratégias são inúmeras de bastante distintas, podem utilizar
recursos cinematográficos para promover novos destinos, criar e
lançar novos produtos ou mesmo reforçar o apelo de destinos já
consagrados. (NASCIMENTO, 2009 p. 30)

Atualmente são mais de 30015 Film Commissions associadas a Association of


Film Commissioners International (AFCI) e de acordo com a Rede Brasileira de Film
Commissions (REBRAFIC)16 já existem mais de 20 FC estabelecidas e em formação
no Brasil. Existem muitos casos de sucesso de FCs pelo mundo e abordaremos
alguns neste capítulo.
A Australian Film Commissions (AFC) é um dos casos que vem crescendo
cada vez mais, principalmente por suas paisagens exóticas. Os fatores que atraem
produções à Austrália, além das locações, são: língua nativa inglesa, mão-de-obra
técnica competente e mais barata que a norte-americana, câmbio da moeda
favorável, incentivos fiscais agressivos e a oferta de um excelente parque industrial
de equipamentos – a Fox inclusive construiu um complexo de estúdios na região,
visando a produção e finalização de filmes de alto orçamento. (Ministério do
Turismo, 2007). Além disso, muitos diretores australianos que fazem sucesso
atualmente em Hollywood passaram a filmar seus longas em sua terra natal,
aumentando a popularidade da Austrália na escolha de locações, como foi o caso de
Mad Max (1979) de George Miller. Alguns outros sucessos filmados na Austrália que
podemos citar são a trilogia Matrix e Missão Impossível II.
Outro caso de sucesso, e provavelmente o mais famoso de todos, é a New
Zealand Film Commission, criada no final da década de 1970. Em quase 30 anos

15 Fonte: <http://www.afci.org/about-afci>
16 Fonte: < http://www.rebrafic.net/pt-br/>
39

mais de 250 filmes foram ambientados por todo o país, podendo citar O Piano
(1993), O Último Samurai (2003), entre outros. Segundo o primeiro diretor de
marketing da NZFC, após o sucesso de O Piano, uma grande quantidade de
pessoas passou a visitar o país em busca das locações do filme (Nascimento, 2009).
Mas após o lançamento de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) a
procura pela Nova Zelândia aumentou de uma maneira surpreendente. O número de
visitantes provenientes dos EUA cresceu 9,6% sobre números de 2001 e um estudo
feito pela Monash University, publicado em 2004, mostra que 8,6% dos visitantes ao
país foram influenciados pela trilogia do anel, e 95% dos entrevistados identificaram
o filme com a Nova Zelândia (Ministério do Turismo, 2007). A influência da trilogia foi
tão grande que a própria Nova Zelândia apelidou sua economia de Economia Frodo,
nome de um dos personagens mais icônicos da história. O impacto da trilogia no
país é tão grande que no aeroporto da capital Wellington existe uma escultura de
aproximadamente 13 metros de altura expondo um dos personagens do filme.17

IMAGEM 14 – CENA DO FILME “O SENHOR DOS ANÉIS” DE PETER JACKSON


(2001)

(Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=z1_rCnOQRP4)
No entanto, existem também os contras e em alguns casos o cineturismo
pode impactar locais de maneiras negativas, como prejudicar a imagem ou até

17Fonte: G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2012/11/escultura-gigante-


de-gollum-e-atracao-em-aeroporto-neozelandes.html>
40

mesmo alterando o ecossistema de um país. Podemos utilizar a Nova Zelândia


como exemplo: o país prosperou com o aumento da atividade turística, mas por
outro lado os impactos ambientais causados pela quantidade excessiva de visitantes
preocuparam os governantes neozelandeses. Pensando nisso, originou-se a 100%
Pure New Zealand que, de acordo com Nascimento (2009), foi criada com a
estratégia de criar a imagem de país preocupado com a preservação da natureza e
da cultura local, mas associada à possibilidade de um visitante viver ali uma
experiência única, diferente de qualquer outro lugar do planeta. Sem um
planejamento correto é possível observar como os impactos ambientais são
perigosos, fazendo com que seja necessário que o fluxo de turistas seja controlado
para não criar maiores danos.
Outro caso de impacto negativo do cineturismo que podemos citar ocorreu no
Brasil devido à falta de planejamento e promoção desenfreada dos responsáveis
pela obra. O filme Turistas (2006) conta a história de jovens estadunidenses que
viajam ao Brasil e acabam sendo vítimas de uma quadrilha de tráfico de órgãos foi
lançando nos Estados Unidos e causou muita polêmica tanto entre os críticos como
na indústria turística do Brasil. De acordo com Nascimento (2009):
Esse é um exemplo que apenas demonstra a importância da atuação
conjunta entre os diversos organismos aqui apontados, além da
responsabilidade crescente das film commissions, já que sua atuação
passa a envolver não apenas a promoção das locações para as
produtoras internacionais, mas principalmente o cuidado com os
conteúdos a serem produzidos ali. (NASCIMENTO, 2009 p. 72)

Compreende-se que as Film Commissions são de extrema importância para


que a relação entre o cinema e o turismo seja cada vez mais fácil e vantajosa para
ambos e também é importante ressaltar que, por mais que seja importante para uma
cidade se desenvolver turisticamente, é extremamente importante que haja
planejamento e infraestrutura para que não acabe virando um grande problema para
o país e para seus cidadãos. Mas ainda é cedo para chegarmos a conclusões
exatas, já que de acordo com Beeton (2005)18, entre os cem maiores filmes de todos
os tempos nos Estados Unidos, apenas um pequeno punhado pode ser apontado
como consideravelmente influente em termos turísticos. Apesar disso, é uma
atividade em constante crescimento e com muito potencial para se tornar influente
no mundo todo.

18 Apud Flávio Martins e Nascimento. Cineturismo. São Paulo: Aleph, 2009.


41

3.2 – PESQUISA E METODOLOGIA

A pesquisa elaborada para esta monografia foi a qualitativa, feita com o ator e
cineasta Raul Labancca. A entrevista foi feita no dia 24 de maio de 2018 via e-mail,
não podendo ser realizada pessoalmente por incompatibilidade de horários. Foram
aplicadas oito perguntas ao entrevistado e as respostas na íntegra podem ser
encontradas no apêndice desta monografia.
Inicialmente foi perguntado por que o cineturismo se tornou tão popular entre
os viajantes e, de acordo com o entrevistado, “o audiovisual tem o poder de expor de
uma forma direta as diversas qualidades de uma localidade. Muitas vezes autores
de filmes utilizam até de manifestações de cultura popular local em seus roteiros,
auxiliando assim a determinação de tempo espaço (época e local onde está
ocorrendo a trama). Por exemplo o filme Orfeu Negro, utilizou a filmagem do desfile
de uma escola de samba, com isso determinou que a trama ocorria no Rio de
Janeiro, em época de carnaval. Além disso, essa exposição das atrações do local da
filmagem gera maior interesse do turista familiar.”
Em seguida fora questionado se essa relação turismo-cinema é benéfica para
os dois lados e, em sua opinião, essa relação é muito boa em muitos aspectos e não
só os indutores do turismo em si como também em gerar mais empregos na cidade
em questão. “Há pouco tempo participei da filmagem do próximo longa-metragem do
Fábio Porchat (não posso dar muitos detalhes por contrato de sigilo de obra). Fomos
para uma cidade no interior do Rio de Janeiro. Só a equipe envolvida na filmagem
ocupou dois hotéis da cidade e usou uma pousada para locação das filmagens. Isso
fora transportes locais, atrações e alimentação para momentos de folga fora dos
momentos de filmagem. Em contrapartida, a prefeitura e os comerciantes locais
geraram facilidades para a realização das filmagens. Com isso o custo do filme caiu
e tenho certeza que com os recursos capitados para gastos com a filmagens, a
produção conseguiu realizar a obra com mais facilidade orçamentária.” Este
exemplo mostra como o cineturismo não influencia apenas no fomento da atividade
turística, mas também em outras áreas que não pensaríamos normalmente, como
por exemplo, restaurantes ou supermercados.
Quando perguntado se acredita que o cineturismo é um segmento que tende
a crescer ainda mais Raul presume que há muito potencial para isso, principalmente
com o crescimento das FCs e completa: “As Film Commissions como facilitadora da
42

realização de produtos em audiovisual desde a realização do roteiro, até a busca por


locações, por muitas vezes gera um volume de negócios com muitos mais braços do
que a divulgação local ou ocupação de vagas e restaurantes. É uma prática que é
muito iniciante no Brasil, e que na maioria as vezes é mais explorada por produtos
televisivos do que cinematográficos. Mas as iniciativas estão surgindo em diversos
locais do país e acredito que essa tendência de negócios seja de crescimento,
apesar do momento político cultural recessivo do país.”
As próximas perguntas feitas foram se o Brasil está obtendo sucesso com as
Film Commissions e qual o maior obstáculo que elas têm de ultrapassar no Brasil e,
de acordo com o entrevistado, ainda há muito para percorrer no país e reforça: ”
enquanto as Film Commissions forem ligadas a órgãos públicos com funcionários
politicamente escalados em seus comandos, faltará força comercial para as
associações de empresas turísticas com produtores de audiovisual. ”
Sobre a imagem que difundem no mundo, foi perguntado se na sua opinião
filmes ajudam a reforçar estereótipos negativos de países, como por exemplo países
africanos serem associados a fome e guerra e países latinos ao tráfico de drogas e
prostituição, Raul concorda e ainda dá exemplos. “Duas comédias nacionais foram
sucesso de bilheteria (nomes não citados por questões éticas) foram rodadas em
locações fechadas, se passavam no apartamento dos protagonistas, e no máximo
um plano de localização da fachada desse edifício. Esses protagonistas mudam de
vida e conseguem o sucesso profissional. Quando foi realizada a sequência da
franquia, os protagonistas foram para Nova York, com todas as belas imagens
possíveis do local e o conforto dos hotéis onde ficaram instalados. Por que não teve
o mesmo glamour no momento que enriqueceram no Brasil? Por que não foram
jantar em ótimos restaurantes e viajaram para praias maravilhosas que sabemos
que existem no país, sendo otimamente tratados em hotéis locais? A falta de
incentivo da realização desses negócios e a utilização de verba de empresas
multinacionais me levam a pensar que é esse o motivo.”
Finalizando a entrevista, foi abordado se o entrevistado já teria sido influenciado
a conhecer alguma cidade e a resposta foi proveitosa. “Sim, vários. Como exemplo,
Casa de Areia, que me deixou completamente envolvido em ir aos Lençóis
Maranhenses e enquanto não coloquei os pés naquelas dunas brancas não fiquei
satisfeito. O filme de Andrucha Waddington, foi rodado na cidade de Santo Amaro, e
a premiadíssima fotografia, que atua como elemento da trama, nos leva a intenção
43

de conhecer o belíssimo local, apesar de ter sido rodado apenas nas zonas de
amortecimento, nos deixa absortos na vontade de conhecer toda a área de proteção
ambiental.”

3.3 – ANÁLISE DOS RESULTADOS

Baseado na pesquisa e na entrevista apresentados nesse capítulo, podemos


perceber que o Cineturismo tem se tornado cada vez mais um segmento muito
relevante e atual e que os responsáveis pelo turismo do mundo deveriam investir
mais e melhor. De acordo com a tabela mostrada na página 36, é muito evidente
como a influência do cinema na hora do turista escolher seu destino é enorme e
como ela afeta várias outras áreas, como por exemplo a economia e na entrevista
(ver p. 42) isso é mostrado com clareza de acordo com o exemplo do entrevistado
que comparou o Cineturismo também como uma forma de Turismo de Negócios que
gera mais empregos para os moradores locais e, consequentemente, incentiva a
economia a crescer. E com o apoio das Film Commissions a execução da atividade
é muito mais fácil e vantajosa para ambos os lados. Porém, é necessário muito
planejamento para que as cidades não sejam afetadas negativamente, tanto em
questão ambiental como na Nova Zelândia quanto também na desvalorização de
sua imagem para o mundo, como aconteceu com o filme Turistas (2006) no Brasil.
No Brasil, percebemos que o turismo cinematográfico ainda tem um longo
caminho para se fortalecer e ser executado apropriadamente. A falta de incentivos e
de interesse na área é a grande culpada da não evolução da atividade no país, que
valoriza muito mais as produções televisivas do que as cinematográficas na hora de
divulgar localidades diversas e fazer com que as pessoas se interessem em
conhecer aquele cenário.
44

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo está presente em nossas vidas há muito mais tempo do que


podemos lembrar além de ser uma atividade muito complexa que precisa ser
estudada com cautela para ser vantajosa para todos que estão envolvidos. Por isso
a segmentação turística auxilia muito para determinar o público alvo de cada
segmento e, assim, melhorar a qualidade de seu serviço de acordo com cada tipo de
turista, utilizando-se de estratégias como o desenvolvimento do produto turístico
para atrair o turista até certos locais que não teriam nada atraente à primeira vista
mas que, se trabalhados da maneira correta, se transformam numa experiência
inesquecível para o cliente. Essa experiência pode ser, por exemplo, visitar uma
cidade que serve de pano de fundo de seu filme favorito.
É inquestionável que o cinema e o turismo são dois segmentos que se
complementam e que cada vez mais essa relação tende a crescer, sendo
impulsionado pela vontade natural do homem de conhecer novos lugares e novas
culturas. De acordo com Nascimento (2009):
A realização de uma viagem, a prática do viajar, deve ser entendida,
portanto, como a materialização de um imaginário previamente
construído, reforçado e eficazmente amplificado por toda uma
estrutura midiática, destacando-se especialmente o cinema.
(NASCIMENTO, 2009 p. 68)

Não podemos dizer que o maior incentivador de viagens do mundo seja o


cinema, porém é muito fácil desejar conhecer um lugar que já foi previamente
apresentado de uma maneira atraente. Estudos sobre o assunto têm sido feitos em
países como Itália – que vem realizando anualmente os Simpósios Internacionais de
Turismo Cinematográfico –, Reino Unido, Nova Zelândia e Espanha19 e os
resultados são cada vez mais encorajadores, mostrando que o segmento cada dia
mais ganha seu espaço no mercado.
Além disso, o frequente crescimento das Film Commissions e seus vários
casos de sucesso também são muito importantes para a atividade e também para
incentivar cada vez mais a arte e a cultura de diversas formas – nesse caso com o
cinema nos fazendo querer conhecer lugares novos que talvez não teríamos acesso
– e fazer cidades esquecidas turisticamente se destacarem para o mundo.

19 Fonte: NASCIMENTO, Flávio Martins e. Cineturismo. São Paulo: Aleph, 2009.


45

O que realmente atrapalha a atividade do cineturismo no mundo é a falta de


infraestrutura e de planejamento dos países, fazendo com que cidades comecem a
explorar muito esse campo de maneira desenfreada, acarretando a superexposição
que não tem capacidade para comportar. Problemas sociais como a violência e o
tráfico de drogas são muito perigosos combinados a essa superexposição para os
turistas e é importante ressaltar que, por mais que seja importante para uma cidade
se desenvolver turisticamente, é extremamente importante que haja planejamento e
infraestrutura para que não acabe virando um grande problema para o país e para
seus moradores. O cineturismo é um grande sucesso no mundo inteiro e cada vez
mais países estão aderindo a essa alternativa para se divulgarem e melhorarem sua
imagem mundo afora.
46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMANAQUE ABRIL. A História do Cinema. São Paulo: Editora Abril, 1998.

ANSARAH, Marilia Gomes dos Reis; PANOSSO NETTO, Alexandre (org.).


Segmentação do Mercado Turístico: estudos, produtos e perspectivas. Barueri,
São Paulo: Manole, 2009.

Association of Film Commissioners International. Disponível em:


<http://www.afci.org/>

BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: Editora SENAC,
1997.

BERNARDET, Jean-Claude. O que é Cinema. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.


(Coleção Primeiros Passos).

Best London Tours. Disponível em: <https://www.visitlondon.com/things-to-


do/sightseeing/sightseeing-tours/top-london-tours>.

BRASIL. Ministério do Turismo. Destino Referência em Turismo de Sol e Praia.


Goiânia: 2010. Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads
_publicacoes/jericoacoara.pdf>

BRASIL. Ministério do Turismo. Destinos de Referência em Turismo de Negócios


e Eventos. Goiânia: 2010. Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads
_publicacoes/ribeirao.pdf>

BRASIL. Ministério do Turismo. Destinos de Referência em Turismo de Aventura.


Goiânia: 2010. Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads
_publicacoes/lenis_destinos_referencia.pdf>
47

BRASIL. Ministério do Turismo. Destinos de Referência em Turismo de Estudos e


Intercâmbio. Goiânia: 2010. Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads
_publicacoes/saojoaodelrei.pdf>

BRASIL. Ministério do Turismo. Estudo de Sinergia e Desenvolvimento entre as


Indústrias do Turismo e Audiovisual Brasileiras. Brasília: 2007. Disponível em:
<www.turismo.gov.br>

BRASIL. Ministério do Turismo. Marketing de Destinos Turísticos. Brasília: 2010.


Disponível em: <www.turismo.gov.br>

BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo Cinematográfico Brasileiro. Brasília:


2010. Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads
_publicacoes/Cartilha_Cinema.pdf>

CANEVACCI, Massimo. Antropologia do Cinema. São Paulo: Editora Brasiliense,


1984.

CURITIBA. Prefeitura Municipal. Curitiba Film Commission. Disponível em:


<http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/film-commission/o-que-e/>.

DANTAS, José Carlos de Souza. Qualidade do atendimento nas agências de


viagens: Uma questão de gestão estratégica. São Paulo: Editora Roca, 2008.

DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício. Fundamentos do Marketing Turístico. São


Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

FIGUEIRA, Ana Paula; FIGUEIRA, Victor; MONTEIRO, Sérgio. Turismo e Cinema: A


Importância de uma Film Commission na Promoção do Destino Alentejo.
Espanha: International Journal of Scientific Management and Tourism. 2015 (pp 29-
37).
48

G1. Escultura gigante de Gollum é atração em aeroporto neozelandês. 2012.


Disponível em: <http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2012/11/escultura-
gigante-de-gollum-e-atracao-em-aeroporto-neozelandes.html>
https://biblioteca.unilasalle.edu.br/docs_online/tcc/graduacao/turismo/2010/akperlin.p
df>

IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do Turismo. São Paulo: Thomson, 2003.

KEMP, Philip (org.). Tudo sobre Cinema. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.

KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de Marketing. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2015.

Linguagem cinematográfica. Disponível em:


<hhtp://www.cinemahistoriaeducacao.wordpress.com/cinema-e-educacao/sobre-
cinema-e-educacao/linguagem-cinematografica>

MADRIL, Marilia Leticia; HAYATA, Kivea Sarmento. Turismo Cinematográfico: Um


novo segmento para o desenvolvimento turístico. São Paulo: Trabalho de
Conclusão de Curso. Faculdade Cásper Líbero, 2009.

MOREIRA, Carol. Como o cinema virou uma INDÚSTRIA! | HISTÓRIA DO


CINEMA #4. 2016. Disponível em: <https://youtu.be/sxu2BiQeWUk>

NASCIMENTO, Flavio Martins e. Cineturismo. São Paulo: Aleph, 2009. (Coleção


ABC do Turismo).

O cinema na década de 90: entre o Muro de Berlim e as Torres Gêmeas. 2016.


Disponível em: <https://revistamoviement.net/o-cinema-na-decada-de-90-parte-2-
9b4945ba30ea>

On Location Tours: TV & Movie Tours of New York City and Boston. Disponível
em: <https://onlocationtours.com>
49

PERLIN, Alan Kuneck. Turismo Cinematográfico: Potencialidades das


produções cinematográficas como fator de atração turística. Trabalho de
Conclusão de Curso. Unilasalle, 2010. Disponível em:

Que indústria fatura mais: do cinema, da música ou dos games? 2018.


Disponível em: <https://mundoestranho.abril.com.br/cultura/que-industria-fatura-
mais-do-cinema-da-musica-ou-dos-games/>

Rede Brasileira de Film Commissions. Disponível em: <http://www.rebrafic.net/pt-


br/>

SOLOT, Steve. O futuro das Film Commissions no Brasil. São Paulo: Revista
Cinema.

SOLOT, Steve. Um Marco Regulatório para as Film Commissions no Brasil: A


Lição do México. São Paulo: Revista Cinema, 2017. Disponível em: <
http://revistadecinema.com.br/2017/05/um-marco-regulatorio-para-as-film-
commissions-no-brasil-a-licao-do-mexico/>

SOLOT, Steve. Uma imagem vale mais que mil palavras. Disponível em:
<http://www.culturaemercado.com.br/site/pontos-de-vista/o-turismo-cinematografico-
e-film-commissions>

XAVIER, Ismail (org.). A Experiência do Cinema: antologia. Rio de Janeiro:


Edições Graal, 1983.

APÊNDICE – ENTREVISTA COMPLETA PESQUISA QUALITATIVA


50

PERGUNTA 1: Para você, por que o cineturismo se tornou tão popular entre os
viajantes?

O Audiovisual tem o poder de expor de uma forma direta, as diversas qualidades


de uma localidade. Muitas vezes autores de filmes utilizam até de manifestações de
cultura popular local em seus roteiros, auxiliando assim a determinação de tempo
espaço (época e local onde está ocorrendo a trama). Por exemplo o filme Orfeu
Negro, utilizou a filmagem do desfile de uma escola de samba, com isso determinou
que a trama ocorria no Rio de Janeiro, em época de carnaval. Além disso, essa
exposição das atrações do local da filmagem gera maior interesse do turista familiar.
Como outro exemplo falo de um produto audiovisual de TV. A TV Globo utilizou o
Jalapão como locação para um de seus produtos. E isso levou ao fluxo de turistas
em busca de ver aquelas belezas naturais.

PERGUNTA 2: Você acha que essa relação turismo-cinema é benéfica para os


dois lados?

Podemos tratar também o cineturismo pela ótica do Turismo de negócios. Há


pouco tempo participei da filmagem do próximo longa-metragem do Fábio Porchat
(não posso dar muitos detalhes por contrato de sigilo de obra). Fomos para uma
cidade no interior do Rio de Janeiro. Só a equipe envolvida na filmagem ocupou dois
hotéis da cidade e usou uma pousada para locação das filmagens. Isso fora
transportes locais, atrações e alimentação para momentos de folga fora dos
momentos de filmagem. Em contrapartida, a prefeitura e os comerciantes locais
geraram facilidades para a realização das filmagens. Com isso o custo do filme caiu
e tenho certeza que com os recursos capitados para gastos com a filmagens, a
produção conseguiu realizar a obra com mais facilidade orçamentária. Fora que o
apoio local, compreendendo os transtornos de comodidade gerados com uma
filmagem, facilita a realização e auxilia a produção executiva.

PERGUNTA 3: Você acredita que o cineturismo é um segmento que tende a


crescer ainda mais?

Mundialmente, a prática de aliar a execução de audiovisual com o incentivo ao


turismo local é uma das mais bem-sucedidas prática de negócios. As Film
Commissions como facilitadora da realização de produtos em audiovisual desde a
51

realização do roteiro, até a busca por locações, por muitas vezes gera um volume de
negócios com muitos mais braços do que a divulgação local ou ocupação de vagas
e restaurantes. É uma prática que é muito iniciante no Brasil, e que na maioria as
vezes é mais explorada por produtos televisivos do que cinematográficos. Mas as
iniciativas estão surgindo em diversos locais do país e acredito que essa tendência
de negócios seja de crescimento, apesar do momento político cultural recessivo do
país.

PERGUNTA 4: Você vê o Brasil sendo bem representado em filmes?

Não. A falta de incentivo a criação de Film Commissions, a prática monotemática


de exposição da cultura nacional hoje, nos leva a ver filmes que poderiam ter uma
visão mais incentivadora do turismo espontâneo, nos levando a retratar favelas e
momentos violentos. Por exemplo, os Favela Movies. Violência em comunidades,
não é uma exclusividade do RJ. Nova York, tem guetos violentíssimos, Paris da
mesma forma, mas quando vemos filmes de Woody Allen filmados em Nova York,
vemos até alguma violência necessária para a trama, mas temos uma
belíssima fotografia do Central Park, dos Prédios incríveis e assim por diante. Da
mesma forma quando se pensa em filme romântico vemos uma Torre Eiffel, telhados
Parisienses e cafés simples, porém aconchegantes. Isso é o audiovisual gerando
uma imagem positiva do local. Em contrapartida vemos até filmes como Hulk, sendo
filmado em uma favela do bairro do Catete, só demonstrando violência e
incompetência das autoridades locais para cuidar da situação. Claro que isso
remete a imagem local e com isso o desinteresse turístico.

PERGUNTA 5: Na sua opinião, o Brasil está obtendo sucesso com as Film


Commissions?

Infelizmente a lacuna é muito grande. Algumas empresas de produção


particulares, tem feito esforço de visualização do país de forma bastante positiva em
se tratando da associação turismo/audiovisual. Mas como a grande parte é estatal a
desburocratização o acesso a recursos e condições de trabalho se faz necessária
urgentemente. Isso é reflexo da falta de cotas de tela e da total deliberação dos
espaços para o audiovisual sob controle de majors de distribuição multinacionais.
Um exemplo simples, a Lei de incentivo permite que essas distribuidoras de filmes
52

custeiem filmes nacionais. Aí usam verbas para criar filmes que não ameacem sua
hegemonia de negócios, e incluídos nisso a divulgação turística das locações e
espaços por eles utilizados.

PERGUNTA 6: Qual o maior obstáculo que as Film Commissions têm de


ultrapassar no Brasil?

Enquanto as Film Commissions forem ligadas a órgãos públicos com funcionários


politicamente escalados em seus comandos, faltará força comercial para as
associações de empresas turísticas com produtores de audiovisual.

PERGUNTA 7: Você acha que filmes ajudam a reforçar estereótipos negativos


de países, como por exemplo: países africanos = fome e guerra, países latinos
= tráfico de drogas e prostituição?

Claro que sim. Repetindo o que falei anteriormente, o incentivo a temas que se
repetem ou estilos como comédias trancadas em locações fechadas. Exemplo, duas
comédias nacionais foram sucesso de bilheteria (não vou citar o nome por motivos
éticos óbvios) foram rodadas em locações fechadas, se passavam no apartamento
dos protagonistas, e no máximo um plano de localização da fachada desse edifício.
Esses protagonistas mudam de vida e conseguem o sucesso profissional.
Quando foi realizada a sequência da franquia, os protagonistas foram para Nova
York, com todas as belas imagens possíveis do local e o conforto dos hotéis onde
ficaram instalados. Por que não teve o mesmo glamour no momento que
enriqueceram no Brasil? Por que não foram jantar em ótimos restaurantes e
viajaram para praias maravilhosas que sabemos que existem no país, sendo
otimamente tratados em hotéis locais? A falta de incentivo da realização desses
negócios e a utilização de verba de empresas multinacionais me levam a pensar que
é esse o motivo.

PERGUNTA 8: Algum filme já fez você querer conhecer melhor um local ou


cultura na vida real?

Sim, vários. Como exemplo, Casa de Areia, que me deixou completamente


envolvido em ir aos Lençóis Maranhenses e enquanto não coloquei os pés naquelas
dunas brancas não fiquei satisfeito. O filme de Andrucha Waddington, foi rodado na
53

cidade de Santo Amaro, e a premiadíssima fotografia, que atua como elemento da


trama, nos leva a intenção de conhecer o belíssimo local, apesar de ter sido rodado
apenas nas zonas de amortecimento, nos deixa absortos na vontade de conhecer
toda a área de proteção ambiental. Situação que foi altamente explorada pelo
IBAMA, conseguindo aprovar diversas leis de proteção local e verbas para tal. Um
ótimo exemplo de cinema, turismo e negócios.

You might also like