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Evangelismo

Pessoal

Professor: Clóvis Gonçalves Ricardo


Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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Conteúdo
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 3
1) EVANGELIZAÇÃO: AGINDO COMO SAL E LUZ NO MUNDO ........................................ 3
2) CONCEITOS ............................................................................................................................... 8
a) Evangelho ................................................................................................................................ 8
b) Evangelização .......................................................................................................................... 9
c) Evangelismo........................................................................................................................... 11
d) Evangelismo Pessoal ............................................................................................................. 12
3) BONS RESULTADOS DO EVANGELISMO PESSOAL ....................................................... 13
1 – PERSPECTIVA HISTÓRICA DO EVANGELISMO PESSOAL .............................................. 16
1) Estratégias e Métodos Evangelísticos na Igreja Primitiva ..................................................... 16
2) O Evangelismo e a História da Igreja .................................................................................... 20
2 – O MUNDO PÓS-MODERNO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O EVANGELISMO ............. 24
3 – FUNDAMENTO BÍBLICO-TEOLÓGICO DA EVANGELIZAÇÃO ....................................... 28
1) PRESSUPOSTOS DA EVANGELIZAÇÃO ............................................................................ 30
2) AS REIVINDICAÇÕES DO EVANGELHO ........................................................................... 38
3) OS FRUTOS DO EVANGELHO ............................................................................................. 40
4) JESUS E O EVANGELISMO PESSOAL ................................................................................ 40
5) A OBEDIÊNCIA EVANGELIZADORA ................................................................................. 45
4 – O PLANO DA SALVAÇÃO: A MENSAGEM EVANGELÍSTICA BÍBLICA ........................ 54
1) A IMPORTÂNCIA DE UMA APRESENTAÇÃO PLANEJADA .......................................... 54
2) SEIS ROTEIROS SUGERIDOS PARA EXPOR O PLANO DA SALVAÇÃO...................... 55
3) O CONVITE PARA RECEBER A CRISTO ............................................................................ 67
5 – A PRÁTICA DO EVANGELISMO PESSOAL.......................................................................... 70
1) CONCEITOS ............................................................................................................................. 70
Métodos...................................................................................................................................... 70
Estratégia.................................................................................................................................... 70
Técnica ....................................................................................................................................... 70
2) O EVANGELISTA, UM BOM COMUNICADOR .................................................................. 72
3) O AMBIENTE PARA A EVANGELIZAÇÃO ........................................................................ 73
4) PRINCÍPIOS PARA A ABORDAGEM NO EVANGELISMO PESSOAL ............................ 80
A. Modelos ou Tipos de Evangelização Pessoal........................................................................ 80
B. Princípios para Partilhar a Fé ................................................................................................ 84
5) QUANDO E ONDE EVANGELIZAR ..................................................................................... 86
6) ESTRATÉGIAS E FERRAMENTAS DO EVANGELISMO .................................................. 88
7) GRUPOS DE INTERESSE ESPECIAL ................................................................................... 93
A) Tratando com desviados. ...................................................................................................... 93
B) Como ganhar seus queridos para Cristo................................................................................ 96
6 – AUXÍLIOS PARA A DEFESA DA FÉ ..................................................................................... 103
1) Bloqueios Espirituais ............................................................................................................... 103
2) Dúvidas e Questionamentos mais Comuns a Respeito de Deus .............................................. 106
3) Como Entender os Descrentes ................................................................................................. 107
4) Como Responder às Desculpas Através das Escrituras ........................................................... 108
7 – A VIDA PESSOAL DO CRISTÃO-EVANGELISTA ............................................................. 113
1) Qualificações para Conquistas de Almas ................................................................................ 113
2) O Evangelista e a Bíblia ......................................................................................................... 118
8 – O CARÁTER SINGULAR DA CONVERSÃO CRISTÃ ........................................................ 119
1) CONVERSÃO (Fé e Arrependimento) ................................................................................... 119
2) Orientação para um Novo Decidido no Evangelismo ............................................................. 122
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................. 125
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INTRODUÇÃO
EVANGELISMO PESSOAL
Todo cristão agindo no contato individual como um ganhador pessoal de vidas para
Cristo.
Cada cristão um embaixador por Cristo — exortando o homem a respeito de sua alma,
na presença de um Deus soberano.

1) EVANGELIZAÇÃO: Agindo como Sal e Luz no Mundo1


As metáforas do sal e da luz são duas ilustrações freqüentemente usadas na Bíblia para explicar como devem
agir os cristãos. Em Mateus 5:13-16, encontramos a passagem mais famosa sobre o tema. Ali, Jesus convoca seus
discípulos a deixar brilhar sua luz e a tornar suas vidas ―salgadas‖. Os versículos que precedem as palavras de Jesus
sobre a luz e o sal são chamados de Bem-Aventuranças. Em 5:1-12, Jesus olha para seus discípulos e diz: ―Quero
explicar como vocês devem se portar e quais devem ser suas atitudes na família de Deus‖. Então, Ele pronuncia as
famosas palavras: ―Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus‖. Em resumo, Jesus
quer que sua família viva com humildade, tendo plena consciência da necessidade da graça.
Pense nas palavras que Jesus disse a seguir a seus discípulos: ―Espero que vocês ajam com pobreza de
espírito uns com os outros. Espero que tenham a capacidade de chorar diante do pecado e da tristeza. Espero que
possam se unir nos momentos de dor e desespero na família. Espero que a gentileza e a bondade se espalhem por
toda a comunidade da fé. Espero que haja fome e sede de justiça no meio de meu povo. Espero que haja pureza de
coração. Espero que, na família, haja pacificadores que levem a sério a conciliação. Espero que haja coragem para
suportar provações e perseguições por minha causa‖. Ele prossegue: ―meu povo deve se relacionar comigo e uns
com os outros de um modo nitidamente consagrado pelo Espírito. Há certas coisas que devem marcar os
relacionamentos daqueles que fazem parte de minha família‖.
Depois dessas palavras de encorajamento aos crentes, Jesus acrescenta: ―Ora, estou também extremamente
preocupado com as pessoas que estão fora da família. Pois me importo também com as pessoas perdidas e me
preocupa profundamente a forma como vocês devem se relacionar com elas‖. Pense nisso.
Jesus diz que o argumento mais convincente e persuasivo a favor da salvação que Ele pode apresentar a
quem está do lado de fora é uma imagem nítida da vida transformada de alguém que esteja dentro de sua família.
Nada é tão convincente quanto uma vida genuinamente transformada. E é nesse ponto que Ele apresenta as famosas
metáforas: ―Meus filhos, todos vocês, sem exceção, devem enxergar-se como sal e luz para as pessoas que estão
fora da família‖.

— Que qualidades do sal e da luz são valiosas e úteis?


Pense no sal por um momento e no porquê de Jesus usá-lo como metáfora para explicar a maneira como
devemos agir para transformar o mundo. O que faz o sal?
O sal provoca a sede, intensifica o sabor e conserva as coisas. Mas a grande pergunta é que característica
específica Jesus tinha em mente quando olhou seus discípulos e disse: ―Vocês são o sal da terra‖? Não sabemos ao
certo. Quem sabe Jesus tenha usado a metáfora do sal para simbolizar as três coisas ao mesmo tempo. O fato é que
o sal traz benefícios.
A luz ilumina lugares escuros e nos ajuda a enxergar a direção em que precisamos seguir. Elimina o medo e nos
permite avançar com confiança. Os cristãos são chamados a ser uma luz neste mundo de trevas. Quando a luz de
Jesus invade nossa vida, naturalmente ela se reflete no modo como vivemos e nos expressamos. Como portadores
da luz divina, devemos fazer de tudo para que nada impeça sua luz de brilhar em nossa vida.

1 Síntese adaptada de Bill Hybels, Série Interação (estudos para pequenos grupos): Evangelização. Editora Vida, 2000.
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— Que semelhanças você percebe entre o sal e a luz, de um lado, e seu papel como evangelizador neste
mundo, do outro?
O chamado para que sejamos como luz e sal pode ser encontrado em muitas passagens da Bíblia. Por
exemplo, em Atos 1:8, Jesus está prestes a voltar ao Pai. Antes de partir, Ele olha seus discípulos e diz,
basicamente, o seguinte: ―De hoje em diante, eu os nomeio minhas testemunhas. Quero que saiam com o poder
consagrador do Espírito Santo e sejam testemunhas poderosas, ungidas pelo Espírito‖. Ele queria que aqueles
homens fossem uma grande influência para o mundo.
Em II Coríntios 5:18-19, Paulo nos diz que recebemos o desafio de ser ministros da reconciliação. Estamos
tentando reconciliar com Deus mulheres e homens perdidos, pela obra de Jesus na cruz. E devemos levar a sério
essa responsabilidade.
Na Grande Comissão, em Mateus 28:19-20, Jesus envia seus discípulos aos quatro cantos da terra. Ele quer
que todo cristão seja um porta-voz do Evangelho, conduza as pessoas à fé, exerça influência máxima, seja pescador
de homens. Em outras palavras, os cristão devem ser o sal e a luz onde quer que estiverem, ou seja, em todo lugar!
Esse modo de vida provoca sede nos outros. Da mesma forma, quando os cristãos são ousados e inovadores
em seu testemunho de Cristo no mundo, eles temperam as coisas, não acha? Quer dizer, eles acrescentam um pouco
de ―molho‖ em um mundo insosso, atrapalham os planos do mal cuidadosamente elaborados, fazem as pessoas
pensarem e reconsiderarem seus valores e crenças.
Ao viver uma vida honrosa diante de Cristo, os crentes tendem a impedir a decadência moral na sociedade
onde vivem. Como luz, iluminamos as coisas que tentam se esconder nas trevas. Quando cristãos plenamente
devotados irradiam a luz de seu Salvador as trevas começam a se dissipar.

— O que você pode fazer para aumentar sua potência como cristão?
Uma equação para a evangelização: AP + EP + CC = IM. O que quer dizer IM? Influência Máxima. Não há
mistério acerca do fato de que Cristo desejava que seus discípulos exercessem influência máxima sobre as pessoas
afastadas da família. O resultado final de uma evangelização eficaz é a influência máxima sobre aqueles que
buscam a verdade espiritual. O que significa AP + EP + CC em relação à nossa condição de sal e luz? AP equivale
a alta potência, EP, a estreita proximidade e CC, a comunicação clara. O que começa a ficar claro nesse texto de
Mateus é a preocupação de Jesus quanto à influência que nossas vidas devem exercer sobre os outros. Para alcançar
a influência máxima (IM), algo muito poderoso (AP) precisa chegar bem perto (EP) do que precisa ser
influenciado. Porém, além de ficarmos próximos (EP), precisamos também comunicar (CC) a mensagem do amor
de Deus. Percebe a equação tomando forma? Jesus disse que, para haver influência máxima (IM), é preciso que
alguém com alta potência (AP) se disponha a permanecer em estreita proximidade (EP) com outro alguém,
comunicando claramente (CC) as Boas Novas. Jesus escolheu as metáforas do sal e da luz porque ambas obedecem
a essa mesma fórmula.

Em Mateus 5:13, Jesus diz que o sal que perdeu seu vigor é inútil, pode causar influência mínima ou
mesmo nenhuma. O sal insosso não provoca muita sede, não dá muito sabor nem impede a decadência moral. Pode
estar extremamente próximo das pessoas, mas se não tem força, é praticamente inútil. Da mesma forma, o sal
verdadeiramente salgado, o sal de máxima concentração, tem todo o potencial de influência do mundo, mas não o
manifesta a não ser quando se aproxima do que está tentando afetar. O segredo é intensificar a concentração do sal
e ao mesmo tempo buscar a máxima proximidade das pessoas que buscam a verdade espiritual.
Do mesmo modo, a luz pode ser fraca ou radiante. Aumentamos nosso brilho quando vivemos na presença
de Deus e anunciamos a sua verdade. A melhor forma de aumentar a potência é passar mais tempo ao lado de
Jesus. Como discípulos, precisamos seguir suas pegadas. Isso significa que precisamos estudar a Palavra de Deus,
conversar com Jesus pela oração, adorar a Deus em Espírito e em verdade e servi-lo com alegria no coração. Se
fizermos isso, nosso grau de potência superará todas as expectativas.
— O que você pode fazer durante uma semana comum para se aproximar mais das pessoas que buscam a
verdade espiritual?
―Se o sal não sair do saleiro e for espalhado sobre alguma coisa, ele não passará de um mero enfeite de
mesa‖.2 Muitos cristãos podem ter alta potência, mas estão ainda dentro do saleiro. Não entram em contato com as

2 Becky Pippert, no livro ―Do saleiro para o mundo‖.


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pessoas que precisam influenciar e, portanto, têm uma vida poderosa mas ineficiente. Da mesma forma, sua
luz pode ser forte, mas permanece oculta sob o invólucro. É preciso colocar sua luz em um candelabro, para que
todos possam vê-la.
Ao tentarmos melhorar a nossa proximidade com os outros, precisamos buscar os contatos naturais que
temos. A maioria dos cristãos tem mais contatos do que imagina com pessoas que buscam a verdade espiritual.
Analise sua rotina diária e identifique em seu local de trabalho, bairro ou família, pessoas com quem você tenha
contato regularmente. Onde você abastece o carro ou toma o café da manhã? Onde faz as compras para a casa, onde
pratica esportes? De que clubes, atividades recreativas ou grupos sociais você participa? Se você tem filhos, quais
são seus contatos na sua escola ou em seus eventos esportivos? Os possíveis pontos de contato são inúmeros. O
importante é identificar essas oportunidades e buscar ser sal e luz aonde quer que formos. Também precisamos
encontrar deliberadamente novos pontos de contato, para que assim possamos nos aproximar cada vez mais dos
outros.
Como vai seu fator proximidade? Depois da conversão de Mateus (Lc 5:27-32), esse cobrador de impostos
transformado dá um banquete e convida Jesus e os discípulos. Mateus percebe que Jesus e seus discípulos são
―salgadíssimos‖. Então, convida todos os seus amigos publicanos, que ainda precisam abraçar a fé. Ele espera que
Jesus e os discípulos aproveitem essa oportunidade de estreita proximidade e insuflem algumas centelhas
espirituais em seus amigos descrentes.
— Como você avaliar sua vida à luz dessa equação, no tocante a tentar influenciar os outros?
Esta pergunta pode ser delicada e difícil de responder; porém, é muito importante. Somente se você for
sincero na resposta poderá avançar e aumentar sua eficiência como sal e luz.
Todos os componentes da equação precisam estar ativos para que se alcance influência máxima. Será que a
equação reflete com precisão a condição de sua vida? Será que está se aproximando regularmente das pessoas que
buscam a verdade espiritual? Será que sua vida espiritual é potente o bastante para exercer forte influência quando
você se aproxima dos outros? Será que você é capaz de divulgar a mensagem de Cristo com clareza? Será que
regularmente vem exercendo influência máxima sobre as pessoas ainda excluídas da família de Deus?

Se os cristãos pretendem realmente ter um grau de potência elevado o bastante para influenciar os outros
com o evangelho, algumas qualidades específicas se mostram indispensáveis:

Confiança espiritual — A pessoa que exerce uma influência positiva em nome de Cristo é geralmente
dotada de confiança espiritual. Esse crente tem certeza de sua salvação. Se não souber dizer a data e a hora exatas
em que se tornou cristão, certamente saberá dar seu testemunho de como aconteceu. Ele olha as pessoas nos olhos e
diz: ―Eu estava perdido. Agora me encontrei. Era estrangeiro. Hoje sou cidadão. Era um estranho. Hoje sou filho‖.
Parte dessa confiança baseia-se em um conhecimento bíblico suficiente para conferir força e segurança à
verdade da Palavra de Deus. Essas pessoas leram bastante e discutiram o suficiente sua fé para ter confiança em sua
capacidade de responder as perguntas difíceis que geralmente se fazem sobre o cristianismo. Elas já se relacionam
com Cristo há tempo bastante para saber que Ele é fiel, mesmo nas depressões e nos caminhos tortuosos da vida.
Fé autêntica — Os cristãos que exercem influência máxima são espiritualmente autênticos. Há neles o
fator sinceridade. Eles parecem renovados. Seu relacionamento com Cristo é genuíno e pessoal. Eles são humildes.
Falam de seu relacionamento com Jesus como se falassem de uma amizade íntima. Quando oram, você sabe que
eles estão sendo sinceros. Admitem quando estão errados. Têm um espírito receptivo. Ouvem sem julgar. Dizem
―eu não sei‖ quando realmente não sabem. São ávidos por aprender e crescer. São contagiantes com sua
autenticidade.
Urgência com relação ao evangelho — Cristãos cuja luz brilha com clareza transmitem um
sentimento de urgência. Eles caminham com propósito no andar. Já sabem o que é mais e menos importante na
vida, e permanecem concentrados no que realmente importa. Demonstram real interesse pelas pessoas, pois
aprenderam que elas são importantes para Deus. Sintonizam com aquilo que o Espírito Santo faz em suas vidas e
no mundo e aceitam com seriedade e urgência a obediência à orientação do Espírito.
Pessoas que têm urgência com relação ao evangelho encontram uma forma de se concentrar no eterno,
mesmo em meio às coisas temporais do mundo. Ficam com os ouvidos atentos aos céus e os olhos abertos para a
eternidade. Enquanto todos os demais lutam em suas rotinas diárias, elas tentam enxergar o que Deus pode fazer
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com uma conversa ou relacionamento. Pensam seriamente na eternidade — no céu e no inferno e no dia do
juízo. Sentem uma urgência em relação ao desejo de influenciar os outros com o tempo que ainda lhes resta. Todo
dia e cada momento é precioso e importante.

DISCIPLINAS ESPIRITUAIS
Como cristãos espiritualmente ―salgados‖ obtêm confiança, sinceridade e senso de urgência? Como
aprendem a brilhar com tanta claridade? A resposta é simples: eles a obtêm praticando antigas disciplinas
espirituais diárias e individuais que já há dois mil anos vêm ―salgando‖ os crentes.
Quando as luzes dos refletores não estão sobre eles... quando não estão na igreja... quando ninguém está
olhando, esses cristãos ―salgados‖ estão pensando em Cristo. Cada um deles tem um lugar sagrado onde se
encontra com Cristo, onde abre a Bíblia e simplesmente deixa a Palavra de Deus se manifestar. Eles oram mais que
as outras pessoas, pois conhecem o poder da oração. Têm relacionamentos sinceros com irmãos e irmãs em Cristo,
que os ajudam a conciliar vida e fé. Usam seus dons espirituais e saem para divulgar sua fé quando ninguém está
olhando. Não ostentam, simplesmente transmitem a palavra de Cristo. No meio de tudo isso, Deus com eles se
encontra e acrescenta outra pitadinha ao tempero de suas vidas. E por viver na presença de Deus, eles começam a
brilhar com um pouco mais de luz.
— Por que a perseverança nas disciplinas espirituais é fundamental para uma alta potência? Como você vem
se saindo na prática diária de disciplinas espirituais a esta altura de sua vida? Que disciplina(s) espiritual(ais)
específica(s) você precisa desenvolver neste momento da vida?
Precisamos começar a nos perguntar: ―Como vai sua leitura da Bíblia?‖ É fundamental que reservemos um
tempo para, em nosso local sagrado, abrir o Livro de Deus e dizer: ―Preciso me alimentar da Palavra de Deus hoje‖.
Quase toda mudança importante da vida vem como resultado direto da influência da verdade contida nesse Livro.
Quanto tempo você vem reservando às orações? Quanto tempo tem reservado para servir os outros? Será que
você tem feito o necessário para transformar sua caminhada com Jesus em algo íntimo, pessoal e poderoso? Você
busca intimidade e qualidade em seu relacionamento com os membros de sua comunidade? Será que está próximo
o bastante de seus irmãos e irmãs para que, quando estiver com pouca energia, possa recorrer a eles e, no seu calor,
encontrar a renovação? Da mesma forma, se alguém esfriar um pouco, será que você terá capacidade de aquecer
um pouco essa pessoa?
Todos precisamos nos concentrar no que é fundamental. Precisamos nos dedicar à comunidade, à comunhão,
a servir, doar e partilhar nossa fé quando Cristo nos oferecer uma oportunidade. Ao combinar as disciplinas
regulares da leitura bíblica e da oração com a experiência coletiva da devoção espiritual, podemos manter a
potência de nossa vida, com nosso sabor e luz.

UM MUNDO DE ESPECTADORES
Howard Butt, no artigo intitulado ―O leigo como testemunha‖,3 comenta:
A Bíblia ressalta que todo cristão é um sacerdote. A doutrina da Reforma, enunciada por Lutero sobre o
sacerdócio de todos os crentes, não significa que não há mais sacerdotes. Significa que todos nós somos sacerdotes
de Deus.
No Novo Testamento, as palavras kleros (da qual provém clérigos, sacerdotes) e laos (da qual provém povo)
se referem igualmente ao mesmo grupo de pessoas. Expressa que não é porque um homem ganha a vida em um
emprego secular que Deus espera dele uma dedicação apenas parcial da sua vida. Em geral, tem-se o conceito
errado do clérigo nas linhas da frente, travando a batalha solitária em nome de Deus, ao passo que os membros nas
áreas recuadas enviam suprimentos a fim de que seu representante assalariado possa lutar com mais vigor.
Na realidade, o leigo que está lá fora nas linhas da frente (fora do santuário) — no seu lar, escritório, loja e
clube — está ali como servo de Deus.
Quando Jesus disse: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura, referia-se não somente à
África, à Coréia, à Índia, mas queria dizer: ide também para os mundos dos negócios, do direito, da educação, da

3 Howard E. Butt Jr., ―O leigo como testemunha‖, Revista Christianity Today. Citada por T. L. Osborn, em Ajunta-te a esta carruagem, p.
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mecânica, das artes, da música, do governo, da agricultura...
A Igreja Neotestamentária começou com o mandamento de Jesus a todos os Seus seguidores, aos apóstolos e
aos crentes comuns da mesma forma: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Mas aquilo que
começou como um movimento de leigos deteriorou-se naquilo que tem sido descrito, de modo mordaz, porém
exato, como ―pulpitismo profissional‖ financiado pelos humildes leigos.
Muitas pessoas têm um conceito da ‗escada da dedicação‘. No degrau mais alto está o missionário enviado
ao estrangeiro. Imediatamente abaixo, há o pastor. Depois, o obreiro religioso profissional. Finalmente, lá embaixo
no primeiro degrau, há o humilde leigo cuja função principal é pagar as contas do pastor e ocupar os assentos da
igreja durante os cultos públicos.
Estamos na era do espectador — como nos eventos esportivos, onde a maioria de nós apenas olha uns poucos
que praticam o esporte. Agora, esse conceito do espectador foi além do campo dos esportes, engolfou os lares. Por
meio da TV e de outros veículos de comunicações em massa, somos um mundo de espectadores profissionais.
Desenvolvemos um cristianismo de espectadores, segundo o qual poucos falam e muitos escutam. A igreja é
destinada a ser uma comunidade vibrante e redentora de compaixão, de missão, de serviço, de testemunho, de amor
e de adoração — não uma fraternidade de fãs da fé!
Espectadores profissionais quase sempre se transformam em críticos, desde o torcedor dos times esportistas
até o freqüentador do teatro, e até aquele que segue as notícias da política, que nunca fica pessoalmente envolvido,
mas que nos diz com cinismo que todos os políticos são vigaristas.
O cristianismo do espectador acaba se tornando crítico e desprezador, frio e cínico, estéril e improdutivo.
Observa e critica os outros, mas nunca se dedica a uma vida com Jesus Cristo. 4
O cristão verdadeiro está envolvido. Não pode evitar semelhante envolvimento. É participante da missão
redentora de Deus, e não um espectador crítico. Está envolvido no mundo — nos seus negócios, no seu governo, na
sua cultura, na sua fome, nas suas labutas, nas suas lágrimas —porque ama as pessoas no mundo. Jesus disse: Não
peço que os tires do mundo. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo (Jo 17:15a, 18).
O leigo é enviado ao mundo exatamente como Cristo foi enviado — como agente da redenção.
O cristão leigo tem uma vida na igreja para a adoração, a comunhão, a instrução, a edificação. Mas a partir
daí ele avança (fora do santuário) para dentro do mundo da incredulidade para ser uma testemunha, um ministro da
reconciliação, um servo de Deus. Cristo nos reconciliou consigo através da cruz, e nos confiou o ministério da
reconciliação (II Co 5:14-20). Já que a reconciliação é para todos, obviamente esse ministério é para todos também!

4 Theodore Roosevelt descreveu assim aquelas almas tímidas que se recusam a envolver-se:
―Não é o crítico quem importa; não importa o homem que indica como o homem forte tropeçou, ou como o realizador de boas ações poderia ter
realizado melhor. O crédito pertence ao homem que realmente está na arena da luta, cujo rosto é manchado pela poeira, pelo suor, e pelo sangue;
(...) que comete enganos, e que, repetidas vezes, não parece à altura da tarefa, porque não existe esforço sem erros e falhas; mas, se fracassar,
pelo menos fracassa enquanto ousa fazer coisas grandiosas, de modo que seu lugar nunca será ao lado daquelas almas frias e tímidas que não
conhecem nem a vitória nem a derrota!‖
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2) CONCEITOS
a) Evangelho
O evangelho é a mensagem de boas novas, de que Cristo Jesus morreu por nossos pecados, foi levantado da
morte de acordo com as Escrituras, e que, como Senhor que reina, Ele agora oferece perdão dos pecados e dom
libertador do Espírito Santo a todo aquele que se arrepende e crê. O evangelho, dentro deste significado, é, pois, o
próprio Jesus, Suas obras e Seus ensinos, que visam integrar o homem perdido no plano eterno de salvação (Rm
l:16-17).5

O verbo ―Evangelizar‖ (Euangelizõ) e o substantivo ―Evangelho‖ (Euangelion) — com os seus cognatos,


―Evangelismo‖, ―Evangélico‖, ―Evangelista‖, ―Evangelização‖ — são palavras provenientes do grego, que
passando pelo latim, chegaram ao nosso idioma de forma transliterada. O uso destas expressões é bem antigo na
língua grega, antecedendo em muito ao Novo Testamento, remontando aos escritos de Homero (IX séc. a.C.).
A palavra ―evangelho‖ passou evolutivamente por três significados básicos, a saber:
1. A recompensa dada ao mensageiro por sua mensagem (Homero e Plutarco).
2. As ofertas de ações de graça aos deuses por uma boa nova recebida.
3. O conteúdo da mensagem: as próprias boas novas (I Sm 31:9). Neste sentido, a palavra foi aplicada ao
nascimento do soberano, no caso, César Augusto.
As raízes do emprego da palavra ―Evangelho‖ no Novo Testamento devem ser buscadas não no grego
secular, mas sim no Velho Testamento.
No Velho Testamento, o substantivo “Euangelion” não ocorre no sentido religioso, sendo usado na forma
secular de trazer ―boa notícia‖ ou ―recompensa pelas boas novas‖ (Cf. II Sm 4:10; 18:22,25); já o verbo
“euangelizomai” é usado teologicamente. Ele é empregado de três formas especiais, antecipando, de certo modo, o
sentido dado no Novo Testamento:
1. Proclamar a glória de Deus, manifesta em Sua justiça, fidelidade, salvação, graça e verdade (Sl 40:10;
96:2).
2. Proclamar as boas novas referentes ao Ungido de Deus (Is 40:9; 52:7).
3. As boas novas proclamadas pelo Ungido de Deus (Is 61:1).
O sentido básico da palavra “euangelion” (evangelho) é ―boas novas‖, sendo um termo técnico para ―novas
de vitória‖; consistindo o ―evangelizar‖ (grego: euangelizõ e euangelizomai), no ato de ―trazer ou anunciar boas
novas‖, ―proclamar‖, ―pregar‖, ser o agente das notícias de vitória.
O evangelho é a boa mensagem de Deus, declarando que em Jesus Cristo, temos o cumprimento de Suas
promessas a Israel, e que o caminho da salvação foi aberto a todos os povos. 6 Desse modo, o evangelho não deve

5O Novo Testamento emprega outras expressões para descrever estas boas notícias, tais como:
— O Evangelho de Deus (Mc 1:14; Rm 1:1, 15-16; II Co 11:17)
— O Evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus (Mc 1:1)
— O Evangelho do Seu Filho (Rm 1:9)
— O Evangelho de Nosso Senhor Jesus (II Ts 1:8)
— O Evangelho de Cristo (Rm 15:9)
— O Evangelho da Glória de Cristo (II Co 4:4)
— O Evangelho da Graça de Deus (At 20:24)
— O Evangelho da Glória de Deus Bendito (I Tm 1:11)
— O Evangelho da Nossa Salvação (Ef 1:13)
— O Evangelho de Paz (Ef 6:15)
— O Evangelho do Reino (Mt 4:23; 9:35; 24:14)
— O Evangelho Eterno (Ap 14:6)
6 Salvação: Nossa palavra, salvação, vem do latim salvare, que significa ―salvar‖, e de salus, que significa ―saúde‖ ou ―ajuda‖. A pala-
vra hebraica traduzida em português por ―salvação‖ indica ―segurança‖. O termo grego soteria e suas formas cognatas, têm a idéia de cura,
recuperação, redenção, remédio, bem-estar e resgate. Essa palavra pode ser usada em conexões totalmente físicas e temporais, ou no
que diz respeito ao bem-estar da alma, presente e eterna. A idéia de ―salvar‖, quando usada para indicar a salvação espiritual, fala sobre o
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ser colocado em contraposição ao Velho Testamento, como se Deus tivesse alterado Sua maneira de tratar
com o homem, mas antes, é o cumprimento da Sua promessa (Mt 11:2-5). O próprio Jesus, ao ler a profecia de
Isaías, identificou-se como Aquele que fora prometido (Lc 4:16-21).7
Como observou Hermisten, 8 a novidade da boa mensagem não está em alguns dos seus conceitos, tais como:
a paternidade de Deus, o Deus de amor, perdão e misericórdia; pois nada disso falta ao Velho Testamento. Ela
também não consiste simplesmente na ênfase desses elementos que, no caso, estariam sombreados no Velho
Testamento (embora isso também ocorra); na realidade, a novidade está na palavra já mencionada: “cumprimento”.
Aquilo que é prometido no Velho Testamento atingiu o seu clímax: o prometido se cumpriu. O Novo Testamento
não diz algo novo a respeito de Deus; ele apenas mostra que Deus cumpriu as Suas promessas (Mt 1:22-23; 8:17;
Mc 15:28; At 2:16-36; 13:32-35; I Pd 1:10-12).
O Novo Testamento fala freqüentemente no evangelho, sem o definir (Cf. Mc 1:15; 8:35; 14:9; 16:15; At
15:7; Rm 11:28; II Co 8:18): O evangelho é a boa nova procedente de Deus. Ele não carece de maiores adjetivos;
ele é Boa Nova por excelência (Rm 1:16; 10:16; I Co 1:17; 4:15; 9:14,23; 15:1; II Co 4:3; Gl 2:5,14; Fl 1:5,7,12,16;
2:22; 4:3,15; I Ts 1:5; 2:4; II Tm 1:8; Fm 13). Desse modo, Jesus Cristo é o próprio evangelho; Ele é a encarnação
da Boa Nova de salvação concedida por Deus ao Seu povo. Por isso, pregar o evangelho significa pregar Jesus
Cristo (Rm 15:20).
O Novo Testamento desconhece a forma plural “Evangelhos” — ainda que ela seja usada na Septuaginta9
“ta euangélia”, II Sm 4:10, ―recompensa pelas boas novas‖ e “ho euangélia” (II Sm 18:20,22,25,27; II Rs 7:9) —
isso porque o evangelho é um só. Se alguém proclamar outro, seja considerado ―anátema‖ (maldito) (Gl 1:8-9).
Harrison, comentando a respeito dos registros evangélicos, observou acertadamente que, ―Aos olhos da Igreja
Primitiva estes documentos eram virtualmente um. Juntos, eles abarcavam o evangelho único, o qual foi
diversamente expressado por Mateus, Marcos, Lucas e João. O feito de Cristo foi a causa de um novo tipo de
literatura.‖10 As quatro narrativas são na realidade uma descrição inspirada do mesmo e único evangelho;
biblicamente falando, ―evangelhos‖ é uma contradição de termos...
A forma plural referindo-se aos registros de Mateus, Marcos, Lucas e João, só é documentada a partir de
Justino, o Mártir (100-167 AD), que por volta do ano 155 AD., na sua obra Primeira Apologia, descrevendo a Ceia
do Senhor e o seu significado, escreveu: ―...Os apóstolos nas Memórias por ele escritas, que se chamam
Evangelhos, nos transmitira...‖

b) Evangelização
É a ação de evangelizar; é a anunciação do evangelho (Lc 4:8).
A palavra evangelizar ocorre 52 vezes no Novo Testamento, incluindo 25 vezes em Lucas e 21 vezes nos
escritos de Paulo.
Em sua exaustiva pesquisa sobre ―evangelizar‖, David B. Barrett afirma: ―A palavra é usada pela primeira
vez em seu sentido tipicamente bíblico no Salmo 49:9 (Septuaginta, no Salmo 39:10), traduzido como: ‗Eu tenho
dito as alegres novas de livramento na grande congregação‘. No Salmo 92:2: ‗Falar da sua salvação‘. Em Isaías
52:7, ‗publicar a salvação‘, e em Isaías 60:6, ‗proclamar o louvor do Senhor‘. Esse uso judaico continuou nos
tempos do Novo Testamento por Philo (20 a.C.—50 d.C.), o historiador Josefo (37 d.C.—100) e outros.‖
O Novo Testamento emprega dois termos básicos para descrever a atividade da pregação do evangelho:
―proclamar as boas novas‖ (Mc 1:14) e ―testemunhar‖ (At 1:8; I Jo 5:10). Marcos retrata Jesus como o primeiro
evangelista (1:l4ss). Os discípulos foram escolhidos e treinados por Ele para que fossem ―pescadores de homens‖
(Mt 4:l9ss). Tão logo se consumaram os atos redentores de sua vida e o aprendizado dos discípulos, Jesus os
declarou ―minhas testemunhas‖ (At 1:8); eles tinham visto e vivido os acontecimentos salvíficos. Eles haviam-se
sentado aos pés de Jesus. Suas mentes tinham sido abertas para a compreensão das Escrituras (Lc 24:25). Eram

livramento do pecado, da degradação moral e das penas que devem seguir-se, como o julgamento divino. Mas o livramento também nos
confere algo: o perdão, a justificação, a transformação moral e a vida eterna, que consiste na participação na própria vida de Deus, no seu
―tipo‖ de vida. – R. N. Champlin, O Antigo Testamento Interpretado (Dicionário, Vol. 7, p. 5223).
7 Ver ―Evangelho‖, em O Novo Dicionário da Bíblia, J. D. Douglas (ed. org.), p. 566.
8 Hermisten M. P. Costa, Breve Teologia da Evangelização. PES, 1996, p. 12-13.
9 Septuaginta: Versão do Antigo Testamento para o grego, feita entre 285 e 150 a.C., em Alexandria (Egito), para os muitos judeus
que ali moravam e que não conheciam o hebraico.
10 E. F. Harrison, Introducción al Nuevo Testamento, p. 131ss.
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10
capazes de explicar o significado da vida, da morte, da ressurreição e da exaltação da vida de Cristo.
Outras definições devem ser mencionadas:
 ―Evangelizar é apresentar Cristo Jesus no poder do Espírito Santo, para que homens possam vir a
pôr sua confiança em Deus através dEle, e aceitá-Lo como seu salvador, e servi-Lo como Rei na
fraternidade de Sua igreja.‖11
 ―Evangelização é a proclamação do Evangelho do Cristo crucificado e ressurreto, o único redentor
do homem, de acordo com as Escrituras, com o propósito de persuadir pecadores condenados e
perdidos a pôr sua confiança em Deus, recebendo e aceitando a Cristo como Senhor em todos os
aspectos da vida e na comunhão de sua Igreja, aguardando o dia de sua volta gloriosa.‖12
 ―Evangelização é a proclamação das boas novas de salvação a homens e mulheres, tendo em vista
sua conversão a Cristo e filiação à sua Igreja.‖13
 ―Evangelizar é divulgar as boas-novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressusci-
tou dentre mortos, segundo as Escrituras, e que, como Senhor e Rei, Ele agora oferece perdão dos
pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e crêem. Nossa presença
cristã no mundo é indispensável à evangelização, e assim é também o diálogo que tem por propósi-
to ouvir conscientemente, para melhor compreender. Mas a evangelização em si é a proclamação
do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o propósito de persuadir as pessoas a se
chegarem a Ele individualmente e, assim, serem reconciliadas com Deus. Na proclamação do convi-
te do Evangelho não temos o direito de ocultar o preço do discipulado. Jesus continua a requerer de
todos que desejam segui-Lo que se neguem a si mesmos, tomem a sua cruz e identifiquem-se com
sua nova comunidade. Os resultados do evangelho incluem obediência a Cristo, união com sua Igre-
ja e serviço fidedigno no mundo.‖14
 ―Evangelização é a difusão por todo e qualquer meio das boas novas de Jesus crucificado,
ressurreto e agora reinando. Inclui também o diálogo em que nos colocamos com humildade e
disposição em atitude de atenção, a fim de compreendermos o outro e sabermos como apresentar-
lhe Cristo significativamente. É a proposta, apoiada na obra de Jesus, de uma salvação que é tanto
posse presente como perspectiva futura; tanto libertação em face do eu como libertação para Deus
e o homem. Parte dele o apelo para uma resposta total de arrependimento e fé, denominada
―conversão‖, princípio de uma vida inteiramente nova em Cristo, na igreja e no mundo.‖15
Portanto, a natureza da evangelização é a comunicação do evangelho. Seu propósito é dar aos indivíduos e
aos grupos uma oportunidade genuína de receber a Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Sua meta é persuadi-los a
se tornarem discípulos do Senhor e a servi-lo na comunhão da Igreja.
Elben César, diretor da Revista Ultimato, reportou: A melhor definição de evangelismo, disse-nos o
historiador J. Edwin Orr, durante a Conferência Internacional de Evangelistas Itinerantes, realizada em Amsterdã,
em 1986, é a de Cannon Max Warren, da Abadia de Westminster:
 ―Evangelizar é apresentar Jesus Cristo no poder do Espírito, de tal maneira que os homens possam
conhecê-lo como Salvador e servi-lo como Senhor, na comunhão da Igreja e na vocação da vida
comum.‖
Na mesma ocasião, a mais conhecida tetraplégica do mundo, Joni Eareckson Tada explicou que
―evangelismo é compartilhar Cristo a toda e qualquer pessoa com a qual você se encontra, através de palavra
falada, através de livros, através de filmes e através de desenhos e pinturas‖ (Joni pinta com pincéis presos entre as
arcadas dentárias). O missionário holandês Frans Leonard Schalkwijk deu uma explicação interessante:
―Evangelizar é executar o testamento do Cristo ressurreto, cujo centro está em ganhar almas para o Cordeiro‖.
Numa de suas mensagens, o presidente de Amsterdã 86, Billy Graham, lembrou que o termo evangelismo ―abrange

11 Definição Anglicana de 1918.


12 Definição adotada pelo Congresso sobre Evangelização, Berlim/1966.
13 Michael Green. Evangelização na Igreja Primitiva. Edições Vida Nova, 2000 (2ª ed.), p. 7.
14 Convenção de Lausanne do Congresso Internacional de Evangelismo Mundial (1974)
15 John R. W. Stott, ―A base bíblica da evangelização‖, do livro A Missão da Igreja no Mundo de Hoje. ABU Editora, 1989 (3ª ed.), p. 53.
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11
todos os esforços no sentido de declarar as boas novas de Jesus Cristo, com o objetivo de que as pessoas
entendam a oferta da salvação de Deus, tenham fé e tornem-se discípulos‖. Timothy P. Weber, doutor e professor
de história da igreja no Seminário Teológico Batista Conservador de Denver (Colorado, EUA), definiu:
―Evangelização é a proclamação das boas novas da salvação em Jesus Cristo, visando levar a efeito a reconciliação
entre o pecador e Deus Pai, mediante o poder regenerador do Espírito Santo‖. A pregação do evangelho é
endereçada a ―qualquer pessoa que não tenha aceitado Jesus Cristo como Senhor e Salvador, mesmo que seja um
muçulmano, um católico romano ou até um empolgado batista do sul dos Estados Unidos‖, acrescentou Leighton
Ford, presidente da programação da referida conferência.

OUTROS TERMOS COM IDÉIAS SEMELHANTES


TESTEMUNHO = Declaração de uma testemunha (Êx 20:16; Mc 14:55). Evidência autêntica ou o ato de
presenciar algum fato ou acontecimento.

TESTEMUNHA = Pessoa que declara o que viu ou ouviu (Nm 35:30; Mt 18:16). Pessoa que fala de sua
experiência com Cristo e da verdade do evangelho (At 1:8). ―Dar testemunho‖ envolve tudo quanto
somos e o que fazemos; vai muito além do que dizemos em certos momentos de inspiração.

BOA-NOVA = Boa notícia (Is 61:1; Hb 4:2). O evangelho de Jesus Cristo.

PROCLAMAÇÃO = Anúncio ou declaração de uma mensagem; especialmente, pregação das boas-


novas. Ato de proclamar, fazer conhecido, passar adiante, anunciar, relatar, narrar, pregar (Jl 3:9).

c) Evangelismo
O evangelismo envolve o sistema ou conjunto de métodos, estratégias e técnicas que organizam a
evangelização para a conquista dos seus objetivos (At 20:20-21). Reúne os recursos e fornece as ferramentas que a
evangelização lança mão para realizar sua tarefa. Portanto, o evangelismo é a metodologia da evangelização.
―Naturalmente, o evangelismo considera o evangelista, a mensagem e o pecador a ser alcançado com o
Evangelho. Nesse conjunto, o evangelismo trata da capacitação espiritual do evangelista e de todo o seu preparo,
bem assim, define a mensagem, sua estrutura e a maneira como deve ser codificada para atingir o pecador. O
objetivo da evangelização, que é levar o pecador a Cristo para salvação, é devidamente esquematizado pelo
evangelismo, que estrutura a verdadeira teologia da salvação, para que esta não descambe para outros objetivos.
Finalmente, o evangelismo procura tratar de uma análise do pecador, das influências que sofre no seu mundo
interior, mergulhado que está neste contexto de pecado, e identifica, pela sabedoria do Espírito Santo, a maneira
como alcançar o pecador no seu ―status‖ e na sua localização ou no seu contexto. Tudo isto pertence ao âmbito do
evangelismo.‖16

Damy Ferreira sugere a seguinte definição que mais se aproxima da realidade do termo: “Evangelismo é o
sistema baseado em princípios, métodos, estratégias e técnicas tirados do Novo Testamento, pelos quais se comunica o
evangelho de Cristo a todo pecador, sob a liderança e no poder do Espírito Santo, visando persuadi-lo a aceitar a Cristo
como seu salvador pessoal, de acordo com o comissionamento de Jesus dado a todos os seus discípulos, levando, ao final, os
que crerem, a se integrarem à Igreja pelo batismo, preparando-os para a volta de Cristo.”

E analisa brevemente esta definição:


Pelo evangelismo, nós fazemos o evangelho — o conteúdo dos ensinos e das motivações de Cristo — chegar
ao pecador e atuar nele. Os métodos são apenas dois: evangelismo pessoal e evangelismo de massa. Dependendo
do contexto em que esteja o indivíduo ou indivíduos a serem alcançados, vamos estudar uma estratégia. Por
exemplo, a estratégia do Espírito Santo em alcançar o eunuco, ministro da rainha Candace, foi ir ao caminho de

16 Damy Ferreira. Evangelismo Total. Unigranrio/Horizonal Editora, 2001, p. 29.


Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
12
Gaza, por onde ele passava. A estratégia de Jesus em alcançar a mulher samaritana e várias outras pessoas
de sua aldeia foi passar por aquele poço e ficar ali assentado, para entabular conversação com ela. Dependendo,
ainda, do tipo de pessoa, das circunstâncias que a cercam, o evangelista usará uma técnica adequada. A técnica de
Filipe com o eunuco foi aproximar-se do carro e começar a conversa, partindo do ponto em que o homem estava:
lendo o profeta Isaías. A técnica que Jesus usou com a mulher foi pedir água, porque estava com sede. A técnica é
o recurso material que usamos. Tudo isso é trabalhado pelo Espírito Santo que usa homens que usam recursos
dados por Deus. Se a pessoa crê em Cristo como Salvador, ela é integrada e o caminho é o batismo; ela aceita
incluir-se na igreja, corpo de Cristo. E daí para frente, sem desprezar a estrutura global do evangelho, o discípulo
será preparado para a volta de Cristo.

O QUE NÃO É EVANGELISMO


 Não é oferecer uma religião indulgente, para remoção de penas e concessão de perdão.
 Não é reformar almas. A salvação não vem por meio de um ato de levantar as mãos, ou deixar de fumar,
beber ou abandonar os vícios, pois o homem que procura purificar-se a si próprio logo se defronta com o seu
fracasso. Jesus veio criar um novo homem e não reformar o velho homem.
 Não é magnetizar as almas nem causar-lhes dependência. O evangelismo genuíno deixa a pessoa se
impressionar e depender exclusivamente do Cristo divino, bíblico, histórico.
 Não é condenar as almas. A própria consciência do pecador já o condena, portanto, não é preciso acusá-lo. O
pecador precisa ouvir falar de perdão, salvação e libertação dos seus pecados.
 Não é discussão estéril.
 Não é atrair membros de outras igrejas evangélicas já estabelecidas (proselitismo).
 Não é inscrever apressadamente mais nomes no rol de membros da igreja.

d) Evangelismo Pessoal
O evangelismo pessoal consiste de alguém falando a outra pessoa sobre a necessidade que esta tem de Jesus,
com a intenção de levá-la à decisão de receber o Salvador. Um crente pode conquistar almas pessoalmente,
visitando de casa em casa; mas também pode fazê-lo em uma fábrica, em sua própria residência, ou em qualquer
outro lugar na face da terra.
É aquele evangelismo de pessoa a pessoa, em que se pode estar perto do evangelizando, olhando para sua
face, para os seus olhos, notando as suas reações, as suas emoções e, ao mesmo tempo, pondo diante do
evangelizando a nossa vida cristã como luz do mundo e sal da terra.
 É instruir o homem de modo que conheça a verdade de Deus;
 É a tarefa de testemunhar de Cristo (Jo 1:41-46);
 É saber iniciar uma conversa agradável, promovendo uma situação favorável, chamando a pessoa pelo nome,
tendo uma conversa amigável;
 É levar as boas novas de salvação aos pecadores (Is 55:7);
 É cumprir a ordem de Jesus (Mt 28:19-20);
 É um instrumento de Deus para transportar vidas do reino das trevas para o reino do Filho do seu amor (Cl
1:13). Deus considera formosos os pés dos que levam a Sua mensagem (Is 52:7).

ALVOS E OBJETIVOS DO EVANGELISMO PESSOAL:


a) Levar o homem a confrontar-se com a impossibilidade de salvar-se a si mesmo;
b) Indicar ao pecador o caminho da salvação;
c) Expor ao mundo atribulado os efeitos da vida eterna e da paz;
d) Levar indivíduos a conhecer (experiência) Jesus como Salvador;
e) Ensinar os primeiros passos para a vida cristã (estabelecer a fé);
f) Restaurar desviados;
g) Edificar crentes.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
13
EVANGELISMO IMPESSOAL
a) Evangelismo de alistamento — É o esforço de convocar descrentes para os cultos na igreja e para matriculá-los
nas classes bíblicas, onde poderão receber instrução da Palavra de Deus.
b) Evangelismo em massa — ou evangelismo coletivo, é aquele que visa alcançar o indivíduo no grupo. Para
tanto, utiliza estratégias tais como: cultos ao ar livre, conferências e cruzadas (ou campanhas) evangelísticas e
evangelismo pelos meios de comunicação de massa — rádio, TV etc. —, em que indivíduos estão em lugares
diferentes, mas ligados todos a uma mesma fonte de mensagem.

3) BONS RESULTADOS DO EVANGELISMO PESSOAL


O pastor N. Lawrence Olson depôs: 17 ―O evangelismo pessoal foi o meio básico empregado por Jesus e seus
apóstolos no princípio, e tem sido um dos mais eficientes meios usados pelos crentes há quase 2000 anos para
salvação dos pecadores. Todo o tipo de evangelização é válido, mas nenhum dispensa a cooperação do evangelismo
pessoal. Vemos, assim, a necessidade de conhecer esta matéria para nos aperfeiçoarmos na arte de ganhar almas
para o Senhor, pois, a verdade é que todos nós, de uma maneira ou de outra, somos o resultado da obra de
evangelismo pessoal.‖
―A minha experiência cristã ilustra esta verdade. Na longínqua Suécia, a minha mãe, quando jovem, assistia
a cultos realizados pelos batistas numa casa particular, entre ferreiros, que fabricavam foices. Um dos ferreiros
chamava-se Per Tiger e era crente fervoroso. Ele notou o interesse que aquela jovem demonstrava pelas coisas de
Deus. Começou então a testificar de Jesus a ela e a explicar-lhe como a pessoa pode nascer de novo e ter uma expe-
riência viva com Cristo. Ela, tendo nascido em lar luterano, necessitava desses esclarecimentos. Per Tiger
continuou com seu amparo espiritual até a jovem nascer de novo. Anos depois, quando ela já era minha mãe,
repetia comigo a mesma tática que Per Tiger usara com ela. Assim foi o evangelismo pessoal o fator decisivo tanto
na experiência de salvação de minha mãe, como também na minha.‖
Henry Clay Trumbull, mestre conquistador de almas tanto como poderoso no púlpito, escreveu pouco antes
de sua morte: ―Voltando a vista para meu trabalho em todos estes anos, posso ver mais resultados diretos de bem
pelo meu esforço individual com pessoas do que por meio das minhas palavras faladas para milhares e milhares de
pessoas em assembléias religiosas,18 ou todas as minhas palavras escritas nas páginas de periódicos e livros.
Alcançar uma pessoa de cada vez é a melhor maneira de alcançar todo o mundo‖.19
Billy Graham diz: ―A triste verdade é que alguns dos nossos maiores estudiosos bíblicos são nossos piores
ganhadores de almas‖.

O EVANGELISMO PESSOAL FAZ OS CRENTES CRESCEREM


Gene Edwards assevera: Se você quiser conquistar uma alma para Cristo, terá de pôr em ação sua vida cristã
inteira: a Palavra, a oração, a dependência ao Espírito Santo e todos os frutos da maturidade em Cristo. Trata-se de
um desafio constante. A nova experiência conserva o testemunho cristão fresco e vivo. Como pode qualquer um de
nós sentir-se feliz em Cristo, quando nada realmente de novo aconteceu conosco, desde a nossa conversão? Mas a
testemunha cristã, coerente consigo mesma, anda no poder manifesto de Deus, diariamente.
Contamos com muitos que são grandes membros de igreja, mas que são crentes excessivamente fracos.
Quando esses membros de igrejas começam a conquistar almas, pode-se notar alterações com respeito à sua
devoção pessoal. Surge neles um amor profundo pela pessoa de Jesus Cristo. Os crentes ficam realmente
transformados quando ganham almas.

17 Prefácio do livro ―A prática do evangelismo pessoal‖, de Antônio Gilberto. CPAD, 2001 (13ª ed.).
18 P. E. Burroughs, no seu livro Como ganhar vidas para Cristo (p. 68), conta:
– Um pastor fervoroso, algum tempo atrás, pôs sua mão no braço de um jovem que ia saindo da igreja, olhou-
o nos olhos e perguntou se ele era crente. O jovem respondeu: ―Não, senhor. Tenho ouvido suas pregações todos
os domingos, há sete anos, mas não sou crente.‖ Os dois foram juntos até a sala do pastor e em cinco minutos o
moço tinha-se entregado a Jesus, declarando sua fé nele. Sete anos de brilhante pregação tinham falhado; cinco
minutos de trabalho pessoal, e a alma fora conquistada. O ministro pode instruir e impressionar do púlpito, mas
para conquistar ele deve ter contatos pessoais com os perdidos.
19 Citado por Roberto Sumner, em Procurando os perdidos. Imprensa Batista Regular, 1977, p. 14-15.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
14
―Há uma profundidade em Deus a ser alcançada por meio de ganhar almas para Cristo que nunca
pode ser experimentada no estudo bíblico ou na reunião de oração (...) Quando qualquer cristão fala a uma alma
perdida, leva-a a aceitar a Cristo e coloca um braço caloroso ao redor dos seus ombros ou agarra firmemente a sua
mão enquanto dirige aquela alma na oração do pecador — quer na frente da igreja, em um banco do parque, em
uma casa, num restaurante, ou na esquina de uma rua, aquele cristão fica mais semelhante a Cristo do que teria a
possibilidade de ficar em qualquer outra atividade espiritual.‖20

“A obediência na evangelização é uma das condições de saúde espiritual. Ela é vital para todos
os crentes, individual e coletivamente. A evangelização acende uma faísca na vida cristã, fazendo-
a inflamar-se. Quando evangelizamos, oramos de modo definido, lançando-nos sobre Deus para
alcançarmos vitórias nas lutas espirituais que se travam na alma de uma pessoa em quem temos
interesse. Pedimos a Deus que a ilumine de modo especial, que a leve ao Salvador e a uma vida
nova, que use a nós ou qualquer outro meio de Sua escolha para atingi-la. E ficamos à espera que
Ele nos responda. Vemos baixar a indiferença ou antagonismo e o interesse tomar vulto. Nesse
ínterim a Bíblia torna-se sempre mais viva e importante, ao vermos as pessoas respondendo às
suas verdades. Passagens que antes pareciam áridas e sem maior significado, parecem agora
práticas e pertinentes. E é de notar que, concentrando-nos em evangelizar, não nos sobra tempo
de bisbilhotar a vida de outros crentes, apontando-lhes as faltas. Unindo-nos todos
fervorosamente na proclamação da mensagem redentora do Senhor esquecemos fraquezas e
irritações mesquinhas e os pecados que mais nos preocupam são os nossos próprios.”21

EVANGELISMO PESSOAL E MISSÕES


Gene Edwards afirma:22 ―Jamais devemos esperar conquistar o mundo para Cristo enquanto não tivermos
reconquistado forte ênfase sobre o testemunho pessoal. Não podemos esperar que os homens que saem como
missionários evangelizem o mundo sem esse instrumento. Primeiramente devem ter experiência com o
evangelismo pessoal, em suas próprias pátrias. Os missionários trabalham sob a pressão de uma severa
desvantagem, porquanto não vêm de igrejas conquistadoras de almas, nem nunca viram o avivamento mediante o
cristianismo pessoal em ação. Portanto, não podem levar tal experiência para os campos missionários. Nossos
missionários não podem ser maiores que as igrejas de onde vieram.‖

O EVANGELISMO PESSOAL PODE PRODUZIR AVIVAMENTO


O evangelismo pessoal pode ser um instrumento mediante o qual vem o avivamento na igreja e com a
mesma intensidade que vem o avivamento mediante a pregação da Palavra na evangelização em massa. De fato,
mais intenso ainda, posto que o avivamento instaurado através do evangelismo pessoal é mais profundo.
Por quê?
Porque é o único tipo de avivamento que tira o crente da posição de espectador.
A maior parte dos derramamentos do Espírito Santo se tem verificado quando algum ajuntamento de povo
sente um período coletivo de arrependimento, e talvez de confissão e alegria. Mas isso é passageiro. Falta-lhe a raiz
da maturidade. Nada aconteceu capaz de dar-lhe realmente o crescimento em Cristo. Não há alicerces firmes, nos
quais possa apoiar-se. Quase todo o espírito de reavivamento se dissipa após o evangelista afastar-se. O povo
experimentou purificação e espírito reavivado, mas nada ocorreu capaz de sustentar essa experiência.
Mas, quando o avivamento vem por meio do evangelismo pessoal, é o indivíduo que experimenta o impacto.
Ao invés do evangelista. O próprio leigo é o instrumento do Espírito Santo. E quando o avivamento chega, não
depende de certa localização (o edifício da igreja) ou de certa personalidade (o evangelista), nem de outras pessoas
(a congregação). E assim o espírito de avivamento permanece no coração do crente enquanto ele der fruto.

20 T. L. Osborn, Ajunta-te a esta carruagem. Graça Editorial, 2000, p. 74-75.


21 Paul E. Little, Como compartilhar sua fé. ABU Editora, 1993 (5ª ed.), p. 29-30.
22 Gene Edwards. Assim uma igreja conquista almas. Editora Vida, 1996 (2ª ed.), p. 64.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
15
A experiência da conquista de almas tem a qualidade ímpar de produzir, no crente, o desejo de obter
maiores resultados! Os leigos são elevados de sua posição, onde têm estado há anos, sendo apenas ―ouvintes da
Palavra‖. Subitamente se transformam em ―praticantes da Palavra‖.
T. L. Osborn conclui: ―Os ganhadores ativos de almas são cristãos felizes. O pastor pode inspirar seus
membros a saírem do santuário, para desfrutarem das alegrias dos contatos pessoais e do evangelismo pessoal.
Creio firmemente que o reavivamento dentro da Igreja surgirá como resultado de um reavivamento da conquista
pessoal das almas fora do santuário.‖

ADAPTA-SE ÀS CONDIÇÕES ESPIRITUAIS DE QUALQUER PESSOA


O que o sermão não consegue fazer no auditório, na evangelização coletiva, o evangelismo pessoal o faz. Na
evangelização em massa, a pregação não satisfaz a todos, porque cada um tem problemas espirituais diferentes. No
evangelismo pessoal, a mensagem é direta, incisiva. Muitas vezes, a pregação apenas inicia a evangelização, que
será complementada com o contato pessoal do ganhador de almas.

PROMOVE O CRESCIMENTO DA IGREJA


A igreja dos dias primitivos cresceu muito depressa porque os crentes, cheios do Espírito Santo,
evangelizavam sem parar (At 5:42; 8:4). O resultado foi o maravilhoso crescimento registrado no livro de Atos dos
Apóstolos. Hoje, também, a igreja que tiver um número regular de ganhadores de almas, seu crescimento será
notório. A semeadura da Palavra de Deus promove o crescimento e a edificação da igreja. (Ver At 2:41,47; 4:4;
5:14; 9:31, e principalmente em 21:20.) ―A maior e melhor maneira de ajudar o pastor no crescimento do rebanho
de Deus é ganhar almas individualmente. O irmão tem feito assim? Está fazendo assim? Se hoje, na igreja, cada um
ganhasse outro, qual seria o resultado? Se todos ganhassem almas como você, qual seria o crescimento da igreja?‖23

VENCE PRECONCEITOS
Há casos e ocasiões em que somente o evangelismo pessoal alcança o pecador. Há pessoas que ja-
mais assistiriam reuniões evangelísticas em templos, ou seja onde for, devido a preconceitos, falsa
concepção, ignorância, ordens recebidas, imposições religiosas, falsas informações, falsas idéias etc. É aí
que o evangelismo pessoal presta seus serviços de modo ímpar. Há diversas igrejas por toda parte, que
começaram através do evangelismo pessoal. A origem foi uma alma ganha, cultos em sua casa e em
seguida uma congregação formada. O pioneirismo missionário na América Latina e o estabelecimento da
obra das Sociedades Bíblicas também foi assim — através do evangelismo pessoal.

23 Antônio Gilberto. A prática do evangelismo pessoal. CPAD, 2001 (13ª ed.), p. 11.
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16
1 – PERSPECTIVA HISTÓRICA DO
EVANGELISMO PESSOAL
OS PRIMEIROS DISCÍPULOS EXERCERAM O EVANGELISMO
PESSOAL
Encontraram Jesus e trouxeram outros a Ele (Jo 1:40-45). Na comunhão diária com Jesus tornaram-se seus
seguidores, com o mesmo padrão: ―Basta ao discípulo ser igual a seu mestre‖.

A IGREJA PRIMITIVA EXERCEU O EVANGELISMO PESSOAL


• O encontro de Filipe com o eunuco (At 8:26-40)
• A conversão do carcereiro (At 16:25-31)
• Paulo ia de casa em casa (At 20:20).
Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores (I Tm 1:15). É isto o evangelismo. Os cristãos primiti-
vos seguiam o Seu exemplo. Sabiam que a missão era ganhar pecadores. Atentavam para o que Ele dissera: Mas
recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como
em toda a Judéia e Samaria e até os confins da Terra (At 1:8). O Espírito Santo foi-lhes dado a fim de revesti-los
de poder para testemunharem, saírem e falarem com as pessoas, de casa em casa, de indivíduo para indivíduo, com
o objetivo de levá-los a crerem em Jesus Cristo, e se tornarem Seus seguidores.
O método deles era simples e prático: E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de
anunciar a Jesus Cristo (At 5:42). Como conseqüência, se multiplicava o número dos discípulos (At 6:7).
Levantou-se, portanto, uma perseguição, e todos foram dispersos pelas terras e os que andavam dispersos iam por
toda parte anunciando a palavra (At 8:1,4); (...) publicamente e pelas casas (At 20:20). E durou isto por espaço de
dois anos, de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus
como gregos (At 19:10).
Não há dúvida quanto a isso: os cristãos primitivos seguiam o exemplo de Jesus. Todos eles eram pescadores
de homens. Compreendiam que foram salvos com o propósito de testemunhar.
Qual foi o resultado? Evangelizaram rapidamente o seu mundo — a totalidade da Ásia Menor, muitas
cidades grandes, tais como Jerusalém, Damasco, Éfeso, e um número enorme de povoados e aldeias. Até mesmo as
áreas segregadas foram evangelizadas, como Samaria, as tribos nômades nos desertos e os povos pagãos nas ilhas
próximas da região.
Pense nisso! Sem eletricidade, rádio, TV, cassetes, discos, filmes; sem aviões a jato nem automóveis; nem
sequer bicicletas ou máquinas de escrever. Mas realizaram a obra em sua geração.
Depois, evangelizaram a África do Norte e a Europa do Sul. Chegaram até à Espanha e penetraram nas
grandes áreas pagãs do norte, que agora são chamadas Escandinávia e Grã-Bretanha.

1) Estratégias e Métodos Evangelísticos na Igreja Primitiva


O historiador Michael Green relaciona doze contrastes entre prioridades, atitudes e métodos evangelísticos
do cristianismo primitivo, em relação aos nossos:24
1. A igreja primitiva fez da evangelização sua meta prioritária. Hoje essa preocupação aparece bem lá embaixo na
lista de prioridades. Existe ampla convicção de que um dos melhores relatórios já lidos na Igreja Anglicana é
o intitulado Towards the Conversion of England (Para a Conversão da Inglaterra), dado a lume trinta anos
atrás. É um primor de documento, mas o problema é que ele nunca foi executado. Julga-se que a matéria não
seja suficientemente importante. O mesmo podemos dizer da maioria dos planos formulados em muitas
denominações de numerosos países.
2. A igreja primitiva tinha profunda compaixão pelas pessoas sem Cristo. Muitos setores da igreja moderna estão

24 Michael Green, ―Estratégias e Métodos Evangelísticos na Igreja Primitiva‖, do livro A Missão da Igreja no Mundo de Hoje. ABU
Editora, 1989 (3ª ed.), p. 56-57.
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longe de se convencerem de que importa muito saber se alguém tem Cristo ou não. ―Outras religiões
também são vias quase tão boas, ou tão boas, de chegar a Deus. Os humanistas vivem uma vida irrepreensível.
De qualquer maneira, tudo dará certo no fim, Deus é bom demais para condenar alguém.‖
3. A igreja primitiva era muito flexível na prédica das Boas Novas, mas inteiramente oposta ao sincretismo (a
mistura de outros elementos com o Evangelho) de qualquer tipo. Diversas partes da igreja moderna tendem a
ser rígidas em suas categorias evangelísticas, porém se inclinam fortemente para o sincretismo.
4. A igreja primitiva era muito aberta à liderança do Espírito Santo; em toda a expansão evangelística registrada
no livro de Atos, o Espírito é o elemento motivador e energizante. Na moderna igreja do Ocidente, técnicas
gerenciais, reuniões de comitê e discussões intermináveis são tidas como essenciais à evangelização; a oração
e a dependência em face do Espírito parecem, com freqüência, opções extras.
5. A igreja primitiva não era indevidamente cônscia do papel do pastor. Há notória dificuldade pela frente quando
se tenta apreender os modelos ministeriais modernos nos registros do Novo Testamento. Hoje tudo tende a
centrar-se em torno do pastor. Espera-se que o servo remunerado da igreja empenhe-se em falar de Deus, mas
não os outros.
6. Na igreja primitiva esperava-se que cada pessoa fosse uma testemunha de Cristo. Hoje o testemunho,
comparado ao diálogo, leva desvantagem. E ainda admite-se que somente compete aos pastores bem dotados
o testemunhar — isso na melhor das hipóteses — mas nunca aos cristãos de mediana inteligência.
7. Na igreja primitiva construções não tinham importância. Não houve uma sequer durante o período inteiro de
seu maior avanço. Hoje as construções parecem a coisa mais importante para muitos crentes. Sua conservação
consome o dinheiro e o interesse dos membros, faz com que se atolem em dívidas e os isola dos que não vão à
igreja. Na verdade, até a palavra mudou de sentido. ―Igreja‖ já não significa um grupo de pessoas, como nos
tempos neotestamentários. Atualmente significa ―templo‖.
8. Na igreja primitiva, a evangelização era um ―bate-papo‖ espontâneo e natural sobre as boas novas, e nele se
engajavam continuamente todos os cristãos, de maneira natural e como um privilégio. Hoje a evangelização é
espasmódica, pesadamente organizada, e em regra dependente das técnicas e do entusiasmo do especialista
visitante.
9. Na igreja primitiva, a política adotada era ir ao encontro das pessoas, onde elas estivessem, e fazer discípulos
entre elas. Hoje é convidar pessoas para virem à igreja, onde certamente não se hão de sentir em casa, e fazer
com que ouçam a pregação do Evangelho. A igreja de hoje tenta a implosão, o convite, ou seja, procura
―arrastar‖ o visitante; a igreja primitiva praticava a explosão, a invasão; saía ao encalço das pessoas.
10. Na igreja primitiva o Evangelho era sempre debatido nas escolas filosóficas, discutido nas ruas e até nas
lavanderias. Hoje já não se discute muito o Evangelho sob nenhum aspecto, e com toda a certeza não o fazem
no terreno ―secular‖. Seu lugar é a igreja, no domingo, e um pastor convenientemente ordenado para isso é
que deve encarregar-se de toda a palestra.
11. Na igreja primitiva, ao que tudo indica, comunidades inteiras costumavam converter-se de uma só vez. Na
igreja atomística do Ocidente, o individualismo corre solto, e a evangelização, como muita coisa mais, tende a
atingir seu clímax num confronto pessoal.
12. Na igreja primitiva o impacto maior era produzido pelas vidas transformadas e pela qualidade da comunidade
cristã. Hoje muito do estilo de vida cristão já quase não se distingue do estilo de vida não-cristão, e muitas são
as congregações religiosas que ficam famosas por sua frieza.
Esses são apenas alguns dos contrastes entre a igreja de ontem e a igreja de hoje em matéria de
evangelização, contrastes que nos estimulam a examinar de cabeça fria a mensagem dos primeiros cristãos e
os métodos por eles adotados.

A MENSAGEM DOS PRIMEIROS CRISTÃOS


Em todo o Evangelho de Marcos, em Hebreus, nas Epístolas de Paulo, em I Pedro e em Atos, é possível
discernir a ossatura que dá firmeza a boa parte da pregação cristã primitiva:
 Já raiou a era da realização. Deus finalmente enviou o seu Messias, Jesus. Ele morreu humilhado na Cruz.
Ressurgiu do túmulo e é Senhor, sentado agora à direita do Pai. A prova de sua defesa está no dom do Espírito
Santo. E Ele virá de novo, no final da história humana, julgar o mundo. Portanto, arrependam-se, creiam e
sejam batizados em Cristo; e unam-se à Igreja.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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a) A mensagem era cristocêntrica.
b) A mensagem era flexível — eles traduziam o Evangelho em formas de pensamento que as pessoas usam. É
preciso descobrir primeiro onde a pessoa vive, mental e espiritualmente, antes de lhe mostrar de que
maneira Jesus está relacionado com a vida dela.
c) A mensagem era definida — não havia nada de concessão, nada de sincretismo e sempre demandava uma
decisão de arrependimento, fé e batismo.

OS MÉTODOS DE ABORDAGEM EVANGELÍSTICA DOS PRIMEIROS CRISTÃOS


a) A prioridade das conversas pessoais: a evangelização pelo diálogo — O Evangelho de João tem um
particular interesse por esses encontros pessoais de Jesus com indivíduos, e a diversidade de abordagens que
Cristo usou em cada caso, sempre achando cada vez uma via de acesso na principal necessidade da pessoa, e
nunca ficando preso a um sistema. É o método de Filipe, por ele usado quando conduziu o eunuco a Cristo; o
método de Paulo ao trazer Onésimo para o regaço da fé. E assim foi continuamente. O testemunho pessoal
de um ancião que se encontrou com Justino no campo e fez com que a conversa girasse em torno de Jesus
marca o início da conversão desse homem, no começo do século II. Cipriano foi ganho através da palavra
pessoal de um presbítero que o visitou; Gregório, através da obra pessoal de Orígenes.
b) Testemunho ao ar livre, nas ruas e praças.
c) O impacto da comunhão cristã: a adoração, o amor, a unidade, a cuidado demonstrado pelos que tinham
necessidade.
d) Visita — A visita de Ananias a Paulo de Tarso é, talvez, o caso mais clássico em Atos dos Apóstolos.
e) Reunião nos lares — É claro que os cristãos primitivos eram obrigados a fazer uso do lar, porque não lhes
era permitido adquirir nenhuma propriedade, até o fim do século II. Não podiam, durante o governo de
diversos imperadores, organizar grandes aglomerações públicas por causa das possíveis implicações
políticas do ato. Em outras palavras, a Igreja nos três primeiros séculos de nossa era cresceu sem a ajuda de
dois dos nossos mais estimados instrumentos: a evangelização de massa e a evangelização na igreja. Ao
contrário disso, faziam uso do lar. No livro de Atos lemos acerca de lares usados extensivamente, como os
de Jasão e Justo, de Filipe e da mãe de Marcos. Algumas vezes tratava-se de um culto devocional, outras
vezes, de uma tarde de encontro e doutrinação, ou mesmo de um culto de comunhão. Podia ser também um
encontro para reunir novos conversos, ou uma reunião com a casa cheia de novos interessados. Reuniões de
improviso também aconteciam.
f) Evangelização pela literatura — A palavra escrita não era tão fácil, nem tão barata, naqueles dias em que os
livros eram manuscritos, mas eles usavam esse método. Afinal de contas, qual o objetivo dos Evangelhos?
Mas especialmente faziam uso das Escrituras do Velho Testamento. Assim como Filipe empregou versículos
de Isaías 53 para abrir os olhos do eunuco etíope, assim também fizeram inúmeros missionários dos dois
séculos seguintes. Homens como Justino, Taciano, Pantênio e Atenágoras no século II foram ganhos à fé
através da leitura das Escrituras do Velho Testamento. Seria uma tolice de nossa parte subestimar o poder de
conversão da Palavra de Deus, mesmo com a ausência de qualquer intérprete humano.
g) Campo neutro — Cristãos primitivos saíam do seu gueto para fazer que fosse ouvido, discutido e
questionado o Evangelho pelos que o dispensam ou o ignoram (Exemplo: Paulo na escola de Tirano).
h) O emprego da apologética25 — Uma feição peculiar da evangelização primitiva está no emprego que faziam
do intelecto para relacionar o Evangelho com as atividades intelectuais e culturais de seu tempo. Apologistas
do séc. II permaneciam como professores de filosofia, convencidos de que haviam encontrado a verdadeira
filosofia capaz de ajudar a todos em toda parte. Eles relacionavam Cristo com o mundo intelectual de seu
tempo, em termos que faziam sentido para os que não tinham pressuposições cristãs. Esforçavam-se por
demonstrar a existência do único Deus de quem todas as coisas derivam. Zombavam do tolo politeísmo do
panteão greco-romano. Mostravam a estultícia de Homero e de Hesíodo em suas epopéias populares,
atribuindo pecados humanos aos deuses, e, em lugar disso, chamavam a atenção para a santidade de Deus;
santidade que foi capaz de tanger uma corda na consciência de cada um.
Discutiam a realidade da ressurreição: Tertuliano em sua obra de Resurrectione sustenta com boa razão que,

25 Michael Green, ―Estratégias e Métodos Evangelísticos na Igreja Primitiva‖, do livro Missão da Igreja, p. 71-72.
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se Deus pôde modelar um corpo humano a partir da fusão do espermatozóide com o óvulo, não existe a
menor dificuldade em supor que Ele possa modelar um corpo espiritual para os cristãos no Céu; corpo que combine
a continuidade do ego com uma nova e mais extraordinária forma para sua expressão.
A famosa escola catequética de Orígenes, em Alexandria, era não somente um campo de treinamento de
intelectuais cristãos, mas um lugar onde se debatia, se questionava e se apresentava a fé a céticos e a inquiridores.
O mesmo acontecera 150 anos antes, quando Paulo argumentava em favor do Caminho cristão, dialogando com os
freqüentadores da escola de Tirano em Éfeso. As próprias palavras usadas no Novo Testamento para indicar a
pregação cristã denotam alto esforço intelectual: palavras como didaskein, ―instruir‖; kerussein, ―proclamar como
um arauto‖; euangelizesthai, ―proclamar boas novas‖; katelenchein, ―convencer através de argumento‖;
dialegesthai, ―discutir‖; e assim por diante. Eles gastaram muito tempo em justificar intelectualmente as Boas
Novas.26
Estavam preparados para o debate, podiam sustentar sua posição tanto em campo neutro como hostil. Davam
testemunho, referiam-se constantemente aos fatos do Evangelho e ao ensino do VT (palavras como sunzetein e
sumbibazein indicam essa séria procura das Escrituras). Algumas vezes isso levava um dia, ou mesmo uma semana.
Algumas vezes voltavam a atacar seguidamente. Mas, do conteúdo intelectual da proclamação dos primeiros dias,
não pode haver nenhuma dúvida. Sem essa apologética, não teriam ido a parte alguma. Tanto a cultura judaica
como a gentílica opunham-se inteiramente ao que tinham de dizer. E se a posição deles pudesse ser minada por
argumentação alheia, teriam sido logo enxotados das ruas. Mas não podia. Nela estava a verdade. E porque é
verdadeira, os seguidores de Cristo não precisam temer nenhuma verdade. Pois toda verdade pertence a Ele, e toda
verdade lança alguma luz sobre a verdade encarnada na pessoa de Cristo.

OUTRAS FACETAS DA EVANGELIZAÇÃO NA IGREJA PRIMITIVA:

a) Expectativa de que o Espírito Santo realmente mudasse a vida de seus membros.


b) Auto-sacrifício e determinação em face das perseguições.
c) Dependência das Escrituras e da oração.

ESTRATÉGIAS DOS PRIMEIROS CRISTÃOS


O que mais se aproximaria de uma estratégia, na obra desses primeiros cristãos, pode ser:
a) Eles trabalhavam do centro para fora.
―Começando de Jerusalém‖ era a palavra-chave na recomendação de despedida de Jesus a seus discípulos.
E começando de onde estavam, esses doze homens rapidamente cresceram através da oração, da
comunhão, de uma profunda experiência do Espírito e de uma destemida pregação, mesmo quando

26 Em Atos 13:43, a Bíblia Revista e Corrigida traduz corretamente peitho pelo vocábulo ―exortar‖, mostrando que Paulo e Barnabé

utilizaram os melhores poderes de argumentação e seu amor pela verdade, a fim de exortar os ouvintes a ―perseverar na graça d e Deus‖.
Em Atos 17:4, ―persuadidos‖ implica em que os tessalonicenses foram convencidos das coisas que Paulo e Silas haviam proclamado.
Lucas já havia afirmado que Paulo ―arrazoou com eles, acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo
padecesse e ressurgisse dentre os mortos‖ (17:2-3). Essas palavras descritivas demonstram que ocorreu um intenso intercâmbio
intelectual, quando os mensageiros utilizaram as provas das Escrituras, uma série de perguntas e respostas (―arrazoou‖, no grego,
dialegomai), e toda a sua capacidade de questionamento, para convencê-los da verdade. Paulo e seu companheiro, com muito ardor,
anunciaram a Palavra de Deus àquelas pessoas incrédulas, apelando, com a verdade, às suas mentes (ver também Atos 18:4 e 28:2 3,
onde peitho é mais naturalmente traduzida por ―persuadir‖.
Os primeiros discípulos eram apaixonados pela verdade que havia transformado suas vidas. A sua apresentação do evangelho
continha uma argumentação consistente e lógica. Eles apelavam à mente dos incrédulos, ao invés de procurarem manipular uma ―decisão
por Cristo‖, recorrendo, em primeiro lugar, à vontade e às emoções. Atos 17 mostra isso de maneira conclusiva, assim como toda a
narrativa do livro.
O próprio evangelho, ao ser anunciado de maneira correta, é persuasivo! E este evangelho, quando crido para a salvação, devido à
obra de regeneração realizada pelo Espírito Santo, produz verdadeiros discípulos.
Paulo estava tão dominado pela certeza do julgamento divino, que afirmou: ―Conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens‖
(II Co 5:11). O significado natural deste versículo é este: Paulo compreendia que os pecadores compareceriam diante do Deus justo e
santo, por isso se esforçava para ―conquistar os homens para Cristo‖. Ele procurava os perdidos, anunciava-lhes com intenso amor o evan-
gelho, mas dependia do poder do Espírito Santo para salvá-los. Aqueles que o Espírito salvasse inevitavelmente se tornariam parte da
igreja visível. O verdadeiro evangelismo se esforça por anunciar, com amor e clareza, todo o evangelho de Cristo, na dependência do
Espírito para salvá-los. Esse evangelismo resultará na obra de integrar o novo crente à igreja. A disparidade ocorre quando o evangelista
considera a si mesmo e aos seus métodos como chaves para a salvação dos homens, ao invés da obra regeneradora da parte do Espírito.
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perseguidos, formando um corpo a que Jesus acrescentava diariamente novos conversos, e que
encheu toda a Jerusalém com a sua mensagem. Atos dos Apóstolos, então, mostra sucintamente a difusão
do Evangelho na Judéia, depois na Samaria, e daí para os confins da Terra. Mas parece que a regra era
sempre conseguir aquecer o coração do grupo, pois só assim o grupo estaria preparado para receber novas
adesões. A regra vigente em boa parte da evangelização moderna é arrastar pessoas de fora para dentro. A
norma deles era diferente: visava mover de dentro para fora e evangelizar, não em seu próprio solo, mas em
solo estranho.
b) Todos estavam envolvidos na missão e também envolvidos na vida de sua comunidade.
c) Eles usavam de sua influência e passaram a participar de rodas onde sua influência seria sentida em toda a
capacidade.
d) Eles exerciam supervisão. Desde o início, já saíam a campo para consolidar conquistas. Os novos
discípulos precisavam de quem os fortalecesse. Com esse objetivo em vista, os apóstolos revisitaram seus
conversos, nomearam presbíteros para cuidar deles, enviaram-lhes mensageiros e oraram por eles.
e) Eles produziam testemunhas. Era coisa normal o cristão empolgar-se tanto com
Cristo, que ele precisasse encontrar uma maneira de comunicar isso a seus semelhantes não-cristãos.

2) O Evangelismo e a História da Igreja

Aqueles cristãos do século I eram testemunhas. Ganhavam as pessoas publicamente e de casa em casa, todos
os dias! Quão grande poderia ter sido o resultado, se esse zelo e paixão originais pelas almas tivessem continuado
na Igreja?
Mas não continuou. No século II, a cristandade ficou emaranhada nas controvérsias teológicas e começou a
separar suas fileiras. No século III, os cristãos já tendiam à apostasia. No século IV, a apostasia e a prevaricação
dos cristãos foi acentuada.
E, então, veio o ensino deturpado do Cristianismo, na chamada Era das Trevas (Igreja Medieval), cujo
período terrível de mil anos é o véu que tem separado a Igreja moderna do conceito da Igreja no Novo Testamento.

Martinho Lutero fez a primeira redescoberta do cristianismo do Novo Testamento com a revelação de que ―o
justo viverá pela fé‖. A Primeira Igreja Cristã sabia essa verdade, que foi perdida na Era das Trevas.
A Reforma do século XVI, no entanto, era primariamente uma reforma teológica — uma volta ao exame da
Palavra de Deus. Afora isso, era muito limitada, especialmente, nos seus ensinamentos a respeito do evangelismo
em massa, da santificação, das missões, dos dons do Espírito Santo ou da volta de Cristo, embora todas estas
tivessem sido verdades fundamentais acolhidas pela Primeira Igreja Cristã.
Depois de Lutero ter redescoberto a fé pessoal para cada crente, Wesley apareceu em meados do século
XVIII com a redescoberta do evangelismo em massa, da santificação e do poder do Espírito Santo operando no
cristão. Wesley, sofrendo oposição e rejeição por parte da Igreja oficial, redescobriu a possibilidade de sair para os
campos, parques e estradas públicas a proclamar o Evangelho às massas, onde os homens e as mulheres podiam ser
salvos às centenas por vez.
Lutero redescobrira que um indivíduo podia chegar diretamente a Cristo sozinho, ler a Bíblia, invocar o
Senhor e ser salvo pela sua própria fé. Wesley, porém, redescobriu que uma multidão inteira de pecadores podia
crer em Cristo e ser salva de uma só vez.
A Primeira Igreja Cristã praticara o evangelismo em massa, mas este foi sufocado até morrer durante a Era
das Trevas, quando o cristianismo era proclamado somente dentro das paredes das catedrais e dos santuários
eclesiásticos. Houve, então, sucessivos ressurgimentos do puro evangelismo sob a liderança de homens como
Finney, Moody e outros.
William Carey começou seu ministério por volta de 1790, e redescobriu que o Evangelho também era para
os pagãos. E, assim, foram reorganizadas as missões. Os cristãos primitivos eram grandes missionários, mas
durante a Era das Trevas, desaparecera o conceito de evangelizar nações bem distantes, habitadas por outros povos.
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Em fins do século XIX e começo do século XX, mais verdades vitais foram restauradas à Igreja: o
derramamento do Espírito Santo, os dons espirituais, a doutrina dos tempos do fim e a da volta de Cristo. Lutero e
Carey não mencionaram qualquer dessas verdades. Sequer Wesley deu muito destaque a elas.
Então, quase simultaneamente no mundo inteiro, os cristãos começaram a redescobrir o batismo no Espírito
Santo acompanhado pelos sinais sobrenaturais. Em seguida, os dons do Espírito Santo começaram a ser exercidos,
inclusive, houve a reativação do poder de Cristo para curar os enfermos e a verdade da Sua segunda vinda
iminente.

Os cristãos primitivos conheciam todas essas verdades vitais, mas durante mil anos a Igreja ficou fora de
contato com esses conceitos do Novo Testamento. Durante esses mil anos, os cristãos ficaram viciados em
conceitos e atitudes religiosos inteiramente estranhos ao Novo Testamento.

TODAS EXCETO UMA 27


A partir da Reforma de Lutero, uma seqüência gloriosa de verdades reveladas desdobrou-se diante da Igreja.
Mas é trágico que uma verdade extremamente vital ainda não tenha sido redescoberta pela igreja institucional:
Trata-se da conquista pessoal das almas, lá fora, entre os pecadores!
Todas as grandes verdades essenciais do cristianismo primitivo foram redescobertas menos a verdade
motivadora que leva a Igreja lá para fora, entre os pecadores, para testemunhar a eles e ganhá-los para Cristo.
Como conseqüência, a Igreja está, geralmente, encurralada dentro das paredes do seu santuário, fora do contato
com os pecadores. A sua atitude tradicional para com aqueles que não querem entrar no seu santuário, para serem
salvos, dá a impressão de que ela não lhes dá a mínima importância.
Parece que a Igreja está dizendo: ―Afinal de contas, os pecadores sabem que estamos aqui. Se quiserem ser
salvos, que venham freqüentar nossas reuniões e ouçam o Evangelho. Aqui, em nosso santuário, estamos dispostos
a fazer tudo para ajudá-los a encontrarem Cristo. Nós os amamos; realizamos reuniões especiais de evangelismo a
favor deles; oramos constantemente por eles. Aqui em nosso santuário estamos equipados para ajudá-los: temos
nosso coro, nossos obreiros, nossos pregadores, o lugar para acolher os arrependidos; estamos dispostos a fazer
tudo dentro de nosso alcance, e a não medir sacrifícios pessoais para ajudar todo e qualquer pecador a encontrar
Cristo aqui em nosso santuário‖.
E nada há de errado com essa atitude, a não ser o fato de somente conseguir ajudar aqueles que freqüentam a
igreja; isso não exprime compaixão pelos 90% de todos os pecadores que não vão para a igreja. Em outras palavras,
desmascara o fato de que os membros da igreja, em geral, não redescobriram o evangelismo pessoal — fora do
santuário — lá fora onde os pecadores estão.
Devemos compreender que a verdadeira Igreja de Jesus Cristo hoje está restituída à sua estatura integral, que
é semelhante à Igreja do Novo Testamento em tudo menos aquele único conceito específico que, na realidade, é a
chave que abre o segredo do sucesso sem precedentes do cristianismo primitivo: uma paixão pelo testemunho
pessoal — o evangelismo pessoal!
T. L. Osborn conclama os cristãos a aproximarem-se dessa carruagem... A fazerem como Filipe: estar em
ação procurando almas fora do santuário, lá fora nas estradas principais da vida, onde os ricos e os pobres, os
mendigos e os governantes viajam juntos, buscando a vida verdadeira. É ali que estão. É ali que nós os acharemos,
e os ganharemos. É para lá que Cristo nos envia para buscar e salvar os perdidos. É ali que Seu Espírito nos falará
assim como Ele falou com Filipe: Aproxima-te dessa carruagem, e é ali que descobriremos a busca desesperada da
Verdade, por aqueles que nunca entrarão nas igrejas para serem salvos.

ORIGEM DO EVANGELISMO MODERNO28


No Novo Testamento havia dois tipos bem definidos e predominantes de evangelismo — o evangelismo em
massa e o evangelismo pessoal.
Pelo século III, na sua maior parte, ambos os tipos já haviam desaparecido. Nem mesmo durante a Reforma
houve qualquer reavivamento do evangelismo digno de nota. Por incrível que pareça, não faz mais de duzentos
anos que houve uma volta notável ao evangelismo. Nesse tempo, reapareceu certo tipo de evangelismo. Entrou
novamente em vigor, depois de uma ausência de mil e seiscentos anos, através do ministério de João Wesley.
Podemos estar gratos pelo fato de que ele nos reavivou o conceito do evangelismo em massa.

27 T L. Osborn, Ajunta-te a esta carruagem. Graça Editorial, 2000, p. 55-57.


28 Gene Edwards. Assim uma igreja conquista almas. Editora Vida, 1996 (2ª ed.), p. 15-20.
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É lamentável que a outra forma de evangelismo neo-testamentário não tenha retornado com a mesma
força à história cristã. Talvez esteja esperando alguma oportunidade de agir e reocupar o centro da cena. O
evangelismo em massa reapareceu de forma tremenda com João Wesley. Talvez possamos ter idênticas esperanças
no tocante ao evangelismo pessoal!

QUE DIZER SOBRE O EVANGELISMO PESSOAL?


Fala-se muito acerca do evangelismo pessoal. Escrevem-se livros sobre o assunto. Pregam-se mensagens
fervorosas sobre sua necessidade. E, em casos isolados, há pessoas que o praticam.
Mas não houve nenhum retorno intensivo ao evangelismo pessoal. Durante os últimos mil e oitocentos anos
não houve ocasião em que algum grande movimento de testemunho pessoal tenha envolvido uma larga parcela do
povo cristão. Se abrirmos nossos livros de história não encontraremos qualquer menção a isso durante quase dois
milênios. Por mil e oitocentos anos a Igreja não tem recuperado na sua totalidade o evangelismo pessoal. Até o
momento encontra-se moribundo em um depósito velho, intitulado ―verdades ocultas do Novo Testamento‖.
Qual o resultado de tanto tempo sem a posse efetiva de uma verdade tão fundamental? Não tem importância,
realmente? Acontece que o conceito mais necessário e poderoso do cristianismo ainda está semimorto. É como se
tivéssemos um automóvel sem motor, um avião sem asas, uma mensagem — a Mensagem — mas sem qualquer
meio realmente eficiente de disseminá-la pelo mundo inteiro.
O reavivamento — o redescobrimento — do evangelismo pessoal será, na verdade, o redescobrimento do
espírito do cristianismo nos dias do Novo Testamento.

A EVOLUÇÃO DO EVANGELISMO EM MASSA


Por meio de homens como Jorge Whitefield, os Estados Unidos da América chegaram a conhecer o evangelis-
mo em massa. Achou terreno fértil nesse grande país. Na verdade, o evangelismo em massa tem passado por perío-
dos de ―esfriamento‖ e de ―reavivamento‖ desde então. Houve quatro pontos culminantes na história do evangelis-
mo em massa: um nos tempos de Wesley; outro sob Finney; depois com D. L. Moody; e, finalmente, em nossos
próprios dias, sob a liderança divina, nas campanhas de Billy Graham e outros.
Em meados do séc. XVIII apareceu o ―acampamento‖. Já no séc. XIX, desenvolveu-se o evangelismo tipo
―cultos prolongados‖. Nos fins do séc. XIX, quando houve reavivamento do evangelismo em massa, o termo usado
era ―avivamento‖, Os termos ―avivamento‖ e ―evangelismo em massa‖ começaram a ser confundidos tanto em
nosso modo de pensar como em nossa terminologia. Hoje temos a organizada ―cruzada evangelística‖, que cobre
uma igreja ou uma cidade inteira.
Há certos princípios espirituais do evangelismo em massa que não sofrem alteração. Essas leis são reconhecidas
e respeitadas hoje em dia. O resultado é que na atualidade o evangelismo em massa se tornou uma ciência altamen-
te organizada e exata. Existe o que poderíamos designar de ―ciência espiritual do evangelismo em massa‖.
O evangelismo em massa, ainda que por muitas vezes desprezado, é o maior método neotestamentário que usa-
mos, freqüentemente utilizado por Deus para a salvação de multidões.

ORIGEM E EVOLUÇÃO DO “EVANGELISMO DE ALISTAMENTO”


O evangelismo em massa tem certas limitações. Por causa disso — e porque o evangelismo pessoal passou
tanto tempo em desuso — foi inevitável que se inventassem outras formas de evangelismo para preencher a lacuna.
É o caso do ―evangelismo de alistamento‖.
Ao desenvolver-se e espalhar-se nos Estados Unidos da América, o cristianismo foi seguindo as normas de
desenvolvimento da igreja na Europa. O cristianismo centralizou-se mais no templo da Igreja, mudando quase toda
sua esfera de ação para dentro do templo da igreja local.
Disso, nos últimos anos do século XIX, nasceu o ―evangelismo de alistamento‖:
Descobriu-se que alistando meninos e meninas em escolas bíblicas, ensinando-se aos mesmos a Palavra de
Deus, muitos se entregariam a Cristo. Isso é natural. Uma vez que jovens ficariam expostos ao evangelho, por meio
do estudo bíblico, muitos deles naturalmente se entregariam ao Senhor. Posto que o método dava resultado entre as
crianças, foi ampliado para incluir os adultos.
Hoje em dia, o evangelismo de alistamento, ou evangelismo pela educação, é a ciência mais exata no seio da
igreja. Mais livros são escritos e mais programas e planos são elaborados, nesse setor, do que em qualquer outra
forma de evangelismo.
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Atualmente o evangelismo de alistamento é que está suprindo o vácuo deixado pela ausência do
evangelismo pessoal. Talvez haja mais conversões no evangelismo de alistamento do que sob todas as demais
formas de evangelismo juntas. Muitas (talvez a maior parte) das denominações dependem quase que inteiramente
do evangelismo de alistamento para sua manutenção e crescimento.
Sem dúvida, o evangelismo de alistamento tem dado a maior contribuição para a conquista de almas em toda a
história recente. Esse tipo de evangelismo usa o método da visitação, no qual se convida alguém a assistir e a
matricular-se numa classe de estudos bíblicos.
Convém que nos lembremos, contudo, que se passaram pouco mais de cem anos desde que se iniciou essa forma
de evangelismo; e que talvez ela nunca houvesse surgido se a Igreja tivesse entrado novamente na posse de um
testemunho poderoso de conquista pessoal de almas.

OUTRAS FORMAS DE EVANGELISMO


Nesta nossa época tecnológica presenciamos o desenvolvimento de diversas outras modalidades de
evangelismo. Há evangelismo cinematográfico, evangelismo dramático, evangelismo por quadrinhos (todos dentro
da categoria de evangelismo audiovisual). Surgiram também o evangelismo através do rádio e da televisão e o
evangelismo pela literatura e pelos discos fonográficos.
Nas últimas décadas temos visto a especialização do evangelismo, isto é, organizações foram formadas para
tratar da necessidade de certo setor, tais como o evangelismo da mocidade, da marinha, do exército, da força aérea,
dos operários das fábricas etc. A maior parte dessas organizações utiliza-se simplesmente dos métodos
convencionais de evangelismo do século XX, com modificações próprias para cada grupo.
NOTA: Freqüentemente se faz alusão ao evangelismo em massa com os termos ―avivamento‖ e ―campanha
evangelística‖. O evangelismo pessoal e o de alistamento estão entrelaçados mediante muitos termos, tais como:
evangelismo educacional; evangelismo de visitação; evangelismo de casa em casa; evangelismo na Escola
Bíblica Dominical; evangelismo de testemunhos; evangelismo de conquista de almas etc.
Na realidade só há duas formas de evangelismo: evangelismo pessoal e evangelismo impessoal.
Naturalmente que toda modalidade de evangelismo em massa é impessoal. Evangelismo por meio de filmes,
de literatura, do rádio, da televisão — todas essas formas são impessoais, tanto para o que fala como para os que
ouvem. O evangelismo de alistamento — relação abstrata entre o professor e os alunos — é igualmente impessoal.
Realizado apenas virtualmente, o evangelismo não tem qualidade pessoal alguma. Não há qualquer contato
individual. E no entanto, o cristianismo é pessoal! O evangelismo tem de ser pessoal. Como podemos mostrar
nosso afeto, de pé sobre um púlpito, ―pregando‖ na direção de um homem que está assentado trinta metros distante
de nós? Como qualquer de nós pode realmente esperar exibir a prova mais eficaz do cristianismo — a prova do
interesse humano, do amor e da paz pessoal — a menos que o transmitamos de pessoa para pessoa?
O homem perdido tem de aceitar, pela fé, que o pregador ou o professor realmente tem amor, alegria e paz.
Porém, se o pregador entrar na casa daquele, derramar perante ele o coração e de viva voz lhe dirigir a Palavra,
então o indivíduo sem Cristo poderá perceber e sentir a personalidade do crente. Assim o crente demonstrará seu
amor, sua alegria, sua paz. Nesse caso, pregar = praticar.
Nessas ocasiões podemos dizer como é maravilhoso alguém ser um crente. Ficamos expostos ao juízo dos
outros, para que vejam se somos realmente como dizemos ou não. Pois os outros sempre vêem e ouvem o
evangelho de maneira muito abstrata e impessoal. O descrente só pode perguntar: ―Já que é assim tão maravilhoso,
por que não há um pouco mais de toque pessoal nos discípulos de Cristo?‖
Gene Edwards conclui: ―Deixemos de lado o que é abstrato no evangelismo! Somente o evangelismo pessoal
pode demonstrar o âmago verdadeiro e o valor real do evangelho. Já temos desfrutado de mil e novecentos anos de
evangelismo impessoal. Essa forma já demonstrou o seu valor. Agora é a vez de reintroduzirmos, em escala
mundial, a verdadeira expressão e única demonstração real de que o evangelismo que pregamos é verdadeiro... o
evangelismo no nível pessoal!‖
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
24

2 – O MUNDO PÓS-MODERNO E SUAS


IMPLICAÇÕES PARA O EVANGELISMO

A prática evangelística acontece em meio ao emaranhado da vida


cotidiana. Qualquer que seja a matriz cultural em que brote a vida do Evangelho,
este anunciará a disponibilidade do amor de Deus para atender à necessidade humana.

TENTANDO COMPREENDER A MENTALIDADE PÓS-MODERNA


A missão da Igreja é um mandato de Deus baseado no amor que Ele tem pelo mundo. Ao obedecer a este
mandato, a Igreja é responsável pelo discernimento necessário para uma verdadeira comunicação com o mundo ao
qual ministra. A tarefa evangelística implica discernimento espiritual, que por sua vez implica discernimento dos
tempos. Precisamos compreender o contexto mundial a fim de lidarmos com ele, mas não podemos permitir que ele
distorça o evangelho.
O enorme desenvolvimento do conhecimento científico associado à produção tecnológica do século XX e as
abrangentes mudanças filosóficas, políticas e sociológicas têm afetado cada pequena fibra do tecido social
contemporâneo, especialmente nas últimas décadas. Esse impacto produzido pela ‗modernidade‘, que é uma cultura
mundial emergente, nascida da industrialização com toda sua tecnologia, sua urbanização e sua ordem econômica,
vem trazendo para a nossa geração implicações consideráveis. Esses fatores se combinam para criar um novo
ambiente, o qual, significativamente, amolda nossa maneira de enxergar o mundo. Assim, um conjunto de
influências da sociedade pós-moderna configura a mentalidade do homem atual, podendo-se observar as seguintes
tendências:

Pluralidade — sociedade supermercado, repleta de variedades; opções múltiplas e oportunidade de


escolha; alternativas para tudo — o homem tende a evitar os absolutos, os princípios, os axiomas, causando uma
crescente ausência de consenso sobre um número cada vez maior de temas. ―Cada cabeça uma sentença‖, diz o
ditado popular. No mercado religioso,29 não é Deus quem nos escolhe, mas nós é que o ―selecionamos‖ na
prateleira.
A pluralidade torna as pessoas superficiais, porque precisam experimentar o maior número de opções
possíveis. E mesmo quando se dão conta de que já experimentaram tudo o que havia, continuam sem se fixar em
nenhuma alternativa, porque a constância, a fidelidade, a permanência não são valores modernos. Eles conspiram
contra a possibilidade de surgirem outras opções; conspiram contra a lógica do mercado, que quer o homem
―consumidor‖, sempre volúvel e disposto a experimentar um novo produto, uma nova marca. 30
Nesse campo, germina e cresce o relativismo. O relativismo produz indivíduos que, querendo ser
―politicamente corretos‖, encontram-se sem opiniões pessoais (―no momento em que dou uma opinião estou
impondo minha cosmovisão‖). sem segurança ontológica (―não sei quem sou e seria uma arrogância querer sabê-
lo‖), sem base epistemológica (―não sei se é possível conhecer algo com certeza‖) e sem princípios éticos
universais (―o que é certo para mim não tem que ser certo para você‖). O relativismo torna mais difícil o diálogo
aberto para encontrar a verdade. Para eles, não existe diferença alguma entre o que uma pessoa se dispõe a crer e o
que é ―verdade‖. Dizem: ―No que você acreditar, isso é a sua verdade; eu tenho outra verdade.‖
Ítalo Gastaldi descreve a religiosidade pós-moderna como ―antropocêntrica, sociológica ou ambiental,
branda, à la carte, extremamente cômoda, céptica ante o heroísmo e distante de qualquer entrega, emocional e anti-
intelectualista, carente de confiança em seus líderes e divorciada da cultura‖.31

Privacidade — a ruptura produzida entre as esferas do privado e do público na vida moderna, havendo

29 O pluralismo religioso vigente na sociedade contemporânea ocidental teve a sua origem em outros ismos filosófico-teológicos nestas

últimas décadas. Ele tem a ver intimamente com o relativismo e com um pós-racionalismo do Iluminismo, que é o chamado pós-
modernismo, além das influências do orientalismo religioso. No pluralismo não existe a verdade absoluta, nem existe uma religião
verdadeira. Num ambiente pluralista, ninguém pode reivindicar que está com a verdade absoluta; todos têm as verdades, mesmo q ue elas
se contradigam. Assim é o pluralismo.
30 Rubem Martins Amorese, Icabode: da mente de Cristo à consciência moderna. Abba Press, 1993.
31 Daniel Salinas e Samuel Escobar, Pós-Modernidade: novos desafios à fé cristã. ABU Editora, 1999, p. 37-38.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
25
uma cristalização da importância do privado como a única esfera da liberdade e da realização individual. O
―cidadão do mundo‖ é um solitário (não solidário). Pluralista e defensor da privacidade será alguém com uma
especial incapacidade de confiar e tenderá a tomar decisões impulsivamente. Superficialidade nas relações e
dificuldade na comunhão são conseqüências óbvias.

Secularização — é o processo através do qual as idéias são menos significativas e as instituições


religiosas mais marginalizadas. É a atitude de viver sem levar em conta a existência de Deus. Elementos como
dinheiro, sucesso, poder, aceitação social, sexo, alguma filosofia, um clube de futebol, ou quaisquer outros, passam
a ocupar o lugar do divino na vida da pessoa secularizada. Os valores e ideais que norteiam as ações agora são
outros: são determinados e ditados pelas novelas, pela lógica do mercado, pelos novos padrões de sucesso.32
Como conseqüência automática desse processo secularizador, em função do qual o sagrado vai para o
cantinho da vida, para não incomodar e só ajudar quando for chamado, a igreja tende a se tornar irrelevante e sua
mensagem implausível. Na verdade, acontece com o Cristianismo o que já era realidade em todas as outras
manifestações de espiritualidade e religiosidade modernas: passa a ter um papel limitado na vida comum do
homem. A religião presta-se ao conforto espiritual, ao alívio das tensões do dia-a-dia, a apresentar respostas à sede
de esoterismo e à busca do oculto etc. Mas a um relacionamento significante e responsável com um Deus infinito e
pessoal, que se apresenta para ser Senhor sobre nossos destinos através de uma proposta madura de redenção de
nossas vidas, que começa com o doloroso apontamento de nosso pecado e da nossa perdição e caminha para a
oferta de perdão e reconciliação, e desemboca, pelo arrependimento, em um estreito caminho de compromisso e
responsabilidade..., isso, nem pensar! Há ―produtos‖ mais interessantes e mais ―baratos‖ no mercado — sintetiza
Rubem Amorese.

DUAS VERTENTES BASES SE DELINEIAM:


A) MATERIALISTA
— Materialismo. As posses materiais não só impelem as pessoas a se concentrar na vida privada, desprezando a
vida comunitária, mas também incentivam a flexibilidade. Quanto mais bens tem a pessoa, mais concessões
fará para protegê-los.
— Consumismo.
— Permissividade (relativismo moral e hedonismo).
— Fragmentação dos valores da família.
— Disseminação do uso de drogas.

B) MÍSTICA OU ESOTÉRICA.
Como conseqüência da globalização, as pessoas hoje têm acesso não só a todas as religiões mundiais
históricas, mas também a uma explosão de alternativas, cuja forma de espiritualidade demanda poucas
mudanças profundas em suas vidas.
— Crescente aceitação dos cultos afros.
— Disseminação de religiões orientais.
— Correntes teosóficas.
— Correntes psicológicas.
— Ideologia da Nova Era. Segundo Roy Clements, a ―Nova Era é a articulação da crescente popularidade do
monismo panteísta. Em oposição, tanto ao teísmo puritano como ao racionalismo científico, o monismo
panteísta nega a distinção entre verdade última e erro. Todas as religiões, argumenta-se, são expressões da

32 Precisamos compreender não só as mudanças, mas também os valores que estão impulsionando as mudanças. Os
arquitetos e defensores da globalização econômica pretendem não só mudar o curso do comércio e da economia
internacionais, mas redefinir o que é essencial e o que é de valor, e isto definido apenas em termos de eficiência e crescimento
econômico. Parece que estamos viajando rumo a um futuro em que praticamente tudo na excelente criação de Deus, incluindo
os seres humanos, será reduzido a uma mercadoria com uma etiqueta de preço.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
26
mesma experiência espiritual da unidade cósmica. E quanto a esta visão se demanda de nós a
tolerância. Não porque o correto seja indistinguível do errado, mas porque todas as opções são corretas. Todas
as religiões levam a ‗Deus‘. Para a Nova Era, o que importa não é o que se crê, mas a edificação pessoal que
se experimenta no seguimento. Por isso, creia em qualquer coisa e em tudo! Se a partir disso você se sente
bem consigo mesmo, desenvolve sua percepção espiritual e aprofunda a sua auto-realização, então isto é
verdade para você.‖
— Sincretismo. Quando falamos de Jesus para as pessoas podemos ouvir que Deus é um só. Com certeza, mas o
que isso quer dizer? Que todas as igrejas pregam o mesmo Deus. Que não há um único jeito de agradá-lo.
Que, se alguém buscar a Deus, não importa como, vai achá-lo. Mas de onde vem esse pensamento? Ele tem
profunda ligação com um outro bastante comum atualmente que diz: Não há uma única verdade. A idéia é
que todos possuem um pouco da verdade. Em um resumo, tudo tem valor. Então, se conseguirmos juntar
algumas partes da verdade, chegaremos a uma verdade ainda maior. É isso que se chama de ―sincretismo‖. O
sincretismo fala-nos de vários sistemas que contêm fragmentos da verdade, e como, se juntarmos esses frag-
mentos, podemos obter um quadro melhor da própria verdade.
O sincretismo é prejudicial ao Cristianismo. Quando aceitamos as ―verdades‖ de todos, acabamos deixando
de lado a única verdade: a palavra de Deus.

MAIS IMPLICAÇÕES PARA O EVANGELISMO


Os acontecimentos políticos, religiosos, sócio-econômicos das últimas décadas mostram a urgência da
vocação evangelística. Há necessidade de criatividade na abordagem do Evangelho; 33 de equilíbrio entre o ensino e
os milagres extraordinários que Deus realiza; de uma integração sólida dos novos convertidos na vida da igreja; e
de um treinamento para que todos participem da proclamação do Evangelho.34
―Afirmar a universalidade de Cristo hoje é nadar contra a correnteza. É impopular e arriscado. O espírito da
época caminha em outra direção e se caracteriza pelo universalismo, relativismo e experimentalismo. O
universalismo trabalha com o pressuposto de que a salvação é universal, abrange a todos e é preciso deixar espaço
para que cada um opte, no que se refere ao mercado das opções religiosas, segundo as necessidades e convicções de
cada pessoa. O relativismo vem a se constituir num vagão neste mesmo trem, afirmando que não há por que se
absolutizar uma única postura religiosa com exceção da postura da relativização. As diferentes opções religiosas
seriam válidas e dignas de opção e respeito, desde que não se absolutizem. Cada proposta religiosa é única na
medida em que é única para aquele que opta por ela. Em última análise, tudo se reduz ao universo da experiência.
Todos os caminhos são possíveis, todas as opções são válidas, desde que a experiência com a ―minha‖ opção
religiosa seja satisfatória, não se exclusivize e respeite a opção do outro... e isto se pode dar no nível pessoal e/ou
coletivo. O universalismo, o relativismo e o experimentalismo são uma espécie de irmãos na caminhada, andam de
mãos dadas e convergem para uma postura onde a preocupação não é com a verdade e nem com a ética, mas com a
experiência e o sentimento... O importante é sentir-se bem. Entretanto, esse ―ecumenismo de experiência‖ gera o
vazio e muita confusão nas pessoas. A fé cristã não se presta a ser uma entre outras na prateleira das opções
religiosas. Pelo contrário, ela carrega dentro de si a marca da suficiência da universalidade de Jesus Cristo.‖ 35
William Taylor, no Congresso Brasileiro de Evangelização (Caxambu, 1993), fez uma pertinente avaliação: 36
Um estudo cuidadoso da carta aos Efésios revela como Paulo, gradualmente, desvenda um dos seus
principais temas — a realidade do mundo invisível e a luta espiritual na qual a Igreja está engajada. Paulo
desenvolve sua perspectiva em Efésios 1:3; 1:10; 2:1-2; 2:6-7; 3:10-12; 4:7-8; 6:10-20. De uma simples menção
de nosso relacionamento em Cristo nas regiões celestiais, ele segue revelando várias dimensões das realidades
celestiais — as visíveis e invisíveis, malignas e boas, acerca de Deus e de Satanás, estruturais e pessoais,
cósmicas e terrenas. Ele conclui com a majestosa passagem do capítulo 6 onde a inteira armadura da guerra
espiritual é explicada.
Fazemos bem em lembrar, em nosso ministério contemporâneo, da perspectiva apostólica, e de evitar uma

33 No Cap. VI desta apostila, você encontra vasta matéria sobre métodos evangelísticos: princípios para partilhar a fé.
34 Em média, o jovem vê pelo menos vinte horas de televisão por semana, além de passar um tempo enorme ouvindo CDs, jogando

videogames e navegando na Internet. É difícil acreditar que uma hora de escola bíblica dominical por semana terá muita influência diante
desse massacre do processo de globalização. Precisamos conceber estratégias muito mais sérias, envolvendo famílias e comunida des,
para sustentar a vida cristã.
35 Valdir R. Steuernagel, ―A universalidade de Cristo‖. Do livro E o verbo habitou entre nós, CLADE III. Encontrão Editora, p. 17.

36 William Taylor, ―Missões num mundo em crise‖. Aos Que Ainda Não Ouviram: Desafios missionários rumo ao século XXI. Editora
Sepal, 1998, p. 117-118.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
27
dicotomia entre o material e o espiritual. Tudo o que vemos e fazemos está entrelaçado com a realidade
última. A crise que testemunhamos e pela qual passamos neste planeta, reflete a crise nas regiões invisíveis.
Com esta afirmação básica, deixamos claro os diferentes níveis das crises: 1. A crise que ocorre na batalha
espiritual e invisível, que de forma obscura percebemos e entendemos; 2. A que ocorre na crise sócio-econômico-
cultural (benigna ou maligna) de estruturas humanas que interagem com o mundo invisível; 3. A que acontece nas
crises humanas de uma humanidade deslocada e alienada do único verdadeiro Deus e debaixo do domínio de
Satanás; 4. As crises experimentadas na vida da Igreja onde o inimigo ataca com eficiência diabólica; 5. A crise
que ocorre na vida pessoal e familiar onde o pecado tem tido o seu domínio e onde até o mal de gerações
passadas dilacera crentes que querem amar e servir a nosso Deus.
Como isto tudo impacta Missões? De muitas maneiras! Não podemos ser infantis e pensar que o nosso
emocionalismo e consagração momentânea para Missões mundiais seja suficiente. Há um alto preço a ser pago
no serviço ao nosso Deus e, talvez, um preço ainda mais alto quando consideramos um serviço transcultural
efetivo. Missões hoje são feitas num contexto de incerteza política, fracassos econômicos, desintegração sócio-
cultural e manifestações demoníacas.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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3 – FUNDAMENTO BÍBLICO-TEOLÓGICO DA
EVANGELIZAÇÃO

O que significa evangelizar? Quais os fundamentos da evangelização? Que


pressupostos carregamos conosco quando evangelizamos? Quais são as metas
da evangelização? Estas são algumas das questões analisadas neste capítulo,
procurando encontrar na Palavra de Deus as respostas, para que possamos nos conduzir segundo o
Seu propósito.

A palavra ―Teologia‖ tem, neste caso, o sentido de procura bíblica pelos fundamentos da evangelização, não
uma teorização ou especulação que venha satisfazer o nosso intelecto. A profundidade teológica está aliada ao
conhecimento experimental de Deus em Cristo (Jr 9:24; Os 6:3; Mt 11:27; Jo 14:6,9; II Pd 3:18) e, como disse J. I.
Packer, ―Conhecer a Deus é um relacionamento capaz de fazer vibrar o coração do homem‖. Por isso, todo o
esforço teológico visa um conhecimento maior de Deus, conforme revelado em Sua Palavra; e este conhecimento
está essencialmente ligado à santificação e à piedade.
A reflexão teológica deve ser sempre um prefácio à ação, sob a influência modeladora do Espírito que nos
instrui pelo evangelho. ―Uma igreja que só reflete e não atua é semelhante ao exército que passa o tempo fazendo
manobras dentro do quartel.‖37

A MISSÃO DA TRINDADE38 NA EVANGELIZAÇÃO


DEUS PAI — Concebeu o evangelismo na eternidade, inspirou os profetas para anunciar a vinda do
Salvador, ordenou sacrifícios sangrentos da antiga dispensação para tipificar o sacrifício de salvação de Seu Filho
na cruz.
Deus decidiu acolher-nos como filhos por causa de Seu grande apreço por Jesus Cristo. Conseqüentemente,
dispôs-se a adotar filhos que querem ser semelhantes a Jesus e refletir Sua imagem. Antes da criação do universo,
Deus estava planejando a redenção e a restauração da semelhança divina que o homem viria a perder com o pecado
(Ef 1:4; Rm 5:12).
O evangelho revela o poder de Deus para produzir a redenção humana, com tudo quanto está implicado na
mesma (Rm 1:16; Hb 4:2).
DEUS FILHO — Proclamou o evangelho nos dias de Sua carne, e, tendo morrido e ressuscitado, deu lugar a
uma nova dispensação. Encarregou os apóstolos e a Igreja de todas as épocas a proclamarem a mensagem salvífica.
O evangelho é a mensagem da transformação dos remidos segundo a imagem de Cristo (Rm 8:29), através
de muitos estágios de glória (II Co 3:18). Isso leva os redimidos a participarem da natureza divina (I Co 2:10).
―O Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido‖ (Lc 19:l0b). Todo o seu ministério foi
dedicado à conquista das almas (Jo 4:34), pois Ele as via como ovelhas que não têm pastor, desgarradas e errantes
(Mt 9:36), como doentes necessitados de médico (Mt 9:12). Por esta razão, Ele as ensinava e curava (Mt 9:35),
expulsava demônios (Lc 4:35:36), ressuscitava mortos (Jo 11:42-44). O seu amor pelas almas era tão grande (Mc
10:21; Lc 19:41) que, para comprá-las para Deus (Ap 5:9), Ele viveu uma vida de obediência até a morte (Fp 2:8),
dando voluntariamente a sua própria vida como preço de resgate delas (Ef 1:7), fazendo-se pecado por elas (II Co
5:21), para libertá-las do pecado (Jo 8:32-36), das potestades das trevas (Cl 1:13), da ira de Deus (Jo 3:36; Rm 5:9),
do medo da morte (Hb 2:14) e do medo da condenação (Jo 5:24; Rm 8:1); para torná-las filhos de Deus (Jo 1:12) e
idôneas para ―...participar da herança dos santos no reino da luz‖ (Cl 1:12).

37 Orlando E. Costas, Qué significa evangelizar hoy?, p. 45.

38Trindade: Referência à doutrina de que Deus é um e que existe eternamente em três pessoas. Deus é ao mesmo tempo
uno e trino (Mt 3:13-17; 28:19; II Co 13:14).
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
29

No Novo Testamento, evangelizar significa comunicar a toda a humanidade que o Pai celeste, no seu Filho
Jesus Cristo, providenciou-nos grande e eterna salvação.
O Evangelho é uma Pessoa — a bendita Pessoa do Filho de Deus, que é a resposta ao problema básico do ser
humano: o pecado. A Bíblia destaca a Pessoa de Jesus como o nosso:
1. Substituto. Na condição de nosso Substituto, Jesus cumpriu o simbolismo de todos os sacrifícios oferecidos a
Deus, tanto antes da lei de Moisés como durante a vigência desta. A finalidade desses sacrifícios era mostrar a
hediondez do pecado, que exigia a morte do pecador.
Em Israel, cada vez que o israelita levava uma oferta expiatória, tinha de colocar a mão sobre o animal e
confessar a sua culpa. Com esse gesto ele se reconhecia merecedor da morte por causa do seu pecado, mas
rogava a Deus que aceitasse, no lugar do ofertante pecador, uma vítima inocente, que no caso era um animal.
O Senhor Jesus, na condição de nosso Substituto, tomou o nosso lugar na cruz e levou sobre si nossos pecados e
dores, reconciliando-nos com o Pai mediante o seu sangue remidor. Seu precioso sacrifício, único e eterno,
pôs fim a todos os sacrifícios pelo pecado que se faziam sob o regime da lei de Moisés.
2. Mediador. Cristo Jesus, como o único “mediador entre Deus e os homens” (I Tm 2:5), reata o relacionamento
partido entre o ser humano e o Criador. Por causa do pecado tornamo-nos em primeiro lugar inimigos de
Deus, e depois, inimigos uns dos outros. Entretanto, ao sermos reconciliados com o Pai, também nos
reconciliamos uns com os outros.
Ao satisfazer na sua plenitude a justiça divina, que exigia a morte do pecador, o Senhor Jesus inaugurou no seu
próprio sangue inocente a nova aliança, segundo a qual Deus Pai nos perdoa e nos aceita como filhos por
adoção em Cristo.
3. Libertador. Na qualidade de nosso Libertador, Jesus nos livra do poder opressor do pecado e de Satanás.
Nesse sentido estritamente bíblico, a libertação é uma obra divina realizada no mais profundo do nosso ser.

A Bíblia, ao referir-se ao nosso ser interior, à nossa personalidade e ao centro dos nossos pensamentos, das
nossas emoções e vontade, fala com freqüência do coração. Devemos orar como o salmista: ―Cria em mim, ó
Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito reto‖ (SI 51.10). A morte de Jesus possibilitou a
resposta a essa oração.
4. Senhor e Mestre. Como o nosso Senhor e Mestre, Cristo é o caminho para a realização plena da criatura
humana. Recebendo-o não apenas como Salvador, mas também como Senhor supremo, o cristão obedece-lhe
em tudo, aceitando para o seu viver cotidiano a direção que ele lhe dá tanto na sua Palavra escrita, a Bíblia,
como mediante o Espírito Santo, o Consolador, que nos guia em toda a verdade e faz de nosso corpo o seu
templo.

DEUS ESPÍRITO SANTO — O Espírito foi derramado sobre a Igreja (At 1:8) e esta se tornou testificante. O
papel do Espírito Santo na evangelização é indispensável. Ele convence o homem do pecado. A essa persuasão
acrescenta-se a ação da consciência, de modo que o pecador fique de todo consciente de sua culpa (Jo 16:8). Tal
reconhecimento leva o homem ao arrependimento. O Espírito Santo comunica a verdade sobre Jesus Cristo à alma
(Jo 14:26). Ele exalta a Jesus de forma eloqüente, testemunhando de Sua Pessoa singular e de Sua obra como
Salvador e Senhor (At 2:22-36).
O Espírito Santo chama os evangelistas para sua obra, capacita-os e guia-os em sua realização (At 13:2). O
evangelismo não frutifica pela eficácia de sua pregação, mas pela ação do Espírito Santo nas vidas. O Espírito
Santo dá o sucesso em implantar o evangelho de modo eficaz (Rm 15:19; I Ts 1:5; Gl 3:3).

O Deus Trino é o autor do evangelismo:


Deus Pai = providenciou; Deus Filho = cumpriu;
Deus Espírito Santo = convence o homem do cumprimento
providencial para seu relacionamento com Deus.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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1) PRESSUPOSTOS DA EVANGELIZAÇÃO
Quando evangelizamos, levamos conosco, mesmo que ainda não tenhamos parado para analisar, alguns
pressupostos fundamentais, que norteiam o conteúdo de nossa proclamação e, mais do que isso, direcionam o nosso
ato proclamante, bem como as nossas expectativas no que se refere aos frutos da evangelização. Alguns desses
pressupostos são:39

A) A INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS


 A inspiração é a influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os homens separados por Ele
mesmo, a fim de registrarem de forma inerrante e suficiente toda a vontade revelada de Deus,
constituindo este registro na única fonte e norma de todo o conhecimento cristão (II Tm 3:16; II Pd
1:20-21).
Devido ao fato de muitos cristãos terem negado de modo confessional, e/ou vivencial, a inspiração e a
inerrância das Escrituras, tem havido tantas heresias em toda a história do cristianismo. Este desvio teológico,
acerca destas doutrinas, tem contribuído de forma acentuada, para que os homens não mais discirnam a Palavra de
Deus e, por isso, não podem gozar da Sua operação eficaz levada a efeito pelo Espírito (Cf. I Ts 2:13; Jo 17:17).
No ato evangelizador da Igreja, ela prega a Palavra de Deus, conforme a ordem divina expressa nas
Escrituras; fala da salvação eterna oferecida por Cristo, conforme as Escrituras; proclama as perfeições de Deus,
conforme as Escrituras... Ora, se a Igreja não tem certeza da fidedignidade do que ensina, como então poderá
testemunhar de forma honesta?
Uma Igreja que não aceite a inspiração e a inerrância bíblica, não poderá ser uma igreja missionária. Como
poderemos pregar a Palavra se não estivermos confiantes do sentido exato do que está sendo dito? Como
evangelizar se nós mesmos não temos certeza, se o que falamos procede da Palavra de Deus ou, está embasado
numa falácia?
Billy Graham afirmou corretamente: ―Se há uma coisa que a história da Igreja nos deveria ensinar, é a
importância de um evangelismo teológico derivado das Escrituras‖. 40
Neste sentido, encontramos a convicção de Paulo, o grande missionário, de que a Palavra de Deus é fiel; por
isso, ele a ensinava com autoridade (I Tm 1:15; 4:9; II Tm 4:6-8).
A grandiosidade da pregação consiste basicamente, não nos recursos de retórica (os quais certamente devem
ser buscados), porém em sua pureza, em sua fidelidade à Palavra. Como bem disse Charles H. Spurgeon (1834-
1892), ―Se o que pregarem não for a verdade, Deus não estará aí.‖
Quem não crer na inspiração e inerrância da Bíblia, certamente, poderá ter consciência da biblicidade da sua
pregação (basta que pregue o que está escrito), contudo, como poderá ter certeza da veracidade daquilo que prega,
visto que nesse caso, ser bíblico não é a mesma coisa que ser inerrante e por isso verdadeiro? Se destruir os
fundamentos, cai todo o edifício...
Satanás, objetivando esmorecer o ímpeto evangelístico da Igreja, tem usado deste artifício: minar a doutrina
da inspiração e inerrância das Escrituras, a fim de que a Igreja perca a compreensão de sua própria natureza e,
assim, substitua a pregação evangélica por discursos éticos, políticos e filosóficos. As Escrituras sempre foram um
dos alvos prediletos de satanás (Gn 3:1-5; Mt 4:3,6,8,9; II Co 4:3-4). Entretanto, a Igreja é chamada a proclamar
com firmeza o evangelho, conforme registrado na Bíblia e preservado pelo Espírito através dos séculos (II Tm 4:2).
A Igreja prega o evangelho, consciente de que ele é o poder de Deus para a salvação do pecador (Rm 1:16);
por isso, recusar o evangelho significa rejeitar o próprio Deus que nos fala (I Ts 4:8). Calvino, comentando
Romanos 1:16, diz que aqueles que recusam ―a pregação, rejeitam deliberadamente o poder de Deus, e distanciam
de si mesmos sua mão poderosa estendida para libertá-los‖.41 A Igreja proclama a Palavra, não as suas opiniões a
respeito da Palavra, consciente que Deus age através das Escrituras, produzindo frutos de vida eterna (Rm 10:8-17;

39 Adaptados do resumo de Hermisten M. P. Costa, Breve Teologia da Evangelização. PES, 1996, p. 19-37.
40 Billy Graham, ―Por que Lausanne?‖, em A missão da Igreja no mundo de hoje.ABU Editora, 1989 (3ª ed.), p. 20.

41 J. Calvino, Epístola aos Romanos, p. 39.


Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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I Co 1:21; I Co 15:11; Cl 1:3-6; I Ts 2:13-14). A Igreja por si só não produz vida, todavia ela recebeu a vida
em Cristo (Jo 10:10), através da Sua Palavra vivificadora; desse modo, ela ensina a Palavra, para que pelo Espírito
de Cristo, que atua mediante as Escrituras, os homens creiam e recebam vida abundante e eterna.

B) A UNIVERSALIDADE DO PECADO
Ao evangelizarmos, não saímos com uma ―lanterna acesa‖, procurando entre os homens aqueles que sejam
pecadores. Também não abordamos as pessoas perguntando: ―Você é pecador?‖ e no caso de uma resposta
negativa, pedimo-lhe desculpas e vamos embora, buscando outros homens com ―aparência‖ de pecador... Quando
nos dirigimos aos homens apresentando a salvação por Cristo, estamos na realidade pleiteando que eles se
arrependam e creiam no evangelho. Ao assim procedermos, estamos, de fato, pressupondo corretamente que todos
os homens pecaram e necessitam da glória de Deus (Rm 3:23).
Todo o labor evangelístico se ampara neste pressuposto fundamental: todos os homens pecaram,
distanciando-se de Deus, o Seu Criador. O homem desde a Queda, encontra-se sob o domínio do pecado e, por isso
mesmo, é incapaz de responder positivamente ao chamado externo do evangelho. O pecado corrompeu o intelecto,
a vontade e a faculdade moral de toda a raça humana; por isso, o homem está morto espiritualmente, sendo escravo
do pecado (Gn 6:5; 8:21; Is. 59:2; Jo 8:34,43-44; Rm 3:23; Ef. 2:15; Cl 1:13; 2:13) e nada pode fazer para retornar
à comunhão perdida (Is 64:6; Jo 8:34; Rm 3:9-12, 23; 6:6). A depravação total é justamente isto: a contaminação de
todas as nossas faculdades pelo pecado. Ainda que o homem não seja absolutamente mau — não é tão mau quando
poderia — é extensivamente mau — todo o seu ser está contaminado pelo pecado.

A DURA REALIDADE DO PECADO:


O homem, no Éden (Gn 2:16-17), ao optar pela desobediência, sujeitou-se ao pecado e à morte, e desde
então luta com suor e lágrimas para granjear o pão cotidiano. O pecado tornou a terra maldita, e esta passou a
produzir espinhos e cardos. Desde então, todo homem é pecador por natureza, como membro da raça pecadora que
descende do pecador original, Adão.
As Escrituras Sagradas declaram que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, ou seja,
espiritualmente justo, veraz, piedoso, misericordioso e santo. Porém, com o pecado, a imagem e semelhança divina
no homem foi afetada, tendo este se vendido ao enganador. Assim, quanto ao espírito, o homem, mediante a queda,
se tornou injusto, mentiroso, cruel, ímpio e inimigo de Deus. O seu corpo, antes não sujeito ao sofrimento, tornou-
se sensível à dor e sujeito a todo tipo de enfermidade. O pecador é escravo do mundo através da moda e da opinião
pública, é escravo da carne mediante sua natureza caída, e é escravo do diabo por sujeitar-se às influências deste.

Mesmo depois de libertos por Cristo e feitos filhos de Deus, não nos livramos inteiramente do insidioso
poder da queda. Por essa razão o apóstolo Paulo afirma a respeito de si próprio e de todos os crentes: ―De maneira
que eu, de mim mesmo, com a mente sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado‖ (Rm
7:25).
Cada pecado, além de demonstrar o nosso fracasso em amar a Deus de todo o nosso ser, é uma quebra do que
Jesus chamou de o primeiro e grande mandamento. É a recusa ativa de reconhecer a Deus e obedecer-lhe como
nosso Criador e Senhor. Rejeitamos a posição de dependência que implica o fato de termos sido por Ele criados.
Mas fazemos ainda pior; insistimos em proclamar nossa auto-independência, nossa autonomia como que
reivindicando a posição que somente Deus pode ocupar. 42

Analisando o texto de Romanos 8:7: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é
sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser”, John Stott afirma: ―O pecado não é um lapso lamentável de
padrões convencionais; a sua essência é a hostilidade para com Deus, manifesta em rebeldia ativa contra Ele (...) é
uma qualidade implicitamente agressiva, uma crueldade, um ferimento, um afastamento de Deus e do restante da
humanidade, uma alienação parcial, ou um ato de rebelião‖.
Na Bíblia, portanto, pecado é algo interno, que além de ter sua origem na desobediência à vontade divina, é
basicamente contra Deus e não contra o homem. Quando a Escritura afirma que ―todos pecaram‖ e que ―o salário
do pecado é a morte‖ (Rm 3:23; 6:23), quer dizer exatamente isto: que esse terrível mal é como chaga que

42 Ver John Stott, A cruz de Cristo. Editora Vida, 2002 (8ª imp.), p. 80.
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contamina o ser humano dos pés à cabeça e o coloca sob a maldição eterna de Deus. O aspecto social do
pecado não é outra coisa senão a exteriorização do caráter depravado do coração ainda insubmisso a Cristo.
Emil Brunner resume esse pensamento muito bem, ao dizer: ―Pecado é desafio, arrogância, desejo de ser
igual a Deus... Asserção da independência humana contra Deus... Constituição da razão autônoma, moralidade e
cultura.‖

A NOSSA CONDIÇÃO PECAMINOSA:


O ser humano, com sua natureza corrompida pelo pecado de Adão, vivendo na condição de escravo do
diabo, do pecado e da morte, está condenado ao inferno. “Pela desobediência de um só homem...” (Rm 5:19) “...
todos pecaram” (Rm 3:23) “... todo aquele que comete pecado é servo do pecado” (Jo 8:34). Sua razão
corrompeu-se completamente, e ele passa a chamar mal ao bem, e bem ao mal, e considera as coisas falsas como
verdadeiras, e as verdadeiras como falsas. “Não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl 14:3). “Todo homem
é mentira” (Sl 116:11).
Embora o pelagianismo e o iluminismo afirmem que ―somos bons por natureza mas pervertíveis pelo
ambiente‖, e o semipelagianismo reconheça que ―há em nós uma inclinação má que, embora não seja pecado, tor-
na-se pecado quando consentimos com ela, e que por isso podemos cooperar na nossa salvação pelas nossas
próprias forças‖, a Bíblia Sagrada não permite nenhuma atenuação da profundidade do pecado, que leva o ser
humano à perdição eterna.

A Bíblia ensina que o pecado enraizou-se na alma humana e manchou-a terrivelmente, como lepra espiritual
que se ramifica, amarrando e sufocando a alma. Como um déspota tirano, o pecado exige obediência cega dos seus
escravos, porque atrás dele está o próprio Satanás. As obras do pecado são as mais horrendas que se podem
imaginar: insegurança, doenças, inimizades, rixas, contendas, falta de paz e toda uma grande e negra lista.
O apóstolo João declara que o amor do mundo e o amor do Pai são incompatíveis. ―Não ameis o mundo nem
as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo o que há no
mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas
procede do mundo‖ (I Jo 2:15-16).

Nesse contexto, mundo significa a raça humana sem Deus, incrédula e rebelde, sob a orientação do diabo,
que persegue a Igreja ou procura subvertê-la mediante influências sutis. A ―concupiscência da carne‖ significa os
apetites malignos e desordenados da nossa baixa natureza animal, não redimida. A ―concupiscência dos olhos‖ quer
dizer o meio pelo qual as coisas externas do mundo nos inflamam — o seu materialismo avarento e passageiro, o
desejo exagerado de fama e beleza, de ajuntar tesouros na terra, que quase sempre acaba levando a pessoa a afastar-
se de Deus, a explorar o seu semelhante e a viver uma vida infeliz. A ―soberba da vida‖ é a presunção arrogante, o
pecado que causou a queda de Lúcifer. A ―soberba da vida‖ forma o vínculo entre o mundo (que corresponde à
concupiscência dos olhos) e o diabo (concupiscência da carne).
À luz da Palavra de Deus, o pecador não regenerado e, portanto, desobediente à vontade divina, não pode
desfrutar a pureza e a santidade, mas experimentar contínua degeneração física, moral e espiritual. Em vez de paz,
conhece o desespero; em vez de felicidade, conhece a desgraça.

C) A SOBERANIA DE DEUS
A certeza de que Deus é o Senhor da salvação e, que a Ele pertence o poder para nos salvar conforme Seu
decreto eterno, deve nortear e direcionar todo o nosso pensar e agir evangélico. A salvação é uma prerrogativa
única e exclusiva de Deus: Ele tem poder e total liberdade para salvar a quem Ele quiser; a Palavra diz que a
salvação pertence a Deus (Hb 2:10; 5:9; Tg 4:12; Ap 7:10; 19:1). De fato, Deus é quem salva, conforme o Seu
propósito gracioso revelado nas Escrituras.43

43 J. I. Packer (Evangelização, p. 74-75) nos diz isso, de forma contundente:


―Por mais que apresentemos o evangelho de forma clara e convincente, não temos qualquer esperança de
convencer ou converter quem quer que seja. Poderíamos o prezado leitor e eu, mediante nossas palavras mais
intensas, quebrar o poder que satanás exerce sobre a vida de um homem? Não. Poderíamos proporcionar vida
aos espiritualmente mortos? Não. Poderíamos nutrir a esperança de convencer os pecadores sobre a verdade do
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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Quando evangelizamos, estamos certos do poder soberano de Deus que age nos eleitos, criando fé,
através da Sua Palavra. Contudo, como crerão e invocarão o nome do Senhor, se não conhecerem o evangelho?
(Rm 10:9-15). A soberania de Deus é uma determinante da evangelização.

A razão principal da ordem evangelizadora é teocêntrica: a ordem bíblica eleva Deus à Sua justa posição de
Senhor da seara (Lc 10:2).44 O Senhor envia os trabalhadores porque é Ele quem dá o crescimento (I Co 3:6). Ele
procura os frutos e tem autoridade para cortar a árvore (Lc 13:7).
Dr. Russell Shedd adverte: ―Assim como não se pode obter e tampouco transmitir benefício espiritual algum
sem a iniciativa divina, não se pode também alcançar nenhum objetivo espiritual por conta própria. Afirmaremos
por toda a eternidade: ―Deus o fez!‖ O melhor que temos a fazer é reconhecer a realidade que nos cerca aqui e ago-
ra. Assim, oraremos e esperaremos que Deus opere o milagre do novo nascimento. Por outro lado, Deus optou por
trabalhar em seus servos-evangelistas e por meio deles. Aqui, o conhecimento e a obediência são de suprema im-
portância. É preciso conhecer a Ele e aos seus propósitos e estar desejoso de obedecer às suas ordens, ―porque de
Deus somos cooperadores.‖ (I Co 3:9)

J. I. Packer, ressaltando a importância da convicção da soberania de Deus no ministério evangélico, diz: ―A


fé fervorosa na soberania absoluta de Deus (...) não somente fortalece a evangelização, como sustenta o
evangelista, criando uma esperança de êxito que, de outro modo, não poderia ser realidade; e igualmente nos ensina
a ligar a pregação à oração, tornando-nos ousados e confiantes perante os homens, ao mesmo tempo em que nos
torna humildes e persistentes perante Deus‖ 45 (Jo 15:5; 16:33; I Co 15:57-58; Fl 4:13).
―A Bíblia não gera otimismo quanto ao número dos que ouvem e aceitam as boas novas da salvação. Ela diz
que ―muitos são chamados, mas poucos escolhidos‖ (Mt 20:16). Afirma também que são muitos os que entram pela
porta larga e poucos os que entram pela porta estreita, cujo caminho ―conduz para a vida‖ (Mt 7:13-14). Declara
ainda que ―naquele dia‖, muitos hão de dizer a Jesus que fizeram isso e aquilo, mas receberão um veemente ―nunca
os conheci‖ da parte dele (Mt 7:22-23). A idéia realista que se tem depois da leitura de todas as Escrituras é que
apenas o resto do resto é que será salvo.‖46
Quem converte o pecador que ouve a mensagem da salvação é Deus e não a argumentação do evangelizador.
De igual modo, quem anuncia a boa nova da salvação não é Deus nem os anjos — é o homem e a mulher que já o
conhecem.
Desse modo, a evangelização deve ser definida dentro de uma perspectiva da sua mensagem, não do seu

evangelho mediante as mais pacientes explicações? Não. Poderíamos esperar levar os homens a obedecerem ao
evangelho através de quaisquer palavras de exortação que porventura disséssemos? Não. Nossa maneira de
evangelizar não será realista enquanto não tivermos enfrentado esse fato esmagador, permitindo que ele exerça o
devido impacto sobre nós... Considerada como um empreendimento humano, a evangelização é uma tarefa inútil.
Em princípio não pode produzir o efeito desejado. Podemos pregar, e pregar de modo claro, fluente e atrativo;
podemos falar a indivíduos da maneira mais apropriada e desafiadora; podemos organizar cultos especiais,
distribuir folhetos, exibir cartazes e encher a terra de publicidade — contudo não há a mais remota esperança de
que toda essa queima de esforços será capaz de conduzir qualquer alma a Deus. A não ser que algum outro fator
interfira nessa situação, nossos próprios desempenhos e todas as atividades evangelísticas estarão condenados
de antemão ao fracasso. Essa é a verdade, nua e crua, que temos de enfrentar.‖

44EVANGELIZAÇÃO TEOCÊNTRICA: brota do coração de Deus; é sustentada pelo amor de Deus; é ordenada
pela graça de Deus. A Bíblia coloca Deus no centro. Sua glória é o alvo principal da evangelização. O fim supremo
das obras divinas é a glória de Deus. O homem por ser portador da imagem de Deus, sente necessidade do eter-
no em seu coração (Ec 3:11). ―Uma vez que o homem é circundado e invadido pelo sentimento do divino, pode-
mos explicar o anseio dos corações desassossegados por significado e identidade.‖ A evangelização é o plano de
Deus por meio do qual a perfeita semelhança de Deus em Jesus Cristo poderá ser implantada no homem caído.
―Como portador da imagem divina, o homem é capaz de compreender inteligentemente a palavra de Deus e de
atender a ela de modo racional. Ele é capaz de obedecer a Deus e de servi-lo. Pode louvá-lo e honrá-lo. À medida
que o faz, o propósito para que foi criado é alcançado. Por meio da evangelização, Deus busca restaurar
pecadores direcionando-os para o objetivo original que Ele lhes reservara no momento de sua criação.‖ — Russel
P. Shedd. Fundamentos Bíblicos da Evangelização. Ed. Vida Nova, 1996, p. 13.

45 J. I. Packer, Evangelização e soberania divina, p. 84-85.


46 Elben M. Lenz César. História da Evangelização do Brasil. Editora Ultimato, 2000, p. 164.
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resultado. Nem toda proclamação que ―surte efeito‖ é evangelização e, nem toda a pregação que ―não
alcança os resultados esperados‖, deixou de ser evangelização. Esta visão pragmática não pode ser aplicada à
evangelização, sem que percamos de vista o seu significado fundamental.

D) A RESPONSABILIDADE HUMANA
O homem foi criado como um ser pessoal que tem consciência e determinação própria. Diferentemente de
todos os outros animais, faz a distinção entre o eu, o mundo e Deus; daí a capacidade de se relacionar com Deus
(Gn 3:8-14; Jr 29:13; Mt 11:28-30) e com o seu semelhante, podendo entender (racionalmente) a vontade de Deus,
fazer-se entender e avaliar todas as coisas (Gn 1:28-30;2:18-19).
Apesar do pecado ter comprometido, de forma gravíssima todas as suas faculdades originais, o homem não
deixou de ser a imagem e semelhança de Deus — visto que isso implicaria em deixar de ser homem. Contudo, ele
se tornou uma imagem desfigurada, desfocalizada, mais propriamente uma ―caricatura‖ do Seu Criador. Calvino
(1509-1564), escrevendo sobre isso, disse: ―Quando de seu estado (original) decaiu Adão, não há a mínima dúvida
de que por esta defecção se haja alienado de Deus. Pelo que, embora não tenha sido aniquilada e apagada
totalmente a imagem de Deus, foi ela, todavia, corrompida a tal ponto que, o que quer que resta, é horrenda
deformidade.‖47
A Bíblia apresenta o evangelho como uma mensagem que deve ser anunciada a todos os homens, a fim de
que eles possam entendê-la e crer nela. A fé é um dom de Deus (Ef 2:8) todavia, a proclamação compete a nós; é
uma responsabilidade inalienável e essencial da Igreja. Por certo, não compreendemos exaustivamente a relação
entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana; contudo, a Bíblia ensina estas duas verdades: Deus é
soberano e o homem é responsável diante de Deus por suas decisões (Rm 1:18—2:16).
Em nosso testemunho, procuramos anunciar o evangelho de forma inteligível, dirigindo-nos a seres racionais
a fim de que entendam a mensagem e creiam; por isso, ao mesmo tempo em que sabemos que é Deus Quem
converte o pecador, devemos usar os recursos de que dispomos — que não contrariem a Palavra de Deus — para
atingir a todos os homens. A nossa proclamação deve ser apaixonada, no sentido de que queremos alertar os
homens para a realidade do evangelho, ―persuadindo-os‖ pelo Espírito, a se arrependerem de seus pecados e a se
voltarem para Deus (Lc 5:10; Rm 11:13-14; I Co 9:19-23; II Co 5:11).

E) A SUFICIÊNCIA E EFICÁCIA DA OBRA DE CRISTO


Jesus, nosso Mediador, cumpriu de forma cabal e vicária as demandas da Lei em favor do Seu povo. Se a
obra de Cristo não fosse plenamente satisfeita, não haveria ―bênção‖ alguma a ser aplicada (Jo 17:4; 19:30; Hb
9:23-28; I Pd 3:18). Isso nos conduz à historicidade da Sua ressurreição.
A ressurreição de Cristo dá sentido à genuína pregação da Igreja. A mensagem apostólica enfatizou —
juntamente com a morte expiatória de Cristo — a realidade histórica da Sua ressurreição (At 1:22; 2:24; 3:15;
4:10,33; 5:30; 10:39-41; 17:2-3,17-18; 26:23). Paulo diz que era corrente tal testemunho (I Co 15:12), sendo ele
mesmo um dos pregadores desta verdade (I Co 15:14-15; At 17:18). Se Cristo não ressuscitou toda esta pregação
está fundamentada num erro, numa mentira... Entretanto, Cristo ressuscitou; portanto, toda a proclamação tem
sentido; sem a ressurreição não haveria boa nova, não haveria evangelho nem atos salvadores de Deus para serem
anunciados.
A ressurreição de Cristo dá sentido à pregação fiel da Igreja (I Co 15:14). A pregação da Igreja não se baseia
em fábulas e mitos por ela inventados (II Tm 4:3-4), mas sim, naquilo que Deus disse e realizou, conforme
registrado nas Escrituras.
R. B. Kuiper, observa que a declaração do Cristo ressurreto: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra
(Mt 28:18), prefacia o mandamento evangelístico. ―Isso torna a Grande Comissão uma afirmação da soberania
mediatária de Cristo.‖48 Aqui vemos estampada uma expressão da esfera do domínio de Cristo. Ele manda a Igreja
evangelizar todo o mundo, porque o mundo todo lhe pertence.

47 J. Calvino, As Institutas, I. 15.4


48 R. B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica. PES Editora, 1976, p. 46.
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F) O PROPÓSITO DE DEUS EM SALVAR
Deus não tornou a salvação uma mera possibilidade — uma coisa que poderia ser realizada ou não. Ele a
tornou um fato real conforme o Seu plano eterno, através dos atos salvadores da Trindade. John Owen (1616-1683),
diz: ―Se Cristo apenas tivesse obtido os benefícios e não pudesse dá-los, então Sua morte talvez não salvasse
ninguém... Se uma coisa é obtida para mim, certamente deve ser minha por direito, e tudo o que for meu por
direito, há de ser meu de fato. Portanto, a salvação que Cristo obteve há de pertencer àqueles para os quais Ele a
obteve. Se é dito: ―sim, mas é deles sob condição de crerem‖, eu repito novamente: ―mas a fé também é dada por
Deus‖.49
Jesus Cristo veio para obter a salvação definitiva (Mt 1:21; Jo 3:16; II Co 5:21; Gl 1:4; I Tm 1:15; Hb 2:14-
15). Ele de fato cumpriu o Seu propósito (Jo 10:27-28; Cl 1:21-22; Hb 1:3; 9:12-14; I Pd 2:24; Ap 5:9-10). A Igreja
evangeliza amparada nesta certeza: Deus salvará a todos aqueles que crerem em Jesus Cristo, recebendo-o como
Seu Senhor e Salvador. Deus salvará todo o Seu povo. A salvação é uma prerrogativa exclusiva do Deus Trino. Ele
é soberano nos Seus atos salvadores.

G) A BÍBLIA É NECESSÁRIA PARA CONHECER O EVANGELHO


―Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não
creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? [...]
Conseqüentemente, a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo.‖ (Rm
10:13-17). Essa declaração aponta para a seguinte linha de raciocínio: 50
1. Primeiramente supõe que o homem precisa invocar o nome do Senhor Jesus para ser salvo.
2. As pessoas só podem invocar o nome de Cristo se crêem nele (ou seja, que Ele é o Salvador digno de ser
invocado e que atenderá aqueles que o invocarem).
3. As pessoas não podem crer em Cristo a menos que tenham ouvido falar dele.
4. Não ouvirão falar de Cristo a menos que alguém lhes fale sobre Cristo (alguém que ―pregue‖).
5. A conclusão é que a fé salvadora vem pelo ouvir (ou seja, ouvir a mensagem do evangelho), e esse ouvir a
mensagem do evangelho vem pela pregação de Cristo. A implicação é que sem ouvir a pregação do
evangelho de Cristo, ninguém pode ser salvo.
Essa passagem, entre várias outras, mostra que a salvação eterna vem somente pela fé em Cristo, e de
nenhuma outra forma (Jo 3:18; 14:6; At 4:12). A salvação por meio de Cristo é exclusiva porque Jesus é o único
que morreu por nossos pecados, e o único que poderia ter feito isso. ―Pois há um só Deus e um só mediador entre
Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos‖ (I Tm 2:5-6).
Não há outro meio de se reconciliar com Deus senão por Cristo, pois não há outra forma de expiar a culpa do nosso
pecado diante de um Deus santo.
A Bíblia é necessária para a salvação; assim, nesse sentido, a pessoa precisa ler ou ouvir a mensagem bíblica
do evangelho. Mesmo os crentes que alcançaram a salvação na antiga aliança o fizeram por crer nas palavras de
Deus que prometiam um Salvador vindouro.51
Esses exemplos recorrentes de pessoas que confiavam nas palavras divinas de promessa, aliados aos
versículos acima que afirmam a necessidade de ouvir falar de Cristo e nele crer, indicam que os pecadores precisam
de mais apoio para a fé do que meramente o palpite intuitivo de que Deus pode proporcionar um meio de salvação.
O único fundamento firme o bastante para sustentar a fé é a própria palavra de Deus (seja falada, seja escrita). Essa,

49 John Owen, Por quem Cristo morreu? PES Editora, 1986, p. 33.
50 Wayne Grudem, Teologia Sistemática. Edições Vida Nova, 2000 (reimp.), p. 77-78.
51 Os salvos no tempo da antiga aliança também foram salvos por meio da fé em Cristo, ainda que fosse por
uma fé de expectativa baseada na promessa divina de que viria um Messias ou Redentor. Falando de crentes do
AT como Abel, Enoque, Noé, Abraão e Sara, diz o autor de Hebreus: ―Todos estes viveram pela fé, e morreram
sem receber o que tinha sido prometido; viram-no de longe e de longe o saudaram‖ (Hb 11:13). Moisés ―por amor
de Cristo, considerou sua desonra uma riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua
recompensa‖ (Hb 11:26). E Jesus disse de Abraão: ―Abraão, pai de vocês, alegrou-se porque veria o meu dia; ele
o viu e regozijou-se‖ (Jo 8:56). Isso novamente parece aludir à alegria de Abraão na expectativa do dia do Messias
prometido. Assim, mesmo os crentes do AT tinham fé salvadora em Cristo, a quem ansiosamente esperavam, não
com conhecimento dos detalhes históricos da vida de Cristo, mas com grande fé na absoluta confiabilidade da
promessa de Deus.
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nos tempos mais remotos, vinha em forma bastante breve, mas desde o princípio temos provas de palavras
de Deus que prometiam uma salvação futura, palavras em que confiaram aquelas pessoas que Deus chamou para si.
―Por meio do universo criado, Deus revela seu poder, glória e fidelidade, mas não o caminho da salvação. Se
quisermos descobrir seu plano gracioso para a salvação dos pecadores, precisamos nos voltar para a Bíblia, pois é
através dela que Ele nos fala de Cristo.‖52
O propósito principal de Deus ao nos dar a Bíblia era instruir-nos ―para a salvação pela fé em Cristo Jesus‖
(II Tm 3:15). Dessa forma, a Bíblia conta a história de Jesus, predizendo-o e anunciando-o no Antigo Testamento,
descrevendo sua carreira terrena nos evangelhos, e desvendando, nas epístolas, a plenitude de sua presença e obra.
Mais que isso: as Escrituras não apenas nos apresentam Jesus como nosso único e suficiente Salvador; elas nos
exortam a recorrer a ele e nele colocar nossa confiança. E nos prometem que, se o fizermos, vamos receber o
perdão de nossos pecados e o dom libertador do Espírito Santo. A Bíblia está cheia de promessas de salvação. Ela
garante nova vida na nova comunidade para aqueles que atendem ao chamado de Jesus Cristo.

H) O MINISTÉRIO EFICAZ DO ESPÍRITO SANTO


O Espírito é chamado de ―Espírito da graça‖ (Hb 10:29), porque é Ele quem aplica a graça de Deus aos
pecadores eleitos. Este ministério tem início quando o Espírito nos leva a aceitar a mensagem de perdão dos nossos
pecados. O Espírito anuncia que chegou o tempo da salvação, o qual é caracterizado pelo perdão para todos aqueles
que se arrependem de seus pecados.
A obra do Espírito é distinta da obra do Pai e do Filho, porém, não é independente. A Trindade opera
conjuntamente, tendo o mesmo propósito eterno — a glória do próprio Deus através da salvação do Seu povo (Is
43:7; Ef 1:6; I Pd 2:9-10). ―Deus — o Jeová Triúno, Pai, Filho e Espírito Santo; três pessoas operando em conjunto,
em sabedoria, poder e amor soberanos, a fim de realizar a salvação de um povo escolhido. O Pai escolhendo, o
Filho cumprindo a vontade do Pai de remir, o Espírito executando o propósito do Pai e do Filho mediante a
renovação do homem.‖53
É precisamente isso que estamos dizendo, quando declaramos que a nossa salvação é por Deus: o Deus
Triúno é o Autor e o executor da nossa salvação; do princípio ao fim, a salvação é a obra de Deus (Fl 1:6).
A obra do Espírito torna efetivo em nós aquilo que Cristo realizou definitivamente por nós. Podemos
afirmar, que sem as operações do Espírito, o ministério sacrificial de Cristo não teria valor objetivo para os
homens, visto que os méritos redentores e salvadores de Cristo não seriam comunicados aos pecadores. Calvino
afirmou corretamente: ―É necessário que Cristo habite em nós para que compartilhe conosco o que recebeu do Pai.
O Espírito Santo é o elo pelo qual Cristo nos vincula efetivamente a Si‖. Sabemos que nosso bem, nossa alegria e
repouso é estar unido ao Filho de Deus.

Cristo cumpriu perfeitamente as exigências da Lei e adquiriu todas as bênçãos que envolvem a salvação. A
obrado Espírito consiste em aplicar os merecimentos de Cristo aos pecadores, capacitando-os a receber a graça da
salvação. Somente através do Espírito ―recebemos todos os bens e dons que nos são dados em Jesus Cristo‖. É Ele
quem derrama sobre nós, as bênçãos da graça, obtidas pela obra eficaz de Cristo. Dessa forma, podemos dizer que
o ministério soteriológico do Espírito se baseia nos feitos de Cristo e que o ministério sacrificial de Cristo reclama
a ação do Espírito (Jo 7:39; 14:26; 16:13-14). ―A obra do Espírito na aplicação da redenção de Cristo é descrita
como tão essencial como a própria redenção.‖54

A Palavra nos ensina que o Espírito Santo é o Espírito de Cristo (Gl 4:6; Fl 1:19); por isso, a presença do
Espírito em nós, é a presença do Filho (Rm 8:9). Quando evangelizamos, o fazemos confiantes de que Deus, pelo
Espírito, aplicará os méritos de Cristo no coração do Seu povo. Portanto, aí está a nossa responsabilidade e o nosso
conforto, conforme bem observou Billy Graham: ―O Espírito Santo é o grande comunicador do evangelho, usando
como instrumento pessoas comuns como nós. Mas é dele a obra. Assim, quando o evangelho é fielmente

52 John R. W. Stott, A Bíblia: o livro para hoje. ABU Editora, 1993, p. 23.
53 J. I. Packer, O “Antigo” Evangelho, p. 9.
54 Charles Hodge, Teologia Sistemática, vol. I, p. 370.
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proclamado, o Espírito Santo é quem o envia como dardo flamejante aos corações dos que foram
preparados.‖55

I) O ANSEIO PELO REGRESSO DE CRISTO


A Igreja evangeliza porque anseia pelo regresso triunfante de Cristo. Dessa forma, a evangelização tem em
seu conteúdo uma conotação escatológica. Pedro nos diz: ―Esperando e apressando a vinda do dia de Deus, por
causa do qual os céus incendiados serão desfeitos e os elementos abrasados se derreterão.‖ (II Pd 3:12).
A palavra traduzida neste texto por ―apressar‖ (speudõ), tem o sentido de diligenciar com zelo, solicitude,
urgência etc. Ela revela uma pressa prazerosa daquilo que terá de ocorrer. A Igreja mesmo sem poder alterar o dia
da vinda de Jesus — e devemos dar graças a Deus por isso — faz parte do cronograma relativo ao regresso glorioso
e triunfante de Cristo. Somos intimados a levar adiante os eventos que devem ocorrer antes do dia de Deus. Neste
sentido, a evangelização faz parte desse cronograma. A expansão missionária, além da obediência à ordem de
Cristo, deve refletir em cada coração o desejo de que Cristo venha. Evangelizar é uma das formas práticas de dizer:
―Venha o teu reino‖ (Mt 28:19; Mt 24:14).
Anthony A. Hoekema, observou que: ―O período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo é a era
missionária por excelência. Este é o tempo da graça, um tempo em que Deus convida e insta com todos os homens
para serem salvos.‖56

J) A DOUTRINA DA ELEIÇÃO
 A eleição é o ato eterno de Deus, por meio do qual Ele decretou — livre, soberana e
misericordiosamente — salvar em Cristo Jesus um determinado número de pessoas — dentre toda
a raça humana voluntariamente caída — aplicando, no decorrer da história a Sua graça redentora,
capacitando-os, pelo Espírito Santo, a responderem com fé à mensagem redentiva de Cristo, sendo
preservados assim até o fim.
Deus chama os Seus eleitos através da pregação da Palavra. R. B. Kuiper observa: ―Deus quer que o
evangelho seja proclamado ao mundo todo e em todo o tempo para que seja congregada a soma total dos eleitos.‖
A Palavra de Deus é sempre um ato criador, através da qual Deus chama, convence, transforma e edifica os Seus.
Cada um de nós que foi alcançado pela graça de Deus, tornou-se um instrumento de testemunho da bendita
salvação, a fim de que outros sejam salvos (Rm 10:14-17; At 18:9-11). A Igreja é chamada para fora do mundo a
fim de invadir o mundo com a pregação do evangelho (Mt 5:14-16; Mc 16:15-16; At 1:8; I Co 9:16). A eleição
eterna de Deus inclui os fins e os meios. Nós somos o meio comum estabelecido por Deus para que o mundo ouça a
mensagem do evangelho. Jesus Cristo confiou à Igreja a tarefa evangelística. A Igreja é ―o agente por excelência
para a evangelização‖. Nenhum homem será salvo fora de Cristo, porém para que isso aconteça ele tem que
conhecer o evangelho da graça. Como crerão se não houver quem pregue? (Rm 10:13-15). ―O evangelismo pelo
qual Deus leva os Seus eleitos à fé é um elo essencial na corrente dos propósitos divinos.‖57
Herman Ridderbos diz acertadamente que: ―A Igreja é o povo que Deus separou para Si em Sua atividade
salvífica, para que mostrasse a imagem de Sua graça e Sua salvação.‖
Quando estamos levando o evangelho a todos os homens, cumprindo prazerosamente parte de nossa missão,
estamos de fato demonstrando o nosso amor pelo nosso próximo, desejando que ele conheça a Cristo e, segundo a
misericórdia de Deus, se arrependa e creia.
Como bem observou R. B. Kuiper: ―A eleição requer a evangelização. Todos os eleitos de Deus têm que ser
salvos. Nenhum deles pode perecer. E o evangelho é o meio pelo qual Deus lhes comunica a fé salvadora. De fato,
é o único meio que Deus emprega para esse fim.‖ (Ef 1:13).
O meio costumeiro de Deus agir é chamando, persuadindo e congregando o Seu povo através do Seu povo.
Noutras palavras, nós somos instrumentos, ―elos vitais‖ no desenvolvimento do propósito salvífico de Deus,
proclamando a Sua palavra de salvação. Deus opera através da Sua Palavra, contudo, ―ninguém obterá

55 Billy Graham, ―Por que Lausanne?‖ em A missão da Igreja no mundo de hoje, p. 30.
56 A. A. Hoekema, A Bíblia e o futuro, p. 187.
57 J. I. Packer, Vocábulos de Deus, p. 146.
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conseqüências proveitosas da Palavra, se Deus não lhe socorrer com a luz de Seu Espírito. Isso mostra a
diferença entre a voz humana e a vocação interior, a qual sempre é eficaz e somente pertence aos eleitos.‖ 58
Uma palavra de advertência quanto à nossa responsabilidade e limite: quem será salvo? Quantos serão
salvos? São perguntas que não nos compete fazer. Contudo, a nossa responsabilidade é de cumprirmos a ordem
expressa de Cristo, de anunciar o evangelho a todas as pessoas, sabendo que a conversão é uma operação do
Espírito Santo que ultrapassa a nossa capacidade. Compete-nos apenas pregar, não especular. Calvino, inspirado
em Agostinho, recomendou-nos prudência:
―Se alguém assim se dirige ao povo: ―Se não crêem é porque Deus já os tem predestinado à
condenação‖; esse não somente alimentaria a negligência como também a malícia. Se alguém também
para com o tempo futuro estender a asserção de que não vão crer os que ouvem, porquanto têm sido
condenados, isso seria mais maldizer do que ensinar... Como nós não sabemos quem são os que
pertencem ou deixam de pertencer ao número e companhia dos predestinados, devemos ter tal afeto,
que desejemos que todos sejam salvos; e assim, procuraremos fazer com que todos aqueles que
encontrarmos sejam mais participantes de nossa paz... Quanto ao que nos concerne, deverá ser a
todos aplicada, à semelhança de um remédio, salutar e severa correção, para que não pereçam eles
próprios, ou a outros não percam. A Deus, porém, pertencerá fazê-la eficaz àqueles a quem
preconheceu e predestinou‖.59

K) GLORIFICAR A DEUS
A Igreja de Deus, no seu ato essencial de proclamar as virtudes de Deus (I Pd 2:9-10), tem como objetivo
final a glória de Deus (Rm 11:36; I Co 10:31). A evangelização visa glorificar a Deus, através do anúncio da
natureza de Deus e de Sua obra eficaz, efetivada em Cristo Jesus. A evangelização tem fundamentalmente como
alvo final glorificar a Deus; e Deus é glorificado através da salvação de Seu povo (Is 43:7; Jo 17:6-26; Ef 1:6; II Ts
1:10-12) e a conseqüente confissão de Sua soberania (Fl 2:5-11). Quando evangelizamos estamos revelando o
nosso amor a Deus e ao nosso próximo, glorificando a Deus, sendo-Lhe obediente na vivência de nossa natureza de
proclamação e serviço. ―Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama‖ (Jo 14:21). Nós
glorificamos a Deus sendo-Lhe obediente (Jo 17:4).

2) AS REIVINDICAÇÕES DO EVANGELHO
O evangelho do reino — anunciado incondicional e imperativamente pela Igreja — é pela sua própria
natureza, reivindicatório; ele traz na sua própria essência o apelo ao homem para que se posicione diante do que foi
ouvido. Por isso é que a força da pregação da Igreja está na Palavra viva de Deus (Rm 1:16; 10:17; Tg 1:18; I Pd
1:23). Paulo escrevendo aos coríntios, declara: “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se
Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (II Co
5:20). A Igreja prega o evangelho, conclamando os homens a aceitarem o reinado de Cristo em seus corações,
mudando assim a sua relação com o Senhor.

A seguir, em forma de esboço, as reivindicações do evangelho:60


A) ARREPENDIMENTO
Marcos relata que após a prisão de João Batista, Jesus foi para a Galiléia ―pregando o evangelho de Deus,
dizendo: o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo: arrependei-vos e crede no evangelho‖ (Mc l:14-
15; 6:12).
O evangelho conclama os homens a se arrependerem de seus pecados, passando — por obra do Espírito —

58 J. Calvino, Epístola aos Romanos, p. 279.


59 J. Calvino, As Institutas, III.23.14.
60 Adaptado de Hermisten M. P. Costa, Breve Teologia da Evangelização, PES, 1996, P. 71-76.
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por uma transformação total, que envolve uma mudança de mente e coração, que se manifesta num novo
caminhar em direção a Deus (II Co 7:9-10; II Tm 2:25).

B) FÉ EM JESUS CRISTO
A mensagem de Jesus era: “(...) arrependei-vos e crede no evangelho”. Antes de ser assunto aos céus,
ordenou aos Seus discípulos: ―Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for
batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado‖ (Mc 16:15-16).
O evangelho reivindica fé. A fé salvadora é um dom da graça de Deus, através do qual somos habilitados a
receber Jesus Cristo como nosso suficiente e único Salvador e a crer em todas as promessas do Deus Triúno,
conforme estão registradas nas Escrituras. ―A fé verdadeira é aquela que ouve a Palavra de Deus e descansa em Sua
promessa.‖61 (Rm 10:8, 14-15, 17; I Co 15:1-2; Cl 1:23; Hb 4:2).
O que qualifica a genuína fé não é simplesmente o ato de crer ou a sua intensidade, mas sim, o seu foco —
Jesus Cristo, o Senhor. Jesus Cristo é o conteúdo, o substantivo da Promessa; por isso, crer no evangelho significa
crer em Jesus Cristo (Mc 1:15; Rm 15:20; At 16:31).

C) CONVERSÃO A DEUS
Quando Paulo e Barnabé chegam em Listra e acontece a cura de um paralítico, eles são confundidos com
Mercúrio e Júpiter respectivamente; o povo idólatra quis adorá-los, ao que Paulo e Barnabé reagiram firmemente,
clamando: ―Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos,
e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo....‖ (At 14:15).
O evangelho reivindica a conversão do homem, que deixa a ignorância, as trevas, e a idolatria e volta-se para
Deus (At 11:21; 26:18; I Ts 1:9; I Pd 2:25). A conversão é a junção executada do arrependimento (mudança de
mente e de coração) e da fé, uma confiança sem reservas, depositada unicamente em Deus e nas Suas promessas.

D) RECEBER O EVANGELHO
O evangelho é para ser recebido como o ensino autoritativo de Deus. Esta recepção envolve o nosso ―andar‖;
tem implicação em todas as áreas de nossa vida. Aqui de forma indireta, podemos ver a nossa responsabilidade
como pregadores. A mensagem que transmitimos exige uma postura responsável, compatível com a sua gravidade
e suas implicações (I Co 15:1; Cl 1:6; I Ts 2:13).

E) OBEDIÊNCIA
Paulo em duas ocasiões fala de forma recriminatória daqueles que não obedeceram ao evangelho. Na
primeira delas, ele está interpretando as palavras de lsaías. ―Mas, nem todos obedeceram ao evangelho....” (Rm
10:16). Em outro momento, ele fala do regresso de Cristo, o qual manifestará Sua justiça retributiva “contra os que
não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (II Ts 1:8). O evangelho requer uma obediência ―voluntária‖
aos seus ensinamentos. Nós trabalhamos para que pelo evangelho seja “levado cativo todo pensamento à
obediência de Cristo” (II Co 10:5). A obediência ao evangelho revela a nossa fé. ―A fé somente é fé no ato da
obediência.‖62

F) PERSEVERANÇA
Paulo escreve aos coríntios: ―Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e
no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei....‖ (I Co
15:1-2). (Gl 1:6-9; 5:7).
O evangelho desafia os homens a perseverarem em sua fé, permanecendo em Cristo e na Sua Palavra (Jo
8:30-31), produzindo frutos de obediência, que evidenciem o evangelho. ―Aqui está a perseverança dos santos, os

61 J. Calvino, La Epistola Del Apost Pablo a Los Hebreos (Hb 11:11), p. 246.
62 Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, p. 25.
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que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus‖ (Ap 14:12).
Evangelizar envolve a instrução, o ensino necessário para que os homens não sejam enganados por um
―evangelho‖ pervertido, destituído de Cristo (Gl 1:6-9; 5:7). Como Igreja, somos enviados a evangelizar todas as
nações, batizando os crentes, ensinando-os a guardar todos os ensinamentos de Cristo (Mt 28:19-20), a fim de que
os convertidos não sejam levados por todo vento de doutrina (Ef 4:14). A relação entre o ―evangelizar‖ e o
―ensinar‖ é constante em diversos textos bíblicos, sendo uma das características da pregação de Jesus (Mt 4:23;
9:35; Lc 20:1; At 5:42; Mt 11:1; At 28:31; II Tm 4:2). Desse modo, a evangelização sempre terá um caráter
educativo.

G) VIVER DE MODO DIGNO


Paulo relembra aos crentes tessalonicenses, qual foi seu comportamento durante o tempo em que passou
entre eles pregando, agindo sempre com piedade, justiça e irrepreensão. Agora, em nome do evangelho pregado,
ele exorta-os a viverem de modo digno de Deus (I Ts 2:7-12).
O evangelho tem um caráter salvífico e, ao mesmo tempo, tem uma conotação ética, que engloba a vontade
de Deus para nós, conforme registrada nas Escrituras, a qual deve ser obedecida (Ef 4:1; Fl 1:27; Cl 1:10). O
evangelho, uma vez crido, torna-se o nosso paradigma de pensar e agir moral. Desse modo, ―obedecer ao
evangelho‖ significa receber a Cristo bem como todas as implicações decorrentes desse ato.

3) OS FRUTOS DO EVANGELHO
O Espírito através do evangelho produz frutos de vida naqueles que o recebem pela fé (Cl 1:3-8; I Ts 2:13-
14), sendo o próprio ato de atender ao evangelho o primeiro fruto de vida eterna (Rm 10:15-17). A rejeição do
evangelho implica na condenação eterna do homem (I Ts 1:8-10).

Alguns desses frutos:


a) Novo nascimento (I Co 4:15; I Pd 1:23-25)
b) Tornamo-nos filhos de Deus (Jo 1:12; Gl 3:26)
c) Salvação (I Co 15:1-2; Ef 1:13; I Ts 1:8-10)
d) Paz com Deus (Ef 2:17; 6:15; Rm 5:1)
e) Luz, vida e imortalidade (II Tm 1:10)
f) Selo do Espírito (Ef 1:13)
g) Confirmação de Deus (Rm 16:25)
h) Libertação (Lc 4:18-21; Jo 8:32; II Co 3:17; Gl 5:1)
i) Fraternidade cristã e participação na promessa (Ef 3:6).

4) JESUS E O EVANGELISMO PESSOAL


O trabalho de evangelização não é opcional ao Cristianismo; é fundamental. Produzir salvação, integração no
corpo de Cristo, promover o crescimento de Igreja e o cumprimento da vontade de Deus. Jesus Cristo é o nosso
padrão, Ele exerceu o ministério pessoal. Este é um meio pelo qual alcançaremos vidas que não podem ser
atingidas por não irem à qualquer comunidade cristã.

O Senhor Jesus exerceu o evangelismo pessoal, especialmente nos seguintes encontros:


• Nicodemos (Jo 3:1-21)
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• Mulher samaritana (Jo 4:1-30)
• O malfeitor da cruz (Lc 23:39-43)
• Zaqueu, o publicano (Lc 19:1-10)
• O jovem rico (Lc 18:18-30)
• O paralítico do tanque de Betesda (Jo 5:1-15)

Estudando os relatos detalhados sobre o evangelismo pessoal como Jesus fazia e estudando a narrativa dos
evangelhos como um todo, emergem alguns princípios gerais de como Ele evangelizava: 63

1. JESUS TORNOU-SE SERVO


Aqui a sua encarnação cruza com nossas vidas. É a base de todo o seu ministério. Em Cristo o amor de Deus
se fez carne. Enquanto não nos compadecemos do sofrimento humano, a compaixão não tem qualquer significado.

Ele vai ao encontro do povo — Viaja pelas estradas mais movimentadas. Visita grandes cidades e aldeias. Ensina
nos mercados e nas ruas. Freqüenta cultos nas sinagogas e no templo. Embora haja momentos em que evita
as multidões, normalmente é acessível aos que buscam socorro.

Vê a multidão em termos de pessoas — Para Ele não existem massas; as pessoas são seres humanos especiais, cada
uma aos olhos de Deus mais preciosa que todas as riquezas do mundo.

Trata a todos como necessitados, sem se preocupar com sua posição social, riqueza ou raça — Sendo na maioria
pobres, recebem o benefício do seu ministério. Apesar disso, não ignora os ricos e influentes. Seja qual for a
condição do homem ou da mulher, todos necessitam de um pastor. A chamada do Evangelho é para todos.

Aproveita as oportunidades do ministério à medida que elas vão surgindo — Jesus não tem horário de expediente.
Está sempre disponível. A qualquer dia e hora está pronto a ajudar. Onde quer que esteja. Na beira da
estrada, na praia, no deserto ou na montanha, em casa ou no trabalho, no cemitério ou na sinagoga, ali está o
seu púlpito ou a sua sala de aconselhamento.

Aproveita a vantagem do relacionamento familiar — Seu primeiro contato foi com um primo. Quanto aos seus
irmãos e irmãs na casa de José, parece que o aceitaram pouco. Mas eventualmente (conforme a tradição),
obedecem ao irmão mais velho. Além disso, a essência do seu ministério está entre os judeus, povo com o
qual mantém identidade racial e nacional, embora não se negue a servir os gentios, quando a oportunidade se
apresenta.

É sensível às necessidades espirituais — Mantém o hábito de freqüentar cultos religiosos, onde os necessitados
sempre se reúnem. Caminhando pelas ruas, busca a alma solitária, sentada no escritório da alfândega; ouve o
clamor do desesperado no rumor da multidão; sente a mão febril tocando em suas vestes; reconhece um
homem de pequena estatura, fitando-o do topo de uma árvore; sua sensibilidade às pequenas coisas sempre
descobre os desesperados em busca de Deus.
Quando possível, procura estar a sós com os que o buscam — Às vezes Jesus os afasta da multidão, ou dispersa a
multidão para estar a sós com eles. Freqüentemente vai à casa deles ou os convida ao lugar onde repousa.
Em algumas poucas ocasiões, leva-os a um local reservado, onde se possa conversar mais à vontade. Mesmo
sendo organizado, prefere ficar longe do tumulto para facilitar a comunicação.

63 Estas afirmações sumárias, a seguir, são extraídas por Robert E. Coleman. Plano Mestre de Evangelismo Pessoal. Editora CPAD,
2001, p. 137-152.
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Concede tempo às pessoas — Jesus pode passar da hora do almoço para conversar com uma mulher
solitária, assim como pode ficar até tarde recebendo a visita de um membro do Sinédrio. A regra parece ser:
Se alguém está realmente necessitando de ajuda, Ele tem tempo.

2. JESUS INSPIRA CONFIANÇA


É isto que nos atrai. Ele prova que é um verdadeiro amigo. Sentimo-nos amados e aceitos quando estamos
com Ele. E quando isto acontece, temos a certeza de sermos ouvidos.
Ele demonstra preocupar-se — Com visão divina, Jesus sabe o que sentem os cansados e os convida a si. Está
presente nas crises. Chora com eles nas tribulações. Cura os enfermos e abre os olhos aos cegos. Defende as
causas dos órfãos e viúvas. Seja o que for, Ele está do lado de Deus, contra as injustiças. Embora não tenha
tentado derrubar o sistema corrupto de seu tempo, pregou um Evangelho que se destina a estabelecer uma
nova ordem, pois muda homens e mulheres inferiormente.
Trata as pessoas pelo nome — Nada é mais familiar nem mais agradável às pessoas a quem Ele se dirige. A sua
saudação transmite ao mesmo tempo a sensação de calor humano e dignidade, causando uma boa impressão
inicial.
Elogia as pessoas pelas boas qualidades — Seu discurso não é vazio nem superficial, mas fala sempre a verdade.
Todos nós temos qualidades positivas. Até mesmo o advogado arrogante recebe um elogio pelo profundo
conhecimento da lei; do mesmo modo que a samaritana pecadora, pela coragem de confessar seu pecado. A
maioria das pessoas sabem quais são os seus defeitos, mas devem ser encorajadas a descobrirem também
suas virtudes.
Jesus é um ouvinte atencioso — As pessoas gostam de conversar, principalmente sobre as coisas que lhes são
importantes. É necessário ter paciência para ouvi-las, mas é uma boa maneira de fazê-las saber que você se
preocupa com elas. Ao mesmo tempo, algo se aprenderá sobre forças reais ou imaginárias que influenciam a
vida delas.
Ele se interessa pelos outros — Muitas vezes este interesse se constitui na porta de entrada para uma mensagem
mais profunda. Por exemplo, a água do poço serviu de ilustração para a água viva, e a pesca serviu de
analogia para a salvação dos homens. Em seu estilo peculiar, Ele parte do conhecido para o desconhecido, o
que se constitui numa regra básica de ensino.
Comunica-se em nível adequado — Jesus se utiliza da linguagem comum, repleta de cor local. As pessoas se
identificam facilmente com Ele, através de suas histórias e figuras de linguagem.

3. JESUS CANALIZA AS ANSIEDADES ESPIRITUAIS


Todos têm uma certa inclinação para com Deus, pois todos foram criados à sua imagem. Em alguns esta
inclinação pode ser pequena, mas mesmo assim existe. E enquanto esta natureza espiritual não é atendida, não há
paz. Conhecedor deste fato e do poder de convencimento do Espírito Santo, Jesus faz com que as pessoas se
preocupem com a alma.
Ele considera sempre o lado melhor — Jesus parte do princípio de que pessoas desejam basicamente a verdadeira
alegria, paz, segurança e vida eterna. Sua atitude é sempre positiva.
Faz perguntas adequadas — Suas perguntas sempre se concentram na área de curiosidade ou interesse imediato, e
nunca são ofensivas. A uma pergunta pode seguir-se outra. Às vezes interrompe o interlocutor com uma
pergunta, de modo a ter certeza de que sua explicação está sendo bem entendida. Ou faz uma questão
retórica, de modo a obter resposta favorável. Perguntas podem revelar problemas ocultos, e colocar as
pessoas frente a frente com a verdade. São também um meio de manter o diálogo, evitando o monólogo
imperativo.
Estabelece verdades espirituais indiscutíveis — Declarações simples às vezes traduzem uma ação ou um princípio
básico. Usadas com cuidado, as afirmações diretas conquistam a atenção e fazem com que se considere a
verdade em sua maior profundidade. Quando não é compreendido imediatamente, Jesus repete a idéia de
maneira um pouco diferente, para ter certeza de que a lição foi aprendida.
Transmite a idéia da bênção de Deus — Aguça os interesses da alma, fazendo-a desejar o que Ele tem a oferecer.
Ele aplica o bálsamo espiritual onde existe a dor. Normalmente, fala dos benefícios da graça ao mesmo
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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tempo que ressalta a necessidade de arrependimento e fé. Por exemplo, para que Nicodemos pudesse
―ver o Reino de Deus‖, era-lhe necessário nascer de novo. Qualquer que seja o preço a pagar, nada se
compara à glória vindoura.
Ilustra as idéias — O mais comum é fazê-lo através de parábolas, utilizando-se de fatos comuns para ilustrar
verdades espirituais. Contrastando com as fábulas, suas histórias tratam de situações cotidianas, que podem
ser compreendidas facilmente. Às vezes usa uma lição objetiva, como por exemplo uma criança, para
exemplificar o que deseja. Ou pode estimular o seu pensamento com um gesto dramático, como escrever na
areia, ou tocar nos olhos do cego.
Utiliza-se das Escrituras — Para Ele o Antigo Testamento é a Palavra de Deus. Sabe que o que está escrito não
pode ser refutado. Costuma usar esta autoridade, principalmente quando fala com quem conhece a Bíblia. O
que mais aprecia fazer é demonstrar como em determinada situação as Escrituras estão se cumprindo.
Dá seu próprio testemunho — Sempre direto. Nunca existe dúvida em sua voz. Fala com inteira segurança.
Evita discussões — Há momentos em que os escribas e fariseus levantam dúvidas sobre seus ensinamentos e Ele
corrige a visão distorcida deles. Mas mesmo neste caso, Ele é afirmativo e faz as correções onde necessário.

4. JESUS TORNA CLARO O EVANGELHO


Uma coisa é desejar e outra é entender o verdadeiro significado da salvação. A obra de Jesus não é algo
indefinido. Enquanto a mensagem da graça de Deus não está perfeitamente compreendida, não se pode tomar uma
decisão inteligente. Mesmo sendo o Mestre perfeito, Ele usa a melhor técnica de ensino: a arte que oculta a arte. O
método não obscurece a mensagem.
Acentua a verdade essencial do Reino — A boa nova é que o Reino está presente em Cristo: Ele é o Rei. E
podemos entrar nesse Reino pela fé, através do Espírito de Deus. Não basta seguir um plano abrangente de
salvação. Para ser bem compreendido Ele adota um plano individual. Para cada situação particular, um plano
particular.
Ele revela o pecado — Quando desconhecemos o mal que está em nós, Jesus o expõe. Às vezes aborda a questão
indiretamente, como no caso da mulher no poço. Outras, vai diretamente ao ponto que interessa, como com
os fariseus. Mas, de uma ou de outra maneira, o fato da desobediência deve ser ressaltado e a consciência
despertada.
Revela a graça — Eis a essência do Evangelho: Nada merecido. Nada conquistado por obras. Deus simplesmente
dá-se a si mesmo. Ele nos ama em Cristo, mesmo quando ainda não o amamos. Ele salva, ―quem quiser‖,
por amor do seu Filho. A oferta está feita para sempre, selada com sangue. E como Jesus completou a obra,
nada nos resta fazer. Precisamos tão-somente confessar a nossa falência moral, para recebermos a dádiva da
salvação. Jesus deixa bem patente que é necessário apenas crer.
Com relação à fé, Ele desafia a segui-Lo — Jesus não barganha conosco, com promessas de que seguindo-o não
teremos mais problemas. Ao contrário, segui-lo significa enfrentar dificuldades, e até perseguições.
Ele prova as motivações humanas — Crer num ―sinal‖ não significa crer no Filho. Igualmen-te, desejar a solução
de um problema ou a cura de uma enfermidade, não significa arrependimento. A prova é maior quando
existe apenas curiosidade em ver o sinal.
Jesus individualiza a doutrina — Jesus não nos pede que aceitemos uma crença, ou nos associemos a uma
instituição. Não porque se oponha a essas coisas, mas porque o Evangelho se revela numa Pessoa: a
encarnação do Cristo. A salvação não é uma abstração teológica, mas uma relação vívida com o Filho de
Deus.
Mantém o assunto principal — Sempre existe a tentativa de afastar Jesus do tema, o que não deve nos surpreender,
tendo em vista que as pessoas, embora sinceras, às vezes têm noções superficiais. Mesmo assim Jesus não
muda. Pode até reconhecer a existência do problema, mas, polidamente, volta ao assunto que interessa.
Ele permite que lhe digam o que entendem das suas palavras — Assim sendo, a pessoa forma sua própria compre-
ensão da verdade. E fica claro quando há necessidade de correção.
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5. JESUS CONDUZ A UMA DECISÃO


Uma vez formada a compreensão, Ele espera um compromisso. Neste ponto o Evangelho é decisivo. Não se
pode ficar neutro na presença de Cristo. Sua verdade exige uma decisão.
Enfatiza a responsabilidade individual — Quanto maior o privilégio, maior a responsabilidade. Freqüentemente
Jesus se refere ao juízo futuro. No fim todos terão de prestar contas de seus atos.
Propõe alternativas — De uma maneira ou de outra, é necessário fazer uma escolha. É arrepender-se, ou morrer.
Escolher o caminho estreito, ou o largo. Vida abundante, ou morte eterna. Céu, ou inferno.
Ele nos desafia a pormos em ação a nossa fé — ―Levanta-te‖, ―Ide‖, ―Vem‖, ―Entra‖, ―Alcança‖, ―Vende o que
tens, dá-o aos pobres‖, ―Toma a tua cruz e segue-me‖. Fazendo algo, demonstramos confiança. Jesus não quer
declarações, mas obediência à sua palavra.
Quer que expressemos nossa confiança da maneira mais realista possível — Para o coxo, é andar; para a mulher
que chora, é consolar-se e ir em paz; para o escriba, guardar a lei. A receita, bem como a determinação, se
adapta à pessoa.
Encoraja os tímidos — ―Levanta-te, não temas‖, ―Filho, tem bom ânimo‖. Tais palavras, que acompanham suas
obras, são como um toque gentil, para despertar o temor a Deus.
Respeita nossa liberdade — Não há registro de que Jesus tenha forçado alguém a fazer o que não desejava. Ele faz
tudo que pode para resolver a questão, mas a decisão final cabe sempre ao indivíduo.
Espera no Espírito — Jesus sabe que a colheita demanda tempo. A semente que foi plantada precisa germinar e
crescer. Ele é paciente porque sabe que Deus está trabalhando, mesmo quando não há mudança aparente. Não
importa o momento, o lugar, ou a forma de decisão. O que importa é que o coração se volte para Deus.
Ele se alegra na vitória — Juntamente com os anjos que se alegram no arrependimento do pecador, Jesus teve
grande satisfação ao saber que era chegado o seu Reino. Por fim sua Igreja triunfaria sobre o inferno.
Quaisquer que fossem os obstáculos pelo caminho, Ele sabia que o Evangelho seria pregado em todo o
mundo, e então o Filho do Homem haveria de reinar sobre o Reino dos nascidos de novo, reunidos de toda
língua, tribo e nação.

6. JESUS ALIMENTA OS CRENTES COM SUA PRÓPRIA VIDA


Acompanhamento é a chave do seu evangelismo. Comprometer-se com Ele é começar um
relacionamento contínuo, centrado na igreja. Mesmo assim, enquanto a pessoa não tem condições de conduzir
outras à vida, necessita de ajuda.
Ele permanece com o crente o tempo que lhe é permitido — Eis o segredo da sua aproximação do novo convertido;
ficar junto tanto quanto possível. Em casa, na estrada, na sinagoga. Quando se separam, Ele novamente os
acha. Por certo, a melhor maneira de prover direção é pelo contato pessoal.
Explica tudo sobre a vida espiritual — A maioria das pessoas precisa ser ajudada a compreender a teologia da
conversão, e o crescimento na vida cristã. A pergunta é a melhor ferramenta de abordagem. ―O quê?‖ ―Por
quê?‖ ―Como?‖. Ali está Jesus para responder. Normalmente, Ele chega mediante uma situação inesperada.
Essas situações surpreendentes sempre convencem melhor.
Estimula o testemunho — Os remidos do Senhor não devem se acanhar de expressar gratidão e têm o dever de
contar as grandes coisas que Deus faz. Ele afirmou nossa necessidade de confessá-lo (Mt 10:32-33).
Ele traz a Palavra para dentro de nós — As Escrituras são a base escrita da fé. Sem elas o crente não sobrevive por
muito tempo, nem pode se aprofundar nas coisas de Deus. Isto tornou-se ainda mais importante quando
Jesus subiu aos céus. Mas enquanto esteve com eles, referiu-se freqüentemente à Bíblia, usando a sabedoria
nela contida para suprir as necessidades.
Ele ensina a orar — A atitude devocional em sua própria vida é observada pelos discípulos, que logo querem
descobrir o seu segredo. A primeira lição é muito simples. Tão-somente Ele põe as palavras em suas bocas.
Mas logo aprendem a orar por si mesmos. Mais adiante os ensina sobre a comunhão e a dependência de
Deus para receber porção diária da graça.
Ele envolve o seu povo numa atmosfera de amor — Ninguém consegue aceitar Jesus e permanecer sozinho. Todo
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crente se torna participante de um grupo de fé. Isto é facilmente experimentado pelo grupo que o
segue e nos pequenos núcleos de fiéis, onde Ele vai. Normalmente se reúnem em alguma casa, embora não
tenham lugar fixo.
Prepara-nos para enfrentarmos as tentações — Embora os seus seguidores sejam recomendados a não mais pecar,
não há ilusões quanto ao ambiente pecaminoso em que habitam. Ele os alerta quanto aos perigos e os ensina
a resistirem aos ataques astutos de Satanás.
Ele introduz os crentes em seu Ministério — Seguir a Jesus significa envolver-se com o que Ele faz. Todos podem
fazer algo, conforme a aptidão de cada um. Arrumar uma casa, preparar alimento, contribuir com dinheiro,
auxiliar no batismo, visitar os enfermos, ensinar e contribuir de diversas maneiras em sua obra. Há lugar
para cada um na obra de Jesus.

7. JESUS ESPERA QUE OS DISCÍPULOS PRODUZAM OUTROS


Desse modo o ciclo recomeça. O processo de ganhar pessoas só está completo quando tem garantida a
continuidade. Eis o segredo do evangelismo. Quando a Igreja cresce pela ação do Espírito, e ensina os novos
membros a alcançarem outros, está fazendo com que o mundo seja alcançado pelo Evangelho.
Neste ponto cada um é convidado a avaliar seu próprio ministério. Estamos alcançando os outros? Estamos
preparando-os para a seara?

5) A OBEDIÊNCIA EVANGELIZADORA
CHAMADA GERAL PARA TODO CRISTÃO
Sabemos por que alguns cristãos evangelizam; a maior parte deles, contudo, permanece em silêncio. Para
John Stott, esse seria o ―silêncio culposo‖. E Russell Shedd consentindo que agimos de acordo com aquilo em que
cremos, concluiu: ―Se os homens não estiverem perdidos, se o evangelho não for verdadeiro, se a educação for
mais necessária que a salvação, e a reforma política mais fundamental que a transformação espiritual, certamente a
urgência da evangelização não passará de conversa vazia sem significado algum.‖
Uma grande parte dos crentes pensa que a obra de ganhar almas para Jesus está afeta exclusivamente aos
pregadores, pastores e obreiros em geral. Contentam-se em, comodamente sentados, ouvir os sermões, culto após
culto, enquanto os campos estão brancos para a ceifa, como disse o Senhor da seara em João 4:35. O ―ide‖ de Jesus
para irmos aos perdidos (Mc 16:15) não é dirigido a um grupo especial de salvos, mas a todos, indistintamente, co-
mo bem revela o texto citado. Portanto, a evangelização dos pecadores pertence a todos os salvos. Cada crente pode
e deve ser um ganhador de almas. Nada o pode impedir, irmão, de ganhar almas para Jesus, se propuser isso agora
em seu coração. A chamada especial de Deus para o ministério está reservada a determinados crentes, mas a
chamada geral para ganhar almas é feita a todos os crentes.
J. I. Packer afirmou: ―(...) a comissão de pregar o evangelho e fazer discípulos, jamais foi limitada aos
apóstolos. Nem está atualmente confinada aos ministros da Igreja. Trata-se de uma comissão que repousa sobre a
Igreja inteira coletivamente e, portanto, sobre cada crente individualmente: Todo o povo de Deus foi enviado a agir
tal qual os filipenses, cuja descrição foi: “...resplandeceis como luzeiros no mundo; preservando a palavra da
vida...”. Todo o crente, pois, tem uma obrigação, entregue por Deus, que é a de fazer conhecido o evangelho de
Cristo. E todo o crente que declara a mensagem do evangelho, para qualquer irmão de raça, fá-lo como embaixador
e representante de Cristo, de conformidade com as condições da comissão que lhe foi entregue. Tal é a autoridade,
e tal é a responsabilidade da Igreja e do crente individual quanto ao evangelismo.‖ 64
O mandamento de Cristo aos Seus discípulos, que diz “Ide, portanto, fazei discípulos...” (Mt 28:19), lhes foi
transmitido em sua capacidade de representantes de todos os crentes; trata-se de uma ordem de Cristo, não
meramente dada aos apóstolos, mas à Igreja inteira. O evangelismo é a inalienável responsabilidade de toda
comunidade cristã, bem como de todo indivíduo crente. Todos estamos sob a obrigação de nos devotarmos à
propagação das boas novas, usando toda a nossa inteligência e empreendimento para levá-las à atenção do mundo
inteiro. O crente, por conseguinte, deve estar sondando constantemente a sua consciência, perguntando a si mesmo
se está fazendo tudo quanto poderia estar fazendo nesse campo.

64 J. I. Packer, O evangelismo e a soberania de Deus. Ed. Vida Nova, 1966, p. 37-38.


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ALGUNS FATORES SOBRE A MOTIVAÇÃO
A evangelização não é uma tarefa que começa e pára. Enquanto evangelizamos a geração atual, surge a
geração seguinte que deve ser evangelizada. A evangelização é algo contínuo no mesmo lugar e em outros lugares.
Como motivar cristãos a compartilhar com outros o Evangelho?
Segundo Michael Green, os cristãos primitivos responderiam algo semelhante se lhe perguntássemos por que
não perdiam o ardor evangelístico: 65

a) O exemplo de Deus, que tanto se preocupou a ponto de mandar o seu próprio Filho ser missionário em nosso
mundo.
b) O amor de Cristo, que nos constrange. Ele foi posto na cruz por nós. E nos diz para irmos em frente e passá-
lo a outras pessoas. A evangelização é a resposta obediente ao amor de Cristo, que nos tem constrangido.
c) O dom do Espírito, que nos é dado especificamente para dar testemunho. A tarefa de evangelização do
mundo e a cooperação do Espírito Santo são as duas características indicadas por Jesus em relação à época
entre a sua ascensão e a sua volta.

Assim, os cristãos primitivos tinham por hábito basear a evangelização, clara e insofismavelmente, na
natureza do Deus triuno – no coração dele repousa a missão. Mas havia mais três razões que os impeliam:
(a) O privilégio de ser embaixador de Cristo, representante do Rei dos reis. Nós recebemos esse ministério.
Privilégio estupendo, esse!
(b) A necessidade dos que não têm Cristo. Isso soa através do NT e dos primeiros líderes da Igreja. Quando
percebi que as pessoas sem Deus estão perdidas agora e também para todo o sempre, mesmo sendo gente
boa, mesmo sendo minha família e meus amigos, foi então que fiz um propósito de gastar a minha vida em
contar aos outros as fabulosas Boas Novas que Jesus trouxe ao mundo.
(c) O tremendo prazer da tarefa em si. Ela começa no Novo Testamento e é contagiosa. Os cristãos podiam ser
presos, e cantavam louvores. Podiam mandá-los calar-se, e eles falavam mais ainda. Se perseguidos, na
próxima cidade divulgavam a mensagem. Se levados à morte, pereciam alegres, suplicando bênçãos para os
seus algozes. É por essa razão que eu não trocaria essa missão de pregar o Evangelho por nenhuma outra
ocupação no mundo. Isso é um privilégio enorme. A necessidade é urgente. Nessa tarefa, o homem se realiza
totalmente. Fomos criados para isso.

Bill Hybels relaciona quatro fatores sobre a motivação para a evangelização:66

A) O FATOR ESTOCAGEM
Quando os crentes experientes alcançam uma compreensão apropriada de sua herança espiritual não
conseguem evitar que seu conhecimento extravase para a vida dos outros. Uma das maneiras mais eficazes de
evangelizar é viver de uma forma que o mantenha consciente de sua herança em Cristo. Esteja sempre ciente do
caráter de Deus. Jamais esqueça a magnitude da transformação que arrebatou estranhos e os converteu em filhos e
filhas de Deus. Viva com uma profunda gratidão pelo tamanho de seu estoque espiritual, o extenso alcance das
bênçãos que você recebe em Cristo. Quando isso acontece, não é preciso muito esforço nem motivação para
abordar pessoas perdidas e lhes dizer: ―Vocês precisam vir comigo para ver como Deus é maravilhoso‖.
Esse tipo de evangelização é extremamente eficaz. Quando um crente verdadeiro olha um descrente nos
olhos e diz: ―Prove e veja você mesmo que o Deus da história é bom‖ ou quando um discípulo de Cristo diz a
alguém que ainda busca o verdadeiro caminho: ―Não sei de você, mas quanto a mim e minha família, nós
certamente vamos servir ao Senhor, pois Ele é maravilhoso‖, essas palavras têm o poder de tocar uma parte
sensível na vida dos descrentes.
Quando vemos pessoas importantes para Deus perdidas, andando de bar em bar, buscando jogos e formas

65 Michael Green, Evangelização na igreja primitiva. Edições Vida Nova, 2000 (2ª ed.).
66 Bill Hybels, Evangelização. Editora Vida, 2000, p. 17-21 e 65-69.
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extravagantes de diversão, mantendo amantes, seguindo modismos, percebemos que precisam da mensagem
de Jesus Cristo para preencher seu vazio existencial. Quanto mais crescemos em nossa compreensão daquilo que
Deus nos deu, mais isso nos motiva a deixar que parte de nosso estoque de bênçãos beneficie aqueles que anseiam
por aquilo que nós já temos.
Hybels testemunha: — Quanto mais caminho com Cristo, menos me sinto impelido a ir contra as pessoas
que se rebelam contra Deus. Em vez disso, apenas fico triste por elas. Sinto um tipo de pesar que não costumava
sentir. Surpreendo-me dizendo a elas: ―Provem e vejam que o Senhor é bom. Ele é melhor do que qualquer coisa
que vocês tentem colocar em seu lugar‖. Sinto como se dissesse a cada miserável que encontro: ―Pare de revirar o
lixo; há um estoque de bênçãos no reino de Deus. Deus é generoso em sua graça, seus benefícios e seu amor; basta
aceitá-los‖.
Uma das melhores formas de encontrar motivação para a evangelização pessoal é manter-se sempre
maravilhado diante do estoque espiritual. Proteja-o, desenvolva-o, agradeça a Deus por ele e partilhe-o com os
outros.

B) UMA HONRA CELESTE


Outra motivação para a evangelização pessoal é a honra de se tornar agente de Deus. Antes de voltar ao céu,
Jesus disse a seus discípulos que eles seriam seus mensageiros, embaixadores, testemunhas. Jesus queria que seus
discípulos percebessem que seu plano de tocar todo o mundo dependia deles. Que honra, então! E que
responsabilidade! Você é imprescindível na estratégia que Deus concebeu para tocar o mundo. E não há estratégia
alternativa. Deus usa as pessoas como porta-vozes. Ele colocou em suas mãos a mensagem da salvação e você tem
a grande honra de divulgar as Boas Novas por toda a Terra.
Todo crente é chamado a ser exatamente a pessoa que Deus criou. Você é chamado a ser porta-voz de Deus
com sua personalidade, seus dons, talentos, capacidades e sua visão particular da vida. Você e chamado a falar em
nome de Deus, a abordar as pessoas perdidas que são importantes para Ele. Essas pessoas precisam de alguém
exatamente como você. Você é essencial aos planos de Deus em seu local de trabalho, na academia de ginástica, na
rua onde mora e aonde quer que vá.
Isso é uma motivação e tanto. Algum dia, você pode estar diante de Deus e ouvi-lo dizer: ―Bem está,
embaixador bom e fiel agente. Você sabe que eu lhe reservei um espaço neste planeta, arranjei uma vizinhança,
arranjei um grupo de pessoas que desesperadamente precisavam de você. Elas precisavam de sua vida, precisavam
de sua personalidade, de seu testemunho, de alguém exatamente de sua idade, com seu senso de humor; precisavam
de você e você me foi fiel!‖
É motivador viver a cada dia tentando descobrir que tipo de oportunidade inesperada surgirá para que eu
possa ser usado por Deus como porta-voz de seu reino. Experimente orar todos os dias: ―Senhor, não sei onde o
Senhor me colocará hoje, não sei que oportunidades o Senhor criará para que eu possa dizer a alguma ovelha
desgarrada que ela é importante. Não sei o que o Senhor tem em mente hoje; mas, ó Deus, quero fazer parte de seus
planos. Realmente quero‖. Precisamos nos empolgar diante das múltiplas formas em que Deus pode nos usar.
Precisamos ficar atentos às oportunidades que Deus coloca em nosso caminho.
— De que modo o Espírito Santo trabalha para acender a chama evangelizadora em nós?
Jesus disse: ―Vocês receberão poder. O Espírito Santo descerá sobre vocês, e sua presença irá ajudá-los a
testemunhar com eficácia‖. Quando somos humildes e puros e estamos sintonizados com o Espírito Santo, quando
vivemos com alegria diante da perspectiva de sermos agentes inspirados por Ele e pedimos para que Ele nos use,
certamente surgem em nosso caminho muitas oportunidades de testemunhar. Mas quando nos desligamos
espiritualmente, perdemos a harmonia com o Espírito Santo, sofremos para cumprir nossa agenda de compromissos
e dizemos: ―Senhor, não estou muito interessado naquilo que o Senhor tem para mim hoje, porque já estou tomado
pelas coisas que tenho a fazer‖, então podemos passar semanas sem ver nenhuma oportunidade de agir como porta-
vozes do reino. Precisamos da orientação e do poder do Espírito Santo se pretendemos ser embaixadores
competentes de Cristo.

C) A REALIDADE DO INFERNO
Outra motivação bastante séria para se tornar um evangelizador eficaz é a realidade do inferno. Ora, talvez
você deteste pensar nisso. Mas a verdade nua e crua é que o inferno é real e há pessoas que permanecem lá pela
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eternidade. Há aqueles que terão de enfrentar uma eternidade sem Cristo se não encontrarem o seu perdão.
A realidade do interno era um tema importante no ministério evangelizador de Jesus. Lemos repetidamente sobre o
pesar de Jesus a respeito da falta de resposta à sua mensagem vivificadora. Ele sabia que as apostas eram grandes e
que a eternidade estava em jogo. E nós também precisamos viver tendo a mesma consciência da seriedade dessa
questão.
— O que você sente quando lê na Bíblia passagens sobre a realidade do inferno e o eterno afastamento de
Deus?
Jesus se angustiou quando o jovem rico se recusou a receber o tesouro espiritual em troca da riqueza
temporal, pois Ele sabia que o homem estava trilhando a estrada que conduz ao inferno. Jesus chorou sobre a
cidade de Jerusalém, pois disse que podia ver seus habitantes como ovelhas errantes sem pastor, e que logo eles
cairiam dos penhascos da eternidade ao abismo do inferno, para sempre. Jesus confrontava toda e qualquer pessoa
com a mensagem fundamental: se elas não mudassem de atitude, depositando nele sua fé, morreriam em pecado e
teriam de enfrentar a condenação eterna.
Por que Jesus mantinha um ritmo tão intenso, pregando de manhã cedo até tarde da noite? Por que sempre
suportava o ridículo? Porque sabia que as pessoas estavam na estrada que leva ao inferno. Isso partia seu coração e
incentivava seu testemunho.
Lucas 16:19-31 é a parábola do rico que vivia em esplendor, enquanto um miserável chamado Lázaro morria
de fome diante da porta de sua mansão. Os dois acabaram morrendo. O mendigo, Lázaro, conheceu o caminho da
salvação e foi para o céu, enquanto o rico acabou no inferno. No versículo 24, lemos sobre um desejo do rico: que
Lázaro levasse para ele uma gota de água fria. Quando o pedido lhe é negado, ele apela a Lázaro, rogando que vá
até sua família e lhes chame a atenção para os tormentos do inferno. Cinco minutos no inferno haviam
transformado o rico descrente em um evangelizador. Finalmente, estava motivado. Implorava que alguém fosse
alertar seus irmãos para a realidade do inferno. Se pudéssemos ver por esse ponto de vista, que excelente motivação
não seria!

Bill Hybels afirma: ―Posso dizer que, em parte, levo a sério as coisas de Deus e ajo como evangelizador
porque creio no inferno. Creio realmente. Acredito nele conscientemente e também emocionalmente. Não sou
neurótico sobre a questão, mas posso dizer uma coisa: é algo que me motiva todo santo dia. O apóstolo Paulo sabia
que, se não há céu nem inferno, então nossa fé é uma mentira. Basta ler 1 Coríntios 15 — está bastante claro. Se
não existe inferno, então por que todo o tempo gasto no serviço pela igreja? Por que todo esse desperdício de
energia? Por que tanta doação, oração e apelo às pessoas? Por que esse trabalho todo? Por que os cristãos
investiriam tanto tempo tentando salvar os outros?‖
Sabemos que toda pessoa com quem entramos em contato só tem duas opções: ou passará a eternidade no
céu ou afastada de Cristo, no inferno. Essa dura realidade deve encher nosso coração de paixão e insuflar fogo em
nossa alma. Pois se somos a luz e o sal do Senhor, devemos começar a agir como tais! O que está em jogo é a
eternidade.

D) A ALEGRIA DA SALVAÇÃO
Outro fator que motiva a evangelização é a recompensa por levar alguém até Cristo. Sentir a alegria de ver
alguém olhar nos seus olhos e dizer: ―Sabe, eu estava na estrada que conduz ao inferno e Deus usou você para me
conduzir até Ele‖, ou: ―Eu precisava de um embaixador. Precisava de uma testemunha confiável. Precisava de
alguém cuja vida estivesse à altura de sua mensagem, e você foi tal pessoa para mim. Obrigado por ser um
evangelizador. Obrigado por ter me estendido a mão. Obrigado por ter respondido minhas perguntas. Obrigado por
ter tolerado minha rebeldia. Obrigado por ter me amado em um momento em que eu não merecia amor. Jesus me
salvou, mas foi você quem me conduziu à Cruz, onde encontrei a graça‖.
Depois de ouvir essas palavras e fitar os olhos dessas pessoas, banhados em lágrimas, você jamais será o
mesmo. A paixão por tocar as outras pessoas cresce quando você experimenta a alegria de ver alguém se tornar um
cristão devotado. Nada se compara a isso!
O evangelista Oswald Smith nos adverte e nos incentiva, ao dizer: 67

67 Oswald Smith, Paixão pelas almas. Editora Vida, 1996 (27ª ed.), p. 101-102.
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— O inimigo está à porta e nos ameaça. As nuvens tempestuosas já se ajuntam, e o temporal está
prestes a sobrevir. Nada, exceto a pregação do Evangelho, no poder do Espírito Santo, pode fazer reverter a
perigosa maré. Portanto, não há alternativa senão entregarmo-nos à evangelização. Vamos às pessoas, onde
estiverem e, munidos da melhor música evangélica, dos melhores testemunhos e das melhores mensagens,
atraiamos as massas perdidas para Cristo. Planejemos uma campanha evangelística caracterizada pelo entu-
siasmo, e ganhemos as pessoas para o Salvador. Distribuamos folhetos evangelísticos em cada lar de nossas
comunidades, e façamo-lo não uma vez só, mas muitas vezes.
Que palavras perscrutadoras essas de Provérbios 24:11-12! Medite nelas com atenção: ―Liberte os que
estão sendo levados para a morte; socorra os que caminham trêmulos para a matança! Mesmo que você diga:
“Não sabíamos o que estava acontecendo!” Não o perceberia aquele que pesa os corações? Não o saberia
aquele que preserva a sua vida? Não retribuirá ele a cada um segundo o seu procedimento?‖
Que espantosa declaração! Quem pode lê-la sem deixar-se convencer? Se os homens estão ameaçados de
morte e não os advertimos, nós seremos os grandes culpados. Talvez aleguemos ignorância. Poderemos
asseverar que de nada sabíamos. Porém nada disso nos livrará. Pois podemos e devemos saber de todos os
fatos. Podemos procurar os necessitados. Deus jamais poderia aceitar nossas desculpas frouxas. Precisamos
avisar os homens do perigo que correm.
Esta é a grande necessidade do momento. Que Deus nos outorgue a visão profética, a fim de que o povo
não venha a perecer e não sejamos responsabilizados e culpados de negligência.

AS NOSSAS DESCULPAS IMPRÓPRIAS – UM AUTOEXAME


Usamos desculpas a fim de não nos preocuparmos em orar e alcançar os perdidos para Jesus. Na lista a seguir
assinale os itens que expressam as razões pelas quais você não evangeliza como gostaria ou os itens que refletem
seus sentimentos sobre evangelismo. Examine seu coração; faça isto em espírito de oração, e busque superar estas
barreiras:
1. Peça a Deus que perdoe cada uma de suas desculpas para não orar nem evangelizar.
2. Peça a Deus que lhe dê um peso pelos perdidos que estão perto e pelo mundo.
3. Prometa a Deus que vai começar a orar fielmente pelos perdidos. E que vai obedecer-Lhe à medida que Ele guie
você a testificar aos perdidos.
 Não conhecia o ensino da Bíblia de que todos estão perdidos até crerem em Jesus.
 Não considerava a gravidade do horror e da realidade do inferno para os que não são salvos.
 Ainda não aceitei minha responsabilidade pessoal de obedecer à ordem de Jesus na Sua grande
comissão.
 Tenho estado demasiado ocupado em manter minha família e eu juntos, para me preocupar com
problemas alheios.
 Minha igreja e organização cristã vêem o evangelismo como um projeto – não como resgatar almas
do reino de satanás.
 Tenho sido ensinado a ser tolerante com todas as religiões das pessoas e a não pensar na minha
como superior a deles. Não quero impor minha fé sobre os outros.
 Visto que, de qualquer maneira, Deus sabe quem se há de salvar, para quê valerá meu esforço?
 Tenho falta de conhecimento do poder do Espírito Santo para me usar e abençoar no que parecem
ser meus fracos esforços.
 Não sinto que meu dom é evangelizar (compartilhar de Cristo).
 Em uma discussão sobre Cristo, as pessoas podem fazer perguntas que não saberei responder.
Preciso conhecer mais a Cristo.
 Temo não ter segurança para dizer que tenho um relacionamento com Cristo que valha a pena.
 Sendo sincero: não estou totalmente seguro de que meus amigos precisam de Cristo.
 Tenho visto crentes ―testemunhando‖ para outros e eu me embaraçaria fazendo o mesmo.
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 Temo que se falasse, meu(s) amigo(s) me rejeitaria(m).
 Temo que os outros não aceitem o que vou dizer.
 Não sou motivado a testemunhar.
 Penso que o evangelismo é feito somente por fanáticos.
 Não sou muito bom em conversas ―espirituais‖.
 Mesmo conhecendo a Cristo, não experimento Seu poder e direção para minha vida com freqüência.
 Sei que se procurar testemunhar, não farei um bom trabalho. Sendo assim, por que procurar?
Ninguém gosta de falhar!
 Não tenho amizade significante com pessoas não-crentes.
 Não estou completamente seguro de que Cristo é a única forma de chegar a Deus.
 Quem sou eu para falar? Minha vida não é tão maravilhosa. Não quero ser hipócrita.
 Meus amigos de verdade não estão interessados na fé cristã.
 Se eu evangelizar, não terei tempo de cuidar das pessoas necessidades em favor das quais Cristo tem
me chamado.
 Apoiando outros em missões e evangelismo, faço minha parte.

OUTRAS DESCULPAS:
— ―Não tenho oportunidade para dar testemunho!‖
Não há limite para fazer oportunidades se houver desejo sincero em ganhar almas. Tem esse desejo?
— ―Não sei o que falar.‖
Para ser conquistador de almas basta seguir a Jesus (Mt 4:19), dedicando-se ao discipulado.
— ―Não consigo fazer evangelismo pessoal.‖
Se uma pessoa é capaz de ter amigos e fazer novas amizades, pode também ganhar seguidores para Cristo.
Será que vamos admitir que somos capazes de fazer amizades para nós mesmos e não temos capacidade para
ganhar almas para o melhor Amigo de todos, Jesus Cristo? Pode ser que nos esforcemos muito do lado das
amizades pessoais e pouco do lado das amizades espirituais. Todos são capazes de fazer evangelismo pessoal.
— ―Não sei como fazer evangelismo pessoal.‖
Você já aprendeu a cozinhar, costurar, jogar tênis, datilografar? Aprendeu a dirigir? A resposta é sempre
positiva, se tivermos tentado com boa disposição. Será que somos então capazes de aprender as coisas materiais e
não as espirituais? Todos podem aprender a ser um evangelista pessoal, sempre que houver boa vontade e a atitude
certa. Jesus jamais ordenou que fizéssemos algo impossível, e é desejo dele que ensinemos outros.
— ―Não sei onde começar.‖
Tudo começa com o desejo. Se você tivesse desejo de aprender a jogar tênis, encontraria onde e como
iniciar. Para que possa iniciar o seu serviço glorioso de salvar almas, você precisa primeiro de desejo e boa
vontade. Para começar é suficiente querer.
— ―Não conheço bem as Escrituras.‖
O crescimento é uma palavra importante na vida cristã. O apóstolo Pedro destacou isso quando ensinou os
membros a acrescentarem à sua fé várias características (II Pd 1:5-7). O apóstolo Paulo encorajou os membros da
igreja a jamais se envergonharem de sua vida com Cristo por não saberem manejar bem a Palavra de Deus (II Tm
2:15). Para conhecer bem as Escrituras é necessário estudá-las. Você é capaz de aprender? Então é também capaz
de conhecer a Palavra de Deus.
— ―Quero esperar até conhecer tudo.‖
O problema com esta desculpa é que esse dia não chega nunca. A pessoa que está aprendendo uma nova
língua espera até saber tudo antes de praticar o que já aprendeu? O mecânico só começa a exercer sua profissão
depois de saber tudo sobre ela? Se formos esperar até conhecermos tudo sobre o evangelismo para começar a
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evangelizar, será tarde demais. Jamais saberemos tudo. Precisamos estudar, aprender, nos esforçar, mas
também iniciar o nosso ensino. Na verdade aprendemos mais ensinando do que apenas estudando.
— ―Não sou comunicativo.‖
Se a sua personalidade atrapalhasse seu progresso no emprego, não faria tudo para melhorá-la? As pessoas
têm personalidade bastante para casar-se, trabalhar em equipe, passear com outros, ou visitar outros; todavia,
pensam que não possuem a personalidade certa para ajudar os outros espiritualmente. Sempre haverá alguém a
quem você pode ensinar as verdades divinas.
— ―As pessoas não querem ouvir.‖
Isto pode ser verdade em várias circunstâncias, mas não em todas. Não podemos seguir o exemplo de Elias,
no VT, que pensou que somente ele estava com Deus e que todos os demais já tinham abandonado o Deus vivo.
Mas, o próprio Senhor lhe disse que estava enganado, pois havia ainda sete mil pessoas que continuavam desejando
seguir o caminho certo (I Rs 19:13-18). Não seja você também iludido. Há muitas pessoas que querem seguir o
caminho certo. Existem mais pessoas com vontade de aprender do que pessoas com vontade de ensinar.
— ―As pessoas de hoje são mais duras e mais indiferentes.‖
Os pecadores sempre estiveram ―mortos‖ (Jo 11:25-26; Ef 2:1; I Tm 5:6), e não existem graus no estado de
morte!
— ―Não me sobra tempo para o evangelismo.‖
O tempo existe se colocarmos realmente o reino de Deus em primeiro lugar, como Jesus ensinou – ―(...) onde
está o teu tesouro, aí estará também o teu coração‖ (Mt 6:33, 21). Achamos tempo para as coisas que queremos
realmente fazer. Por que temos tempo para ver novela e não para ensinar a Bíblia? Por que temos tempo para
conversar com o vizinho sobre o preço do feijão, mas não temos tempo para falar com ele sobre o preço que custou
o perdão dos seus pecados? O tempo existe, o problema é o uso que fazemos dele.
— ―Estou muito cansado.‖
Será que você iria sentir-se cansado se a alma fosse a de seu próprio filho? Oferecemos esta desculpa apenas
porque não estamos realmente interessados nas almas das pessoas que nos rodeiam.
— ―Sou velho demais.‖
Isso jamais acontece na obra do Senhor. Se você tem bastante anos de vida, lembre-se de que há pessoas sem
Cristo com a sua idade. Procure trabalhar com elas pois certamente terão muito em comum. Há lugar para todos,
qualquer que seja a sua idade, no serviço espiritual. Enquanto há vida, há talento e oportunidade.
— ―Tenho filhos menores e não me sobra tempo.‖
A Bíblia mostra que uma das principais tarefas da mulher é cuidar de seus filhos (I Tm 2:15). A mãe pode
entretanto arranjar tempo livre para ajudar na evangelização. Muitas mães deixam seus filhos com uma amiga para
poder fazer compras e outras coisas necessárias. Por que não fazer o mesmo a fim de dar uma aula bíblica na casa
de alguém? Deus nos concedeu filhos para nos ajudar e não para nos atrapalhar no serviço cristão.
— ―Tenho medo de ofender ao testemunhar.‖
Jesus nem sempre agradou a todos. O jovem rico depois de ouvir Jesus, ―ficou muito triste‖ (Lc 18:23). Se
apresentarmos o evangelho da maneira certa não vamos magoar ninguém. Se a pessoa sentir-se ofendida, a vida
dela está provavelmente em conflito com a Palavra de Deus. O amor precisa ser sempre o principal motivo.
Todavia, a verdade dói e às vezes as pessoas se entristecem com quem proclama a verdade, mas não devemos
restringir o evangelho pelo medo de causar mágoa. A verdade tem de ser divulgada.
NOTA: Muitas desculpas podem ser vencidas com uma mudança de atitude. Precisamos mudar de
atitude em relação aos mandamentos de Deus e aprender a não dizer apenas: Senhor, Senhor, mas
sim fazer as coisas que Ele nos ordenou. Ele disse: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus
mandamentos” (Jo 14:15).
As desculpas não fortalecem ninguém. Mas, o Senhor pode nos fortalecer se amarmos o bastante para
obedecer. O Senhor nos mandou dar fruto (Jo 15:16) e se não estivermos ativamente envolvidos no evangelismo
pessoal, vamos mudar de atitude e passar a fazer devidamente esse trabalho tão importante.
O amor é uma demonstração do valor que damos à alma do homem. Quando você vê uma pessoa, o que
pensa? Essa é uma pessoa que está vivendo agora, algum dia morrerá, e tudo se acaba? Ou vê uma alma que deseja
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viver eternamente nos céus e você tem em seus lábios as palavras da vida eterna? O cristão fiel não tem
qualquer justificativa para não fazer evangelismo pessoal.
Sua atitude deve ser a de Mateus 7:12: ―Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o
vós também a eles‖. Coloque-se no lugar do outro. Se estivesse perdido, sem Cristo, no caminho errado, não ficaria
grato se alguém lhe mostrasse o seu erro? Faça então o mesmo para os outros. Mude sua atitude em relação a eles,
colocando-se em seu lugar. São muitas as desculpas oferecidas para não exercer o evangelismo pessoal. Não existe
porém qualquer justificativa para não querer ensinar a verdade aos outros. As desculpas são armas de Satanás,
usadas para esfriar o cristão em sua vida com Cristo.

TAREFA ABRANGENTE
A evangelização, a comunidade dos batizados e o serviço desta comunidade aos propósitos do Deus Trino
estão inter-relacionados. O verbo central da Grande Comissão é ―fazei discípulos‖ e tanto o ―ide‖, que no original
grego é um particípio, como os particípios ―batizando‖ e ―ensinando‖, qualificam esse verbo central. O ―ide‖ não é
uma ordem separada que tenha sentido em si mesma, mas dá um sentido de urgência e determinação ao imperativo
do discipulado, que visa ―trazer pessoas a Jesus, o Senhor, onde quer que elas estejam‖. ―Batizando‖ e ―ensinando‖
não se constituem em passos dissociados do processo do discipulado, mas fazem parte integral do mesmo e
constituem o todo do nosso envio missionário ao mundo. Qualquer segmentação entre evangelização, discipulado e
serviço perde sentido. A tarefa de ―fazer discípulos‖ abarca todas as dimensões da fé e dura a vida toda,
expressando um estado permanente de relacionamento de dependência e aprendizado com Jesus e com a
comunidade de fé.
A tarefa de ―ensinar a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado‖ enfatiza que a nossa evangelização
deve estar a serviço de um evangelho que afeta a pessoa toda em todas as áreas da sua vida. Isto quer dizer que o
evangelho, embora seja pessoal, tem um forte colorido coletivo; é individual, mas tem uma inerente dimensão
social; é uma mensagem de conforto, mas pede um claro compromisso ético, desencadeia uma espiritualidade
terapêutica e leva a um inequívoco pacto com a justiça; produz igreja, mas uma igreja que deve estar concretamente
enraizada na comunidade geral dos seres humanos e na busca desta por uma vida justa e digna. Quanto mais
estivermos a serviço deste evangelho integral que afeta todas as áreas da vida tanto mais estaremos a serviço do
Deus Trino.
Que este estudo possa nos convocar a uma experiência renovada com a obediência evangelizadora — uma
obediência que tenha consciência da presença confortadora (―estou convosco todos os dias‖) e autoritativa de Jesus
(―toda a autoridade me foi dada no Céu e na Terra‖). O resultado desta consciência é uma evangelização que leve
a sério o ensino e o compromisso com todo o conselho de Deus.

Conclusão
68
O dr. Russell Shedd conclui seu livro sobre evangelização com o seguinte argumento:
Se Jesus Cristo não é o único mediador entre Deus e o homem, a igreja pode justificar seu silêncio. Se
todas as religiões dizem a mesma coisa e conduzem os homens ao mesmo destino, então a evangelização deve
ser relegada ao compartimento de nossas vidas em que se lê ―sem importância‖. A Escritura, porém, declara
exatamente o oposto. Jesus Cristo é o único caminho, a única porta, o único Salvador do mundo. À luz do
destaque de Sua última ordem na Terra antes de subir para Seu trono divino, a complacência e a indolência da
Igreja são totalmente incompreensíveis.
Se a Igreja fosse impotente e o Espírito Santo não tivesse sido enviado para capacitar as pessoas a
testemunhar eficazmente, conforme relato no livro de Atos dos Apóstolos, faríamos bem em esconder a cabeça na
areia e negar a responsabilidade por cerca de dois bilhões de pessoas na Terra, totalmente ignorantes das novas
de salvação.
Se Deus não tivesse dado a Bíblia, a Espada do Espírito, ao seu povo, para combater a falsidade, o diabo e
suas hostes infernais, e se nossa ignorância sobre a verdade divina pudesse ser desculpada pelo fato de a Bíblia
estar disponível somente nas línguas originais, poderíamos, ao menos parcialmente, culpar a Deus pelo grande

68 Russell P. Shedd, Fundamentos bíblicos da evangelização. Edições Vida Nova, 1996, p. 123-125.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
53
número de pessoas que perecem sem conhecê-lo.
Se Deus não tivesse dito a Seus filhos que orassem ao Senhor da seara, para que Ele envie trabalhadores
para a seara, e se não tivesse prometido atender às suas súplicas, poderíamos tranqüilamente observar o grão de
trigo maduro cair na terra e dizer: ―Não é culpa minha‖. Porém, visto que nada disso é verdade, temos de admitir
que somos indesculpáveis.
Se a Igreja fosse pequena e fraca, perseguida e encarcerada, sem recursos nem líderes, seria possível
argumentar que a tarefa a nós confiada ultrapassa as nossas forças. No entanto, certamente não é esse o caso. O
rádio, a televisão, a imprensa, os seminários e as escolas bíblicas, os auditórios suntuosos, as conferências e os
estudos bíblicos, todas essas coisas conspiram contra nossa tentativa de fugir à responsabilidade.
Jesus disse tudo: ―Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações‖ (Mc 13:10),
―Então virá o fim‖ (Mt 24:14). Se o propósito básico de Deus na história depende da execução da ordem de
evangelização dada à Igreja na grande comissão, todo crente que não estiver envolvido em sua execução precisa
arrepender-se e pedir perdão a Deus. Se não, como interpretar as palavras do Senhor: ―Aquele servo que
conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites‖ (Lc
12:47). Possa Deus ajudar Seu povo a perseverar em sua meta com alegria até o fim.

―Quem sai andando e chorando enquanto semeia voltará com júbilo,


trazendo seus feixes‖ (Sl 126:6).
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
54
4 – O PLANO DA SALVAÇÃO: A MENSAGEM
EVANGELÍSTICA BÍBLICA

1) A IMPORTÂNCIA DE UMA APRESENTAÇÃO


PLANEJADA
O plano da salvação é a maneira organizada de expor o programa de Deus para o pecador. O evangelista não
precisa, necessariamente, seguir sempre uma única ordem lógica, mas não pode subtrair nenhum dos pontos que
são fundamentais à mensagem bíblica integral.

JOSEPH ALDRICH SUGERE:69


Adapto, confiantemente, a apresentação às necessidades da pessoa com a qual estou compartilhando. Neste
aspecto, as variações de personalidade exigem uma diversidade na maneira pela qual o Evangelho é apresentado.
Porém, este fato não impede de forma alguma uma metodologia cuidadosamente planejada.
O Espírito Santo não incentiva a falta de preparo ou o raciocínio pobre. O Criador planejou o nosso processo
de raciocínio de forma que siga padrões racionais de comunicação para alcançar conclusões lógicas. Uma
apresentação do evangelho desorganizada, casual e ilógica infringe tanto a lei natural como a espiritual.
Certamente, Deus não é autor de confusão. Por outro lado, a lógica, a inteligência ou os ―poderes de persuasão‖ não
devem ser substitutos do Espírito. Uma apresentação cuidadosamente elaborada comunica ao ouvinte que a
mensagem é importante e digna da sua atenção.

QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DE UM BOM ROTEIRO?70 SUGESTÕES:


1. Biblicamente correto e equilibrado.
2. Lógico no desenvolvimento, seguindo uma seqüência em seus pontos principais.
3. Claro no conteúdo, evitando ―chavões‖ usados pelos evangélicos.
4. Com uma intenção clara, sem deixar dúvidas acerca dos passos necessários para o indivíduo receber Cristo.
5. Positivo no seu conteúdo básico, refletindo a realidade de que o evangelho é ―Boas Novas‖.
6. Simples, em vez de complexo.
7. Atraente na forma, sendo uma composição literária de boa qualidade e bem organizada, no caso de material
impresso.
Ao comunicarmos a mensagem de Jesus Cristo, precisamos trazer as verdades essenciais do Evangelho.
Portanto, quatro conteúdos principais não podem estar ausentes numa explanação evangelística:
1. O pecado.
2. As conseqüências do pecado, salientando-se a condição eterna.
3. A providência de Deus para o problema do pecado; o envio de Jesus para salvar o pecador.
4. O que o pecador precisa fazer para apropriar-se da salvação:
a) Arrepender-se
b) Crer

69 JosephC. Aldrich, Amizade: a chave para a Evangelização. Edições Vida Nova, 1992 (reimp.), p. 200-202.
70
Nessa altura, você poderá estar dizendo: ―Não gosto de métodos; prefiro confiar apenas no Espírito de
Deus‖. A falácia deste raciocínio é que ―nenhum método‖ é um método. Trata-se do método ―sem método‖; um
meio impróprio para a comunicação eficaz. Certamente, não se acrescentam metodologias mecânicas ao poder
criador do Espírito Santo. Mas a organização lógica das partes essenciais do evangelho não exclui a criatividade e
a diversidade na apresentação e na ênfase. – Joseph Aldrich.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
55
2) SEIS ROTEIROS SUGERIDOS PARA EXPOR O PLANO DA
SALVAÇÃO
Embora haja muitas maneiras de anunciar o evangelho, nesta apostila você encontrará os seguintes roteiros:
1. O Plano da Salvação Escrito em Cinco Dedos de Nossas Mãos
2. Esboço dos Pontos Básicos da Salvação
3. O Caminho Romano
4. A Ponte
5. As Quatro Leis Espirituais
6. Testemunho Pessoal (compartilhando o testemunho pessoal num encontro evangelístico)

ROTEIRO 1: O PLANO DA SALVAÇÃO ESCRITO EM CINCO DEDOS DE NOSSAS MÃOS 71


Diante do amigo e interessado, pedimos que espalme as mãos, seguindo nosso exemplo.
Cada dedo terá sua mensagem, que pronunciaremos e pediremos que seja repetida
pelo interlocutor e amigo. Cada frase nos leva a segurar o dedo correspondente.
Comecemos então:

Passagens que nos ajudam: Rm


3:10; Sl 51:5; Jo 3:19; Rm 3:23; Tg 4:17.

1. O dedo polegar lembra a verdade bíblica de que todos os homens, inclusive eu mesmo, são pecadores.
2. O dedo indicador lembra-me o ensino da Bíblia, em que ―o salário do pecado é a morte‖.
3. O dedo médio lembra-me que não existe capacidade para o homem se libertar do pecado. Sozinho nenhuma
pessoa se salvará!
4. Louvado seja Deus, o dedo anular lembra a verdade de que Jesus Cristo veio ―buscar e salvar o perdido‖. Ele
morreu para nos salvar e foi ressuscitado para nos justificar!
5. Finalmente, o dedo mínimo é acionado para apresentar a resposta do meu coração ao amor de Jesus: Eu aceito
Jesus como Salvador dos meus pecados e desejo ser perdoado para que seja liberto do pecado e da condenação!
Como se pode perceber, trata-se de um diálogo que pode resolver o dramático problema de muitas vidas.
Deus me tem abençoado de modo inconteste na aplicação desta mensagem.

71 Sugestão descrita pelo evangelista David Gomes, Evangelismo 2000. EBAR, 1993, p. 199-201.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
56
ROTEIRO 2: ESBOÇO DOS PONTOS BÁSICOS DA SALVAÇÃO
I. Somos pecadores
1. Todos pecaram: a universalidade do pecado (Ec 7:20; Pv 20:9; Rm 3:10,23; I Jo 1:8, 10)
Pecado é:
 transgredir a lei de Deus. Transgressão diz respeito à violação e rebelião contra Deus. É o homem fazer
sua própria vontade (Is 53:6).
 errar o alvo verdadeiro, este é um dos principais significados da palavra pecado no grego (hamartia)
(Rm 3:23). O alvo certo é Deus e sua glória.
 contrair uma dívida (ofensa) para com Deus. O pecado, uma vez cometido, não pode ser desfeito (Mt
6:12).
 não cumprir com os deveres cristãos; deixar de fazer o bem (Tg 4:17).
 toda injustiça; tudo aquilo que não é reto segundo o padrão divino (I Jo 5:17). Os pecados mais comuns I
Co 6:9-10; Gl 5:19-21; Ap 21:8.
2. O homem peca por causa de sua natureza pecaminosa (Sl 51:5; 58:3)
II. Conseqüências do pecado
1. Separação de Deus (comunhão interrompida) (Gn 3:8; Is 59:2; Rm 3:23)
2. Aflição e inquietação; escravização (Is 48:21; Jr 2:19; Lm 3:39; Jo 8:34)
3. Morte eterna ou ―segunda morte‖; tormento eterno (Rm 6:23; Ez 18:4; Lc 16:19-31; Ap 21:8b)
4. Exclusão do Céu (I Co 6:9, 42, 50)
III. Homem nenhum pode salvar-se a si mesmo
1. Boas obras não salvam. A salvação é gratuita; é por graça; vem de Deus. (Is 64:6; Ef 2:8-l0; Tt 3:5)
2. Reencarnação é doutrina anti-bíblica (Jó 14:4b; Ec 3:20; Hb 9:27)
3. Intercessão pelos mortos não é ouvida (Ez 18:20-21; Hb 10:11-14)
4. Os caminhos do homem não são os de Deus (Pv 14:12; Is 55:8)
IV. Deus mesmo já providenciou a salvação - Ele ama o pecador e quer salvá-lo
l. A vinda de Jesus ao mundo. Deus deu Seu Filho como sacrifício pelo pecado. (Jo 3:16-17; I Jo 1:29; 2:1)
2. Jesus já morreu para salvar os pecadores (Is 53:5-6; Rm 5:8; I Co 15:3)
3. Jesus, ao morrer, levou sobre si os nossos pecados (I Pe 2:24)
4. Só Jesus pode salvar; só Jesus é o caminho para Deus; Ele é o único mediador (Jo 12:47 e 14:6; At 4:12; I Tm
1:15; 2:5; Hb 7:25)
V. O que o pecador precisa fazer para obter a salvação de Deus
A pregação do Evangelho deve induzir o pecador a dar os seguintes passos:
1. Fé salvadora. Essa fé significa crer na pessoa de Jesus como aquele que morreu na cruz para salvar. (Jo 5:24;
6:47; At 16:31)
2. Arrependimento. O arrependimento, ou tristeza pelos pecados, inclui a confissão dos pecados a Deus e o pedido
de perdão. (Is 55:7; Ez 18:31; At 3:19; I Jo 1:9)
3. Recebimento da salvação. A posse da salvação, ou vida eterna, inclui a disposição de viver essa nova vida de
comunhão com o Pai celeste mediante a ação do Espírito Santo, a oração e a leitura da Palavra deDeus, a Bíblia. (Jo
1:12; Ap 3:20)
4. Confissão de Jesus ao mundo (Mt 10:32-33; Rm 10:9-10)
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
57
VI. O que Deus faz ao pecador que aceita a Jesus
1. Deus perdoa os pecados (Is l:18; Hb 10:16-17)
2. Deus regenera o pecador (II Co 5:17)
3. Deus justifica (Rm 3:26; 5:1)
4. Deus torna o pecador seu filho (Jo 1:12)
5. Deus dá a vida eterna (Jo 5:24; 6:40, 47)

ROTEIRO 3: O CAMINHO ROMANO


Existe uma clássica apresentação de como se tornar cristão, denominada ―caminho romano‖ porque se baseia
exclusivamente na Epístola de Paulo aos Romanos.
O método parece ser mais eficaz quando as pessoas estão se aproximando do momento de decisão. Neste
ponto, elas precisam simplesmente de uma breve explicação bíblica da essência do cristianismo.
Esboço sintético do ―caminho romano‖:
1. A necessidade do homem — Rm 3:23 “Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.‖
Precisamos reconhecer nosso próprio pecado.
2. A penalidade do pecado — Rm 6:23a ―Porque o salário do pecado é a morte (...)”.
3. O remédio dado por Cristo — Rm 5:8 “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso
favor quando ainda éramos pecadores.”
4. A dádiva de Deus aos homens — Rm 6:23b “mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo
Jesus, nosso Senhor.‖
5. Como receber — Rm 10:9-10, 13 ―Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo‖. Ao
apelarmos a Jesus em busca do perdão, Ele nos purifica, renova e ajuda a viver para sempre como Seus
filhos.

ROTEIRO 4 - A PONTE
A ilustração da ponte funciona bem porque pode ser traçada de forma simples e clara. Nessa
ilustração, há uma margem de um lado, um abismo no meio, e outra margem do outro lado. O pecado
separa a pessoa de Deus. O resultado de tentar chegar a Deus por conta própria é a morte, tanto tísica
quanto espiritual. Só há uma forma de cruzar o abismo do pecado: pela ponte. A cruz de Jesus cobre o
vão que nos separa de Deus Pai. Jesus Cristo é o único caminho até Deus. Quando confiamos em sua
morte na cruz, ficamos livres do poder do pecado e do julgamento da morte.
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ROTEIRO 5: AS QUATRO LEIS ESPIRITUAIS
Outro plano da salvação bastante utilizado, especialmente para evangelizar estudantes, é o denominado
“As Quatro Leis Espirituais”, escrito pelo Dr. Bill Bright e distribuído em forma de folheto pela Cruzada
Estudantil e Profissional para Cristo.

BENEFÍCIOS DO MÉTODO DAS QUATRO LEIS ESPIRITUAIS


 É simples e completo.
 Serve para começar a conversa. Você pode dizer simplesmente: ―Você já ouviu falar das Quatro Leis
Espirituais?‖ A maioria das pessoas vai responder ―Não‖, e aí você continua lendo o folheto.
 Começa positivamente: ―Deus o ama‖.
 Mostra claramente como receber a Cristo.
 Inclui um convite para receber a Cristo.
 Oferece sugestões para crescimento, e fala sobre a importância da igreja.
 Dá confiança, porque você sabe o que vai dizer e como vai dizer.
 Permite-lhe ser breve. Aprenda a apresentar As Quatro Leis Espirituais sem comentários, permane-
cendo sensível à orientação do Espírito Santo.
 Seja amigável e responda as perguntas, quanto for necessário.
 Representa uma técnica transferível para treinar outros a compartilhar de Cristo.
O ROTEIRO É O SEGUINTE:
Assim como há leis físicas que governam o universo, há também leis espirituais que governam nosso
relacionamento com Deus...
PRIMEIRA LEI
Deus ama você e tem um plano maravilhoso para sua vida.
O amor de Deus: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:16)
O plano de Deus: Cristo afirma: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.”—uma
vida plena e com propósito (Jo 10:10).
Por que a maioria das pessoas não está experimentando essa ―vida abundante‖? Porque...

SEGUNDA LEI
O homem é pecador e está separado de Deus; por isso não pode conhecer nem
experimentar o amor e o plano de Deus para sua vida.
O homem é pecador: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.”
(Rm 3:23)
O homem foi criado para ter um relacionamento perfeito com Deus, mas
por causa de sua desobediência e rebeldia, escolheu seguir seu próprio
caminho e seu relacionamento com Deus se desfez. Este estado de
independência de Deus, caracterizado por uma atitude de rebelião ou
indiferença, é evidência do que a Bíblia chama de pecado.
O homem está separado: “Porque o salário do pecado é a morte...” –
separação espiritual de Deus (Rm 6:23)
Deus é santo e o homem é pecador. Um grande abismo separa os dois. O
homem está continuamente procurando alcançar a Deus e a vida abundante,
através de seus próprios esforços: vida reta, boas obras, religião, filosofias etc.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
59
A Terceira Lei nos mostra a única resposta para o problema dessa separação...

TERCEIRA LEI
Jesus Cristo é a única solução de Deus para o homem pecador.
Por meio dele você pode conhecer e experimentar o amor e o
plano de Deus para sua vida.
Ele morreu em nosso lugar: “Mas Deus prova o seu próprio amor
para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda
pecadores.” (Rm 5:8)
Ele ressuscitou dentre os mortos : “...Cristo morreu pelos nossos
pecados... foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. Depois, foi visto
por mais de quinhentos...” (I Co 15:3-6)
Ele é o único caminho: “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, a
verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim.” (Jo 14:6)

Deus tomou a iniciativa de ligar o abismo que nos separa dele ao


enviar seu Filho, Jesus Cristo, para morrer na cruz em nosso lugar,
pagando o preço dos nossos pecados.

Mas não é suficiente conhecer essas três leis...

QUARTA LEI
Precisamos receber a Jesus Cristo como Salvador e Senhor, por meio
de um convite pessoal. Só então poderemos conhecer e experimentar
o amor e o plano de Deus para nossa vida.
Precisamos receber a Cristo : “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome...” (Jo 1:12)
Recebemos a Cristo pela fé: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês,
é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2:8-9)
Recebemos a Cristo por meio de um convite pessoal : Cristo afirma: “Eis que estou à porta e bato. Se
alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei...” (Ap 3:20)
Receber a Cristo implica arrependimento, significa deixar de confiar em nossa capacidade para nos salvar,
crendo que Cristo é o único que pode perdoar os nossos pecados. Não é suficiente crer intelectualmente que Jesus é
o Filho de Deus e que morreu na cruz pelos nossos pecados ou ter uma experiência emocional. Recebemos a Cristo
pela fé, através de uma decisão pessoal.
Estes dois círculos representam dois tipos de vida:

Vida controlada pelo “EU” Vida controlada por Cristo


E = o ―EU‖ no centro da vida  = Cristo no centro da vida
 = Cristo fora da vida E = o ―EU‖ fora do centro
 = interesses controlados pelo  = interesses controlados
―EU‖, geralmente causando por Cristo, resultando em
discórdias e frustrações. harmonia com o plano de
Deus.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
60
Qual dos dois círculos representa melhor sua vida?
Qual deles você gostaria que representasse sua vida?
Gostaria de explicar como você pode receber a Cristo:

VOCÊ PODE RECEBER A CRISTO AGORA MESMO EM ORAÇÃO (ORAR É FALAR COM DEUS)
Deus conhece seu coração e está mais interessado na atitude do seu coração do que em suas palavras. A oração
seguinte serve como exemplo:
―Senhor Jesus, eu preciso de ti. Eu te agradeço por ter morrido na cruz pelos meus pecados. Abro a porta da minha
vida e te recebo como meu Salvador e Senhor. Obrigado por perdoar os meus pecados e me dar a vida eterna. Toma conta da
minha vida e me faz o tipo de pessoa que desejas que eu seja.‖
Esta oração expressa o desejo do seu coração? Se expressa, faça esta oração agora mesmo e Cristo entrará em
sua vida, como prometeu.

COMO SABER QUE CRISTO ESTÁ EM SUA VIDA


Você recebeu a Cristo em seu coração? De acordo com a promessa de Apocalipse 3:20, onde está Cristo agora?
Cristo disse que entraria em sua vida. Ele enganaria você? E como você sabe que Deus respondeu à sua oração?
(Por causa da fidelidade do próprio Deus e de Sua Palavra).

A BÍBLIA PROMETE VIDA ETERNA A TODOS QUE RECEBEM A CRISTO


“E este é o testemunho: Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está no seu Filho. Quem tem o Filho, tem a
vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida. Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do
Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna.” (I Jo 5:11-13)
Agradeça sempre a Deus porque Cristo habita em sua vida e porque Ele nunca deixará você (Hb
13:5). Você pode saber que o Cristo vivo habita em você, e que você tem a vida eterna, desde o momento
em que o convidou, baseado em Sua promessa. Ele não decepciona.
E AS EMOÇÕES? NÃO DEPENDA DAS EMOÇÕES
A nossa autoridade é a promessa da Palavra de Deus, e não as nossas emoções. O cristão vive pela fé
(confiança) na fidelidade de Deus e de Sua Palavra. O diagrama do trem ilustra a relação entre fato (Deus
e Sua Palavra), fé (nossa confiança em Deus e em Sua Palavra) e emoção (o resultado da nossa fé e
obediência) (Jo 14:21).
A locomotiva correrá com o vagão ou sem ele.
Entretanto, seria inútil o vagão tentar puxar a
locomotiva. Da mesma forma, nós, como cristãos, não
dependemos de sentimentos ou emoções, mas colocamos
a nossa fé (confiança) na fidelidade de Deus e nas
promessas da Sua Palavra.

AGORA QUE VOCÊ RECEBEU A CRISTO


No momento em que você recebeu a Cristo pela fé, diversos fatos aconteceram, inclusive os seguintes:
 Cristo entrou em sua vida (Cl 1:27; Ap 3:20).
 Seus pecados foram perdoados (Cl 1:14; 2:13).
 Você se tornou filho de Deus (Jo 1:12).
 Você recebeu a vida eterna (Jo 5:24).
 Você começa a viver a nova vida para a qual Deus o criou (Jo 10:10; II Co 5:17; I Ts 5:18).
Você poderia pensar em algo melhor que pudesse ter lhe acontecido do que receber a Cristo? Você gostaria de
agradecer a Deus agora mesmo, em oração, aquilo que Ele fez por você? O próprio ato de agradecer a Deus revela
fé.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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E para desfrutar ao máximo sua nova vida...
SUGESTÕES PARA SEU CRESCIMENTO ESPIRITUAL
Crescimento espiritual é o resultado de confiar em Jesus Cristo. “O justo viverá pela fé” (Gl 3:11).
Uma vida de fé capacitará você a confiar em Deus de maneira crescente em todos os aspectos da sua vida,
e a praticar o seguinte:
 Conversar com Deus, através da oração, diariamente (Jo 15:7).
 Ler a Bíblia diariamente (At 17:11). Comece com o Evangelho de João.
 Obedecer a Deus continuamente (Jo 14:21).
 Testemunhar de Cristo através de sua vida e de suas palavras (Mt 4:19; Jo 15:8).
 Confiar a Deus cada detalhe de sua vida (I Pe 5:7).
 Permitir que o Espírito Santo oriente e fortaleça você em sua vida diária e testemunho (At 1:8; Gl 5:16-17).

A IMPORTÂNCIA DE UMA BOA IGREJA


A brasa, no braseiro, se mantém acesa por longo tempo; tirada do braseiro, logo se apaga. O mesmo
acontece com o nosso relacionamento com outros cristãos. Se você não pertence a uma igreja, não espere
até ser convidado. Tome a iniciativa. Entre em contato com o líder de alguma igreja próxima da sua casa,
onde Cristo é honrado e a Bíblia é pregada. Faça planos de começar a freqüentá-la regularmente, a partir
desta semana.
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ROTEIRO 6: TESTEMUNHO PESSOAL
Usar o testemunho pessoal é a melhor maneira de romper a barreira que impede a pessoa de buscar o
verdadeiro caminho. Basta contar sua história, fazendo uma descrição concisa de sua própria jornada até a fé em
Cristo. A maioria das pessoas se dispõe a ouvir alguém contar o que sua fé significa para ela. E não só se dispõe,
mas ouve com expectativa. Nesse testemunho, explique como você se tornou cristão. Fale sobre a diferença que
Jesus fez em sua vida. Diga à outra pessoa como nosso Deus é bom e relate as transformações que a fé em Jesus
trouxe para a sua vida.
―O falar não está desvinculado do fazer, mas brota da vida que vivemos. No partilhar da fé ousamos contar o
que Deus está fazendo em nossas vidas. O foco não é o que estamos fazendo por Deus. Ao contrário, tentamos
testemunhar sobre a graça de Deus em nossas vidas. Cada experiência humana com Deus é única e válida. Portanto,
ousamos falar na primeira pessoa e partilhar a fé. Ousamos dizer: ―Cristo fez isto em minha vida.‖ Algumas vezes
partilhar a fé significa compartilhar toda a nossa peregrinação com outra pessoa. Outras vezes significa destacar
uma experiência específica em que a graça de Deus agiu em nossas vidas.‖ 72

COMPARTILHANDO SEU TESTEMUNHO PESSOAL NUM ENCONTRO EVANGELÍSTICO


73
Algumas sugestões:
O testemunho pessoal é a ferramenta mais original na comunicação eficaz do evangelho:
1. É o primeiro fato que devemos compartilhar, porque o conhecemos e achamos fácil fazê-lo.
2. Se você não tem um testemunho pessoal, você precisa ser evangelizado!
3. Ele gera um desejo de ouvir o evangelho. Devemos ser ―sal e luz‖.
Os termos:
1. O testemunho é nossa experiência subjetiva de vida eterna.
2. A vida eterna é o termo usado como sinônimo de receber a Cristo, de tornar-se cristão.
O foco principal: Não deve ser a minha pecaminosidade, mas sim a fidelidade de Deus; isto dará substância
ao meu testemunho.
Elementos essenciais do testemunho pessoal:
1. É a mesma coisa se for salvo aos oito anos ou aos oitenta.
a) A pessoa sabe que tem a vida eterna.
b) A pessoa confia somente em Jesus Cristo para a vida eterna.
2. Se convertido quando jovem ou adulto, como Paulo (At 22:1-21):
a) Explique como foi sua vida antes de receber a vida eterna, selecionando um ou dois dos conceitos opostos
abaixo para ser o tema de seu testemunho.
Conflito versus Amor
Culpabilidade versus Liberdade
Depressão versus Esperança
Fragilidade versus Durabilidade
Insegurança versus Segurança
Medo de falhar versus Satisfação
Raiva versus Paz e harmonia
Rebelião versus Obediência
Rejeição versus Aceitação
Solidão versus Fraternidade
Temor da morte versus Coragem
Vida vazia versus Vida com propósito

72 H. Eddie Fox & George E. Morris. Partilhar a fé. Imprensa Metodista, 1995, p. 97-98.
73 Adaptadas a partir de David E. Kornfield, Crescendo no evangelismo pessoal. Editora Sepal, 1996, p. 35-37.
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b) Personalize o conceito negativo acima com uma ilustração específica de sua vida. Dê detalhes
concretos de algo que aconteceu num dia específico que deixa a ilustração se tornar ―viva‖. As pessoas se
lembram de coisas específicas, mas se esquecem de coisas muito vagas.
c) ―Um dia alguém explicou para mim como eu poderia receber a vida eterna. Quando recebi a vida eterna
minha vida mudou radicalmente‖ (ver At 22:6-11).
d) Compartilhe o ―outro lado da moeda‖ do conceito. Os conceitos negativos como conflito e raiva ―foram
substituídos‖ pelos conceitos positivos como amor, paz e harmonia (At 22:12-21).
e) Personalize o conceito positivo com uma ilustração específica de sua vida.
f) É tão bom saber que, quando morrer, irei para o céu! Posso fazer-lhe urna pergunta?
3. Se convertido quando criança, como Timóteo (II Tm 3:15):
a) Afirme: Estou contente de saber que tenho a vida eterna.
— Compartilhe um conceito de vida, positivo.
— Ilustre o conceito na sua própria experiência.
b) É tão bom saber que, quando eu morrer, irei para o céu! Posso fazer-lhe uma pergunta?
4. Não use a experiência de conversão de criança ao falar com adultos. Se o fizer, deixe de lado a idade em que
isto ocorreu. Se teve uma experiência como adolescente, jovem ou adulto quando Deus se tornou muito mais
real para você, pode usar essa experiência.
5. Enfatize o positivo:
a) Não se deve enfatizar muito o que se era antes de receber a
vida eterna.
b) Dê ênfase na fidelidade de Deus a você.
c) Não dê ênfase nas coisas que teve de deixar, mas nos benefícios recebidos; porque o entrevistado não
entenderá o ―por quê‖ de deixar de fazer algumas coisas que o mundo aprova. Ele entenderá os benefícios
positivos (Jo 10:10).
d) Personalize-o com ilustrações específicas de sua vida, valendo-se de frases que comuniquem algo que
causou impacto em sua vida. Por exemplo: ―Eu estava deitado e comecei a ouvir alguém falar em meu
rádio sobre a vida eterna...‖

Outras sugestões para o roteiro do testemunho pessoal:


— Como era sua vida antes de confiar em Jesus Cristo ou dedicar sua vida totalmente a Ele?
1. Quais eram suas atitudes, necessidades, problemas?
2. Qual era o centro de sua vida? O que era mais importante para você?
3. Onde você procurava sua segurança, paz interior, felicidade? Como você via suas atividades, quando eram
insatisfatórias?
Lembre-se de exemplos que farão com que você seja uma testemunha de confiança a quem você está
falando. Evite um enfoque religioso. Não fique muito tempo falando das atividades de sua igreja antes de sua vida
começar a mudar. Contudo, você deve evitar ser explícito e sensacionalista, falando de drogas, imoralidade, crime
ou alcoolismo.
— Como você começou a confiar em Cristo? Como deu a Ele controle completo de sua vida?
1. Quando você ouviu o evangelho pela primeira vez? Como? Ou, quando você foi exposto a um
Cristianismo dinâmico?
2. Qual foi a sua reação inicial ao evangelho?
3. Quando e por que você começou reagir positivamente ao cristianismo?
4. Qual foi o momento de mudança em sua atitude?
5. Quais as barreiras mentais que você experimentou?
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Pense: ―Porque eu devo deixar que alguém mais dirija a minha vida?‖ Então, explique porque você
escolheu convidar a Cristo para entrar em sua vida.
— O que aconteceu depois que você confiou em Cristo?
1. Que mudanças você viu em sua vida, ações, atitudes, problemas? Use exemplos específicos.
2. Quanto tempo levou antes de você notar as mudanças?
3. O que Jesus Cristo significa para você?
Quando você pensar nessa pergunta, imagine como se um amigo a tivesse feito. O que diria para descrever a
importância de Jesus para você? Descreva o máximo possível.
— O que evitar ao dar o testemunho:
1. Não faça afirmações negativas sobre a igreja, outras organizações ou outras pessoas.
2. Evite mencionar denominações.
3. Evite falar como se estivesse pregando.
4. Não use termos vagos como ―alegre‖, ―tranqüilo‖, ―feliz‖ ou ―transformado‖, sem explicá-los.
5. Evite usar palavras bíblicas, como ―salvo‖, ―convertido‖, ―convencido‖ ou ―pecado‖ sem esclarecer o
que significam. Essas palavras não são significativas às pessoas que não são cristãs.
— Estilo para comunicar seu testemunho.
1. Comece com uma sentença ou com um acontecimento que chame a atenção.
2. Seja positivo do começo ao fim.
3. Seja específico. Dê detalhes suficientes para chamar a atenção.
4. Seja exato.
5. Inclua experiências interessantes, e que provoquem o pensamento do seu ouvinte.
6. Use um ou dois versículos das Escrituras, mas apenas quando se relacionarem diretamente às suas
experiências, encaixando-se naturalmente.
7. Fale somente o necessário.
8. Encerre de forma que faça o seu testemunho soar acabado e lógico.

Observações:
— Ensaie seu testemunho até que ele se torne natural.
— Compartilhe seu testemunho com convicção no poder do Espírito Santo.
— Sorria sempre. Peça ao Senhor para lhe dar uma fisionomia serena, agradável.
— Fale claramente, mas num tom natural e macio. Fale alto, o suficiente para ser ouvido.
— Não fale dirigindo-se à sua cadeira ou sentado.
— Evite tiques nervosos, como esfregar o nariz, balançar, bater as moedas no bolso, brincar com lápis,
limpar a garganta ou usar muitos ―sabe‖ ou ―né‖.
— Evite discutir ou usar pressão emocional no seu testemunho para conseguir decisões para Cristo.
Lembre-se que o êxito ao testemunhar consiste simplesmente em compartilhar Cristo no poder do
Espírito Santo, deixando os resultados com Deus.
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MAIS CONTEÚDO PARA AJUDAR VOCÊ EXPLICAR O PLANO DA SALVAÇÃO:
UM RESUMO DAS BOAS NOVAS 74
O evangelho é boas-novas em contraste com a situação em que estamos por causa de nosso pecado. O
pecado consiste em transgredir a lei de Deus; e somos culpados disso. ―Todos pecaram‖ é a declaração horrível de
Romanos 3 — ―não há justo, nem um sequer‖.
O pecado não é algo que aflige as pessoas em contrário à vontade delas. Jesus disse: ―(...) os homens amaram
as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más‖ (Jo 3:19). O pecado é deliberado e nos coloca sob a ira e o
julgamento do Deus santo. Não se engane a respeito disso; Deus não tolera o pecado.
Evidentemente, estas são más novas, e não boas novas. No entanto, embora a realidade de nosso pecado não
constitua o âmago do evangelho, é necessário entendermos e crermos que somos pecadores; pois, do contrário, não
podemos nos beneficiar das boas-novas de Deus.

O EVANGELHO
As boas-novas são a mensagem de que Deus tanto amou ao mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que
todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna‖ (Jo 3:16). O amor de Deus não era uma compaixão vazia,
e sim um amor que fez algo a respeito da condição terrível do homem.
Deus enviou seu Filho ao mundo para morrer no lugar do pecador, assumindo a sua culpa e a sua punição. O
evangelho é a mensagem que explica o que acontece quando Deus, em sua misericórdia, salva aqueles que se
rebelam contra Ele.
A Bíblia o chama de ―o evangelho de Deus‖ (Rm 1:1). O evangelho não descreve o que conseguiremos, se
apenas nos esforçarmos arduamente; o evangelho descreve o que Deus fez sozinho por nós. Ele se originou no
coração de Deus, relatando o que a graça e o amor divino realizaram em favor de pecadores culpados.
A Epístola aos Romanos prossegue dizendo que o evangelho é a mensagem a respeito do Filho de Deus,
―Jesus Cristo, nosso Senhor‖. O Evangelho nos conta que Jesus é singular — o único Salvador e o único caminho
para Deus.

DEUS CONOSCO
Então, quem é Jesus? O primeiro capítulo do Novo Testamento o apresenta para nós. E Mateus, o
evangelista, utilizou dois nomes para descrevê-lo: Jesus e Emanuel. Esses nomes imediatamente nos revelam a
glória dessa Pessoa admirável.
―Jesus‖ significa ―salvador‖ e nos mostra o que Ele veio fazer no mundo. ―Emanuel‖ significa ―Deus
conosco‖ e nos informa que Jesus não era um homem comum.
Paulo amplia essa verdade, utilizando as seguintes palavras: “(...) em Cristo habita corporalmente toda a
plenitude da divindade” (Cl 2:9). Afirmando-o de maneira simples: Jesus é Deus.

A CRUZ DE CRISTO
As boas-novas são o fato de que, ao morrer na cruz, Jesus o fez em lugar de pecadores culpados, a fim de
salvá-los da ira de Deus contra o pecado e do julgamento que os pecadores merecem. Somente Jesus era inocente
em relação ao pecado e poderia agir como nosso substituto —―Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha
pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus‖ (II Co 5:21). Ele tomou o nosso lugar e recebeu sobre Si o
juízo que seu povo merecia, a fim de que eles fossem declarados justos diante de Deus. Resumindo:
1. A cruz foi o supremo ato do amor e da graça de Deus;
2. Na cruz, vemos Deus, em sua santidade, lidando com o pecado dos homens;
3. Na cruz, Deus removeu o pecado que nos separa dele mesmo, por considerar o Senhor Jesus como res-
ponsável pelas nossas transgressões contra a divina lei;
4. Na cruz, a ira de Deus foi lançada sobre seu Filho, ao invés de ser lançada sobre nós;

74 Apresentado (com o título ―Boas Novas‖) por Peter Jeffery, no periódico Fé para Hoje, da Editor Fiel (Nº 12, Ano 2001, p. 8-9).
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5. Na cruz, Deus lançou nosso pecado e culpa sobre o Senhor Jesus, enquanto nos atribui a justiça dele.
O pecado foi punido, como Deus exige que ele o seja. Agora, porém, não existe mais nada que a justiça
divina exige do pecador crente, porque Jesus pagou a dívida de nosso pecado. A Bíblia nos diz a respeito de Cristo:
―Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual
devamos ser salvos‖ (At 4:12).
Como sabemos que isso é verdade? Deus tem dado a certeza dessa mensagem para todos os homens, dizem
as Escrituras, ao ressuscitar Jesus dentre os mortos (At 17:31). Isso é o evangelho.

VENHA!
Jesus exorta insistentemente os pecadores a virem a Ele, que resolverá o problema do pecado deles e os
tornará aceitáveis diante de Deus. ―Vir‖ significa crer em Jesus como o único remédio de Deus para o pecado, o
remédio que outorga perdão para pecadores culpados. Significa confiar naquilo que Cristo fez na cruz e olhar
somente para Ele, no que diz respeito ao perdão e à salvação.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES ÚTEIS PARA O CONHECIMENTO DE QUEM VAI TESTEMUNHAR:


AS CAUSAS DA SALVAÇÃO
Justificação e paz com Deus equivalem à salvação. A teologia clássica explica que essa salvação possui três
causas: a originadora, a meritória e a instrumental.
1. A causa originadora. Essa causa é a abundante graça de Deus que nos proveu um substituto na pessoa de
Jesus Cristo, quando, em conseqüência das nossas ofensas, estávamos condenados à morte eterna, perdidos,
―mortos em ofensas e pecados‖ (Ef 2:1). (II Co 5:18-19; Tito 3:4-7).
2. A causa meritória. Essa causa é a própria pessoa do Substituto. Ao obedecer à lei de Deus e ao sofrer, na
cruz, a condenação pela transgressão dessa lei, sem que a tivesse transgredido, Jesus satisfez plenamente à
justiça divina. A perfeita obra redentora de Cristo constitui a base do nosso perdão e da nossa justificação,
como afirma Atos 13:38-39.
3. A causa instrumental. Finalmente, essa causa instrumental da nossa salvação é a fé salvadora, pois o mérito
da obra realizada por Cristo não opera o nosso perdão ―como um efeito necessário e inevitável‖. Após
ouvirmos o Evangelho, temos de fazer a nossa parte, que é a de crer. A enfática pregação de Jesus:
―Arrependei-vos e crede no Evangelho‖ (Mc 1:15), foi também a principal mensagem dos seus apóstolos e
demais discípulos. Deve também ser a nossa.

Fé não é sentimento ou ideologia, e sim um modo de relacionamento com Deus. Não somos salvos por nossa
própria capacidade e sim mediante a fé. A fé tem três facetas:
CRER = Entregar-se a Deus é acertar o plano da salvação.
CONFIAR = Abandono incondicional nas mãos de Deus. É a certeza de que Deus vai atuar.
DEPENDER = A fé que salva é a que nos faz submeter, não por legalismo, temor ou obrigação em relação a
Deus, mas é aquela que nos faz obedecer-lhe como Pai que ama e deseja o melhor para nós.
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3) O CONVITE PARA RECEBER A CRISTO
PONTO DA DECISÃO.
Gene Edwards adverte: ―Não pode haver verdadeiro testemunho se não se chegar ao ponto da decisão. A
maioria dos crentes, contudo, tem chegado à conclusão de que se convidarem alguém à igreja, ou dizerem qualquer
coisa sobre Jesus, ou mesmo apresentarem a história da redenção, já ―testificaram‖. Ninguém realmente chegou a
testemunhar enquanto não tiver conduzido uma pessoa à presença do Senhor Jesus Cristo, levando-a a um ponto
onde ela tem de aceitá-lo ou rejeitá-lo.‖75
Nenhuma responsabilidade é mais importante no ministério de partilhar a boa nova de Cristo do que ajudar
uma pessoa no processo de receber a Cristo. Esta responsabilidade é abordada com grande cuidado e sensibilidade.
Quando uma pessoa está buscando a Deus e precisa de ajuda para chegar à fé, este ministério capacitador é um
grande privilégio e alegria para a testemunha cristã.

A PESSOA PRONTA A RESPONDER


Há momentos em que as pessoas estão prontas a responder em arrependimento e fé. O Espírito as tem
preparado para serem receptivas. A mensagem do evangelho foi partilhada e penetrou em suas existências. Há
momentos em que as pessoas reconhecem sua necessidade de Deus. Talvez não a expressem desta forma, mas
existe reconhecimento. Talvez esta necessidade se expresse como um desejo de descobrir a vida ou o seu sentido. O
relacionamento com a testemunha talvez seja breve, ou talvez tenha se desenvolvido durante uma série de
encontros por um longo período de tempo. Mas a pessoa está pronta, e pergunta: ―Que devo fazer?‖ Esta pessoa
está pronta para receber a Cristo. Deus não quer que ―as pessoas continuem a procurar sem nunca encontrar‖.
―Buscai e achareis‖ são palavras de Jesus.
Há princípios que nos guiam no partilhar da fé em Cristo, e há também diretrizes que nos ajudam a convidar
as pessoas a receberem a Cristo.76
1. O convite brota da natureza do evangelho. O evangelho revela um Deus vivo que está eternamente
convidando as pessoas a uma resposta. Portanto, nós convidamos as pessoas a dizer sim a Deus porque Ele
já disse sim a todas as pessoas. Cristo ―é o ‗sim‘ de todas as promessas de Deus‖ (II Co 1:20). É apropriado
convidar as pessoas a dizerem sim a Deus. Portanto, convidamos as pessoas a receberem a Cristo.
2. A resposta humana consiste de confiança e mudança de rumo. Convidamos as pessoas a mudarem de rumo,
afastando-se do pecado e da escravidão e voltando-se para Deus e a salvação. As possibilidades de
arrependimento e fé são dons de Deus, mas a decisão de exercer a fé e voltar-se para Deus é um ato
consciente por parte do ser humano.
3. Há muitas maneiras de se convidar uma pessoa. Há uma tendência a se encontrar apenas um meio de
convidá-las e insistir para que todas venham através dele. Partilhamos as boas novas esperando e orando
para que as pessoas respondam com arrependimento e confiança. Apesar de as respostas das pessoas
variarem, é a realidade da experiência do Cristo vivo a coisa mais importante.
4. Ao convidarmos as pessoas a receberem a Cristo, não as pressionamos, mas tiramos a pressão de cima
delas. Lembre-se, não é responsabilidade da testemunha converter alguém; só Deus pode fazer isto! Desta
maneira, a testemunha é parte da graciosa preocupação de Deus com todas as pessoas.
5. A testemunha faz o convite com clareza e integridade. Tentamos tornar o convite tão explícito quanto
possível. Não enganamos as pessoas. Somos diretos. Esforçamo-nos para ajudá-las a ver como Deus atende
suas necessidades específicas aqui e agora. Indicamos o que está envolvido neste ato de fé.
6. O convite à resposta de fé é um assunto comunitário. É necessário ajudar as pessoas a perceber que elas não
estão sozinhas na busca da fé. Somos todos parte de uma comunidade de fé que nos incentiva e nos mantém
responsáveis. Este apoio nos ajuda a crescer e a desenvolver como discípulos de Cristo.
7. Ao convidar uma pessoa a receber a Cristo deve-se estar disposto a aguardar em esperançosa e humilde
expectativa por uma resposta de fé. Respeitamos a integridade e a resposta da pessoa. Se alguém diz não,
nós o asseguramos de nosso genuíno amor e consideração. Assim, respeitamos o sagrado direito da rejeição.
Se uma pessoa diz sim, nos dispomos a ajudá-la na jornada da fé.

75 Gene Edwards, Assim uma igreja conquista almas. Editora Vida, 1996 (2ª ed.), p. 138.
76 Relacionados por H. Eddie Fox & George E. Morris, Partilhar a fé. Imprensa Metodista, 1995, p. 129-131.
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8. Quem partilha a fé confia no Espírito Santo. Esforçamo-nos para estarmos sensíveis e alertas ao
movimento do Espírito Santo.
As pessoas devem ser encorajadas a depositar sua confiança em Deus. Na medida em que respondem em fé,
a realidade da graça de Deus torna-se real. É bem conhecido o seguinte resumo dos elementos nesse processo:
a) crer e saber que uma nova vida em Cristo é possível;
b) arrepender e reconhecer que algumas coisas são deixadas para trás;
c) confessar Jesus como Senhor;
d) aceitar o amor e o perdão de Deus;
e) abrir sua vida em oração ao poder do Espírito Santo.
Ao conhecer a graça de Deus e se conscientizar de suas necessidades, a pessoa evangelizada deve responder.
É um ato consciente da sua vontade. Deus está junto das pessoas, mas elas devem querer estar junto de Deus. A
palavra-chave é desejar e estar disposto a receber a nova vida em Cristo. As Escrituras enfocam esse momento de
decisão: Escutem: estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa, e nós
jantaremos juntos (Ap 3:20). Alguns, porém, o receberam e creram nele, e ele lhes deu o direito de se tornarem
filhos de Deus (Jo 1:12).
A pessoa evangelizada é chamada a confiar no Senhor e aceitar o divino convite. Com profunda humildade, a
testemunha convida a pessoa a dizer ao Senhor: ―Eu quero‖. A testemunha a ajuda a perceber que pode entrar nesse
novo relacionamento com Cristo agora. Se a pessoa que procura não estiver pronta a dizer sim, a testemunha indica
sua compreensão, seu amor e assegura que Deus continuará a buscá-la. Se estiver pronta, então nada será mais
apropriado que a oração.
9. A testemunha ajuda o novo decidido a adquirir a certeza de um relacionamento correto com Deus. Esta
certeza pode vir súbita ou gradualmente. A realidade desta experiência de salvação firma-se na bondade e na
graciosidade de Deus. Pode-se confiar nas Suas promessas. O Espírito nos assegura de que pertencemos a
Ele (Rm 8:15-17).
Nossa fé e confiança repousam na própria natureza do Deus vivo que tem cumprido todas as promessas feitas
a nós. A testemunha ajuda o novo convertido a descobrir esta segurança.
Se o arrependimento e a fé operam em nossa vida, somos convertidos e não temos de que duvidar com
respeito a salvação porque:
a) Deus leva a sério a decisão do homem — Rm 10:9-19; Mt 10:32:-33
b) A salvação é na hora que crê — Jo 5:24; Jo 3:36. Exemplo de pessoas que receberam a salvação na hora:
Lc 19:10; 23:42-43.
c) Jesus segura aquele que a Ele se entrega — Jo 6:37; 10:27-29; Rm 8:1.
d) O Espírito de Deus testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus — Rm 8:16.
e) A Bíblia promete lavar e apagar os pecados — Is 1:18; I Jo 1:17.
f) Somos novas criaturas com vidas transformadas — II Co 5:17.
10. A testemunha, então, encoraja e ajuda o novo cristão no processo de entrada numa comunidade de fé.
―Uma parte da compreensão da conversão, no Novo Testamento, envolve a incorporação a uma igreja local.
Atribuir à conversão a idéia errônea de que ela é uma experiência isolada e individualista sem qualquer referência
com a comunidade de fé local, é causar danos irreparáveis ao conceito bíblico de conversão cristã. Deus quer não
apenas uma nova pessoa, mas uma nova comunidade; uma comunidade de celebração, apoio mútuo, serviço e
testemunho. O convite de Cristo à conversão é imediatamente seguido pelo chamado ao discipulado. Oferecer
conversão sem incorporação à vida da igreja é levar as pessoas a uma armadilha. De acordo com o Novo
Testamento, a consciência da identidade individual diante de Deus envolve, necessariamente, a comunidade da
pessoa. A vida no Espírito de Cristo é uma vida de nova abertura às pessoas numa comunhão de reconciliação. Isto
nos ensina que a nova identidade pessoal do indivíduo como cristão é formada através da identificação com Cristo
em seu Corpo, a igreja. Portanto, uma parte do chamada evangelística envolve o afastamento da independência, da
auto-suficiência e do orgulho que caracterizam o ser humano no seu individualismo, e submeter-se à soberania de
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Jesus Cristo dentro de sua comunidade, a igreja.‖ 77
Portanto, o modelo bíblico não é um indivíduo isolado, saboreando sua própria experiência religiosa. Ao
contrário, são novas criaturas em Cristo que se envolvem, necessariamente, numa participação responsável na
igreja do Senhor. Ser membro da igreja de Jesus Cristo, dentro de uma congregação, é essencial. Portanto, nunca
devemos hesitar em encorajar os novos cristãos a se unirem a uma congregação de fiéis.

77 H. Eddie Fox & George E. Morris, Partilhar a fé. Imprensa Metodista, 1995, p. 137.
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5 – A PRÁTICA DO EVANGELISMO PESSOAL

1) CONCEITOS
Métodos
A palavra método vem do grego metá (rumo) e hodós (caminho). Daí, ―a direção que
se imprime aos próprios pensamentos a fim de investigar e demonstrar a verdade‖.
Em termos práticos, método é o caminho que se usa para se chegar a um determinado objetivo; é a maneira
de se fazer algo. Assim, se quero atingir pessoas com a mensagem de Cristo, posso fazê-lo de pessoa em pessoa, e
então tenho evangelismo pessoal, ou posso fazê-lo a um grupo de uma só vez, e terei evangelismo de massa.
Para fins didáticos, e para distinguir método de estratégia e de técnica, é melhor que nos fixemos em dois
métodos de evangelismo: evangelismo pessoal e evangelismo de massa. Em qualquer dos dois métodos, podemos
empregar duas formas de raciocínio para o trabalho de evangelização: a dedutiva e a indutiva.
A forma dedutiva de abordagem evangelística é aquela que começa do geral para o particular. No caso, o
evangelista começa por falar do plano da salvação, para aplicá-lo ao problema particular que o pecador está
enfrentando. Exemplo: o pecador está deprimido e não tem paz. Neste caso, para argumentar dedutivamente, o
evangelista começará falando do plano da salvação. Se o pecador o aceitar, poderá livrar-se da falta de paz, que
deve ser conseqüência do pecado em sua vida.
Na argumentação indutiva, o evangelista começa pelo problema da pessoa até chegar ao plano da salvação,
que, uma vez aceito, pode ajudar a pessoa no seu problema. Um caso típico deste exemplo é o diálogo de Jesus com
a mulher samaritana. Ele começou com problemas daquela mulher: a sede, os pecados que ela tinha, partiu para
apresentar-lhe a água da vida (João 4).

Estratégia
Estratégia é uma expressão militar. Originalmente, trata da arte, organização e planejamento das operações
de guerra. Mas a idéia é usada em geral para qualquer plano de ação, buscando a maneira mais adequada e melhor
para se alcançar objetivos definidos.
A estratégia tem a ver, portanto, com o lado operacional do método. Em Lucas 9, Jesus envia seus doze
apóstolos a pregar. O método pode ter sido o de evangelismo pessoal e de massa ao mesmo tempo. A estratégia foi
o envio dos 12 ao mesmo tempo; foi uma campanha. Em João 4, lemos o episódio do encontro de Jesus com a
mulher samaritana. O método de evangelismo que Jesus usou foi o pessoal. A estratégia foi o programa de passar
por Samaria, ao ir a Jerusalém, e ficar ali parado perto do poço de Jacó.
Em nossos dias, um culto ao ar livre é uma estratégia. O método do evangelismo será o de massa. Um núcleo
de estudos bíblicos nos lares ou uma série de conferências é uma estratégia.

Técnica
A técnica é o recurso material que usamos para executar o método. A maneira como abordo a pessoa, como
arranjo o plano da salvação; se uso o argumento dedutivo ou indutivo, tudo isto são técnicas. Contar histórias em
flanelógrafo para crianças é uma técnica. Usar slides para uma palestra evangelística é uma técnica. Usar folhetos é
uma técnica. Jesus começou a conversar com a mulher samaritana usando a água: ―Dá-me de beber‖. Foi a técnica.
No entanto, para fins didáticos, apesar de estratégias e técnicas fazerem parte da execução do método, em
termos específicos, cada parte dessa execução tem seu próprio nome.
Damy Ferreira adverte: ―Ao trabalharmos nestas conceituações, temos que entender o espírito no Novo
Testamento sobre metodologia. Poderemos filtrar do NT várias amostras de métodos, estratégias e técnicas. Mas
vamos notar uma variação muito grande de caso para caso. Notamos que o Espírito Santo usava uma grande
variedade de recursos. Mas não podemos evitar a compreensão de que o Espírito Santo usava os discípulos como
seres humanos e não como seres ―celestiais‖. 78

78 Damy Ferreira, Evangelismo Total. Unigranrio/Horizonal Editora, 2001, p. 57.


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É, talvez, dentro deste entendimento, que o renomado autor Michael Green assim se expressa:
―Quando nós pensamos em métodos evangelísticos hoje vem prontamente à nossa mente a pregação num grande
templo ou numa grande arena. Naturalmente, nós temos que nos livrar de tais preconceitos quando pensamos em
evangelismo entre os cristãos primitivos. Eles não sabiam nada sobre como falar seguindo certos padrões
homiléticos dentro das quatro paredes de uma igreja. Na verdade, por mais de 150 anos, eles não possuíram
templos e havia a maior variedade de tipos e conteúdos de pregação evangelística cristã.‖ 79
Isso não elimina o valor do conhecimento de maiores recursos metodológicos. O Espírito trabalha conosco e
leva-nos a usar as ―ferramentas‖ que temos para que façamos seu trabalho.
Partindo desses princípios, podemos fazer um bom exercício se formos ao Novo Testamento e analisarmos
os textos que tratam de evangelização, identificando: o método, a estratégia e a técnica usados em cada caso. 80
Trabalhar com evangelismo dentro deste conhecimento ajuda na criatividade. Os dias atuais exigem estratégias
e técnicas adequadas a cada contexto cultural. Não podemos empregar simplesmente recursos trazidos de outros
países e traduzi-los para serem usados no Brasil. O evangelista tem que estar habilitado tanto espiritual como
intelectualmente para criar programas de acordo com o novo contexto em que foi introduzido.

O evangelista Robert Coleman observa: 81


— Esse é o nosso problema de metodologia nos dias que correm. Cerimônias, programas,
organizações, comissões e cruzadas, bem intencionados, criados pelo engenho humano, estão
procurando realizar a tarefa que só pode ser feita por homens dirigidos pelo poder do Espírito. Não
dizemos isso a fim de depreciar aqueles nobres esforços, porquanto sem eles a Igreja nem ao menos
funcionaria como vem funcionando. Não obstante, a menos que a missão pessoal do Mestre seja
vitalmente incorporada na norma e na tessitura de todos esses planos, a Igreja não poderá funcionar
como deve.
Quando aprenderemos que o evangelismo não é feito por meio de coisas, mas antes, por meio de
pessoas? Trata-se de uma expressão do amor de Deus, e Deus é uma Pessoa. Posto que a natureza
de Deus é pessoal, só pode ser expressa através de alguma personalidade — tendo sido inicialmente
revelada plenamente em Cristo, e agora sendo expressa através do Seu Santo Espírito, nas vidas
daqueles que se têm submetido voluntariamente a Ele. As comissões podem ajudar a organizar e a
dirigir os esforços evangelísticos, e com essa finalidade certamente elas se fazem necessárias; mas o
próprio trabalho só pode ser feito por homens que ganhem outros homens para Cristo.
É por essa razão que somos obrigados a dizer, juntamente com E. M. Bounds, que ―homens são o
método de Deus‖. Enquanto não dispormos de homens imbuídos com o Seu Espírito e dedicados ao
Seu plano, nenhum de nossos métodos funcionará.
Esse é o novo evangelismo de que precisamos. Não há necessidade de melhores métodos, e,
sim, de melhores homens — homens que conheçam o seu Redentor mais profundamente do que
meramente por ouvir dizer — homens que tenham a Sua visão e sintam a Sua paixão pelas almas
perdidas — homens que estejam dispostos a nada ser, a fim de que Ele seja tudo — homens que
queiram tão-somente que Cristo produza a Sua vida neles e através deles, de acordo com a Sua boa
vontade. Essa, finalmente, é a maneira que o Mestre planejou para que Seu objetivo se cumpra no
mundo, e é nessa área que deve ser cumprida por nós a Sua estratégia. E então as portas do inferno
nunca poderão prevalecer contra a Igreja, na evangelização do mundo.

79 Michael Green, Evangelização na Igreja Primitiva. Edições Vida Nova, 2000.


80
Embora os métodos e os meios evangelísticos possam apresentar diferenças conforme a época e a cultura, a mensagem
não pode sofrer alteração. As línguas e os contextos podem apresentar desafios distintos em todo o mundo, mas as ―boas
novas‖ não deverão prescindir de seu conteúdo básico, onde quer que seja. A evangelização proclama a mensagem imutável de
um Deus que não muda jamais (Hb 13:8). — Russell Shedd.
81 Robert E. Coleman, O Plano Mestre de Evangelismo. Editora Mundo Cristão, 2001 (12ª ed.), p. 128-129.
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72
2) O EVANGELISTA, UM BOM COMUNICADOR
Comunicar: ―Estabelecer relação, ligar, unir; travar ou manter entendimento ou, em seu sentido mais
elevado, entrar em comunhão com o nosso semelhante‖. Passar informação é, portanto, parte mínima da
comunicação verdadeira e efetiva.
No campo espiritual, o valor da comunicação de alto nível não pode ser ignorado ou negligenciado. A ordem
de Jesus ―ide e pregai‖ significa, em outras palavras, vá e comunique as boas-novas da salvação. Ele nos chamou
para sermos comunicadores de sua Palavra. O bom êxito dessa comunicação implica ir muito além da distribuição
de folhetos ou da realização de cultos e estudos bíblicos. O Senhor nos quer transmitindo vida.
O conhecimento básico sobre o processo da comunicação nos ajuda no cumprimento deste propósito. É
fundamental que o cristão seja um bom comunicador; portanto, deve aprofundar nas áreas críticas da comunicação.
A palavra é o instrumento básico e primário da comunicação. ―A palavra é realmente arma poderosa, de
eficiência extraordinária tanto para ferir, entristecer, fazer desesperar, como para estimular, motivar, reerguer.
Sendo tão essencial, deveríamos envidar todos os esforços para, através dela, criar o bem e não o mal; trazer à
memória o que pode proporcionar ou devolver aos outros esperança; usar a Palavra de Deus. Ela é qual ponte de
comunicação que, lançada sobre os desvãos escuros da alma daquele que se sente ilhado, massacrado, solitário e
abandonado, faz reflorescer nele o amor, a fé, a esperança, o cerne, enfim, da mensagem de Deus para a
humanidade.‖82

O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO
FONTE OU EMISSOR: É a pessoa que, num dado momento, emite uma mensagem, para um (ou mais de um)
receptor ou destinatário.
MENSAGEM: É a expressão de idéias ou pensamentos em forma organizada.
CANAL: É o meio utilizado — voz, expressão facial, gestos. A escrita, a imagem, o código Morse, o Braille etc.,
são também canais.
DESTINATÁRIO ou RECEPTOR: É a pessoa (ou pessoas) que recebe a mensagem. É o DECODIFICADOR,
porque interpreta, decodifica a mensagem. Decodificação é o momento crítico, perigoso, da comunicação.
Daí a importância do feedback ou realimentação, a observação de como a mensagem está sendo recebida.
RUÍDO: É a interferência de qualquer natureza, e resulta numa interpretação errada ou imperfeita da mensagem.

A COMUNICAÇÃO TEM CINCO ALVOS, DE ACORDO COM NOSSOS OBJETIVOS, QUE SÃO:
1. ESCLARECER: Transmitir informação de forma clara e compreensível. Relacione a coisa desconhecida com
a conhecida.
2. IMPRESSIONAR: Alcançar o coração, ao passo que esclarecer é alcançar a mente. Relacione a coisa não
sentida com a já sentida.
3. CRER: Mais do que entender ou sentir, é aceitar. Relacione a coisa não aceita com a já aceita.
4. AGIR: Levar alguém a entrar em ação. Ser sempre dinâmico, jamais passivo. Depende dos três alvos
anteriores.
5. ENTRETER: Despertar sentimentos de alegria, descontração; provocar o riso.
Para melhor atingir nosso alvo de comunicação, podemos usar o recurso de fazer referência à experiência do
ouvinte. Significa apresentar uma idéia nova acompanhada de alusões às experiências de quem nos ouve, a situa-
ções e fatos de seu conhecimento. Algo que ele possa relacionar com o pensamento que lhe está sendo exposto,
ainda inédito para ele. Essa experiência pode ser:
a) Direta, quando se refere a conhecimentos de primeira mão. Experiências de ordem particular, individual. O
que foi visto, ouvido, sentido, feito.
b) Indireta, quando se relaciona a conhecimentos de segunda mão, algo de que ouvimos falar ou que foi lido.
Experiências não sentidas, embora aceitas.

82 Alice Jardim, Como obter êxito na comunicação do evangelho. Editora Vida, 1993 (2ª imp.), p. 31.
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3) O AMBIENTE PARA A EVANGELIZAÇÃO
Nosso fracasso em partilhar a fé algumas vezes é não apenas uma falha na compreensão da natureza de Deus
e da fé cristã, mas um fracasso de comunicação com as pessoas. H. Eddie Fox lembra-nos:83 Uma questão urgente
para quem partilha a fé em nossos dias é como construir pontes entre a linguagem da igreja e a linguagem do
mundo moderno sem copiar o mundo e comprometer o evangelho. Podemos cair facilmente na tentação de agradar
aos desejos das pessoas ao invés de ministrar às suas necessidades. Podemos ceder à tentação de descobrir o que as
pessoas querem e dar isto a elas, mas isto impediria o partilhar da plenitude das boas novas do reino. Por outro
lado, existe a tentação de ditar os termos do evangelho, ignorando totalmente a situação do ouvinte.
A fé cristã não foi aceita nem rejeitada pela grande maioria das pessoas. Para muitas, ela simplesmente não
chegou como uma opção em suas vidas. Muitas vezes o fracasso para se vencer este fosso não se deve a uma
limitação teológica, mas a um mal funcionamento no processo de comunicação.
Eugene Nida, um especialista em comunicação e um dos tradutores da Bíblia, descreve um modelo do
processo de comunicação: fonte, mensagem e receptor (ou destinatário). Ele afirma que a comunicação não
acontece no vazio mas no contexto da cultura, do mundo da pessoa. É a cultura que atribui significado aos vários
símbolos usados na comunicação. É a cultura que atribui significado às palavras e aos atos.

O DIAGNÓSTICO NECESSÁRIO
A menos que entendamos a língua e o mundo do receptor, fracassaremos na comunicação das boas novas do
evangelho.
Jesus concentrava-se nas pessoas e suas necessidades. O Novo Testamento reflete esta perspectiva. Jesus vê
o homem que está doente; descobre Zaqueu na árvore; olha para a mulher; nota as crianças que vieram vê-lo. Aqui
se ilustra a necessidade de ver, ouvir e entender as necessidades das pessoas. Este é o imperativo do diagnóstico na
partilha da fé.
Note as implicações deste imperativo nas parábolas do semeador e da semente que cresce em segredo (Mc
4:4:3-8, 26-29). A parábola do semeador não dá grande ênfase aos métodos do semeador ou à qualidade da se-
mente. A ênfase cai sobre a preparação e a receptividade do solo. Percebe-se isto no destaque dado à condição do
solo, o impacto sobre a germinação, o crescimento, e o fruto. A mensagem da parábola é de que não se pode plantar
até que a terra esteja arada, e que algumas sementes certamente vão germinar!
A parábola da semente que cresce em segredo não enfatiza a brilhante metodologia humana; ao contrário,
enfatiza coisas como o discernimento do fazendeiro e o tempo da colheita. Primeiro, o fazendeiro sabe o que Deus
está fazendo e fará se a semente for espalhada sobre a terra. Segundo, quando a safra está madura, o fazendeiro age
pelo uso da foice. Isto se encaixa bem com a afirmação anterior de que o partilhar da fé é idéia de Deus. Também
destaca a necessidade de cooperação humana no processo de comunicação do evangelho. O semeador do evangelho
é sensível à graça preveniente de Deus.84 Ele prepara as vidas humanas para a receptividade ao evangelho, e está
disposto a tomar a atitude apropriada no tempo certo.
Esta parábola nos fala sobre o processo do partilhar da fé:
1. Precisamos saber muito mais do que geralmente sabemos a respeito das pessoas que queremos atingir com o
evangelho. Quem são elas? Por que vivem como vivem e fazem o que fazem? O que é realmente importante
para elas? O que determina seu estilo de vida?
2. Precisamos ajudá-las a descobrir os aspectos mais profundos da vida que necessitam de algo mais que uma
explicação natural para que tenham sentido pleno.
3. Precisamos indagar e procurar os pontos de contato em que o evangelho tem mais chances de ser relevante e
significativo na vida delas.

83 H. Eddie Fox & George E. Morris, Partilhar a fé. Imprensa Metodista, 1995, p. 69.
84
João Wesley usa este termo para falar da iniciativa de Deus, sua antecipação ou ―preveniência‖. A graça preveniente
fundamenta-se na natureza de Deus, e manifesta-se principalmente na sua ação em Jesus Cristo. A este respeito, Wesley
afirma que a graça é uma ―iniciativa prévia‖, que torna ―cada ação humana, uma reação; portanto, é graça preventiva‖. Wesley
insistia que ―a salvação começa com o que normalmente chamamos de... graça preveniente‖. Portanto, é importante notar que
Deus toma a iniciativa na salvação. Logo, o processo da salvação começa não com o problema humano, mas com a iniciativa
divina. É a graça preveniente de Deus que evoca uma consciência da necessidade humana, levando ao arrependimento e à fé.
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4. Precisamos reconhecer que a graça preveniente de Deus age em todas as pessoas, preparando-as para
o plantio do evangelho. Isto pode se expressar de forma diferente em diferentes pessoas. Talvez não seja
expressa por meio das palavras: ―Eu preciso de Deus.‖ Mas pode ser comunicada de outras formas, tais
como: ―A vida é só isto?‖ ―Eu quero que minha vida valha a pena. Há uma razão para minha vida?‖

PARTINDO DAS NECESSIDADES E ASPIRAÇÕES HUMANAS


O partilhar da fé implica em partir de onde o povo está. O ponto de contato é entre a boa nova de Cristo e as
necessidades, desejos ou motivos específicos de uma pessoa. Estamos certos de que o evangelho fala às
necessidades e aspirações humanas. Portanto, damos atenção às perguntas que são feitas. Devemos saber não
apenas que Cristo é a resposta, mas também as perguntas que as pessoas fazem.
Este princípio não é novidade. Ele é encontrado na Igreja Primitiva e no movimento missionário. Latourette,
em seu livro History of the Expansion of Christianity (―História da Expansão do Cristianismo‖), conta como a
Igreja Primitiva, apesar dos muitos obstáculos, conseguiu penetrar no Império Romano. Os primeiros cristãos e
cristãs foram capazes de correlacionar a mensagem do evangelho com várias necessidades dominantes das pessoas
do Império Romano.
Uma das necessidades era a solidão. Muitas haviam sido arrancadas de casa e do clã. Para atingir as pessoas
na sua solidão, a igreja oferecia a koinonia da comunidade dos fiéis. A comunhão aberta, receptiva e amorosa da
Igreja Primitiva era em si mesma uma mensagem dramática. As pessoas reconheciam que o amor que existia entre
os primeiros cristãos era visível.
Outra necessidade dominante era a busca da verdade. Havia muitas religiões, filosofias e cultos que eram
uma expressão deste anseio. A esta necessidade a Igreja Primitiva pregou o kerigma, a mensagem de Jesus Cristo,
que a Igreja Primitiva cria ser Deus encarnado e a suprema revelação da verdade.
O mundo romano do século primeiro sentia a necessidade de Deus. As pessoas adoravam deuses
desconhecidos (Atos 17) na esperança de que pudessem relacionar-se corretamente com alguma forma de
significado definitivo. A informação de que Deus havia agido em Jesus Cristo para nos corrigir representava uma
inigualável boa nova (Romanos 5).
Muitas pessoas que buscavam um padrão moral de vida mais alto dentro de uma sociedade decadente foram
atraídas pelos ensinamentos éticos do cristianismo. Além disso, a mensagem dos cristãos dizia que uma pessoa
podia ser fortalecida, pela ação do Cristo no seu interior, a uma vida nova. A fé cristã é a única que não apenas
insiste no imperativo ético, mas também oferece o poder para cumprir esta exigência.
A quinta grande necessidade refletia-se no desejo difundido da imortalidade. As religiões da época não
eram convincentes e não ofereciam muita esperança de uma vida após a morte. Os cristãos primitivos pregavam a
mensagem central da ressurreição de Jesus Cristo. Quando os primeiros cristãos proclamavam que nada, nem
mesmo a morte, poderia separar os fiéis do amor de Deus, as pessoas respondiam ao convite a que cressem.
Latourette afirma que o cristianismo prevaleceu no mundo romano porque abordava mais clara e explicitamente as
necessidades das pessoas do que as religiões rivais.
Devemos agir com cautela, sempre partindo de onde o povo está. George Hunter lembra que existem
princípios éticos importantes quando se apela para os motivos humanos. Por exemplo, um cristão percebe que
muitas pessoas têm certeza do que querem, mas podem não saber o que precisam. Isto significa que quem partilha a
fé olha além das ―vontades‖ conscientes e percebe as necessidades escondidas. Além disso, o cristão não deve
partilhar a fé para satisfazer qualquer desejo que a pessoa possa ter. Há necessidades humanas que são básicas à
vida — amor, sentido de vida, fé na vida eterna — às quais o evangelho pode ser oferecido como realização. Mas
há outros desejos — cobiça por dinheiro ou paixão pelo poder de controlar pessoas — que têm suas raízes numa
relação fragmentada com Deus. A fé cristã é partilhada não para realizar essas vontades mas para converter esses
desejos.
Conscientes desta dimensão ética, devemos perguntar: Quem são essas pessoas? Quem são as pessoas ao
nosso redor, e quais são as suas necessidades básicas? Se quisermos partilhar a fé indo de encontro às necessidades
humanas, temos que diagnosticar estas necessidades.
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ALGUMAS SUGESTÕES PARA AVALIAR AS NECESSIDADES HUMANAS
Canon Bryan Grenn85 observa que os seres humanos são criaturas com motivações. Ele insiste para que a tes-
temunha esteja em contato e se envolva com o seguinte resumo de necessidades: pode ser o medo da morte ou de
alguma outra coisa; pode ser uma profunda sensação de solidão; pode ser uma fraqueza da vontade — o desejo de
fazer o certo, mas sem conseguir; pode ser um senso de fracasso moral, com a conseqüente culpa e vergonha;
podem ser pecados específicos que estão na mente; pode ser a falta de um objetivo na vida, uma vida sem rumo;
pode ser o próprio mal do mundo, com uma sensação geral de frustração e desespero intelectual diante dele.
Outro evangelista, que se comunica regularmente com pessoas que estão fora da igreja, é Donald Soper, da
Inglaterra.86 Ele afirma que as pessoas hoje expressam suas necessidades de uma forma bem diferente do que
faziam há duas ou três gerações atrás. O processo de secularização no mundo ocidental tem afetado as pessoas de
maneiras significativas. Uma delas é a mudança ―de um conhecimento básico para uma ignorância fundamental a
respeito dos assuntos cristãos‖. Houve época em que se celebravam os dias santos, mas hoje estes dias são
―feriados‖. As próprias cortes de justiça norte-americanas têm decidido que o Natal não é, necessariamente, uma
data religiosa, e que os presépios podem ser colocados em lugares públicos. Hoje não se pode esperar que as
pessoas tenham qualquer conhecimento da história cristã. George Gallup Jr. descobriu, em 1982, que menos da
metade do público norte-americano consegue citar os quatro evangelhos. Muita gente hoje vive suas vidas, cuida de
seus negócios, e toma decisões sem qualquer conhecimento do Deus vivo.
Soper afirma também que as pessoas hoje se preocupam muito mais com a vida do que com a morte. Há um
século, as pessoas tinham uma consciência muito clara da realidade da morte. Hoje, no entanto, as pessoas,
especialmente no Primeiro Mundo, esperam viver muito mais. Ao invés de lutar pela mera sobrevivência, muita
gente se pergunta: ―Há sentido na vida?‖ As pessoas querem viver, realmente viver, e muitas tentam espremer vida
adentro tudo aquilo que puderem.
Uma terceira mudança de consciência em nossos dias é a da culpa à dúvida. Isto não significa que as pessoas
estão livres da ansiedade, mas que a ansiedade não se baseia na percepção do seu afastamento de Deus. É uma
dúvida mais fundamental acerca da realidade de um Deus que as conhece e que cuida delas. As pessoas dizem que
acreditam em Deus, mas duvidam que esta crença faça qualquer diferença em suas vidas.
Uma quarta mudança nas pessoas afasta-as de um profundo senso da necessidade de Deus, voltando-as a
uma curiosidade acerca do cristianismo. Lembramo-nos de que, mesmo no final dos anos 50, quando
trabalhávamos com pessoas ―de fora‖, muitas vezes elas indicavam ter consciência da necessidade de Deus, ou
necessidade da igreja. Mas hoje isto mudou. Hoje as pessoas afirmam muitas vezes: ―Eu tenho de tudo. Diga-me,
por que eu precisaria do que você tem a me oferecer?‖ Elas não percebem que precisam daquilo que acham que a
Igreja oferece. Esta é uma crise de percepção e entendimento. Entretanto, as pessoas podem ter curiosidade sobre o
cristianismo ou o estilo de vida cristão, do mesmo jeito que têm curiosidade sobre o mais recente guru do Oriente.
Uma quinta mudança nas pessoas é de um senso de pertencer (fazer parte) a um de isolamento e alienação.
Pelo fato de o mundo ter se tornado uma sociedade cada vez mais urbana, as pessoas se alienaram da natureza, do
poder e dos vizinhos. Se alguém vive num ambiente urbano controlado, pode ignorar o ciclo da natureza. Se
alguém é separado da terra, é separado do poder, particularmente do poder político. Se alguém vive numa grande
metrópole, a compreensão que tem do vizinho é diferente. Houve uma perda de comunidade. É importante que
aquele que partilha a fé perceba estas mudanças na sociedade contemporânea.
Num livro escrito por Paul E. Little, 87 encontramos outra abordagem das necessidades humanas. Ele discute
sete necessidades humanas básicas que são pontos úteis para o partilhar da fé. São elas: 1) o vazio interior; 2) a
ausência de propósitos; 3) medo da morte; 4) desejo de paz interior; 5) solidão; 6) falta de controle; 7) desejo de
pensamento integrado.
Outra a ser considerada é a lista de necessidades humanas de Reuel Howe. Ele diz que essas necessidades se
manifestam, muitas vezes, em perguntas profundas. As perguntas ―Quem sou eu?‖ e ―Quem é você?‖ levantam a
questão básica da identidade. Toda vez que uma pessoa entra num novo conjunto de relacionamentos, estas
perguntas são novamente feitas. Outras questões profundas verbalizadas pelas pessoas: ―Como posso realmente vir
a ser tudo que deveria ser? Como posso saber que a razão fundamental da minha vida foi alcançada? O que farei
com minha vida? O amor existe?‖ São perguntas fundamentais. Elas indicam que as pessoas anseiam por um senso
de identidade e objetivo. Este anseio muitas vezes as leva a se entregarem a compromissos superficiais com uma

85 Canon Bryan Grenn, em seu livro The Practice of Evangelism (―A Prática da Evangelização‖), citado por H. Eddie Fox & George E.
Morris, em Partilhar a Fé. Imprensa Metodista, 1995, p. 74.
86 Citado por H. Eddie Fox & George E. Morris, em Partilhar a Fé. Imprensa Metodista, 1995, p. 74-75.
87 Paul E. Little, Como compartilhar sua fé. ABU Editora, 1993 (5ª ed.), p. 101-111.
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grande variedade de deuses culturais, sociais e econômicos. Na verdade, as pessoas nunca são a-religiosas
— elas são alter-religiosas. As pessoas hoje continuam a adorar ídolos que as deixam na mão. Portanto, elas vão de
ídolo em ídolo. Ao partilhar a fé, é importante estar atento às pessoas que passam de um ídolo a outro. Muitas vezes
elas estão abertas à boa nova de Cristo se as pegarmos no meio desta transição!
O teólogo Albert Outler aponta para uma visão semelhante das necessidades humanas básicas. Ele diz que
nós desejamos o seguinte:
a) Identidade — a necessidade de sabermos quem somos.
b) Liberdade — a necessidade de sermos livres.
c) Produtividade — a necessidade de sentirmos e sabermos que a vida serve para alguma coisa.
d) Serenidade — a necessidade de nos contentarmos com um senso de realização na vida.
Não há um consenso universal sobre quais são as necessidades humanas. Além disso, o que toca uma pessoa
não toca outra. Portanto, num mesmo ato de comunicação nós atingimos algumas pessoas e não atingimos outras.

A conhecida ―Hierarquia de Mo-


7. Necessidades estéticas
tivações Humanas‖, desenvolvida
6. Desejo de conhecer e entender por Abraham Maslow, pode oferecer
algum auxílio neste ponto. Ela forne-
ce uma perspectiva para a estrutura-
5. Necessidade de auto-realização ção das motivações humanas, e uma
4. Necessidades de estima moldura para entender o comporta-
a) auto-estima
mento humano. A hierarquia das
necessidades humanas de Maslow é,
b) estima de outras pessoas como segue:
3. Necessidades de amor e pertença
2. Necessidades de segurança
1. Necessidades fisiológicas

A teoria de Maslow afirma que estas necessidades são básicas para a personalidade humana, mas não estão
todas em evidência ao mesmo tempo. Estas necessidades, de acordo com ele, são realizadas numa hierarquia
seqüencial ascendente. As necessidades fisiológicas, tais como o sono, a comida e a água, dominam até que sejam
satisfeitas. Uma vez que estas necessidades fisiológicas são satisfeitas, as necessidades de segurança assumem o
primeiro plano nos desejos de uma pessoa. As necessidades de segurança são percebidas no desejo de estabilidade,
proteção e ausência de perigo. Saber que se está livre de perigos e que o futuro está assegurado é uma motivação
importante à qual o mundo da propaganda apela. Quando a necessidade de segurança é dominante, a hierarquia
assume o seguinte aspecto:

segurança

física social

estima

auto-realização
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
77
Mas quando as necessidades fisiológicas e de segurança são ―satisfeitas‖, a necessidade de amor e
pertença assume a posição dominante. O diagrama fica assim:

social

segurança estima

física auto-realização

A necessidade de ser amado é fundamental na natureza humana e perceptível em muitos estágios da vida.
Por exemplo, ela é evidente na maioria dos jovens que anseiam pela aprovação de seus pares. Até que esta
necessidade seja satisfeita, as pessoas farão grandes esforços para saciá-la. Uma vez que esta necessidade social de
pertença é satisfeita, então as necessidades de estima tornam-se as mais importantes. Muito do comportamento
humano pode ser entendido à luz do desejo de ser reconhecido, apreciado e respeitado por outras pessoas pelas
vitórias e realizações no trabalho e na sociedade. Sem esta necessidade não teríamos muitas placas de apreciação
expostas nas igrejas, escritórios ou casas. Todos têm esta necessidade de estima.
Quando a necessidade de ―estima‖ é satisfeita, então a ―auto-realização‖ torna-se a necessidade que motiva o
comportamento humano. É o desejo de ser tudo que se pode ser. Aqui está o impulso para se maximizar o próprio
potencial. As pessoas querem que suas vidas tenham valor, querem realizar seu propósito básico na vida.
Maslow cita duas outras necessidades que não são colocadas especificamente na hierarquia, já que podem
encaixar-se em qualquer das três áreas mais altas. O desejo de conhecer e a apreciação da beleza cruzam as três
necessidades mais altas: de pertença, estima e auto-realização. Isto é ilustrado no primeiro diagrama pela linha
pontilhada (ver página anterior).
Esta estrutura da motivação humana ajuda a descobrir os pontos de contato entre a boa nova de Jesus Cristo e
as necessidades sentidas pelas pessoas. Devemos reconhecer que a hierarquia não está perfeitamente organizada
dentro das pessoas. A maneira como as pessoas expressam as necessidades básicas varia. Dificilmente alguém dirá:
‗Como você pode me ajudar com minhas necessidades de estima?‖ Mais provavelmente, veremos as necessidades
sendo expressas de diferentes maneiras. Sem dúvida, se uma pessoa está com fome, devemos começar pelo pão
físico. Jesus disse que as pessoas não vivem só de pão, mas não disse que podem viver sem ele. A estrutura de
Maslow pode nos alertar para as diferentes necessidades das pessoas. Quando alguém diz: ―Sinto que estou
desperdiçando minha vida‖, nos alertamos para a necessidade de auto-realização. Entretanto, quando alguém diz:
―Simplesmente não me valorizam, ou ninguém repara em mim no serviço, sabemos que suas necessidades de
estima precisam ser satisfeitas. Quando alguém compartilha: ―Eu sempre me sinto como se estivesse olhando de
fora‖, sabemos que esta pessoa sente uma profunda necessidade de pertencer, de ser amada e aceita. Agora, com
esta abordagem, não estamos simplesmente desejando entender as necessidades humanas como um fim em si
mesmo, mas como um meio para nos capacitar a amar os outros assim como Deus os ama, e partilhar
adequadamente a boa nova de Jesus Cristo.
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ESTABELECENDO CONTATO
Quatro princípios-chave para o estabelecimento de pontos de contato evangelísticos: 88
1. Podemos, tanto quanto possível, entrar no mundo da outra pessoa. A encarnação é não apenas a mensagem do
nosso testemunho, é o modelo para nosso partilhar da fé. Deus entra em nosso mundo, e vemos a Sua glória.
Somos chamados a ter empatia pelas pessoas. Isto é mais do que sentir pena delas. Ter empatia significa tentar
sentir e ver o mundo a partir da perspectiva da outra pessoa. Tentamos imaginar o que seria estar na pele dela.
Ao entrarmos no mundo de outra pessoa, descobrimos suas necessidades e partilhamos a fé de acordo com elas.
Se uma pessoa precisa de uma sensação de segurança, a providência e a fidelidade de Deus são uma boa nova. Se a
necessidade é de pertença, a koinonia da Igreja oferece um grande recurso para o partilhar da fé. O desejo de ser
amado é atingido pela maravilhosa graça que declara que Deus nos ama primeiro. A disponibilidade da graça de
Deus a todas as pessoas significa que todas são importantes, significativas e de grande valor. As pessoas que
querem que suas vidas tenham valor são desafiadas pela missão de Deus no mundo. Todas as pessoas são
convidadas a participar na missão criativa do estabelecimento do reino de Deus.
A dimensão da necessidade humana, com seus muitos níveis, é atingida pela multifacetada boa nova do
evangelho de Jesus Cristo. Na maioria das vezes, partilhamos uma combinação das facetas do evangelho a fim de
apelar às múltiplas necessidades das pessoas. Há recursos suficientes no evangelho para atender a todas as
necessidades humanas. Esta é uma palavra encorajadora.

88 Observados por H. Eddie Fox & George E. Morris, Partilhar a fé. Imprensa Metodista, 1995, p. 81-85.
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2. Para estabelecer pontos de contato devemos falar na língua do ouvinte. Este é o milagre do Pentecostes.
Lucas escreve que ―cada um podia entender na sua própria língua o que os seguidores de Jesus estavam dizendo‖
(At 2:6). Isto significa que aquele que partilha a fé tenta usar uma linguagem que seja familiar ao ouvinte. É fácil
pressupor que pelo fato de conhecermos o significado de uma palavra todo mundo saiba o seu significado.
Quando partilhamos a fé tendemos a usar palavras que nos são familiares, mas talvez elas não sejam com-
preensíveis a outras pessoas. É por isso que as pessoas que pertencem à mesma rede ou grupo social podem se
comunicar tão eficientemente — um atleta com outro, um professor com outro, um banqueiro com outro, um
fazendeiro com outro, um amigo com outro, um jovem com outro, um médico com outro, um carpinteiro com
outro, um advogado com outro, um vizinho com outro. Se vivemos numa cultura na qual mais da metade das
pessoas não sabe dizer o nome dos quatro evangelhos, podemos pressupor que muitas delas não saibam o
significado de boa parte do vocabulário que usamos dentro da igreja. Portanto, somos chamados a traduzir,
interpretar e definir a linguagem da fé a partir da perspectiva e do contexto do ouvinte.
3. Outro princípio-chave para estabelecer um ponto de contato com as pessoas é a sensibilidade aos eventos que
ocorreram em suas vidas. Muitas vezes esses eventos aumentam o nível de receptividade ao evangelho. As
pessoas nem sempre são receptivas. Jesus falava sobre o tempo apropriado para a colheita. Somos chamados a
nos conscientizar dos momentos em que as pessoas estão receptivas às boas novas.

As pessoas que indagam sobre a fé estão receptivas. As pessoas que visitam a igreja indicam receptividade. Ao
passarem por vários eventos, as pessoas podem estar receptivas. Win Arn indica muitos eventos importantes nas
vidas das pessoas:

• Adição à família • Morte de membro da família • Pena carcerária


• Aposentadoria • Morte do cônjuge • Pequena infração da lei
• Casamento • Mudança em atividades sociais • Período da Páscoa
• Cônjuge começa a trabalhar • Mudança em hábitos recreativos • Período Natalino
• Desemprego • Mudança na escola • Problemas com genro, nora,
sogro, sogra,cunhados
• Dificuldades sexuais • Mudança na residência
• Problemas com perdas
• Divórcio • Mudança na saúde de membro
da família • Reajuste de negócios
• Doença ou acidente pessoal
• Mudança nas condições de vida • Realização sensacional
• Férias
• Mudança nas responsabilidades • Reconciliação matrimonial
• Filho ou filha saindo de casa
do trabalho
• Revisão de hábitos pessoais
• Gravidez
• Mudança no horário de trabalho
• Separação matrimonial
• Hipoteca ou empréstimo
• Mudança no status financeiro
• Início ou fim da escola
• Mudança nos hábitos de dormir
• Morte de amigo próximo
Enquanto trabalhamos com aqueles que estão receptivos, não podemos negligenciar os resistentes. Em
muitas conversões cristãs, é o impacto cumulativo de muitos testemunhos que resulta em arrependimento e fé.
Você pode ser aquele que está presente quando uma pessoa aceita a graça de Deus em Cristo, ou você pode ser o
número dez numa lista de 20 comunicadores da fé, antes que essa pessoa responda ao evangelho.

4. Finalmente, vamos reiterar que o Espírito Santo está preparando ativamente as pessoas para que estejam
receptivas à apresentação do evangelho.
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4) PRINCÍPIOS PARA A ABORDAGEM NO EVANGELISMO


PESSOAL
A) Modelos ou Tipos de Evangelização Pessoal
(Ênfases Predominantes)
 A EVANGELIZAÇÃO DEDUTIVA E A INDUTIVA
Evangelização dedutiva — Quando é anunciada uma mensagem evangélica coletiva, adequada
para todos. Este modelo dedutivo de evangelização toma muitas formas, geralmente enfatizando três etapas:
a) A testemunha anuncia um evangelho geral à pessoa a quem está testemunhando.
b) A testemunha apela a esta pessoa para um compromisso total com o evangelho geral que foi
compartilhado.
c) Pressupõe-se que, se a pessoa aceita esse evangelho geral, lidará com as implicações deste compromisso
no decorrer de sua vida.
Joseph Aldrich analisa este modelo: ―Um vendedor de enciclopédias, usando uma abordagem dedutiva,
mostraria todos os livros da editora mesmo se a dona de casa não soubesse ler. Ele deixaria alguns exemplares
para que ela os examinasse durante alguns dias. Recusada a oferta, iria à próxima casa e repetiria exatamente a
mesma demonstração, com um descaso semelhante pelas diferenças (e necessidades) individuais do público a
ser atingido. O oposto de geral (dedutivo) é específico (indutivo). A evangelização de abordagem geral é cada
vez mais ineficaz numa sociedade pluralista, onde existe uma grande diversidade de conhecimento e
compreensão da Bíblia.‖89
Evangelização indutiva — O modelo indutivo pressupõe o conhecimento do indivíduo com quem se
está falando. O evangelho é apresentado sob medida para as suas necessidades individuais. A meta é descobrir
aquele ponto na vida do indivíduo, no qual o evangelho será Boas Novas, e então, compartilhá-lo como tal. O
método de Jesus tratar as pessoas seguiu este modelo adaptável e indutivo:
— A Nicodemos, mestre em Israel, ele disse: ―Importa-vos nascer de novo‖ — Ele nunca usou
―nascer de novo‖, uma metáfora altamente conceitual, em outra ocasião registrada no Novo
Testamento. Ele falou com a mulher samaritana acerca de ―água viva‖. Mas quando o jovem rico se
aproximou e perguntou o que ele tinha de fazer para ter vida eterna, Jesus não lhe falou acerca de
água viva. Sabendo que o dinheiro era o deus deste jovem, Ele disse: ―Se queres ser perfeito, vai,
vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me‖. Ele estava
basicamente chamando-o para uma troca total de deuses. Por outro lado, não disse a Zaqueu, o co-
letor de impostos que subiu em uma árvore, para dar tudo o que tinha. Ele simplesmente disse:
―Zaqueu... me convém ficar hoje em tua casa‖. Pelo fim do dia, Zaqueu tinha decidido por si próprio
dar metade dos seus bens aos pobres.
Jesus foi de encontro às necessidades reais das pessoas. Nós também devemos fazer o mesmo. Se a
necessidade de alguém está na área do casamento, Deus tem Boas Novas para ele. Se está lutando contra o
sentimento de culpa, Deus tem Boas Novas para ele também. Igualmente Deus tem Boas Novas para a pessoa
que precisa de amor e afeto, segurança ou estima. Obviamente um modelo de comunicação confrontadora, de
invasão, será mais abrangente (dedutivo), porque o indivíduo que está sendo ―evangelizado‖ é virtualmente um
estranho. Infelizmente, muitas pessoas tiveram más experiências com a abordagem dedutiva, generalizada, e
tornaram-se imunes a ela. A única maneira pela qual essas pessoas conseguirão ver o Cristo real será recebendo
ajuda do evangelho numa hora de necessidade, através de um amigo interessado.
O método indutivo é um processo que começa com as coisas específicas da vida do indivíduo. Durante o
processo, o evangelista atravessa no mínimo cinco etapas:
1. Relaciona-se com a singularidade e humanidade do não-cristão tendo em vista ajudá-lo a resolver um
problema.
2. Descobre as questões religiosas e as necessidades do não-cristão ao qual o evangelho será Boas Novas.

89 Segundo Joseph C. Aldrich. Amizade: a chave para a evangelização. Edições Vida Nova, 1992 (reimp.), p. 79-81.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
81
3. Compartilha como o evangelho se relaciona àquela determinada carência e, finalmente, aborda a sua
necessidade real.
4. Advoga um compromisso que tornará operacional a solução pelo evangelho através do Espírito Santo.
5. Torna-se empático90 aos sentimentos e pensamentos do não-cristão, à proporção que ele avança no
processo de compromisso.
O que devo fazer para ganhar o meu amigo para Cristo? Devo-me concentrar nele, visando relacionar as
Boas Novas a um ponto de necessidade relevante em sua vida. Para isso, inicio o processo ilustrado acima. A
qualquer tempo, devo estar operando em uma dessas etapas. O processo pode envolver meses ou uma questão
de horas. O tempo, porém, não é tão importante como o processo em si.

 MÉTODO DIRETO E INDIRETO


a) Direto. Através de perguntas:91
— ―Você está bem com Deus?‖
— ―Você já tem certeza de vida eterna?‖
Veja no exemplo de Filipe e o Etíope, uma série de perguntas e respostas (At 8:30-35).
b) Indireto. Aproveitando circunstâncias ocasionais como: situação mundial à luz das profecias, guerra
fria, guerra atômica, terremotos, acidentes, catástrofes, doenças, epidemias, progresso da ciência, mortes,
política, crises pessoais, crimes, dificuldades etc.
O apóstolo Pedro aproveitou a circunstância da cura do coxo para pregar (At 3:1-26). Paulo aproveitou o
fato de o povo de Atenas ser supersticioso, para anunciar a Palavra (At 17:15-34).

 A EVANGELIZAÇÃO ENCARNACIONAL/RELACIONAL 92
Um cristão torna-se boas novas à proporção que Cristo ministra através de sua disposição em servir. À
medida que seus amigos ouvem a música do evangelho (presença), tornam-se predispostos a reagir às suas
palavras (proclamação) e, então, esperançosamente, são persuadidos a agir (persuasão).
A persuasão é impossível sem algum tipo de proclamação. A evangelização envolve tanto boas obras
como boas palavras. A proclamação pode envolver evangelização em massa, literatura, comunicação em massa,
ou uma confrontação pessoal. A dimensão da proclamação no processo de evangelização é absolutamente
essencial. Como podem crer a menos que ouçam?
As dimensões proclamadoras da evangelização raramente se encontram no vácuo. Uma pessoa ouve
porque foi amada. As pessoas não se importam com o quanto sabemos (nossa proclamação) até saberem quanto
nos interessamos (nossa presença). Obviamente, o segundo andar (proclamação) apóia-se no primeiro
(presença). A presença envolve tanto a imagem coletiva da igreja na comunidade como a vida do indivíduo
relacionando-se com o não-cristão.
Quando aqueles que possuem a natureza de Deus começam a expressá-la, a presença se desenvolve e o
palco está pronto para a proclamação e a persuasão.
A presença estabelece a validade do que está sendo proclamado. Só a presença não é o suficiente.
Ninguém é suficientemente bom para deixar apenas a sua vida falar por Cristo. Palavras (proclamação) são
necessárias para mostrar Cristo. Todavia, o não-cristão precisa sentir o impacto do evangelho (boas novas de
que Cristo ama as pessoas), e não apenas ouvi-lo. Quando o amor é sentido, a mensagem é ouvida. Mas, a
presença que nunca leva à proclamação é um extremo a ser evitado. Uma presença sadia aumenta o impacto da
proclamação do evangelho porque ajuda a predispor as pessoas a identificarem o evangelho como Boas-Novas.

90
Empatia: Conhecimento de outrem por simpatia; procedimento que vis compreender outrem se colocan-
do em seu lugar. Estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que esta
está sentido.
91 Segundo o Sunday School Times, o Senhor Jesus fez 154 perguntas durante o seu ministério. Veja algumas: Mt 16:13,15; 21:40;
Mc 3:1-5; 10:18; 10:35-40; Lc 2:46; 10:36; Jo 21:15-17.
92 Modelo retratado por Joseph C. Aldrich, em Amizade: a chave para a evangelização. Edições Vida Nova, 1992 (reimp.), p. 73-79.
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 DESCOBRINDO UM ESTILO PRÓPRIO NA EVANGELIZAÇÃO


Deus fez você sob medida, com sua combinação única de personalidade, temperamento, talentos, educa-
ção e dons, e deseja equipar e usar esse conjunto na missão de alcançar este mundo perdido. Que tipo de papel
Deus tem para você?
Veja, a seguir, como Deus equipou seis pessoas no Novo Testamento para atender a diferentes
necessidades de expansão. No processo, descobriremos seis estilos bíblicos de evangelização. 93 À medida que
cada um deles for sendo descrito, verifique qual se aplicaria melhor à sua personalidade.

ESTILO INTELECTUAL
Em Atos 17, o apóstolo Paulo tentava disseminar a mensagem de Cristo a filósofos e eruditos da cidade
de Atenas. Paulo argumentava nas sinagogas com os judeus e gentios devotos e nas ruas com aqueles que se
dispunham a ouvi-lo. Alguns dos filósofos conversavam e debatiam com ele. Ao ler essa passagem, você
descobrirá que Paulo usou uma abordagem engenhosa. Fez referência a um altar da cidade dedicado ao ―Deus
desconhecido‖ e depois inseriu esse elemento no corpo de sua mensagem. Paulo usou um método intelectual.
Uma abordagem confrontadora não iria funcionar com esses filósofos. Eles precisavam de um enfoque
intelectual que fosse compatível com seu raciocínio, e Paulo era o homem certo para a tarefa.

93 Resumidos por Bill Hybels, em Evangelização: Agindo como sal e luz no mundo. Editora Vida, 2000, p. 37-50.
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ESTILO CONFRONTADOR
O apóstolo Pedro tinha um estilo confrontador de evangelização. Em Atos 2:14, ele se põe de pé, ergue a
voz e diz: ―Escutai as minhas palavras‖. Depois, ele lhes diz que crucificaram o homem errado, o Filho de Deus.
Então, exorta a multidão a se arrepender, dizendo ―Salvai-vos desta geração perversa‖.
O estilo confrontador de Pedro era um ataque frontal que exigia confiança e coragem. E era eficaz! Mais
de três mil pessoas creram em Cristo depois de Pedro ter anunciado o evangelho. Algumas pessoas só serão
tocadas se confrontadas corajosa e diretamente com a mensagem de Cristo. Felizmente, alguns indivíduos são
especialmente dotados por Deus da capacidade de usar esse estilo confrontador de evangelização.

ESTILO TESTEMUNHAL
No livro de João (cap. 9), encontra-se a história de um cego miraculosamente curado por Jesus. Depois de
recuperar a visão, as pessoas não paravam de perguntar quem o havia curado. Questionavam-no, dizendo: ―Teria
sido o Messias, o Filho de Deus, quem o curou?‖ Ele admitiu que não tinha todas as respostas às perguntas
deles, mas disse o que sabia com certeza: ―Eu era cego e agora enxergo‖. Era como se ele dissesse: ―Tirem suas
próprias conclusões. Eu já tirei a minha; sei muito bem quem foi‖.
Esse é um exemplo do enfoque testemunhal da evangelização. Alguém vivencia uma transformação
miraculosa pela obra de Cristo e depois simplesmente busca oportunidades de contar sua história aos outros.
Não são pessoas confrontadoras nem se inclinam à abordagem intelectual, mas podem, mesmo assim, contar sua
própria história. Podem dar seu testemunho e dizer: ―Eu era espiritualmente cego, mas agora posso ver. Cristo
mudou minha vida. E Ele também pode mudar a sua‖.

ESTILO INTERPESSOAL
Quando Mateus abraçou a fé, percebeu que seus amigos publicanos ainda não conheciam Jesus e teve a
idéia de dar um banquete, um ―banquete com propósito‖. Foi uma reunião estrategicamente planejada para
colocar seus amigos frente a frente com Jesus e os discípulos.
Embora todos precisemos cultivar relacionamentos com aqueles que esperamos alcançar, os indivíduos
dotados de um estilo interpessoal se especializam nessa área. São capazes de cultivar relacionamentos mais
profundos com muitas pessoas, tornando-se seus parceiros na jornada em busca de Cristo.

ESTILO CONVIDADOR
Em João 4, encontramos a famosa história da mulher à beira da fonte. Nesse capítulo, vemos outro estilo
de evangelização. Convencida de que estivera conversando com o Filho de Deus, e em vez de tentar contar tudo
em suas próprias palavras, a mulher deixa os jarros de água e corre à cidade, convidando as pessoas a ouvir o
que Jesus tinha a dizer.
Algumas pessoas simplesmente não são tão desenvoltas quanto outras na hora de falar. Não têm muita
confiança em si mesmas, e se sentiriam constrangidas explicando o evangelho aos outros. Porém, podem ainda
sentir-se mais à vontade convidando um amigo a ouvir outra pessoa pregar ou cantar algo sobre Jesus. A mulher
samaritana exerceu uma grande influência simplesmente por convidar muitas pessoas a conhecer e ouvir Jesus.

ESTILO SERVIDOR
Em Atos 9, lemos a história de uma mulher chamada Dorcas, que prestou um grande serviço a Cristo em
sua comunidade, em função das obras de caridade que fazia habitualmente. Dorcas fazia roupas para os pobres e
esquecidos de sua cidade, distribuindo-as em nome de Cristo. Essa é a evangelização ―servidora‖. Dorcas servia
as pessoas e, ao fazê-lo, ela as encaminhava àquele capaz de perdoar e transformar. Talvez ela jamais tenha feito
um sermão e é bem possível que jamais tenha batido a uma porta ou distribuído material impresso. Mas usava
seu amor e serviço como veículos para anunciar o Evangelho.
Bill Hybels: Ninguém se encaixa perfeitamente em apenas um destes estilos. Na verdade, você
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
84
provavelmente encontrará oportunidades de utilizar todos eles. O ponto é que Deus providenciou diversidade
para seu corpo; e cada membro é mais forte em alguns estilos do que em outros. Você pode descobrir um estilo
número sete ou oito, e isso será igualmente bom.
O importante é saber que cristãos mais contagiantes são os que aprenderam a trabalhar baseados no estilo
que Deus lhes deu. Eles identificam métodos que funcionam de acordo com sua personalidade, e então os
desenvolvem e colocam em ação para o avanço do Reino. Também formam equipes com outros cristãos que têm
estilos diferentes, para que suas forças, combinadas, possam ser utilizadas para alcançar qualquer tipo de pessoa.

B) Princípios para Partilhar a Fé


O evangelista deve desenvolver a sabedoria de abordar as pessoas. Cada pessoa é um universo complexo,
com seu lastro cultural, com suas crenças, com seus conceitos, com suas ―filosofias de vida‖, com seus
melindres e, sobretudo, com sua personalidade própria, que não é igual a de ninguém mais. Da maneira como
são tocados, podem reagir negativa ou positivamente ao evangelho. Assim, é preciso que o evangelista, antes de
mais nada, dependa totalmente do Espírito Santo e, ao lado disso, desenvolva um conhecimento profundo da
natureza humana. Damy Ferreira relaciona os seguintes itens da abordagem:94

1. Comece de uma motivação natural. Cada pessoa é como um canteiro de flores. Pôr a mão nesse canteiro
pode amassar flores e também ferir-se com espinhos. Portanto, deve-se fazer a abordagem de tal maneira
que não haja nenhum prejuízo na sensibilidade da pessoa. O exemplo de Jesus com a mulher samaritana é
clássico: ―Dá-me de beber‖.
2. Comece onde a pessoa está. A habilidade de ligar uma abordagem começando naquilo que a pessoa está
fazendo, ou falando, ou vendo, e fazer uma transição para a mensagem evangelística, é algo
imprescindível a quem quer evangelizar. O eunuco estava lendo a Bíblia e Filipe começou bem:
―Entendes, porventura, o que estás lendo?‖ (At 8:30). E daí, se a pessoa está lendo o jornal, comente a
notícia; se está cuidando de uma criança, brinque com a criança; se está fazendo o cooper de manhã,
corra com ela e converse.
3. Desenvolva por alguns momentos a conversa que foi iniciada. A naturalidade deve prosseguir. O
evangelista não deve abordar de um ponto natural e forçar a passagem para o seu assunto. Muitas vezes
teremos que gastar horas, dias e até semanas sem entrar no assunto principal. Não podemos dar um
―tranco‖ no processo de abordagem.
4. Não exagere o interesse pela pessoa. Temos que nos comportar como se não estivéssemos tão interessados
pela pessoa, como um vendedor que quer vender o seu produto. É verdade que queremos ganhá-la para
Cristo. O que estamos fazendo vem de Deus e poderá mudar a vida da pessoa, mas se ela perceber que é
esta a intenção, poderemos perder o seu interesse e afastá-la do nosso contato.
5. Faça a transição, o mais natural possível, para o plano da salvação. O melhor é mover na direção de
mostrar a necessidade espiritual da vida humana ou a necessidade de Deus, ou até mesmo a necessidade
de religião sadia. Por exemplo: abordando uma pessoa que está cuidando de flores, que tal falar da
sabedoria do Criador em criar tantas flores, cada qual mais linda do que a outra? E depois lamentar que,
não obstante serem tão lindas, duram tão pouco e são tão frágeis. Num outro estágio, poder-se-á recorrer
à Bíblia e mostrar Salmo 90:5, I Pedro 1:24-25 e outros textos correlatos. Só nestes dois textos já temos o
caminho da evangelização. O texto de Pedro está ligado à idéia da regeneração (1:23) e não poderia haver
mensagem mais adequada a este tipo de abordagem.
6. Se a pessoa mostra-se interessada no assunto da salvação, passe para a fase definitiva. Se está na rua, num
projeto de salvação, convide-a para ouvir a exposição do plano da salvação. Se tal não é possível no
momento, marque uma hora no mesmo dia ou em dias posteriores. Pode até ser uma visita em sua casa ou
um encontro na hora do almoço. Dependendo da pessoa, que tal convidá-la para um almoço ou um
jantar?
7. De acordo com o que se pôde captar da condição cultural da pessoa, escolher um dos esquemas já

94 Damy Ferreira. Evangelismo Total. 2001, p. 117-118.


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85
conhecidos de exposições do plano da salvação.
8. Expondo o plano, a partir do ponto que a pessoa ainda não conhece. Pode ocorrer por exemplo, que a
pessoa já tenha profunda convicção sobre o pecado e até sobre o evangelho. Logo o evangelista perceberá
de onde deve começar com cada pessoa.
9. Ao tratar do problema do pecado, é melhor abordar o lado da experiência humana com o pecado, em vez
de mencionar o lado bíblico em primeiro lugar. A questão é que, em geral, as pessoas não gostam da
palavra pecado. Isto não importa. O evangelista pode mudar o rótulo e falar apenas do veneno.
10. Uma vez que a maioria das pessoas já tem alguma consciência do problema do pecado, a melhor maneira
de começar o plano é pelo amor de Deus (Jo 3:16).
11. O plano da mão, muito apropriado para crianças e pessoas com menor escolaridade, é muito positivo.
12. Se as condições forem favoráveis, use a Bíblia e permita que a pessoa acompanhe a leitura dos textos.
Caso contrário, use os textos de memória. O evangelista deve aprimorar-se na memorização de muitos
textos bíblicos. Não se deve esquecer que a Palavra de Deus é viva e eficaz e sua citação é
imprescindível. Seu testemunho pessoal será de grande valor, mas não substituirá a citação da Palavra de
Deus.
13. Evite que a pessoa interrompa o assunto na fase da exposição do plano ou que desvie o assunto para
controvérsias doutrinárias das seitas. Insista na exposição do plano. A semente está sendo posta na terra,
que agora está aberta, e se ela ficar ao ―pé do caminho‖, as aves do céu virão e apanharão e ela nunca
germinará (Mt 013:4).
14. Dentro do possível, tente aplicar ilustrações de acordo com o seu nível cultural. Lembre-se dos princípios
de comunicação que aprendemos em capítulo próprio neste livro.
15. Após a exposição, verifique se a pessoa entendeu todo o plano. Faça um breve resumo de tudo para que o
assunto se torne totalmente claro para ela.
16. Diante das ponderações da pessoa sobre um ou outro ponto, reargumente os pontos em dúvida ou que não
foram bem assimilados. Lembre-se da experiência de Filipe com o eunuco: ―(...) como poderei entender,
se alguém não me ensinar?‖ (At 8:31). O evangelho precisa ser entendido, e emoção só não resolve.
17. Leve a pessoa a tomar uma decisão. Faça-o de maneira bem natural, mas bem firme e incisiva.
18. Ensine-a a orar. Faça uma oração de decisão com ela.
19. Ore com ela, agradecendo a Deus sua decisão.
20. Não esqueça de preencher uma ficha de decisão para acompanhá-la no processo de integração.

MAIS PRINCÍPIOS PARA UMA APRESENTAÇÃO PESSOAL DO EVANGELHO95


1. Ao compartilhar o evangelho, estamos na realidade convertendo fatos bíblicos em benefícios para a pessoa.
Jesus não veio para condenar o mundo. A justificação dos pecados oferece benefícios inestimáveis para as
pessoas. Além de ser a provisão de Deus para livrar o homem do julgamento, é a chave da libertação da
culpa com todas as suas ramificações interpessoais.
2. O evangelista eficaz trabalha para desenvolver uma atmosfera de estímulo e encorajamento à comunicação.
Apenas sete por cento de uma comunicação perfeita correspondem à linguagem verbal, trinta e oito por
cento destinam-se ao tom da voz e cinqüenta e cinco por cento são totalmente não verbais. Se você criar
uma atmosfera defensiva, o não-cristão passará a maior parte de seu tempo tentando proteger-se tanto de
você como da sua mensagem.
3. O evangelista eficaz transmite empatia, perguntando e ouvindo atentamente. Empatia é a habilidade de
tornar-se um cidadão naturalizado no mundo de uma outra pessoa. O evangelista eficaz usa empatia para
ajudar a descobrir o problema do não-cristão e procurar as soluções precisamente no evangelho.
Geralmente as pessoas não têm medo de crer, mas de serem enganadas. As perguntas são instrumentos
necessários para o diagnóstico, porque ouvem-se respostas apenas às questões lançadas. A comunicação
não está completa, antes que o receptor ouça com entendimento. As perguntas do evangelista não somente
ajudam a descobrir as dúvidas e interesses da pessoa, mas também transmitem a sua atenção. Usadas como

95 Sugeridos por Joseph C. Aldrich. Amizade: a chave para a evangelização. Edições Vida Nova, 1992 (reimp.), p. 202-209.
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ferramenta para diagnosticar as perguntas bem elaboradas, ajudam a estabelecer uma relação entre o que é
e o que deveria ser. Perguntas orientadas pelo Espírito podem desenvolver a convicção (relação), que, por
sua vez, induz o não-cristão a procurar a solução do evangelho. Ouvindo atenciosamente e sendo
habilidoso nas perguntas, o evangelista transmitirá empatia.
4. A comunicação perfeita é marcada por humildade e mansidão.
5. Se você não souber a resposta a uma pergunta, reconheça-o, não adote a atitude de ―eu sei tudo‖. A meta
não é sufocar o não-cristão com fatos. Freqüentemente, tentamos comunicar muitos fatos em pouco tempo.
6. Os evangelistas eficazes eliminam tudo que for ofensivo, exceto a ofensa da própria cruz.

ALGUMAS RECOMENDAÇÕES
 Medite e conheça a Palavra de Deus. Este é um dos fatores do crescimento espiritual e da prática de ganhar
almas (Mt 12:34).
 É preciso ter conhecimento não só quanto à mensagem, mas também quanto ao conteúdo em si, ou seja,
suas divisões, estrutura etc. (II Tm 2:15).
 Tenha amor e espírito de sacrifício, compaixão pelo mundo perdido (Gl 4:19).
 Deve ir ao encontro do pecador. Não se deve esperar que o pecador venha a seu encontro, pois, é nosso
dever ir ao seu encontro, pelo exemplo de Jesus, o pescador tem que se colocar no local da pesca, se quiser
apanhar algum peixe (Mt 4:18-20).
 Não atacar nem condenar. O pecador precisa ouvir a mensagem de amor e perdão (Jo 8:11).
 Evite discussão. Você nunca vencerá pela discussão. Quem perde uma discussão fica ferido no seu amor
próprio (Tt 3:9; Rm 14:1).
 Ore sempre. A oração abre portas, e não precisa de passaporte (At 1:14; 10:1-2).
 Tenha uma boa apresentação pessoal.
 Procure falar claro e com boa dicção.
 Procure manusear bem a Bíblia. Saber onde estão as passagens e localizá-las com rapidez.
 Tenha fé na operação da Palavra de Deus. A nós compete anunciar a Palavra; a Deus compete cooperar –
Deus vela para cumprir a Sua Palavra!

5) QUANDO E ONDE EVANGELIZAR


QUANDO EVANGELIZAR
 Todos os dias (At 5:42)
 Enquanto é dia (Jo 9:4)
 Aproveitando as oportunidades (II Tm 4:2) – É fácil fazer as suas próprias oportunidades se de fato
quer. Para dizer uma coisa, pode usar o telefone, chamando amigos e estranhos da mesma forma para
falar-lhes acerca de Jesus. Pode encontrar oportunidades nos jornais, tomando os nomes e endereços
das pessoas nas notícias. Outro meio é convidar amigos para jantar em casa, e falar com eles a respei-
to de Cristo. Há possibilidades para escrever cartas aos seus queridos, amigos, e até estranhos. Tam-
bém se pode fazer oportunidades levando pessoas para assistir reuniões evangélicas; então, depois,
perguntar-lhes qual foi sua opinião a respeito da mensagem. Pode-se distribuir folhetos de evangelis-
mo, fazendo comentário sobre o conteúdo.96
Pode fazer oportunidades visitando os doentes no hospital, tanto os conhecidos como os desconhecidos.
Pode visitar as pessoas que perderam seus entes queridos. Como irá encontrá-las gratas por uma mensagem de

96
Roberto Sumner: — Quantas oportunidades tenho feito para mim mesmo em que pude dar teste-
munho, dando para alguém o pequeno livro evangélico que escrevi, ―O Céu pode ser seu‖, comen-
tando: ―Aqui está um livrinho tratando do assunto mais importante do mundo: ter certeza do Céu. Já
sabe se irá ao Céu quando morrer?‖
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esperança além do túmulo! Oportunidades podem ser feitas visitando novos vizinhos, dando folhetos nos coleti-
vos, nos trens e nas esquinas, indo de casa em casa, visitando. Pode com calma e sem hesitação falar depois da
bênção na igreja às almas que parecerem perturbadas e não responderem publicamente ao apelo.

ONDE EVANGELIZAR
O campo do ganhador de almas é o mundo (Mt 13:38; Jo 4:35; Lc 8:4-15).
Disse Jesus: ―(...) e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os
confins da Terra‖ (At 1:8). Com base nesse texto bíblico, Valdir Bícego 97 identifica e situa o campo do
ganhador de almas nos seguintes lugares:

1. Para o crente em particular: ―Jerusalém‖


 A casa onde reside: evangelização de familiares
 A rua onde mora: evangelização de vizinhos
 O transporte que utiliza: evangelização de passageiros
 O local onde trabalha: evangelização de companheiros
 A escola onde estuda: evangelização de colegas
 O comércio onde faz suas compras: evangelização de conhecidos
 O templo onde congrega: evangelização de visitantes
 As visitas que faz: evangelização de parentes, colegas etc.

2. Para a igreja local: ―Jerusalém, Judéia e Samaria‖


 O bairro onde a igreja se localiza: evangelização por todas as ruas e casas.
 A cidade onde se situa: evangelização visando atingir todos os bairros e vilas.
 Regiões circunvizinhas: evangelização de bairros, vilas, povoados etc.
 Locais de aglomeração: evangelização nas feiras-livres, cemitérios, praças de esportes, teatros e
exposições, filas de ônibus, metrô, praças públicas etc.
 Estabelecimentos de ensino: evangelização nas universidades, escolas etc.
 Casas de saúde: evangelização em hospitais, asilos, casas de recuperação, sanatórios etc.
 Locais de diversão: evangelização em clubes, cinemas, teatros, estádios, restaurantes etc.
 Presídios e casas de detenção: evangelização dos encarcerados.
 Religiões e seitas: evangelização de espíritas, seitas orientais, mórmons, testemunhas-de-jeová e
tantas outras.
 Grupos étnicos diversos: evangelização de japoneses, coreanos, judeus, indígenas e tantos outros.
 Os desviados: evangelização para trazê-los de volta à casa paterna.
 Grupos abastados: evangelização de empresários, executivos, políticos etc.
 Regiões menos alcançadas de nossa pátria: evangelização nos sertões nordestinos, regiões ribeirinhas
do Norte, favelas etc.

97 Valdir Bícego, Manual de Evangelismo. CPAD, 1997 (6ª ed.), p. 33-35.


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3. Para a igreja universal: ―os confins da Terra‖
 Todo o mundo (Mc 16:15)
 Todas as nações (Mt 28:19)
 Toda a criatura (Mc 16:15)
 Todas as gentes e raças (Mc 13:10)
 Todas as aldeias (Mt 9:35)
 Em todo o lugar (At 17:30)
 Confins da Terra (At l:8)

6) ESTRATÉGIAS E FERRAMENTAS DO EVANGELISMO


Evangelismo como estilo de vida: Tem havido um esforço para criar nos discípulos uma espécie
de hábito de evangelizar. A isso, chama-se ―evangelismo como estilo de vida‖. Isto quer dizer que a
pessoa é despertada para estar atenta e aproveitar todos os momentos e todas as oportunidades para
testemunhar de Cristo. Por onde passam, cheiram a evangelismo. Não perdem nenhuma oportunidade
de testemunhar. Ninguém passa por elas sem que leve, pelo menos, um folheto. Isto é maravilhoso.

ESTRATÉGIAS DIVERSAS
Inúmeras vezes surgem situações diante de nós que bem poderão ser aproveitadas para evangelizar
alguém. Um encontro de negócios, um pedido de informação, um acidente, uma notícia pela TV — tudo pode
ser transformado em oportunidade para evangelismo pessoal. Basta que o evangelista esteja atento.
Além das técnicas de abordagem em evangelismo pessoal, que podem nos ajudar em diversas situações,
podemos trabalhar com algumas estratégias especiais.

1. Iniciando com uma amizade


É a evangelização feita através da amizade, sempre aproveitando as oportunidades para falar de Cristo ao
amigo.

2. Testemunhando
É mostrar pela vida o poder salvador e transformador do evangelho, identificando-se como testemunha
fiel do Senhor e Salvador Jesus Cristo. O testemunho poderá ser verbal ou não-verbal.

3. Em conduções coletivas
Num ônibus urbano em que se viaja, num trem, numa barca, pode-se falar à pessoa que está ao nosso
lado. A operação pode começar com a entrega de um folheto. Daí, o assunto pode surgir. Principalmente em
cidades em que o povo está sempre pronto a conversar, será sempre fácil iniciar uma conversa evangelística. A
mesma oportunidade surge numa viagem interestadual, de ônibus, ou de avião.

4. Na hora do almoço
Em grandes fábricas, em que os trabalhadores almoçam no local, quer em restaurantes da empresa, quer
em marmitas trazidas de casa, há sempre aquela meia hora de descanso e bate-papo entre colegas. Meu pai
trabalhava em construção civil e constatei o valor desta estratégia pelo seu exemplo. Ele ganhou muitos colegas,
ao longo de sua vida, conversando na hora do almoço.
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5. Nos supermercados
Quanta oportunidade se tem de conversar dentro de um supermercado. Comentários, a inflação, os preços
altos e outros assuntos. Pode-se perfeitamente deixar o recado de Cristo numa oportunidade assim.

6. Salões de beleza e cabeleireiros


Às vezes temos que passar bom tempo numa barbearia, num cabeleireiro ou num salão de beleza Muitas
vezes temos que suportar certos assuntos inconvenientes. Que tal criar um ambiente de evangelismo e envolver
algumas pessoas?

7. O seu lar aberto a estudos bíblicos evangelísticos


Estratégia amplamente descrita por Joseph C. Aldrich, no capítulo 9 do livro Amizade: a chave para a
evangelização.

8. O seu vizinho não-cristão. Algumas diretrizes:


a) Visualize o interesse dos seus vizinhos por Cristo
b) Faça contatos iniciais
c) Estabeleça um relacionamento crescente
d) Convide vizinhos para irem a sua casa
e) Cultive interesses comuns
f) Aproveite os dias de feriados
g) Esteja pronto a ajudar vizinhos que estão deprimidos
h) Dê algo para eles lerem ou ouvirem
i) Procure uma maneira adequada para integrar cristãos e não-cristãos. Vizinhos não-cristãos podem ser
convidados para os seguintes eventos, aulas ou atividades, sabiamente organizados a fim de causar
impactos evangelísticos:
— chá e jantar evangelísticos
— estudos bíblicos nos lares
— filmes cristãos
— lançamentos de discos evangélicos
— aulas de artes patrocinadas pela igreja
— curso para gestantes
— bazares beneficentes
j) Plante sementes para a salvação. A sua amizade pode progredir até o ponto de vizinhos não-cristãos
realmente perguntarem a você como podem se tornar cristãos. Esteja pronto para compartilhar as
palavras do Evangelho.

A VISITA EVANGELÍSTICA
A visitação pode ser programada, pode surgir naturalmente numa nova amizade ou pode surgir do nosso
próprio relacionamento profissional. 98 Seja por qual motivo for, o evangelista precisa ser sábio, ao introduzi-se

98
O pastor Damy Ferreira narrou os dois seguintes fatos: ―Fui a uma companhia de letreiros luminosos encomendar uma placa
para o meu escritório. Na ocasião, exercia a advocacia provisoriamente. No balcão, descobri que a senhora que me atendia, esposa do
proprietário, era crente, mas o marido, hostil ao evangelho, nem a permitia ir à igreja. Encomendei o trabalho e prossegui no
relacionamento com aquele empresário. Ficamos amigos e até usou meus serviços. Logo convidei-o, e à família, para um almoço em
minha casa. Ele foi e gostou. Não falamos de religião. Então sentiu-se na obrigação de convidar-me para ir à sua casa num domingo
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no ambiente do lar. Em alguns casos, não poderá abordar, de imediato, o assunto evangelístico. Muitas vezes
temos que ganhar pessoas para nós, para depois tentar ganhá-las para Cristo.

CINCO PASSOS PARA INTRODUZIR UM ENCONTRO EVANGELÍSTICO 99


Muitos não sabem como iniciar uma conversa com uma pessoa não-crente. Outros sabem como iniciar a
conversa, mas não sabem como levar a conversa ao tema do evangelho. E outros sabem como fazer isso, mas
não sabem diagnosticar o estado espiritual da pessoa com quem estão compartilhando. O propósito dos cinco
passos, a seguir, é dar confiança a você para introduzir o evangelho a qualquer pessoa em qualquer momento. 100

1. A VIDA SECULAR DA PESSOA


O propósito deste primeiro passo é estabelecer uma ponte de amizade através do conhecimento da vida
secular da pessoa que você quer evangelizar.
A. Observe (casa, família, estudo, esportes etc.).
B. Faça perguntas gerais que conduzam a respostas relacionadas com a vida da pessoa.
a) Você assistiu o jogo da seleção?
b) Você estuda? Trabalha? Ou faz os dois?
c) Há quanto tempo você mora aqui? Gosta de morar aqui?
C. Escute, preste atenção ao que a pessoa diz.
a) Escutar não é apenas esperar sua vez de falar ou pensar no que falará depois.
b) Pode mover a cabeça afirmativa ou negativamente.
c) Repita palavras ou frases que a pessoa diz.
d) Olhe a pessoa nos olhos, mostre que está prestando atenção.
D. Faça elogios sinceros.
E. O clima, durante os passos da Introdução, precisa ser leve, para descontrair o ambiente.

2. SUA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA


A. Se você está fazendo uma visita marcada, ou acompanhamento a alguém que visitou a igreja, torna-se
natural falar sobre a experiência religiosa da pessoa visitada.
B. Preste atenção à opinião dela quanto à igreja.
C. Você pode perguntar:
a) ―O que você gosta de fazer em seu tempo livre? O que você faz aos domingos?‖
b) ―Você freqüenta alguma igreja? Com que freqüência?‖
c) ―Você é membro da igreja X?‖ (a igreja que ele mencionou).
d) ―Você sempre freqüentou a igreja X?‖
e) Se houve mudança de igreja, você pergunta: ―O que o levou a transferir-se para essa igreja?‖
D. Nunca tome atitude crítica nem discuta com ele.

seguinte. Fomos. Aí descobriu que eu era pastor, mas já estava acostumado comigo e prosseguimos. Dois meses depois ele estava
convertido e sua esposa estava regendo o coro da nossa igreja. Um grande e lindo letreiro luminoso foi posto na fachada do no sso
templo — agora ele próprio queria fazê-lo. Pelo sistema do almoço em casa, quase na mesma ocasião, consegui ganhar para Cristo um
médico neurologista, criando oportunidades com um relacionamento natural.‖
99 Adaptado de Evangelismo Explosivo, por David E. Kornfield, em Crescendo no Evangelismo Pessoal, p. 25-28.
100 O roteiro que se segue é baseado em uma visita. Nesses casos, as visitas são feitas mediante contatos anteriores, ou porque a

pessoa visitou a igreja, participou de um grupo familiar, ou porque alguém da equipe é amigo ou conhecido da pessoa visitada.
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E. Comece a avaliar mentalmente a condição espiritual da pessoa.
a) É religioso? Possivelmente legalista? Devoto? Afastado?
c) É não-religioso, gostando dos prazeres sociais?
d) É materialista? Possivelmente ferido? Questionador? Ateu?

3. NOSSA IGREJA
(Compartilhar sobre sua igreja é opcional, se você não estiver representando a igreja nem fazendo uma visita
oficial da igreja).
A. Descubra a opinião e impressões que tem de nossa igreja. Se já a visitou, pode perguntar:
a) ―Como foi que você chegou à igreja?‖ b) ―Quem você conhece na igreja?‖
c) ―Como lhe pareceram as pessoas da igreja?‖ d) ―Gostou do culto?‖
B. Os incrédulos estarão mais preparados para receber a visita quando:
a) Já participaram de uma igreja em que os cultos foram significativos;
b) O povo da igreja foi amigável, receptivo.
C. Uma experiência positiva o desperta a querer saber de onde vem tal ambiente gostoso.
D. A conversa sobre a igreja leva a uma transição natural para compartilhar seu testemunho.

4. NOSSO TESTEMUNHO
É o quarto passo de introdução a um encontro evangelístico. Seu testemunho leva a uma transição para as
duas perguntas diagnósticas que são sugeridas a seguir.

5. COMPARTILHAR DUAS PERGUNTAS DIAGNÓSTICAS


São o quinto e último dos passos da introdução a um encontro evangelístico. As duas perguntas do
Evangelismo Explosivo são:
A. Você já chegou a um ponto em sua vida espiritual, em que poderia afirmar com certeza que, se
morresse hoje, iria para o céu?
B. Suponhamos que você morresse hoje e comparecesse diante de Deus e Ele lhe dissesse: “Por
que devo eu permitir que você entre no meu céu?” O que você responderia?

RECOMENDAÇÕES A RESPEITO DA VISITA EVANGELÍSTICA101


ANTES DE CHEGAR NA CASA
1. Procure marcar a visita com antecedência, mas se não puder, faça uma visita a alguém conhecido que não
precise ter horário marcado. Se não der para compartilhar o evangelho, aproveite para marcar uma nova
visita para a próxima semana.
2. O ideal é que a equipe de visitação continue sendo a mesma durante todo o treinamento, ainda que, às
vezes, os treinadores façam rodízio.
3. A equipe não deve levar Bíblias grandes. O ideal é levar um Novo Testamento de bolso ou uma tradução
popular que você pode entregar para a pessoa como presente de aniversário espiritual, se ela aceitar a
Jesus.
4. Ore antes de sair e não em frente da casa a ser visitada.
5. No caminho, compartilhe, repita o esboço, decida quem vai dirigir a visita e quem vai compartilhar, etc.

101 Por David E. Kornfield, em Crescendo no Evangelismo Pessoal. Editora Sepal, 1996, p. 28-30.
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AO CHEGAR NA CASA
1. Sua conversa, do lado de fora, deve ser com naturalidade e sobre generalidades pois alguém pode estar
escutando.
2. As mulheres devem estar mais à vista e todos devem ser visíveis ao dono da casa.
3. A aparência pessoal dos membros da equipe deve ser modesta, apropriada e limpa.
4. A pessoa que conhece o visitado introduzirá a equipe. Se a visita não for marcada, pergunte se podem
conversar um pouco. Se disserem não, pergunte se poderiam marcar uma visita para a próxima semana ou
outra ocasião.
5. Se ninguém estiver em casa, deixe um convite da igreja e um folheto simples. Sendo assim, seu esforço
não terá sido em vão.

AO SENTAR-SE
1. Quem for apresentar o evangelho deve escolher o seu lugar primeiro, visando a boa comunicação.
a) Deixando, se possível, uma cadeira vazia para a ilustração da cadeira.
b) Respeitando o assento favorito do visitado.
2. Não se deve criar uma atmosfera de debate com três contra um e sim de uma conversa entre quatro
amigos. A forma de se assentar facilitará isto.
3. Na conversa, se você descobrir que o horário não é bom para os visitados ou se eles não estiverem
prestando muita atenção, pergunte se gostariam que vocês voltassem em outra oportunidade. Peça que
indiquem o melhor horário.

DURANTE A APRESENTAÇÃO, OS OUTROS MEMBROS DA EQUIPE DEVEM:


1. Olhar para quem está falando.
2. Orar pela pessoa que ouve o apresentador, para que não haja distrações e as objeções sejam vencidas.
3. Participar da conversa introdutória sobre a vida secular e experiência religiosa, sem dominar o assunto.
4. Participar da apresentação de acordo com a solicitação do líder e do que foi combinado anteriormente.

AO SAIR DA CASA
1. Tome cuidado para não fazer comentários sobre a visita, em voz alta, em frente da casa.
2. Não ore pela pessoa em frente da casa.
3. No caminho, a equipe deve conversar sobre as coisas boas e as falhas da apresentação. Não perca esta
oportunidade de aprendizagem.

ALGUMAS FERRAMENTAS DO EVANGELISMO


O evangelista pode desenvolver e produzir reservas armazenadas de ferramentas para usar:

1. Literatura (o pregador impresso)


Folhetos, cartas ou periódicos, entregues principalmente em ocasiões oportunas como Natal, Finados,
Semana Santa, Corpus Cristi, Carnaval etc. São ferramentas simples e diretas no encontro face a face na
evangelização.
Folheto evangelístico — É uma breve e eficaz apresentação impressa da mensagem do evangelho.
A distribuição de folhetos pode-se processar individual e conjuntamente:
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Distribuição individual:
a) ter sempre consigo os folhetos devidamente carimbados e em bom estado de apresentação.
b) dizer sempre algo à pessoa, introduzindo brevemente o folheto.
c) a distribuição pode acontecer em qualquer lugar.
Distribuição em equipes:
a) determinar o folheto do dia. Quando distribuímos folhetos sempre numa mesma praça, devemos variar
o tipo e o título dos folhetos.
b) contar os folhetos a serem distribuídos e selecioná-los em molhos ou amarrados de 50 a 100, para
facilitar a contagem posterior. Estatística é bom para avaliação.
c) conhecer bem o conteúdo do folheto.
d) ter em mente que o folheto é uma semente que vai cair na terra.

2. A mensagem magnética e digitalizada


Sermões gravados, músicas e filmes evangelísticos podem ser ferramentas úteis para o evangelista usar
especialmente nas salas de visita, nos retiros da família, nos salões de condomínios, nas prisões, nos lares de
idosos, na praça pública, nos hospitais (um fone para os ouvidos elimina a perturbação do barulho no ambiente
de uma enfermaria).

3. A biblioteca da fé
Livros que abençoam e iluminam a mente são tesouros de preço incomparável, são ferramentas para
edificar a fé, e capacitam o ganhador diligente de almas a preparar os corações dos seus conhecidos, responder
às perguntas e dirimir dúvidas, antes ou depois da conversão deles.
Podem ser comprados individualmente para serem doados ou vendidos a pessoas interessadas; a igreja, ou
qualquer cristão, pode montar uma biblioteca de empréstimo composta de publicações evangelísticas, e circular
os vários volumes entre os convertidos e os contatos. Se um livro é uma bênção para nós, e se o consideramos
importante, devemos compartilhá-lo com outras pessoas.

4. Recenseamento religioso.
É um levantamento estatístico de uma comunidade, através de pesquisa das ruas, casas e pessoas, para
verificar a posição religiosa de cada um e o seu grau de interesse pelo evangelho, com a finalidade de saber
como alcançá-los para Cristo.

7) GRUPOS DE INTERESSE ESPECIAL


A) Tratando com desviados.
O texto, a seguir102, que fala diretamente ao desviado, dá ao evangelista-conselheiro algumas diretrizes
para atuar com pessoas nestas circunstâncias específicas:
Desviar é mudar de direção, afastar do ponto onde se encontrava, mudar a posição, evitar, atalhar,
esquivar, desencaminhar, demover. E desviar-se é, por sua vez, sair da via (do caminho), separar-se, afastar-se,
fugir. O desviado é aquele que fica longe, afastado, apartado.
Se você saiu da Igreja, é um desviado! É claro que você decidiu-se a sair por alguma razão. Talvez a
estrutura eclesiástica ou a forma administrativa não lhe agradaram. Por exemplo, você quis ocupar um cargo e
não foi contemplado ou alguma norma o deixou irritado. Possivelmente, você se acha melhor do que aquelas

102 Redigido por Cláudia Mércia Eller Miranda; publicado na Revista Raio de Luz, edição 94 (julho/1994), p. 29-31.
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pessoas que estão na Igreja. Ou você viu erros, injustiças e falhas humanas. Quem sabe, não houve interação,
reciprocidade e compartilhamento. Talvez a causa disso sejam os problemas pessoais e os envolvimentos de que
você não conseguiu desprender-se. Ou o conflito gerado entre a mensagem que você ouvia dentro da Igreja e as
outras vozes ouvidas fora dela. Você está fora, pela incredulidade e pelo orgulho, ou por um pecado que co-
meteu e não quis expor-se à confissão. Talvez você tenha aprendido a linguagem evangélica, os clichês e os
jargões religiosos e se autodenominou cristão, mas você nunca experimentou a união interior com Deus, em
espírito e em verdade — o novo nascimento. Perdeu o interesse, tornou-se um religioso formal, indiferente e
nominal. Talvez você tenha substituído a Igreja pelos programas evangélicos de rádio e de televisão, achando
que segue Jesus em casa mesmo. Você pode ter passado a seguir os conceitos do coração, afeito às vãs filosofias
humanas, descrendo da Palavra soberana. Você pode até estar chorando, porque se vê nesta condição: não
descambou, não desceu os descaminhos do mundo, não perdeu a fé, mas está fora!
Estar longe causa um sentimento de insatisfação, incomodidade, vazio, dor, ausência e embaraçamento. A
fuga traz permanente incômodo para a alma; ela é um pretexto e um escape precipitado e desastroso. Desviar é
um recurso ardiloso empregado para se esquivar a dificuldades. ―(...) não vos desvieis de seguir o Senhor, mas
servi ao Senhor com todo o vosso coração. E não vos desvieis, pois seguiríeis as vaidades, que nada
aproveitam, nem tampouco vos livrarão, porque vaidades são.‖ I Sm 12:20-21.
Você está sendo chamado à coragem de voltar ao caminho certo, rever a posição e congregar-se com os
irmãos.
Voltar é retornar e recomeçar, é transformar idéias e atitudes, é recorrer e superar a situação difícil que
causou o desvio.
O convite é para você voltar para Deus. Ele é o eixo e é o elo da vida. Ele não é opção mas é o
ingrediente, sem o qual não há vida. ―Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais (...) Pois nele
vivemos e nos movemos e existimos.‖ At 17:25 e 28. Nele está o significado da existência. Deus é Espírito, é
infinito, é único Deus. Ele é onipotente, onipresente e onisciente. É sábio e soberano, santo, justo, fiel, mi-
sericordioso, amor e bondade. ―A minha paz vos dou, não como a dá o mundo.‖ Jo 14:27. Ele propõe uma
superior qualidade de vida. Por isso, a motivação de ir a Deus nunca deve ser o medo do inferno, e sim buscá-Lo
espontaneamente, com adoração e gratidão. O reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo — valores
que se manifestam nas vidas onde Ele reina. São bênçãos para hoje. ―Quanto a mim, bom é estar junto a Deus‖
Sl 73:28.
O convite é para você voltar para a Igreja. Ela é o corpo de Cristo, é coluna e esteio da verdade, é a
expressão da multiforme sabedoria de Deus. A Igreja, na sua perfeita união com Cristo, o seu cabeça, é a força
da manifestação da glória que elevamos ao Pai. ―Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes
chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai
de todos, o qual é sobre todos, por todos e em todos.‖ Ef 4:4-6. A igreja local é um pequeno círculo
(microcosmo) da Igreja universal. É privilégio e responsabilidade do cristão em congregar-se com as finalidades
de admoestar e ser admoestado (Hb 3:13; I Ts 5:11 e 14). Deus não espera que o cristão ande sozinho (I Jo 1:3),
mas que encontre comunhão verdadeira numa comunidade espiritual. ―E era um o coração e a alma da multidão
dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes
eram comuns (...) e em todos eles havia abundante graça.‖ At 4:32-33. Saia do desânimo, do adormecimento,
da decepção, da tristeza, do isolamento. Venha para a Igreja. Existem, sim, pessoas idôneas, com as quais você
poderá compartilhar sua angústia e inconformação. Elas vão entender você, vão chorar a sua dor e vão
estimular, incentivar a sua volta, a sua perseverança e a sua permanência na Igreja. Será uma vida nova,
edificada em Cristo, em sólido crescimento para a maturidade cristã.
O convite é para você voltar à Bíblia. Ela é a Palavra de Deus, a palavra de verdade. A verdade é
santificadora, deve ser reconhecida, crida, obedecida e amada — ―Santifica-os na verdade; a tua palavra é a
verdade.‖ Jo 17:17. É bússola e luz para o caminho, é alimento para a alma. É divinamente inspirada; por isso é
sagrada. A Palavra de dá Deus dá conhecimento sobre o pecado e tem o propósito de conduzir o pecador a
Cristo, dando-lhe a esperança de vida eterna. É o padrão da fé e do dever. ―Errais, não conhecendo as
Escrituras nem o poder de Deus.‖ Mt 22:29. ―Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o manda-
mento do Senhor é puro e ilumina os olhos.‖ Sl 19:8. ―Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, (...) e é apta para
discernir os pensamentos e as intenções do coração.‖ Hb 4:12. ―Examinais as Escrituras, porque pensais ter
nelas a vida eterna. São estas mesmas Escrituras que testificam de mim.‖ Jo 5:39. ―Pois tudo o que é outrora foi
escrito, para o nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos
esperança.‖ Rm 15:4. ―Guarde firme a confissão da esperança, sem vacilar (...).‖ Hb 10:23.
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O convite é para você fechar as portas ao Diabo. Os direitos do Diabo se baseiam na rebelião de suas
vítimas contra Deus. Os que estão longe de Deus acabam seguindo o maligno. Tentados por ele, cumprem suas
concupiscências, são cegados e enganados por ele, caem em suas armadilhas e são perturbados por ele. O Diabo
é presunçoso, orgulhoso, perverso, sutil, enganador, cruel e covarde. Ele torce as Escrituras, opõe-se à obra de
Deus e opera sinais mentirosos. Ele remove a boa semente, semeia o joio, arruína corpo, alma e mente, instiga
os homens a pecarem e usa-os como presas. ―Sede sóbrios e vigiai. O vosso inimigo, o Diabo, anda em
derredor, rugindo como leão, buscando a quem possa tragar.‖ I Pd 5:8. Revesti-vos de toda a armadura de
Deus, para poder ficar firmes contra as ciladas do Diabo (Ef 6:10-19). Só teremos vitória sobre o inimigo se
nos fortalecermos no Senhor diariamente.
O convite é para você sair do sistema dos maus: não andar no conselho dos ímpios, não se deter no
caminho dos pecadores nem se assentar na roda dos escarnecedores; fugir das armadilhas mundanas: más
companhias, falsos deuses, pactos pecaminosos, associações ilegítimas, votos viola-dos — ―Não vos enganeis:
as más conversações corrompem os bons costumes.‖ I Co 15:33. Voltar, antes que a sua consciência fique
cauterizada pela constância no pecado. Resistir à tentação, fugir do mal: ―Filho meu, se os pecadores querem
seduzir-te, não o consintas (...) Porque o desvio dos tolos os matará e a prosperidade dos loucos os destruirá.
Mas o que me der ouvidos habitará seguro, tranqüilo e sem temor do mal.‖ Pv 1:10 e 32-33. ―Porque onde
estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. Ninguém pode servir a dois senhores.‖ Mt 6:21,24.
Devemos rever a escala de valores e identificar os motivos secretos da vida, aquilo que em nós nos leva a fazer
o que fazemos — nossos pensamentos, motivos e obras somos nós mesmos. E diante de Deus somos des-
cobertos: Ele vê nosso íntimo; não fugimos da Sua presença.
Você já sabe que Deus é Deus, que a Igreja é o corpo de Cristo, que a Bíblia é a palavra perfeita, que o
Diabo é seu inimigo e que existe a sedução do mal. Agora este conhecimento precisa motivar você a tomar uma
atitude: voltar.
O arrependimento é o caminho da volta. O amor a Deus se manifesta na obediência: ―Se guardardes os
meus mandamentos, permanecereis no meu amor (...).” Jo 15:l0a. Fé em Cristo inclui obediência: “(...) aquele
que se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.‖ Jo 3:36b. O
arrependimento deve ser acompanhado pela humildade, pela confissão, pela conversão e pelo afastamento do
pecado. ―Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido.‖ Sl 34:18.
―Volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.‖ Is 55:7.

LEITURAS RECOMENDADAS
1. Decepcionado com Deus: três perguntas que ninguém ousa fazer. Philip Yancey. Ed. Mundo
Cristão, 1999 (5ª ed.).
2. Vitória sobre a tentação. Bruce H. Wilkinson (ed.). Ed. Mundo Cristão, 1999.
3. É proibido: o que a Bíblia permite e a igreja proíbe. Ricardo Gondim. Ed. Mundo Cristão, 1999 (2ª
ed.).
4. Igreja: por que me importar? Redescobrindo o prazer da vida em comunidade. Philip Yancey.
Editora Sepal, 2000.
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96

B) Como ganhar seus queridos para Cristo


A mais nobre e excelente obra, e o mais importante trabalho que
podemos fazer para Deus na Terra é trazer outras pessoas,
especialmente aquelas que nos foram confiadas, ao conhecimento
de Deus e do santo evangelho – Martinho Lutero

“Insisto que a transformação amorosa que Cristo opera no coração


humano pode penetrar no cristão e contagiar aqueles com os quais
tem convivência constante, mesmo os de sua própria família.
Cristo produz no homem o que C. S. Lewis chamava de „boa infecção‟, que afeta todos os que
tenham contato com o „infectado‟.”103

Em certos aspectos, ganhar uma pessoa querida para Cristo não é muito diferente de ganhar qualquer
outra pessoa, mas existem alguns pontos que distinguem as duas situações. Por exemplo, se o parente que se
deseja ganhar é um filho, que mora na mesma casa, o relacionamento e o testemunho que damos é diferente do
que teríamos se ele estivesse morando em outro lugar.
Se os pais são crentes novos e não criaram os filhos para Cristo, terão que analisar a situação por esse
prisma.
Se os pais criaram os filhos na igreja e em um lar cristão, a situação aí apresenta outro tipo de dificuldade.
Eles pregam ao filho movidos mais por um sentimento de culpa, e geralmente isso não leva a nada.
Se for o caso de um filho adulto, tentando ganhar os pais para Cristo, temos aqui outro tipo de relacio-
namento familiar que pode causar tensão, quando este filho procura falar aos pais.
E há também o caso de um pai alcoólatra ou viciado em drogas que volta para casa, onde o espera uma
esposa boa e fiel. Ou então um filho rebelde e problemático, cuja vida é totalmente revolucionada por um
encontro pessoal com Cristo.
A seguir, algumas sugestões para pessoas que assumem a tarefa de ganhar para Cristo seus familiares ou
parentes próximos.104

1. Cuidado para não adotar uma atitude de superioridade, como quem diz: “Estou
salvo, agora você também precisa salvar-se”.
A própria natureza da conversão torna a pessoa diferente, melhor, mais santa e mais feliz. E ocorrem
muitas outras mudanças deste tipo. Geralmente, essa diferença é logo notada pelos nossos entes queridos, mas
devemos ter o cuidado de não ostentá-las diante deles. Muitas vezes, por causa de nosso anseio em mostrar a
nossos familiares como estamos diferentes, melhores e mais felizes, fazemos com que se sintam diminuídos.
Essa diferença ocorre num plano espiritual, e nós sabemos disso, mas eles podem pensar que ocorre no plano
social e pessoal.
Pode ser que, de repente, a esposa se sinta como a cabeça da casa. Suas boas obras são ostentadas como
uma forma de comparação com as más obras do marido.
Ou então são os filhos que se utilizam dessa nova vida para levar os pais a sentirem que já não são bons
pais. Esses pais podem pensar que o filho ou filha está querendo dizer-lhes: ―Cristo fez em mim o que vocês não
conseguiram‖.

103 Missionário William Goff (Seminário Teológico Batista de Venezuela), citado no capítulo ―A família na missão de Deus‖, do livro
Fundamentos Bíblico-Teológicos do Casamento e da Família, Editora Ultimato, 1996, p. 147.
104 Sugestões baseadas em Don Wilkerson, Como ganhar seus queridos para Cristo. Editora Betânia, 1981, p. 59-73.
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Pais recém-convertidos podem querer compensar uma falha passada, e, de um momento para outro, como
que mergulham os filhos em trabalhos da igreja e outras atividades cristãs.
Temos que ter cuidado para não mostrar ostensivamente um novo tipo de vida. Isso não quer dizer que
devemos manter silêncio quanto ao que Cristo realizou em nossa vida. Mas significa que devemos deixar que as
ações falem mais alto que as palavras: é melhor mostrar nossa fé, do que berrá-la aos quatro ventos.
Ser crente não é ostentar um botão de lapela com uma frase qualquer sobre Jesus, nem ter no carro um
adesivo plástico, embora não haja nada errado com tais coisas. Ser crente é voltar ―para casa e contar aos teus
tudo o que Deus fez por ti‖. Com nosso amor cristão, nossos atos e nosso caráter, estaremos dizendo aos nossos
entes queridos: ―Sim, eu encontrei a Cristo!‖ E vamos esperar que eles confessem: ―É, eu preciso dele!‖

2. Ao renunciar à “antiga vida”, precisamos ter o cuidado de não dar a impressão de


que estamos rejeitando nossa família, com sua cultura, suas tradições e herança.
Muitos pais temem que os filhos, ao se tornarem crentes, rejeitem não apenas ―o mundo‖, mas a eles
também. Eles enxergam o cristianismo como uma contracultura, ou como uma outra família, outra cultura que
vem substituir a sua. Desse modo, eles vêem Cristo como alguém que lhes está roubando seu próprio sangue.
Até certo ponto, o crente realmente se une a uma nova família. O cristianismo constitui uma cultura em si
mesmo. Tem seu próprio estilo de vida, sua própria música, seus livros, sua linguagem, seus hábitos, lugares de
reunião e eventos especiais — e até seus próprios programas e estações de rádio e televisão. O não-crente não
está acostumado à idéia de uma vida totalmente envolvida em religião, como a do crente. E muitos pais, que são
crentes apenas de nome, podem ter os mesmos problemas que um incrédulo tem com relação a essas coisas.
Quanto mais uma pessoa aprofundar-se nas coisas de Deus, maior é sua separação do mundo. E quando
no ―mundo‖ estão incluídos os pais, irmãos e outros parentes, poderá haver uma separação natural ou mesmo
alienação entre os membros de uma família que são salvos e os que não são. Portanto, o crente não deve dar a
seus familiares a impressão de que eles são pecadores que devem ser evitados. E mesmo que ele não diga isso,
pode dar essa impressão de muitas maneiras. A situação, porém, não poderá ser evitada, se quisermos ser fiéis a
Cristo e ao testemunho, mas podemos manejá-la com sabedoria e compreensão.
Quando vamos a Cristo, não rejeitamos nossa cultura. É verdade que talvez não possamos nos entregar
mais a todas as práticas, tradições e atividades de certa cultura, mas precisamos deixar bem claro para os
familiares e parentes que estamos rejeitando as práticas, e não a cultura, e nem a eles.
Uma pessoa que se converteu deve ter o cuidado de não se desligar das coisas que têm um significado
todo especial para a família. Se há uma festinha, vá. Não fiquemos tão envolvidos com a igreja, ou com as
atividades cristãs ou com os amigos crentes, que não tenhamos mais tempo para participarmos das atividades da
família. Se nos mantivermos afastados das coisas próprias da família, estaremos reforçando a impressão de que
o cristianismo roubou deles uma pessoa que lhes era muito importante — nós.
Em certas ocasiões, talvez seja até mais certo perder um culto ou trabalho da igreja para estar com a
família, tendo em vista nosso testemunho cristão. É; mesmo que eles bebam, contem piadas inconvenientes,
joguem baralho ou pareçam totalmente indiferentes às nossas convicções religiosas. Não precisamos rir das
piadas, nem beber com eles, mas podemos divertir-nos. Quando eles perceberem que não ―estamos com a
cabeça tão no céu que não vemos nada na terra‖, talvez modifiquem o tom das piadas. Uma coisa é certa,
conseguimos manter coesos os laços familiares, e, quando dissermos alguma coisa sobre o Senhor, eles nos
ouvirão.
Ser crente significa estar ―no mundo‖ mas não ser ―do mundo‖. Aplicando esse princípio à família,
podemos dizer que ainda somos ―da família‖ mas não estamos mais ‗na família‖, no que diz respeito a valores e
objetivos de vida. E é bom lembrar também que, por mais que nos distanciemos espiritualmente de nossos
queridos, ainda somos do mesmo sangue, e sempre o seremos. Emocional e culturalmente, a família está ligada
entre si por toda a vida. O membro da família que se converte precisa assegurar aos outros, ou por palavras ou
por atos, que sempre será assim. Agir desse modo é parte de nosso testemunho cristão.

3. Cuidado para não fazer julgamentos severos e injustos.


Obreiros têm trabalhado com jovens viciados em drogas ou em álcool, que saíram de lares rígidos, exa-
geradamente intolerantes, onde os pais nunca cediam em nada. Eram bem intencionados, mas faltou-lhes sa-
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bedoria, pois, sendo cristãos, queriam a todo custo ―enfiar‖ a Palavra de Deus em seus filhos. Pensavam que
estavam fazendo a obra de Deus, ao apontarem todos os erros dos filhos. Na maioria dos casos, estavam fazendo
julgamentos severos e aplicando castigos estranhos, em nome da igreja ou da Bíblia, acusando-os de pecados
que na verdade não passavam de leis feitas por homens, ou tradições ultrapassadas. Estreitaram tanto o caminho
estreito, que o filho não conseguia viver de acordo com os princípios por eles estabelecidos.
Um procedimento assim traz conseqüências negativas. Os jovens ficam frustrados e desanimados, por se-
rem vítimas de um julgamento severo e injusto, em nome de Cristo. Eles rejeitam os pais, a religião deles, e até
os filhos deles, isto é, a si próprios. A Bíblia ensina: ―Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem
desanimados‖ (Cl 3:21.). Andrew Murray comenta: ―Esse conselho de Paulo nos revela que toda essa questão
de repreensão e castigo deve ser no espírito certo, pois há necessidade de se ter paciência, sabedoria e autocon-
trole. O segredo da autoridade paterna é que seu reino é de amor.‖
E não apenas os pais devem ter cuidado para não se expressarem de maneira que pareça por demais
áspera e condenatória para os filhos, mas o mesmo se aplica a todo tipo de relacionamento familiar, entre salvos
e não salvos. Pode parecer aos pais que o filho recém-convertido tornou-se fanático da noite para o dia. Um
viciado em drogas que se converteu, voltou para casa, para visitar os pais — ele se convertera havia três meses
— e ficou tão irritado com os pais porque estes não queriam converter-se imediatamente, que saiu de casa
raivoso, fazendo a seguinte declaração:
— Se vocês não aceitarem a Cristo, não volto mais aqui.
Hoje, ele está mais velho e entende melhor as coisas, mas reconhece:
— Quase estraguei tudo naquele primeiro dia.
É difícil para os pais de um jovem rebelde, ou para a esposa de um alcoólatra ou viciado, aceitar o fato de
ver aquele antigo pecador voltar para casa transformado, crente, tentando levar o resto da família ao altar do
arrependimento. O pródigo que retorna, tem que conquistar o direito de ser ouvido e respeitado. Que maravilha
é poder testemunhar a salvação em Cristo de pais ou cônjuges incrédulos, depois que o pródigo convertido já
permaneceu fiel a Jesus três, quatro ou seis meses, e demostrou, tanto por fé como por boas obras, que
realmente ―as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas‖. Existe um princípio que rege a lavoura, e
que precisamos observar nessa questão de ganhar almas: primeiro, planta-se a semente; depois, rega-se. Deus dá
o crescimento e os frutos.
Muito se tem dito para as famílias de alcoólatras e viciados em drogas, orientando-os sobre como agir
quando o viciado volta para casa. Mas pouco se orienta o recuperado sobre o modo como deve tratar o cônjuge
ou os familiares. Quando uma pessoa recuperada experimenta uma fé forte em Cristo e volta para um lar não
crente ou crente, mas frio, certamente vai haver algumas tensões. Esse tipo de situação vai exigir muita
paciência, compreensão, oração e compaixão por parte desse crente que volta ao lar. A família vai querer ver
provas duradouras de que sua vida foi mesmo transformada, que ela não vive mais pelas drogas ou bebida, e
provas também de que essa transformação foi operada através da fé em Cristo. Somente o tempo poderá
comprovar seu testemunho.

4. Não “implique” com seus familiares.


Muitas vezes, quando o convertido demora a ver os resultados ou sente-se frustrado em seu testemunho,
ele tem a tentação de ficar ―implicando‖ com os familiares que ainda não são crentes, direta ou indiretamente.
Uma senhora adotou a tática de sempre acrescentar a seguinte frase nas conversas com o marido: ―depois que
você se converter‖, ou ―depois que você se tornar crente‖. Ela estava sempre introduzindo essa expressão na
conversa, de maneira sutil e natural. Embora usasse de mansidão, não deixava de ser uma implicância dela, uma
implicância mansa.
Outra cristã tinha o costume de estar sempre dizendo aos filhos: ―Nossa família ainda não está unida. Por
que vocês não se tornam crentes logo?‖ Embora seja bom que as crianças saibam que um lar não está completo
nem unido enquanto todos os seus membros não estiverem servindo ao Senhor, não é uma medida sábia
transformar esse fato num problema que pode causar atritos. Existe o momento certo e a maneira certa para
tudo.
Morando sob o mesmo teto com uma pessoa que não conhece o Senhor, o crente tem muitas oportuni-
dades de testemunhar. Mas ele tem também muitas oportunidades de implicar. Ele precisará de muito
autocontrole para saber calar. Somente uma profunda sensibilidade à orientação do Espírito pode dirigir-nos
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
99
para sabermos quando é o momento de falar e o de ficar calado.
―Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a sua língua, antes enganando o próprio coração, a
sua religião é vã‖ (Tg 1:26). Muitos crentes têm perdido a oportunidade de ganhar um parente para Cristo por
causa de falar erradamente.
A esposa crente, ao tentar ganhar o marido para Cristo, tem pela frente um trabalho muito sério, uma
missão. Que ela não se mostre por demais ansiosa, nem se ponha a implicar com ele.

5. Saiba que os familiares não crentes irão testar seu testemunho.


Viver junto com alguém apresenta a possibilidade de um bom relacionamento de amor, por um lado, e de
hostilidade para com aquela pessoa, de outro lado. Os familiares sabem o que é que irrita a outra pessoa. O
cristão deve estar preparado para ver seus familiares explorarem suas fraquezas, principalmente se ele está
procurando testemunhar para os familiares ainda não crentes.
Os não-crentes, e principalmente as crianças, esperam certos padrões de comportamento e atitude dos pais
ou de outros familiares crentes. Suas fraquezas vão ser atacadas muitas vezes. Isso é uma forma de perseguição.
E quando só há um crente na família, isso é muito difícil para ele. Os não-salvos como que formam uma equipe
contra ele, para tentar derrotá-lo.
E quando os pais são crentes, são bastante vulneráveis diante de filhos não crentes. Andrew Murray
aconselha: ―Os pais devem estar sempre atentos às fraquezas e teimosias dos filhos; que não sejam apanhados
de surpresa ou desprevenidos por atos que vêm tentar sua paciência ou sua calma; eles precisam enxergar a
necessidade de se prepararem para sua santa tarefa, pela fé naquele que nos capacita para toda a obra que nos
atribui.‖

6. Seja honesto no que diz respeito aos seus próprios erros.


Seja em casa, na escola, no trabalho, em qualquer ocasião ou lugar, a melhor atitude é a honestidade. Há
sempre quem nos diga: ―Hei, você é crente, não pode fazer isso.‖ Ou então: ―Eu não sabia que os crentes
ficavam com raiva.‖
Alguns conselheiros tentam andar da melhor maneira possível perante novos convertidos. Quando não o
conseguem — e quem consegue ser perfeito? — acham que não devem reconhecer o fato. Ninguém gosta de
errar, e então parece que a melhor saída é negar, mas não é. Encobrir um erro implica em perder terreno, não em
ganhar. Tal atitude resulta em que perdemos o respeito e a credibilidade para o nosso testemunho.
Os pais têm que ser muito sinceros com os filhos, quando cometem erros ou perdem a calma.
Nossos filhos e outros familiares não crentes terão mais facilidade para perdoar os erros reconhecidos, do
que uma atitude de hipocrisia e negação. Quando cometemos erros, o próprio ato de pedir perdão é uma virtude
peculiar ao crente. Em si mesmo, isso é um meio de dar a outros o amor de Deus, e dar testemunho de nossa fé
cristã. Ser filho de Deus é uma posição que nos permite encarar de frente os fracassos, os erros e a falta de amor
que todos nós experimentamos por vezes. Não precisamos fugir desses erros, mas confessá-los. Ao
testemunharmos para os membros não crentes de nossa família, é da maior importância que sejamos sinceros,
honestos, verdadeiros e humanos em nosso viver diário à vista deles.

7. Obedeça à orientação do Espírito Santo quanto ao momento certo para tudo.


Existe uma hora certa para se testemunhar, assim como existe uma hora errada. Para se conhecer o
momento certo, é preciso orar e ficar atento à orientação do Espírito e à sua operação na vida de outros. E,
quando chega o momento certo, se não falarmos estaremos errando tanto quanto se falássemos no momento
inoportuno.
Quando uma pessoa testemunha durante anos, sempre recebendo resistência por parte da pessoa não salva
a quem prega, ela pode desanimar e tornar-se indiferente: ―De que adianta‖, diz ele, e desiste de tudo. Essa é
uma situação triste, pois destrói a fé do crente, e faz cessar sua oração.
O segredo de testemunhar para salvação de entes queridos reside na oração em secreto e no testemunho
aberto. O Espírito revelar-nos qual é o momento de orar e qual o de testemunhar.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
100

Como ganhar os filhos para Cristo


A maior dificuldade dos pais é conseguir influenciar a mente e a vontade da criança e ao mesmo tempo
deixar que ela própria faça sua decisão de aceitar a Cristo. Os pais geralmente caem numa das duas posições
extremas. Alguns praticamente impõem o evangelho aos filhos. Em conseqüência, a criança ostensivamente
finge acatar, e pratica os atos correspondentes, mas mais tarde abandona a igreja e o Senhor. O outro extremo é
deixar a questão da religião ou do cristianismo totalmente com a criança. Nenhuma dessas duas posições é
sábia.
Assim os pais se acham diante desse desafio: como levar um filho a fazer uma decisão ao lado de Cristo?
É uma situação difícil e delicada, pois eles têm que lhe influenciar a mente e a vontade, mas sem coagi-lo.
A seguir, alguns princípios e orientações para esse trabalho de levar crianças ao Senhor, e outras
sugestões de como testemunhar a entes queridos.105
1. Deus deu à criança uma mente e uma vontade própria.
2. Os pais são os guardiães da vontade da criança. A vontade da criança é um instrumento delicado, ―dado
por Deus e confiado às mãos dos pais para que o guardem, dirijam, fortaleçam, e para que instruam a
criança para a glória de Deus‖.
3. Antes que o menino saiba desprezar o mal e escolher o bem, os pais têm que tomar as decisões pelos
filhos. Têm que comandar a vontade deles.
4. Depois, o controle da vontade deve dar lugar à influência da vontade. Os pais precisam saber reconhecer
o momento em que irão parar de controlar o filho e deixar que ele tome suas próprias decisões. É aqui
que seu apelo mudará de ―Você tem‖ para ―Você deve agir assim‖. Nesse ponto, a criança é orientada por
meio de incentivo e não de exigência. Então ela própria irá ―desprezar o mal e escolher o bem‖.
Não há tarefa mais difícil para pais responsáveis, que oram e amam os filhos, do que saber o momento
certo em que devem liberar o filho emocional e espiritualmente.

Se os pais tiverem o cuidado de influenciar e controlar a vontade dos filhos na época certa, quando é de
seu direito, não precisam ter medo de ―soltá-los‖, depois. Nos primeiros anos de vida, eles atuam no sentido de
ajudar o desenvolvimento da consciência fraca que está despertando, e na formação de seu julgamento moral.
Esse controle, que vem de fora, fornece à criança a proteção de que ela necessita contra o mal. Mas do mesmo
modo que uma retidão imposta por lei deve dar lugar a uma retidão de coração, assim também o papel dos pais
deve entrar numa nova dimensão, e seu relacionamento com o filho deve mudar. Se a Palavra for plantada no
coração, e a lei for inscrita nele pelo Espírito Santo, a vontade de ser santo brotará espontaneamente. Mais tarde,
se o filho, depois de adulto, afastar-se do Senhor, essa semente ainda dará fruto. Isso é uma promessa de
Deus.106
Que providências podem ser tomadas, enquanto os filhos ainda estão em casa, para mantê-los ativos na
igreja e levá-los a querer servir o Senhor? Vamos examinar cinco pontos. 107

1. Ganhá-los para Cristo. Se colocarmos os filhos em primeiro lugar, em nosso esforço evangelístico,
estaremos nos poupando muitas preocupações nos anos vindouros. Aqueles que amam a Deus, amam sua
igreja.
Muitas vezes, os jovens se aborrecem na igreja porque simplesmente não nasceram de novo. A hora mais
longa do dia é a do culto, quando não se conhece a Pessoa que está sendo cultuada. O sermão não passa de mero

105 Sugeridos por Don Wilkerson, em Como ganhar seus queridos para Cristo. Editora Betânia, 1981, 29-37.
106 Don Wilkerson: ―Lembro-me de ter ouvido minha mãe dizer várias vezes:
— Meu filho, estou orando a Deus para que você cresça tendo o temor do Senhor em seu coração.
A princípio, eu não entendia bem o que ela queria dizer com aquilo. A palavra temor é um pouco ambígua,
principalmente para uma criança. Mais tarde vim a saber que o ―temor do Senhor é o princípio da sabedoria‖. Por quê?
Porque temer a Deus é reverenciá-lo; é respeitar sua soberania, é desejar fazer sua vontade; é andar nos caminhos dele.
O temor do Senhor frutifica em decisões sábias.‖
107 Também sugeridos por Don Wilkerson, na obra já citada, p. 46-50.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
101
palavreado, quando não compreendemos que essas palavras se referem a Jesus Cristo.
Os jovens que se encaixam nesta descrição entram no templo e logo se dirigem para os últimos bancos.
Durante o culto, ficam conversando, mascando chiclete, olhando para os lados ou de olho no relógio. Na mente
e no espírito, eles já saíram dali muito antes de seus corpos deixarem o templo. Não demorará muito, e sairão da
igreja de uma vez por todas.
Mas, quando a criança tem uma experiência pessoal com o Senhor Jesus Cristo, a igreja para ela é uma
bênção e não um peso.
Clyde Narramore aconselha: ―A criança (ou adulto) que não estiver revestido pelo Espírito Santo
realmente não tem muito interesse pelas coisas espirituais. Quando uma criança é realmente salva, renascida,
quando já deu o coração para Cristo, ela tem uma forte afinidade com as coisas de Cristo. Se isso ainda não lhe
aconteceu, ninguém pode esperar que ela tenha interesse pelas coisas de Cristo. E, sem dúvida alguma, ir à
igreja não será seu principal interesse. Então, pode muito bem ser que, quando uma criança ou adolescente diz:
‗Não quero mais ir à igreja‘, o que ela está dizendo é: ‗Eu não sou salva — nunca nasci de novo.‘ Será bom que
você analise seu filho ou filha, e, depois, de forma sábia, terna, carinhosa, o leve a Cristo.‖

2. Tenha uma vida equilibrada. Algumas crianças não gostam da igreja, porque é o único lugar a que vão
com os pais. Elas vão tanto à igreja — isso passa a ser uma coisa tão comum — que as crianças tornam-
se indiferentes a ela. E aí elas começam a desligar-se do que estão vendo e ouvindo. E o que é pior, a
criança pode adotar uma atitude profana, isto é, passar a desprezar as coisas sagradas de Deus. Mas não é
preciso que as coisas cheguem a esse ponto.
As atividades da vida espiritual devem ser equilibradas com outras atividades. A família precisa ter uma
vida bem organizada. A criança precisa de um bom relacionamento com os pais em casa, mas também na igreja,
desfrutando de atividades recreativas.
Como é difícil para um jovem estabelecer um bom relacionamento com o Senhor, se não tem um bom
relacionamento em casa, e não tem nenhuma amizade fora de casa!
Clyde Narramore afirma: ―Faça tudo que puder para proporcionar à sua família momentos de feliz
camaradagem. Isto servirá para apagar a impressão que a criança tem de que você só se interessa por ela no
momento em que vai para a igreja.‖

3. Mude de igreja, se necessário. Procure uma igreja que tenha um bom programa para os jovens, uma
igreja que alie um bom ensino bíblico e pregação a atividades extracurriculares de cunho cristão. Aqui
também vemos a possibilidade de dois extremos. Alguns cultos de jovens não passam de uma repetição
do culto dos adultos: três hinos, oração, avisos, oferta e sermão. Os moços gostam de variedades, tanto de
ordem espiritual quanto social. Gostam de coisas tais como estudos profundos da Bíblia em grupos
pequenos; debates e ensino aplicáveis às suas dificuldades e problemas, atividades fora da igreja, com
oportunidade para saírem e atuarem ao lado de companheiros da mesma idade.

Mas até mesmo este segundo grupo de atividades pode ser levado ao extremo. Já vi igrejas que tomam
tantos cuidados, a fim de proporcionar aos seus jovens todo tipo de promoção social, recreativa e outros, que
não sobra tempo para um estudo mais sério da Bíblia e oração. Os moços precisam aprender a passar do
divertimento para os joelhos, e vice-versa.
Muitas vezes, para se encontrar uma igreja com uma vida equilibrada, pode ser preciso que se mude de
igreja, ou que se ande mais um pouco, ou até que se passe de uma denominação para outra. A igreja deve ser
algo que atenda às necessidades de todos os membros da família, principalmente dos filhos.

4. Faça uma ligação do evangelho com os interesses sociais, políticos e vocacionais de seus filhos.
Alguns jovens se desinteressam pelas coisas espirituais, porque passam a interessar-se mais por
questões sociais ou políticas. E nesse processo, podem pensar que o cristianismo não tem nenhuma
relação com sua nova mentalidade política e social. Isso acontece simplesmente porque ainda não
aprenderam que a Bíblia e os ensinos de Cristo realmente têm relação com o homem, na sua íntegra, e
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
102
com a sociedade como um todo. Os jovens precisam compreender que o slogan ―Cristo é a solução‖
não é apenas uma frase-tema, nem um jargão religioso; ele realmente é verdade. Muito antes de os
pensadores modernos começarem a debater os direitos humanos e sociais ou a questão da justiça para
os pobres, Jesus já andava pelas estradas da Palestina, falando de uma vida melhor para todos.108

5. Tenha cuidado com sua reação para com a rebelião de seu filho contra a igreja. Uma reação
imediata de raiva ou a imposição de que ele tem que ir, geralmente provocam ainda mais hostilidade
no jovem. (Naturalmente, se se trata de uma criança pequena, os pais devem exigir que ela vá.)
Alice Fleming adverte: ―A primeira reação de muitos pais é dar uma ordem. Por exemplo: um casal disse
firmemente ao filho que, se ele não fosse à igreja com mais freqüência, iriam parar de dar-lhe mesada, e
restringir o uso do carro. Infelizmente o método deles não deu certo. O filho continuou a ficar em casa e faltar
aos cultos da igreja. Afinal, puseram em prática a ameaça, mas ele arranjou um serviço de meio horário, para
compensar a perda da mesada, e passou também a pegar carona com os amigos.‖
Também é errado aceitar a decisão do filho de não ir à igreja sem dizer nada, sem uma conversa franca e
sem mostrar-lhe que os pais estão sentidos com aquilo. Muitas vezes, uma atitude de rebeldia não passa de um
desafio ou um teste para os pais. Se eles expressarem seus sentimentos de maneira terna e carinhosa, mas firme,
o desafio cessará, e a criança continuará a ir à igreja.
Mas quando o filho realmente parar de freqüentar a igreja em definitivo, os pais devem ter paciência e
procurar preservar o mesmo nível de relacionamento que precisam manter com ele. Pode ser que a rebeldia não
dure muito. Talvez fosse bom os pais analisarem a causa dessa rebeldia. Lembremos também que é possível
uma pessoa largar a igreja, sem largar totalmente o Senhor. Podemos e devemos defender bem essa idéia de que
o crente deve querer ir à igreja. Entretanto, pode ser que o jovem esteja passando por uma crise de fé, e queira
pensar um pouco nessas coisas, longe da igreja. É de grande importância o relacionamento que os pais
mantiverem com o filho nesse período. É um período em que o pai ou mãe crente têm que confiar em Deus, por
um lado, e no filho, por outro.

108 Don Wilkerson: ―Um certo homem de negócios pediu-me que lhe enviasse alguns de nossos livros. Era um crente
novo e queria ganhar para Cristo seu filho de dezesseis anos. Mas ele era um homem sábio, e compreendia que aquilo não
iria acontecer da noite para o dia. Queria, então, que o filho tivesse conhecimento acerca do poder de Cristo, e de como ele
se aplicava às necessidades do homem atual, e aos problemas da sociedade. E é assim que a biografia de alguns
modernos heróis da fé pode servir de testemunho para os adolescentes de hoje, jovens que pensam, que pesquisam e
questionam.‖
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
103

6 – AUXÍLIOS PARA A DEFESA DA FÉ


1) Bloqueios Espirituais
(Escusas, objeções e dificuldades de crer)
Dicas importantes sobre a maneira de pensar dos descrentes, os seus bloqueios
quanto à fé, e como conseguir um melhor relacionamento com eles, visando a
109
evangelização.

Bloqueio nº 1 — “Não posso acreditar”.


É o sentimento de pessoas que se apoiaram numa questão intelectual ou emocional que estacionou sua
jornada em direção a Deus:
 O médico: ―Não posso acreditar na Bíblia porque ela entra em choque com a ciência moderna‖.
 A mãe de uma criança doente: ―Não posso crer num Deus que permite tal sofrimento ao meu filho,
quando tantas pessoas más nada sofrem‖.
 O advogado: ―Estou acostumado a lidar com evidências e fatos. Não posso crer em algo que deva ser
aceito apenas pela fé‖.
 O executivo: ―Orei para que pudesse superar a crise nos negócios, mas eles estão indo por água
abaixo. Não posso crer num Deus que ignora meu pedido de auxílio‖.
Quando conversar sobre assuntos espirituais com descrentes, indague: — ―Há alguma pergunta ou
preocupação específica que está impedindo a sua jornada espiritual?‖ Isso os ajuda a focalizar com clareza o que
está de fato bloqueando a abertura do seu coração para Deus. Depois de se sentirem capazes de articular a
pergunta, você pode começar a responder de modo que possam continuar a caminhar em direção a Cristo.
Para ajudá-los a compreender a própria situação, Strobel modifica algo dito por Pascal e descreve três
tipos básicos de pessoas:
A. Pessoas que se encontraram com Deus.
B. Pessoas que estão à procura de Deus e se encontrarão com Ele.
C. Pessoas que não estão à procura de Deus.
E diz aos descrentes que não há vantagem em ser do tipo C. A menos que Deus faça algo dramático,
como fez quando transformou Saulo de Tarso no evangelista Paulo, o tipo de pessoa que não está à procura de
Deus está ―num beco sem saída‖. São pessoas de mente fechada que se recusam a procurar a verdade.
Assim, são encorajados a fazer parte do tipo B e, com toda a sinceridade, procurar a verdade sobre Deus.
E, é claro, sabemos pelas Escrituras que qualquer pessoa sincera pertencente ao tipo B acabará no tipo A (Dt
4:29; Pv 8:17; Jr 29:13; Mt 7:7-8; Lc 11:10; Hb 11:6).
Eles podem ser desafiados a orar como fez Strobel quando ainda era cético: ―Deus, nem tenho certeza da
tua existência, mas, se existes, quero conhecê-lo. Por favor, revele-se a mim. Quero saber a verdade. Rogo que
coloques pessoas em minha vida, livros e fitas gravadas em meu caminho, tudo que me ajude a descobrir quem
tu és‖.
São encorajados, então, a fazerem um trabalho de pesquisa. Por exemplo, se acham que a Bíblia está
cheia de erros, quais são eles? Enumerem-se esses erros para que sejam discutidos.
Dado o poder das Escrituras, sempre encoraje os descrentes a lerem a Bíblia. Quase sempre, é a primeira
vez que tomam isso a sério. Se o indivíduo tem um raciocínio matemático, sugira o evangelho de Lucas. Como
médico, Lucas escreve com clareza e pormenores, num estilo direto, que desperta interesse em advogados,
médicos, cientistas e engenheiros.
Se o indivíduo tem um modo de ser mais artístico ou filosófico, sugira o evangelho de João. Se é de

109 Bloqueios espirituais apresentados por Lee Strobel, Inteligência Espiritual: Como alcançar os que evitam Deus e a igreja. Edito-
ra Vida, 1997, p. 101-116.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
104
família judaica, prescreva o evangelho de Mateus, pois enfatiza o cumprimento das profecias do Antigo
Testamento.
Algumas pessoas dizem ―Não posso acreditar‖, baseadas no intelecto. Devemos encorajá-las a procurar a
verdade sobre Deus com toda a sinceridade e honestidade. Mas há outras que dizem ―Não consigo crer‖ porque
há algum tipo de barreira emocional entre elas e Deus.
Quando falar com alguém que parece desligado de Deus, indague da sua vida familiar e do
relacionamento com seu pai, pois o conceito que a pessoa tem do seu próprio pai exerce grande influência na
sua percepção de Deus.
Poucos indivíduos vão ao extremo de se tornarem ateus. Entretanto, o relacionamento pessoal com o pai
pode impedir seu desenvolvimento espiritual. Por exemplo, ter crescido num lar onde o pai vivia sempre
zangado pode induzir as pessoas a pensar que o Pai Celestial é também vingativo. Isso faz com que elas fujam
de um relacionamento com Ele.
Se o pai terreno as abandonou quando crianças, emocional ou fisicamente, elas podem resistir a um
relacionamento com Deus de medo que o Pai Celestial acabe magoando-as, abandonando-as também. Podem ter
complexo de inferioridade por achar que seu pai tinha boas razões para deixá-las, pois não têm valor em si
mesmas. Como conseqüência, não podem compreender um Deus que as ame como elas são.
Há também pessoas que cresceram em lares onde só recebiam carinho quando realizavam qualquer coisa
de positivo. Podem crescer com o sentimento de que precisam merecer o amor dos outros, inclusive de Deus.
Podem ficar tão envolvidas em tentar tornar-se dignas de Deus que não conseguem entender que o amor de
Deus é incondicional.
Embora nenhum desses indivíduos descrentes se classifique como ateu, não conseguem ter um
relacionamento com Deus.
Outro bloqueio emocional pode ser o medo de intimidade. Ser um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo
importa ter um relacionamento próximo, honesto, vulnerável, dependente e transparente com Ele e cada vez
mais com os Seus outros seguidores. Isso assusta algumas pessoas. Na realidade, ninguém esperaria que tais
pessoas se intimidassem com a idéia de relacionar-se estreitamente com outras.
Os descrentes podem não estar cônscios de que o medo da intimidade esteja dirigindo as suas fracas
objeções ao cristianismo. Mas aqui vai uma advertência: se eles têm uma atitude um tanto indiferente para com
outros, se parecem ter um casamento superficial, se têm um relacionamento não muito profundo com os filhos,
se têm muitos conhecidos mas não amizades profundas, esses são os sinais de que estão bloqueados pelo receio
de ter intimidade com Deus.
Outro sinal a ser observado é se o indivíduo busca algum substituto que nossa sociedade oferece para
substituir a intimidade, como seja pornografia ou promiscuidade. Até o beber pode ser um sinal, pois há
indivíduos que dependem do álcool para lubrificar a sua comunicação com os outros.
Suspeitar de um bloqueio emocional ou neurótico é uma coisa. Lidar com isso às vezes é função de
especialistas. Quando percebo que é isso que está impedindo a busca pessoal de Deus, tento gentilmente ajudá-
lo a entender que deve procurar um conselheiro cristão que poderá resolver a raiz da questão. Continuo, porém,
a ser seu amigo, apesar das circunstâncias.

Bloqueio nº 2 — “Não quero crer”.


Poucas pessoas chegam a admitir que não querem crer no Deus da Bíblia. É uma atitude que tentam
esconder atrás de uma cortina de fumaça. Pode ser que tenham alguma razão no seu íntimo que a fazem manter
Cristo à distância. Nesse caso, é bom perguntar:
— Há alguma coisa em sua vida que você tenha receio de perder se tornar-se um seguidor de Jesus?
A cortina de fumaça pode ser um bloqueio mural: a pessoa está envolvida em assuntos éticos e sexuais
que ela sabe serem contrários aos ensinamentos de Cristo. Portanto, a sua objeção à evidência é apenas uma
tática para esconder a sua verdadeira preocupação: não está interessada em tornar-se cristã, pois isso significaria
uma total mudança de vida.
No geral, as pessoas escondem-se atrás de uma cortina de fumaça porque querem evitar um lado negativo
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
105
que vêem no cristianismo; ao mesmo tempo, passam de largo pelo seu lado positivo. Você as desafia dizendo:
Por que não faz uma análise da relação custo-benefício? É um modo moderno de tomar uma decisão. Pegue uma
folha de papel, divida-a ao meio e compare os custos e os benefícios da sua vida atual com os ―custos‖ e os
benefícios de uma vida com Cristo.
Pense no que está do lado de Cristo nesse balanço que você fez. Ele oferece perdão, consciência limpa,
segurança, orientação, realização, bons relacionamentos, conforto, mente tranqüila, libertação de culpa,
promessa de vida eterna, domínio sobre tendências autodestrutivas e a esperança inigualável que decorre de
estar ligado ao Deus do universo.
Você as estimula então a analisar a trajetória do seu modo de vida atual, com vistas a uma conclusão
lógica: Onde você acabará? Como vai lidar com as tragédias que irá encontrar ao longo do caminho? Qual será
o seu sentimento sobre você mesmo? E, no fim, qual será a sua esperança?
Esse tipo de desafio pode ser útil para evitar que as pessoas utilizem táticas evasivas e comecem a
considerar os benefícios de uma vida e da eternidade com Cristo.

Bloqueio nº 3 — “Não sei em que devo crer”.


As pessoas ouvem todos os tipos de interpretação da Bíblia. Vêem disputas entre denominações
diferentes. Ouvem falar de lutas sobre doutrinas dentro de denominações. Encontram gente que aceita a Bíblia
literalmente e outras que dizem ser a Bíblia apenas um guia geral. Ouvem gente que usa a Bíblia para apoiar
posições completamente contraditórias e até absurdas. Tentam ler a Bíblia e se atolam em Levítico.
Então levantam as suas mãos para o alto e dizem: — Não sei em que acreditar. Parece que o significado
da Bíblia muda de acordo com quem a interpreta. Qual é o certo?
Você já deve ter encontrado pessoas, cuja jornada em direção a Cristo descarrilou porque não sabiam em
quem acreditar. Entre os teologicamente liberais e os fundamentalistas que vêem na TV, não sabem quem tem a
resposta certa. Como podem diferentes grupos de cristãos ler a mesma Bíblia e ter interpretações diferentes? Em
quem podemos confiar? Quem nunca interpretará o texto à sua moda?
Um jeito de ajudar essas pessoas é explicar que a chave do entendimento correto da Bíblia é a mesma do
entendimento de qualquer outro texto. É determinar o que o escritor quis dizer. Não é interpretar as Escrituras
para dizer o que queremos que elas digam, ou para atribuir a elas os nossos preconceitos, mas para entender o
que o autor inspirado pelo Espírito estava tentando explicar.
Nossos motivos podem mudar o modo de interpretar as palavras. Há pessoas que fazem isso com a Bíblia para
se desviarem de ensinamentos com os quais não concordam ou quando não querem enfrentá-los. Mas a maneira
correta de ler a Bíblia é perguntar: ―O que o escritor queria que eu entendesse?‖
Certamente, há partes difíceis das Escrituras, e pessoas bem-intencionadas podem debater muitos pontos
sutis. Mas, em passagens importantes, que todos precisam conhecer para serem absolvidos do seu passado e
assegurados a respeito do seu futuro, não há ambigüidade.
Quando encontrar pessoas que não sabem em que acreditar, diga-lhes que a mensagem mais importante
da Bíblia é clara, pura e sem ambigüidade para aqueles que não têm a intenção de manipular a verdade em
benefício de suas próprias causas.
A Bíblia resume o que foi dito numa sentença simples e inspirada por Deus: ―Todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo‖.

Bloqueio nº 4 — “Eu acredito. Não basta?”


Há pessoas que cresceram num lar cristão, conhecem o jargão evangélico desde a tenra idade, foram bons
alunos da Escola Bíblica Dominical, mas passaram a vida seguindo a igreja em vez de seguir o cristianismo...
Outras dizem acreditar que Jesus é o Filho de Deus, mas se queixam de que esse conhecimento não foi
capaz de mudar suas vidas.
Para alguns, a resposta pode ser encontrada na maior distância existente no mundo: a distância entre a
nossa cabeça e o nosso coração. Conhecem o Evangelho, mas nunca se apropriaram dele. Apesar de terem
estado imersos na cultura da igreja durante anos, jamais tinham recebido o perdão de Cristo e a liderança divina
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
106
em suas vidas. É preciso informar aos descrentes que acreditar intelectualmente em Cristo é apenas parte da
solução. É preciso mostrar versículos bíblicos com a ―equação espiritual‖ que explica com eficácia o que é
tornar-se cristão.
Em João 1:12, ―a todos os que o receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus.‖ Esses verbos formam a equação: crer + receber = ser feito (tornar-se).
Crer é concordar intelectualmente que Cristo sacrificou-se para pagar nossos erros. Isso é importante,
mas há algo mais. Há pessoas que estão na igreja há anos, continuam no ―crer‖ e não sabem por que a sua vida
espiritual não progrediu.
Receber também é importante, é receber de Deus a oferta gratuita de perdão e vida eterna. É clamar por
essa oferta. Somente será nossa, e não algo apenas do nosso conhecimento, quando admitirmos os nossos
pecados e nos convertermos deles, e aceitarmos humildemente o pagamento que Cristo efetuou em nosso favor.
Ser feito (tornar-se) é a mudança de vida, obra de Deus em nós depois de acreditarmos nele e de recebê-
lo como nosso perdoador, guia e amigo. É a transformação descrita por Paulo: ―Portanto, se alguém está em
Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo‖.
O problema aparece quando as pessoas invertem a equação. Acham que é: crer + tornar-se = receber.
Essas pessoas acreditam em Cristo, mas sentem que precisam limpar suas vidas e tornar-se aceitáveis antes de
recebê-lo. Acham que, se não agirem após ―crer‖ estarão desapontando a Cristo, pois não serão capazes de viver
conforme o padrão dele. Esse bloqueio impede o progresso espiritual.
Jesus diria: ―Primeiro acredite em mim, depois receba-me. Então poderei ajudá-lo a tornar-se meu
seguidor, transformando a sua vida de um modo que você jamais conseguiria sozinho. Eu lhe darei poder para
transformar-se. Mas só posso transformar a sua vida depois de você tê-la entregado a mim‖.

Bloqueio nº 5 — “Não quero acreditar naquilo queeles acreditam”.


Strobel assinalou: ―Quando eu era repórter, costumava andar por Chicago (EUA) e ver evangelistas
gritando em alto-falantes que distorciam a voz a tal ponto que não se podia entendê-la por maior que fosse o
empenho. Eu pensava: Não quero acabar assim. Noutras palavras, se o cristianismo exige que a pessoa se torne
ridícula, desajustada, sem vida social a não ser cultos e reuniões de oração, não contem comigo.‖
Infelizmente, algumas vezes, os descrentes vêem uns tipos de cristãos que bloqueiam qualquer interesse
que aqueles possam ter pelo cristianismo. Julgam os cristãos pessoas maçantes, inacessíveis, com estilo de vida
monótono destituído de emoção, desafio ou divertimento.
É preciso mostrar-lhes o autêntico cristianismo, que é a maneira mais ousada, completa e revolucionária
de viver.
Aproveite a oportunidade e pergunte a si mesmo:
— ―Estou vivendo de modo a atrair ou repelir descrentes?‖

2) Dúvidas e Questionamentos mais Comuns a Respeito de


Deus
Conceitos e crenças que funcionam como barreiras para muitas pessoas que estão pensando em tornar-se
cristãs:
1. Se existe um Deus amoroso, por que este mundo dilacerado pela dor geme debaixo de tanto mal e sofri-
mento?
2. Se os milagres de Deus contradizem a ciência, como uma pessoa racional pode crer que sejam
verdadeiros?
3. Se Deus realmente criou o universo, por que as evidências persuasivas da ciência impelem tantas pessoas
a concluir que o processo espontâneo da evolução explica a vida?
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
107
4. Se Deus é moralmente puro, como pode sancionar o massacre de crianças inocentes, como o Antigo
Testamento diz que ele fez?
5. Se Jesus é o único caminho para o céu, que dizer dos milhões de pessoas que nunca ouviram falar dele?
6. Se Deus se preocupa com as pessoas que criou, como pode entregar tantas delas a uma eternidade de
tormento no inferno somente porque não creram nas coisas certas a respeito dele?
7. Se Deus é o dirigente supremo da Igreja, por que ela tem estado repleta de hipocrisia e brutalidade ao
longo dos séculos?
8. Se ainda sou assaltado por dúvidas, ainda posso ser cristão?

“ (...) se clamar por entendimento e por discernimento gritar bem alto; se procurar a sabedoria
como se procura a prata e buscá-la como quem busca um tesouro escondido, então você entenderá
o que é temer o Senhor e achará o conhecimento de Deus.” (Pv 2:3-5)

LEITURAS RECOMENDADAS
Em defesa da fé. Lee Strobel. Editora Vida, 2002
Pode o homem viver sem Deus? Ravi Zacharias. Editora Mundo Cristão, 1997.

3) Como Entender os Descrentes


Cada indivíduo cristão precisa voltar-se para a oração e jejum pelos descrentes, relacionar-se com eles de
maneira autêntica, compartilhar o Evangelho, responder às suas perguntas e convidá-los para a igreja.
Antes de pensar em como alcançar os não-religiosos que evitam a Deus, precisamos sondar suas atitudes
e seus motivos. A seguir, uma lista de quinze observações para que o descrente possa ser mais bem
compreendido:110

1. O descrente rejeitou a igreja, mas isso não quer dizer que todo descrente tenha também rejeitado a
Deus.
2. O descrente pode estar moralmente à deriva, mas, no fundo do coração, deseja uma âncora.
3. O descrente opõe-se a regras, mas é sensível ao raciocínio.
4. O descrente não entende o cristianismo, mas também não conhece exatamente aquilo em que afirma
acreditar.
5. O descrente tem perguntas autênticas sobre assuntos espirituais, mas não acha que os cristãos
respondam.
6. O descrente não pergunta: ―O cristianismo é verdadeiro?‖. No geral, ele pergunta: ―O cristianismo
funciona?‖.
7. Quem está longe de Deus não quer apenas conhecer algo. Quer ter a experiência.
8. O descrente não quer ser o projeto de alguém. Ele gostaria, porém, de ser amigo de alguém.
9. O descrente pode não confiar em autoridades, mas é receptivo à liderança bíblica autêntica.
10. O descrente não segue denominações. É atraído a lugares onde possa satisfazer os anelos de sua alma.

110 Observações listadas por Lee Strobel. Como alcançar os que evitam Deus e a igreja. Editora Vida, 1997, p. 43-79.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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11. O descrente não quer fazer parte de uma organização. Mas está ansioso para trabalhar em conjunto
por um mesmo objetivo.
12. O descrente pode não demonstrar interesse espiritual na igreja, mas quer que os seus filhos recebam
treinamento moral de alta qualidade.
13. O descrente está confuso com os papéis sexuais. Ele não sabe que a Bíblia pode lhe deixar bem claro
o que significa ser homem ou mulher.
14. O descrente tem orgulho de ser tolerante com os diversos tipos de fé, mas acha que os cristãos têm
mentalidade estreita.
15. O descrente poderá ir a uma igreja se um amigo convidá-lo. Mas encontrará lá um ambiente relevante
para sua vida cotidiana?

4) Como Responder às Desculpas Através das Escrituras


A seguir, uma relação das mais freqüentes afirmações formuladas pelos não-crentes:

“Toda religião é boa: eu sendo sincero é o que importa.”


Você pode ser cem por cento sincero em sua crença, e ainda assim estar totalmente perdido. Sua
sinceridade, estando você errado, não lhe vai salvar. Você estará certo em sua crença somente quando seguir a
Jesus por meio da sua Palavra. A sinceridade é um dever do homem para com Deus e seus semelhantes, mas não
um requisito primordial para a salvação. De nada adianta o pecador ser sincero, se está fora do caminho da
salvação traçado por Deus. Religião é aquilo que o homem faz para Deus; salvação é aquilo que Deus fez pelo
homem.
João 14:6 — O caminho para o Céu é Jesus Cristo e mais nenhum outro. (Ver At 4:12.) Religião é coisa
externa: são as práticas e conduta religiosas. A prática da vida cristã não é meramente uma religião, mas uma
relação bendita de vida em Cristo (Jo 15:4-5). Religião é o homem tentando achar Deus. Jesus não veio fundar
uma religião — ―Eu vim para que tenham vida‖ (Jo 10:l0b).
Lucas 13:3 — As condições para a salvação são fé e arrependimento; não é religião. A religião quando
muito, pode reformar socialmente uma pessoa e isso por algum tempo; ao passo que o Evangelho, como o poder
de Deus, pode transformar radicalmente o pecador.
I João 5:12 — Para ter a vida eterna não basta ter uma religião e nela ser sincero, mas é necessário ter a
pessoa em si, o Filho de Deus.

“Já sou filho de Deus e Deus é amor. Ele não vai condenar um ser humano que veio
dele. No fim, todos serão salvos.”
Realmente, Deus não condena ninguém (Jo 3:17). O homem é que se condena a si mesmo quando rejeita
o Salvador Jesus.
Salmo 9:17 — A Palavra de Deus, que é a autoridade final nesse assunto, não diz que ―Deus é amor e não
vai condenar ninguém‖. Este desejo do coração humano parece muito bom, isto é, que todos sejam salvos sem
exceção, mas isso não é o que afirma a Palavra de Deus. Se fosse assim, como muitos pensam, a vida futura no
Céu seria pior do que na Terra. Temos de nortear-nos pela Palavra de Deus e não pelo que o nosso coração
sente. (Ver Sl 1:5; Mc 16:16.)
João 3:18 — Deus mesmo não condena ninguém. Os homens é que se condenam a si mesmos quando
rejeitam a Cristo como Salvador. Quando alguém recusa o Salvador Jesus, está fechando a porta do Céu para si
mesmo, pois Jesus é essa porta (Jo 10:9).
João 12:48 — Deus deu ao homem livre arbítrio. Tudo depende da escolha que fizermos: Salvação,
aceitando o Salvador; perdição, rejeitando-o. (Ver Js 24:15; I Rs 18:21.) Ora, se alguém me avisa: ―Perigo!‖ e
eu continuo avançando, quem é o culpado da morte?
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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Lucas 13:3 — A leitura deste versículo mostra como é falsa a premissa da desculpa acima. O certo é:
arrependimento ou perdição. (Ver Mt 18:3)
II Pedro 2:4 — É falsa a premissa de que Deus, por ser amor, não deixará ninguém ir para o inferno.
João 1:12 — Logo, quem são os filhos de Deus? Qualquer um é filho de Deus?

“ Acho que se eu me tornar crente não ficarei firme.”


Romanos 14:4 — Diz que ―poderoso é Deus para o firmar‖. Se Jesus tem tanto interesse em salvar o
pecador, abandoná-lo-á depois de salvá-lo? (Ler Ez 36:25-27, especialmente o v. 27, onde Deus mesmo diz:
―Farei que andeis nos seus estatutos‖) Aleluia!
João 10:28-29 — Nosso amado Senhor declara que nos guarda segurando a nossa mão, juntamente com o
Pai Eterno. Dupla segurança!
Salmo 91:4 — Há perfeita segurança debaixo de suas asas. Se alguém permanecer nesse lugar estará
garantido, mas se não...
Filipenses 1:6 — Se Deus já operou a salvação em você, o que é a parte mais difícil, não fará tudo o mais,
até você chegar à sua santíssima presença, perante seu trono no Céu? Qual é mais difícil para Deus: salvar um
pecador carregado de pecados e misérias, ou guardar um crente justificado e que busca andar em santificação?
I Pedro 1:5 — Aqui a Palavra diz que somos guardados ―pelo poder de Deus‖. Se eu me entrego em suas
mãos, a minha guarda e proteção não é tarefa minha, é de Deus. Todo aquele que procura guardar-se a si próprio
quanto à salvação, fracassa. A segurança da minha salvação não depende de mim; depende de Deus! (II Tm
1:12). Há outros sentidos em que o crente deve guardar-se, mas quanto à salvação, ele deve depender tão-
somente da eficácia e da autoridade que emanam da obra e da pessoa do Senhor Jesus Cristo. Pedro, o escritor
deste texto bíblico, sofrera uma queda!
Hebreus 7:25 — Aqui está escrito que Jesus, no Céu, se ocupa conosco agora. (Ver II Tm 1:12; Jd v.24.)
Conforme I Sm 17:34 e II Tm 4:17, Deus pode arrancar suas ovelhas da boca do leão!

“Conheço muitos crentes errados e hipócritas, por isso não vou ser crente.”
Bem, um crente pode tornar-se hipócrita, mas Jesus nunca! Você não está aqui para seguir um crente e
sim a Jesus.
Salmo 16:8 — ―O único que deve estar à nossa frente é o Senhor. Se você está tropeçando num crente, é
prova de que esse crente está à sua frente e que você está atrás dele. Só podemos tropeçar naquilo que está à
nossa frente. De nada adianta ficar atrás de um hipócrita com essa desculpa. É melhor suportar o hipócrita aqui
por algum tempo do que ficar toda eternidade com ele no inferno... Somente Jesus deve ser o exemplo e modelo.
(Ler Is 45:22; Mt 19:17.) Cuidado com essa mania de viver procurando erros nos outros, e de andar ―caçando
hipócritas!‖ Se você for observar os hipócritas, jamais será um crente, pois os hipócritas só cessarão no fim do
mundo (Mt 13:41).‖111
II Samuel 16:7 — Você não tem capacidade completa de julgar corretamente seu semelhante, porque os
atos que determinam a conduta de cada pessoa têm origem no coração, e, só Deus conhece os corações. Você
também não sabe os motivos que originam os atos. Ninguém pode atirar a primeira pedra (Jo 7:24; 8:7).
Jeremias 17:10 — Julgar e recompensar os homens não é tarefa nossa: é de Deus. Não entre na seara
alheia (Rm 14:4).
Lucas 6:41 — Diz um provérbio inglês: ―Quem mora em casa de vidro não apedreje a casa dos outros‖.
(Ver Rm 2:13.) Quem cuida da vida dos outros, esquece-se da sua. Quem tem uma trave no olho (Mt 7:3b) vê as
coisas de modo defeituoso.
Mateus 7:1 — Atente bem para o aviso que há neste versículo.
Romanos 14:12 — O causador de tropeços (“cada um”) dará conta de suas faltas; você dará das suas
somente. É necessário que o escândalo se manifeste para que o hipócrita fique conhecido.

111 Antônio Gilberto, A prática do evangelismo pessoal, CPAD, 2001 (13ª ed.), p. 81.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
110
Mateus 13:30a — Jesus ensinou que o ―trigo‖ e o ―joio‖ crescem juntos aqui. Sabe o que é joio? É uma
gramínea quase igual ao trigo. É preciso muito cuidado para não confundir os dois.

“Quando eu morrer, Deus que faça comigo como Ele quiser.”


Josué 24:15 — A sua eternidade feliz ou infeliz depende da escolha que você fizer aqui na terra. Só há
dois caminhos e dois destinos eternos: o da vida e o da morte; o do Céu e o do Inferno. É o homem quem
escolhe. A mesma verdade bíblica aparece em Pv 8:35-36; Mt 7:13-14; Jo 10:9.

“A salvação é somente após a morte; não devo preocupar-me com isso agora.”
João 5:24 — A salvação começa aqui na terra. Tem início no momento em que o pecador aceita o
Salvador Jesus. Note que o tempo do verbo está no presente: tem. A Bíblia menciona a nossa salvação no tempo
passado (II Tm 1:9; Tt 3:5).
Hebreus 9:27 — O pecador é salvo aqui na terra e não ao chegar à eternidade. Nossos pecados são
perdoados aqui na terra (Lc 5:24a).

“Nasci na religião de meus pais, portanto, já tenho minha religião. Nela quero viver e morrer.”
Lucas 13:3; João 3:5 — Não importa o que você é; o que é preciso é nascer de novo. Para a salvação da
alma não se trata de ter ou seguir uma religião, filosofia ou igreja. O que é preciso é ser regenerado pelo Senhor
Jesus Cristo (II Co 5:17). Não é o caminho dos pais que conduz ao Céu, mas o caminho provido por Deus —
Jesus Cristo. Ser religioso, ter religião, pertencer a uma igreja cristã, nada disso provê salvação a ninguém. A
salvação é uma experiência que só se verifica quando vamos a Jesus mediante o Evangelho. Dar a desculpa
acima, é ser meramente um eco ou reflexo dos outros. Não importa o que você é; o que é preciso é nascer de
novo!
II Timóteo 2:5 — A religião não pode ser intermediária ou mediadora entre Deus e o homem.

“Não creio no inferno nem no castigo eterno. Também não creio noutra vida além
desta. Com a morte tudo finda. O inferno é aqui mesmo.”
Quanto a essas desculpas, aquilo que você pensa ou sente não é o que prevalece e sim o que Deus diz na
sua Palavra. A Escritura Sagrada declara um fato, e pronto, o assunto está resolvido. O raciocínio do homem não
anula o que Deus diz na sua Palavra. Ora, entre outras coisas, as Escrituras afirmam que Deus é amor, mas
também que é justiça. Veja algo do que está escrito quanto a essas desculpas:
— Sobre a realidade do inferno: S1 9:17; Mt 10:28; II Ts 1:8-9; Ap 21:8.
— Sobre a realidade do castigo eterno: Se aqui na terra o mal é julgado e a justiça humana julga o
malfeitor, que diremos nós de Deus, cujas leis são perfeitas? Textos: Mt 25:46; Mc 9:47-49; Lc 16:19-31; Ap
14:9-11; 20:15. Estes versículos mostram que o fogo do inferno é conservador; não destruidor. Ele ―salga‖ como
sal, isto é, conserva. E daí? Quem sabe mais do que Jesus? O inferno não foi preparado para o homem, e sim
para o Diabo e seus anjos (Mt 25:41), mas se o homem não se apartar do pecado irá para lá também.
— Sobre a vida além-túmulo (S1 22:29; Jo 5:28-29; Hb 9:27). Nesta referência, a ressurreição corporal
está também implícita.

“ Não posso ser crente, porque não posso perdoar a determinada pessoa.”
Ezequiel 36:26 — Deixe este problema para depois que aceitar Jesus. Em doenças espirituais do coração,
não há especialista igual a Deus, quando nos entregamos a Ele.
Mateus 18:23-35 — Sua dívida com Deus é muito maior do que a do seu vizinho com você. Atente bem
no que o Senhor diz nos vv.32-33.
Filipenses 4:13 — Estando em Cristo, tudo é possível inclusive perdoar aos que nos ofendem.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
111

“Sigo a minha consciência.”


Milhões estão dando tal desculpa. A consciência não é autoridade nem guia em matéria de salvação. Essa
autoridade repousa nas Sagradas Escrituras (Sl 119:105; II Tm 3:15). Examine a Bíblia e veja se o seu destino é
o Céu! A consciência apenas aponta a existência de uma lei. Ela é a faculdade que Deus colocou no homem para
que este possa conhecer a lei interior, isto é, o conhecimento de Deus e sua vontade. A consciência apenas vigia
sobre os nossos atos: se eles estão de acordo ou contra as nossas convicções. É esta a sua atividade; ela não
transmite conhecimentos. Também é passível de ser cauterizada pelo pecado (Ef 4:19; I Tm 4:2). Deus fala ao
homem através da consciência (Rm 2:15; 9:1), mas o guia para a salvação é a Palavra de Deus.

OS QUE ADIAM
―Hoje, não. Em uma outra oportunidade...‖ Há sempre alguém adiando, transferindo para mais tarde a
decisão de aceitar Cristo. Os motivos que alegam para retardar sua escolha são vários:

“Tenho muito tempo ainda.”


Essas pessoas precisam conscientizar-se da brevidade da vida humana. Não presumas do dia de amanhã
porque não sabes o que produzirá o dia (Pv 27:1). Mostre-lhes a necessidade de se buscar ao Senhor enquanto
se pode achar (Is 55:6). O tempo aceitável é agora. O dia da salvação é hoje (II Co 6:2).

“Tenho muito o que fazer.”


As parábolas do rico insensato (Lc 12:16-21) e da grande ceia (Lc 14:15-24) mostram a essas pessoas o
perigo de se deixar as coisas divinas para segundo plano. Por mais coisas que tenhamos a fazer, o reino e a
justiça de Deus devem vir em primeiro lugar (Mt 6:33).

“Sou jovem ainda.”


A juventude nunca foi garantia para vida longa. E, a recomendação divina é: Lembra-te do teu Criador
nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não
tenho neles contentamento (Ec 12:1).

“Deus é quem sabe. Quando ele quiser...”


Algumas pessoas estão sempre esperando que Deus as ―toque‖, que Deus decida por elas. Mostre-lhes
que a decisão de Deus a esse respeito há muito já foi tomada. Desde que Ele decidiu mandar Seu Filho Jesus
para morrer por elas, sua salvação ficou resolvida. Compete-lhes aceitá-lo como seu Salvador. É da vontade
divina que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade (I Tm 2:4). Quando o homem
ouve a Palavra de Deus, perante ele apresentam-se dois caminhos: o da salvação e o da perdição. Ele não mais
poderá protelar sua escolha: Se crer e aceitar a Cristo, será salvo; se não crer e o rejeitar, será condenado (Jo
3:18). Portanto, hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação (Hb 3:15).

OS OBSTINADOS
“Nem me fale nisso.”
A teimosia de alguns indivíduos às vezes é tão grande que se torna em obstinação. Quando procuramos
evangelizá-los, seus duros argumentos beiram a agressividade. De maneira firma, porém educada, mostre aos
obstinados que o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus
nosso Senhor (Rm 6:23). O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, será quebrantado de
repente sem que haja cura (Pv 29:1).
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
112

OUTRAS DESCULPAS FREQÜENTES:


 ―Tenho medo de não permanecer‖ ou ―Já tentei ser crente mas fracassei‖ (Jo 10:28; Hb 7:25).
 ―Faze a tua parte e eu te ajudarei‖ — esta expressão não existe na Bíblia (Ef 2:8; At 10:1-6, 24-28).
 ―Não sou tão pecador assim‖ (Rm 3:23; Sl 51:3-5).
 ―Ainda há muito tempo‖ (Is 55:6; Pv 29:1; II Co 6:2).
 ―Eu sou muito pecador‖ (I Tm 1:15; Jo 19:10).
 ―Não creio na Bíblia‖ (II Pe 1:21; II Tm 3:16-17).
 ―Todas as religiões são boas‖ (Jo 14:6; Tg 1:27).
 ―Deus não manda ninguém para o Inferno‖ (II Pe 3:9; I Tm 2:4; II Pe 2:9).
 ―Eu não sinto que devo aceitar o Evangelho‖ (Jr 17:9; Ap 3:20).
 ―Tenho Jesus desde que nasci‖ (Tt 1:16).
 ―Não roubo, não mato, não...; portanto, acho que Deus vai me dar um lugarzinho no céu‖ (Gl 5:19-21; Ap 21:8).
 Os que colocam em primeiro lugar os interesses pessoais:
— ―Perderei meu negócio‖ (Mt 6:32-33; 16:24-27; Mc 8:36; Lc 12:15-16,21; II Co 4:18)
— ―Terei que deixar muitas coisas‖ (Fl 3:7-8; Sl 16:11; I Jo 2:17; Lc 12:16-21; Rm 8:32)
— ―Receio meus amigos incrédulos‖ (Sl 1:1; Pv 13:20; I Jo 1:3)
— ―Serei perseguido‖ (Mt 5:10-12; Mc 8:35; Lc 12:4-5; At 14:22; II Tm 2:12; 3:12; Hb 12:1-3; I Pe 2:20-21).

COMO LIDAR COM AS DESCULPAS


O evangelista Gene Edwards orienta sobre como lidar com as desculpas:112
―O conquistador de almas precisa pedir a Deus sabedoria para conhecer a diferença entre uma desculpa e
um problema sincero. A distinção se reconhece com facilidade. Se houver algo na mente da pessoa perdida, que
de vez em quando transparece, então o crente poderá saber que se trata de um verdadeiro problema, e não mera
desculpa. Analise a pergunta. Foi feita humilde e sinceramente, tendo partido de um coração que parece lutar
com um problema? ou foi formada com um verniz de justiça própria e de indiferença?‖
―Faça a si mesmo esta pergunta: o Espírito está trabalhando no coração da pessoa com quem estou
falando? Se você vir provas de que a pergunta dela se originou no desassossego, induzido pela atuação do
Espírito Santo, então, muito ternamente procure responder da melhor maneira possível, conservando o Senhor
Jesus Cristo como pensamento central. Mas, se não souber a resposta, simples e honestamente reconheça o fato,
e deixe nas mãos do Espírito Santo resolver o problema.‖

REFUTAÇÕES REFERENTES A:
a) Imagens (Êx 20:3-5; Sl 115; Is 45:15,20; 46:6-7; Rm 2:22-24)
b) Purgatório (Lc 16:19-31)
c) Espiritismo (Hb 9:27; Dt 18:11-12; At 16:16-18)
d) Céu (Ef 1:20; Hb 1:10; Ap 21:1-4; II Co 5:1; Sl 89:11)
e) Adventismo (Lc 6:1-11; 13:10-17; Ez 36:15-18)
f) Mariolatria (Is 59:15-16; Rm 8:34; Hb 7:24,27; At 4:12; I Tm 2:5; Mt 12:46-50; Jo 7:1-5; Lc 1:27-28)
g) Indiferentismo (Hb 2:3)

112 Gene Edwards, Assim uma igreja conquista almas. Editora Vida, 1996 (2ª ed.), p. 136.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
113

7 – A VIDA PESSOAL DO CRISTÃO-


EVANGELISTA
1) Qualificações para Conquistas de Almas
(Em relação a Deus e em relação ao homem)

Quais seriam as qualificações que normalmente Deus quereria ver em Seus servos, quais
provavelmente Ele aprovaria e empregaria. Ou seja, o tipo de cristão que conta com maior
probabilidade de ser empregado pelo Senhor para o trabalho evangelístico.

Caráter santo — Integridade, dignidade, retidão. Esta santidade deve manifestar-se na comunhão
com Deus. O evangelho exige um compromisso ético com a nossa mensagem. A grandeza transformadora e
radiante do evangelho deve ser visível em nosso comportamento (Gl 2:20; Fl 1:27; I Ts 2:8-10; I Co 9:27). O
evangelho é o poder de Deus que transforma o homem todo, bem como todas as suas relações.
Ser exemplo, ser coerente (= quando os lábios e a vida estão de acordo). Usar a santa arma do chamariz;
quer dizer, o exemplo, indo nós mesmos a Cristo, vivendo nós mesmos piedosamente em meio a uma geração
perversa; nosso exemplo de alegria e tristeza, nosso exemplo de santa submissão à vontade de Deus na adversi-
dade, e em toda forma de procedimentos benévolos, será o meio de induzir outros a entrarem no caminho da
vida (At 3:4; I Pe 2:12; Rm 12:1-2).
Espírito humilde — Dá glória a Deus; não espera elogio. Paulo, quando pregava em Atenas, e
contendia com os filósofos epicureus e estóicos, foi hostilizado verbalmente. Houve quem perguntasse: ―Que
quer dizer esse tagarela (spermologos)?‖ (At 17:18). ―Spermologos‖, ao que parece, era uma gíria ateniense, que
significava literalmente um ―catador de sementes‖, sendo o termo aplicado aos pássaros comedores de semente.
A palavra passou a ser aplicada aos homens que procuravam encrencas, depois, a homens que buscavam produtos de
segunda mão por preços baixos no mercado — pedintes. Daí, metaforicamente, foi utilizada para se referir àquelas pessoas
que reúnem retalhos de informação para tagarelar sobre eles; em outras palavras, ―fofoqueiro‖, ―caçador de verbetes‖,
―plagiador‖, ―charlatão‖.
O que nos chama a atenção neste particular, é o fato de Paulo não discutir sobre esta maldosa e caluniosa
insinuação. Ele procedeu polidamente (At 17:22-23), pregando o evangelho. Ele tinha algo mais importante a
fazer naquela cidade do que ficar se defendendo de acusações ou de brincadeiras de mal gosto. Paulo era um
intelectual, porém quando insultado intelectual e moralmente, nem por isso deixou-se ofender tão facilmente.
Ele não se desviou da sua rota: a pregação do evangelho de Cristo. O que de fato lhe revoltava era a ignorância
espiritual do povo (At 17:16).
Ter um fé viva — Crer que é chamado para testemunhar; crer que a mensagem que lhe cabe
transmitir é a Palavra de Deus; crer que a mensagem tem poder; esperar que Deus o use. Não envergonhar do
evangelho (Rm 1:16; II Tm 1:8).
Sinceridade evidente - Fica claro o ouvinte que a testemunha crê firmemente nas verdades que
proclama; fala de coração e não como ator. A nossa proclamação fundamenta-se na Palavra, através da qual,
tivemos nossa experiência salvadora (Mc 5:18-20; Mt 28:19-20). Ser testemunha (= ―saber o que vai dizer‖;
―sentir-se em casa quanto ao seu assunto‖). Ser salvo e ter certeza disso (I Tm 1:16).
Servir ao evangelho, com singeleza de coração — Sem interesses pessoais; não movido
por outras razões a não ser a glória de Deus. Nós somos comissionados a usar os nossos talentos a serviço do
evangelho. Não podemos tornar o evangelho um meio para os nossos interesses; antes, ele é o meio para a
glorificação de Deus (I Co 9:23; II Co 4:5; Fl 2:22; 4:3; I Ts 3:2). Pregar de boa vontade. A nossa pregação é
motivada pelo desejo de glorificar a Deus, através da conversão do Seu povo. Qualquer outro motivo que
assuma a preponderância em nossa tarefa, desvia o sentido da evangelização (Fl 1:15). Desinteresse financeiro
(II Co 11:7; I Ts 2:8-9; Mt 10:10; I Co 9:14).
Completa submissão a Deus — Rende-se à mente e à vontade de Deus; é sensível à influência
do Espírito Santo. O nosso compromisso é com Deus; portanto a nossa mensagem não visa agradar a homens,
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
114
mas sim a Deus que conhece os nossos corações (I Ts 2:4).
Firmeza doutrinária — Não podemos ―adaptar‖ a verdade de Deus aos interesses de nossos
ouvintes, ao gosto moderno. A mensagem não é nossa; por isso não podemos simplesmente alterá-la ao nosso
bel-prazer (II Co 4:2). O que se exige de nós como despenseiros, é que sejamos fiéis (I Co 4:1-2). A nossa
fidelidade será medida de acordo com a nossa obediência à Palavra, não por nossa popularidade ou ―êxito‖
como pregadores (II Tm 4:1-5; I Ts 2:4; II Co 2:17). Deus, Deus mesmo é quem chama, transforma, salva e
alimenta o Seu povo, através da Sua Palavra (Lc 8:11; Rm 1:16; 8:29-30; Tt 3:5).
Ensinar com simplicidade — O homem é convertido não pela força de nossos argumentos, mas
pelo Espírito de Deus. Devemos nos esforçar por apresentar uma mensagem persuasiva; todavia, que seja
simples, a fim de que a fé de nossos ouvintes não seja estimulada a se amparar em nossa suposta sabedoria, que
aliás não salva ninguém nem a nós mesmos. (I Co 2:1-5).
Não deturpar, mas apresentar todo o desígnio de Deus — Somos chamados a
apresentar todo o conselho de Deus revelado nas Escrituras, não simplesmente aquilo que mais nos agrada (At
20:27; Gl 1:6-7; II Co 4:1-2). Devemos estar preparados para defender e confirmar o evangelho (Fp 1:7; I Pe
3:15).
Constante e evidente entusiasmo/fervor — Põe toda a alma no trabalho. Intensidade da
proclamação e sensibilidade emocional. Emprega esforços sem recuar.
Ser como advogado do Senhor Jesus, no sentido de ser dominado por bem fundado fervor. Quem advoga
em favor de Cristo deve, ele próprio, comover-se ante a perspectiva do dia do juízo. Spurgeon afirmou:
―Quando chego àquela porta de trás do púlpito e dou com aquela enorme multidão, muitas vezes fico apavorado.
Penso naquelas milhares de almas imortais que me contemplam através das janelas dos seus olhos anelantes,
reflito em que tenho de pregar a todos os que ali estão, e que serei responsável por seu sangue se não lhes for
fiel. Digo-lhes que isso me deixa a ponto de recuar. Mas eis que o temor não fica sozinho. Ganho vida nova pela
fé e esperança de que Deus tenciona abençoar aquelas pessoas mediante a Palavra que Ele me capacitará a
transmitir. Creio que cada um daquela multidão foi mandado ali por Deus com algum propósito, e que eu fui
113
enviado para o cumprimento desse propósito‖.
Não criar obstáculo — Paulo trabalhou com as suas próprias mãos, nada recebendo da igreja de
Corinto; não que ele achasse injusto receber seu salário; pelo contrário, ele repete as palavras da lei, conforme a
interpretação de Cristo: ―Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do
evangelho.‖ (I Co 9:14) (Mt 10:10; Lc 10:7; I Tm 5:18). O que ele não queria era causar ―obstáculos‖. ―...Não
usamos desse direito, antes suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo.‖ (I
Co 9:12). A palavra traduzida por obstáculo (egkope), só aparece neste texto em todo o Novo Testamento, e tem
o sentido de cortar uma árvore gerando um impedimento ou, abrir uma vala, que obstaculizasse o caminho do
inimigo, daí a palavra tomar o sentido de ―impedimento‖, ―empecilho‖, ―obstáculo‖. O certo é que Paulo não
queria, de nenhuma forma, ser um obstáculo no caminho do evangelho.
Ternura — Coragem mas não insolência, nem malícia, nem má vontade ou mau gênio. Exercer a dura
obrigação de ser leal ao dizer toda a verdade para a salvação, mas transmitir a mensagem de modo que não o-
fenda; falar a verdade com amor; ser afável e cheio de simpatia (I Co 9:19-22).
Vínculo saudável na comunidade da fé — Estar ligado a uma igreja zelosa e dinâmica que
está orando pela evangelização. Conseguir irmãos e irmãs que apóiem, acompanhem e, principalmente, orem
uns pelos outros, fortalecendo sua disposição evangelística.
Abertura para ser acompanhado/tutorado — É de grande ajuda unir-se a algum cristão de
coração ardente que saiba mais do que nós, e nos beneficiará com sugestões sensatas.
Abnegação e Perseverança — Desprendimento evidente. O servir ao evangelho exige uma boa
dose de renúncia de nossos interesses pessoais, bem como um firme propósito de realizar a obra que Deus nos
confiou (At 20:24; I Ts 2:2,9-12; II Tm 1:8; 4:2-5; Fm 13). Estar sempre pronto. Devemos estar predispostos à
atender ao chamado de Deus. Paulo se declara sucessivamente pronto a levar o evangelho aonde Deus o
mandasse (At 16:9-10; Rm 1:15; Gl 1:15-16; At 13:1-3).

113 C. H. Spurgeon, O conquistador de almas. PES Editora, 1993 (3ª ed.), p. 125-126.
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Ter o senso de urgência — “Prega a palavra... Pois haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina” (II Tm 4:2-3). Hoje ainda temos ouvintes; mas, até quando? O senso de urgência deve nos levar a
falar como se aquela fosse a última vez. A mensagem cristã deve ter sempre uma conotação de apelo ao homem
para que assuma, pela graça de Deus, uma posição favorável e submissa à Sua Palavra. Contudo, devemos nos
lembrar de que ―o motivo da urgência da evangelização jaz em Deus. Visto que Ele é quem é, insiste
urgentemente com os pecadores para que sejam convertidos a Ele.‖ 114
Ter consciência de que o trabalho depende inteiramente do Espírito da graça
de Deus — Sem a operação do Espírito da graça, toda a nossa reflexão, todo o nosso esforço, todos os nossos
métodos, toda a nossa oratória e capacidade de persuasão serão vãos. O poder do evangelho está no conteúdo da
sua mensagem, que somente é compreendido mediante a ação do Espírito (Hb 10:29; I Co 1:17; II Co 2:1-5; I
Ts 1:5; I Co 3:1-9).

MAIS QUALIFICAÇÕES PARA CONQUISTA DE ALMAS


1. Ser um cristão de oração. A oração é declaração solene e existencial do povo de Deus, de que
a sua suficiência e capacidade estão em Deus. Orar é exercitar a nossa fé nAquele que temos conhecido.
A oração deve fazer parte da vida do evangelista como estilo de vida constante, por que?
a) Pela oração é possível absorvermos o caráter de Deus em nossa vida.
b) Ela confere autoridade e poder ao evangelista (Ef 6:18). ―Dias de poder são sempre precedidos de
noites de oração.‖
c) Ela confere ao Espírito Santo a liberdade de ação na vida do evangelista (Jo 3:33).
d) A oração possibilita o enchimento do Espírito Santo (At 1:14; 2:4, 37; 4:31).

Bill Bright identifica alguns benefícios da combinação do jejum com a oração: 115
 É uma maneira bíblica de verdadeiramente humilhar-se a si mesmo aos olhos de Deus (Sl 35:13; Ed
8:21).
 Traz revelação do Espírito Santo sobre a verdadeira condição espiritual do crente, resultando em
quebrantamento, arrependimento e mudança.
 Pode resultar em avivamento pessoal dinâmico, porque põe em execução a obra interior do Espírito
Santo de um modo mais extraordinário e poderoso.
 Ajuda-nos a entender melhor a Palavra, tornando-a mais significativa, vital e prática.
 Transforma a oração numa experiência mais rica e pessoal.
 Pode restabelecer o primeiro amor por nosso Senhor.

Há princípios bíblicos para que as orações sejam respondidas. Alguns deles são:
a) sensibilidade ao Espírito (Tg 4:5). O Espírito Santo deseja conduzir o evangelista em sua vida de
oração. A oração não é possível sem a atuação do Espírito Santo na vida da pessoa. Ele é muito zeloso
da devoção total de nosso coração a Cristo. Ele não quer que Jesus tenha apenas eminência em nossos
corações, mas que tenha preeminência.
b) submissão ao Pai (Tg 4:6). Por meio da oração o evangelista se submete a Deus. Foi o que Jesus
ensinou no jardim do Getsêmani. Você quer o que Deus quer para o seu ministério e vida? Ou você se
chega a Deus com uma agenda preestabelecida ou de cabeça feita antes mesmo de orar?
c) resistir ao diabo (Tg 4:7). A oração é vital na luta contra o diabo. Há tentações demoníacas no
evangelismo. Jesus disse aos discípulos para vigiar e orar para que eles não entrassem em tentação (Mt

114 R. B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 71.


115 Citado por James O. Davis, O evangelista: melhor amigo do pastor. CPAD, 2000, p. 86-87.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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26:41). Permaneça firme contra as ―astutas ciladas do diabo‖ (Ef 6:11). Fuja da imoralidade (II Tm
2:22). Purifique seus pensamentos (Fp 4:7-8).
d) separação do mundo (Tg 4:8). Limpe as mãos (largue o mundo); consagre seu coração; concentre
seus pensamentos em Deus. O mundanismo não tem lugar no evangelismo. Guarde seu testemunho.
Pondere cuidadosamente suas palavras antes de falar.
e) rendição ao Senhor (Tg 4:9-10; I Pe 5:6-7).

E. M. Bounds escreveu:
— ―A oração enche o vazio do homem com a abundância de Deus. Farta a sua pobreza com as riquezas de Deus.
Põe de lado a fraqueza do homem com a força de Deus. Bane a pequenez do homem com a grandeza de Deus. [...] Os
homens nunca estão mais próximos do céu, mais perto de Deus, mais semelhantes a Deus, em mais profundo acordo e
mais verdadeira participação com Jesus Cristo, do que quando estão orando. A oração não é meramente uma questão de
dever, mas de salvação. É salvo quem não é de oração? Não é o dom, a inclinação, o hábito da oração, um dos elementos
ou características da salvação? Pode ser possível estar em afinidade com Jesus Cristo e não ser pessoa de oração? É
possível ter o Espírito Santo e não ter o Espírito de oração? Pode-se ter o novo nascimento e não ser nascido para a
oração? [...] Pode o amor fraternal estar no coração que é indisciplinado na oração?‖

LEITURA RECOMENDADA
Guia de Estudo para Oração Evangelística, de Evelyn Christenson.

2. Ser cheio Espírito Santo. Implica nas seguintes características:


a) Coragem, capacidade e confiança para testemunhar (At 4:8-13, 31)
b) Sabedoria para refutar os pensamentos contraditórios (At 13:9-11)
c) Amor para doar-se a si mesmo (I Ts 2:8)
d) Poder para romper com as crenças e práticas erradas (At 9:17-20)
e) Autoridade para repreender a oposição satânica (At 13:9-11)
f) Consolo e encorajamento no meio da perseguição (At 13:50-52)
g) Evidência do fruto do Espírito, que é a reprodução do caráter de Cristo (Gl 5:22-23).

É imprescindível que o cristão-evangelista esteja sob a plena direção do Espírito Santo para obter bom
êxito no ministério. O Espírito Santo e sua obra indispensável:
a) Guia-nos em toda a verdade (Jo 16:13)
b) Ensina-nos o que falar (Lc 12:12)
c) Lembra-nos das palavras do Senhor (Jo 14:26)
d) Ajuda-nos nas nossas fraquezas (Rm 8:26; II Co 3:5-6)
e) Ajuda-nos a orar como convém (Ef 6:18; Rm 8:26)
f) Dá-nos autoridade e convicção para falar (At 4:33; 2:37)
g) Dá-nos convencimento espiritual (Jo 16:8-11)
h) Regenera o pecador, dando-lhe o novo nascimento (Tt 3:5-7; Jo 3:5-8)
i) Dirige-nos quanto ao campo de evangelização (At 13:4-2; 8:26-35)
j) Revela-nos os perigos (At 20:22-33).
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3. Ser sábio. A sabedoria é um dom de Deus, capacitando o evangelista para aplicar o conhecimento,
fazer juízo de valores, analisar bem todas as experiências e ficar com o que é bom; pensar bem e agir bem (Pv
24:32; Ec 2:13-14; At 6:3; I Ts 5:21; Tg 1:5).
a) A sabedoria habilita o evangelista para falar bem as palavras do Senhor (Lc 12:12).
b) A sabedoria habilita o evangelista para ganhar almas (Pv 11:30).
c) A sabedoria auxilia o evangelista dando-lhe estratégias na evangelização (Jo 3:1-8).

4. Ter genuíno e evidente amor por seus ouvintes. Real interesse pelo bem-estar das
pessoas; solidariedade. Ninguém evangeliza por heroísmo ou espírito de aventura. Amando (I Co 9:16,2l) o
evangelista estará seguindo os mais nobres exemplos:
a) Deus amou (Jo 3:16).
b) Jesus amou (Mt 9:36) — amor ao leproso (Mc l:41); amor aos cegos (Mt 20:34); amor à viúva de Naim (Lc
7:13); amor a Jerusalém (Mt 23:37); amor às multidões (Mt 14:14; 15:32).
c) Os apóstolos amaram. Paulo: At 20:23; 21:13; Pedro e João: At 3:1-8; 4:1,2,8; 18-21.
d) Os diáconos amaram: Filipe (At 8:5); Estevão (At 7:59-60).
e) A igreja primitiva amou (At 8:4; 11:19).
f) Servos de Deus, ao longo da história da Igreja, amaram. Dentre tantos, citamos:
— Henrique Martyn: ―Agora, deixem-se consumir por Deus‖.
— John Knox: ―Dá-me a Escócia ou morrerei‖.
— Whitefield: ―Se não queres dar-me almas, retira a minha‖.
— Hyde: ―Pai, dá-me almas ou eu morro‖.
— Spurgeon: ―Alguma vez ganhou uma alma para Jesus? Terá uma coroa no Céu, mas nenhuma jóia nela? Irá
para o Céu sem filhos; e sabe como era na antiguidade, como as mulheres temiam ser deixadas sem filhos. Seja assim
com o povo cristão; que temam ser espiritualmente estéreis. Precisamos ouvir o choro de todos aqueles que Deus quer
salvar por nosso meio. Precisamos ouvi-los, ou senão clamar em angústia: ―Dá-me convertidos ou morrerei‖.
— William Carey: O início das missões no mundo moderno constou da ida de William Carey à Índia. A
visão e o grande avanço daquele missionário surpreendem a muitos e permanecem como marco da atuação de
Deus no mundo. O evangelista David Gomes descobriu os alvos de Carey, em uma publicação dedicada a
pastores e adaptou-os, como privilégio certo a quantos tenham provado da graça salvadora e alimentem real
amor pela pessoa de Jesus: 116
a) Jamais perderei de vista a realidade do valor infinito da alma.
b) Hei de me esforçar para entender a mente do povo, no quadro da sua cultura.
c) Hei de lutar para evitar que preconceitos quaisquer minem a obra do Espírito na salvação de almas.
d) Procurarei testemunhar e servir em todas as ocasiões.
e) Pregarei sem denodo o ―Cristo crucificado‖, como único e verdadeiro Salvador.
f) Considerarei este povo onde sirvo como igual perante Deus; jamais deixarei prevalecer a idéia de superioridade.
g) Promoverei a edificação das ―hostes de Deus‖.
h) Cultivarei a realidade dos dons espirituais, enfatizando sempre a conotação missionária dada por Cristo.
i) Trabalharei mais e mais no aprendizado da Bíblia.
j) Serei renitente na formação de conceitos que ponham a fé e a obediência a Cristo no lugar certo e devido, como ato
pessoal.

116 David Gomes, Evangelismo 2000. Editora EBAR, 1993, p. 97.


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k) Dar-me-ei sem restrição à causa do Senhor, pelo amor que tenho às almas. Nada é meu, nem mesmo a roupa do
meu corpo; tudo é do Senhor.
Quando o Evangelho vale, quando a graça maravilhosa tem preço, tudo pode acontecer na trilha do fiel.
Peçamos a Deus esta paixão maravilhosa que torna o Evangelho real e avalia por inteiro o custo da salvação, o
valor inestimável de uma alma.

2) O Evangelista e a Bíblia
O manual do cristão no evangelismo pessoal é a Bíblia (Jo 3:5; Rm 10:17; I Pe 1:23). Ela é a Palavra de
Deus, e, dele temos a extraordinária promessa: ―Porque assim será a palavra que sair da minha boca: ela não
voltará vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei‖ (Is 55:11; ver S1126:5-6; Rm
1:16; Tg 1:21b.).
Para empregar a Palavra de Deus é preciso conhecê-la devidamente (II Tm 2:15). A expressão ―maneja
bem‖, neste versículo, refere-se principalmente à correta aplicação do texto e da mensagem de toda a Bíblia.
É fato reconhecido que é muito mais fácil falar a Palavra de Deus a uma multidão do que a uma só
pessoa. Quem fala a um auditório não é interrompido para perguntas, apartes, argumentação etc.; já quem fala a
uma só pessoa poderá vir a enfrentar tudo isso. Há pecadores que aceitam a mensagem da salvação sem
objeções e sem argumentação, mas outros apresentam excusas tais, que, se o crente não conhecer devidamente
as Escrituras, ficará em situação vexatória.
É verdade que o Espírito Santo guia e inspira na obra de ganhar almas, mas no tocante às Escrituras, Ele
só pode lembrar-nos daquilo que conhecemos antes (Jo 14:26).
―Como poderá o Espírito Santo lembrar-me daquilo que não sei? que não ouvi? que não li? que não
aprendi? Por sua vez, o pregador ou ganhador de almas não é adivinhador de versículos... Muitos, a essa altura,
firmam-se em Mateus 10:19-20 para declararem que, na hora precisa, o Espírito Santo dará tudo, mas é bastante
o contexto da referida passagem (v.18), para ver a que ocasião Jesus se está referindo. (Leia também, quanto a
isto, Pv 9:9; I Tm 4:13; II Tm 4:13; I Pe 3:15.) A Bíblia é a ―espada do Senhor‖, mas também ―de Gideão‖ (Jz
7:20). Isto é, ela é a arma que o Espírito Santo usa, mas o elemento que a conduz é o crente. Portanto, é im-
perioso que o crente aprenda a manejar bem o Livro de Deus. Há crentes que até evitam falar de Jesus, por
causa do seu pouco ou nenhum conhecimento das Escrituras.‖ 117
No evangelismo pessoal, a doutrina principal é a de salvação da alma. É preciso que o crente conheça
bem os textos, para apresentá-los à medida que a necessidade for exigindo. Não é um texto qualquer que vamos
citar, mas aquele apropriado para o momento, pois a Bíblia tem uma mensagem adequada para cada caso, cada
coração, cada circunstância. Não é abrir a Bíblia em qualquer lugar e dizer: ―Vou ler esta passagem que o
Senhor me deu‖. O que é preciso é conhecer a Bíblia e depender do Espírito Santo. Assim sendo, Deus abre a
porta, guia e dá a mensagem adequada e ungida pelo seu Espírito.
Ter o Espírito Santo e não conhecer a Palavra conduz ao fanatismo. Conhecer a Palavra e não ter o Espíri-
to, conduz ao formalismo. Em religião, fanatismo é zelo excessivo, paixão cega; é chamar ao certo, errado; e ao
errado, certo. É ser extremista. É zelo sem entendimento (Rm 10:2). Se você deseja que o Espírito Santo o use,
inclusive na obra de ganhar almas, procure ter o instrumento que Ele emprega — a Palavra de Deus (Ef 6:17).

RESUMINDO:
1. Ler, ouvir e memorizar a Bíblia, estudando-a meditativamente (Ap 1:3; I Tm 4:13; Rm 10:17; Sl 1:2;
119:11; Dt 6:6; At 17:11; II Ts 2:15; Js l:8).
2. Crer na veracidade da Palavra (II Tm 3:16-17).
3. Ser praticante da Palavra (Tg 1:22; Mt 7:24-25).
4. Ter conhecimento das seitas e heresias e saber refutá-las biblicamente.

117 Antônio Gilberto, A prática do evangelismo pessoal. CPAD, 2001 (13ª ed.), p. 13.
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8 – O CARÁTER SINGULAR DA CONVERSÃO


CRISTÃ
Devemos examinar com as pessoas decididas por Cristo os componentes
básicos de uma verdadeira conversão — esta é produto de
arrependimento e fé salvadora, contendo em si elementos da vontade,
intelecto e emoção.

1) CONVERSÃO (Fé e Arrependimento)


―Conversão é nossa resposta espontânea ao chamado do evangelho,
pela qual sinceramente nos arrependemos dos nossos pecados e
colocamos a confiança em Cristo para receber a salvação.‖
A palavra conversão significa ―volta‖ — aqui ela representa uma volta espiritual, voltar-se do pecado
para Cristo. O voltar-se do pecado é chamado arrependimento, e o voltar-se para Cristo é chamado fé. Podemos
considerar cada um desses elementos da conversão, e não importa a respeito de qual deles discutamos primeiro,
porque um não pode ocorrer sem o outro, e eles devem ocorrer juntos quando se dá a verdadeira conversão.

A VERDADEIRA FÉ SALVÍFICA INCLUI CONHECIMENTO,


APROVAÇÃO E CONFIANÇA PESSOAL
a) Mero conhecimento sobre os fatos da vida, morte e ressurreição de Jesus não é o bastante.
b) Conhecer os fatos e aprová-los ou concordar que eles são verdadeiros não é suficiente.
c) Além do conhecimento dos fatos do evangelho e da aprovação deles, a fim de ser salvo, preciso decidir
depender de Jesus para me salvar. Ao fazer isso, deixo a posição de um observador interessado nos fatos
da salvação e nos ensinos da Bíblia para tornar-me alguém que entra numa nova comunhão com Jesus
Cristo como uma pessoa viva.
Podemos, portanto, definir fé salvífica da seguinte maneira: ―Fé salvífica é confiança em Jesus Cristo
como uma pessoa viva visando ao perdão dos pecados e à vida eterna com Deus.‖
Segundo Wayne Grudem:118 Essa definição enfatiza que a fé salvífica não significa apenas acreditar nos
fatos, mas implica a confiança pessoal em Jesus que nos salva. Muito mais está envolvido na salvação do que
simplesmente perdão dos pecados e vida eterna, mas alguém que inicialmente chega-se a Cristo raramente
percebe a extensão das bênçãos da salvação que hão de vir. Além disso, podemos sintetizar as duas principais
preocupações da pessoa que aceita Cristo como ―perdão dos pecados‖ e ―vida eterna com Deus‖. Naturalmente,
vida eterna com Deus envolve assuntos como uma declaração de retidão diante de Deus (parte da justificação),
adoção, santificação e glorificação, mas essas coisas podem ser entendidas em detalhes mais tarde. A principal
coisa que preocupa um incrédulo que se chega a Cristo é o fato de que o pecado o separou da comunhão com
Deus para a qual fomos feitos. O incrédulo chega-se a Cristo em busca da remoção do pecado e da culpa e do
ingresso numa comunhão genuína com Deus, que durará para sempre.
A definição enfatiza confiança pessoal em Cristo, não apenas acreditar nos fatos a respeito dele. Porque a
fé salvífica nas Escrituras envolve essa confiança pessoal, a palavra ―confiança‖ é melhor na cultura
contemporânea do que ―fé‖ ou ―crer‖. A razão é que podemos ―crer‖ que algo seja verdadeiro mesmo que
pessoalmente não nos comprometamos com isso nem haja alguma dependência envolvida. A palavra fé é às
vezes usada atualmente para se referir a um comprometimento quase irracional com alguma coisa, mesmo
quando há forte evidência do contrário, uma espécie de decisão irracional de acreditar em algo sobre o qual
estamos totalmente certos de que não é verdadeiro! (Se o seu time de futebol continua a perder os jogos, alguém
pode encorajá-lo a ―ter fé‖ mesmo que todos os fatos indiquem a direção oposta.) Nesses dois sentidos
populares, as palavras ―crer‖ e ―fé‖ têm um significado contrário ao sentido bíblico.

118 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p. 593-595.


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A palavra confiança representa bem a idéia bíblica, visto que estamos familiarizados com pessoas que
todos os dias confiam. Quando conhecemos uma pessoa que demonstra um comportamento na vida que justifica
a confiança, percebemo-nos confiando nela, nas suas promessas e no que ela pode vir a fazer. Esse sentido mais
pleno de confiança pessoal é indicado em diversas passagens das Escrituras nas quais a fé salvífica inicial é
tratada em termos bem pessoais, freqüentemente com analogias oriundas de relacionamentos pessoais. João diz:
―Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus‖ (Jo 1:12). Assim como
nós receberíamos um convidado em nossa casa, João fala de receber Cristo.
João 3:16 promete-nos que todo o que nele crê não perece, mas tem a vida eterna. Aqui João usa uma
frase surpreendente, porque não diz apenas ―todo o que crê no que ele diz‖ (isso é, crer que o que ele diz é
verdadeiro e por isso merece confiança), mas ―todo o que nele crê‖. A frase grega pisteuõ eis auton poderia
também ser traduzida ―crê na pessoa dele‖ com o sentido da confiança que se dirige a Jesus e nele permanece
como pessoa. Leon Morris pode dizer: ―Fé, para João, é uma atividade que arrebata os homens para fora de si
mesmos e os torna um com Cristo‖. Ele entende que a frase grega pisteuõ eis é uma indicação significativa de
que no Novo Testamento, fé não é apenas assentimento intelectual, mas inclui ―um elemento moral de confiança
pessoal‖. Essa expressão grega tão rara talvez não exista no grego secular fora do NT, mas era bem apropriada
para expressar a confiança pessoal em Cristo envolvida na fé salvífica.
Jesus fala sobre ―vir a ele‖ em diversos lugares. Ele diz: ―Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e
o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora‖ (Jo 6:37). Ele também diz: ―Se alguém tem sede, venha a
mim e beba‖ (Jo 7:37). De modo semelhante, Ele diz: ―Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração...‖ (Mt 11:28-30). Nessas passagens temos a idéia do que é ir a Cristo e pedir aceitação,
água da vida para beber, descanso e instrução. Tudo isso fornece um quadro intensamente pessoal do que está
envolvido na fé salvífica. O autor de Hebreus também nos diz que pensemos em Jesus como vivo no céu, pronto
para nos receber: ―Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre
para interceder por eles‖ (Hb 7:25). Jesus é retratado aqui (como muitas vezes no NT) como aquele que está
vivo no céu neste momento, sempre capaz de ajudar os que vão a Ele.
O teólogo reformado J. I. Packer cita o seguinte parágrafo do escritor puritano britânico John Owen,
descrevendo o convite de Cristo à resposta com fé pessoal:
— É mais ou menos assim que Ele agora fala com vocês: Por que morrer? Por que perecer? Por que não ter compaixão
de suas próprias almas? Poderão seus corações resistir ou serem fortes suas mãos, no dia da ira que está se
aproximando? [...] Olhem para mim e sejam salvos; venham a mim, e eu os libertarei dos seus pecados todos, de suas
tristezas, temores, dificuldades, e darei descanso às suas almas. Venham, eu rogo; ponham de lado toda a procrastinação,
todas as demoras; parem de me rejeitar; a eternidade jaz às portas [...] não me odeiem de tal modo que prefiram perecer a
aceitar Meu livramento. Essas e outras coisas semelhantes Cristo, o Senhor, continuamente declara, proclama, pleiteia e
exorta perante as almas dos pecadores [...] Ele o faz através da pregação da palavra, como se estivesse presente com
vocês, de pé em seu meio, como se falasse pessoalmente com cada um de vocês [...] Ele nomeou os ministros do
evangelho para se apresentarem a vocês, para tratarem com vocês em lugar dEle, reconhecendo como Seus os convites
que são feitos em seu nome (II Co 5:19-20).
Com essa percepção da verdadeira fé do NT, podemos agora perceber que quando uma pessoa vem a
confiar em Cristo, todos os três elementos devem estar presentes. Tem de haver algum conhecimento básico ou
entendimento dos fatos do evangelho. Tem de haver também aprovação, concordância com esses fatos. Tal
concordância inclui uma convicção de que os fatos do evangelho são verdadeiros, especialmente o fato de que
―eu sou um pecador que necessita de salvação e somente Cristo pagou a penalidade pelo meu pecado e me
oferece salvação‖. É necessária também a consciência de que ―eu necessito confiar em Cristo para receber a
salvação, e Ele é o único caminho para Deus, o único meio para minha salvação‖. Essa aprovação dos fatos do
evangelho envolverá também um desejo de ser salvo através de Cristo. Mas tudo isso ainda nada acrescenta à
verdadeira fé salvífica, que vem somente quando eu decido por minha própria vontade depender de Cristo ou
nele exercer confiança como meu Salvador. Essa decisão pessoal de depositar minha confiança em Cristo é algo
feito com meu coração, faculdade central de todo o meu ser que assume compromissos por mim como uma
pessoa integral.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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A FÉ E O ARREPENDIMENTO DEVEM VIR JUNTOS


 “Arrependimento é uma sincera tristeza por causa do pecado, é renunciá-lo e comprometer-se
sinceramente a abandoná-lo, e prosseguir bedecendo a Cristo.”
Essa definição indica que o arrependimento é algo que ocorre em um momento específico do tempo, que
não corresponde necessariamente ao momento da visível transformação no padrão de vida da pessoa. O
arrependimento, assim como a fé, é um entendimento intelectual (de que o pecado é errado), uma aprovação
emocional dos ensinos das Escrituras concernentes ao pecado (uma tristeza por causa do pecado e uma aversão
a ele), e uma decisão pessoal de afastar-se dele (um renunciar ao pecado e uma decisão resoluta de abandoná-lo
e de levar uma vida de obediência a Cristo).
As Escrituras colocam o arrependimento e a fé juntos como aspectos diferentes daquele ato único de
voltar-se para Cristo em busca da salvação. Neste diagrama, a pessoa que se volta genuinamente para Cristo em
busca de salvação deve ao mesmo tempo renunciar ao pecado ao qual se apegara e afastar-se dele a fim de
voltar-se para Cristo. Assim, nem o arrependimento nem a fé vem primeiro; eles devem vir juntos. John Murray
expressa tal verdade com os termos «fé penitente‖ e ―arrependimento confiante‖.119

Conversão é o ato único de dar as costas para o pecado


em arrependimento e voltar-se para Cristo em fé.

―Quando compreendemos que a genuína fé salvífica tem de estar acompanhada do genuíno


arrependimento dos pecados, isso nos ajuda a entender por que algumas pregações do evangelho têm atualmente
resultados inadequados. Se não houver menção da necessidade de arrependimento, às vezes a passagem do
evangelho torna-se somente isto: ―Creia em Jesus Cristo e seja salvo‖ sem qualquer menção do arrependimento.
Mas essa versão diluída do evangelho não exige um compromisso de todo o coração com Cristo — o
compromisso com Cristo, se genuíno, tem de incluir um compromisso de afastar-se do pecado. Pregar a
necessidade de fé sem arrependimento é pregar apenas metade do evangelho. Isso resultará em muitas pessoas
enganadas, pensando que ouviram o evangelho cristão e que o experimentaram, mas nada aconteceu de verdade.
Elas podem até mesmo dizer algo como: ―Aceitei Cristo como Salvador diversas vezes, mas a coisa nunca
funcionou‖. Até agora elas nunca receberam realmente Cristo como Salvador, porque Ele vem a nós em sua
majestade e nos convida a recebê-lo como Ele é — o único digno de ser o Senhor absoluto até de nossa vida, e
Ele exige sê-lo.‖120

119 John Murray, Redenção Consumada e Aplicada. Editora Cultura Cristã.


120 Wayne Grudem, Teologia Sistemática. Ed. Vida Nova, 2000 (reimp.), p. 599.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
122
Portanto, é claramente contrário à evidência do Novo Testamento falar de verdadeira fé salvífica sem
arrependimento algum. Também vai contra o Novo Testamento falar da possibilidade de aceitar Cristo ―como
Salvador‖, mas não ―como Senhor‖, se isso significa simplesmente depender dele no que tange à salvação mas
não se comprometer a abandonar o pecado e a ser-lhe obediente desse ponto em diante.

2) Orientação para um Novo Decidido no Evangelismo


Celebre
Depois de conduzir alguém em uma oração de compromisso, é importante reservar algum tempo para cele-
brar e conversar. Talvez você queira destacar Lucas 15:10: ―Há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador
que se arrepende‖. Este é um momento fascinante, e sua atitude deve refletir esse fascínio.
Naturalmente, a maneira pela qual as pessoas expressam seu entusiasmo varia de acordo com sua
personalidade. Por isso não se surpreenda se às vezes houver abraços e lágrimas de alegria, e em outras ocasiões
a pessoa apenas aperte sua mão e agradeça.

Depois do compromisso
É importante reiterar a importância do que acabou de acontecer. Afirme que elas tomaram a decisão mais
importante da vida, e que agradecerão a Deus por toda a eternidade. Mas esteja preparado se algumas pessoas
não se sentirem profundamente tomadas pelas emoções como você esperava. Tudo bem. O importante é que elas
tenham sido sinceras em suas orações. Os sentimentos vêm depois, mais fortes para algumas pessoas do que
para outras.

Pinte um quadro realista


Explique-lhes que haverá altos e baixos em seu nível de intimidade com Cristo e no nível de entusiasmo que
sentirão em servi-lo. Isto é normal em todos os relacionamentos ou compromissos. O importante é que elas re-
solveram permanecer em contato com Deus nos momentos bons e ruins que certamente vão experimentar.

Explique os passos do crescimento espiritual


É comum esquecer falar sobre os hábitos básicos que nos ajudam a crescer como cristãos. Mas seja imedia-
tamente ou nos próximos dois dias, é vitalmente importante passar algum tempo dando sugestões práticas sobre
as áreas seguintes.

Oração
Explique que os novos cristãos precisam reservar alguns minutos por dia para comunicar-se com Deus.
Incentive-os a falar com Ele na linguagem coloquial, sendo honestos e francos acerca do que se passa em sua
mente diariamente. Mesmo que eles não sintam vontade de orar, é bom dizê-lo a Deus!
Para manter o equilíbrio na oração, Bill Hybels costuma ensinar às pessoas o método A-C-G-S. Primeiro,
o ―A‖ representa adoração; adorar a Deus é um ótimo meio de começar. ―C‖ é confissão; quando caírem em
pecado, elas devem admiti-lo a Deus, que garante o perdão. O ―G‖ é de gratidão, uma reação natural ao perdão
de Deus e aos muitos outros sinais de seu amor e cuidado em sua vida. O ―S‖ é de súplica, que basicamente
significa fazer pedidos; Deus deseja que façamos isso e promete ouvir e responder.
Orar juntos durante as próximas reuniões é uma excelente maneira de ilustrar e reforçar a importância do
hábito de falar com Deus.

Leitura da Bíblia
Destaque o fato de que a principal maneira de Deus falar conosco é através de Sua revelação escrita, a
Bíblia. Essa é a carta de Deus para a humanidade, que nos fala dele mesmo, do seu amor por nós, da história do
nosso pecado, da salvação e da orientação sobre como devemos servi-lo e agradá-lo.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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Incentive o hábito de ler um capítulo por dia, começando com um dos evangelhos do Novo Testamento,
em uma versão bíblica que as pessoas possam entender. Além disso, avise-as com antecedência que certamente
elas terão perguntas a fazer, e que podem anotá-las e conversar a respeito com você ou qualquer outro crente
experimentado.
Um livro que você pode achar útil para ajudá-las no desenvolvimento de hábitos de estudo bíblicos
equilibrados é Como estudar sua bíblia pelo método indutivo, de Kay Arthur, publicado pela Editora Vida.

Relacionamento com outros cristãos


Destaque a importância de desenvolver amizades profundas e sinceras com outros cristãos e de
regularmente passar tempo com eles. Esses relacionamentos serão fonte importante de encorajamento,
aprendizado e responsabilidade. É o que normalmente encontramos nos Grupos Pequenos.
Certifique-se de que seus amigos encontraram uma igreja que ensine a Bíblia de maneira exata e
relevante, estimulando a saúde e o crescimento espiritual. Destaque que a igreja, além de ser um lugar onde eles
podem ser desafiados e ensinados, também é o lugar onde Deus quer usá-los para servir aos outros conforme os
dons espirituais que ele lhes concedeu. Estimule-os com o fato de que foram convocados para serem
importantes jogadores da equipe divina.

Relacionamentos com não-crentes


Nunca é cedo demais para dizer aos novos crentes que Deus deseja que eles sejam cristãos contagiantes,
através de quem Ele alcançará a outros. Partilhe alguns dos princípios que você aprendeu sobre isso, mas
também exorte-os a ser pacientes com os familiares. Essas pessoas precisarão de tempo para observá-los e
constatar se a transformação é real antes de considerarem seriamente as implicações do Evangelho para si
mesmas.

Providencie alimentação espiritual a longo prazo


As áreas que acabamos de examinar fornecem a orientação inicial para que novos decididos iniciem a vida
cristã de forma saudável. O problema é que com demasiada freqüência paramos ali, esperando que de alguma
forma eles sobrevivam sozinhos. Mas, sabendo que são recém-nascidos espirituais, precisamos garantir que
recebam alimento espiritual adequado. Há duas boas opções para isso. A primeira é a paternidade natural, e a
segunda é a adoção.
A paternidade natural significa que você, a pessoa que os levou a atravessar a linha da fé, assumirá a
responsabilidade de encontrar-se com eles regularmente para discipulá-los e encorajá-los. A vantagem deste
método é que já existe um laço de confiança entre vocês, e é natural deixar que ele se desenvolva na fase
seguinte do crescimento.
Mas com freqüência diferenças de idade, personalidade, posição social, gênero ou endereço podem fazer
da segunda opção — a adoção espiritual — a melhor escolha. Isso não significa abandonar seus amigos na porta
de alguma igreja. Antes, você precisa procurar com cuidado e oração o pai adotivo adequado, um cristão
maduro com o qual seu amigo tenha alguma afinidade, alguém que esteja disposto a empenhar o tempo e a
energia necessária para ajudá-los a crescer no relacionamento com Cristo.

Resumindo:
Nos primeiros momentos, os recém-convertidos, à semelhança dos bebês recém-nascidos, precisam de
cuidados especiais. Por conseguinte, todas as igrejas locais devem ter um programa permanente para cuidar dos
novos convertidos.
Tão logo uma pessoa aceite a Cristo:
a) Preencha uma ficha de decisão com o nome, endereço, número de telefone, sexo, idade, decisão
tomada e qualquer informação sobre sua situação que encaminhe o aconselhamento apropriado e a
oração por ela.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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b) Ofereça-lhe um exemplar da Bíblia ou do Novo Testamento.
c) Convide-a a matricular-se na Escola Bíblica Dominical. Dê-lhe os materiais didáticos para a primeira
lição.
d) Procure visitá-la ou telefonar-lhe. A visitação e importante para conservar os resultados. Os que
visitam o novo convertido — irmão mais velho espiritual, conselheiro, pastor, vizinhos crentes —
podem encontrar oportunidades de evangelizar seus familiares, amigos e vizinhos.
e) Ore por ela.
f) Passe a informação da ficha de decisões obtida para a igreja a qual você pertence.

Envie-lhe uma carta do pastor ou do evangelista:


a) para felicitá-lo e estimulá-lo;
b) com sugestões quanto à leitura bíblica;
c) animando-a a continuar assistindo aos cultos;
d) dando-lhe o endereço da igreja e os horários dos cultos.

Tão logo seja possível, confie a pessoa à atenção de um ―irmão mais velho‖, um crente maduro, do mesmo
sexo, para que este:
a) ore diariamente por ela e a ajude em sua vida cristã.
b) ajude-a a integrar-se no programa total da igreja.
c) visite-a semanalmente, durante seis semanas, no mínimo.
d) aconselhe-a e a incentive a ser testemunha do Senhor.
e) mostre-lhe hospitalidade, convidando-a para tomar refeição em sua casa ou levando-a para comer fora.
f) incentive-a a batizar-se.
g) apóie sua aceitação como membro da igreja.
h) continue a ajudá-la até que ela, por sua vez, comece a ajudar espiritualmente uma outra pessoa.

Discipulado
Um relacionamento de mestre e aluno, baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre
produz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo, que o aluno é capaz de treinar outros para
ensinarem a outros.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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BIBLIOGRAFIA
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STROBEL, Lee. Inteligência espiritual: Como alcançar os que evitam Deus e a Igreja. Editora Vida, 1997.
Betel Japonês- Evangelismo Pessoal
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INSTITUTO BÍBLICO BETEL BRASILEIRO


INSTITUTO BÍBLICO BETEL BRASILEIRO (IBBB), autêntica obra evangélica de fé, fundado em 1.968 e
sediado no Estado da Paraíba (Brasil), foi reconhecido legalmente de utilidade pública federal e civil, atuante
nas áreas educacional, missionária, eclesial e social.
Com o objetivo de preparar líderes para servir à Igreja e à sociedade. Oferece uma grade de disciplinas
com conteúdo bíblico, teológico, missiológico, histórico, filosófico, lingüístico e prático, buscando unir o
acadêmico ao prático, a vida espiritual à vida piedosa, o ministério sagrado ao serviço produtivo. Prioriza a
formação do caráter cristão e do testemunho, sobre as colunas da Oração e da Palavra de Deus, e incentiva a
realização de Missões. Empenha-se em estudar com profundidade e fidelidade o Texto Sagrado, na
dependência do Espírito Santo. Atribui maior peso curricular às matérias bíblicas e oferece cursos teológicos
que atendem às exigências do nível, carga horária e conteúdo programado com acompanhamento pedagógico,
visando contínuo aprimoramento do sistema de ensino-aprendizagem.
ENDEREÇO
Rua Rev. Raul de Souza Costa, 790, Alto do Mateus, João Pessoa (PB)

DECLARAÇÃO DOUTRINÁRIA DO BETEL BRASILEIRO


Doutrinas fundamentais da Fé Posicionamentos específicos da Casa
1. A plena e divina inspiração das Escrituras canônicas (os 1. A infalibilidade da Bíblia implica a sua inerrância;
sessenta e seis livros), sua infalibilidade, sua única e
final autoridade em assuntos de fé e prática;
2. A existência de um só Deus que subsiste em três pes- 2. Os dons carismáticos existem e são válidos para a
soas, com igual essência, poder e glória: Pai, Filho e Igreja atual;
Espírito Santo;
3. A criação do homem à imagem e à semelhança de 3. Estamos em luta contra espíritos malignos; portanto
Deus, com um espírito imortal, a queda de toda a hu- é imperativo levar a sério a guerra espiritual contra
manidade em Adão, sua conseqüente depravação mo- Satanás e seus anjos;
ral e sua necessidade de regeneração;
4. A Bíblia ensina claramente que Deus é soberano e
4. O propósito divino de oferecer redenção a toda à hu- que o ser humano é responsável; portanto, preci-
manidade; samos manter estas duas verdades em equilíbrio;
5. A divindade do Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho 5. Deus quer que levemos a Sua Palavra a sério, pro-
de Deus, único mediador entre Deus e os homens, a curando entender lealmente o sentido que Ele Quis
Sua eterna pré-existência, a Sua encarnação, o Seu transmitir; para isto, é imprescindível respeitar as
nascimento virginal, a Sua vida sem pecado, a Sua normas da linguagem, ao interpretarmos o Texto
morte expiatória e vicária, a Sua ressurreição corpórea, Sagrado, sob a inteira dependência do Espírito San-
a ascensão e intercessão pelos salvos; to;
6. A justificação somente pela graça mediante a fé em 6. O Senhor Jesus exige compromisso total de nossa
Cristo Jesus; parte; esse compromisso deve se manifestar em to-
das as áreas da nossa vida e do nosso ministério;
7. A necessidade da proclamação do Evangelho a todos
os povos; 7. Ao lidarmos com a Palavra de Deus, é necessário
distinguir entre interpretação e aplicação; a inter-
8. A atuação indispensável do Espírito Santo para a rege-
pretação dum texto deve ser uma (exatamente o
neração, para a santificação e para a capacitação dos
sentido pretendido pelo autor), já as aplicações po-
rentes para o testemunho eficaz;
dem ser várias, conforme o Espírito Santo vê a nos-
9. Uma única igreja universal e apostólica, que é o corpo sa necessidade de momento;
de Cristo, da qual Ele é o cabeça;
8. A Bíblia sempre distingue claramente entre o povo
10. A visível e pessoal segunda vinda do Senhor Jesus de Israel e a Igreja;
Cristo, a ressurreição do corpo, a eterna bem-
9. Após Sua segunda vinda a esta Terra, o Senhor
aventurança dos salvos e a punição eterna dos perdi-
Jesus Cristo reinará literalmente durante mil anos.
dos.

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