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O DILÚVIO
DE ESTRELAS
Autor
H. G. FRANCIS

Tradução
AYRES CARLOS DE SOUZA

Digitalização
VITÓRIO

Revisão
ARLINDO_SAN
(De acordo, dentro do possível, com o Acordo Ortográfico válido desde 01/01/2009)
Na Terra e nos outros mundos da Humanidade os
calendários registram fins de março de 3.442. O misterioso
“Enxame”, portanto, continua o seu voo através da Via
Láctea, firmemente, há quase um ano e meio — tão
firmemente quanto Perry Rhodan e seus companheiros
imunes continuam no seu perigoso trabalho de procurar
pistas a respeito do sentido e dos objetivos dos misteriosos
invasores.
Perry Rhodan e seus ajudantes entrementes já sabem
que os emissários do “Enxame” levaram a desgraça a muitos
mundos. Eles também acham que o “Enxame” contém em si
ainda outras surpresas, que poderão ser mortíferas para os
habitantes de muitos outros planetas.
Uma surpresa mortal como esta, consumou-se no
planeta Diana, cujos habitantes não puderam ser salvos,
apesar da desesperada intervenção da Good Hope II e da
Intersolar, sendo exterminados. O único êxito que Perry
Rhodan pôde contabilizar foram suas observações e o
salvamento de Sandal Tolk e do seu companheiro Tahonka
No.
Agora, porém, depois das terríveis experiências no
planeta das amazonas, começou a hora para o
Administrador-Geral, de abandonar a sua cautelosa reserva
para com o “Enxame” e seus habitantes.
A “5a Coluna” deverá entrar em ação — e os habitantes
de um mundo solitário lutam contra “O Dilúvio de
Estrelas”...

======= Personagens Principais: = = = = = = =


Perry Rhodan — O Administrador-Geral despacha a 5a
Coluna.
Atlan — Chefe da 5a Coluna.
Fellmer Lloyd, Alaska Saedelaere, Irmina Kotschistowa,
Tahonka No, Toronar Kasom e Matra Krovzac —
Membros da 5a Coluna.
Gucky — O rato-castor desaparece.
Rauhvertikal — Um habitante de Nurmo II.
1

“...comprazeu ao Campo-Prateado, o espírito todo-


abrangente e todo-penetrante, em submeter o povo dos Kartas a
uma prova. Ele produziu os estranhos, que vieram da
aglomeração de estrelas, para Opus. Ele prevenira muitas vezes
contra estes seres, cuja protomãe não era originária de Opus. Ele
também proibira encontrar-se com os estranhos. Porém o seu
povo não se deixou ofuscar, e aconteceu conforme ele anunciara.
Sombras escuras caíram, e muitos pais vieram e se foram,
até que finalmente a ira do Campo-Prateado se esgotou.”

Dos hipnorregistros de Opus-undra-mur, descobertos na área da borda


de Karst, Terra Vermelha, 3.442 tempo terrano.

O sol estava bem baixo no horizonte. Ele parecia estranho e pouco natural. A
atmosfera reverberando com o calor esfarrapava os seus contornos.
Rauhvertikal ficou parado.
As bolas dos seus pés engrossado no fim de colunas amassavam o chão. Ele sentia o
calor que subia da areia, apesar de já se encontrar à sombra das colinas. Inquieto ele
bufou. O tempo da Walla se aproximava e ele já sentia os seus efeitos. Os seus brônquios
estavam inflamados e doíam. Como ele não conseguia tapar as narinas com a pele de
cobertura, ele erguia diminutos campos defletores. Com eles conseguia o mesmo efeito.
O nariz ficava livre de pó e de areia. Os olhos que tinham começado a lacrimejar se
acalmaram novamente. Sua visão clareou, porém a imagem não se modificou. Ela
continuou tão chocante quanto fora antes.
A uma distância de cerca de três períodos coronários de circulação, voavam duas
vigas por cima do Mar de Sal. O sinal era bem inequívoco, porém era tão incomum, que
ele queria ter a última confirmação.
Como ele já sofria com a Walla, custava-lhe concentrar-se. Deste modo levou quase
um segundo até que o ar diante dos seus olhos se espessou sensivelmente. O mesmo
espaço de tempo ele precisou mais uma vez para ordenar a molécula de tal modo que os
campos tivessem o efeito de lentes óticas. Agora ele podia ver nitidamente que as vigas
voadoras consistiam de areia, poeira e sal. Elas se movimentavam em altura de duplo-
-karta por cima do mar, deixando atrás de si depressões baixas no solo.
Rauhvertikal bufou novamente.
Ele abaixou sua cabeça chata e enrolou os braços duplamente no pescoço. Ao
mesmo tempo sentiu que o período coronário finalmente aproximava-se do fim. No
segundo segmento ele estaria passando melhor, uma vez que o sangue então seria
bombeado mais rapidamente através das veias. Ele disse para si mesmo, que durante este
tempo se tornaria inteiramente ativo.
O outro privilegiado de repente rompeu a sua defesa. Os impulsos espirituais não
deviam tê-lo surpreendido, mas ele deixara desviar sua atenção pelo sinal pairante.
Sobressaltado, ele notou que ele tinha sumido do deserto. Duas nuvens de poeira
pairavam para o solo.
O estranho avançou, sem piedade, dentro do seu espírito.
O mundo afundou.
Rauhvertikal somente voltou a si quando já se encontrava no meio do ativo período
coronário. Ele correu as pernas rodopiantes através do deserto. As sombras corriam na
frente. Surdamente seus três pés martelavam o chão.
Ele se insurgiu contra a coação e tentou reconquistar outra vez o controle sobre os
seus nervos. O seu corpo enrijeceu e ele escorregou uma duna abaixo. Depois ele se virou
e atacou com toda a força. A cerca de cem comprimentos-karta distante dele, cinco
pedaços de rocha ergueram-se no ar. Eles pareciam ter ficado sem peso. Rauhvertikal
acelerou-os tão rapidamente, que seus contornos mal ainda podiam ser distinguidos. Os
petardos corriam velozmente bem perto, logo acima das colinas.
E então veio o grito de aflição esperado. Ele o ignorou e mandou uma corrente de
sensações depois da outra, na qual lhe comunicava o seu desprezo.
— Como você é primitivo — comunicou ele, reconhecendo ao mesmo tempo que o
seu adversário o entendia. Ele também era dotado telepaticamente. — Você se deixa
dirigir por seus instintos, quando a razão deveria prevalecer. Eu verifico que você ainda
não abandonou a fase da rocha-vermelha.
— Vocês do deserto são orgulhosos — respondeu o estranho.
Para ele parecia perfeitamente natural pôr os seus ovos, aqui, no território de
Rauhvertikal. Ele não refletira, quanto esforço e força custara, erguer esta instalação?
Rauhvertikal correu pelo flanco de uma colina acima. Ele parou no cume e ficou
observando como seus projéteis de pedra se desfaziam no horizonte num fogo vermelho.
O karstlandio ainda conseguira tomá-los inofensivos. Este pequeno êxito o deixava ainda
mais valente.
Rauhvertikal viu que uma parede de poeira se ergueu. Ela obscureceu o sol e
parecia um véu vermelho, que se estendia em diagonal por cima da frigideira de
incubação. Raivosamente o karta pateava com o seu pé condutor no chão. O invasor
parecia não saber o que estava fazendo.
— Agora chega — ordenou Rauhvertikal, agitado. — É melhor escutar os seus
instintos. Você está destruindo a frigideira. O que adianta a você me escorraçar deste
território, sem mais tarde poder colocar a sua ninhada no centro de calor?
Este argumento convenceu. A areia caiu novamente ao chão, antes que pudessem
acontecer danos maiores. Esta parte ficou sem decisão. Nenhum dos dois adversários,
porém, estava satisfeito com este estado de coisas.
Rauhvertikal atacou novamente. Agora ele tentou atravessar a barreira psíquica do
outro. Ele o conseguiu, uma vez que no outro justamente tivera início o período coronário
passivo. O karta aproveitou sua chance. Para ele mesmo restava apenas um prazo curto.
Ele abalou o sistema nervoso vegetativo do adversário, e então notou, como este pôs-se
em fuga. O pânico durou até profundamente para dentro do segmento coronário ativo, de
modo que Rauhvertikal conseguira uma vantagem legítima. A sua confiança de poder se
vingar reforçou-se.
O sol desapareceu atrás do horizonte, porém ainda não ficou escuro. O solo do
deserto parecia se iluminar por si mesmo. E também o céu continuou mais claro que
usualmente.
— Olhe para cima, para as estrelas — aconselhou o karstlandio.
Ele estava muito agitado, pois se encontrava numa situação desagradável. Os
habitantes da terra dura o haviam escolhido. Ele deveria pôr os ovos aqui, no território
altamente cultivado dos desertos do norte, na chocadeira de Rauhvertikal. E nisto ele
parecia não ter consideração, em tomar para si a paisagem tão cuidadosamente
trabalhada. Ele também não tinha a menor consideração para com as pretensões de
solidão dos habitantes do deserto.
Rauhvertikal não aceitou o conselho do estranho. Ele deixou que ele sentisse que
aqui ninguém da Karstlandia era desejado. Os seus brônquios doíam. Evidentemente
muito mais walla tinha penetrado no seu nariz do que ele pensara. Os poros, este ano,
tinha vindo mais cedo que normalmente.
— Por que não olha logo para cima? — pressionou o invasor. — Você está vendo
que o céu noturno se modificou? Nós vivemos nas bordas da ilha estelar. O Campo-
-Prateado o proclamou. Sempre foi escuro por cima de nós. E como está agora? Você
ainda não notou o que está acontecendo? Isso ainda combina com os ensinamentos do
Campo-Prateado?
Rauhvertikal levantou a cabeça e olhou para cima. A noite estava clara. Nitidamente
as estrelas se destacavam no céu. A imagem tão familiar tinha se modificado. Isso ele já
notara muito antes. O dependente dos instintos poderia poupar-me suas recomendações.
O mar de estrelas se espessara. Onde antes somente tinham brilhado luzes isoladas,
agora havia um cintilar e brilhar de milhões de sóis. Parecia que Opus se desviara de sua
posição na borda da galáxia. Agora todo o sistema parecia cair para dentro da galáxia.
Todos os kartas, ao norte, tinham percebido o que estava acontecendo. Eles tinham
trocado inúmeras ideias sobre os acontecimentos, mas ainda não tinham chegado a uma
conclusão conjunta. Com toda a força e concentração eles tinham escutado para dentro da
galáxia, mas não tinham obtido êxito. Mesmo as forças parapsíquicas reunidas não
conseguiram atravessar este silêncio.
— E então? — perguntou o estranho. — Agora está vendo?
Rauhvertikal silenciou. Ele não sabia o que o outro queria dizer, e preferiu não se
pronunciar.
— Os homens e as mulheres da Karstlandia acreditam que o tufão de estrelas vai
nos alcançar. Ele vai passar por cima de nosso mundo, esmagando-o, e trazendo-nos os
mesmos horrores que também atingiram outros mundos.
Rauhvertikal ficou surpreso. Haveria entre os habitantes de Karst telepatas melhores
que no norte? Ou eles apenas tinham procurado numa outra direção?
— As Escrituras falam de estranhos, que vieram das estrelas para o nosso mundo
— continuou o ser da Karstlandia.
— Eu sei de quem você está falando.
— Estes estranhos estão novamente por perto. Suas esferas se encontram junto às
novas estrelas.
Rauhvertikal silenciou. Ele não queria admitir que ainda não fizera esta descoberta.
— Eu aconselho a que você os procure. E quando os encontrar, observe-os. Depois
disso você saberá o que está vindo ao nosso encontro.
Os pensamentos do habitante da Karstlandia sumiram. Rauhvertikal ficou
refletindo. Ele tinha esquecido completamente que o outro karta viera do território das
rochas vermelhas, para, aqui em cima, chocar os seus ovos na chocadeira de areia. Ele
sabia que uma ameaça indescritível se aproximava de Opus. Até agora ele tentara
ignorá--la. Mas agora ele reconheceu o quanto isso era insensato.
As estrelas tinham começado a se movimentar. Ou o sistema estava caindo para
dentro da galáxia, ou forças naturais inexplicáveis lançavam conglomerados estelares de
fora contra a borda da Via Láctea. Este era o fim do mundo anunciado por Opus-undra-
-mur? Alguma coisa tinha que acontecer, se as estrelas se aproximassem ainda mais. Os
sóis se chocariam e pereceriam?
Rauhvertikal sentiu o medo crescer dentro dele. No primeiro instante ele achou que
o karstlandio o atacava novamente, mas logo teve que verificar que este se mantinha
totalmente passivo. Parecia até que a sua unidade psíquica se tivesse apagado totalmente.
Esta descoberta desviou a atenção de Rauhvertikal novamente. Só havia duas
possibilidades para o estranho. Ou ele recuara completamente, ou então avançara para o
centro da chocadeira, para aproveitar a instalação ideal, que ele erguera em inúmeros
períodos diurnos e noturnos.
Rauhvertikal correu pela areia. Com grandes gritos ele atravessou valetas chatas
transversais, que ele abrira para recolher umidade. A terra descia.
E então pareceu que Rauhvertikal chocou-se contra uma parede invisível. Ele
estacou no meio da corrida para a incubadeira. De todos os lados, os pensamentos de seus
amigos avançaram sobre ele. Os de Rotflach se sobrepuseram a todos os outros impulsos.
— Nós aceitamos o conselho do... (inapetitoso) — ouviu ele.
A designação do estranho somente veio até ele como um sentimento de nojo.
— Ouça, por favor, ouça!
Ele sentiu-se agarrado por uma sucção. Tremendo, ele caiu ao chão do deserto. O
invasor tinha sido esquecido. Pelas vias preparadas pelos espíritos coordenados, seus
dedos sensores telepáticos deslizaram para a amplidão da galáxia, lá fora.
Ali havia uma esfera voadora dos fracos. Rauhvertikal venceu a sensação de
antipatia contra o estranho e a técnica por ele utilizada. E então ele captou toda a
plenitude do horror que dominava estes seres.
Eles tinham sido testemunhas de uma luta sem misericórdia. Eles tinham visto como
a população de um planeta inteiro fora morta. Seus pensamentos e sentimentos se
ocupavam com os aglomerados de estrelas. Eles os designavam como o “Enxame”.
Rauhvertikal ficou sabendo que esta formação surgira na borda da galáxia e agora
começava a penetrar nela. Criaturas saídas do “Enxame” eram responsáveis pelo crime,
que tinha provocado um choque tão violento nos fracos dentro da esfera voadora. Do
“Enxame” também vinha aquela força misteriosa, que tinha modificado o espírito de
alguns kartas.
Rauhvertikal começou a tremer. Ele tentou escudar-se contra o horror. Mas isso ele
não conseguiu totalmente, uma vez que os seus amigos não o admitiam.
***
O terrano Vellox Thyme olhou o seu aparelho de pulso.
O cronômetro mostrava o dia 24 de março de 3.442, tempo terrano. Thyme deixou
cair o braço, e virou-se rapidamente para o space-jet com o qual ele fora recebido a bordo
da Good Hope II, há poucos minutos atrás. Antes ele esperara encontrar o
Administrador--Geral na Intersolar, que voava a apenas poucas centenas de quilômetros
adiante no espaço, mas isso fora um engano.
As escotilhas da eclusa se abriram. Thyme abandonou o hangar e saiu para um
corredor que levava ao elevador antigravitacional. Desta direção aproximou-se dele um
homem, cujos olhos investigadores pareciam atravessá-lo. O correio reconheceu o
telepata Fellmer Lloyd. Imediatamente ele compreendeu que tinha sido investigado
intensamente, antes de lhe ter sido dada permissão para vir para bordo. Ele não o notara
absolutamente.
Lloyd ficou parado diante dele e anuiu, cordialmente.
— Vá até a central de comando, Thyme — disse o mutante. — O senhor está sendo
esperado.
— Obrigado — respondeu o mensageiro, quando Lloyd se virou e seguiu o seu
caminho.
Ele sabia que tinha sido aprovado pela investigação dos mutantes. Na Good Hope II
agora estava-se informado de que ele era um homem absolutamente confiável.
Quando o mensageiro chegou ao elevador antigravitacional, perto dele abriu-se uma
porta. Dois homens saíram para o corredor. Um deles ele reconheceu imediatamente, uma
vez que ele portava uma máscara de plástico. Era Alaska Saedelaere. O seu
acompanhante era delgado e não chamava muita atenção. Ele parecia pálido, e quase
discreto ao lado de Saedelaere.
Os dois homens anuíram para Thyme e se afastaram devagar. Ele ficou parado,
olhando atrás dele.
— Eu estou contente, meu caro Krovzac, que Rhodan finalmente desistiu
definitivamente de sua atitude negativa — disse Alaska Saedelaere. — Depois dos
acontecimentos em Diana, realmente não nos resta mais outra coisa, a não ser um ataque
ao escudo do “Enxame”.
— O risco é grande — respondeu o homem que Saedelaere chamara de Krovzac. —
Talvez até seja alto demais. Se o “Enxame” passar ao contra-ataque em cima da Good
Hope e da Intersolar, ambas as naves estão perdidas.
Alaska Saedelaere respondeu alguma coisa, porém Vellox Thyme não conseguiu
mais ouvi-lo. Inquieto, ele se perguntou o que poderia ter acontecido no planeta Diana.
Deviam ter sido acontecimentos de grande peso, se os mesmos tinham levado Perry
Rhodan a abandonar a sua atitude cautelosa.
O mensageiro entrou no elevador antigravitacional e deixou-se levar para o alto.
Quando ele passou pelo convés seguinte, viu o rato-castor Gucky, que estava parado
diante de uma mulher, numa atitude exageradamente presunçosa. Thyme reconheceu nela
Irmina Kotschistowa, do grupo de Waringer, do mundo científico e de investigações Last
Hope. Irmina também o viu. Ela o cumprimentou com um sorriso cordial, enquanto o ilt
achava que ela dedicava sua atenção exclusivamente a ele.
— Missões especiais naturalmente também exigem personalidades especiais —
declarou ele. — E agora certamente já não poderão mais passar sem mim.
Thyme propôs-se mais tarde trocar algumas palavras com a bioquímica. Ele
esperava que ainda lhe sobraria tempo para isto, depois de ter executado a sua tarefa,
entregando a mensagem de Waringer.
Quando ele alcançou o convés oito um ertrusiano aproximou-se da abertura do
poço. Ele trazia, diante da barriga, um caixote de metal de peso considerável. Em cima da
caixa, Gucky estava acocorado, falando com ele.
— ...Irmina está firmemente convencida de que eu serei membro da 5a Coluna —
sem importar-se com os protestos do adaptado ao meio ambiente. Este não parecia
absolutamente concordar em ainda ter que carregar o rato-castor. — Se neste mundo
existem paras em profusão, eu estarei como se estivesse em casa ali. Isso a
subdesenvolvida inteligência de um terrano devia entender...
Thyme franziu a testa. Ele não compreendera o que Gucky dissera. Agora ele ficou
remoendo sobre o que Gucky teria querido dizer. Ele olhou para cima. Calmamente
esperou até ter atingido o convés certo, para depois sair de dentro do campo de
transporte.
Uma figura estranha veio ao seu encontro. Thyme ficou parado, hesitante.
A criatura parecia um esqueleto ambulante, que vestia uma espécie de uniforme de
mecânico. A cabeça, os ombros, braços e pés estavam livres. Duramente os ossos
marrom-avermelhados batiam no chão.
Os olhos diminutos ficavam profundos, nas suas órbitas. Eles pareciam os olhos
cartilaginosos de um cego. Rapidamente eles se fixaram em Thyme, mas em seguida se
desviaram para alguma coisa que se encontrava atrás do mensageiro. Thyme se virou.
Gucky vinha bamboleando, radiante, atrás dele.
— Gênios dotados parapsiquicamente, naturalmente — disse o rato-castor.
A confusão de Thyme aumentou.
— Como disse, por favor? — perguntou ele.
— Quando digo “paras” estou falando de gênios dotados parapsiquicamente. Isso
está claro, não é mesmo? — Gucky mostrou o seu dente roedor e sorriu para o
mensageiro.
— Muito claro — confirmou Thyme.
Ele sentiu-se burlado, e procurou febrilmente uma resposta adequada. Mas não se
lembrou de nenhuma. Gucky piscou-lhe cordialmente, depois voltou-se para o ossudo.
— Olá, Tahonka No — gritou ele. — Como vão as rodas dentadas? Tudo muito
bem exagerado, não é mesmo?
Enquanto Vellox Thyme continuou o seu caminho, ele ouviu a risada mais estranha
que jamais escutara. Ele olhou para trás, por cima dos ombros. Tahonka No, que não era
muito mais alto do que o rato-castor, tinha aberto bastante a sua boca córnea, dando de si
aqueles sons, que tanto tinham surpreendido Thyme.
As escotilhas da central de comando se abriram. Thyme lembrou-se de sua tarefa.
Perry Rhodan e o arcônida Atlan estavam de pé diante de uma tela de vídeo, que
mostrava o “Enxame”, confabulando em voz baixa.
Thyme entrou na central.
***
— Eu venho do Mundo dos Cem Sóis, sir.
Perry Rhodan ofereceu uma poltrona ao mensageiro, depois de ter respondido à
continência. Parecia que ele não tinha ouvido a observação. Naturalmente ele já sabia, de
há muito, de onde Thyme vinha. Ele já se anunciara, muito tempo antes de começar a
manobra de encontro do seu space-jet com a Good Hope II.
Numa poltrona, que ficava diante do console de controles, Gucky materializou.
Imediatamente adotou uma posição sonolenta.
— Sir, o Professor Waringer gostaria de informá-lo, por meu intermédio, da posição
das investigações no Mundo dos Cem Sóis. — Thyme colocou a pasta de correio sobre a
mesa, abrindo-a. Ele entregou alguns papéis a Rhodan. — O Professor Waringer
necessita, em quaisquer circunstâncias, de mais pessoal especializado qualificado, do que
tem recebido até agora. Ele ficou sabendo que em janeiro o senhor e o Lorde-Almirante
Atlan fundaram em Quinto-Center uma unidade chamada “Comando de Busca de
Informações”.
— Neste caso ele foi informado corretamente — retrucou Rhodan, sorrindo.
— O professor requer urgentemente o envio desse comando. Ele necessita de
algumas centenas de milhares de homens e mulheres que tenham qualificações técnicas e
de ciências naturais, para suas tarefas. O novo aparelho defensivo contra as radiações de
imbecilização na Via Láctea já está no estágio das provas. No momento, entretanto,
Waringer não consegue prosseguir. Ele está convencido de que os trabalhos de
investigação para o aparelho não podem ser concluídos, antes que sejam postos à sua
disposição colaboradores qualificados em grande número.
Perry Rhodan olhou para Atlan. Por cima dos dois homens, Vellox Thyme podia ver
o comandante, que estava de pé, atrás da poltrona do piloto, conversando em voz baixa
com Gucky. A Good Hope II no momento se movimentava através do espaço com uma
velocidade muito reduzida. Ela se encontrava na borda pouco povoada da Via Láctea.
— Os membros do CBI já estão todos em ação — declarou Rhodan. —
Infelizmente, em nossa galáxia, ainda existem muito poucos imunes. Nós temos que
proceder com o máximo de cautela. Existe uma grande quantidade de grandes naves
transportadoras, mas nos faltam as tripulações. Nós prestaríamos imediatamente toda a
ajuda a Waringer, se não fosse tão extraordinariamente difícil encontrar forças
adequadas, para transportá-las ao Mundo dos Cem Sóis. Com este problema especial,
neste momento, está engajado o alto-comando de Quinto-Center.
***
Os olhos de Irmina Kotschistowa se obscureceram. Ela olhou para Vellox Thyme e
disse:
— Os habitantes de Diana não tiveram a menor chance. A gravitação drasticamente
aumentada artificialmente matou todos.
O mensageiro ficou abalado. Agora ele entendia porque Rhodan se decidira pelo
ataque. O mais depressa possível era preciso encontrar um meio para impedir que o
“Enxame” despovoasse ainda outros planetas.
A bioquímica deu a mão a Thyme, apertando a dele firmemente.
— Muita sorte, Vellox.
— Obrigado — retrucou ele.
Ele fez um esforço para sorrir, mas aquilo lhe parecia difícil. A Good Hope II e a
Intersolar logo tentariam romper o escudo de proteção do “Enxame”. Este ataque
facilmente também poderia representar o fim das duas espaçonaves. Talvez ele estivesse
vendo Irmina Kotschistowa agora pela última vez.
— Eu recebi ordens para voar para Quinto-Center, — disse ele, — para levar as
instruções de Rhodan. O space-jet vai sofrer uma revisão geral. Depois eu voltarei para o
Mundo dos Cem Sóis.
— Dê lembranças minhas a Waringer, Vellox.
Eles se deram as mãos mais uma vez. Depois ele foi até o hangar. Ele se
movimentava com passos hesitantes, arrastados, como se estivesse se afastando muito
contra sua vontade.
Irmina sorriu. Ela imaginava o que ia no interior desse homem. Ele teria preferido
muito ficar a bordo da Good Hope II, para voar junto, no ataque que se anunciava. Ele se
sentia como um traidor, que recuava, no momento do perigo.
A escotilha principal fechou-se atrás dele. Poucos minutos mais tarde as luzes dos
controles mostravam que o space-jet já tinha sido lançado ao espaço. Irmina virou-se e
entrou no elevador antigravitacional.
2

“...o Campo-Prateado, na sua sabedoria abrangente,


colocou o manto de fogo em volta de Opus, o mundo dos Filhos
dos Deuses, para protegê-lo dos estranhos. Todas as coisas que
chegam da aglomeração de estrelas terão que queimar no manto
protetor, antes de tocarem o solo do mundo. O Campo-Prateado
porém falou de corpos que resistem ao calor. Esta coisa estranha
é a tentação para o povo de Kartas.”

Dos hipnorregistros de Opus-undra-mur, descobertos na região


periférica de Karst, Terra-Vermelha, 3.442 tempo terrano.

Rauhvertikal olhou para a sua sombra, que a luz das estrelas jogava no rochedo. Ele
não se lembrava de jamais ter visto sua sombra de noite. As estrelas que brilhavam
sinistramente e que se aproximavam de Opus, dentro de poucos períodos coronários
pareciam ter se adiantado bem mais que antes. Agora também se espessou nele a
sensação de que neste enxame de estrelas devia haver bilhões de vidas. Ele sentiu que os
seus brônquios começaram a queimar novamente. Na sua consternação ele não dera mais
atenção aos campos protetores diante de suas narinas. Eles simplesmente tinham ruído.
Rauhvertikal sentiu o pânico crescer dentro dele.
Nitidamente os impulsos do estranho de Karstlandia agora chegavam até ele. Eles o
enchiam de má vontade. Sua proximidade o estreitavam do modo que ele pensou, durante
pouco tempo, que estava de pé dentro de uma gruta ruindo. Seus membros começaram a
tremer.
Rauhvertikal foi precipitado no período coronário ativo, com os nervos maltratados.
Seus pés se mexiam, incontroláveis sobre o chão. Bem alto, acima dele, criou-se uma
bola de fogo no ar. Ela relampejou rapidamente, caiu como fagulha para o chão,
ocasionando uma explosão, quando tocou a areia das dunas. Grandes labaredas se
ergueram no ar, saindo do solo do deserto, e clareando a noite.
Rauhvertikal viu o estranho, que estava de pé, no vale intermediário sul, na
frigideira de incubação. Sua cabeça chata batia de um lado para o outro, como se ele
quisesse atravessar uma parede invisível com a mesma. As peças do seu vestuário,
parecido com um saco, foram comprimidas ao seu corpo, pela onda de choque.
O karta gritou quando descobriu o habitante de Karstlandia tão próximo. A pele
mais clara do outro dava-lhe consciência de toda a sua exoticidade: Pareceu-lhe também
que os dois olhos eram maiores e mais escuros que os seus próprios.
Rauhvertikal perdeu o controle sobre si mesmo. Sua mente dotada
parapsiquicamente defendia-se contra o invasor, que evidentemente tinha vencido todas
as suas inibições dadas pela natureza, sob a impressão do seu desejo de choco. Forças
invisíveis o agarraram, arrancaram-no para o ar, e no alto o catapultaram para longe.
Rauhvertikal tremia no corpo todo. Como hipnotizado, ele olhou para o estranho, que foi
afastado do âmbito íntimo da chocadeira, levado por forças telecinéticas. Ele se fechou
contra os gritos telepáticos do outro. Mesmo que ele quisesse, agora não teria mais
conseguido reprimir as reações físicas, que eram causadas pelo outro.
Ele vomitou quando os impulsos do habitante da Karstlandia sumiram. Suas pernas
se dobraram e ele ficou contente porque começava o período coronário passivo. Ele tinha
esperanças de sair dele recuperado fisicamente e psiquicamente estabilizado. E então ele
lembrou-se de que a vida que se aproximava vindo das estrelas ainda era imensamente
mais estranha que o karta do sul.
***
Matra Krovzac entrou na central de comando logo depois de Irmina Kotschistowa e
Tahonka No, o ossudo. Ele viu Perry Rhodan e Atlan, que estavam parados junto do l o
Oficial Cosmonauta, o emocionauta Senco Ahrat.
Tudo estava preparado para o ataque sobre o escudo flexível.
Numa das telas de vídeo Krovzac reconheceu o rosto do Marechal-de-Estado
Reginald Bell, sob cujo comando estava a Intersolar. Ele já combinara a manobra
iminente com Rhodan. Agora a ultra-espaçonave de combate deu partida, acelerando.
O emocionauta Senco Ahrat fez a Good Hope II segui-la. Nos monitores de vídeo o
“Enxame” começou a cintilar mais fortemente.
Matra Krovzac sentou-se numa poltrona. Externamente ele estava muito calmo. Sua
testa, porém, estava coberta de suor. Ele olhava fixamente para as telas de vídeo. As duas
espaçonaves aceleraram com valores máximos. Nitidamente podia reconhecer-se o
escudo protetor do “Enxame”, que brilhava cristalino.
Krovzac olhou para Tahonka No e Irmina Kotschistowa. O ossudo estava parado ao
lado de uma poltrona. Nada nele se mexia. Ele parecia morto. Kotschistowa, a metabio-
-agrupadora estava sentada, relaxada, do seu lado. De vez em quando passava a mão
pelos seus cabelos negros. Num dos monitores de vídeo apareceu o rosto do oficial de
comando de fogo, Toronar Kasom. Ele observava, com os olhos ligeiramente
amendoados, os seus instrumentos, pronto para disparar os canhões transformadores. Ele
parecia convencido de que, com estas armas, podia conseguir êxitos decisivos.
Gucky, que se aconchegara numa poltrona perto de Rhodan e de Atlan, parecia
prestes a adormecer.
— O fogo será iniciado de uma distância de seiscentos mil quilômetros — ordenou
Perry Rhodan. — Dirigir os canhões transformadores e todas as armas disponíveis e
prontas para atirar, em cima das coordenadas predeterminadas.
Krovzac anuiu. Ele não duvidava que o chamado escudo flexível poderia ser
penetrado, com um fogo concentrado bem assestado. A Intersolar podia atacar, com trinta
canhões transformadores ao mesmo tempo. Na ultranave espacial de combate agora, com
toda certeza todos os postos da central de comando de fogo estavam ocupados, enquanto
em outras seções da astronave somente havia pessoal especializado insuficiente à
disposição.
Quanto mais as duas astronaves se aproximavam do escudo flexível, mais nítido
ficava que a Good Hope II deslizava na sombra de rastreamento da Intersolar.
A contagem regressiva começou. Numa velocidade tremenda a distância até o ponto
de ataque se fundia.
E então começou a fase de retardação. As duas astronaves não deviam voar
velozmente para dentro do centro de fogo. Elas eram obrigadas a manterem um
afastamento de segurança, até que se tivesse certeza de que o ataque tivera êxito.
Matra Krovzac olhou para a tela de controle. A contagem regressiva se esgotava.
A Intersolar começou a disparar uma salva depois de outra, numa sequência veloz.
Ao mesmo tempo faziam fogo os dois canhões polares, com total capacidade. A ordem
de Rhodan parecia afundar, porém Toronar Kasom fez os foguetes dos canhões
transformadores da Good Hope II seguirem rapidamente para o escudo flexível.
Um dilúvio de fogo, a perder de vista, resultou. A proteção contra o ofuscamento
escurecia as telas de vídeo, de modo que não se podia reconhecer a medida total dos
imensos fogaréus atômicos. Mesmo assim o “Enxame” desapareceu atrás de uma parede
de luz de pura energia. As duas astronaves terranas dispararam seus canhões
transformadores, durante exatamente quatro minutos, numa sequência ininterrupta. Todos
os foguetes alcançavam o mesmo ponto do escudo flexível. Cada unidade desenvolvia
uma energia de quatro bilhões de toneladas de TNT.
Matra Krovzac surpreendeu-se pelo fato de ter-se levantado de um salto, para
aproximar-se das telas de vídeo. Fascinado, ele olhou para os aparelhos de rastreamento e
medição, e sentiu uma decepção sem limites crescer dentro dele.
Aquele dilúvio de energia não causara qualquer efeito contra o escudo protetor do
“Enxame”. O fogo concentrado de mais de trinta canhões transformadores não tinha sido
capaz de abrir uma brecha naquela formação estranha que brilhava, cristalinamente.
— Encerrar a ação — ordenou Perry Rhodan. — Vamos recuar para o ponto de
partida.
Krovzac não conseguia entendê-lo. Ele viu a decepção no rosto dos outros. Rhodan
parecia ser o único que não apenas registrara o resultado da ação, mas também o aceitara.
O ataque se demonstrara sem efeito, e com isso era sem sentido disparar mais um único
tiro dos canhões transformadores.
Krovzac mal notara que a Good Hope II e a Intersolar tinham chegado a parar.
Agora elas já se afastavam novamente do “Enxame”. O fogo atômico continuava a
queimar no espaço. Um sol gigante parecia ter nascido na borda do escudo flexível.
A atenção dos homens e das mulheres nas duas naves não diminuiu. Cada um deles
agora esperava por uma reação do “Enxame”. Alaska Saedelaere, que chefiava a central
de rastreamentos, porém, não passou nenhuma informação. A uma pergunta de Rhodan,
ele apenas sacudiu a cabeça.
Ao golpe das naves terranas não se seguiu nenhum contragolpe. O adversário
parecia saber que, atrás do escudo flexível, ele se encontrava em segurança. Parecia que
ele podia dar-se ao luxo de ignorar inteiramente o ataque.
A Good Hope II e a Intersolar recuaram para o ponto de partida da ação.
Perry Rhodan olhou para o seu cronômetro.
— Vamos esperar pela avaliação — disse ele. — Depois disso, discutiremos como
vamos prosseguir.
***
Perry Rhodan levantou-se da cama, na qual estivera deitado, quando Matra Krovzac
entrou na sua cabine. Ele anuiu para o cientista, cuja especialidade era física de quinta e
sexta dimensões, e ofereceu-lhe uma poltrona.
— A avaliação do rastreamento e das observações deu o resultado esperado — disse
Rhodan. — Nós não conseguimos nenhum resultado com os canhões transformadores.
Matra Krovzac sentou-se. Correspondia à sua maneira reservada, que ele dissesse:
— O senhor contava com isso.
Rhodan também sorriu.
— Os cientistas da Good Hope II temiam isso — corrigiu ele. — Eles tinham uma
outra sugestão.
— Sim, sir, eu estou convencido de que nós não vamos conseguir nada contra o
“Enxame” com uma política de murros. Presumivelmente vamos ter mais sucesso com
alfinetadas bem assestadas.
— O senhor está pensando na 5a Coluna, da qual eu e Atlan já falamos?
— Correto, sir — concordou Krovzac. — Nós temos que desistir da cautela que
tivemos até agora. Um pequeno grupo de especialistas deve tentar penetrar no “Enxame”.
Eu penso em seis a oito pessoas. Um comando especial como este poderia ter chances
suficientes para descobrir o que está sendo jogado.
O Lorde-Almirante Atlan entrou na cabine. Ele ouvira as últimas palavras. Ele
anuiu, concordando para o físico-sextadim e sentou-se.
— Nós ainda sabemos pouco demais, para podermos atacar o problema “Enxame”
de modo a podermos esperar sucesso — disse ele. — Uma grande parte dos enigmas já
foi resolvida. Os Conquistadores Amarelos, estes seres viventes semelhantes a abelhas,
ocupam planetas estranhos, influenciam suas constantes gravitacionais e sua temperatura,
e depois se dividem em sete partes. Um exemplar, portanto, se transforma em sete. Isso,
basicamente, é tudo que sabemos até agora. O número de questões não resolvidas é
esmagador.
Perry Rhodan não respondeu. Ele ergueu-se e apoiou-se com as costas na parede.
— Até agora não conseguimos meter um comando de ação dentro do “Enxame” —
verificou ele. — A tática de colocar algumas pessoas num planeta que previsivelmente
será absorvido demonstrou ser um fracasso.
Matra Krovzac agora também se levantou. Ele olhou rapidamente para Whisper,
que estava em volta dos ombros de Perry Rhodan, como uma capa. Na sua maneira
reservada ele retrucou:
— A questão mais premente agora não é exatamente como nós podemos entrar no
“Enxame”.
Atlan ergueu a cabeça, espantado.
— Não? — perguntou ele.
— O estado-maior científico da Good Hope II coloca um outro problema em
primeiro plano — disse o físico-sextadim. — O “Enxame” penetra na galáxia com
metade da velocidade da luz. A densidade estelar cresce. Por isso se pergunta o que vai
acontecer com aqueles sistemas estelares que ficam no caminho do “Enxame”. Estes sóis
ou sistemas solares serão sugados pelo “Enxame”? Eles mais tarde serão expulsos
novamente? Eles são radicalmente destruídos quando se chocam com o escudo flexível?
Ou nossos adversários têm uma possibilidade de simplesmente ignorá-los, com um
método de sobreposição?
Rhodan anuiu, concordando. Também ele já tivera sua atenção atraída para esse
problema. Esta questão precisava ser resolvida. Ninguém podia dizer até agora se o
“Enxame” não penetrava como uma bala formidável na Via Láctea, com um efeito
absolutamente destruidor. Ele mesmo evidentemente estava otimamente protegido pelo
escudo flexível. Por isso não era impossível que ele destruiria estrela depois de estrela,
sistema solar após sistema solar, provocando, deste modo, uma catástrofe de âmbito
galáctico.
— O senhor já falou com Tahonka No sobre estas questões? — perguntou Perry
Rhodan.
Krovzac anuiu.
— Ele não soube me dizer nada a esse respeito — respondeu ele. — O ossudo,
entretanto declarou que a absorção de planetas ricos em matérias-primas era
extremamente rara.
— Então esta já é uma notícia positiva — disse Rhodan. — Isso nos dispensa da
necessidade de procurarmos por mundos com ótimas matérias-primas, com muita pressa.
Ele foi até o automático de aprovisionamento e digitou um refresco para si.
— O senhor tem razão. Antes de mais nada precisamos saber o que acontece com
aqueles mundos, que automaticamente estão na rota do “Enxame”. De alguma maneira
eles devem ser influenciados. Nós temos que descobrir como isso é realizado. Todas as
outras questões, por agora, devem ser postas de lado.
— Deste modo chegamos novamente à 5a Coluna — interveio Atlan.
— Correto — concordou Rhodan. — Nós vamos formar este comando especial e
utilizá-lo de maneira objetiva. Só deste modo conseguiremos solucionar as questões mais
importantes. Nós temos que levantar esta unidade de risco.
Ele olhou, interrogativamente, para Krovzac.
— Pelo que conheço do senhor, certamente já deve ter pensado quem deverá
pertencer à 5a Coluna.
— Uma unidade especial deve ser formada por especialistas, sir.
— Por exemplo? — Rhodan sorriu.
Ele estava realmente muito curioso em saber em quem o cientista da Good Hope II
pensara.
— Nós gostaríamos de sugerir Tahonka No, que está informado sobre as condições
dentro do “Enxame”, como nenhum outro. Depois Fellmer Lloyd, o telepata e
rastreador--sensitivo, Toronar Kasom, o ertrusiano, Irmina Kotschistowa, a metabio-
agrupadora — declarou o cientista e acrescentou, hesitante: — E eu.
— Alaska Saedelaere também deveria fazer parte — disse Atlan, que antes já se
declarara pronto para assumir o comando.
Gucky materializou no seu colo.
— Em mim, estou vendo, ninguém está pensando, não é? — perguntou ele,
indignado. — Pois eu acho que está muito claro que a 5a Coluna, sem mim, logo de saída
é um caso perdido.
***
Perry Rhodan abandonou a cabine do Marechal-de-Estado Reginald Bell e dirigiu-
-se para o computador positrônico principal da Intersolar.
Entrementes fora verificado que o “Enxame” se aproximava de um pequeno sistema
solar. O choque era iminente.
O Administrador-Geral decidira seguir as sugestões dos cientistas. A 5a Coluna fora
formada. Ela se compunha das pessoas recomendadas por Krovzac, Alaska Saedelaere e
Gucky e ficava sob o comando de Atlan. As duas espaçonaves já tinham tomado a rota do
sistema solar rastreado. A entrada em ação da unidade especial agora era ainda apenas
uma questão de tempo.
Os acontecimentos no planeta Diana, durante os quais a população de todo um
planeta fora exterminada, agora forçava à adoção de uma vigorosa estratégia de avanço.
Os mais importantes oficiais e cientistas da Good Hope II e da Intersolar concordaram,
numa grande conferência, sobre os passos que, de agora em diante, deviam ser tomados.
Rhodan sabia muito bem o quanto era perigosa a missão num planeta do sistema solar
ameaçado, uma vez que ninguém sabia o que poderia acontecer. O empreendimento dos
oito voluntários, nestas circunstâncias, poderia terminar em morte. Ainda assim, os
melhores especialistas e os insubstituíveis mutantes, precisavam participar do
empreendimento. Somente eles, no caso de uma catástrofe, tinham uma chance de
sobrevivência.
Rhodan alcançou o computador positrônico principal. Ele ficou parado na escotilha
de entrada. Matra Krovzac, que parecia incansável, estava sentado diante do banco de
dados. Diversos monitores de vídeo haviam sido ligados. Num deles Perry Rhodan
reconheceu uma criatura parecida com um gafanhoto, que andava, ereta, sobre uma duna
de areia. Ele usava uma vestimenta parecida com um saco, cujas peças voejavam em
volta do corpo magro. O rosto parecia redondo, uma vez que a testa recuava, logo acima
dos dois olhos. As três pernas, em forma de coluna, terminavam em pés engrossados, que
eram um estranho contraste para com os dois braços finos e muito compridos.
Rhodan caminhou até o cientista. Krovzac virou-se, ligeiramente para ele.
— Este é um karta — declarou ele. — Um dos habitantes de Nurmo II, no sistema
solar Opus-Nurmo. Este é o sistema que fica no caminho do “Enxame”, sir.
Rhodan sentou-se na poltrona, ao lado do físico-sextadim.
— O sistema foi descoberto pelo Coronel Nurmo — explicou este,
espontaneamente. — Por isso leva o seu nome.
— Opus? Por que este nome curioso?
Krovzac fez uma ligação. Numa das telas de vídeo apareceu uma rede confusa de
traços, curvas e círculos coloridos.
— Este é um desenho rupestre que o descobridor achou no segundo planeta do
sistema — disse Krovzac. — Dele parecia emanar um forte efeito hipnótico. Na primeira
vez que o vi, logo tive que pensar na palavra Opus. Isso foi ainda antes de eu ter sido
informado do nome do sistema.
Ele apertou um botão. O desenho que parecia hipnótico desapareceu. Rhodan
passou a mão pelos olhos. De repente eles lhe doíam. A pressão que ele sentira,
entretanto, desapareceu muito rapidamente.
— O Coronel Nurmo ainda descobriu uma série desses desenhos, que registrou —
continuou Krovzac. — Deles, nós descobrimos outras noções. Como, por exemplo, o
nome dessas criaturas, kartas. Um dos registros hipnóticos causa uma manifesta vontade
de solidão. Eu fui surpreendido com isso, e de repente me senti constrangido. Tahonka
No estava próximo de mim. Eu poderia ter-me atirado sobre ele, para tocá-lo dali.
Felizmente eu ainda me dei conta em tempo que a influência dos hipnodesenhos estava
passando. Eu desliguei a imagem e tudo estava novamente em ordem. Só então notei que
o ossudo sentira a mesma coisa que eu, e por um fio me teria expulsado do recinto.
“O computador positrônico contém grande quantidade de material acerca do sistema
solar. O Coronel Nurmo era muito metódico. Opus-Nurmo possui três planetas. O interior
é um inferno incandescente. O segundo é um mundo muito quente, do tamanho de Marte,
com extensos desertos e só muito poucas fontes de água. Nele os kartas ergueram uma
cultura sem qualquer técnica. Entretanto, se as anotações do descobridor estiverem
corretas, ela parece impregnada muito fortemente pelos dons parapsíquicos dos kartas.
Nurmo III é um mundo de gelo, que poderia ser comparado com o antigo Plutão do
Sistema Solar terrano.”
Rhodan olhou para a tela de vídeo, na qual podia reconhecer-se um karta. A
necessidade de solidão, da qual os hipnorregistros tinham falado, parecia-lhe muito
lógica. Nos desertos deste planeta só podiam existir muito poucos seres viventes, uma
vez que eles dependiam da água. Presumivelmente cada karta defendia a sua fonte, que
para ele devia ser o centro da vida.
— Os kartas são extremamente inteligentes, se Nurmo não se enganou — disse
Krovzac. — Aparentemente eles não conhecem nem técnica nem ciência. Eles moram em
grutas de terra, primitivas, nas quais não há qualquer conforto civilizado, conforme nós o
entendemos. A sua cultura se orienta para pontos de vista totalmente exóticos.
— O Coronel Nurmo pôde entrar em contato com os kartas? — perguntou Perry
Rhodan.
— Não. Esses paras recusam qualquer contato com os estranhos. Nurmo teve que se
retirar, quando os kartas o atacaram.
***
O ilt rematerializou na cantina da Good Hope II. Para sua tristeza ele não encontrou
ninguém no recinto. Ele já estava querendo saltar adiante, quando Tahonka No entrou no
recinto. Seus pés ossudos bateram pesadamente no chão. Ele parou, ao ver Gucky, porém
depois dirigiu-se para uma poltrona e sentou-se. Com isto soou um fino chiado. O rato-
-castor mostrou o seu dente roedor.
— Você devia lubrificar as suas articulações — aconselhou ele. — Você range, que
nos faz azedar até os dentes de leite.
Tahonka No apontou para o dente roedor e perguntou:
— Esse é um dente de leite?
— Esse nunca azeda — respondeu Gucky, rápido. — Eu estava mesmo era
pensando nos dentes de Irmina.
Ele apontou para a cientista, que entrara na cantina.
— Como disse? — perguntou a bioquímica. — Eu não entendi do que estão
falando.
Gucky recostou-se na sua poltrona. Ele olhou para Irmina Kotschistowa e chegou à
conclusão de que não valia a pena discutir com uma jovem terrana acerca de dentes.
Toronar Kasom entrou no recinto. O ertrusiano ficou parado diante da mesa. Sua
mão repousava no microgravitador no seu cinturão. O aparelho estava ligado para 3,4 G e
com isso facilitava ao oficial de comando de fogo a gravidade acostumada.
— O plano agora está decidido — declarou ele. — Eu acabei de falar com Rhodan.
Quando a Good Hope II alcançar o sistema Opus-Nurmo, nós abandonaremos a nave
com as naves lenticulares. Só deste modo, previsivelmente, vamos poder evitar de sermos
rastreados. A Good Hope II e a Intersolar recuarão. As duas espaçonaves não podem, de
modo algum, ser postas em perigo.
— Em que planeta nós vamos pousar? — perguntou Tahonka No.
Sua voz soava gutural e alta. Quando ele movimentou um braço, soou novamente
um fino rangido. Somente Gucky ouviu-o. Ele estremeceu, como se tivesse sentido
alguma dor física. Preocupado, ele olhou para o ossudo.
— Isso ainda não foi fixado — respondeu Kasom. — Eu suponho, entretanto, que
primeiramente voaremos na direção do planeta de gelo. Um encontro com os kartas não é
necessariamente aconselhável.
***
Enquanto a Intersolar ficava para trás, a Good Hope II, depois de uma curta
manobra linear, voou para dentro do sistema Opus-Nurmo.
Perry Rhodan observou nas telas de vídeo da central de comando, como os
membros da 5a Coluna embarcavam nas naves lenticulares.
As compridas elipses eram tão chatas, que dois homens somente podiam ficar
deitados, um do lado do outro, dentro delas. Estes veículos espaciais, que tinham sido
criados para missões dentro de sistemas solares, possuíam uma propulsão muito forte,
que, porém, tinha apenas uma vez a velocidade da luz. Com um comprimento de seis,
uma largura de dois e uma altura de 1,4 metros, o propulsor ocupava a maior parte do
espaço.
Atlan e Irmina Kotschistowa, Alaska Saedelaere e Fellmer Lloyd, Matra Krovzac e
Tahonka No já tinham entrado nas suas naves lenticulares. Eles estavam deitados nos
leitos anatômicos e faziam uma checagem dos instrumentos. Um depois do outro, em
seguida, comunicou que estava pronto para a partida.
Toronar Kasom, o ertrusiano, teve alguma dificuldade de entrar pela escotilha de
embarque, devido ao seu corpo enorme. Com uma altura de 2,51 metros e uma largura
nos ombros de 2,13 metros, era preciso muita habilidade para entrar na microespaçonave.
Gucky estava parado diante da entrada, divertindo-se, e dando bons conselhos ao oficial
de comando de fogo. Quando Kasom, já se encontrava na lentilha, ele quase preenchia
todo o seu interior. Gucky teleportou para dentro da mesma. Perto da cabeça do adaptado
ao meio ambiente, ele ainda encontrou um lugarzinho, suficiente para ele.
Kasom fechou a escotilha de embarque e logo em seguida comunicou que estava
pronto para a partida.
Segundos mais tarde as quatro espaçonaves lenticulares foram atiradas do hangar
para o espaço, e rapidamente se afastaram da Good Hope II.
Perry Rhodan olhou para os monitores de vídeo, nos quais os reflexos rapidamente
ficaram menores.
Lentamente ele virou-se e ordenou que a Good Hope II fosse elevada para a
proteção contra rastreamentos, nas proximidades do sol Opus-Nurmo.
Em uma das telas podia reconhecer-se, fracamente, Nurmo III. Por trás expandia-se
o “Enxame”. Ele cintilava e brilhava tão fortemente, que praticamente encobria o terceiro
planeta do sol amarelo-pálido do sistema. O “Enxame” agora não podia ser reconhecido
apenas pelos aparelhos de rastreamento, mas também podia ser visto facilmente a olho
nu. O imenso cintilar e tremular dessa formação enchia todo o campo de visão, da borda
externa da galáxia. O “Enxame” tinha aqui, no arredondamento dianteiro de sua cabeça,
uma largura de aproximadamente 820 anos-luz. Ele se aproximava tão rapidamente, que
para os homens da Good Hope criou-se a impressão de uma parede de cristal que caía
sobre eles.
O que iria acontecer?
O “Enxame” sugaria para dentro de si o sistema Opus-Nurmo? Ele certamente
podia absorver dentro de si algumas estrelas e sistemas solares, levando-os consigo.
Quanto mais profundamente, porém, ele penetrava na galáxia, maior se tornava o número
dos objetos cósmicos que se encontravam diretamente na sua rota.
— A Good Hope II vai conservar-se em prontidão de fuga — disse Perry Rhodan.
Sendo Ahrat, o primeiro oficial cosmonauta, confirmou as instruções. Ele olhou
para Rhodan. Uma ruga vertical se fez acima do nariz do chefe da expedição. Em caso de
catástrofe, a Good Hope II teria que fugir imediatamente de dentro do sistema solar.
Ninguém mais, então, poderia preocupar-se com os membros da 5a Coluna.
3

“Porém a decisão nunca vai ser tomada pelo Campo-


Prateado. O povo dos kartas vai ter que escolher, quando o
estranho vier. São dadas três possibilidades. Os Filhos dos Deuses
podem se voltar para um ou para o outro — ou ir ao encontro de
ambos. Entretanto, quanto mais o poder se desdobrar, mais
nitidamente a sua fraqueza se tornará evidente.”

Dos hipnorregistros de Opus-undra-mur, descobertos na região


periférica de Karst, Terra Vermelha, 3.442, tempo terrano.

Rauhvertikal arrastou-se através da frigideira incubadora. As bolas dos seus pés


quase nunca se erguiam do chão, mas quase sempre se arrastavam através da areia. Um
rastro de três valetas ficou para trás, depois de sua passagem.
O karta sentiu-se estranhamente sem forças. Repetidamente ele enviava impulsos
para outros kartas, mas todos os habitantes do deserto se fechavam diante dele. Eles
estavam assustados, pela força com a qual ele atacava o habitante da Karstlandia? Ou
aquela coisa estranha que se aproximava do seu mundo também provocava mal-estar
neles?
Quando alcançou os primeiros rochedos ele ficou parado e ergueu a cabeça. Seus
olhos redondos se abriram um pouco mais. Todo o céu noturno brilhava e cintilava, de
um modo como nunca o fizera antes. Mais nitidamente que nunca, Rauhvertikal pôde
reconhecer que um mar de estrelas se aproximava velozmente de Opus. O dilúvio
aproximava-se cada vez mais e já agora se tomara imenso, apesar de certamente ainda
estar afastado dias de Opus.
Respirando com dificuldade, o karta subiu alguns degraus rochosos. Depois
alcançou a entrada para a sua gruta. Ele escorregou por um duto em diagonal para baixo,
até que o chão só consistia de areia fria. A luz das novas estrelas brilhava até aqui
embaixo. Elas clareavam os desenhos na parede traseira. Rauhvertikal tinha prensado as
imagens e os símbolos na massa antes fortemente espessada, com força psicocinética.
Ele se enrolou sobre si mesmo no chão. A sua respiração agora era mais calma e por
igual. Lentamente ele se recompôs. Aqui ele estava sozinho, e não era importunado por
nenhum outro nos seus arredores. Ninguém se atreveria a segui-lo até aqui com sentidos
parapsíquicos.
A necessidade de solidão ficava satisfeita. Rauhvertikal recuperou o controle sobre
si mesmo. Sem esforço ele agora diminuiu a influência do seu subconsciente sobre suas
funções corporais.
Calmamente ele esperou, até que o período coronário passivo tinha passado, um
período em que todo o seu organismo era comutado para uma necessidade de oxigênio
fortemente reduzida. E então ele levou os seus sentidos parapsíquicos para as amplidões
da galáxia.
Os estranhos tinham chegado!
A nave espacial esférica tinha penetrado no sistema solar e agora se encontrava nas
proximidades do sol. Entretanto Rauhvertikal não se deteve com os seres viventes neste
aparelho. Seus sentidos imediatamente avançaram para o planeta gelado, pois dali ele
captava impulsos extraordinariamente fortes.
***
Matra Krovzac deixou a lentilha seguir as outras três microespaçonaves a uma
distância de apenas um quilômetro. A nave para duas pessoas, comandada por Toronar
Kasom, já estava pousando entre as montanhas de gelo de Nurmo III. Sombriamente a
paisagem do planeta deslizava por baixo dele.
Tahonka No, que agora também vestia um traje de combate, apontou para um cone
rochoso, que sobressaía, muito íngreme, da paisagem. Ali também as duas outras
lentilhas tinham desaparecido. O cientista diminuiu a velocidade da nave e fez com que
ela baixasse para dentro de uma depressão do terreno. Segundos mais tarde o aparelho
estava parado.
Gucky materializou perto da escotilha de saída de sua astronave. Ele acenou para
Krovzac e depois saltou para uma saliência de rocha muito alta, de onde ele tinha a vista
livre para todos os lados. Kasom ficou na cabine. Ele vigiava, exatamente como Krovzac,
os aparelhos de rastreamento.
O físico-sextadim olhou o cronômetro. Ele registrava o dia 26 de março de 3.442. Já
tinham se passado quase dois dias desde o ataque da Good Hope II e da Intersolar ao
escudo defletor flexível. Durante este tempo ele não tivera nenhuma pausa para
descansar. Mesmo assim, ele não se sentia exausto. E também não estava com sono. De
agora em diante, eles provavelmente teriam oportunidade para descansar um pouco. Eles
tinham que esperar. A central de rastreamento da Good Hope II tinha verificado que a
cabeça do “Enxame” alcançaria este sistema o mais tardar em quatro dias. Até então,
alguma coisa tinha que acontecer. Os Conquistadores Amarelos teriam que decidir o que
queriam fazer. Em algum momento dos próximos dias eles ficariam ativos, porém
ninguém poderia dizer quando isso seria.
Krovzac ouviu Tahonka No gemer baixinho. Ele virou-se para ele, mas não pôde
constatar nada de excepcional. Tahonka No observava os aparelhos de rastreamento.
E então Krovzac sentiu um ligeiro formigar na cabeça. Parecia-lhe que alguma coisa
indescritivelmente fina passava por baixo da sua abóbada craniana. Apesar de sentir-se
com frio repentinamente, começou a suar. Aquela coisa sinistra movimentou-se até a
testa e ali provocou uma suave pressão.
Krovzac gemeu. Ao mesmo tempo notou que mordia os lábios. Aquela dor
repentina desviou sua atenção. Tahonka No pegou o seu braço, puxando-o. Apesar do
terrano saber que aquilo não podia ser, pensou ver os olhos do ossudo saírem bastante de
suas órbitas.
— O que é isso? — perguntou Tahonka No. Ele colocou sua mão no capacete
espacial, fechou-a em punho, e bateu diversas vezes contra a proteção da cabeça. —
Dentro de minha cabeça há uma coisa estranha.
De passagem, Krovzac achou que a radiação de imbecilização poderia ter alguma
coisa a ver com esta estranha sensação, mas logo descartou totalmente essa ideia.
Tahonka No era imune contra essa radiação. Ele não conhecia a razão e provavelmente
possuía uma proteção natural contra este instrumento de manipulação dos Conquistadores
Amarelos.
Krovzac ficou inquieto. Mais nitidamente que antes, ele sentiu aquele toque
esquisito dentro de sua cabeça. Ao mesmo tempo ele sentiu alto tateante em torno do seu
pescoço. Parecia-lhe que alguém tivesse colocado um lenço de seda em volta dele.
Ele abriu seu capacete espacial e apertou as mãos no rosto. O suor queimava-lhe os
olhos.
— Eu preciso sair — declarou Tahonka No. — Eu preciso ir para fora.
Krovzac fechou seu capacete espacial. Também ele achava que lá fora se sentiria
menos apertado. Tahonka No esperou impaciente, até que ele pudesse abrir a escotilha da
eclusa e depois esgueirou-se rapidamente para fora. Krovzac o seguiu. Ele viu que
também os outros membros da expedição tinham abandonado as lentilhas duplas.
Fellmer Lloyd aproximou-se deles. Krovzac conseguia ver o seu rosto nitidamente
através do visor do seu capacete. Ele parecia calmo e relaxado. Evidentemente ele nada
sentia.
— Vocês também estão sentindo isso? — perguntou o sensor-rastreador.
— Agora não o sentimos mais — respondeu Krovzac. — Passou.
— O que foi isso? — perguntou Tahonka No.
— Eu acho que um telepata tentou nos sondar — retrucou Fellmer Lloyd.
— Ele está... aqui em Nurmo III?
— Não, eu acho que não.
Tahonka No e Krovzac olharam para cima. A luz do “Enxame” era suficiente para
clarear o planeta gelado. O gelo, que cobria muitos rochedos, brilhava, branco. A poeira
que fora erguida pelos astronautas caía lentamente de volta para o chão. Dentro dela
cintilavam cristais de gelo.
Negras e escarpadas, algumas saliências rochosas se erguiam acima do gelo.
Medições tinham demonstrado que Nurmo III não tinha uma atmosfera. A gravitação era
de apenas 0,223 g. Com exceção de Gucky, que se sentia muito bem nesse âmbito
gravitacional, todos os outros haviam ajustado os seus aparelhos antigravitacionais para
os valores habituais.
Krovzac voltou para dentro da nave lenticular para vigiar os aparelhos de
rastreamento. Alaska Saedelaere e Fellmer Lloyd dirigiram o seu veículo espacial para
dentro de uma fenda rochosa, para melhorar a proteção contra rastreamentos. Atlan,
Irmina Kotschistowa e Toronar Kasom partiram com duas naves. Eles queriam examinar
melhor o âmbito deste planeta, no qual haviam pousado. Gucky desistiu de participar
desta pequena excursão. Ele tinha saltado para a ponta de uma montanha, de altura
excepcional, que se erguia ao sul de sua região de pouso, num platô gelado.
Ele ficou “escutando” com todos os seus sentidos. Nitidamente ele captou impulsos
que vinham de Nurmo II. Os habitantes deste planeta o deixavam curioso. Ele sentia a
rejeição, que partia deles. Ela rodeava o segundo planeta como um cinturão de gelo.
Gucky estava acocorado em cima de uma saliência rochosa abaixo do cume da
montanha, tentando goniometrar e alcançar um karta. Primeiramente não conseguiu nada.
Mas depois recebeu a irradiação de uma criatura que vivia num território deserto. Ela
trazia a nítida acentuação da amplidão, da solidão e do medo.
O rato-castor ficou surpreso. Ele sabia a respeito dos dons parapsíquicos que os
kartas possuíam. Por que esta criatura tinha medo?
Ele procurou penetrar mais no espírito do habitante do deserto, e descobriu que o
karta estava metido dentro de uma gruta pouco profunda. Ele sentiu a resistência do
outro, a má-vontade que este sentia para com o estranho. Ele tentou acalmá-lo e entrar em
contato com ele. Primeiramente com muita cautela, mas depois um pouco
impacientemente, ele se esforçou para vencer a barreira de resistência.
O karta reagiu de maneira “amok”.
Gucky sentiu-se atingido por um golpe, sentido fisicamente. Uma coisa invisível o
jogou contra os rochedos. O platô gelado arqueou-se, como se tivesse sido atingido por
uma bomba. Um repuxo de estilhaços de gelo foi atirado para o alto, subindo até o
espaço.
Gucky teleportou para um outro cume rochoso, distante cerca de três quilômetros.
Ele olhou para trás.
A cúpula rochosa, sobre a qual ele estivera sentado ainda há pouco, arrebentou,
abrindo-se em duas partes. Nas fendas que se formaram, por segundos rebrilhou um fogo
esbranquiçado, que entretanto logo apagou-se outra vez. Depois as massas de gelo e de
pedra se abaularam, formando um cogumelo de explosão. Sob a influência da gravidade
muito reduzida, os restos lentamente caíram ao chão novamente.
***
Rauhvertikal sentiu-se aliviado, depois da irrupção dos sentimentos represados.
Parecia-lhe que se limpara bastante. A demonstração do seu poder mal o cansara.
Agora ele se esforçava novamente para alcançar o estranho no planeta frio. Ele
esperava topar com pouca resistência.
Seus esforços chegaram a um fim repentino, quando um cheiro estranho penetrou na
caverna. Ele ergueu a cabeça e virou-a na direção do tubo de saída. As pedras que
pendiam do teto áspero estreitavam o seu campo de visão, mas isso não o importava. Ele
notou um véu de gás vermelho que dançava diante da entrada.
O karta deixou cair os campos de espessamento diante de suas narinas e sugou o ar
profundamente. Começou a sentir calor. Ele flexionou as pernas para o corpo e
esgueirou-se para cima, através do tubo. Curioso, ele ergueu a cabeça para fora da
abertura, enquanto seus sentidos telepáticos imediatamente começaram a procurar.
Ele abandonou a caverna. Com as pernas tremendo, ele ficou de pé sobre o solo
pedregoso, e olhou para a frigideira de incubação. O sol amarelo-pálido já estava alto no
horizonte. A areia brilhava, branca. Somente nas valetas de represamento ainda havia
sombra.
Rauhvertikal correu para cima da instalação muito bem cuidada, até alcançar uma
depressão úmida. Raramente antes lhe fora tão difícil se concentrar na absorção de água.
E o resultado também foi diminuto, correspondentemente. Somente algumas gotas
materializaram sobre sua língua. Irritado, ele sacudiu a cabeça. Vindo do oeste soprava
um vento que comprimia a sua roupa em forma de saco firmemente contra o corpo.
Rauhvertikal tentou concentrar-se novamente. Não conseguiu, pois na valeta diante
dele apareceu novamente o campo de gás vermelho. Ao mesmo tempo chegava outra vez
ao seu nariz o cheiro que o atraíra para fora da caverna.
O karta deixou-se afundar na areia. Ele fechou os olhos e ficou escutando. Agora
ele sentiu que novamente alguma coisa estranha penetrara na sua área. Estranhamente ele
não sentiu nenhuma antipatia contra esse inesperado visitante.
Ele ergueu-se de um salto e correu até a próxima duna. Dali ele tinha uma vista total
da frigideira de incubação. Ela estava diante dele vazia, porém na sua borda oriental
surgira uma formação em formato de fuso, que pairava logo acima do solo. A mesma
cintilava nas cores vermelho, verde e amarelo.
Rauhvertikal tinha esquecido o que havia acontecido no terceiro planeta deste
sistema solar. Ele também não pensou mais no habitante de Karstlandia que ele matara,
porque se aproximara demais dele.
Somente aquele fuso o interessava. Ele sabia que o mesmo apenas devia iludi-lo.
Sua tarefa era de atraí-lo e evitar uma reação defensiva física e espiritual contra aquela
criatura que agora entrava no seu território.
Rauhvertikal sentiu que a sua circulação despertava para atividade máxima. O
período coronário passivo, que começou pouco depois foi tão curto, que ele mal o notou.
E então, repentinamente, veio um impulso do estranho no terceiro planeta.
Rauhvertikal reagiu curto e violentamente. Ele golpeou de volta com toda a força e
potência, sem se concentrar no objetivo. Ele simplesmente empurrou para o lado o que o
importunava e molestava.
Ele pôs-se em movimento, escorregou a duna abaixo, e iniciou a sua marcha pelo
deserto. Agora estava esquecido, de que na realidade ele devia ter tomado mais umidade
para si.
Rauhvertikal pensava que nunca antes vivera tanto quanto agora. Ele perdeu todo o
sentido de tempo e espaço. A ameaça do espaço ficara irreal e secundária. O “Enxame”
não existia mais para ele. Ninguém agora ainda conseguiria chamar sua atenção para o
dilúvio de estrelas, que ameaçava inundar Opus-Nurmo.
O karta entrou numa fase biológica, na qual não havia mais períodos coronários
passivos.
***
Matra Krovzac estava deitado no leito anatômico de sua espaçonave lenticular. Ele
mastigava uma bala de vitaminas e observava os aparelhos de rastreamento. Os outros
membros da expedição dormiam.
O cientista olhou o seu cronômetro. Ele registrava o dia 28 de março de 3.442,
tempo terrano. Eles agora se encontravam há quarenta e oito horas no planeta gelado. O
“Enxame” agora já se aproximara tanto, que deveria alcançar o sistema Opus-Nurmo no
máximo dentro de dois dias. Com uma tensão febril, todos esperavam pelo que viria
acontecer. Nenhum deles, entretanto, se mostrara nervoso ou inseguro. Eles ainda
esperavam poder enfrentar com sucesso aquilo que vinha ao seu encontro.
Matra Krovzac estava satisfeito por não terem notado mais nada dos kartas, há mais
de trinta horas. Estas criaturas pareciam dar-se por satisfeitas, com a advertência que
haviam feito a Gucky. Elas tinham demonstrado de que poder eram capazes. Isso era
suficiente.
Matra Krovzac olhou para Tahonka No. O ossudo estava deitado de costas e
dormia, de boca aberta. Krovzac, nestas últimas horas, tinha observado mais
cuidadosamente que antes essa criatura estranha. E nisto ele tivera a impressão de que
Tahonka No se comportava de modo diferente que o usual. O ossudo sofria sob a
influência parapsíquica dos kartas, ou ele era mais receptivo para alguma coisa, que os
outros não sentiam? Matra Krovzac desejou conseguir uma resposta às suas perguntas,
porém o regulador de alta pressão funcionava como se tudo estivesse em ordem.
Um aparelho de rastreamento de repente começou a piscar.
O terrano desligou o mostrador de alarme e observou o monitor. Ele reconheceu
alguns reflexos, que aumentaram de tamanho muito rapidamente. Agora também
apareceram objetos em outros monitores.
Krovzac deu o alarme.
Tahonka No ergueu-se, assustado. Atlan chamou, quase que instantaneamente pelo
rádio.
— Eu rastreei espaçonaves — declarou o físico.
Ele olhou para o mostrador do computador e acrescentou:
— Os aparelhos captaram 32 objetos voadores. Eles se movimentam numa rota cujo
destino é Nurmo II, portanto voam para o planeta dos kartas.
— Eles vão ter uma surpresa terrível — profetizou Gucky.
— Isso ainda veremos — disse Atlan.
Matra Krovzac ajustou os aparelhos de rastreamento, até finalmente ter apenas uma
única espaçonave na ampliação. O objeto podia ser visto fortemente aumentado. O
computador ligado já estava fornecendo as avaliações. As naves enviadas pelo “Enxame”
tinham um comprimento de quase seis mil e quinhentos metros. Elas pareciam lanças de
cabo curto, que voavam velozmente pelo cosmos, com suas pontas cônicas para a frente.
Numa tela de vídeo, na qual Krovzac podia ver Atlan, repentinamente apareceu
Gucky. O rato-castor teleportara para a cabine da nave lenticular de Atlan. Irmina
Kotschistowa aprontou-se para sair pela eclusa.
— Gucky e eu vamos partir para um voo de reconhecimento — declarou Atlan. —
As outras naves lenticulares ficam de prontidão.
Matra Krovzac entregou uma tira de avaliação do computador para Tahonka No,
para informá-lo sobre os dados recebidos até agora. Atlan e Gucky deram partida com
sua nave lenticular. O objeto voador desapareceu com a velocidade de um raio dos olhos
dos outros membros da expedição. Krovzac ainda ficou com ela por alguns minutos na
tela de rastreamento, depois ele só podia reconhecer ainda as 32 espaçonaves que se
aproximavam de Nurmo II.
***
— Elas se parecem com as naves-cogumelo dos instaladores do “Enxame” — disse
Gucky, quando a nave lenticular se aproximou das 32 astronaves.
Atlan, que guiava a microespaçonave, somente deu de si um som indistinto, que o
ilt, entretanto, tomou como concordância.
Visto do planeta de gelo, Nurmo II estava em oposição. As astronaves estranhas
seguiam uma rota, que devia levá-los exatamente para este mundo.
As astronaves voavam numa formação que também se parecia com uma lança de
cabo curto. Deste modo tinha-se a impressão de que a formação pretendia perfurar o
segundo planeta do sistema.
Atlan levou a nave lenticular para até quinhentos quilômetros de proximidade de
uma das espaçonaves traseiras. Gucky vigiava os aparelhos de rastreamento e fazia
filmagens. Os aparelhos trabalhavam com tanta fidelidade que não era necessário
aproximar-se mais ainda da frota. Desta distância podia reconhecer-se perfeitamente as
aberturas redondas, por baixo do “telhado”, que a ponta das naves formava. Elas
brilhavam, incandescentes. Nas laterais do “cabo”, que tinham um diâmetro de dois mil
metros, desenhavam-se os contornos de inúmeras eclusas e escotilhas. Protuberâncias
faziam concluir que os gigantes cósmicos estavam fortemente armados.
— Por que elas voam para Nurmo II? — perguntou Atlan. — O que é que eles
pretendem? Você consegue “escutar” alguma coisa?
Gucky tentou espreitar telepaticamente a tripulação de uma espaçonave, para
descobrir o que devia acontecer em Nurmo II. Entretanto não teve êxito. Ele topou com
uma mistura inextricável de pensamentos, da qual não conseguia cristalizar nenhuma
reflexão individual.
— Eu teria que saltar até lá — disse ele.
Para Atlan isso era muito arriscado.
— Nós vamos voltar para Nurmo III e seguiremos as naves junto com as outras para
Nurmo II. Precisamos saber o que acontece ali.
Pouco depois a nave lenticular já se encontrava na rota contrária. Ela acelerou
dentro de dez minutos para a velocidade da luz. Quando Atlan pousou no planeta gelado,
as outras três naves lenticulares já estavam prontas para a partida. Ele fez um relato
rápido sobre a situação e as observações, depois deu ordem de partida. As 32
espaçonaves dos estranhos tinham se aproximado do planeta deserto em até cerca de dois
mil quilômetros. Elas já se encontravam numa rota de aterrissagem, porém ainda voavam
tão depressa, que uma entrada na atmosfera seria igual a uma queda. As naves gigantes
ocasionariam condições caóticas no segundo planeta de Opus-Nurmo.
***
Rauhvertikal acordou de um sono, que repetidamente fora interrompido por sonhos.
Ele se encontrou deitado no chão, numa depressão entre duas dunas. Ele estava
desmedidamente confuso.
Quando ele se ergueu, os seus membros só lhe obedeceram com muito esforço.
Parecia-lhe que em cima dele estava uma massa imensa, que transformava cada passo
numa tortura. Além disso, ele se sentia como que ressecado. O seu corpo parecia não
conter mais nem uma única gota de líquido. Ele lembrou-se que alguma coisa o havia
impedido de sugar da areia tanta água quanto necessitava. Ele tentou recordar mais
daquilo que acontecera, mas sua memória não cooperou.
Decepcionado, ele se arrastou duna acima.
Quando escorregou por cima do cume, ele enfiou seus braços e suas pernas, aos
trancos, na areia. Ele olhou para o vale próximo. O choque o paralisava. Nitidamente ele
podia ver rastros de um outro karta. As pegadas na areia faziam concluir que este
estranho era mais delicado e menor do que ele mesmo. Ele tinha corrido, com passadas
pequenas, para o sudeste. O rastro perdia-se na borda da frigideira de incubação entre as
dunas.
Rauhvertikal espantou-se de que o seu corpo não regia com forte nojo, que ele não
caía instantaneamente num período coronário passivo. Realmente ele não sentia nenhuma
agitação exagerada sobre a passageira presença de outro karta.
Ele se enganava? Ou o estavam fazendo de tolo? Os habitantes de Karstlandia
queriam vingar-se dele?
Ele levantou-se e foi até as pegadas. Estava cheio de curiosidade. Ele não sentia
nenhuma má-vontade. Primeiramente devagar, depois cada vez mais depressa, ele seguiu
as pegadas, até chegar a uma grande depressão do terreno. O outro tinha continuado
correndo, porém no centro da área encontrava-se um objeto redondo no chão.
Rauhvertikal aproximou-se. Novamente alguma coisa baixou sobre seu consciente e
turvou sua capacidade de percepção. Ele foi até a esfera, que tinha o tamanho de uma
cabeça, e passou uma mão cautelosa em cima da mesma. Ela tinha uma superfície
fibrosa, muito mole ao tato. O karta pegou-a nas mãos, e levantou-a do chão. Muito
cuidadosamente ele carregou-a à sua frente. Com seus sentidos parapsíquicos ele a
protegia, mas não ousava movimentá-la diretamente, telecineticamente. Ele temia
danificar alguma coisa, sem saber o quê.
Uma longa marcha, que esgotava as forças, começou até o centro da frigideira de
incubação. Nada mais podia desviar a atenção de Rauhvertikal. No sul apareceram
gigantescas espaçonaves. Elas se atiravam na atmosfera e desencadeavam tempestades de
força destruidora. O karta não se importou com isso. Sua atenção estava dirigida para
duas coisas — a esfera nas suas mãos e a frigideira de incubação.
As espaçonaves passaram velozmente a oeste dele. Elas seguiam uma rota que devia
levá-las para o polo norte. As massas de ar em turbilhão arrancavam areia, poeira e
pedras para o alto, na direção da frigideira de incubação. Rauhvertikal parecia não notá-
-las, porém quando elas atingiram a borda da instalação, se chocaram contra uma parede
invisível. O território dos kartas parecia estar debaixo de um gigantesco escudo
energético, no qual as forças desencadeadas encontravam um obstáculo intransponível.
Rauhvertikal colocou a esfera no centro da frigideira de incubação. Aqui a areia
tinha sido comprimida para formar uma rocha porosa. Paredes de proteção que subiam
em formato de concha coletavam a água que vinha de todos os lados através das calhas.
Sob a influência dos raios solares, criava-se no centro da instalação um clima úmido
sempre com as mesmas temperaturas. Durante o dia a evaporação diminuía o calor,
enquanto durante a noite a areia quente mantinha longe o frio.
Lentamente o karta se retirou. Ele parava constantemente e observava a esfera. Uma
sensação de felicidade, até agora inteiramente desconhecida dele, o inundou. Lentamente
ele deu-se conta de que um encontro com um outro karta era absolutamente permitido e
podia ser desejável. A fraqueza tinha se evaporado. Ele sentia-se novamente mais forte. E
agora também a lembrança lhe voltava lentamente. Pedaço a pedaço desvendou-se para
ele o que acontecera. O reconhecimento o dominou.
Longamente ele trabalhara na instalação da incubadeira, sem jamais saber se algum
dia ela preencheria o seu sentido. E de modo totalmente imprevisível então acontecera
aquilo pelo qual ele esperara por tanto tempo.
Ele alcançou a entrada de sua caverna. Parou e virou-se lentamente sobre si mesmo.
A tempestade diminuíra. As espaçonaves tinham desaparecido no norte. De um dos lados
da frigideira ergueram-se altos montes de areia.
O karta sugou o ar profundamente pelas suas narinas. Ele não se incomodava que
walla inflamava as mucosas. Agora ele tinha uma tarefa que realmente fazia sentido. A
instalação da incubadeira fora apenas um trabalho prévio. De agora em diante, porém, ele
precisava proteger a vida em gestação.
Até agora ele precisava apenas proteger a água no seu território e mantê-la para si
mesmo. De agora em diante ela se tomara ainda infinitamente mais preciosa. Cada
estranho que agora chegasse a esta terra ameaçando água e vida, tinha que contar com um
adversário, que lutaria incondicionalmente.
Cautelosamente Rauhvertikal abriu seus sentidos. Ele escutou para fora, para os
outros kartas no cinturão de desertos. Por toda a parte ele topava com seres que, como
ele, acordavam de um espessamento passageiro do consciente. Na Karstlandia, entretanto
todos os kartas estavam outra vez totalmente ativos. Ali o processo da criação de vida já
estava novamente terminado. De lá vinham impulsos de grande agitação. Rauhvertikal
procurou indagar a razão para isso. Um outro choque o abalou.
Estranhos tinham pousado neste mundo.
Na sua lembrança surgiram as imagens das astronaves que tinham passado voando
por ele. Os estranhos voavam em máquinas que tinham penetrado na atmosfera como
cunhas. Eles não faziam parte daquelas criaturas que viviam nas esferas espaciais.
Eles vinham do “Enxame”.
Eles trariam morte e destruição para este mundo.
4

“O Campo-Prateado é como a vida. É um círculo sem


começo e sem fim. Mesmo assim a vida em gestação sempre está
acima daquela que perece, assim como o novo dia expulsa a
noite.”
Dos hipnorregistros de Opus-undra-mur, descobertos na área
periférica de Karst, Terra Vermelha, 3.442, tempo terrano.

Perry Rhodan entrou na central de comando. A Good Hope II continuava se


afastando do sistema solar, na proteção contra rastreamentos do sol Opus-Nurmo.
O primeiro oficial cosmonauta Senco Ahrat guiava o cruzador leve com ajuda do
capacete-SERT. Nas grandes telas de vídeo podia ver-se o “Enxame”, que continuava
correndo sem diminuir sua velocidade, na direção do sol ameaçado com seus três
planetas. A cada segundo derretia-se a distância em 150.000 quilômetros.
Rhodan ficou parado do lado da poltrona do piloto, olhando para a tela de vídeo
diante dele, quando Joak Cascal, o chefe do departamento de rádio, entrou na central.
— Atlan seguiu as 32 espaçonaves. Todas as quatro naves lenticulares agora estão
voando para Nurmo II. Dentro de cinco minutos eles penetrarão na atmosfera.
Rhodan anuiu. Originalmente não se previra que a 5a Coluna pousasse em Nurmo II.
Era muito perigoso, uma vez que se deveria contar com ações defensivas dos kartas. Se,
porém, as espaçonaves vindas do “Enxame” tinham escolhido este mundo como objetivo,
então Atlan, mal ou bem, teria que segui-las. Só assim ele poderia informar-se sobre as
medidas iminentes dos Conquistadores Amarelos.
— O senhor acha que o “Enxame” simplesmente vai abalroar o sistema? —
perguntou Cascal.
Rhodan sacudiu a cabeça.
— Eu não consigo acreditar nisso.
Cascal também olhou para a tela de vídeo. O “Enxame” preenchia todo o campo de
visão.
— Eu estou inquieto porque o “Enxame” não reagiu ao nosso ataque — disse ele.
— Evidentemente eles se sentem tão seguros por trás do escudo flexível que se podem
dar ao luxo de nos ignorarem, não importa o que fizermos.
— A avaliação dos resultados das observações informa que o ataque ao escudo
flexível não teve qualquer efeito. A energia dos tiros dos canhões transformadores não
deu em absolutamente nada. Portanto não vale a pena para o adversário reagir às nossas
ações.
— A direção das 32 espaçonaves procede com a mesma consciência de sua força —
declarou Cascal. — Os gigantes pousaram imediatamente em Nurmo II. Eles desistiram
de longos preparativos e observações. Mesmo assim, eu não acredito que eles irão
queimar os seus dedos contra os kartas.
— Os prejudicados poderão ser Atlan e seus acompanhantes — retrucou Rhodan.
— Os kartas poderão voltar a sua ira contra eles, se não conseguirem nada contra as
outras espaçonaves.
***
Em rota noroeste, as quatro naves lenticulares voaram para dentro da atmosfera de
Nurmo II. As naves para duas pessoas desceram com forte desaceleração para as regiões
desérticas do sul, e depois deslizaram em formação de cunha, a pouca altura do chão.
Atlan e Gucky iam na frente da formação. Eles eram seguidos de Kasom e Irmina
Kotschistowa. Alaska Saedelaere e Fellmer Lloyd, bem como Matra Krovzac e Tahonka
No, ficaram atrás deles a uma distância de cerca de oito quilômetros.
Matra Krovzac apontou para uma área recoberta de rochas vermelhas, da qual se
destacavam alguns círculos brancos. Parecia-lhe ter visto algum movimento ali.
De repente, as duas espaçonaves lenticulares de Atlan e Toronar Kasom se
desviaram fortemente para o norte. Matra Krovzac sentiu uma pressão dolorida na sua
cabeça. Tahonka No se contorceu, como se tivesse sido atingido por um raio.
O chão diante deles abriu-se, e uma labareda ergueu-se verticalmente no ar. De
repente uma parede de fogo alargou-se diante deles. Krovzac ainda quis guiar a nave
lenticular mais para o norte, porém ela estava voando depressa demais. Por isso ele voou
velozmente através daquele mar de chamas ondulantes. A espaçonave tremeu como se
tivesse recebido um impacto. Por segundos o cientista lutou pela estabilidade do voo. A
nave lenticular estava ameaçada de chocar-se contra um morro. Forças invisíveis
pareciam puxá-la fortemente.
— Atenção — os kartas atacam — declarou Atlan, pelo rádio. — Gucky e Fellmer
vão tentar entrar em contato com eles.
Matra Krovzac começou a suar. A nave lenticular de repente não reagia mais às
suas ordens. Com a conexão feita, na realidade ela deveria ter subido na vertical. Porém
ela estava caindo exatamente para cima de um paredão de rocha, que se erguia diante dela
a cerca de dois mil metros acima do deserto.
Tahonka No estendeu os braços para ajudá-lo, mas depois curvou-se todo,
gemendo.
— Estamos caindo — gritou Krovzac, ao microfone. — O comando não reage mais.
Com uma velocidade incrível o paredão rochoso se aproximava. Repetidas vezes
Krovzac tentou retomar o controle sobre o aparelho. Inutilmente.
E então Gucky materializou entre ele e o ossudo. Ele curvou-se para a frente e
apertou, com um indicador exageradamente esticado, num botão do quadro de
instrumentos.
— Esta é a iluminação da câmara dos propulsores — disse Krovzac. — Isso não vai
adiantar nada.
— Ó, talvez adiante — retrucou o ilt.
Krovzac ergueu a cabeça. Ele duvidou do juízo do rato-castor. Gucky vestia seu
traje de combate. Por trás da viseira transparente ele mostrou, divertido, o seu dente
roedor para Krovzac — e desmaterializou.
O cientista gritou:
— Gucky, nós...
E então olhou para a tela de vídeo. A nave lenticular voava verticalmente para cima.
Ela passou por cima do paredão das rochas, sem esforço. De repente ela estava
novamente obedecendo a todas as ordens. Krovzac teve que modificar a rota, para que o
aparelho não subisse até uma órbita.
Tahonka No deu uma risada.
Matra Krovzac mordeu-se nos lábios, mas depois também sorriu. Aquilo fora
característico do rato-castor. Ele não conseguia desistir de pequenas brincadeiras.
Naturalmente o aperto do botão realmente não significara nada. Com aquilo, o ilt
simplesmente os iludira, pois ao mesmo tempo ele se ocupara com sucesso de tirar a nave
lenticular da influência parapsíquica de um karta.
Tahonka No apontou para a tela de vídeo, na qual podiam ver-se três outras
micronaves. Atlan e Toronar Kasom estavam com visível dificuldade de manter suas
espaçonaves sob controle. As lentilhas balançavam fortemente. Ao mesmo tempo fez-se
um turbilhão gigantesco embaixo delas. Ele abarcava um extenso território desértico.
Krovzac viu como o ar começou a girar por cima da areia. Parecia que ele estava
olhando, da órbita de um planeta, a formação de um furacão. Segundos mais tarde ficou
claro, que eles se encontravam próximos demais da região da tempestade. O pião
repentinamente girou mais depressa. Massas de areia de todas as partes do deserto
turbilhonaram para cima.
As quatro espaçonaves lenticulares subiram até quatro mil metros, apesar do perigo
de rastreamento, nesta altura, ficar cada vez maior. Eles ainda não sabiam se as 32 naves
gigantes tinham pousado no polo norte. Até agora eles tinham apenas suposições.
De repente Krovzac não conseguiu ver mais nada. Areia e poeira envolviam o
aparelho. As temperaturas externas, em frações de segundos, atingiram valores
ameaçadores. As laterais arredondadas das espaçonaves começaram a ficar
incandescentes. O sinal de alarme piscava. No quadro de instrumentos diante de Krovzac
acendeu-se uma série de luzinhas. Krovzac teve que desacelerar a nave.
— Os kartas estão se encapsulando — informou Atlan, com voz calma. — Eles não
respondem aos chamados de Gucky e de Lloyd.
— Rastreamento — gritou Toronar Kasom. — As espaçonaves se encontram, todas,
no polo norte.
O perigo de que estas conversas pelo rádio fossem escutadas pelo adversário era
diminuto. O alcance dos aparelhos de rádio não era muito grande. Mesmo assim, Atlan
tinha determinado aos membros da 5a Coluna, de somente transmitirem notícias
realmente importantes, para reduzir o perigo de uma descoberta.
Os aparelhos de rastreamento mostravam pedaços de rochas de toneladas, que eram
arremessadas para o alto junto com a areia. Matra Krovzac achava que era um milagre
que eles tivessem atravessado aquele caos até agora incólumes.
— Precisamos subir mais — achou Tahonka No. — Caso contrário não vamos
conseguir escapar.
O cientista hesitou. O aparelho se sacudia todo. Algumas pedras, do tamanho de
uma mão fechada, batiam contra o casco externo da nave lenticular. As massas de areia
ficavam cada vez mais espessas. Krovzac teve que desacelerar a velocidade ainda mais.
Ele não queria retirar-se, de maneira alguma, da formação, antes que Atlan desse a
ordem. Porém então os aparelhos de rastreamento captaram quatro rochas enormes que
subiam, voando exatamente para cima deles.
Ele tentou desviar-se para o norte, mas as pedras também mudaram de rota. Um
choque parecia inevitável.
— Precisamos subir mais — avisou Krovzac.
***
Um grito de indignação rodeou o mundo.
Rauhvertikal golpeou com força total e cegamente. Bem ao norte o sol abriu-se, e as
massas incandescentes de um ninho de lava brotaram da fenda que se abrira. Elas se
derramaram por cima da encosta de uma montanha, correram, fluídas, na direção das 32
espaçonaves que tinham pousado no polo norte.
O karta percebeu que também outros habitantes das terras desérticas saíram de sua
reserva. Uma tempestade de impulsos parapsíquicos abalou o planeta. Tempestades de
areia chicoteavam as planícies do norte com uma força, como somente o poder dos
cérebros dos kartas era capaz de desencadear. Ao mesmo tempo, entretanto, outros kartas
se esforçavam para libertar a região do polo norte de suas massas de ar. Eles tinham
esperanças de poder criar um vácuo, no qual os estranhos teriam que perecer. Outros
kartas, porém, tentavam criar campos de gases espessos. Eles tinham mesmo que
enfraquecer a atmosfera já por si rarefeita, em outros lugares, para desencadear uma
tempestade de tão grande violência, que as espaçonaves fossem ameaçadas por ela.
Rauhvertikal deu-se conta, primeiramente, de que estas ações isoladas eram
totalmente sem sentido. Um karta diminuía a força de outro, ao agir contrariamente.
Um karta tentou virar uma espaçonave, por telecinese, para um lado, sem levar em
conta que um outro queria virá-la para o outro lado.
Rauhvertikal fez uma coisa nunca vista.
Ele voltou-se para os outros kartas, e falou com eles diretamente, com meios
telepáticos. Ele apelou para eles, que suspendessem os ataques imediatamente. E nem se
poupou mesmo de se dirigir aos kartas da Karstlandia, apesar do seu estômago ameaçar
se revolver, só com esse pensamento.
A corrida “amok” dos kartas entretanto ficou ainda mais turbulenta e caótica,
quando as quatro naves lenticulares dos terranos penetraram na atmosfera. Os impulsos
dos seus cérebros justamente foram captados pelos kartas, nos minutos em que a voz de
Rauhvertikal se espalhava pelas terras do deserto.
A natureza de Nurmo II transformou-se em arma, com a qual os kartas golpeavam
descontrolados.
Rauhvertikal recebeu os impulsos psíquicos de Gucky e de Fellmer Lloyd. Ele quis
responder, mas não conseguiu. A má-vontade enraizada no seu inconsciente contra o
estranho, demonstrou ser mais forte. Contra sua vontade, Rauhvertikal interveio nos
acontecimentos na área da aproximação de voo das quatro naves lenticulares. Seus
impulsos parapsíquicos reforçaram a tempestade de areia.
Por minutos parecia que todos os kartas de Nurmo II tinham esquecido de que no
polo norte tinha pousado um adversário muito mais poderoso, com suas espaçonaves
incomparavelmente maiores. Para todos, as quatro espaçonaves lenticulares pareciam
estar no centro dos acontecimentos, pois com elas vinham seres que também possuíam
dons parapsíquicos.
Este fato causou mais um choque nos kartas. Eles tinham que reconhecer
repentinamente que também criaturas totalmente estranhas podiam ter uma certa
semelhança com eles.
Rauhvertikal ouviu os apelos de Gucky e Fellmer Lloyd. Eles declaravam
repetidamente que apenas tinham vindo devido às outras espaçonaves. Eles garantiram
que queriam respeitar a necessidade de solidão dos kartas, e pediam que estes lhes
dessem permissão para um pouso de pouco tempo em Nurmo II.
Fellmer Lloyd lembrou mais uma vez para o perigo que ameaçava do “Enxame”.
Ele anunciou que dentro de dois dias ocorreria um choque com ele. Seus esforços de
colocar o “Enxame” como o verdadeiramente estranho e perigoso, perderam-se, sem
efeito.
Rauhvertikal estava deitado na entrada de sua caverna, os olhos dirigidos fixamente
para a frigideira de incubação, e lutando consigo mesmo. Ele queria responder. Ele queria
entrar em contato com os estranhos. Depois de alguns segundos de extrema concentração,
ele conseguiu retirar-se da luta dos instintos, porém então a função de proteção do seu
corpo jogou por terra todos os seus esforços. Ele não conseguia mais viver com a baixa
percentagem de oxigênio do ar. Começava o período coronário passivo.
A consciência de Rauhvertikal turvou-se. Ele ainda captou apenas que teria que
esperar, até que seu corpo passasse a um período ativo. Até então ele não podia fazer
absolutamente nada.
***
Matra Krovzac não viu mais nenhuma possibilidade. Ele tinha que desviar-se para o
alto e aceitar o risco de ser rastreado pelas espaçonaves.
E então os blocos de pedra repentinamente caíram para baixo. A areia desceu para a
planície. A natureza de Nurmo II aquietou-se de um momento para o outro. Agora nada
mais apontava para o caos, que ainda há pouco determinara os acontecimentos. Somente
algumas nuvens de poeira ainda rolavam por cima do deserto.
Sem serem detidas, as naves lenticulares puderam voar para o norte. Dentro de
poucos minutos elas deixaram para trás quatro mil quilômetros de terras desérticas como
estepes. Não era possível ver-se superfícies aquáticas comunicantes. Matra Krovzac
descobriu alguns lugares escuros na areia, que apontavam para um pouco de umidade,
mas não encontrou o menor regato. O planeta parecia inabitável para seres humanos.
Atlan e Toronar Kasom fizeram as naves lenticulares baixarem mais. Os outros
pilotos fizeram a mesma coisa. Numa altura de pouco mais de mil metros, elas voaram
para o norte.
O físico-sextadim procurou frequentemente reconhecer pormenores na paisagem
abaixo de si, descobrir animais ou plantas, ou mesmo surpreender um karta. Ele
encontrou, porém, somente alguns líquens, e plantas parecidas com cactos. Em algumas
fendas rochosas cresciam flores que brilhavam, amarelas.
Tahonka No pegou no seu braço e apontou para uma formação perfeitamente
circular no deserto, que se juntava a uma larga faixa rochosa. Calhas geometricamente
colocadas e depressões no terreno. Estas depressões rodeavam um centro em formato de
concha, dentro do qual via-se uma esfera escura. Ela parecia um ovo, que tivesse sido
deixado para trás no ninho.
Surpreendentemente aqui não se viam traços de destruição. A tempestade de areia
deixara esta região inteiramente intocada.
— Rastreamento — disse Matra Krovzac.
Ao mesmo tempo fez a nave lenticular baixar. Os outros pilotos reagiram com a
mesma rapidez.
Atlan declarou:
— Vamos pousar junto aos rochedos vermelhos, para procurar cobertura por ali.
Matra Krovzac olhou os instrumentos. Não houve nenhuma outra indicação de
rastreamento.
— Talvez tenhamos sorte — disse Tahonka No.
— Eu observei apenas um único impulso de rastreamento — respondeu o cientista.
— Isso é muito pouco, para identificar-nos.
A nave lenticular voou baixo, logo acima das dunas, na direção dos rochedos. Ela
desacelerou fortemente e depois pousou, com um pequeno tranco. Perto da espaçonave de
Toronar Kasom, Krovzac terminou a manobra de pouso. Aqui eles se encontravam na
cobertura de rochedos muito elevados. Uma garganta abria-se, em formato de funil, na
direção nordeste. O solo decaía fortemente. Matra Krovzac podia ver, a uma distância de
cerca de três quilômetros, uma região coberta de musgos verdes e cactos azuis. Muito
alto, por cima das montanhas, curvava-se um céu verde-pálido. Opus-Nurmo se
encontrava por cima deles, quase na vertical.
Gucky foi o primeiro a abandonar a nave lenticular. Ele esgueirou-se pela escotilha
para fora, colocou as mãos nos quadris e olhou em torno, como alguém que pretende
comprar as terras.
— Nós temos uma pequena pausa para respirar — anunciou ele. — Os kartas, antes
de mais nada, precisam tomar um pouco de ar, antes de poder esquentar o inferno
novamente para nós.
Matra Krovzac abriu a escotilha de sua nave lenticular e trepou para fora. A
gravidade de Nurmo II era apenas imperceptivelmente menor que a da Terra. O chão
parecia mole e flexível. O cientista manipulou um instrumento especial, que executou
uma análise quase instantânea da atmosfera. As escalas do mostrador indicavam uma
percentagem extremamente baixa de oxigênio, o que permitia aos terranos apenas uma
estada de curto espaço de tempo sem aparelhos de respiração. As análises bacteriológicas
e virológicas mostravam que o ar não continha quaisquer bactérias perigosas.
Matra Krovzac abriu seu capacete espacial e respirou o ar de Nurmo II. Ele tinha
um sabor ligeiramente salgado.
— O que é que você quis dizer, realmente, com “uma pausa para respirar”? —
Atlan perguntou ao rato-castor.
— Os kartas precisam primeiramente bombear oxigênio para dentro deles, antes de
poderem empreender alguma coisa contra nós ou contra os outros — explicou Gucky. —
Até então, vamos ter sossego.
— O consciente deles está praticamente desligado — acrescentou Fellmer Lloyd. —
Por isso é difícil dizer quanto tempo esta pausa vai demorar.
— Talvez possamos conseguir desviar sua atenção de nós, quando eles novamente
se tornarem ativos — disse o ilt. — Se nós nos conservarmos bem quietos, talvez eles
somente ataquem nossos amigos no polo norte.
— Neste caso, nossas perspectivas não são especialmente boas — observou Alaska
Saedelaere, sorrindo. — Eu nunca vi Gucky tão quieto, que fosse possível deixar de vê-
-lo.
— Neste caso eu simplesmente desapareço completamente — retrucou o rato-
-castor.
E desmaterializou.
***
Gucky caiu na areia, de um metro de altura. Ele escorregou para trás, caiu de costas
e rolou a duna abaixo. Como a queda não foi desagradável, ele não fez nada para pará-la
antes do tempo. E finalmente ficou deitado numa depressão entre dois montes de areia.
De ambos os seus lados havia rochedos.
Entre eles abria-se o tubo de um túnel, que
levava para o fundo, diagonalmente. Dali saía
uma cabeça chata. Gucky olhou para uma
cara redonda. Dobras de peles moles cobriam
ambos os olhos, que pareciam sonolentos,
mas agora ficavam cada vez mais despertos e
claros. Dois braços extremamente finos, com
muitas extremidades, estenderam-se ao lado
da cabeça, para fora. As mãos que pareciam
muito humanas, apesar de terem apenas três
dedos e um polegar, se enterraram na areia,
em busca de sustentação.
— Alô, vizinho — disse Gucky.
Ao mesmo tempo ele tentou captar
alguma coisa do conteúdo mental do karta.
Ele entendeu apenas que esta criatura se
identificava com a sua caverna, que era
vermelha e redonda. Ao lado disso pareceu-
lhe ter topado em alguma coisa queimante,
quente. Ele recuou diante daquilo.
Vermelha e redonda abriu-se a boca
para um grito de horror. O rato-castor viu
algumas pedras vindas por cima das dunas.
Elas vinham diretamente em cima dele, como projéteis. Uma mão invisível o esganava,
puxando-o para o chão.
Gucky teleportou para o alto da duna e ficou olhando, curioso, como as pedras
bateram na depressão do terreno. Elas se enterraram profundamente na areia. Uma delas
estilhaçou, sob a força do choque.
Os olhos do karta se ergueram para o rato-castor. Uma onda de nojo veio ao seu
encontro. Jamais antes ele tinha encontrado um tal tumulto de sentimentos. A curiosidade
o prendia na duna. Ele queria deixar o habitante do deserto sozinho, mas sempre adiava
por mais um segundo a sua retirada.
Os kartas não tinham inimigos naturais no seu planeta. Eles precisavam de suas
forças parapsíquicas para poderem viver aqui. Sua existência era equivalente à luta por
água e alimentação. Ambas as coisas eles extraíam do solo com meios puramente
espirituais. O seu único adversário era o planeta.
A areia sob os pés do ilt de repente cedeu para um lado. Gucky caiu num poço, que
neste momento fora criado por Rotrund. Em volta dele poeira e areia turbilhonaram para
cima — e caíram sobre ele, quando ele alcançara uma profundidade de cinco metros.
Gucky teleportou diretamente para diante do nariz do karta.
— Eu já estou desaparecendo — disse ele.
O chão sob os seus pés começou a ferver.
Gucky teleportou novamente. Ele rematerializou numa distância de quatro
quilômetros, entre rochedos vermelhos. Ele girou uma vez em tomo de si mesmo, para
convencer-se de que não tinha chegado outra vez diante da entrada da gruta de um karta.
A terra parecia extremamente árida e seca. Os rochedos estavam gastos pelo tempo e
cheios de areia.
Gucky captou os impulsos psíquicos do karta, que se encontrava em estado de
pânico. Ele tentou acalmá-lo. Isso foi um erro. As rochas se mexeram e caíram,
estrondosas, na sua direção. Uma poeira vermelha se ergueu, turbilhonante. Gucky saltou
dois quilômetros adiante.
Ele pousou no meio de um rochedo liso, que ficava bem no meio de um vale
perfeitamente circular. As paredes que limitavam essa depressão do terreno se erguiam a
cerca de quinze metros de altura. Elas pareciam envernizadas. Gucky reconheceu nelas
inúmeras padronagens. Algumas simplesmente tinham sido arranhadas na pedra, outras
eram formadas por lascas de pedra, semelhantes a mosaicos.
Seus olhos se abriram muito. Ele sentia-se atraído por aqueles desenhos, como
magicamente. Alguma coisa ordenou-lhe que abrisse o seu espírito, para mandar um grito
telepático em volta de todo o planeta. O ilt obedeceu, sem raciocinar.
Somente então ele reconheceu o que havia feito. O eco vinha de todos os lados. De
repente parecia que ele estava sendo observado por milhares de kartas. Parecia que eles
estavam em toda a sua volta. Sua atenção se voltava só e unicamente para ele. Os
estranhos no polo norte estavam esquecidos. Gucky viu-se no centro de uma onda de
ataque parapsíquico de escala inconcebível. O ar no vale começou a cintilar. Rochas
arrebentavam. Fortes oscilações da gravidade o arrastavam. Aos seus pés o chão se abriu.
Uma figura incrivelmente feia subiu de dentro da lava incandescente e tentou agarrá-lo.
Gucky salvou-se com um salto. Ele rematerializou sobre as rochas que circundavam
o vale. As imagens de horror tinham desaparecido, mas mesmo assim inúmeras garras
pareciam puxá-lo. Ele teleportou mais uma vez e desta feita rematerializou a mais de
vinte quilômetros ao norte. Aqui terminava a área pedregosa. Diante dele estendia-se um
deserto que alcançava até o horizonte. Entre dunas compridas, viam-se várias áreas,
evidentemente construídas artificialmente, conforme ele já tinha observado durante o voo
de aproximação deste planeta. Gucky não duvidava de que as esferas escuras, que
repousavam no centro dessas instalações, eram frutos cuidadosamente guardados, e que
continham novas vidas.
Ele escudou-se para se proteger contra novos ataques, e examinou o território com o
olhar. Decepcionado, ele verificou que assim não podia descobrir os kartas.
Ao norte ergueu-se uma gigantesca nuvem de poeira, que subiu aos céus. Apesar de
não haver vento, ela girou numa velocidade louca, transformando-se numa espiral.
Alguns quilômetros mais adiante, rochedos pairavam nos ares. Eles desapareceram no
norte. No horizonte, para o oeste, abriu-se um vulcão. Gucky pôde ver as massas de lava
incandescente, que eram atiradas muito alto, para dentro do céu pálido.
O período coronário passivo dos kartas terminara. Cada vez mais nativos caíam em
pânico e davam livre curso às suas forças parapsíquicas.
O deserto acordava para a vida. Tempestades de areia corriam pela planície.
Do alto, Gucky podia ver nitidamente que as instalações de incubação dos kartas
ficavam excluídas desses fenômenos. Elas pareciam estar cobertas por escudos
energéticos.
Não importava o que estivesse acontecendo, a nova vida estava protegida.
5

“A vida é como água no deserto. Não é possível dividi-la


com ninguém. Defenda-a como a água, pois se você a perdeu,
ninguém a trará de volta. Este é o mundo que o Campo-Prateado
preencheu com a sua vida. Preserve-a de todos os estranhos, que
tentam agarrá-la, pois ela é tudo que lhe pertence. “

Dos hipnorregistros de Opus-undra-mur. Descobertos na área


periférica de Karst, Terra Vermelha, 3.442, tempo terrano.

Gucky rematerializou em cima de uma nave lenticular.


Os outros membros da expedição estavam reunidos, discutindo. Atlan acenou para o
rato-castor. Gucky deixou-se cair de cima da espaçonave e caminhou bamboleando até
Atlan.
— Nós decidimos primeiramente voar com uma nave lenticular para o norte, para
nos informarmos melhor. Depois todos nós, com exceção de dois, vamos avançar para o
polo norte em nossos trajes de combate — disse o Lorde-Almirante.
O grupo se encontrava na proteção dos rochedos. Lá fora, no deserto, estavam
desencadeadas as tempestades causadas pelos kartas. A atenção parecia ter se desviado
completamente da 5a Coluna.
— Não devemos colocar as espaçonaves em perigo, se quisermos deixar Nurmo II,
novamente, sãos e salvos — acrescentou Atlan. Ele olhou em volta, e depois foi até onde
estava Matra Krovzac. — Eu gostaria que mais tarde o senhor ficasse aqui junto das
naves lenticulares. Por isso o senhor vai fazer o voo de reconhecimento, junto com
Gucky.
— Entendido — disse Krovzac. — Apesar de...
— Eu sei — defendeu-se Atlan. — O senhor gostaria de participar do avanço. Nas
circunstâncias dadas, entretanto, eu tenho que dar primazia aos mutantes. E não creia que
é mais simples para o senhor, vigiar as naves lenticulares.
Gucky relatou apressadamente a Alaska Saedelaere suas observações no vale com
os desenhos nas paredes.
— Ali o Coronel Nurmo deve ter feito suas fotos — concluiu ele no seu relatório.
Matra Krovzac já estava se dirigindo à sua espaçonave lenticular. O rato-castor
seguiu-o. Preocupado, ele olhou para o sul. Ali a areia do deserto subira tanto e tão alto,
que parecia que o céu estava coberto de nuvens escuras. Os kartas tinham jogado
enormes massas no ar. Gucky podia captar claramente os chamados telepáticos de um
karta do norte. Repetidamente este morador de cavernas apelava aos outros kartas, para
que não dispersassem as forças sem um sentido. Ele tentava levar a atenção dos outros
para os estranhos no polo norte. Evidentemente ele se esforçava por um ataque
coordenado.
Quando a nave lenticular se atirou para dentro do vale, para depois lentamente
erguer-se do solo, o sol aproximava-se do horizonte. No céu já se mostravam inúmeras
estrelas.
O “Enxame” se aproximava.
***
Matra Krovzac voava acima do deserto a uma altura de somente dois quilômetros,
para o norte. De vez em quando ele erguia o aparelho um pouco, para pairar por cima de
um turbilhão de areia. Um ataque direto, por ora não aconteceu.
Depois de um voo de apenas poucos minutos, os primeiros reflexos do rastreamento
apareceram nos monitores. Os cientista desacelerou a velocidade e ao mesmo tempo fez a
espaçonave descer mais. Também aqui no norte as forças dos kartas se faziam sentir, mas
também aqui elas provocavam só poucos danos. Nos desfiladeiros de uma longa serra de
montanhas que se erguia como uma parede de proteção diante dos territórios do norte do
planeta, ardiam fendas abertas. Em alguns lugares vulcões tinham irrompido. Aquela
torrente de lava vermelha corria para o norte, apesar da terra, nesta direção, novamente se
elevar ligeiramente.
Gucky apontou para uma tela de vídeo, na qual as espaçonaves dos estranhos agora
se destacavam nitidamente.
— Elas formam um círculo exato em torno do polo norte — comentou Krovzac.
Ele pousou num platô. A distância até as naves gigantes agora era de apenas doze
quilômetros ainda. Febrilmente o rato-castor e o cientista manipulavam os instrumentos.
As 32 espaçonaves rodeavam o polo norte como pontas de lanças plantadas. Os corpos
metálicos rebrilhavam ao sol. Nitidamente podia ver-se que perto de um dos gigantes
irrompera um vulcão. Massas de lava incandescentes eram atiradas em muitos
quilômetros para o ar, mas não alcançavam a ponta da espaçonave. O colosso estava
parado, calmamente, junto do vulcão. Ele parecia ser invulnerável.
Entre as espaçonaves não podia ver-se nada. Ninguém parecia ter abandonado os
gigantes espaciais. Com ajuda dos aparelhos especiais, entretanto, Gucky pôde ver que
inúmeras antenas sobressaíam dos tetos pontudos de algumas astronaves.
Numa das espaçonaves abriu-se uma gigantesca escotilha. Por trás podiam ver-se
relâmpagos esbranquiçados e brilhantes. Os telhados cônicos de algumas naves
começaram a ficar incandescentes. Nos seus cantos corriam luzes ardentes. Os dois
observadores, apesar do apoio da aparelhagem especial da nave lenticular, não
conseguiam decifrar o que estava acontecendo no polo norte.
De repente Gucky agarrou o braço de Krovzac.
O cientista olhou para o monitor que o ilt apontava. A oeste deles voavam blocos de
pedra, de tamanhos imensos, nos ares.
— Agora alguns deles estão trabalhando em conjunto — disse Gucky, rapidamente.
As pedras se movimentavam com velocidade cada vez maior, na direção das
astronaves no polo norte. Krovzac avaliou a sua massa em mil toneladas. Com isso os
kartas já podiam danificar seriamente uma das espaçonaves, ou talvez até atingi-la
decisivamente.
Os projéteis movimentados pelos habitantes das cavernas com seus dons
parapsíquicos vinham com uma velocidade de quase quinhentos por hora, na direção de
uma das naves gigantes. Krovzac esqueceu todas as outras tarefas. Fascinado, ele
observou a tela de vídeo, que mostrava aquele acontecimento terrível.
E então, por baixo de um dos telhados cônicos, relampejou, num clarão mais claro
que um sol. Um raio energético varreu de encontro às rochas, e repentinamente criou-se
uma bola de fogo que brilhava esbranquiçada. As massas liquefeitas espirraram para
todos os lados. Na planície formaram-se centenas de lagos de chamas, que entretanto se
apagaram rapidamente outra vez.
Krovzac notou que deixara desviar demais a sua atenção. Agora ele viu que um
corpo em forma de disco saiu voando do telhado cônico de uma outra astronave,
afastando-se rapidamente para o sudeste. Segundos mais tarde também ali houve um
relâmpago muito vivo, e um cogumelo atômico subiu aos céus.
— Parece que não querem mesmo ignorar os kartas totalmente — disse Gucky.
— Eles mataram um karta?
— Não, mas tentaram fazê-lo.
— Quem são os estranhos?
— Velhos conhecidos nossos — respondeu Gucky. — Instaladores do “Enxame”.
Matra Krovzac lembrou-se dos relatórios sobre naves-cogumelos, que tinham
pousado em inúmeros planetas da galáxia. Eles haviam tido a tarefa de modificar mais
uma vez a constante de gravitação preparada, e ajustá-la ao valor máximo definitivo.
Estas espaçonaves tinham uma grande semelhança com aquelas que haviam pousado no
polo norte. A única diferença consistia na sua parte superior, em algumas era em formato
de cogumelo, e em outras parecia um cone pontudo.
O cientista porém também teve que pensar no relatório do Tenente-Coronel Tracs
Potchyban, que fora testemunha das tragédias de Hitchera Pearl. Quando os colonos deste
planeta tinham atacado a nave-cogumelo, seguiu-se um ataque atômico, que praticamente
despovoara o planeta inteiro.
Krovzac perguntou-se se os instaladores do “Enxame” pousados em Nurmo II
ficariam inativos vendo as ações parapsíquicas dos kartas, ou se estas espaçonaves
também chorariam “lágrimas vermelhas”.
***
Rauhvertikal lutava.
Muita coisa também tinha caído sobre ele nos últimos períodos coronários. Ele
aprendera e nisso reconhecera, de que nem todos os relatos da tradição poderiam ser
levados ao pé da letra.
Ele tinha vencido a defesa contra seu próprio inconsciente, e assumira o domínio
completo sobre o seu corpo e seu espírito. Agora ele era o único karta em Nurmo II que
não se entregava a uma corrida amok psíquica.
Ele não batia cegamente à sua volta, mas começou a procurar planejadamente.
Sem esforço ele encontrou os estranhos que se escondiam no deserto.
Estranhamente os outros kartas não tinham reparado neles, porque os sentidos de todos os
habitantes de grutas se dirigiam para o número imenso de estranhos que se encontravam
no norte.
Rauhvertikal tinha demorado muito tempo para dar-se conta de que uma
concentração tão grande de seres viventes poderia reunir-se num lugar tão restrito. Em
Nurmo II não havia, nem aproximadamente, tantos kartas quanto os estranhos em uma só
das espaçonaves. De passagem, Rauhvertikal tinha a sensação de que cada grão de areia
deste mundo repentinamente estava cheio de vida. Ele não tentou nem imaginar como os
estranhos podiam existir neste planeta. Isso estava muito acima daquilo que ele conseguia
imaginar. Nunca antes um karta se ocupara com este tipo de pensamentos, pois a natureza
cuidava para que o número de habitantes do deserto e da Karstlandia sempre ficasse em
proporção correta com as disponibilidades de água.
Rauhvertikal não pôde deixar de fazer um elogio a si mesmo, quando se deu conta
de que ele sentira os habitantes da Karstlandia como afins com ele.
Estranho. Há apenas um dia atrás, ele não poderia imaginar que poderia se esforçar
para ter um contato realmente estreito com outros kartas. Naturalmente ele sempre
estivera consciente de que na sua vizinhança imediata viviam outros kartas. De vez em
quando os seus planos de consciência se tocavam. Mais raramente se trocavam ideias.
Jamais entretanto se chegara a uma troca intensiva de suas reflexões. De vez em quando
eles tinham enfeixado sua capacidade psíquica para lançar-se muito para o espaço, para
as estrelas, porém isso nunca levava a um verdadeiro contato. A necessidade de solidão
não devia ser ferida.
Agora, entretanto, Rauhvertikal tratava de impor-se aos outros. Ele tentava penetrar
as barreiras da solidão, para chegar a uma troca de pensamentos.
Os outros não reconheciam, de que somente um ataque conjunto, contra os
estranhos, poderia levar ao êxito?
Finalmente ele recebeu uma resposta. Ela veio dos kartas que viviam com ele no
deserto. Eles não o sentiam como um estranho, e até concordavam com ele. Tinha
chegado a hora, em que uma ação individual poderia levar à autodestruição.
***
— Os registros do Coronel Nurmo não foram muito completos — disse Atlan. —
Nós devíamos utilizar o tempo até o regresso de Gucky e de Krovzac.
— Alaska e eu já falamos sobre isso — declarou Irmina Kotschistowa. — Nós
gostaríamos de dar mais uma olhada nos registros. Nós vamos fazer um esforço para
fotografar tudo, para conseguirmos uma imagem sem lacunas.
— Isso poderia ser extremamente importante — concordou o arcônida. — Os
hipnorregistros evidentemente elucidam sobre os kartas e os motivos de seu
comportamento, e seus dons psicológicos, para estas atitudes. Talvez, com a ajuda de
fotos, vamos conseguir saber mais a seu respeito, e assim convencê-los de que não somos
seus inimigos.
Alaska Saedelaere, o homem da máscara, voltou da espaçonave lenticular com a
qual voara, trazendo uma câmera de filmagem.
Ele examinou as instalações técnicas do seu traje de combate, depois voou, junto
com a mutante, para o vale. Pouco depois os outros viram os dois desaparecerem por
cima do rochedo.
Alaska Saedelaere sabia em que direção tinha que procurar. Gucky o informara com
bastante exatidão. Irmina Kotschistowa mantinha-se constantemente alguns metros
adiante dele, mas voava mais junto dos rochedos. A Karstlandia aqui se elevava cerca de
quinhentos metros acima do nível do deserto que a limitava ao norte. Areia vermelha
cobria a maioria das pedras e enchia muitos desfiladeiros e vales. Somente uma vida
muito escassa podia ser descoberta nas fendas sombreadas. A mutante viu, por baixo de
dois rochedos salientes, dois lagartos muito magros, repousando. Os animais cinzentos
fugiram para dentro de uma fenda, quando ela se aproximou mais.
— Parece que os kartas realmente não são os únicos seres vivos neste planeta —
disse ela.
Alaska Saedelaere não respondeu. Ele descobrira o barranco, em cujas paredes se
encontravam as hipnogravações. Com um gesto rápido ele chamou a atenção da metabio-
agrupadora para os desenhos.
Juntos eles pousaram na borda do vale redondo.
— Primeiramente eu vou voar lá para baixo para fazer fotos — declarou Saedelaere.
— Não tire os olhos de mim — e tire-me de lá, caso eu venha a reagir sob os
hipnossímbolos.
Ela anuiu.
— Tenha cuidado — advertiu ela. — Não sabemos se vivem kartas neste vale.
— Eu saberei dar um jeito neles — retrucou Alaska. — E afinal, a senhora também
está aqui.
Ele ergueu-se do solo e voou para baixo, para dentro do vale. Irmina Kotschistowa
viu-o pousar, vinte metros abaixo, entre os rochedos. Do lugar onde ela se encontrava os
desenhos e mosaicos pareciam coloridos e emaranhados. Eles pareciam totalmente sem
sentido, e também não lembravam representações abstratas.
Alaska Saedelaere ergueu a câmera de filmagem e fez fotos. Ele procedia com
muito cuidado e não confiava apenas no automatismo do aparelho. Repetidamente ele
examinava, nos mostradores de controle, se a câmera tinha funcionado corretamente Com
isso ele se afastava cada vez mais da mutante.
Como tudo continuava calmo, a sua atenção diminuiu um pouco. Ela podia ver
apenas, numa grande distância, enormes nuvens de uma tempestade de areia. Bem longe,
no oeste, a ponta de uma montanha se desfazia em fogo. Um karta parecia dissolver as
rochas, sem com isso fazer mal a alguém. Ela sorriu. O Coronel Nurmo falara da alta
inteligência dos habitantes da caverna. Ele parecia ter-se enganado.
Ela lembrou-se de que pretendia ficar nas proximidades de Alaska Saedelaere.
Lentamente ela o seguiu. Para isso ela não fez uso da instalação antigravitacional do seu
traje de combate. Ela caminhou por entre os rochedos. O caminho não era muito difícil.
Saedelaere já tinha andado em redor da metade da arena. Agora ele filmava um
desenho, que consistia quase exclusivamente de pedras azuis e de cor turquesa. Atrás dele
o solo ruiu. Ele formou um funil.
— Atenção, Alaska, não caia no buraco, aberto atrás do senhor — disse a mutante.
Alaska Saedelaere virou-se.
De dentro de um poço no chão, um karta o observava.
O terrano hesitou um segundo demais. De repente ele sentiu como uma coisa
estranha e sinistra tentava agarrá-lo. Uma força irresistível envolveu o seu tórax,
comprimindo-o. Saedelaere tentou modificar a ajustagem do seu aparelho
antigravitacional. Ele quis fugir, mas os seus braços não o obedeciam. As mãos se
agarraram nas bordas do seu capacete espacial. Ele não conseguiu retirá-las dali.
Diante dos seus olhos dançavam luzes coloridas. Ele respirava com muita
dificuldade. Ele tentou chamar a mutante, mas não foi capaz de pronunciar uma única
palavra.
O karta queria esmagá-lo.
Alaska Saedelaere abriu seu capacete espacial com força. Seus dedos tatearam para
a máscara que cobria o seu rosto, e ele conseguiu empurrá-la um pouco para o lado. Ela
escorregou e liberou a metade esquerda do seu rosto. Ele brilhava, radiante, em cores
desconcertantes. Nenhum terrano teria suportado esta visão, sem perder o seu juízo.
Esta era a arma de Saedelaere.
E ela não falhou o seu efeito sobre o karta. A pressão diminuiu. O terrano sentiu-se
livre novamente. Rápido como o raio ele levou a mão para a ajustagem do seu aparelho
antigravitacional, porém então foi agarrado por uma força inconcebível que o atirou para
longe. Saedelaere perdeu a consciência. Antes que tudo ficasse escuro diante dos seus
olhos, ele ainda ouviu o grito de horror da mutante. Suas mãos estavam em cima de sua
máscara.
***
— Alguma coisa está cozinhando — disse Gucky, que observava, inquieto, a terra
abaixo dele. — Existe um karta que está tentando, repetidas vezes, inquietar os outros e
reuni-los. Ele quer coordenar os kartas.
Matra Krovzac de repente desacelerou fortemente. Ao mesmo tempo levou a nave
lenticular para o leste. O rato-castor olhou para os instrumentos de rastreamento e
também notou os dois objetos que voavam em alta velocidade por cima do deserto. Ele
ajustou o monitor, de modo que os corpos captados foram bastante ampliados. Ao mesmo
tempo ele tentou captar, com seus sentidos parapsíquicos, sobre o que eles tinham
topado. Ele emitiu um assobio dissonante.
— É Alaska — disse ele. — Ele está inconsciente. A Irmininha procura salvá-lo,
mas o traje de combate dela não acelera o suficiente. Até já.
Gucky desmaterializou. Matra Krovzac o viu aparecer repentinamente nos
monitores de vídeo. Ele rematerializou bem perto, atrás de Alaska Saedelaere.
Habilmente Gucky levou a mão em volta dele e corrigiu a posição de sua máscara.
Depois ele fechou o capacete espacial.
Irmina Kotschistowa tinha reconhecido que o rato-castor tivera mais êxito que ela, e
freou o seu voo.
— Por favor, volte para o acampamento — disse Krovzac. — Nós recolheremos
Alaska Saedelaere.
— Isso não é necessário — declarou Gucky. — Ele já está novamente voltando a si.
Ele vai conseguir voar sozinho.
O cientista ouviu o homem da máscara gemer. Alaska Saedelaere estaria ferido?
Gucky o puxava junto de si. Eles abandonaram a região desértica e voaram por cima
da Karstlandia vermelha, onde Atlan e os outros membros da expedição esperavam por
eles. Krovzac verificou que Gucky não precisava de mais ajuda. Ele levou a nave
lenticular para o sul e pousou, pouco depois, junto das outras naves lenticulares. Pouco
tempo depois apareceram Alaska Saedelaere, Irmina Kotschistowa e Gucky.
— Sinto muito — disse Alaska Saedelaere, depois de haver relatado o que
acontecera. — Nós vamos ter que repetir as filmagens. O karta me catapultou muito
longe para o norte. Em algum lugar no caminho para lá eu perdi a câmera de filmagem.
— Eu não notei nada — acrescentou Irmina. — Caso contrário poderia tê-la
recuperado. Agora ela está caída, em algum lugar entre os rochedos.
— Nós não temos tempo para repetir as filmagens — retrucou Atlan. — Nós
partimos imediatamente, depois que dei uma olhada nas observações de Gucky e
Krovzac. Nós temos que dar um jeito, mesmo sem os kartas.
Gucky sentou-se sobre uma rocha.
— Para mim isso não é muito difícil — disse ele. — Mas para vocês isso é bem
diferente. Vocês são fracos demais. O incidente com Alaska comprovou isso. Os kartas
se reúnem cada vez mais. E eles logo golpearão objetivamente — e então talvez nos
ataquem também. E o que acontecerá então?
— Então nós ainda vamos ter você — disse Atlan. — E isso certamente deverá ser
suficiente.

***
— A ordem na qual as espaçonaves pousaram, deve ter algum significado — disse
Matra Krovzac. Ele projetou mais uma vez os dispositivos que tinha filmado, para que
Atlan pudesse vê-los, novamente. — Veja, elas formam um círculo matematicamente
exato.
O Lorde-Almirante empalideceu.
De repente ele tivera uma ideia que não ousava pronunciar. Por que a frota tinha
pousado no polo? Por que essa formação? Os instaladores do “Enxame” planejavam
explodir Nurmo II? Eles queriam esfacelar todo o sistema, antes que ele se chocasse com
o “Enxame”?
— Não — interveio Fellmer Lloyd.
Ele tinha captado os pensamentos de Atlan.
Com o dedo Atlan bateu na tela do monitor de vídeo, no qual agora podia
reconhecer-se uma única espaçonave, com as cifras de medição correspondentes. O
gigante alcançava uma altura de 6.500 metros. A base, com a qual a espaçonave pousara,
tinha um diâmetro de 2.000 metros. A formação das 32 astronaves formava uma
montanha de potência esmagadora.
— Nós precisamos solucionar a questão — declarou Atlan. — Por isso vamos tentar
alcançar a central de comando de uma das naves, para ali esclarecer as perguntas em
aberto.
Ele olhou em torno. Nenhum dos outros desviou o olhar. Matra Krovzac mastigou
os lábios. Ele deu um passo à frente, de modo que agora estava de pé diretamente diante
de Atlan, sentado na escotilha aberta da nave lenticular. Fellmer Lloyd estava acocorado
atrás dele, na cabine. Ele desligou os aparelhos de avaliação.
— Sir — começou o físico-sextadim, hesitante. — Lembre-se, por favor, que eu sou
especialista para tarefas deste tipo. É de minha especialidade poder avaliar imediatamente
as observações que vamos poder fazer na central dessa nave. Eu poderia...
Atlan colocou-lhe a mão no ombro.
— Eu sei — retrucou ele. — Para mim, entretanto, é mais importante sabê-lo aqui,
para que, em caso de emergência, possa rapidamente vir em nosso socorro.
— Sir, eu gostaria de...
Atlan sacudiu a cabeça.
— Eu preciso do senhor aqui. Fique de prontidão, e conte com que nós poderemos
passar os resultados de nossa ação, pelo caminho técnico de rádio, caso não houver outra
possibilidade. Mantenha-se quieto, para que os kartas não sejam provocados. E — preste
atenção em Tahonka No. Ele está se comportando de modo estranho...
Matra Krovzac virou-se. Ninguém se incomodara com o ossudo. O cientista agora
dirigiu-se até ele. Tahonka No estava sentado em cima de uma rocha e não se mexia.
O físico curvou-se para ele. Ele podia ver o rosto do ossudo, através da viseira do
seu traje de combate.
Ele estava recoberto de manchas verdes e azuis.
Elas pareciam “sprays” de tinta.
6

“...é tudo movimento e nada está parado. A vida terá que


procurar por desenvolvimento ou terá que se apagar. Deste modo
o Campo-Prateado submeteu o seu povo a uma provação e
esperou. O povo tinha que fazer alguma coisa, para solucionar as
grandes questões de sua existência. Mas o que ele devia
empreender? Todos os caminhos lhe estavam abertos, mas ele não
devia deixar-se paralisar. E assim permanecerá, enquanto o
Campo-Prateado existir.”

Dos hipnorregistros de Opus-undra-mur. Descobertos na área


periférica de Karst, Terra Vermelha, 3.442, tempo terrano.

Perry Rhodan desligou o projetor, depois de ter lido mais uma vez esta mensagem
do desconhecido Opus-undra-mur. Ele perguntou-se pela enésima vez que significado
estes hipnorregistros teriam para o planeta Nurmo II ou para todo o sistema.
— Nurmo II nem sempre deve ter sido um planeta deserto — observou Joak
Manuel Cascal, o chefe do departamento de radiocomunicações. — Quero dizer,
certamente deve ter havido algumas catástrofes agravantes da natureza, que modificaram
radicalmente as condições de vida no planeta, dentro de pouco tempo. As
hipnomensagens fazem concluir isto.
— Eu entendo estes hipnorregistros como advertência contra isolamento
autodesejado — retrucou Rhodan. — Ao que me parece os kartas se comportaram
exatamente de modo contrário. Eles se recolheram e permanecem num só lugar, em vez
de procurarem por uma saída de sua situação.
Ele levantou-se da poltrona em que estivera sentado.
Ele olhou para o mostrador de data, por cima do console de controles. Este
mostrava o dia 29-03-3.442, tempo terrano. Hora de bordo: 23:38 horas.
— Quando é que o “Enxame” vai chegar? — perguntou ele.
Joak Cascal foi até o computador e leu:
— Dentro de 28 horas. A distância agora ainda é de 15 bilhões de quilômetros.
Perry Rhodan refletiu. A Good Hope II agora ainda estava uma hora e meia-luz
distante de Opus-Nurmo. Esta distância de segurança era suficiente. Ela não fora
rastreada. Daqui, entretanto, não era mais possível seguir os acontecimentos em Nurmo
II.
Eles tinham que esperar. Em situação de emergência extrema, o cruzador leve podia
voltar ao sistema solar em perigo, dentro de poucos minutos.
***
Atlan deu as últimas instruções. Ele veio até Matra Krovzac e disse:
— Procure ajudar Tahonka No, de alguma maneira.
— Eu não sou médico — retrucou Krovzac. — Mas vou fazer o que posso — o que
não é muito.
Atlan estendeu-lhe a mão e despediu-se. Pouco mais tarde Atlan, Irmina
Kotschistowa, Alaska Saedelaere, Fellmer Lloyd, Toronar Kasom e Gucky ergueram-se
nos ares. E saíram pairando por cima dos rochedos.
Matra Krovzac não sabia o que devia sentir. De um lado sentia-se com vontade de
participar da expedição para o norte. Ela previsivelmente traria o esclarecimento das
questões ainda abertas. Por outro lado ele sabia que as quatro naves lenticulares
precisavam ser protegidas, de algum modo, dos ataques dos kartas. Nem ele nem
Tahonka No dispunham de possibilidades de defesa como os mutantes, ou de forças tão
extraordinárias como o ertrusiano Toronar Kasom. Eles podiam contar apenas com suas
inteligências.
O físico ajoelhou-se perto do ossudo e olhou através da viseira de proteção para o
rosto de Tahonka No.
— Como está se sentindo? — perguntou ele.
Tahonka No apenas sacudiu a cabeça. Ele tentou levantar o braço esquerdo, mas
não conseguiu. Pelo rádio de capacete veio até ele um rangido, que lhe fez correr um frio
pela espinha. Parecia que peças enferrujadas estavam se mexendo, raspando umas nas
outras. O ossudo gemia.
Krovzac verificou que o recipiente de água do traje de combate estava vazio. Ele foi
até a espaçonave lenticular que ele guiara, e voltou com água e o analisador de ar. Ele
reencheu o recipiente de líquido de Tahonka No. O doente rapidamente bebeu tanto que o
esvaziou, de modo que o físico teve que reenchê-lo rapidamente outra vez. Depois
Krovzac examinou o ar novamente. Também agora ele verificou que não havia bactérias
ou vírus perigosos para terranos no ar. O aparelho, entretanto, isolou alguns esporos de
plantas.
Ele carregou o ossudo até sua astronave lenticular e o colocou sobre o peito
anatômico. Para poder melhor tratar dele, ele quis abrir o capacete, porém Tahonka No
segurou suas mãos. A cada movimento dos seus membros ouvia-se um rangido.
Evidentemente ele temia a atmosfera deste planeta.
— Eu só preciso de descanso — disse o enfermo. — E um pouco de água.
— Ok — retrucou Krovzac. — Eu vou cuidar do senhor. Espero que os kartas não
nos incomodem.
Ele afastou-se alguns passos e foi até a lentilha na qual Atlan e Gucky tinham
voado. Na escotilha aberta da eclusa ele depositou o analisador e começou com o exame
dos esporos. Já depois de uma meia hora de testes ininterruptos, ele descobriu que eles
reagiam violentamente ao cálcio. Eles formavam cristais estrelados de cor azul.
Matra Krovzac acreditou ter encontrado a causa da infecção de Tahonka No.
Entretanto ainda não via uma saída. Como não era médico, nem estava informado sobre a
constituição biológica do corpo de Tahonka No, ele não sabia como prosseguir. Agora
Irmina Kotschistowa, como bioquímica, provavelmente teria melhores possibilidades.
Krovzac voltou para o ossudo. Ele curvou-se para ele, de modo que podia olhá-lo
no rosto. Ele assustou-se. As manchas tinham se espalhado. Pequenas estrias tinham
formado ligações, de modo que agora uma rede verde-azulada parecia cobrir a cabeça de
Tahonka No.
— Eu vou mandar uma mensagem cifrada para a Good Hope II — declarou ele. —
Talvez o Dr. Jensen saiba o que fazer. Ele é o melhor médico que eu conheço.
— Todos os outros médicos também devem estar muito longe — disse o ossudo,
com esforço. — Mas ele também não pode me ajudar. Uma mensagem cifrada não pode
ser enviada. Ela poderia pôr os outros em perigo.
Krovzac mordeu o lábio. Ele sabia que Tahonka No tinha razão. Eles tinham que
manter-se quietos. Somente depois que os acontecimentos junto às espaçonaves do polo
norte ficassem tão turbulentos que mesmo uma mensagem cifrada não podia mais revelar
nada, eles podiam sair de sua reserva.
— Tahonka No — disse Krovzac. — O senhor é uma espécie de cirurgião de vasos,
não?
— Eu sou regulador de alta-pressão.
— Isto, para suas noções, é aproximadamente a mesma coisa. Diz-lhe alguma coisa,
que eu encontrei esporos, que reagem muito violentamente ao cálcio?
— Não — retrucou o ossudo. — O meu corpo contém muito cálcio.
A sua voz ficava cada vez mais baixa, até que quase já não se conseguia entendê-la.
Depois Tahonka No emudeceu totalmente. A boca córnea estava firmemente fechada.
Primeiramente Krovzac temeu que o ossudo já não vivia, mas depois ouviu sons que
pareciam assobios e rangidos.
***
A 5a Coluna alcançou a região periférica da Karstlandia. Os rochedos decaíam
abruptamente. Nas dunas adjacentes, aqui e ali ainda sobressaíam pedras vermelhas, mas
estas interrupções da superfície arenosa ficavam cada vez mais raras, na proporção em
que a vista alcançava para o norte.
Atlan, que estava de pé entre dois blocos de pedra, viu as superfícies das
incubadoras, perfeitamente circulares, que ficavam entre ele e os territórios do norte,
como um cinturão fronteiriço.
— Nós temos que passar em volta destas instalações — disse ele.
Alaska Saedelaere, que estava de pé, do seu lado, anuiu, concordando.
— Eu não gostaria de me encontrar, mais uma vez, como um karta.
Gucky declarou:
— Eu vou dar uma rápida olhada a oeste, para ver se podemos passar melhor por
ali.
Ele desmaterializou. Os outros esperaram, até que ele voltou, aproximadamente dois
minutos depois.
— Lá embaixo há um desfiladeiro, que leva para o norte. Parece ser o leito seco de
um rio.
— Vamos tentá-lo por lá — determinou Atlan.
Ele regulou o aparelho antigravitacional do seu traje de combate, e partiu para o
oeste. Os outros o seguiram. Eles se mantiveram na cobertura dos rochedos, para não
chamar, inutilmente, a atenção dos kartas sobre o grupo. Quando alcançaram diversos
rochedos, amontoados como pirâmides, Gucky ultrapassou o arcônida e apontou para o
oeste. O grupo mudou de direção. Na realidade o deserto aqui decaía um pouco.
Protegidos visualmente pelas dunas, eles continuaram penetrando para o norte. Atlan
acelerou a velocidade, uma vez que a natureza se mantinha bem calma. De vez em
quando eles viam, muito distantes, massas de areia subindo em turbilhão aos ares. Quanto
mais, porém, eles se aproximavam do seu destino propriamente dito, mais se reforçava a
agitação.
O céu nortenho estava coberto de nuvens fumarentas. Isso na realidade era uma
surpresa, pois até agora eles nunca tinham visto uma nuvem por cima de Nurmo II. O ar
era tão seco que nunca chegava à formação de nuvens.
— Ou os kartas conseguiram fazer explodir uma ou mais espaçonaves, — disse
Atlan, — ou eles fizeram com que houvesse erupção de vulcões.
Os outros desistiram de uma resposta, pois não parecia haver outra possibilidade.
Quando eles se aproximaram do polo norte em até cinquenta quilômetros, as nuvens
de fumaça se tomaram ainda mais espessas. Mesmo assim eles já conseguiam ver as
pontas das espaçonaves estranhas.
— Vulcões — verificou Gucky. — Os kartas rasgaram o solo de Nurmo II.
— Eu duvido que eles realmente consigam alguma coisa, com isso — disse Atlan.
O grupo agora voava em alta velocidade por cima de uma faixa rochosa de terreno.
Por toda a parte pontas de rochas saíam abruptamente do chão. Por isso o terreno ficou
com menos visibilidade.
— Atenção! — gritou Gucky, repentinamente.
Ele sentiu a irradiação psíquica dos kartas como um golpe físico. Parecia que lhe
haviam acertado um soco no estômago. Também Fellmer Lloyd reagiu, com um grito,
aos impulsos. Ele foi surpreendido, do mesmo modo que o ilt.
Numa distância de cerca de quatro quilômetros formou-se uma brecha, que
rapidamente se alargou, até alcançar de horizonte a horizonte. Massas de lava
incandescente, muito vermelhas, espirraram dali, para o alto. Com um barulho
indescritível aquele fogo líquido foi atirado muitos milhares de metros nos ares. Irmina
Kotschistowa e os cinco homens ligaram os escudos defletores e continuaram o voo,
apenas diminuindo um pouco a velocidade.
Atlan procurou, inutilmente, por um caminho, que os desviasse daquele inferno. O
vulcão formava um paredão de fogo impenetrável, diante deles.
— Nós temos que sair daqui — gritou Gucky. — Eu vou saltar.
Ele agarrou Atlan pelo braço e apontou para o sul. O arcônida levou um susto. De
repente ele entendeu o plano dos kartas. No deserto estava se formando uma tempestade.
Numa velocidade inconcebível, as massas de ar revolvidas se aproximavam. Elas
arrastavam areia e poeira consigo. Sob a pressão, aquelas pedras incandescentes seriam
arremessadas para o norte, para cima das espaçonaves dos instaladores do “Enxame”. Se
Gucky não os libertasse da área que ficava entre a tempestade e o vulcão, eles seriam
arremessados para dentro da lava.
O ilt desmaterializou junto com Atlan. Segundos mais tarde ele voltou, agarrou
Irmina Kotschistowa e desapareceu com ela. Eles rematerializaram perto de Atlan.
— Vamos continuar nosso voo — disse o Lorde-Almirante para ela. — Gucky vai
cuidar dos outros.
A bioquímica ergueu o braço, concordando. Quando, pouco depois, ela se virou
mais uma vez, viu que Alaska Saedelaere e Toronar Kasom já os seguiam. Gucky e
Fellmer Lloyd estavam justamente surgindo deste lado da brecha do vulcão.
Atlan aumentou a velocidade. Fumaça, areia e sujeira davam-lhes uma excelente
cobertura. Temporariamente a visibilidade ficava tão ruim que não se podia mais ver as
espaçonaves.
Um barulho ensurdecedor interrompeu o seu avanço. O ruído era tão grande, que
ameaçava perfurar os seus tímpanos, apesar de estarem com os microfones externos
regulados para volume mínimo. Ao mesmo tempo foram agarrados pela tempestade, que
os jogou contra uma duna de areia, que surpreendentemente se levantou diante deles. Eles
se chocaram violentamente, mas foram suficientemente protegidos pelas instalações dos
seus trajes de combate. Irmina Kotschistowa apenas sofreu algumas contusões.
Quando Atlan se virou para o sul, viu as dunas. Elas tinham se erguido em muitos
milhares de metros e vinham rolando com uma velocidade amedrontadora na sua direção.
Os kartas pareciam ter esvaziado todas as áreas nortenhas do deserto, para esmagar as
espaçonaves sob as massas de areia.
Em vista dessa ameaça podia ser apenas uma questão de tempo, até que os
instaladores do “Enxame” reagissem. Eles precisavam fazer alguma coisa se quisessem
impedir que suas naves fossem soterradas.
O arcônida pegou a mão de Irmina Kotschistowa, Toronar Kasom, que se segurava
em Fellmer Lloyd, pegou a outra mão da bioquímica. Alaska Saedelaere e Gucky se
uniram à corrente.
Garantidos deste modo, eles lutaram, avançando mais para o norte. E sempre
olhavam para trás. As montanhas de dunas vinham rolando, sem diminuir a velocidade,
aproximando-se cada vez mais.
As espaçonaves ficavam ainda a apenas trinta quilômetros de distância. A fumaça se
rasgou. Eles puderam ver as pontas metálicas brilhantes dos gigantes. Por baixo de um
dos cones tinham sido abertas diversas escotilhas. Atlan achou que estava vendo os
projetores de irradiação de canhões energéticos. Antes que ele pudesse reconhecer
pormenores, a fumaça, poeira e cinza ocultaram tudo novamente de sua vista.
Eles tiveram que reajustar seus aparelhos de voo constantemente. A tempestade
aumentou mais e mais, até que a pressão ficou tão forte, que eles tinham que compensar o
voo pilotando-o ao contrário, para não se tomarem uma bola de brinquedo das forças
desencadeadas da natureza.
Os kartas tinham encontrado a si mesmos. Eles tinham descoberto o poder da união,
reunindo-se cada vez mais num só bloco. Atlan perseguiu essa tendência com crescente
preocupação. Ele temia que os instaladores do “Enxame” iniciassem um contra-ataque.
De acordo com a experiência recolhida até agora, eles então golpeariam com suas armas
mais fortes — e isso poderia ser mortal para o planeta e seus habitantes.
O Lorde-Almirante quis se voltar para Gucky e Fellmer Lloyd, para pedir-lhes que
tentassem entrar em contato com os kartas, quando uma série de relâmpagos caiu do alto
sobre a terra. Ele hesitou. Eles estavam presos entre os fronts. Atrás deles as dunas
vinham rolando. Diante deles a atmosfera queimava sob uma série infindável de raios.
Por cima deles voava a lava, jogada para o alto, do solo aberto. Parecia que o planeta ia
partir-se em dois.
Atlan procurou por uma saída daquele inferno.
Foi quando Gucky gritou:
— Precisamos nos entender com os kartas. Eles estão acabando consigo mesmos.
Os habitantes do deserto pareciam ter ouvido as palavras do ilt. De repente a
natureza se acalmou. As dunas de areia somente continuavam rolando adiante, muito
lentamente. O ar clareou. A trovoada passara. As nuvens de fumaça se espalharam, e a
tempestade, de um minuto para o outro, se acalmou.
Atlan olhou, interrogativamente, para Gucky.
— Eu queria entrar em contato com os kartas, mas isso agora não é mais necessário
— disse o rato-castor. — Eles caíram mais uma vez numa pausa para descansar.
— Todos? — perguntou Atlan.
— Não, só a maioria dos kartas que vivem no deserto atrás de nós. Os outros estão
distantes demais. Alguns deles não participam das ações, porque sua necessidade de
solidão é marcada demais. Outros preferem se expressar loucamente em ações isoladas.
Entretanto a maioria dos kartas tem seus períodos coronários ativos e passivos ao mesmo
tempo. O ataque seguinte virá com certeza.
Os dois telepatas Fellmer Lloyd e Gucky sentiam nitidamente a mudança da
atividade física e espiritual dos kartas. Para eles era difícil descrever as impressões que
recebiam. Eles pensavam no mar, no qual uma onda segue outra onda. O ataque dos
kartas era semelhante à rebentação.
Atlan estimulou seus acompanhantes para pressa. Ele queria aproveitar a pausa até o
próximo desdobramento do poder dos kartas, para chegar o mais perto possível das naves
dos instaladores do “Enxame”.
***
Matra Krovzac observara as ações dos kartas, preocupado. Por enquanto somente se
podia ver alguma coisa de suas atividades muito ao longe. Depois entretanto as
consequências de seus ataques parapsíquicos tinham se aproximado cada vez mais.
Quando o físico já estava pensando em voar as naves lenticulares mais para o norte, para
colocá-las em segurança ali, o período passivo tivera início. A terra acalmou-se
novamente.
Quando Krovzac atravessou da lentilha de Atlan para a de Tahonka No, viu que fios
de plantas marrons tinham saído do solo. Ele ficou surpreso, pois até então não pudera
observar nenhuma modificação semelhante. Ele abaixou-se. Agora podia ver claramente,
como a planta crescia. Ela se empurrava cada vez mais para fora da areia. Sua cor era de
um marrom-avermelhado, que lembrava Krovzac das roupas dos kartas.
Ele escutou Tahonka No chamar e correu para a espaçonave lenticular. A escotilha
estava aberta. O ossudo estendeu-lhe os braços.
— Água — pediu ele.
O cientista reencheu o recipiente do traje de combate. Tahonka No reagiu de modo
surpreendente à entrada de água. Ele levantou-se e arrastou-se para a escotilha. O seu
rosto agora tinha a cor turquesa. Não se via mais nada das camadas córneas.
— Eu acho que logo vou melhorar disso — disse ele.
A sua voz agora já soava mais forte.
Matra Krovzac olhou-o, preocupado.
— Nós cometemos um erro decisivo. A análise da atmosfera naturalmente só tinha
validade para nós e não para o senhor. Pois não sabemos como o senhor reage às
bactérias existentes.
Tahonka No abriu a boca e começou a gargalhar muito alto. Krovzac ajustou o seu
alto-falante de capacete para volume mínimo. A risada do ossudo, entretanto, ainda assim
ecoava dentro dele.
— Por que está rindo? — perguntou ele.
Tahonka No trepou para fora da escotilha. Suas pernas se dobraram um pouco.
Nitidamente Krovzac podia ouvir os membros rangerem.
— O senhor está preocupado inutilmente — respondeu o ossudo. — Eu nunca abri
o capacete espacial, portanto nem posso ter me infeccionado em Nurmo II.
Krovzac olhou-o, perplexo. Até agora, ele nunca sequer pensara nisso. Até agora ele
sempre partira do pressuposto de que os esporos contidos na prova de ar tinham sido
responsáveis pela doença do ossudo.
— Abra o capacete — disse ele.
Tahonka No estendeu os braços.
— De modo algum — retrucou ele. — Eu não quero infectá-lo. Já basta que eu
tenha esta doença.
— Eu queria tirar uma prova do tecido — declarou o físico-sextadim. — E isso eu
só posso fazer se o senhor abrir o capacete.
Tahonka No voltou para a espaçonave lenticular, da qual se afastara alguns passos,
e olhou para dentro. Quando se virou, ele sacudiu a cabeça.
— Nós ainda temos vinte e quatro horas de tempo, até o choque — disse ele. —
Este mundo ainda está 500 milhões de quilômetros afastado do “Enxame”. A decisão,
provavelmente, cairá antes, caso todo o sistema não seja simplesmente atropelado. Eu
ainda aguento até podermos regressar à Good Hope II. As possibilidades de me tratarem
eficazmente, ali são muito melhores que aqui.
Matra Krovzac não respondeu. Ele tinha que dar razão ao ossudo. Mesmo se
pudesse fazer uma análise da impigem que agora presumivelmente recobria todo o corpo
de Tahonka No, não se ganharia muita coisa com isso.
— Eu me sinto bastante bem — continuou o regulador de alta-pressão. —
Acredite--me, eu posso vigiar as espaçonaves lenticulares tão bem quanto o senhor.
— O que quer dizer com isso?
— O senhor devia tentar reencontrar a câmera que Alaska Saedelaere perdeu. Se
não conseguir fazer isso, devia fazer outras filmagens dos hipnodesenhos.
Krovzac sacudiu a cabeça.
— Eu não vou deixá-lo sozinho.
— Lembre-se que os desenhos podem nos dar a chave para um entendimento com
os kartas — disse Tahonka No. — Lembre-se de que Atlan e os outros talvez possam vir
a depender da ajuda dos kartas. O senhor devia tentá-lo.
Krovzac hesitou. Ele olhou para o alto do rochedo. Ele sabia que dali não era mais
muito longe até o vale das hipnogravações. Dali Saedelaere fora catapultado até o
deserto. A região que ele teria que revistar não era muito grande.
— Se utilizar os instrumentos especiais do seu traje de combate, talvez conseguisse
encontrar a câmera muito depressa. O senhor devia aproveitar essa chance.
Ele olhou para Tahonka No, examinando-o. Avaliar o seu estado era impossível,
enquanto ele estava metido dentro do traje de combate. Agora parecia que o ossudo tinha
se recuperado bastante. Mas também podia ser que ele estava próximo de uma grave
crise.
— Se me acontecer alguma coisa, o senhor também não vai poder me ajudar —
disse Tahonka No, duramente. — Pense nos outros. Eles agora são mais importantes do
que eu.
Matra Krovzac pensou passageiramente em pedir ao ossudo para que fosse procurar
a câmera. Mas afastou logo a ideia. Se alguém podia assumir esta tarefa, era somente ele
mesmo.
— Ok — concordou ele, depois de ter refletido mais uma vez na sugestão do
ossudo. — Mas pelo menos me faça figa.
— O que quer que isso signifique na sua língua, — respondeu Tahonka No — eu o
farei.
Sua boca abriu-se. Ele deu uma gargalhada homérica. Krovzac sentiu um frio na
espinha, quando viu que a impigem verde-azulada também cobria a goela de Tahonka
No.
Ele foi até sua espaçonave lenticular e retirou de lá alguns objetos do equipamento.
O ossudo ficou observando-o. Ele parecia estar muito calmo. Quando o terrano subiu , no
seu traje de combate, e saiu voando por cima do rochedo, ele ergueu um braço, como se
quisesse retê-lo.
Krovzac desapareceu por entre as rochas.
Tahonka No caminhou com passos arrastados. Suas mãos se ergueram para o
capacete espacial. Ele ficou parado. De repente ele balançou para um lado e para o outro.
Suas pernas vergaram, e ele foi para o chão. Com as mãos ele tamborilou contra a viseira
do seu capacete e abriu-a. Ele abriu a boca para um grito sem som, depois caiu de lado.
Com os braços e as pernas esticados, ele ficou deitado de costas.
Do deserto o vento trazia areia. Poeira e fios de plantas cobriram o rosto de
Tahonka No.
Ele não se mexeu.
***
Atlan olhou o seu cronômetro. O tempo parecia correr. Somente vinte horas ainda
os separavam do choque com o “Enxame”.
As 32 espaçonaves dos instaladores do “Enxame” erguiam-se para o alto, como
montanhas. O gigante, que lhes ficava mais próximo, estava a uma distância de cerca de
oito quilômetros deles. Desta distância eles já não conseguiram mais ver a ponta cônica
do mesmo.
— Gucky, — disse Atlan, — procure entrar na nave, para encontrar um recinto que
nós possamos tomar como ponto de partida. Em seguida você vem nos buscar, um depois
do outro.
O rato-castor, que como os outros estava acocorado na cobertura de algumas rochas,
ergueu-se.
— Este recinto deverá ter instalações especiais? — perguntou ele. — Uma sauna e
piscina são desejáveis?
— Ideal naturalmente seria um guia de turismo, que nos informasse exatamente
sobre as intenções dos instaladores do “Enxame” — respondeu Alaska Saedelaere,
sorrindo. — Mas isso, naturalmente, é pedir um pouco demais de você.
— Bom também seria alguém que meta uma agulha no seu traseiro, para que você
se apresse um pouco — acrescentou Fellmer Lloyd.
— Arre! — fez Gucky. E desmaterializou.
Atlan olhou para o sul. Ele contava com que os kartas despertassem novamente de
sua passividade, dentro de poucos minutos. As dunas elevadas ainda permaneciam
aquietadas. Por cima delas subia a fumaça dos vulcões cuspindo fogo. Aqui e ali já se
mostravam redemoinhos de ar, que colocavam a areia e a fumaça em movimento.
Gucky voltou.
— Lá dentro acontecem um bocado de coisas — relatou ele. — Os instaladores do
“Enxame” correm pela nave, como um bando de galinhas assustadas, mas naturalmente
eu encontrei um lugarzinho cômodo para todos nós. Quem vai primeiro?
Ele estendeu a mão para Irmina Kotschistowa. Ela pegou-a. Juntos eles sumiram. O
ilt regressou imediatamente e levou Alaska Saedelaere consigo. Quando ele voltou para
buscar Fellmer Lloyd, Atlan disse:
— Espere um momento.
Gucky olhou-o, surpreso. Atlan olhou para as pontas das espaçonaves. O rato-castor
virou-se e seguiu o exemplo do arcônida. Os telhados cônicos dos gigantes começaram a
ficar incandescentes. Os cantos rebrilhavam, como se um fogo saísse deles.
Por trás deles começou um trovejar. As dunas se puseram novamente em marcha.
Elas agora rolavam, ainda mais depressa que antes, na direção das espaçonaves no polo.
O céu escureceu. As massas de lava foram atiradas por cima das dunas.
O inferno voltou.
Atlan achou que o chão cedia sob os seus pés. Onde antes ainda fora um deserto de
pedra, agora estendia-se um oceano. Por segundos, a superfície da água ficou imóvel,
depois começou a espumar. Surgiram montanhas de água, que não eram menos
formidáveis que as dunas. Atrás delas desapareceram as espaçonaves.
— É tudo uma fraude — gritou Gucky. — Não se deixem enganar. Aqui não há
uma só gota de água.
A cena arrebentou como uma tela de cinema. De repente eles puderam ver as
espaçonaves outra vez. As pontas cônicas tinham sido abertas. Antenas de todos os tipos
saíram de dentro. De uma das naves um cristal pairou para fora. Ele tinha um diâmetro de
cerca de duzentos metros, e era milhões de vezes lapidado. Ele cintilava e brilhava em
todas as cores e claridades imagináveis. Os arredores das espaçonaves de repente estavam
mergulhados numa luz brilhante.
Numa altura de cerca de trezentos metros acima da ponta da espaçonave, o cristal
permanecia pairando no ar.
Atlan e seus acompanhantes ergueram os olhos para ele. Uma radiação
hipnossugestiva de força imensa os envolveu.
O ataque parapsíquico dos kartas estacou por alguns segundos, depois os habitantes
do deserto se empinaram novamente. Eles responderam com uma radiação comparável.
Ela ordenava:
— Matem-se! Matem-se!
Ela era tão poderosa e intensa, que encobria todo o resto.
A mão de Atlan deslizou para a sua arma energética.
7

“Ali, onde termina o espírito, começa a força.”

Dos hipnorregistros de Opus-undra-mur, descobertos no território


periférico de Karst, Terra Vermelha, 3.442, tempo terrano.

Matra Krovzac olhou para os hipnodesenhos na parede. Ele levantou a câmera


substituta e fez algumas tomadas. Ele não conseguia fechar-se à força do testemunho.
Perdido em pensamentos, ele virou-se, ligou seu aparelho antigravitacional e subiu.
Ele voou na direção norte. De vez em quando ele olhava para trás, para o vale dos
hipnodesenhos. A terra era colorida de vermelho pela areia que tudo cobria. Do sul vinha
um vento leve que a carregava adiante de si.
Krovzac revistou a Karstlandia, que ficava abaixo dele, minuciosamente. O
aparelho de rastreamento entretanto não deu sinal. Diante dele surgiu o deserto. Agora ele
hesitou. O acampamento já estava bem distante. Já era hora dele voltar. Sua atenção
dirigiu-se para o norte. No horizonte nuvens escuras se levantavam.
A uma distância de alguns quilômetros o deserto descaía fortemente. Ali os
rochedos pareciam mais escuros que na Karstlandia. Krovzac teve a impressão que as
barrancas escuras somente haviam sido criadas há pouco tempo. O aparelho de
rastreamento começou a assobiar e desviou a atenção do físico. Ele o girou nas mãos de
um lado para o outro até ter captado a direção certa, a direção na qual ele devia continuar
procurando. O aparelho dirigiu-o deserto adentro. Na borda de uma frigideira de
incubação ele, pouco depois, descobriu a câmera. Ela estava meio enterrada na areia.
Krovzac pousou e abaixou-se para a câmera. E então ele viu, perto de si, um buraco
na terra. Um braço fino emergia do mesmo. Ele recuou rapidamente. Ele não se lembrara
dos kartas.
A cara redonda do habitante da caverna surgiu na abertura. Os olhos se fixaram
nele.
Krovzac teve que pensar em Gucky e em Alaska Saedelaere. Ambos tinham podido
defender-se, cada um à sua maneira. Ele estava indefeso.
Durante segundos as duas inteligências tão diversas se entreolharam. Krovzac
respirava rapidamente. Ele esperava que o karta o iria matar com um golpe parapsíquico.
De repente ele lembrou-se da hipnomensagem no vale.
“Ali, onde termina o espírito, começa a força.”
Ele repetiu este pensamento ininterruptamente e concentrou-se no mesmo, até que
estava totalmente envolvido apenas nele.
Rauhvertikal, seu adversário, conduziu uma luta bem mais difícil do que poderia ter
imaginado. Ele tinha que se concentrar não menos que o terrano. Literalmente no último
momento ele pudera evitar que seus sentidos rebelados matassem este estranho. Nestes
últimos dias ele aprendera muito — e alcançara — sem ainda sabê-lo agora — uma nova
e decisiva escala no seu desenvolvimento.
Quando finalmente conseguira abafar os impulsos de destruição, ele penetrou no
espírito do estranho. Surpreso, ele verificou que não topava com qualquer resistência.
Esta criatura era bem mais fraca que as outras, que tinham vindo para Nurmo II com ela.
Ela não tinha qualquer possibilidade de defender-se.
Quando Rauhvertikal reconheceu isso, ele acalmou-se. Ele podia olhar para o
estranho, sem que seu corpo se recusasse a isto, sem cair em pânico.
Com uma calma, que horas atrás ainda lhe seria inconcebível, ele sondou os
pensamentos do físico. Ele verificou porque ele e seus acompanhantes tinham vindo a
este mundo. Ele deu-se conta de quem eram os verdadeiros inimigos, e também em que
perigo todo o sistema solar pairava. Ao mesmo tempo ele entendeu, por que metamorfose
ele passara.
Matra Krovzac se acalmou. De repente ele não se sentiu mais ameaçado. Com uma
reflexão cientificamente fria ele tentou deixar o karta informado. Sem dar-se conta disso,
ele entrou numa troca de ideias totalmente telepática, que sem os dons extraordinários do
seu vizinho, jamais lhe teria sido possível.
Como um raio, a radiação hipnossugestiva das astronaves no polo penetrou nesta
fase de entendimento. Matra Krovzac foi ao chão. Ele fora atingido, totalmente
despreparado.
A reação do karta veio, quando se tornou consciente do que estava acontecendo, e
tentou se insurgir contra isso. A ordem de suicídio varreu toda a sua resistência para um
lado. Ele pegou na sua arma energética e apontou-a contra si mesmo.
Rauhvertikal empurrou a arma telecineticamente para o lado. Mesmo assim
Krovzac apertou o disparador. O feixe energético foi atirado verticalmente para o céu. O
karta arrancou a arma de sua mão e atirou-a para muito longe, no deserto. Ao mesmo
tempo ele procurou proteger o terrano contra as ordens hipnossugestivas dos dois
partidos em luta. Krovzac abriu os olhos. Lentamente pareceu entender onde se
encontrava.
Primeiramente ele queria simplesmente sair correndo dali, para voltar o mais
depressa possível, até onde estava Tahonka No. Mas depois refletiu. Ele não tinha uma
oportunidade única, de ajudar a tropa de choque, que sob a direção de Atlan tentava
penetrar nas espaçonaves no polo?
Ele recuou alguns passos e sentou-se em cima
de uma rocha, que se erguia a cerca de um metro
acima da areia do deserto.
Rauhvertikal olhou-o fixamente.
***
Atlan tinha a impressão de que se passara
apenas um segundo.
Ele olhou no campo cintilante de disparo de
sua arma energética. Bastaria apertar um dedo, para
dispará-la.
Com um movimento rápido ele abaixou o
braço. Perto dele estava o ertrusiano Toronar
Kasom. Sua mão repousava no quadril, sobre a
coronha de sua arma. Ele também parecia lutar
consigo mesmo.
A ordem telepática repetia-se ininterruptamente:
— Matem-se, matem-se!
— Por quanto tempo vocês pretendem ficar parados aqui, como patetas? —
perguntou Gucky. Ele tomou a mão de Atlan e teleportou com ele para dentro da
espaçonave. Irmina Kotschistowa e Alaska Saedelaere respiraram fundo, aliviados,
quando eles chegaram.
— O que aconteceu? — perguntou Saedelaere. Ele olhou o seu cronômetro. — Nós
não teríamos esperado muito mais tempo.
Gucky desapareceu. Atlan viu que o homem da máscara e a bioquímica tinham
tirado o seu capacete de proteção. Ele também abriu o seu capacete. Com poucas palavras
ele relatou acerca das hipnorradiações sugestivas, das quais nada se sentia aqui dentro da
nave. Gucky apareceu logo depois, trazendo Toronar e Fellmer Lloyd. Ambos os homens
estavam exaustos. Toronar Kasom começou a praguejar, quando notou que eles tinham
perdido quase uma hora, porque não tinham podido se defender antes das radiações.
— Agora finalmente vocês podem me fazer um elogio acerca deste recinto. Como
cabeça-de-ponte ele é simplesmente ideal, ou não? — disse Gucky.
Atlan sorriu. Só agora ele olhou em volta, examinando tudo. Eles se encontravam
num recinto semicircular. Um terço do chão consistia de uma camada inteiramente
transparente, através da qual eles podiam olhar muitas centenas de metros poço abaixo.
Este formava evidentemente o eixo central da nave.
Alaska Saedelaere seguiu Atlan, que avançara até a placa transparente. Ele mostrou,
com o braço estendido para baixo, onde se erguia um andar depois de outro. Por toda a
parte cintilavam máquinas exóticas. Um número imenso de luzinhas de controle,
indicadores de medições, e monitores de vídeo, que estavam instalados em forma de anel
em volta do centro aberto, criavam uma luz fantasmagórica.
— Os instaladores do “Enxame” realmente estão extraordinariamente ativos —
disse ele. — Eles fazem comutações, febrilmente. Evidentemente os preparativos já
avançaram muito. Está vendo os quadrados vermelhos?
— Sim, naturalmente — retrucou Atlan.
Os quadrados indicados por Saedelaere formavam os quatro pontos de luz
marcantes em cada anel interior.
— Quando chegamos aqui, todos os quadrados eram azuis — continuou o homem
da máscara. — Então os instaladores do “Enxame” entraram em ação. Eles começaram a
manipular as máquinas. Pouco a pouco, então, todos os indicadores passaram para azuis.
Atlan ainda descobriu agora inúmeras manchas azuis, mas as vermelhas
preponderavam nitidamente.
— Nós também já estivemos em outros recintos — disse Alaska Saedelaere. — Mas
tivemos que voltar novamente. Não podíamos entrar em luta com eles.
Atlan e Saedelaere recuaram rapidamente. Diversos instaladores do “Enxame”
surgiram surpreendentemente entre eles.
Eles pareciam cilindros redondos de 2,50 metros de altura. Em volta da cabeça em
forma de cúpula abobadada havia oito olhos facetados, nos quais as luzes de controle se
espalhavam multiplamente. Os oito braços se dividiam cada vez em dois tentáculos
adicionais, nos quais as criaturas carregavam um número surpreendente de ferramentas e
pequenas máquinas. Eles se movimentavam adiante, muito depressa, com suas oito
pernas. Todos estavam vestidos com uniformes amarelo-ocres, que estavam entremeados,
em distâncias irregulares, com grandes buracos. As vozes estridentes dos instaladores do
“Enxame” subiam até Atlan e seus acompanhantes.
— Nunca se sabe se eles nos viram — disse Alaska Saedelaere. — Estes malditos
olhos facetados, afinal, olham para todas as direções.
Atlan virou-se para Gucky e Fellmer Lloyd. Os dois telepatas vieram até ele.
— O que eles pretendem fazer? — perguntou o arcônida.
— Eles se concentram, todos, somente no seu trabalho momentâneo — respondeu
Lloyd. — Ninguém pensa nem um passo adiante, e ninguém parece informado sobre o
plano geral.
— Nós precisamos chegar mais perto da central de comando — declarou Atlan. —
Ali talvez conseguiremos saber mais. Os oficiais certamente saberão o que importa.
Os instaladores do “Enxame” tinham passado. Atlan novamente adiantou-se um
pouco mais. A cerca de cem metros abaixo dele, houve um relampejar. Uma máquina
deixou de funcionar com a sobrecarga. Uma série de descargas destruiu as instalações de
controle e a rede de alimentação. Imediatamente uma instalação anti-incêndio automática
entrou em ação. Instaladores do “Enxame” vieram correndo de todos os lados, para
consertar os danos.
— Como estão as coisas do lado de fora? — Atlan perguntou ao rato-castor. —
Como é que os kartas estão se comportando?
— As hipnorradiações se aquietaram — respondeu o ilt. — Os ataques diminuíram.
Somente algumas rochas ainda vêm zunindo pelos ares.
Atlan olhou o seu cronômetro.
Faltavam ainda dezessete horas até o choque com o “Enxame”.
Alaska Saedelaere, que deixara o recinto por alguns minutos, agora voltou.
— A cem metros daqui um poço antigravitacional leva para o alto. Aparentemente
ele foi instalado para linha de reabastecimento de material técnico — disse ele. — Mas há
lugar suficiente para nós lá dentro.
— Ótimo — concordou Atlan. — Vamos tentar chegar mais para cima. Talvez
então consigamos descobrir algo mais.
Saedelaere apertou uma pequena placa na parede. Uma escotilha deslizou para um
lado. Eles saíram para um corredor, cujos lados eram pintados com listras diagonais
amarelas, verdes e vermelhas. Numa sequência irregular, iluminavam-se sempre duas
listras, em lados opostos.
— Não sabemos o que isso significa — disse Alaska Saedelaere, quando Atlan o
olhou interrogativamente. — Aparentemente, porém, não é perigoso passar por aí. Eu
passei diversas vezes por esta galeria sem que nada acontecesse.
Ele foi adiante e os conduziu até o elevador antigravitacional. Eles viram uma série
de pequenos aparelhos pairarem, dentro do mesmo, para baixo. Eles esperaram até que as
peças de reposição tivessem desaparecido bem mais no fundo, depois Alaska Saedelaere
foi o primeiro a entrar no poço. O campo agarrou-o levando-o lentamente para cima.
Pouco depois apareceram algumas peças queimadas de máquinas, que o seguiram. Com
exceção de Gucky, todos os outros entraram no duto de transporte. Gucky preferiu
teleportar para o alto, em etapas.
No terceiro salto ele rematerializou diretamente diante dos pés de um dos
instaladores do “Enxame”.
***
Matra Krovzac escutou uma voz murmurante na sua cabeça. Ela exigia
constantemente que ele se matasse. Entretanto ela não o tocou mais do que a exigência
dos instaladores do “Enxame”, para se submeter.
Ambas as vozes lhe pareciam como insignificantes ruídos de segundo plano.
Enquanto isso ele sabia que Rauhvertikal o protegia. Sem o mesmo ele estaria perdido.
— O que está acontecendo? — perguntou ele. — Você sabe o que os outros
planejam?
O deserto confundiu-se diante dos seus olhos. No seu lugar apareceu a imagem de
32 espaçonaves, que formavam um círculo em volta do polo norte. As beiradas dos tetos
cônicos estavam incandescentes. Por cima de uma das espaçonaves pairava uma esfera de
cristal. Krovzac acreditou poder ver que a radiação hipnossugestiva partia dela. Muito
mais importante porém, pareceu-lhe uma outra observação. Das pontas das outras
espaçonaves levantavam-se labaredas de linhas energéticas.
E elas apontavam na direção de Opus-Nurmo.
Elas criavam uma ligação de alta energia entre o sol amarelo-pálido do sistema e as
espaçonaves. Krovzac imediatamente deu-se conta de que as espaçonaves gigantes
estavam sugando energia do sol. Elas captavam suas imensas energias que eram
acumuladas.
Para quê?
Ele ergueu a cabeça e procurou o sol, porém a imagem foi junta. Era uma projeção
psíquica de Rauhvertikal.
— Eu preciso ver o sol — disse o físico-sextadim.
De golpe a imagem se esvaiu. Krovzac podia novamente ver normalmente.
O físico fechou os olhos, ofuscado. O sol Opus-Nurmo estava em chamas e parecia
ter crescido para o dobro do seu tamanho.
Agora o karta pareceu entender todo o perigo em que pairava o sistema. Krovzac
sentiu a inquietação que tomou conta dele. Uma parte sensível das transmissões
hipnossugestivas das naves bem como também dos kartas, conseguiu passar. Ele
agarrou--se à rocha, em cima da qual estava sentado. Rapidamente olhou em volta. O
deserto parecia calmo, diante dele. Os kartas apenas ainda lutavam com suas hipno-
ordens, apesar de, muito evidentemente, nada conseguirem com isso.
O físico quis erguer-se, quando de repente sentiu um golpe. Parecia que um peso
imenso lhe caíra sobre os ombros. Com muito esforço ele ergueu-se. No seu pulso, uma
luzinha de advertência piscava. Ele levou a mão para o botão de ajustagem do seu traje de
combate, para regular o aparelho antigravitacional. O peso sumiu, antes que ele tivesse
tocado no botão. O aparelho estaria funcionando mal?
Krovzac quis descer do rochedo, mas logo veio o golpe seguinte. Ele o arrastava
fortemente para o solo. Com muito esforço ele se apoiou na rocha. Os seus músculos
tremiam. Com um arranco ele se virou. Ficou deitado de costas. Instintivamente ele
contara em encontrar um adversário diante de si, que se atirava em cima dele. Mas, com
exceção de Rauhvertikal, não havia mais ninguém por ali.
Krovzac retesou os músculos, para trazer o aparelho controlador diante da viseira do
traje de combate, quando mais uma vez a pressão diminuiu. Aquele esforço exagerado
fez com que ele rolasse para o outro lado, ficando deitado na beira da rocha. Atentamente
ele observou o karta.
Um dos braços finos de Rauhvertikal estava quebrado. O karta deitara a cabeça na
areia. Sua respiração era pesada e rápida. Então o terrano deu-se conta de que o seu traje
de combate ainda estava perfeitamente em ordem.
Mas a gravidade de Nurmo II oscilava.
Imediatamente ele lembrou-se novamente dos acontecimentos em Diana, onde a
população inteira de todo um planeta fora morta pela repentina elevação da gravidade.
Os instaladores do “Enxame” estavam querendo modificar a gravitação e aumentar
drasticamente as temperaturas, também em Nurmo II? Isso não resultava em nenhum
sentido. O “Enxame” vinha se aproximando numa velocidade alucinante. Dentro de
quinze horas devia acontecer o choque com ele. Até lá, ninguém mais poderia retirar
qualquer proveito deste planeta.
Rauhvertikal ergueu a cabeça. Ele levantou-se inteiramente, de modo que Krovzac
pôde ver todo o seu corpo. Agitado, ele olhou para o deserto. O terrano seguiu o seu
olhar.
A esfera escura, dentro da qual um novo karta estava se formando, tinha se partido,
sob a pressão da gravidade modificada. Um grito desesperado saiu da boca do habitante
das cavernas. Krovzac teve que pensar nos hipnodesenhos que eles tinham encontrado.
Neles eram distribuídas as mais altas significações, àquela vida nova, que se criava.
— Não! — gritou o físico. — Não tente lutar contra eles. Seria insensato. Eles são
mais fortes que todos nós.
Os olhos do karta voltaram-se para o terrano. Krovzac sentiu um frio na espinha.
Ele sentiu que Rauhvertikal procurava por uma saída para sua situação de sobrecarga
psíquica. Ele estava iminentemente diante da queda, que indubitavelmente o levaria de
volta a sua atitude anterior. Uma corrida “amok” parapsíquica dos kartas seria mortal para
ele. Isso Krovzac sabia muito bem.
***
— Arre! — disse Gucky. — Mas isso não é jeito de uma pessoa civilizada!
O pontapé o jogara contra a parede, mas ele rapidamente se pusera de pé
novamente. Agora ele olhava para cinco armas energéticas apontadas para ele. Os
instaladores do “Enxame” ainda hesitavam em atirar nele. Nos fundos, apareceram Atlan
e seus acompanhantes, dentro do poço antigravitacional. Imediatamente eles pegaram
suas armas, mas não ousaram fazer uso delas, porque, deste modo, também colocariam o
rato-castor em perigo.
Gucky ergueu os braços demonstrativamente acima da cabeça. De uma porta lateral
saíram mais dois adversários, de modo que agora ele estava diante de sete instaladores do
“Enxame”. Eles apontaram para Atlan, para a moça e os três homens, que estavam com
ele.
Gucky concentrou-se nos seus adversários, depois levantou o primeiro
telecineticamente. Ele o fez chocar-se com a cabeça semi-esférica fortemente contra o
teto. Houve um som surdo. Imediatamente a arma energética caiu dos tentáculos do
instalador do “Enxame”. Impressionado com o êxito de sua ação, Gucky fez o adversário
seguinte subir para o alto. Quando também este logo caiu atordoado, ele mandou os
outros atrás, numa sequência tão rápida, que não tiveram mais nenhum tempo para
defesa.
Gucky colocou as mãos no quadril e ficou olhando o grupo de vencidos.
— E então? — perguntou ele, exigente, olhando para Atlan. — Onde é que ficam os
aplausos?
O arcônida sorriu. Ele passou por cima de um instalador do “Enxame”, e curvou-se
para apanhar a sua arma. Neste momento a gravidade na nave aumentou de golpe. Atlan
tentou ficar de pé, mas não o conseguiu, como também não o conseguiram Gucky,
Alaska Saedelaere, Fellmer Lloyd e Irmina Kotschistowa. Apenas o ertrusiano Toronar
Kasom ficou de pé. Ele caiu com os ombros contra a parede, e usou de toda a sua força e
peso, contra a força que também queria derrubá-lo no chão.
Ele olhou para o indicador do seu aparelho antigravitacional. A marca estava em 8
G, mas logo desceu novamente para 1 G. O ertrusiano ajudou Atlan a levantar-se.
— Tudo em ordem? — perguntou ele.
O arcônida fez que sim.
— Temos que desaparecer com os instaladores do “Enxame” daqui, de algum modo
— disse ele. — Se eles forem descobertos aqui, logo teremos os outros nos calcanhares.
Alaska Saedelaere já tinha aberto a porta lateral de onde tinham saído alguns dos
estranhos para o corredor.
— Acho que podemos trancá-los aqui dentro, por algum tempo — disse ele.
Toronar Kasom pegou dois dos seres inconscientes pelos braços e arrastou-os para o
esconderijo. A pele dos instaladores do “Enxame” era firme e coriácea ao tato. Gucky
não se deixou impedir de fazer com que dois adversários de uma só vez pairassem
diretamente para dentro do recinto ao lado.
— Não é possível trancar a porta — disse Saedelaere, quando todos os instaladores
do “Enxame” tinham sido levados para dentro do recinto.
Atlan, Irmina Kotschistowa, Toronar Kasom e Fellmer Lloyd já estavam avançando
na nave, enquanto Gucky e Alaska Saedelaere ainda tentavam trancar o recinto. O ilt
finalmente entortou a porta de aço de tal maneira que não era mais possível abri-la.
Satisfeito consigo mesmo e com sua obra ele seguiu Atlan. Este tinha alcançado uma
balaustrada da qual podia olhar para dentro de um pavilhão. Inúmeros instaladores do
“Enxame” trabalhavam em paredes de controles e de comando, vigiando instrumentos de
todos os tipos, incrustados nas paredes. Numa das telas de vídeo podia ver-se o sol
Opus--Nurmo. De uma linha de triângulos vermelhos linhas luminosas dentadas levavam
até ele. Por baixo do monitor de vídeo encontravam-se diversas lâmpadas, todas elas
brilhando numa luz azulada. Somente três delas eram amarelas.
Três instaladores do “Enxame”, que traziam seis pontos vermelhos nos uniformes,
entraram no pavilhão e se aproximaram do monitor de vídeo. Agora somente duas
lâmpadas ainda brilhavam, amarelas.
Gucky notou alguns instaladores do “Enxame” que se aproximavam deles vindos de
um corredor lateral. O grupo recuou para trás da escotilha seguinte, para esconder-se ali.
De repente a gravidade aumentou novamente. Agora entretanto ela não subiu de
golpe, mas lentamente. Atlan e seus acompanhantes observaram os indicadores de
controle dos seus trajes de combate. Os aparelhos absorviam só no máximo 6 G.
Aos trancos a gravidade subiu para 9 G.
Com exceção de Gucky, que podia compensar a carga telecineticamente, todos
caíram ao chão. Toronar Kasom abriu o seu traje de combate para regular em zero o
regulador de gravidade do seu cinturão. Com isso, para ele, voltavam as condições
normais. Ele ergueu-se e refletiu como poderia ajudar os outros. Gucky tentou diminuir a
carga para Atlan, Irmina Kotschistowa, Fellmer Lloyd e Alaska Saedelaere, mas somente
o conseguiu insuficientemente.
Mais uma vez cresceu a gravidade. Os instrumentos de controle mostravam exatos
12 G. Sob esta carga até mesmo Kasom foi para o chão outra vez.
Gucky teleportou de volta para a balaustrada e olhou para o pavilhão. Duas
lâmpadas ainda brilhavam amarelas.
Os instaladores do “Enxame” se movimentavam com a mesma facilidade de antes,
apesar de também aqui reinar uma gravidade de 12 G. Para eles esta alta sobrecarga
parecia não existir. De dentro do duto vinha o trovejar de máquinas formidáveis. Já
anteriormente a nave não estivera exatamente silenciosa, mas agora o colosso parecia
tremer sob o barulho. O chão sob os pés do rato-castor vibrava.
O ilt tentou captar o conteúdo das mentes dos instaladores do “Enxame”. E ele
conseguiu fazê-lo, porém não ficou sabendo de nada que tivesse uma importância real e
decisiva. Ninguém parecia saber mais do que aquilo que tinha que fazer naquele
momento. Nenhum dos estranhos examinados evidentemente conhecia todo o plano.
Gucky adivinhou pelos pensamentos dos técnicos que as espaçonaves estavam sangrando
o sol Opus-Nurmo, sugando-lhe enormes quantidades de energia.
O grande acontecimento era iminente.
O ilt saltou de volta até onde estava Atlan. O arcônida lutava, desesperadamente,
exatamente como os outros membros da expedição, contra a gravidade elevada seis
vezes. Gucky notou que nenhum dos outros suportaria esta sobrecarga por muito mais
tempo.
— Vamos ter que nos retirar — disse Atlan, respirando com dificuldade. — Salte
para fora. Pode ser que a gravidade lá seja mais baixa.
***
Matra Krovzac foi arremessado de cima do rochedo para o solo. Ele ficou deitado
de barriga para baixo. A viseira do seu capacete bateu fortemente contra as pedras. Ele
tentou se mexer e levantar novamente, mas teve que reconhecer que a gravidade
aumentava e o segurava no chão. Com suas próprias forças ele não conseguia libertar-se
mais.
Um braço estava estendido por baixo da sua barriga. Krovzac temia que, nesta
posição, ele poderia quebrar a articulação do cotovelo. Ele rolou um pouco para o lado,
para conseguir libertar o braço. Deste modo ele acabou na borda do rochedo.
Por baixo dele havia um abismo de cerca de metro e meio!
O físico sentia que escorregava. Com todas as suas forças ele escorou-se contra a
queda. Ele sabia que nestas condições de gravidade, uma queda desta altura poderia ser
mortal. Neste caso, nem mesmo o traje de proteção o protegeria suficientemente contra
graves ferimentos.
Ele respirou fundo, aliviado, quando finalmente conseguiu uma posição segura em
cima do rochedo. Agora ele girou a cabeça até que pôde ver Rauhvertikal. O karta estava
deitado, estendido na entrada de sua caverna. Com seus dons parapsíquicos ele podia
novamente neutralizar uma parte da gravitação elevada. Presumivelmente ele poderia ter
criado condições bem normais para si, se não estivesse no meio de uma grave crise.
— Tahonka No! — chamou Krovzac. O seu peito doía. Uma mão de ferro parecia
comprimir seus pulmões. Cada movimento respiratório era uma tortura. — Tahonka No.
Está me escutando?
— Eu estou ouvindo, Krovzac.
— Está tudo em ordem com o senhor?
Tahonka No riu. Sua voz soava entrecortada e acanhada.
— Eu dou um jeito — respondeu ele, depois de longa pausa. Matra Krovzac ouviu o
rumorejar do seu sangue. A gravidade apertava o seu rosto fortemente contra a viseira do
seu capacete. Ele não conseguia virar a cabeça.
Por quanto tempo os instaladores do “Enxame” pretendiam manter estas condições
de gravidade? Esta medida era apenas passageira? O que eles pretendiam com isso?
Krovzac não sabia mais exatamente quanto tempo Nurmo II ainda tinha, antes de
chocar--se com o “Enxame”. Não podia ser mais muito tempo. O que os instaladores do
“Enxame” ainda poderiam executar neste planeta, neste curto espaço de tempo?
Ele concentrou-se no habitante das cavernas e chamou o seu nome.
— O que é que você quer? — soou uma voz dentro de sua cabeça.
— O que está acontecendo no polo norte? — perguntou ele.
Rauhvertikal silenciou por muito tempo. Krovzac já estava achando que o karta
esquecera a sua pergunta. Então Rauhvertikal falou novamente.
— Eles estão fazendo preparativos para abandonar este mundo — respondeu o
habitante das cavernas.
— Onde estão meus amigos?
Novamente Rauhvertikal silenciou por muito tempo. Quando ele finalmente
respondeu, Krovzac teve a impressão de que se passara uma hora. Entrementes os seus
músculos ficaram tolhidos. Ele não conseguia mais opor-se constantemente contra o peso
seis vezes aumentado do seu corpo. A sua consciência turvou-se. Ele ouviu a resposta do
karta, como que através de um véu abafador.
— Eles estão no interior de uma das espaçonaves, e estão tão prisioneiros como
você.
***
Gucky materializou diretamente ao lado de Atlan.
— Lá fora está do mesmo jeito que aqui — disse ele. — Em toda parte reinam as
mesmas condições, 12 G. Os kartas estão agora atacando novamente, mas não o fazem
mais tão concentradamente como antes. Também eles, evidentemente, têm dificuldade
para lutar.
— Experimente achar a central de comando — disse o Lorde-Almirante. — Você
precisa descobrir qual é o jogo deles.
Gucky sacudiu a cabeça.
— Não — disse ele. — Seria melhor se abandonássemos a nave agora. Eu vou levar
vocês para fora.
— Isso tem tempo. Nós ainda aguentamos.
Toronar Kasom, que com sua enorme força física era quem melhor suportava a
elevada gravitação, anuiu para o ilt.
— Nós vamos conseguir. Caso alguém apareça, eu o receberei condignamente.
Para provar que ele conseguia mexer-se suficientemente, o ertrusiano ergueu ambos
os braços. Gucky teleportou depois de ter-se orientado telepaticamente. Ele
rematerializou nas proximidades de um grande pavilhão, e captou imediatamente que
encontrara a central de comando da nave.
Ele quis saltar para a cobertura de um bloco de máquinas, quando repentinamente
uma dor insuportável atravessou todo o seu corpo. Gucky viu um instalador do “Enxame”
surgir nas suas proximidades, mas ele estava incapaz de se mexer. A dor o paralisava.
Diante dos seus olhos começou a cintilar. Ele procurou, de algum modo, segurar-se, mas
suas mãos perderam-se no vazio. Com todas as suas forças ele concentrou-se numa nova
teleportação, mas nada aconteceu.
E então ele finalmente deu-se conta do terrível acontecimento.
As espaçonaves dos instaladores do “Enxame” estavam em transição.
As energias sugadas do sol Opus-Nurmo eram utilizadas para colocar as 32
espaçonaves num salto ao hiperespaço. Toda a formação penetrava na quinta dimensão,
fazendo uso das formidáveis forças energéticas armazenadas. Nestas condições
desmaterializavam todos os corpos sólidos. Eles desmaterializavam transformando-se
numa espiral energética, que era ajustada ao caráter pentadimensional do hiperespaço.
Em algum lugar, as espaçonaves seriam novamente catapultadas de volta ao espaço
einsteiniano. Para a tripulação dos gigantes espaciais isso estava ligado a uma intensa dor
de desmaterialização e rematerialização.
O rato-castor ouviu Atlan gritar.
A dor jogou-o ao chão. Seus dons parapsíquicos falharam, e toda a força da
gravidade aumentada para 12 G foi ativada. Ao ilt parecia que ia sufocar. Ele viu os
instaladores do “Enxame” se aproximando. Parecia que eles suportavam bem mais
facilmente as dores do que ele.
Diante dos seus olhos tudo escureceu.
***
Na Good Hope II as sirenes de alarme tocaram, estridentes.
Perry Rhodan, que estava a caminho da central de comando, começou a correr. A
nave, que há dias se encontrava em alerta de prontidão, tremeu quando os aparelhos
antigravitacionais entraram em ação.
Rhodan correu através da escotilha aberta para dentro da central.
Senco Ahrat, o emocionauta, estava sentado por baixo do capacete-SERT, pilotando
o cruzador leve. Com um olhar, Rhodan viu que a Good Hope II acelerava com valores
máximos de 800 quilômetros por segundo.
Joak Manuel Cascal, o chefe radioperador, e Lorde Zwiebus, vieram correndo do
departamento de rádio.
— O que aconteceu? — perguntou o comandante.
— Opus-Nurmo desapareceu — respondeu Cascal, agitado. — Todo o sistema foi
colocado numa transição.
Rhodan ligou o intercomunicador para o departamento astronômico, no qual o
galatogeólogo Tatcher a Hainu estava de plantão.
— Os dados do departamento de rastreamento estão sendo confirmados — disse ele,
curtamente. — O sistema solar Opus-Nurmo teve uma transição de 532 anos-luz. Ele
agora está posicionado do lado esquerdo do “Enxame”. Seguem dados exatos.
O sistema solar Opus-Nurmo tinha sido tirado do caminho. O “Enxame” tinha
criado um caminho livre para si mesmo.
— A Intersolar também está a caminho do ponto rastreado — disse Joak Manuel
Cascal. Sua voz soava insegura. Ele parecia nitidamente impressionado com a realização
dos instaladores do “Enxame”, que tinham executado uma transição do sistema numa
distância quase inconcebível de 532 anos-luz, para abrir um caminho para o “Enxame”.
***
Quando Atlan acordou ele teve a sensação de que estava sendo despedaçado. Seus
acompanhantes rolavam, gemendo, de um lado para o outro. Toronar Kasom estava
sentado, todo encurvado, do seu lado. O seu rosto contraído revelava que ele também
sofria de dores quase insuportáveis.
O arcônida perdeu os sentidos.
Quando voltou novamente a si sentia-se um pouco melhor. Também os outros
membros da expedição pareciam ter se recuperado. O ertrusiano estava de pé. Ele tentava
tirar sua arma energética do coldre. Sua mão caiu novamente para baixo, sem forças.
Atlan quis sentar-se, porém foi dominado à força da elevada gravidade. Indefeso,
ele olhou para os instaladores do “Enxame”, que entravam por muitas portas. E traziam
armas energéticas nos seus tentáculos.
Com isto, Atlan tinha certeza de que eles tinham perdido. Gucky não estava
presente, para salvá-los dessa armadilha.
Ele sentia que o chão, sob suas costas, vibrava. A espaçonave partia. Um barulho
ensurdecedor subiu até eles, vindo dos andares inferiores.
Os instaladores do “Enxame” rodearam os quatro homens e a moça. Atlan contou
mais de dez armas, apontadas para eles. Ele teve que pensar no físico-sextadim Matra
Krovzac. Este certamente poderia dar um relatório correto sobre os acontecimentos neste
planeta, a Perry Rhodan. Supostamente Krovzac agora devia estar contente por não ter
participado da tropa de choque. Ele tinha a possibilidade de abandonar Nurmo II
novamente, numa espaçonave lenticular.
Atlan fechou os olhos, quando um dos instaladores do “Enxame” se abaixou para
ele, para retirar-lhe a arma. Quando ele abriu os olhos novamente, estava olhando para o
painel de instrumentos de sua espaçonave lenticular. Lentamente a pressão da gravidade
elevada o abandonou. O arcônida podia novamente erguer os braços. Segundos mais
tarde ele levantou-se e tentou orientar-se.
Perto dele, no leito anatômico, Irmina Kotschistowa repousava. Ela sentou-se, ereta.
No seu rosto desenhou-se uma surpresa sem limites. Ela entendia tão pouco quanto Atlan
o que acontecera.
A gravitação agora baixava rapidamente para o valor normal reinante em Nurmo II.
O arcônida esgueirou-se para fora da nave lenticular.
Lá fora estava escuro, porém a luz das estrelas era tão clara, que ele pôde
reconhecer Tahonka No. O ossudo tinha tirado toda a roupa e se esfregava com areia e
fios de plantas. Aquela cobertura verde-azulada podia ser removida sem esforço. Quando
Tahonka No viu Atlan, ele parou o que estava fazendo e deu uma gargalhada.
— Eu devia ter pensado nisso antes — gritou ele, alegre. — Os esporos ativos de
cálcio destroem o eczema. Eu me sinto melhor do que nunca. Se eu tivesse ouvido
Krovzac e aberto o meu capacete logo, tudo teria melhorado bem mais rapidamente.
Atlan não respondeu. Ele correu até a espaçonave lenticular seguinte e olhou para
dentro. Toronar Kasom já vinha ao seu encontro. Perto dele estava deitado Alaska
Saedelaere. Da terceira lentilha, Fellmer Lloyd estava desembarcando. Ele tirou seu
capacete protetor, e passou a mão espalmada no rosto. Depois sorriu.
— Eu sabia que podíamos confiar em Gucky — disse ele.
Ele quis caminhar até Atlan, mas de repente Krovzac materializou no meio deles.
Atlan o olhou, perplexo.
— Desde quando é capaz de teleportar sozinho? — perguntou ele.
O físico também tirou seu capacete protetor, para respirar o ar de Nurmo II.
— Eu não sei teleportar, e nunca vou poder fazê-lo — disse ele. — Rauhvertikal e
seus amigos cuidaram disso para mim e para os senhores. Eu pedi-lhe que não usasse a
sua raiva inutilmente, em ataques que nada conseguiam, mas para ajudar-nos contra os
estranhos. Pelo que vejo, ele e os outros kartas me atenderam. Para ser honesto — na
realidade eu não acreditava muito nisso. Eu fui...
Atlan interrompeu a verborragia do físico agitado.
— Onde está Gucky? — perguntou ele.
Krovzac olhou-o, surpreso.
— Ele não está aqui? — Ele olhou em volta.
Antes que ele pudesse fazer outras perguntas, sua atenção foi desviada. As
espaçonaves estranhas subiam atrás das montanhas. Elas deixavam para trás compridas
bandeiras de gases incandescentes. — Neste caso, ele ainda está a bordo.
Ninguém respondeu. Todos acompanharam as espaçonaves com o olhar. E agora
também ele teve a sua atenção chamada para aquilo que tanto interessava os outros. O
“Enxame” podia ser reconhecido clara e nitidamente no céu noturno. A imagem das
estrelas se modificara. Devagar Krovzac deu-se conta do que acontecera. O sistema
Opus-Nurmo encontrara um novo lugar na galáxia.
— Temos que sair daqui — disse Fellmer Lloyd. — Os kartas estão ficando
inquietos. Também eles dão-se conta do que aconteceu. Eu receio que eles vão demorar
para digerirem este reconhecimento.
— O senhor pode ter razão — concordou Krovzac. — Os kartas estão firmemente
convencidos de que o lugar do seu mundo na galáxia é absolutamente inalterável. Esta
ideia é uma pedra angular de sua religião. Todo o edifício de sua crença poderia ruir.
Quando isto acontecer, nós não devemos mais estar aqui.
— Gucky ainda não está aqui — verificou Fellmer Lloyd. — Não podemos partir
sem ele.
Krovzac apontou para as espaçonaves dos instaladores do “Enxame”.
— Ele só pode estar ali.
— Tem razão — concordou Atlan. — Não podemos fazer nada por ele. Ele só pode
ajudar-se sozinho. Se ele ainda está a bordo de uma nave dos instaladores, então ele
poderá salvar-se por teleportação. Vamos dar partida.
Ele caminhou até uma nave lenticular dupla. Irmina Kotschistowa o seguiu. Pouco
depois as quatro micronaves espaciais ergueram-se do solo de Nurmo II. Matra Krovzac
concentrou-se em Rauhvertikal. Ele queria agradecer-lhe, mas não obteve resposta. Numa
tela de vídeo ele viu que muito abaixo dele um mar de terra líquida, incandescente, se
formava. Alguns kartas, evidentemente, estavam novamente entregues a uma corrida
“amok” parapsíquica.
As lentilhas alcançaram o espaço aberto. Krovzac escutou que Atlan entrava em
ligação de rádio com a Good Hope II. O cruzador leve aproximou-se do sistema solar que
havia sofrido uma transição. Também a Intersolar voava velozmente na direção da nova
posição de Opus-Nurmo, depois de ter vencido a distância com uma manobra linear.
O comandante da 5a Coluna fez um relatório para Perry Rhodan, com voz muito
calma. As 32 espaçonaves dos instaladores do “Enxame” desapareceram depois de uma
transição, que também pôde ser medida nitidamente dentro das espaçonaves lenticulares.
Krovzac estava convencido de que eles tinham saltado diretamente para dentro do
“Enxame”.
Novamente o físico concentrou-se em Rauhvertikal.
E agora ele obteve resposta.
— Eu quero agradecer a você — pensou Krovzac.
— Eu fiz muito pouco por você — retrucou o karta. O físico acreditava poder ouvir
a voz nitidamente dentro de sua cabeça. — Você fez mais por meu povo e por mim, do
que eu por você.
Krovzac perguntou por Gucky. Uma sensação de calor cresceu dentro dele. Pareceu
que ele estava vendo Rauhvertikal sorrindo, apesar disso ser totalmente impossível. Um
monitor de vídeo iluminou-se à sua frente. O rato-castor estava olhando para ele,
divertido.
— Eu preferi saltar diretamente para a Good Hope II — disse Gucky. — Na
espaçonave lenticular eu ficava muito apertado. Toronar Kasom é tão gordo, que para
mim mal sobrava um lugarzinho.
Matra Krovzac riu. As lentilhas aproximaram-se da Good Hope II. Ele já podia ver
nitidamente o cruzador leve nas telas de vídeo. Na realidade Gucky não estava totalmente
sem razão. Nas espaçonaves lenticulares realmente não havia muito espaço, ainda mais
que eles tinham que usar seus trajes de combate. Krovzac estava contente, pois dentro de
poucos minutos ele poderia movimentar-se livremente outra vez.
O envio da 5ª Coluna tinha conseguido importantes observações. Agora sabia-se
que os senhores do “Enxame” procediam também de modo relativamente humano.
Corpos celestes não bem-vindos e sistemas solares não eram nem destruídos nem
sugados pelo “Enxame”, mas tirados do caminho, através de transições gigantescas, e
colocados em um outro setor da galáxia.
Matra Krovzac desacelerou o voo de sua lentilha, para ajustá-la à velocidade da
Good Hope II. Ele viu que Atlan já estava entrando no hangar com sua micronave.
Ele olhou para o cronômetro de bordo. O aparelho mostrava o dia 31 de março de
3.442, tempo terrano. Tinham-se passado sete dias desde que a 5a Coluna tinha sido
criada. Para ele parecia que fora apenas há um dia atrás.

***
**
*

A primeira missão da 5a Coluna demonstrou ser


extremamente informativa. Por isso são planejadas
outras missões, que são dirigidas diretamente contra o
“Enxame”.
Porém antes que se chegue a isto, num outro lugar
tem início uma missão não menos importante, pois está
em jogo o Poder dos Sete...
O Poder dos Sete é o título do próximo número da
série, com uma história repleta de suspense e
aventuras...

Visite o Site Oficial Perry Rhodan:


www.perry-rhodan.com.br
O Projeto Tradução Perry Rhodan está aberto a novos colaboradores.
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