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O DILÚVIO
DE ESTRELAS
Autor
H. G. FRANCIS
Tradução
AYRES CARLOS DE SOUZA
Digitalização
VITÓRIO
Revisão
ARLINDO_SAN
(De acordo, dentro do possível, com o Acordo Ortográfico válido desde 01/01/2009)
Na Terra e nos outros mundos da Humanidade os
calendários registram fins de março de 3.442. O misterioso
“Enxame”, portanto, continua o seu voo através da Via
Láctea, firmemente, há quase um ano e meio — tão
firmemente quanto Perry Rhodan e seus companheiros
imunes continuam no seu perigoso trabalho de procurar
pistas a respeito do sentido e dos objetivos dos misteriosos
invasores.
Perry Rhodan e seus ajudantes entrementes já sabem
que os emissários do “Enxame” levaram a desgraça a muitos
mundos. Eles também acham que o “Enxame” contém em si
ainda outras surpresas, que poderão ser mortíferas para os
habitantes de muitos outros planetas.
Uma surpresa mortal como esta, consumou-se no
planeta Diana, cujos habitantes não puderam ser salvos,
apesar da desesperada intervenção da Good Hope II e da
Intersolar, sendo exterminados. O único êxito que Perry
Rhodan pôde contabilizar foram suas observações e o
salvamento de Sandal Tolk e do seu companheiro Tahonka
No.
Agora, porém, depois das terríveis experiências no
planeta das amazonas, começou a hora para o
Administrador-Geral, de abandonar a sua cautelosa reserva
para com o “Enxame” e seus habitantes.
A “5a Coluna” deverá entrar em ação — e os habitantes
de um mundo solitário lutam contra “O Dilúvio de
Estrelas”...
O sol estava bem baixo no horizonte. Ele parecia estranho e pouco natural. A
atmosfera reverberando com o calor esfarrapava os seus contornos.
Rauhvertikal ficou parado.
As bolas dos seus pés engrossado no fim de colunas amassavam o chão. Ele sentia o
calor que subia da areia, apesar de já se encontrar à sombra das colinas. Inquieto ele
bufou. O tempo da Walla se aproximava e ele já sentia os seus efeitos. Os seus brônquios
estavam inflamados e doíam. Como ele não conseguia tapar as narinas com a pele de
cobertura, ele erguia diminutos campos defletores. Com eles conseguia o mesmo efeito.
O nariz ficava livre de pó e de areia. Os olhos que tinham começado a lacrimejar se
acalmaram novamente. Sua visão clareou, porém a imagem não se modificou. Ela
continuou tão chocante quanto fora antes.
A uma distância de cerca de três períodos coronários de circulação, voavam duas
vigas por cima do Mar de Sal. O sinal era bem inequívoco, porém era tão incomum, que
ele queria ter a última confirmação.
Como ele já sofria com a Walla, custava-lhe concentrar-se. Deste modo levou quase
um segundo até que o ar diante dos seus olhos se espessou sensivelmente. O mesmo
espaço de tempo ele precisou mais uma vez para ordenar a molécula de tal modo que os
campos tivessem o efeito de lentes óticas. Agora ele podia ver nitidamente que as vigas
voadoras consistiam de areia, poeira e sal. Elas se movimentavam em altura de duplo-
-karta por cima do mar, deixando atrás de si depressões baixas no solo.
Rauhvertikal bufou novamente.
Ele abaixou sua cabeça chata e enrolou os braços duplamente no pescoço. Ao
mesmo tempo sentiu que o período coronário finalmente aproximava-se do fim. No
segundo segmento ele estaria passando melhor, uma vez que o sangue então seria
bombeado mais rapidamente através das veias. Ele disse para si mesmo, que durante este
tempo se tornaria inteiramente ativo.
O outro privilegiado de repente rompeu a sua defesa. Os impulsos espirituais não
deviam tê-lo surpreendido, mas ele deixara desviar sua atenção pelo sinal pairante.
Sobressaltado, ele notou que ele tinha sumido do deserto. Duas nuvens de poeira
pairavam para o solo.
O estranho avançou, sem piedade, dentro do seu espírito.
O mundo afundou.
Rauhvertikal somente voltou a si quando já se encontrava no meio do ativo período
coronário. Ele correu as pernas rodopiantes através do deserto. As sombras corriam na
frente. Surdamente seus três pés martelavam o chão.
Ele se insurgiu contra a coação e tentou reconquistar outra vez o controle sobre os
seus nervos. O seu corpo enrijeceu e ele escorregou uma duna abaixo. Depois ele se virou
e atacou com toda a força. A cerca de cem comprimentos-karta distante dele, cinco
pedaços de rocha ergueram-se no ar. Eles pareciam ter ficado sem peso. Rauhvertikal
acelerou-os tão rapidamente, que seus contornos mal ainda podiam ser distinguidos. Os
petardos corriam velozmente bem perto, logo acima das colinas.
E então veio o grito de aflição esperado. Ele o ignorou e mandou uma corrente de
sensações depois da outra, na qual lhe comunicava o seu desprezo.
— Como você é primitivo — comunicou ele, reconhecendo ao mesmo tempo que o
seu adversário o entendia. Ele também era dotado telepaticamente. — Você se deixa
dirigir por seus instintos, quando a razão deveria prevalecer. Eu verifico que você ainda
não abandonou a fase da rocha-vermelha.
— Vocês do deserto são orgulhosos — respondeu o estranho.
Para ele parecia perfeitamente natural pôr os seus ovos, aqui, no território de
Rauhvertikal. Ele não refletira, quanto esforço e força custara, erguer esta instalação?
Rauhvertikal correu pelo flanco de uma colina acima. Ele parou no cume e ficou
observando como seus projéteis de pedra se desfaziam no horizonte num fogo vermelho.
O karstlandio ainda conseguira tomá-los inofensivos. Este pequeno êxito o deixava ainda
mais valente.
Rauhvertikal viu que uma parede de poeira se ergueu. Ela obscureceu o sol e
parecia um véu vermelho, que se estendia em diagonal por cima da frigideira de
incubação. Raivosamente o karta pateava com o seu pé condutor no chão. O invasor
parecia não saber o que estava fazendo.
— Agora chega — ordenou Rauhvertikal, agitado. — É melhor escutar os seus
instintos. Você está destruindo a frigideira. O que adianta a você me escorraçar deste
território, sem mais tarde poder colocar a sua ninhada no centro de calor?
Este argumento convenceu. A areia caiu novamente ao chão, antes que pudessem
acontecer danos maiores. Esta parte ficou sem decisão. Nenhum dos dois adversários,
porém, estava satisfeito com este estado de coisas.
Rauhvertikal atacou novamente. Agora ele tentou atravessar a barreira psíquica do
outro. Ele o conseguiu, uma vez que no outro justamente tivera início o período coronário
passivo. O karta aproveitou sua chance. Para ele mesmo restava apenas um prazo curto.
Ele abalou o sistema nervoso vegetativo do adversário, e então notou, como este pôs-se
em fuga. O pânico durou até profundamente para dentro do segmento coronário ativo, de
modo que Rauhvertikal conseguira uma vantagem legítima. A sua confiança de poder se
vingar reforçou-se.
O sol desapareceu atrás do horizonte, porém ainda não ficou escuro. O solo do
deserto parecia se iluminar por si mesmo. E também o céu continuou mais claro que
usualmente.
— Olhe para cima, para as estrelas — aconselhou o karstlandio.
Ele estava muito agitado, pois se encontrava numa situação desagradável. Os
habitantes da terra dura o haviam escolhido. Ele deveria pôr os ovos aqui, no território
altamente cultivado dos desertos do norte, na chocadeira de Rauhvertikal. E nisto ele
parecia não ter consideração, em tomar para si a paisagem tão cuidadosamente
trabalhada. Ele também não tinha a menor consideração para com as pretensões de
solidão dos habitantes do deserto.
Rauhvertikal não aceitou o conselho do estranho. Ele deixou que ele sentisse que
aqui ninguém da Karstlandia era desejado. Os seus brônquios doíam. Evidentemente
muito mais walla tinha penetrado no seu nariz do que ele pensara. Os poros, este ano,
tinha vindo mais cedo que normalmente.
— Por que não olha logo para cima? — pressionou o invasor. — Você está vendo
que o céu noturno se modificou? Nós vivemos nas bordas da ilha estelar. O Campo-
-Prateado o proclamou. Sempre foi escuro por cima de nós. E como está agora? Você
ainda não notou o que está acontecendo? Isso ainda combina com os ensinamentos do
Campo-Prateado?
Rauhvertikal levantou a cabeça e olhou para cima. A noite estava clara. Nitidamente
as estrelas se destacavam no céu. A imagem tão familiar tinha se modificado. Isso ele já
notara muito antes. O dependente dos instintos poderia poupar-me suas recomendações.
O mar de estrelas se espessara. Onde antes somente tinham brilhado luzes isoladas,
agora havia um cintilar e brilhar de milhões de sóis. Parecia que Opus se desviara de sua
posição na borda da galáxia. Agora todo o sistema parecia cair para dentro da galáxia.
Todos os kartas, ao norte, tinham percebido o que estava acontecendo. Eles tinham
trocado inúmeras ideias sobre os acontecimentos, mas ainda não tinham chegado a uma
conclusão conjunta. Com toda a força e concentração eles tinham escutado para dentro da
galáxia, mas não tinham obtido êxito. Mesmo as forças parapsíquicas reunidas não
conseguiram atravessar este silêncio.
— E então? — perguntou o estranho. — Agora está vendo?
Rauhvertikal silenciou. Ele não sabia o que o outro queria dizer, e preferiu não se
pronunciar.
— Os homens e as mulheres da Karstlandia acreditam que o tufão de estrelas vai
nos alcançar. Ele vai passar por cima de nosso mundo, esmagando-o, e trazendo-nos os
mesmos horrores que também atingiram outros mundos.
Rauhvertikal ficou surpreso. Haveria entre os habitantes de Karst telepatas melhores
que no norte? Ou eles apenas tinham procurado numa outra direção?
— As Escrituras falam de estranhos, que vieram das estrelas para o nosso mundo
— continuou o ser da Karstlandia.
— Eu sei de quem você está falando.
— Estes estranhos estão novamente por perto. Suas esferas se encontram junto às
novas estrelas.
Rauhvertikal silenciou. Ele não queria admitir que ainda não fizera esta descoberta.
— Eu aconselho a que você os procure. E quando os encontrar, observe-os. Depois
disso você saberá o que está vindo ao nosso encontro.
Os pensamentos do habitante da Karstlandia sumiram. Rauhvertikal ficou
refletindo. Ele tinha esquecido completamente que o outro karta viera do território das
rochas vermelhas, para, aqui em cima, chocar os seus ovos na chocadeira de areia. Ele
sabia que uma ameaça indescritível se aproximava de Opus. Até agora ele tentara
ignorá--la. Mas agora ele reconheceu o quanto isso era insensato.
As estrelas tinham começado a se movimentar. Ou o sistema estava caindo para
dentro da galáxia, ou forças naturais inexplicáveis lançavam conglomerados estelares de
fora contra a borda da Via Láctea. Este era o fim do mundo anunciado por Opus-undra-
-mur? Alguma coisa tinha que acontecer, se as estrelas se aproximassem ainda mais. Os
sóis se chocariam e pereceriam?
Rauhvertikal sentiu o medo crescer dentro dele. No primeiro instante ele achou que
o karstlandio o atacava novamente, mas logo teve que verificar que este se mantinha
totalmente passivo. Parecia até que a sua unidade psíquica se tivesse apagado totalmente.
Esta descoberta desviou a atenção de Rauhvertikal novamente. Só havia duas
possibilidades para o estranho. Ou ele recuara completamente, ou então avançara para o
centro da chocadeira, para aproveitar a instalação ideal, que ele erguera em inúmeros
períodos diurnos e noturnos.
Rauhvertikal correu pela areia. Com grandes gritos ele atravessou valetas chatas
transversais, que ele abrira para recolher umidade. A terra descia.
E então pareceu que Rauhvertikal chocou-se contra uma parede invisível. Ele
estacou no meio da corrida para a incubadeira. De todos os lados, os pensamentos de seus
amigos avançaram sobre ele. Os de Rotflach se sobrepuseram a todos os outros impulsos.
— Nós aceitamos o conselho do... (inapetitoso) — ouviu ele.
A designação do estranho somente veio até ele como um sentimento de nojo.
— Ouça, por favor, ouça!
Ele sentiu-se agarrado por uma sucção. Tremendo, ele caiu ao chão do deserto. O
invasor tinha sido esquecido. Pelas vias preparadas pelos espíritos coordenados, seus
dedos sensores telepáticos deslizaram para a amplidão da galáxia, lá fora.
Ali havia uma esfera voadora dos fracos. Rauhvertikal venceu a sensação de
antipatia contra o estranho e a técnica por ele utilizada. E então ele captou toda a
plenitude do horror que dominava estes seres.
Eles tinham sido testemunhas de uma luta sem misericórdia. Eles tinham visto como
a população de um planeta inteiro fora morta. Seus pensamentos e sentimentos se
ocupavam com os aglomerados de estrelas. Eles os designavam como o “Enxame”.
Rauhvertikal ficou sabendo que esta formação surgira na borda da galáxia e agora
começava a penetrar nela. Criaturas saídas do “Enxame” eram responsáveis pelo crime,
que tinha provocado um choque tão violento nos fracos dentro da esfera voadora. Do
“Enxame” também vinha aquela força misteriosa, que tinha modificado o espírito de
alguns kartas.
Rauhvertikal começou a tremer. Ele tentou escudar-se contra o horror. Mas isso ele
não conseguiu totalmente, uma vez que os seus amigos não o admitiam.
***
O terrano Vellox Thyme olhou o seu aparelho de pulso.
O cronômetro mostrava o dia 24 de março de 3.442, tempo terrano. Thyme deixou
cair o braço, e virou-se rapidamente para o space-jet com o qual ele fora recebido a bordo
da Good Hope II, há poucos minutos atrás. Antes ele esperara encontrar o
Administrador--Geral na Intersolar, que voava a apenas poucas centenas de quilômetros
adiante no espaço, mas isso fora um engano.
As escotilhas da eclusa se abriram. Thyme abandonou o hangar e saiu para um
corredor que levava ao elevador antigravitacional. Desta direção aproximou-se dele um
homem, cujos olhos investigadores pareciam atravessá-lo. O correio reconheceu o
telepata Fellmer Lloyd. Imediatamente ele compreendeu que tinha sido investigado
intensamente, antes de lhe ter sido dada permissão para vir para bordo. Ele não o notara
absolutamente.
Lloyd ficou parado diante dele e anuiu, cordialmente.
— Vá até a central de comando, Thyme — disse o mutante. — O senhor está sendo
esperado.
— Obrigado — respondeu o mensageiro, quando Lloyd se virou e seguiu o seu
caminho.
Ele sabia que tinha sido aprovado pela investigação dos mutantes. Na Good Hope II
agora estava-se informado de que ele era um homem absolutamente confiável.
Quando o mensageiro chegou ao elevador antigravitacional, perto dele abriu-se uma
porta. Dois homens saíram para o corredor. Um deles ele reconheceu imediatamente, uma
vez que ele portava uma máscara de plástico. Era Alaska Saedelaere. O seu
acompanhante era delgado e não chamava muita atenção. Ele parecia pálido, e quase
discreto ao lado de Saedelaere.
Os dois homens anuíram para Thyme e se afastaram devagar. Ele ficou parado,
olhando atrás dele.
— Eu estou contente, meu caro Krovzac, que Rhodan finalmente desistiu
definitivamente de sua atitude negativa — disse Alaska Saedelaere. — Depois dos
acontecimentos em Diana, realmente não nos resta mais outra coisa, a não ser um ataque
ao escudo do “Enxame”.
— O risco é grande — respondeu o homem que Saedelaere chamara de Krovzac. —
Talvez até seja alto demais. Se o “Enxame” passar ao contra-ataque em cima da Good
Hope e da Intersolar, ambas as naves estão perdidas.
Alaska Saedelaere respondeu alguma coisa, porém Vellox Thyme não conseguiu
mais ouvi-lo. Inquieto, ele se perguntou o que poderia ter acontecido no planeta Diana.
Deviam ter sido acontecimentos de grande peso, se os mesmos tinham levado Perry
Rhodan a abandonar a sua atitude cautelosa.
O mensageiro entrou no elevador antigravitacional e deixou-se levar para o alto.
Quando ele passou pelo convés seguinte, viu o rato-castor Gucky, que estava parado
diante de uma mulher, numa atitude exageradamente presunçosa. Thyme reconheceu nela
Irmina Kotschistowa, do grupo de Waringer, do mundo científico e de investigações Last
Hope. Irmina também o viu. Ela o cumprimentou com um sorriso cordial, enquanto o ilt
achava que ela dedicava sua atenção exclusivamente a ele.
— Missões especiais naturalmente também exigem personalidades especiais —
declarou ele. — E agora certamente já não poderão mais passar sem mim.
Thyme propôs-se mais tarde trocar algumas palavras com a bioquímica. Ele
esperava que ainda lhe sobraria tempo para isto, depois de ter executado a sua tarefa,
entregando a mensagem de Waringer.
Quando ele alcançou o convés oito um ertrusiano aproximou-se da abertura do
poço. Ele trazia, diante da barriga, um caixote de metal de peso considerável. Em cima da
caixa, Gucky estava acocorado, falando com ele.
— ...Irmina está firmemente convencida de que eu serei membro da 5a Coluna —
sem importar-se com os protestos do adaptado ao meio ambiente. Este não parecia
absolutamente concordar em ainda ter que carregar o rato-castor. — Se neste mundo
existem paras em profusão, eu estarei como se estivesse em casa ali. Isso a
subdesenvolvida inteligência de um terrano devia entender...
Thyme franziu a testa. Ele não compreendera o que Gucky dissera. Agora ele ficou
remoendo sobre o que Gucky teria querido dizer. Ele olhou para cima. Calmamente
esperou até ter atingido o convés certo, para depois sair de dentro do campo de
transporte.
Uma figura estranha veio ao seu encontro. Thyme ficou parado, hesitante.
A criatura parecia um esqueleto ambulante, que vestia uma espécie de uniforme de
mecânico. A cabeça, os ombros, braços e pés estavam livres. Duramente os ossos
marrom-avermelhados batiam no chão.
Os olhos diminutos ficavam profundos, nas suas órbitas. Eles pareciam os olhos
cartilaginosos de um cego. Rapidamente eles se fixaram em Thyme, mas em seguida se
desviaram para alguma coisa que se encontrava atrás do mensageiro. Thyme se virou.
Gucky vinha bamboleando, radiante, atrás dele.
— Gênios dotados parapsiquicamente, naturalmente — disse o rato-castor.
A confusão de Thyme aumentou.
— Como disse, por favor? — perguntou ele.
— Quando digo “paras” estou falando de gênios dotados parapsiquicamente. Isso
está claro, não é mesmo? — Gucky mostrou o seu dente roedor e sorriu para o
mensageiro.
— Muito claro — confirmou Thyme.
Ele sentiu-se burlado, e procurou febrilmente uma resposta adequada. Mas não se
lembrou de nenhuma. Gucky piscou-lhe cordialmente, depois voltou-se para o ossudo.
— Olá, Tahonka No — gritou ele. — Como vão as rodas dentadas? Tudo muito
bem exagerado, não é mesmo?
Enquanto Vellox Thyme continuou o seu caminho, ele ouviu a risada mais estranha
que jamais escutara. Ele olhou para trás, por cima dos ombros. Tahonka No, que não era
muito mais alto do que o rato-castor, tinha aberto bastante a sua boca córnea, dando de si
aqueles sons, que tanto tinham surpreendido Thyme.
As escotilhas da central de comando se abriram. Thyme lembrou-se de sua tarefa.
Perry Rhodan e o arcônida Atlan estavam de pé diante de uma tela de vídeo, que
mostrava o “Enxame”, confabulando em voz baixa.
Thyme entrou na central.
***
— Eu venho do Mundo dos Cem Sóis, sir.
Perry Rhodan ofereceu uma poltrona ao mensageiro, depois de ter respondido à
continência. Parecia que ele não tinha ouvido a observação. Naturalmente ele já sabia, de
há muito, de onde Thyme vinha. Ele já se anunciara, muito tempo antes de começar a
manobra de encontro do seu space-jet com a Good Hope II.
Numa poltrona, que ficava diante do console de controles, Gucky materializou.
Imediatamente adotou uma posição sonolenta.
— Sir, o Professor Waringer gostaria de informá-lo, por meu intermédio, da posição
das investigações no Mundo dos Cem Sóis. — Thyme colocou a pasta de correio sobre a
mesa, abrindo-a. Ele entregou alguns papéis a Rhodan. — O Professor Waringer
necessita, em quaisquer circunstâncias, de mais pessoal especializado qualificado, do que
tem recebido até agora. Ele ficou sabendo que em janeiro o senhor e o Lorde-Almirante
Atlan fundaram em Quinto-Center uma unidade chamada “Comando de Busca de
Informações”.
— Neste caso ele foi informado corretamente — retrucou Rhodan, sorrindo.
— O professor requer urgentemente o envio desse comando. Ele necessita de
algumas centenas de milhares de homens e mulheres que tenham qualificações técnicas e
de ciências naturais, para suas tarefas. O novo aparelho defensivo contra as radiações de
imbecilização na Via Láctea já está no estágio das provas. No momento, entretanto,
Waringer não consegue prosseguir. Ele está convencido de que os trabalhos de
investigação para o aparelho não podem ser concluídos, antes que sejam postos à sua
disposição colaboradores qualificados em grande número.
Perry Rhodan olhou para Atlan. Por cima dos dois homens, Vellox Thyme podia ver
o comandante, que estava de pé, atrás da poltrona do piloto, conversando em voz baixa
com Gucky. A Good Hope II no momento se movimentava através do espaço com uma
velocidade muito reduzida. Ela se encontrava na borda pouco povoada da Via Láctea.
— Os membros do CBI já estão todos em ação — declarou Rhodan. —
Infelizmente, em nossa galáxia, ainda existem muito poucos imunes. Nós temos que
proceder com o máximo de cautela. Existe uma grande quantidade de grandes naves
transportadoras, mas nos faltam as tripulações. Nós prestaríamos imediatamente toda a
ajuda a Waringer, se não fosse tão extraordinariamente difícil encontrar forças
adequadas, para transportá-las ao Mundo dos Cem Sóis. Com este problema especial,
neste momento, está engajado o alto-comando de Quinto-Center.
***
Os olhos de Irmina Kotschistowa se obscureceram. Ela olhou para Vellox Thyme e
disse:
— Os habitantes de Diana não tiveram a menor chance. A gravitação drasticamente
aumentada artificialmente matou todos.
O mensageiro ficou abalado. Agora ele entendia porque Rhodan se decidira pelo
ataque. O mais depressa possível era preciso encontrar um meio para impedir que o
“Enxame” despovoasse ainda outros planetas.
A bioquímica deu a mão a Thyme, apertando a dele firmemente.
— Muita sorte, Vellox.
— Obrigado — retrucou ele.
Ele fez um esforço para sorrir, mas aquilo lhe parecia difícil. A Good Hope II e a
Intersolar logo tentariam romper o escudo de proteção do “Enxame”. Este ataque
facilmente também poderia representar o fim das duas espaçonaves. Talvez ele estivesse
vendo Irmina Kotschistowa agora pela última vez.
— Eu recebi ordens para voar para Quinto-Center, — disse ele, — para levar as
instruções de Rhodan. O space-jet vai sofrer uma revisão geral. Depois eu voltarei para o
Mundo dos Cem Sóis.
— Dê lembranças minhas a Waringer, Vellox.
Eles se deram as mãos mais uma vez. Depois ele foi até o hangar. Ele se
movimentava com passos hesitantes, arrastados, como se estivesse se afastando muito
contra sua vontade.
Irmina sorriu. Ela imaginava o que ia no interior desse homem. Ele teria preferido
muito ficar a bordo da Good Hope II, para voar junto, no ataque que se anunciava. Ele se
sentia como um traidor, que recuava, no momento do perigo.
A escotilha principal fechou-se atrás dele. Poucos minutos mais tarde as luzes dos
controles mostravam que o space-jet já tinha sido lançado ao espaço. Irmina virou-se e
entrou no elevador antigravitacional.
2
Rauhvertikal olhou para a sua sombra, que a luz das estrelas jogava no rochedo. Ele
não se lembrava de jamais ter visto sua sombra de noite. As estrelas que brilhavam
sinistramente e que se aproximavam de Opus, dentro de poucos períodos coronários
pareciam ter se adiantado bem mais que antes. Agora também se espessou nele a
sensação de que neste enxame de estrelas devia haver bilhões de vidas. Ele sentiu que os
seus brônquios começaram a queimar novamente. Na sua consternação ele não dera mais
atenção aos campos protetores diante de suas narinas. Eles simplesmente tinham ruído.
Rauhvertikal sentiu o pânico crescer dentro dele.
Nitidamente os impulsos do estranho de Karstlandia agora chegavam até ele. Eles o
enchiam de má vontade. Sua proximidade o estreitavam do modo que ele pensou, durante
pouco tempo, que estava de pé dentro de uma gruta ruindo. Seus membros começaram a
tremer.
Rauhvertikal foi precipitado no período coronário ativo, com os nervos maltratados.
Seus pés se mexiam, incontroláveis sobre o chão. Bem alto, acima dele, criou-se uma
bola de fogo no ar. Ela relampejou rapidamente, caiu como fagulha para o chão,
ocasionando uma explosão, quando tocou a areia das dunas. Grandes labaredas se
ergueram no ar, saindo do solo do deserto, e clareando a noite.
Rauhvertikal viu o estranho, que estava de pé, no vale intermediário sul, na
frigideira de incubação. Sua cabeça chata batia de um lado para o outro, como se ele
quisesse atravessar uma parede invisível com a mesma. As peças do seu vestuário,
parecido com um saco, foram comprimidas ao seu corpo, pela onda de choque.
O karta gritou quando descobriu o habitante de Karstlandia tão próximo. A pele
mais clara do outro dava-lhe consciência de toda a sua exoticidade: Pareceu-lhe também
que os dois olhos eram maiores e mais escuros que os seus próprios.
Rauhvertikal perdeu o controle sobre si mesmo. Sua mente dotada
parapsiquicamente defendia-se contra o invasor, que evidentemente tinha vencido todas
as suas inibições dadas pela natureza, sob a impressão do seu desejo de choco. Forças
invisíveis o agarraram, arrancaram-no para o ar, e no alto o catapultaram para longe.
Rauhvertikal tremia no corpo todo. Como hipnotizado, ele olhou para o estranho, que foi
afastado do âmbito íntimo da chocadeira, levado por forças telecinéticas. Ele se fechou
contra os gritos telepáticos do outro. Mesmo que ele quisesse, agora não teria mais
conseguido reprimir as reações físicas, que eram causadas pelo outro.
Ele vomitou quando os impulsos do habitante da Karstlandia sumiram. Suas pernas
se dobraram e ele ficou contente porque começava o período coronário passivo. Ele tinha
esperanças de sair dele recuperado fisicamente e psiquicamente estabilizado. E então ele
lembrou-se de que a vida que se aproximava vindo das estrelas ainda era imensamente
mais estranha que o karta do sul.
***
Matra Krovzac entrou na central de comando logo depois de Irmina Kotschistowa e
Tahonka No, o ossudo. Ele viu Perry Rhodan e Atlan, que estavam parados junto do l o
Oficial Cosmonauta, o emocionauta Senco Ahrat.
Tudo estava preparado para o ataque sobre o escudo flexível.
Numa das telas de vídeo Krovzac reconheceu o rosto do Marechal-de-Estado
Reginald Bell, sob cujo comando estava a Intersolar. Ele já combinara a manobra
iminente com Rhodan. Agora a ultra-espaçonave de combate deu partida, acelerando.
O emocionauta Senco Ahrat fez a Good Hope II segui-la. Nos monitores de vídeo o
“Enxame” começou a cintilar mais fortemente.
Matra Krovzac sentou-se numa poltrona. Externamente ele estava muito calmo. Sua
testa, porém, estava coberta de suor. Ele olhava fixamente para as telas de vídeo. As duas
espaçonaves aceleraram com valores máximos. Nitidamente podia reconhecer-se o
escudo protetor do “Enxame”, que brilhava cristalino.
Krovzac olhou para Tahonka No e Irmina Kotschistowa. O ossudo estava parado ao
lado de uma poltrona. Nada nele se mexia. Ele parecia morto. Kotschistowa, a metabio-
-agrupadora estava sentada, relaxada, do seu lado. De vez em quando passava a mão
pelos seus cabelos negros. Num dos monitores de vídeo apareceu o rosto do oficial de
comando de fogo, Toronar Kasom. Ele observava, com os olhos ligeiramente
amendoados, os seus instrumentos, pronto para disparar os canhões transformadores. Ele
parecia convencido de que, com estas armas, podia conseguir êxitos decisivos.
Gucky, que se aconchegara numa poltrona perto de Rhodan e de Atlan, parecia
prestes a adormecer.
— O fogo será iniciado de uma distância de seiscentos mil quilômetros — ordenou
Perry Rhodan. — Dirigir os canhões transformadores e todas as armas disponíveis e
prontas para atirar, em cima das coordenadas predeterminadas.
Krovzac anuiu. Ele não duvidava que o chamado escudo flexível poderia ser
penetrado, com um fogo concentrado bem assestado. A Intersolar podia atacar, com trinta
canhões transformadores ao mesmo tempo. Na ultranave espacial de combate agora, com
toda certeza todos os postos da central de comando de fogo estavam ocupados, enquanto
em outras seções da astronave somente havia pessoal especializado insuficiente à
disposição.
Quanto mais as duas astronaves se aproximavam do escudo flexível, mais nítido
ficava que a Good Hope II deslizava na sombra de rastreamento da Intersolar.
A contagem regressiva começou. Numa velocidade tremenda a distância até o ponto
de ataque se fundia.
E então começou a fase de retardação. As duas astronaves não deviam voar
velozmente para dentro do centro de fogo. Elas eram obrigadas a manterem um
afastamento de segurança, até que se tivesse certeza de que o ataque tivera êxito.
Matra Krovzac olhou para a tela de controle. A contagem regressiva se esgotava.
A Intersolar começou a disparar uma salva depois de outra, numa sequência veloz.
Ao mesmo tempo faziam fogo os dois canhões polares, com total capacidade. A ordem
de Rhodan parecia afundar, porém Toronar Kasom fez os foguetes dos canhões
transformadores da Good Hope II seguirem rapidamente para o escudo flexível.
Um dilúvio de fogo, a perder de vista, resultou. A proteção contra o ofuscamento
escurecia as telas de vídeo, de modo que não se podia reconhecer a medida total dos
imensos fogaréus atômicos. Mesmo assim o “Enxame” desapareceu atrás de uma parede
de luz de pura energia. As duas astronaves terranas dispararam seus canhões
transformadores, durante exatamente quatro minutos, numa sequência ininterrupta. Todos
os foguetes alcançavam o mesmo ponto do escudo flexível. Cada unidade desenvolvia
uma energia de quatro bilhões de toneladas de TNT.
Matra Krovzac surpreendeu-se pelo fato de ter-se levantado de um salto, para
aproximar-se das telas de vídeo. Fascinado, ele olhou para os aparelhos de rastreamento e
medição, e sentiu uma decepção sem limites crescer dentro dele.
Aquele dilúvio de energia não causara qualquer efeito contra o escudo protetor do
“Enxame”. O fogo concentrado de mais de trinta canhões transformadores não tinha sido
capaz de abrir uma brecha naquela formação estranha que brilhava, cristalinamente.
— Encerrar a ação — ordenou Perry Rhodan. — Vamos recuar para o ponto de
partida.
Krovzac não conseguia entendê-lo. Ele viu a decepção no rosto dos outros. Rhodan
parecia ser o único que não apenas registrara o resultado da ação, mas também o aceitara.
O ataque se demonstrara sem efeito, e com isso era sem sentido disparar mais um único
tiro dos canhões transformadores.
Krovzac mal notara que a Good Hope II e a Intersolar tinham chegado a parar.
Agora elas já se afastavam novamente do “Enxame”. O fogo atômico continuava a
queimar no espaço. Um sol gigante parecia ter nascido na borda do escudo flexível.
A atenção dos homens e das mulheres nas duas naves não diminuiu. Cada um deles
agora esperava por uma reação do “Enxame”. Alaska Saedelaere, que chefiava a central
de rastreamentos, porém, não passou nenhuma informação. A uma pergunta de Rhodan,
ele apenas sacudiu a cabeça.
Ao golpe das naves terranas não se seguiu nenhum contragolpe. O adversário
parecia saber que, atrás do escudo flexível, ele se encontrava em segurança. Parecia que
ele podia dar-se ao luxo de ignorar inteiramente o ataque.
A Good Hope II e a Intersolar recuaram para o ponto de partida da ação.
Perry Rhodan olhou para o seu cronômetro.
— Vamos esperar pela avaliação — disse ele. — Depois disso, discutiremos como
vamos prosseguir.
***
Perry Rhodan levantou-se da cama, na qual estivera deitado, quando Matra Krovzac
entrou na sua cabine. Ele anuiu para o cientista, cuja especialidade era física de quinta e
sexta dimensões, e ofereceu-lhe uma poltrona.
— A avaliação do rastreamento e das observações deu o resultado esperado — disse
Rhodan. — Nós não conseguimos nenhum resultado com os canhões transformadores.
Matra Krovzac sentou-se. Correspondia à sua maneira reservada, que ele dissesse:
— O senhor contava com isso.
Rhodan também sorriu.
— Os cientistas da Good Hope II temiam isso — corrigiu ele. — Eles tinham uma
outra sugestão.
— Sim, sir, eu estou convencido de que nós não vamos conseguir nada contra o
“Enxame” com uma política de murros. Presumivelmente vamos ter mais sucesso com
alfinetadas bem assestadas.
— O senhor está pensando na 5a Coluna, da qual eu e Atlan já falamos?
— Correto, sir — concordou Krovzac. — Nós temos que desistir da cautela que
tivemos até agora. Um pequeno grupo de especialistas deve tentar penetrar no “Enxame”.
Eu penso em seis a oito pessoas. Um comando especial como este poderia ter chances
suficientes para descobrir o que está sendo jogado.
O Lorde-Almirante Atlan entrou na cabine. Ele ouvira as últimas palavras. Ele
anuiu, concordando para o físico-sextadim e sentou-se.
— Nós ainda sabemos pouco demais, para podermos atacar o problema “Enxame”
de modo a podermos esperar sucesso — disse ele. — Uma grande parte dos enigmas já
foi resolvida. Os Conquistadores Amarelos, estes seres viventes semelhantes a abelhas,
ocupam planetas estranhos, influenciam suas constantes gravitacionais e sua temperatura,
e depois se dividem em sete partes. Um exemplar, portanto, se transforma em sete. Isso,
basicamente, é tudo que sabemos até agora. O número de questões não resolvidas é
esmagador.
Perry Rhodan não respondeu. Ele ergueu-se e apoiou-se com as costas na parede.
— Até agora não conseguimos meter um comando de ação dentro do “Enxame” —
verificou ele. — A tática de colocar algumas pessoas num planeta que previsivelmente
será absorvido demonstrou ser um fracasso.
Matra Krovzac agora também se levantou. Ele olhou rapidamente para Whisper,
que estava em volta dos ombros de Perry Rhodan, como uma capa. Na sua maneira
reservada ele retrucou:
— A questão mais premente agora não é exatamente como nós podemos entrar no
“Enxame”.
Atlan ergueu a cabeça, espantado.
— Não? — perguntou ele.
— O estado-maior científico da Good Hope II coloca um outro problema em
primeiro plano — disse o físico-sextadim. — O “Enxame” penetra na galáxia com
metade da velocidade da luz. A densidade estelar cresce. Por isso se pergunta o que vai
acontecer com aqueles sistemas estelares que ficam no caminho do “Enxame”. Estes sóis
ou sistemas solares serão sugados pelo “Enxame”? Eles mais tarde serão expulsos
novamente? Eles são radicalmente destruídos quando se chocam com o escudo flexível?
Ou nossos adversários têm uma possibilidade de simplesmente ignorá-los, com um
método de sobreposição?
Rhodan anuiu, concordando. Também ele já tivera sua atenção atraída para esse
problema. Esta questão precisava ser resolvida. Ninguém podia dizer até agora se o
“Enxame” não penetrava como uma bala formidável na Via Láctea, com um efeito
absolutamente destruidor. Ele mesmo evidentemente estava otimamente protegido pelo
escudo flexível. Por isso não era impossível que ele destruiria estrela depois de estrela,
sistema solar após sistema solar, provocando, deste modo, uma catástrofe de âmbito
galáctico.
— O senhor já falou com Tahonka No sobre estas questões? — perguntou Perry
Rhodan.
Krovzac anuiu.
— Ele não soube me dizer nada a esse respeito — respondeu ele. — O ossudo,
entretanto declarou que a absorção de planetas ricos em matérias-primas era
extremamente rara.
— Então esta já é uma notícia positiva — disse Rhodan. — Isso nos dispensa da
necessidade de procurarmos por mundos com ótimas matérias-primas, com muita pressa.
Ele foi até o automático de aprovisionamento e digitou um refresco para si.
— O senhor tem razão. Antes de mais nada precisamos saber o que acontece com
aqueles mundos, que automaticamente estão na rota do “Enxame”. De alguma maneira
eles devem ser influenciados. Nós temos que descobrir como isso é realizado. Todas as
outras questões, por agora, devem ser postas de lado.
— Deste modo chegamos novamente à 5a Coluna — interveio Atlan.
— Correto — concordou Rhodan. — Nós vamos formar este comando especial e
utilizá-lo de maneira objetiva. Só deste modo conseguiremos solucionar as questões mais
importantes. Nós temos que levantar esta unidade de risco.
Ele olhou, interrogativamente, para Krovzac.
— Pelo que conheço do senhor, certamente já deve ter pensado quem deverá
pertencer à 5a Coluna.
— Uma unidade especial deve ser formada por especialistas, sir.
— Por exemplo? — Rhodan sorriu.
Ele estava realmente muito curioso em saber em quem o cientista da Good Hope II
pensara.
— Nós gostaríamos de sugerir Tahonka No, que está informado sobre as condições
dentro do “Enxame”, como nenhum outro. Depois Fellmer Lloyd, o telepata e
rastreador--sensitivo, Toronar Kasom, o ertrusiano, Irmina Kotschistowa, a metabio-
agrupadora — declarou o cientista e acrescentou, hesitante: — E eu.
— Alaska Saedelaere também deveria fazer parte — disse Atlan, que antes já se
declarara pronto para assumir o comando.
Gucky materializou no seu colo.
— Em mim, estou vendo, ninguém está pensando, não é? — perguntou ele,
indignado. — Pois eu acho que está muito claro que a 5a Coluna, sem mim, logo de saída
é um caso perdido.
***
Perry Rhodan abandonou a cabine do Marechal-de-Estado Reginald Bell e dirigiu-
-se para o computador positrônico principal da Intersolar.
Entrementes fora verificado que o “Enxame” se aproximava de um pequeno sistema
solar. O choque era iminente.
O Administrador-Geral decidira seguir as sugestões dos cientistas. A 5a Coluna fora
formada. Ela se compunha das pessoas recomendadas por Krovzac, Alaska Saedelaere e
Gucky e ficava sob o comando de Atlan. As duas espaçonaves já tinham tomado a rota do
sistema solar rastreado. A entrada em ação da unidade especial agora era ainda apenas
uma questão de tempo.
Os acontecimentos no planeta Diana, durante os quais a população de todo um
planeta fora exterminada, agora forçava à adoção de uma vigorosa estratégia de avanço.
Os mais importantes oficiais e cientistas da Good Hope II e da Intersolar concordaram,
numa grande conferência, sobre os passos que, de agora em diante, deviam ser tomados.
Rhodan sabia muito bem o quanto era perigosa a missão num planeta do sistema solar
ameaçado, uma vez que ninguém sabia o que poderia acontecer. O empreendimento dos
oito voluntários, nestas circunstâncias, poderia terminar em morte. Ainda assim, os
melhores especialistas e os insubstituíveis mutantes, precisavam participar do
empreendimento. Somente eles, no caso de uma catástrofe, tinham uma chance de
sobrevivência.
Rhodan alcançou o computador positrônico principal. Ele ficou parado na escotilha
de entrada. Matra Krovzac, que parecia incansável, estava sentado diante do banco de
dados. Diversos monitores de vídeo haviam sido ligados. Num deles Perry Rhodan
reconheceu uma criatura parecida com um gafanhoto, que andava, ereta, sobre uma duna
de areia. Ele usava uma vestimenta parecida com um saco, cujas peças voejavam em
volta do corpo magro. O rosto parecia redondo, uma vez que a testa recuava, logo acima
dos dois olhos. As três pernas, em forma de coluna, terminavam em pés engrossados, que
eram um estranho contraste para com os dois braços finos e muito compridos.
Rhodan caminhou até o cientista. Krovzac virou-se, ligeiramente para ele.
— Este é um karta — declarou ele. — Um dos habitantes de Nurmo II, no sistema
solar Opus-Nurmo. Este é o sistema que fica no caminho do “Enxame”, sir.
Rhodan sentou-se na poltrona, ao lado do físico-sextadim.
— O sistema foi descoberto pelo Coronel Nurmo — explicou este,
espontaneamente. — Por isso leva o seu nome.
— Opus? Por que este nome curioso?
Krovzac fez uma ligação. Numa das telas de vídeo apareceu uma rede confusa de
traços, curvas e círculos coloridos.
— Este é um desenho rupestre que o descobridor achou no segundo planeta do
sistema — disse Krovzac. — Dele parecia emanar um forte efeito hipnótico. Na primeira
vez que o vi, logo tive que pensar na palavra Opus. Isso foi ainda antes de eu ter sido
informado do nome do sistema.
Ele apertou um botão. O desenho que parecia hipnótico desapareceu. Rhodan
passou a mão pelos olhos. De repente eles lhe doíam. A pressão que ele sentira,
entretanto, desapareceu muito rapidamente.
— O Coronel Nurmo ainda descobriu uma série desses desenhos, que registrou —
continuou Krovzac. — Deles, nós descobrimos outras noções. Como, por exemplo, o
nome dessas criaturas, kartas. Um dos registros hipnóticos causa uma manifesta vontade
de solidão. Eu fui surpreendido com isso, e de repente me senti constrangido. Tahonka
No estava próximo de mim. Eu poderia ter-me atirado sobre ele, para tocá-lo dali.
Felizmente eu ainda me dei conta em tempo que a influência dos hipnodesenhos estava
passando. Eu desliguei a imagem e tudo estava novamente em ordem. Só então notei que
o ossudo sentira a mesma coisa que eu, e por um fio me teria expulsado do recinto.
“O computador positrônico contém grande quantidade de material acerca do sistema
solar. O Coronel Nurmo era muito metódico. Opus-Nurmo possui três planetas. O interior
é um inferno incandescente. O segundo é um mundo muito quente, do tamanho de Marte,
com extensos desertos e só muito poucas fontes de água. Nele os kartas ergueram uma
cultura sem qualquer técnica. Entretanto, se as anotações do descobridor estiverem
corretas, ela parece impregnada muito fortemente pelos dons parapsíquicos dos kartas.
Nurmo III é um mundo de gelo, que poderia ser comparado com o antigo Plutão do
Sistema Solar terrano.”
Rhodan olhou para a tela de vídeo, na qual podia reconhecer-se um karta. A
necessidade de solidão, da qual os hipnorregistros tinham falado, parecia-lhe muito
lógica. Nos desertos deste planeta só podiam existir muito poucos seres viventes, uma
vez que eles dependiam da água. Presumivelmente cada karta defendia a sua fonte, que
para ele devia ser o centro da vida.
— Os kartas são extremamente inteligentes, se Nurmo não se enganou — disse
Krovzac. — Aparentemente eles não conhecem nem técnica nem ciência. Eles moram em
grutas de terra, primitivas, nas quais não há qualquer conforto civilizado, conforme nós o
entendemos. A sua cultura se orienta para pontos de vista totalmente exóticos.
— O Coronel Nurmo pôde entrar em contato com os kartas? — perguntou Perry
Rhodan.
— Não. Esses paras recusam qualquer contato com os estranhos. Nurmo teve que se
retirar, quando os kartas o atacaram.
***
O ilt rematerializou na cantina da Good Hope II. Para sua tristeza ele não encontrou
ninguém no recinto. Ele já estava querendo saltar adiante, quando Tahonka No entrou no
recinto. Seus pés ossudos bateram pesadamente no chão. Ele parou, ao ver Gucky, porém
depois dirigiu-se para uma poltrona e sentou-se. Com isto soou um fino chiado. O rato-
-castor mostrou o seu dente roedor.
— Você devia lubrificar as suas articulações — aconselhou ele. — Você range, que
nos faz azedar até os dentes de leite.
Tahonka No apontou para o dente roedor e perguntou:
— Esse é um dente de leite?
— Esse nunca azeda — respondeu Gucky, rápido. — Eu estava mesmo era
pensando nos dentes de Irmina.
Ele apontou para a cientista, que entrara na cantina.
— Como disse? — perguntou a bioquímica. — Eu não entendi do que estão
falando.
Gucky recostou-se na sua poltrona. Ele olhou para Irmina Kotschistowa e chegou à
conclusão de que não valia a pena discutir com uma jovem terrana acerca de dentes.
Toronar Kasom entrou no recinto. O ertrusiano ficou parado diante da mesa. Sua
mão repousava no microgravitador no seu cinturão. O aparelho estava ligado para 3,4 G e
com isso facilitava ao oficial de comando de fogo a gravidade acostumada.
— O plano agora está decidido — declarou ele. — Eu acabei de falar com Rhodan.
Quando a Good Hope II alcançar o sistema Opus-Nurmo, nós abandonaremos a nave
com as naves lenticulares. Só deste modo, previsivelmente, vamos poder evitar de sermos
rastreados. A Good Hope II e a Intersolar recuarão. As duas espaçonaves não podem, de
modo algum, ser postas em perigo.
— Em que planeta nós vamos pousar? — perguntou Tahonka No.
Sua voz soava gutural e alta. Quando ele movimentou um braço, soou novamente
um fino rangido. Somente Gucky ouviu-o. Ele estremeceu, como se tivesse sentido
alguma dor física. Preocupado, ele olhou para o ossudo.
— Isso ainda não foi fixado — respondeu Kasom. — Eu suponho, entretanto, que
primeiramente voaremos na direção do planeta de gelo. Um encontro com os kartas não é
necessariamente aconselhável.
***
Enquanto a Intersolar ficava para trás, a Good Hope II, depois de uma curta
manobra linear, voou para dentro do sistema Opus-Nurmo.
Perry Rhodan observou nas telas de vídeo da central de comando, como os
membros da 5a Coluna embarcavam nas naves lenticulares.
As compridas elipses eram tão chatas, que dois homens somente podiam ficar
deitados, um do lado do outro, dentro delas. Estes veículos espaciais, que tinham sido
criados para missões dentro de sistemas solares, possuíam uma propulsão muito forte,
que, porém, tinha apenas uma vez a velocidade da luz. Com um comprimento de seis,
uma largura de dois e uma altura de 1,4 metros, o propulsor ocupava a maior parte do
espaço.
Atlan e Irmina Kotschistowa, Alaska Saedelaere e Fellmer Lloyd, Matra Krovzac e
Tahonka No já tinham entrado nas suas naves lenticulares. Eles estavam deitados nos
leitos anatômicos e faziam uma checagem dos instrumentos. Um depois do outro, em
seguida, comunicou que estava pronto para a partida.
Toronar Kasom, o ertrusiano, teve alguma dificuldade de entrar pela escotilha de
embarque, devido ao seu corpo enorme. Com uma altura de 2,51 metros e uma largura
nos ombros de 2,13 metros, era preciso muita habilidade para entrar na microespaçonave.
Gucky estava parado diante da entrada, divertindo-se, e dando bons conselhos ao oficial
de comando de fogo. Quando Kasom, já se encontrava na lentilha, ele quase preenchia
todo o seu interior. Gucky teleportou para dentro da mesma. Perto da cabeça do adaptado
ao meio ambiente, ele ainda encontrou um lugarzinho, suficiente para ele.
Kasom fechou a escotilha de embarque e logo em seguida comunicou que estava
pronto para a partida.
Segundos mais tarde as quatro espaçonaves lenticulares foram atiradas do hangar
para o espaço, e rapidamente se afastaram da Good Hope II.
Perry Rhodan olhou para os monitores de vídeo, nos quais os reflexos rapidamente
ficaram menores.
Lentamente ele virou-se e ordenou que a Good Hope II fosse elevada para a
proteção contra rastreamentos, nas proximidades do sol Opus-Nurmo.
Em uma das telas podia reconhecer-se, fracamente, Nurmo III. Por trás expandia-se
o “Enxame”. Ele cintilava e brilhava tão fortemente, que praticamente encobria o terceiro
planeta do sol amarelo-pálido do sistema. O “Enxame” agora não podia ser reconhecido
apenas pelos aparelhos de rastreamento, mas também podia ser visto facilmente a olho
nu. O imenso cintilar e tremular dessa formação enchia todo o campo de visão, da borda
externa da galáxia. O “Enxame” tinha aqui, no arredondamento dianteiro de sua cabeça,
uma largura de aproximadamente 820 anos-luz. Ele se aproximava tão rapidamente, que
para os homens da Good Hope criou-se a impressão de uma parede de cristal que caía
sobre eles.
O que iria acontecer?
O “Enxame” sugaria para dentro de si o sistema Opus-Nurmo? Ele certamente
podia absorver dentro de si algumas estrelas e sistemas solares, levando-os consigo.
Quanto mais profundamente, porém, ele penetrava na galáxia, maior se tornava o número
dos objetos cósmicos que se encontravam diretamente na sua rota.
— A Good Hope II vai conservar-se em prontidão de fuga — disse Perry Rhodan.
Sendo Ahrat, o primeiro oficial cosmonauta, confirmou as instruções. Ele olhou
para Rhodan. Uma ruga vertical se fez acima do nariz do chefe da expedição. Em caso de
catástrofe, a Good Hope II teria que fugir imediatamente de dentro do sistema solar.
Ninguém mais, então, poderia preocupar-se com os membros da 5a Coluna.
3
***
— A ordem na qual as espaçonaves pousaram, deve ter algum significado — disse
Matra Krovzac. Ele projetou mais uma vez os dispositivos que tinha filmado, para que
Atlan pudesse vê-los, novamente. — Veja, elas formam um círculo matematicamente
exato.
O Lorde-Almirante empalideceu.
De repente ele tivera uma ideia que não ousava pronunciar. Por que a frota tinha
pousado no polo? Por que essa formação? Os instaladores do “Enxame” planejavam
explodir Nurmo II? Eles queriam esfacelar todo o sistema, antes que ele se chocasse com
o “Enxame”?
— Não — interveio Fellmer Lloyd.
Ele tinha captado os pensamentos de Atlan.
Com o dedo Atlan bateu na tela do monitor de vídeo, no qual agora podia
reconhecer-se uma única espaçonave, com as cifras de medição correspondentes. O
gigante alcançava uma altura de 6.500 metros. A base, com a qual a espaçonave pousara,
tinha um diâmetro de 2.000 metros. A formação das 32 astronaves formava uma
montanha de potência esmagadora.
— Nós precisamos solucionar a questão — declarou Atlan. — Por isso vamos tentar
alcançar a central de comando de uma das naves, para ali esclarecer as perguntas em
aberto.
Ele olhou em torno. Nenhum dos outros desviou o olhar. Matra Krovzac mastigou
os lábios. Ele deu um passo à frente, de modo que agora estava de pé diretamente diante
de Atlan, sentado na escotilha aberta da nave lenticular. Fellmer Lloyd estava acocorado
atrás dele, na cabine. Ele desligou os aparelhos de avaliação.
— Sir — começou o físico-sextadim, hesitante. — Lembre-se, por favor, que eu sou
especialista para tarefas deste tipo. É de minha especialidade poder avaliar imediatamente
as observações que vamos poder fazer na central dessa nave. Eu poderia...
Atlan colocou-lhe a mão no ombro.
— Eu sei — retrucou ele. — Para mim, entretanto, é mais importante sabê-lo aqui,
para que, em caso de emergência, possa rapidamente vir em nosso socorro.
— Sir, eu gostaria de...
Atlan sacudiu a cabeça.
— Eu preciso do senhor aqui. Fique de prontidão, e conte com que nós poderemos
passar os resultados de nossa ação, pelo caminho técnico de rádio, caso não houver outra
possibilidade. Mantenha-se quieto, para que os kartas não sejam provocados. E — preste
atenção em Tahonka No. Ele está se comportando de modo estranho...
Matra Krovzac virou-se. Ninguém se incomodara com o ossudo. O cientista agora
dirigiu-se até ele. Tahonka No estava sentado em cima de uma rocha e não se mexia.
O físico curvou-se para ele. Ele podia ver o rosto do ossudo, através da viseira do
seu traje de combate.
Ele estava recoberto de manchas verdes e azuis.
Elas pareciam “sprays” de tinta.
6
Perry Rhodan desligou o projetor, depois de ter lido mais uma vez esta mensagem
do desconhecido Opus-undra-mur. Ele perguntou-se pela enésima vez que significado
estes hipnorregistros teriam para o planeta Nurmo II ou para todo o sistema.
— Nurmo II nem sempre deve ter sido um planeta deserto — observou Joak
Manuel Cascal, o chefe do departamento de radiocomunicações. — Quero dizer,
certamente deve ter havido algumas catástrofes agravantes da natureza, que modificaram
radicalmente as condições de vida no planeta, dentro de pouco tempo. As
hipnomensagens fazem concluir isto.
— Eu entendo estes hipnorregistros como advertência contra isolamento
autodesejado — retrucou Rhodan. — Ao que me parece os kartas se comportaram
exatamente de modo contrário. Eles se recolheram e permanecem num só lugar, em vez
de procurarem por uma saída de sua situação.
Ele levantou-se da poltrona em que estivera sentado.
Ele olhou para o mostrador de data, por cima do console de controles. Este
mostrava o dia 29-03-3.442, tempo terrano. Hora de bordo: 23:38 horas.
— Quando é que o “Enxame” vai chegar? — perguntou ele.
Joak Cascal foi até o computador e leu:
— Dentro de 28 horas. A distância agora ainda é de 15 bilhões de quilômetros.
Perry Rhodan refletiu. A Good Hope II agora ainda estava uma hora e meia-luz
distante de Opus-Nurmo. Esta distância de segurança era suficiente. Ela não fora
rastreada. Daqui, entretanto, não era mais possível seguir os acontecimentos em Nurmo
II.
Eles tinham que esperar. Em situação de emergência extrema, o cruzador leve podia
voltar ao sistema solar em perigo, dentro de poucos minutos.
***
Atlan deu as últimas instruções. Ele veio até Matra Krovzac e disse:
— Procure ajudar Tahonka No, de alguma maneira.
— Eu não sou médico — retrucou Krovzac. — Mas vou fazer o que posso — o que
não é muito.
Atlan estendeu-lhe a mão e despediu-se. Pouco mais tarde Atlan, Irmina
Kotschistowa, Alaska Saedelaere, Fellmer Lloyd, Toronar Kasom e Gucky ergueram-se
nos ares. E saíram pairando por cima dos rochedos.
Matra Krovzac não sabia o que devia sentir. De um lado sentia-se com vontade de
participar da expedição para o norte. Ela previsivelmente traria o esclarecimento das
questões ainda abertas. Por outro lado ele sabia que as quatro naves lenticulares
precisavam ser protegidas, de algum modo, dos ataques dos kartas. Nem ele nem
Tahonka No dispunham de possibilidades de defesa como os mutantes, ou de forças tão
extraordinárias como o ertrusiano Toronar Kasom. Eles podiam contar apenas com suas
inteligências.
O físico ajoelhou-se perto do ossudo e olhou através da viseira de proteção para o
rosto de Tahonka No.
— Como está se sentindo? — perguntou ele.
Tahonka No apenas sacudiu a cabeça. Ele tentou levantar o braço esquerdo, mas
não conseguiu. Pelo rádio de capacete veio até ele um rangido, que lhe fez correr um frio
pela espinha. Parecia que peças enferrujadas estavam se mexendo, raspando umas nas
outras. O ossudo gemia.
Krovzac verificou que o recipiente de água do traje de combate estava vazio. Ele foi
até a espaçonave lenticular que ele guiara, e voltou com água e o analisador de ar. Ele
reencheu o recipiente de líquido de Tahonka No. O doente rapidamente bebeu tanto que o
esvaziou, de modo que o físico teve que reenchê-lo rapidamente outra vez. Depois
Krovzac examinou o ar novamente. Também agora ele verificou que não havia bactérias
ou vírus perigosos para terranos no ar. O aparelho, entretanto, isolou alguns esporos de
plantas.
Ele carregou o ossudo até sua astronave lenticular e o colocou sobre o peito
anatômico. Para poder melhor tratar dele, ele quis abrir o capacete, porém Tahonka No
segurou suas mãos. A cada movimento dos seus membros ouvia-se um rangido.
Evidentemente ele temia a atmosfera deste planeta.
— Eu só preciso de descanso — disse o enfermo. — E um pouco de água.
— Ok — retrucou Krovzac. — Eu vou cuidar do senhor. Espero que os kartas não
nos incomodem.
Ele afastou-se alguns passos e foi até a lentilha na qual Atlan e Gucky tinham
voado. Na escotilha aberta da eclusa ele depositou o analisador e começou com o exame
dos esporos. Já depois de uma meia hora de testes ininterruptos, ele descobriu que eles
reagiam violentamente ao cálcio. Eles formavam cristais estrelados de cor azul.
Matra Krovzac acreditou ter encontrado a causa da infecção de Tahonka No.
Entretanto ainda não via uma saída. Como não era médico, nem estava informado sobre a
constituição biológica do corpo de Tahonka No, ele não sabia como prosseguir. Agora
Irmina Kotschistowa, como bioquímica, provavelmente teria melhores possibilidades.
Krovzac voltou para o ossudo. Ele curvou-se para ele, de modo que podia olhá-lo
no rosto. Ele assustou-se. As manchas tinham se espalhado. Pequenas estrias tinham
formado ligações, de modo que agora uma rede verde-azulada parecia cobrir a cabeça de
Tahonka No.
— Eu vou mandar uma mensagem cifrada para a Good Hope II — declarou ele. —
Talvez o Dr. Jensen saiba o que fazer. Ele é o melhor médico que eu conheço.
— Todos os outros médicos também devem estar muito longe — disse o ossudo,
com esforço. — Mas ele também não pode me ajudar. Uma mensagem cifrada não pode
ser enviada. Ela poderia pôr os outros em perigo.
Krovzac mordeu o lábio. Ele sabia que Tahonka No tinha razão. Eles tinham que
manter-se quietos. Somente depois que os acontecimentos junto às espaçonaves do polo
norte ficassem tão turbulentos que mesmo uma mensagem cifrada não podia mais revelar
nada, eles podiam sair de sua reserva.
— Tahonka No — disse Krovzac. — O senhor é uma espécie de cirurgião de vasos,
não?
— Eu sou regulador de alta-pressão.
— Isto, para suas noções, é aproximadamente a mesma coisa. Diz-lhe alguma coisa,
que eu encontrei esporos, que reagem muito violentamente ao cálcio?
— Não — retrucou o ossudo. — O meu corpo contém muito cálcio.
A sua voz ficava cada vez mais baixa, até que quase já não se conseguia entendê-la.
Depois Tahonka No emudeceu totalmente. A boca córnea estava firmemente fechada.
Primeiramente Krovzac temeu que o ossudo já não vivia, mas depois ouviu sons que
pareciam assobios e rangidos.
***
A 5a Coluna alcançou a região periférica da Karstlandia. Os rochedos decaíam
abruptamente. Nas dunas adjacentes, aqui e ali ainda sobressaíam pedras vermelhas, mas
estas interrupções da superfície arenosa ficavam cada vez mais raras, na proporção em
que a vista alcançava para o norte.
Atlan, que estava de pé entre dois blocos de pedra, viu as superfícies das
incubadoras, perfeitamente circulares, que ficavam entre ele e os territórios do norte,
como um cinturão fronteiriço.
— Nós temos que passar em volta destas instalações — disse ele.
Alaska Saedelaere, que estava de pé, do seu lado, anuiu, concordando.
— Eu não gostaria de me encontrar, mais uma vez, como um karta.
Gucky declarou:
— Eu vou dar uma rápida olhada a oeste, para ver se podemos passar melhor por
ali.
Ele desmaterializou. Os outros esperaram, até que ele voltou, aproximadamente dois
minutos depois.
— Lá embaixo há um desfiladeiro, que leva para o norte. Parece ser o leito seco de
um rio.
— Vamos tentá-lo por lá — determinou Atlan.
Ele regulou o aparelho antigravitacional do seu traje de combate, e partiu para o
oeste. Os outros o seguiram. Eles se mantiveram na cobertura dos rochedos, para não
chamar, inutilmente, a atenção dos kartas sobre o grupo. Quando alcançaram diversos
rochedos, amontoados como pirâmides, Gucky ultrapassou o arcônida e apontou para o
oeste. O grupo mudou de direção. Na realidade o deserto aqui decaía um pouco.
Protegidos visualmente pelas dunas, eles continuaram penetrando para o norte. Atlan
acelerou a velocidade, uma vez que a natureza se mantinha bem calma. De vez em
quando eles viam, muito distantes, massas de areia subindo em turbilhão aos ares. Quanto
mais, porém, eles se aproximavam do seu destino propriamente dito, mais se reforçava a
agitação.
O céu nortenho estava coberto de nuvens fumarentas. Isso na realidade era uma
surpresa, pois até agora eles nunca tinham visto uma nuvem por cima de Nurmo II. O ar
era tão seco que nunca chegava à formação de nuvens.
— Ou os kartas conseguiram fazer explodir uma ou mais espaçonaves, — disse
Atlan, — ou eles fizeram com que houvesse erupção de vulcões.
Os outros desistiram de uma resposta, pois não parecia haver outra possibilidade.
Quando eles se aproximaram do polo norte em até cinquenta quilômetros, as nuvens
de fumaça se tomaram ainda mais espessas. Mesmo assim eles já conseguiam ver as
pontas das espaçonaves estranhas.
— Vulcões — verificou Gucky. — Os kartas rasgaram o solo de Nurmo II.
— Eu duvido que eles realmente consigam alguma coisa, com isso — disse Atlan.
O grupo agora voava em alta velocidade por cima de uma faixa rochosa de terreno.
Por toda a parte pontas de rochas saíam abruptamente do chão. Por isso o terreno ficou
com menos visibilidade.
— Atenção! — gritou Gucky, repentinamente.
Ele sentiu a irradiação psíquica dos kartas como um golpe físico. Parecia que lhe
haviam acertado um soco no estômago. Também Fellmer Lloyd reagiu, com um grito,
aos impulsos. Ele foi surpreendido, do mesmo modo que o ilt.
Numa distância de cerca de quatro quilômetros formou-se uma brecha, que
rapidamente se alargou, até alcançar de horizonte a horizonte. Massas de lava
incandescente, muito vermelhas, espirraram dali, para o alto. Com um barulho
indescritível aquele fogo líquido foi atirado muitos milhares de metros nos ares. Irmina
Kotschistowa e os cinco homens ligaram os escudos defletores e continuaram o voo,
apenas diminuindo um pouco a velocidade.
Atlan procurou, inutilmente, por um caminho, que os desviasse daquele inferno. O
vulcão formava um paredão de fogo impenetrável, diante deles.
— Nós temos que sair daqui — gritou Gucky. — Eu vou saltar.
Ele agarrou Atlan pelo braço e apontou para o sul. O arcônida levou um susto. De
repente ele entendeu o plano dos kartas. No deserto estava se formando uma tempestade.
Numa velocidade inconcebível, as massas de ar revolvidas se aproximavam. Elas
arrastavam areia e poeira consigo. Sob a pressão, aquelas pedras incandescentes seriam
arremessadas para o norte, para cima das espaçonaves dos instaladores do “Enxame”. Se
Gucky não os libertasse da área que ficava entre a tempestade e o vulcão, eles seriam
arremessados para dentro da lava.
O ilt desmaterializou junto com Atlan. Segundos mais tarde ele voltou, agarrou
Irmina Kotschistowa e desapareceu com ela. Eles rematerializaram perto de Atlan.
— Vamos continuar nosso voo — disse o Lorde-Almirante para ela. — Gucky vai
cuidar dos outros.
A bioquímica ergueu o braço, concordando. Quando, pouco depois, ela se virou
mais uma vez, viu que Alaska Saedelaere e Toronar Kasom já os seguiam. Gucky e
Fellmer Lloyd estavam justamente surgindo deste lado da brecha do vulcão.
Atlan aumentou a velocidade. Fumaça, areia e sujeira davam-lhes uma excelente
cobertura. Temporariamente a visibilidade ficava tão ruim que não se podia mais ver as
espaçonaves.
Um barulho ensurdecedor interrompeu o seu avanço. O ruído era tão grande, que
ameaçava perfurar os seus tímpanos, apesar de estarem com os microfones externos
regulados para volume mínimo. Ao mesmo tempo foram agarrados pela tempestade, que
os jogou contra uma duna de areia, que surpreendentemente se levantou diante deles. Eles
se chocaram violentamente, mas foram suficientemente protegidos pelas instalações dos
seus trajes de combate. Irmina Kotschistowa apenas sofreu algumas contusões.
Quando Atlan se virou para o sul, viu as dunas. Elas tinham se erguido em muitos
milhares de metros e vinham rolando com uma velocidade amedrontadora na sua direção.
Os kartas pareciam ter esvaziado todas as áreas nortenhas do deserto, para esmagar as
espaçonaves sob as massas de areia.
Em vista dessa ameaça podia ser apenas uma questão de tempo, até que os
instaladores do “Enxame” reagissem. Eles precisavam fazer alguma coisa se quisessem
impedir que suas naves fossem soterradas.
O arcônida pegou a mão de Irmina Kotschistowa, Toronar Kasom, que se segurava
em Fellmer Lloyd, pegou a outra mão da bioquímica. Alaska Saedelaere e Gucky se
uniram à corrente.
Garantidos deste modo, eles lutaram, avançando mais para o norte. E sempre
olhavam para trás. As montanhas de dunas vinham rolando, sem diminuir a velocidade,
aproximando-se cada vez mais.
As espaçonaves ficavam ainda a apenas trinta quilômetros de distância. A fumaça se
rasgou. Eles puderam ver as pontas metálicas brilhantes dos gigantes. Por baixo de um
dos cones tinham sido abertas diversas escotilhas. Atlan achou que estava vendo os
projetores de irradiação de canhões energéticos. Antes que ele pudesse reconhecer
pormenores, a fumaça, poeira e cinza ocultaram tudo novamente de sua vista.
Eles tiveram que reajustar seus aparelhos de voo constantemente. A tempestade
aumentou mais e mais, até que a pressão ficou tão forte, que eles tinham que compensar o
voo pilotando-o ao contrário, para não se tomarem uma bola de brinquedo das forças
desencadeadas da natureza.
Os kartas tinham encontrado a si mesmos. Eles tinham descoberto o poder da união,
reunindo-se cada vez mais num só bloco. Atlan perseguiu essa tendência com crescente
preocupação. Ele temia que os instaladores do “Enxame” iniciassem um contra-ataque.
De acordo com a experiência recolhida até agora, eles então golpeariam com suas armas
mais fortes — e isso poderia ser mortal para o planeta e seus habitantes.
O Lorde-Almirante quis se voltar para Gucky e Fellmer Lloyd, para pedir-lhes que
tentassem entrar em contato com os kartas, quando uma série de relâmpagos caiu do alto
sobre a terra. Ele hesitou. Eles estavam presos entre os fronts. Atrás deles as dunas
vinham rolando. Diante deles a atmosfera queimava sob uma série infindável de raios.
Por cima deles voava a lava, jogada para o alto, do solo aberto. Parecia que o planeta ia
partir-se em dois.
Atlan procurou por uma saída daquele inferno.
Foi quando Gucky gritou:
— Precisamos nos entender com os kartas. Eles estão acabando consigo mesmos.
Os habitantes do deserto pareciam ter ouvido as palavras do ilt. De repente a
natureza se acalmou. As dunas de areia somente continuavam rolando adiante, muito
lentamente. O ar clareou. A trovoada passara. As nuvens de fumaça se espalharam, e a
tempestade, de um minuto para o outro, se acalmou.
Atlan olhou, interrogativamente, para Gucky.
— Eu queria entrar em contato com os kartas, mas isso agora não é mais necessário
— disse o rato-castor. — Eles caíram mais uma vez numa pausa para descansar.
— Todos? — perguntou Atlan.
— Não, só a maioria dos kartas que vivem no deserto atrás de nós. Os outros estão
distantes demais. Alguns deles não participam das ações, porque sua necessidade de
solidão é marcada demais. Outros preferem se expressar loucamente em ações isoladas.
Entretanto a maioria dos kartas tem seus períodos coronários ativos e passivos ao mesmo
tempo. O ataque seguinte virá com certeza.
Os dois telepatas Fellmer Lloyd e Gucky sentiam nitidamente a mudança da
atividade física e espiritual dos kartas. Para eles era difícil descrever as impressões que
recebiam. Eles pensavam no mar, no qual uma onda segue outra onda. O ataque dos
kartas era semelhante à rebentação.
Atlan estimulou seus acompanhantes para pressa. Ele queria aproveitar a pausa até o
próximo desdobramento do poder dos kartas, para chegar o mais perto possível das naves
dos instaladores do “Enxame”.
***
Matra Krovzac observara as ações dos kartas, preocupado. Por enquanto somente se
podia ver alguma coisa de suas atividades muito ao longe. Depois entretanto as
consequências de seus ataques parapsíquicos tinham se aproximado cada vez mais.
Quando o físico já estava pensando em voar as naves lenticulares mais para o norte, para
colocá-las em segurança ali, o período passivo tivera início. A terra acalmou-se
novamente.
Quando Krovzac atravessou da lentilha de Atlan para a de Tahonka No, viu que fios
de plantas marrons tinham saído do solo. Ele ficou surpreso, pois até então não pudera
observar nenhuma modificação semelhante. Ele abaixou-se. Agora podia ver claramente,
como a planta crescia. Ela se empurrava cada vez mais para fora da areia. Sua cor era de
um marrom-avermelhado, que lembrava Krovzac das roupas dos kartas.
Ele escutou Tahonka No chamar e correu para a espaçonave lenticular. A escotilha
estava aberta. O ossudo estendeu-lhe os braços.
— Água — pediu ele.
O cientista reencheu o recipiente do traje de combate. Tahonka No reagiu de modo
surpreendente à entrada de água. Ele levantou-se e arrastou-se para a escotilha. O seu
rosto agora tinha a cor turquesa. Não se via mais nada das camadas córneas.
— Eu acho que logo vou melhorar disso — disse ele.
A sua voz agora já soava mais forte.
Matra Krovzac olhou-o, preocupado.
— Nós cometemos um erro decisivo. A análise da atmosfera naturalmente só tinha
validade para nós e não para o senhor. Pois não sabemos como o senhor reage às
bactérias existentes.
Tahonka No abriu a boca e começou a gargalhar muito alto. Krovzac ajustou o seu
alto-falante de capacete para volume mínimo. A risada do ossudo, entretanto, ainda assim
ecoava dentro dele.
— Por que está rindo? — perguntou ele.
Tahonka No trepou para fora da escotilha. Suas pernas se dobraram um pouco.
Nitidamente Krovzac podia ouvir os membros rangerem.
— O senhor está preocupado inutilmente — respondeu o ossudo. — Eu nunca abri
o capacete espacial, portanto nem posso ter me infeccionado em Nurmo II.
Krovzac olhou-o, perplexo. Até agora, ele nunca sequer pensara nisso. Até agora ele
sempre partira do pressuposto de que os esporos contidos na prova de ar tinham sido
responsáveis pela doença do ossudo.
— Abra o capacete — disse ele.
Tahonka No estendeu os braços.
— De modo algum — retrucou ele. — Eu não quero infectá-lo. Já basta que eu
tenha esta doença.
— Eu queria tirar uma prova do tecido — declarou o físico-sextadim. — E isso eu
só posso fazer se o senhor abrir o capacete.
Tahonka No voltou para a espaçonave lenticular, da qual se afastara alguns passos,
e olhou para dentro. Quando se virou, ele sacudiu a cabeça.
— Nós ainda temos vinte e quatro horas de tempo, até o choque — disse ele. —
Este mundo ainda está 500 milhões de quilômetros afastado do “Enxame”. A decisão,
provavelmente, cairá antes, caso todo o sistema não seja simplesmente atropelado. Eu
ainda aguento até podermos regressar à Good Hope II. As possibilidades de me tratarem
eficazmente, ali são muito melhores que aqui.
Matra Krovzac não respondeu. Ele tinha que dar razão ao ossudo. Mesmo se
pudesse fazer uma análise da impigem que agora presumivelmente recobria todo o corpo
de Tahonka No, não se ganharia muita coisa com isso.
— Eu me sinto bastante bem — continuou o regulador de alta-pressão. —
Acredite--me, eu posso vigiar as espaçonaves lenticulares tão bem quanto o senhor.
— O que quer dizer com isso?
— O senhor devia tentar reencontrar a câmera que Alaska Saedelaere perdeu. Se
não conseguir fazer isso, devia fazer outras filmagens dos hipnodesenhos.
Krovzac sacudiu a cabeça.
— Eu não vou deixá-lo sozinho.
— Lembre-se que os desenhos podem nos dar a chave para um entendimento com
os kartas — disse Tahonka No. — Lembre-se de que Atlan e os outros talvez possam vir
a depender da ajuda dos kartas. O senhor devia tentá-lo.
Krovzac hesitou. Ele olhou para o alto do rochedo. Ele sabia que dali não era mais
muito longe até o vale das hipnogravações. Dali Saedelaere fora catapultado até o
deserto. A região que ele teria que revistar não era muito grande.
— Se utilizar os instrumentos especiais do seu traje de combate, talvez conseguisse
encontrar a câmera muito depressa. O senhor devia aproveitar essa chance.
Ele olhou para Tahonka No, examinando-o. Avaliar o seu estado era impossível,
enquanto ele estava metido dentro do traje de combate. Agora parecia que o ossudo tinha
se recuperado bastante. Mas também podia ser que ele estava próximo de uma grave
crise.
— Se me acontecer alguma coisa, o senhor também não vai poder me ajudar —
disse Tahonka No, duramente. — Pense nos outros. Eles agora são mais importantes do
que eu.
Matra Krovzac pensou passageiramente em pedir ao ossudo para que fosse procurar
a câmera. Mas afastou logo a ideia. Se alguém podia assumir esta tarefa, era somente ele
mesmo.
— Ok — concordou ele, depois de ter refletido mais uma vez na sugestão do
ossudo. — Mas pelo menos me faça figa.
— O que quer que isso signifique na sua língua, — respondeu Tahonka No — eu o
farei.
Sua boca abriu-se. Ele deu uma gargalhada homérica. Krovzac sentiu um frio na
espinha, quando viu que a impigem verde-azulada também cobria a goela de Tahonka
No.
Ele foi até sua espaçonave lenticular e retirou de lá alguns objetos do equipamento.
O ossudo ficou observando-o. Ele parecia estar muito calmo. Quando o terrano subiu , no
seu traje de combate, e saiu voando por cima do rochedo, ele ergueu um braço, como se
quisesse retê-lo.
Krovzac desapareceu por entre as rochas.
Tahonka No caminhou com passos arrastados. Suas mãos se ergueram para o
capacete espacial. Ele ficou parado. De repente ele balançou para um lado e para o outro.
Suas pernas vergaram, e ele foi para o chão. Com as mãos ele tamborilou contra a viseira
do seu capacete e abriu-a. Ele abriu a boca para um grito sem som, depois caiu de lado.
Com os braços e as pernas esticados, ele ficou deitado de costas.
Do deserto o vento trazia areia. Poeira e fios de plantas cobriram o rosto de
Tahonka No.
Ele não se mexeu.
***
Atlan olhou o seu cronômetro. O tempo parecia correr. Somente vinte horas ainda
os separavam do choque com o “Enxame”.
As 32 espaçonaves dos instaladores do “Enxame” erguiam-se para o alto, como
montanhas. O gigante, que lhes ficava mais próximo, estava a uma distância de cerca de
oito quilômetros deles. Desta distância eles já não conseguiram mais ver a ponta cônica
do mesmo.
— Gucky, — disse Atlan, — procure entrar na nave, para encontrar um recinto que
nós possamos tomar como ponto de partida. Em seguida você vem nos buscar, um depois
do outro.
O rato-castor, que como os outros estava acocorado na cobertura de algumas rochas,
ergueu-se.
— Este recinto deverá ter instalações especiais? — perguntou ele. — Uma sauna e
piscina são desejáveis?
— Ideal naturalmente seria um guia de turismo, que nos informasse exatamente
sobre as intenções dos instaladores do “Enxame” — respondeu Alaska Saedelaere,
sorrindo. — Mas isso, naturalmente, é pedir um pouco demais de você.
— Bom também seria alguém que meta uma agulha no seu traseiro, para que você
se apresse um pouco — acrescentou Fellmer Lloyd.
— Arre! — fez Gucky. E desmaterializou.
Atlan olhou para o sul. Ele contava com que os kartas despertassem novamente de
sua passividade, dentro de poucos minutos. As dunas elevadas ainda permaneciam
aquietadas. Por cima delas subia a fumaça dos vulcões cuspindo fogo. Aqui e ali já se
mostravam redemoinhos de ar, que colocavam a areia e a fumaça em movimento.
Gucky voltou.
— Lá dentro acontecem um bocado de coisas — relatou ele. — Os instaladores do
“Enxame” correm pela nave, como um bando de galinhas assustadas, mas naturalmente
eu encontrei um lugarzinho cômodo para todos nós. Quem vai primeiro?
Ele estendeu a mão para Irmina Kotschistowa. Ela pegou-a. Juntos eles sumiram. O
ilt regressou imediatamente e levou Alaska Saedelaere consigo. Quando ele voltou para
buscar Fellmer Lloyd, Atlan disse:
— Espere um momento.
Gucky olhou-o, surpreso. Atlan olhou para as pontas das espaçonaves. O rato-castor
virou-se e seguiu o exemplo do arcônida. Os telhados cônicos dos gigantes começaram a
ficar incandescentes. Os cantos rebrilhavam, como se um fogo saísse deles.
Por trás deles começou um trovejar. As dunas se puseram novamente em marcha.
Elas agora rolavam, ainda mais depressa que antes, na direção das espaçonaves no polo.
O céu escureceu. As massas de lava foram atiradas por cima das dunas.
O inferno voltou.
Atlan achou que o chão cedia sob os seus pés. Onde antes ainda fora um deserto de
pedra, agora estendia-se um oceano. Por segundos, a superfície da água ficou imóvel,
depois começou a espumar. Surgiram montanhas de água, que não eram menos
formidáveis que as dunas. Atrás delas desapareceram as espaçonaves.
— É tudo uma fraude — gritou Gucky. — Não se deixem enganar. Aqui não há
uma só gota de água.
A cena arrebentou como uma tela de cinema. De repente eles puderam ver as
espaçonaves outra vez. As pontas cônicas tinham sido abertas. Antenas de todos os tipos
saíram de dentro. De uma das naves um cristal pairou para fora. Ele tinha um diâmetro de
cerca de duzentos metros, e era milhões de vezes lapidado. Ele cintilava e brilhava em
todas as cores e claridades imagináveis. Os arredores das espaçonaves de repente estavam
mergulhados numa luz brilhante.
Numa altura de cerca de trezentos metros acima da ponta da espaçonave, o cristal
permanecia pairando no ar.
Atlan e seus acompanhantes ergueram os olhos para ele. Uma radiação
hipnossugestiva de força imensa os envolveu.
O ataque parapsíquico dos kartas estacou por alguns segundos, depois os habitantes
do deserto se empinaram novamente. Eles responderam com uma radiação comparável.
Ela ordenava:
— Matem-se! Matem-se!
Ela era tão poderosa e intensa, que encobria todo o resto.
A mão de Atlan deslizou para a sua arma energética.
7
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