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ANEXO 2

BASES CONCEITUAIS

UMA VISÃO RENOVADA DA SAÚDE E DO DESENVOLVIMENTO PARA OS ANOS 2000

Dr Renald Bujold, m.d. m.p.h.


Departamento de Saúde Pública - Quebec
17de Junho de 2002

Em 1998, a publicação pelo Director Regional de Saúde Pública, dum importante estudo sobre as
desigualdades sociais da saúde na Ilha de Montreal foi a pontapé de saida duma importante viragem
da Direcção de Saúde Pública de Montreal para à promoção da luta contra as desigualdades sociais
da saúde e para o desenvolvimento social como orientações fundamentais para o meioramento da
saúde e do bem-estar dos montrealenses

As bases conceituais da intervenção da Direcção de Saúde Pública de Montreal reposam sobre o


« campo da saúde » de Marc Lalonde de 1974 e da Carta de Ottawá de 1986. Os princípios e as
orientações traçados por estes documentos básicos foram retomados, adaptados e completados
depois por varios outros documentos fundamentais que guiam a ação sa Saúde Pública no
Quebeque, como a Política Nacional de Saúde (1992), as Prioridades Nacionais de Saúde Pública
(1997), a Nova Lei da Saúde Pública (2001) e do Programa Nacional de Saúde Pública (2002).

Ao mesmo tempo, a prioridade dada pela DSP de Montreal-Centro à luta contra a pobreza e as
desigualdades sociais da saúde e ao desenvolvimento social como estratégia fundamental de saúde
pública faz parte duma corriente ou dum movimento generalisado no Quebeque em favor do
desenvolvimento social e do desenvolvimento das comunidades locais. É assim desde os Foros
nacional y regionais sobre o Desenvolvimento social organisados sobre a liderança do Conselho da
Saúde e do Bem-Estar em 1996 e 1997, no seguimento da Política Nacional de Saúde. Além disso, a
Saúde Pública Quebequense acaba de terminar a elaboração dum Quadro de referência para o
desenvolvimento social sobre o título seguinte : A saúde das comunidades : perspectivas sobre a
contribução da Saúde Pública ao desenvolvimento social e ao desenvolvimento das comunidades.
O documento está disponível sobre o sitio Web do Instituto Nacional de Saúde Pública do
Quebeque.

É com muito gosto que, hoje, neste seminário, vou lhes apresentar brevemente o que eu chamo uma
visão renovada e integrada da saúde e do desenvolvimento para os anos 2000. Esta visão a devemos
ao Dr. Trevor Hanckock de Toronto, que foi, com o Dr. Len Dulh da Universidade de Califórnia,
Berkeley, à origem do conceito de Cidades saudáveis. Nos últimos anos, Dr Trevor Hancock, sem
inventar novos conceitos, tem reorganizado todos estes conceitos já conhecidos num conjunto ao
mesmo tempo familiar e inovador, um novo modelo que eu qualificava de « inteligente e
motivador » num corto resumo que tive a oportunidade de escrever numa revista de saúde pública.
O inovador deste modelo é que propõe a passajem de uma visão com a saúde como alvo, para uma
visão centrada no desenvolvimento integral do ser humano, facilitando assim a compreensão da
saúde como uma parte integrante do desenvolvimento, como já o sugeria a Carta de Ottawá. O
modelo de Hancock está a base do Quadro de referência que falei na última frase do parágrafo
precedente. Pessoalmente julgo esta evolução muito interessante e, embora haja outras maneiras de
apresentar as bases conceituas de nossa ação no campo do desenvolvimento e da luta contra as
desigualdades sociais, escolhi apresentar-lhes o modelo conceitual que pessoalmente encontro
mais completo e mais útil.

Modelo ecológico das comunidades saudáveis.

Aqui lhes mostro uma representação gráfica criada por Hancock do modelo ecológico das
comunidades saudáveis. É algo muito simples que lhes pareceria familiar, mas que inova ao mesmo
tempo.

Primeiro, o que é uma comunidade, neste contexto? É um sistema social estructurado reagrupando
pessoas que vivem dentro dum espaço geográfico determinado, como uma cidade, uma povoação,
um barro, etc. É o que chamamos a comunidade local.

Segundo, o que será uma comunidade saudável ? Não é uma comunidade perfeita, mas uma
comunidade que tem inscrito nas suas características próprias a capacidade de produzir, manter,
proteger a saúde de cada um dos seus membros. É uma comunidade equitativa : cada um tem a
possibilidade e a capacidade de identificar e realizar as suas aspirações, cada um pode satisfazer as
suas necessidades, cada um pode mudar ou adaptar-se ao meio ambiente, cada um pode esperar
atingir um estado relativo de bem-estar físico, mental e social.

O modelo de Hancock representa graficamente os factores determinantes duma comunidade


saudável e as suas interrelacões. No centro, há a saúde que, dizemos a saúde da comunidade.
Poderia bem ser também a saúde duma pessoa. Os tres principais grupos de determinantes da
saúde- social, ambiental e económico- estão representados por tres círculos que se sobrepõem
parcialmente : quanto mais se sobrepõem, mais grande aparece o triângulo da saúde.
Sobrepõendo-se os tres círculos criam 7 espaços que correspondem a 7 classes de indicadores para
medir a saúde e o bem-estar duma comunidade : a viabilidade, a habitabilidade, a convivência, a
equidade, a prosperidade, a durabilidade e os próprios indicadores de saúde.

Tres categorias pertencem ao meio ambiente :

A comunidade viável ou salubre faz referência ao meio ambiente natural. Este não deve ser
contaminado o deteriorado ao ponto de ameaçar a saúde e ao bem-estar dos seres humanos. Neste
grupo, los principais indicadores seriam la qualidade do ar e da água, a produção e a utilização de
matérias tóxicas, a contaminação dos solos, a contaminação da cadeia alimentária, a conservação
das especies vivas, etc.

A comunidade durável, na interseção do meio ambiente com a economia, está relacionado com o
meio ambiente explorado pelo ser humano na sua actividade económica. A economia da
comunidade deve poder manter-se sem fim, graças ao respeito do meio ambiente e dos recursos
naturais. Alguns dos indicadores seriam : o consumo de energia, de água, de recursos renováveis; a
produção e a redução dos resíduos, a utilização do território, a saúde do ecosístema, etc

A comunidade habitável, na interseção do meio ambiente com o social, está relacionado com o
habitat humano : a aldeia, o barro, a cidade. Precisa-se criar meios urbanos que sejam à escala
humana, seguros, agradáveis e que favoreçam a convivência, de tal maneira que se desenvolve um
sentimento de pertença. Os principais indicadores seriam : a morada, a utilização do carro, a
densidade, a seguridade real e percebida, o transporte público, a possibilidade de caminhar, os
parques, os sitos públicos, a vegetação, os lugares sem fumo, o barulho, etc

Tres outros grupos de indicadores pertencem à economia : a durabilidade, a prosperidade relativa e


a equidade. Já falamos da durabilidade há poucos minutos.

A comunidade relativamente próspera está relacionada com a produção de bens e serviços no


sector da economia. A economia da comunidade gera bastante riqueza para que todos possam ter
acesso a um grau satisfáctorio de bem-estar. Os principais indicadores seriam : uma economia
diversificada e controlada localmente, o emprego/desemprego, a qualidade dos empregos e os
indicadores económicos tradicionais.

A comunidade equitativa, na intersecção da economia com o social, está relacionada com a


distribução equitativa da riqueza producida dentro e por a comunidade. Os membros da comunidade
são tratados com equidade e justiça, todas as necessidades essenciais são satisfeitas e todos têm uma
oportunidade igual de realizar o seu pleno potencial. Los principais indicadores seriam : a pobreza,
as desigualdades sociais e económicas, a discriminação e a exclusão, a acessibilidade ao poder e ao
controlo, etc.

Tres categorias de indicadores pertencem ao social : a equidade, a habitabilidade e a convivência. Já


temos falado dos dois primeros. Falta falar da convivência.

6) A convivência está relacionada com o feito de « viver com », á vida numa comunidade. Os
membros da comunidade vivem juntos em harmonia, participam plenamente con a vida de sua
comunidade e têm acesso a redes de apoio social necessários para a sua boa saúde e o seu bem-
estar. Os principais indicadores seriam : a seguridade da familia, o sentimento de pertênça, a rede de
apoio social, os serviços públicos, os ONG, os factores demógraficos, o ambiente do barro, etc

Finalmente, temos os indicadores clássicos da saúde positiva ou negativa, importantes, mas nos
quais não vamos insistir cá porque já são muito conhecidos.

Este modelo nos apresenta gráficamente uma visaõ integrada e global basada sobre nossos valores
de comunidade viável e saudável. É ao nivel da comunidade local , donde los cambios são mais
fáceis que o modelo se aplica meior. Hancock declara pensar como René Dubos, quem escriveu que
precisamos « pensar globalmente, mas actuar localmente ». No últimos anos, hemos atribuido cada
vez mais importância à saúde e ao bem-estar social, à qualidade do meio ambiente, â saúde do
ecosístema, à qualidade da vida e à economía. O modelo sugere que devemos encontrar um
equilíbrio entre o meio ambiente, a economia e a vida em sociedade, para integrar todos estes
elementos e dar um impulso à uma comunidade cada vez maís saúdavel.

2- Modelo ecológico do desenvolvimento humano integral

No modelo que acabamos de apresentar, a saúde ou a qualidade de ser saudável está no centro como
a finalidade de tudo. Neste sentido, falamos de um modelo saudecentrista. O modelo funciona : é
ecológico, motivador e completamente legítimo

Sem embargo, o mais interessante do modelo de Hancock, aparece quando o promotor da saúde
propõe de por no centro do seu modelo o desenvolvimento humano em lugar da saúde. Lhes ponho
a transparência seguinte. Esta pequena mudança nós faz bascular noutro parádigma. Ó estandarte
muda de maões : desde as maões dos promotores da saúde para às maões dos promotores do
desenvolvimento integral e durável. Agora nós encontramos num terreno muito más amplo : o
terreno da sociedade civil e dos 4 tipos de desenvolvimento o desenvolvimento social, o
desenvolbimento económico, o desenvolvimento natural ou durável (o a conservação do meio
ambiente) e no centro, como a finalidade última, o desenvolvimento humano integral. O alvo não
está só a saúde, senão o desenvolvimento integral de cada ser humano na comunidade. Muitas más
pessoas e organizações vão sentir-se interpelados. Para a maioridade da gente o conceito de saúde é
ainda muito ligado com os servicos curativos ou atenções de saúde. Todos os que são mais
preocupados pelas questões sociais, económicas, ambientais, etc, vão sentir-se mais à vontade num
modelo centrado no desenvolvimento integral da pessoa humana, da comunidade ou da sociedade.
Neste modelo, demos menos visibilidade à saúde e nem todos os profissionais de saúde pública são
confortáveis com isso. Nesta modelo a saúde é só uma das dimensões, embora importante, do
desenvolvimento humano integral, con a educação, a cultura, o civismo, a integração social, etc.

3- O modelo dos 4 capitais

Para fazer mais completa a mudança desde uma perspectiva de saúde para uma perspectiva de
desenvolvimento (terça transparência), o Dr Trevor Hancock introduz uma última transformação no
seu modelo para propor uma nova visão do capitalismo, um capitalismo ético e ecológico. Desde
esta nova perspectiva, o capitalismo integra quatro dimensões dístintas que se sobrepõem
parcialmente :

O capital natural : água, ar, fauna selvajem, natureza, pesca, foresta, terras agricolas, energia, minas,
e os outros recursos que são as fontes de riqueza;

O capital social : a famíia , a vida comunitária, as redes de apoyo naturais, as políticas sociais, os
serviços sociais formais e as instituções, etc.

O capital económico : as infrastructuras físicas : serviços públicos, los edifícios, as auto-estradas; os


investimentos e a actividade económica, etc.

O capital humano é no centro do modelo como o alvo último do desenvolvimento : o nivel de


saúde, de educação, de capacidade para a inovação, de criatividade e de estima própria dos
indivíduos, etc
Para o desenvolvimento, precisa-se capital. As empresa capitalistas, embora não o queiram
reconhocer, utilizam para funcionar e realizar lucros os 4 tipos de capital. No capitalismo actual só
se toma em conta explicitamente o capital económico. É uma visão estreita do capitalismo. O
verdadeiro capitalismo deveria reconhecer, nós diz Hancock, que os capitais ecólogico, social e
humano contribuem ao capital económico, ao mesmo tempo que o capital económico contribue aos
outros capitais. Fazer fructificar o capital económico sem tomar em conta os a preservação e o
desenvolvimento dos outros capitais é como matar a galinha de ovos de ouro. Então o desafio é de
encontrar cómo construir simultaneamente o capital natural, o capital social, o capital económico e
o captital humano. Saõ as empresas , as comunidades locais, as nações que conseguirão este
equilíbrio que têm a promessa de um futuro prospero mais além do Século XXI. Uma perspectiva
estimulante é a que faz que até nos sanctuários do capitalismo, há uma tomada de consciência, tal
vez ainda muito frágil de la necessidade dum modelo ecológico do desenvolvimento que respeite
ser humano e a natureza.

Dr Renald Bujold, m.d. m.p.h.


E-mail: Rbujold@videotron.ca
Telefone: (514)-868-9160

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