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TRANSCRIÇÃO DA AULA DO PROFESSOR ALEXANDRE CÂMARA

SOBRE O INCISO VII, ART. 313 DO CPC

O que é um fato da navegação? Fato da navegação é um acontecimento


imprevisto em uma navegação. Imagine que um navio de carga saiu do porto de
Santos em direção ao porto de Suape/PE. Quando está passando pelo litoral do Rio de
Janeiro verifica-se que houve um defeito em um dos motores da navegação e o navio
vai para o porto do Rio e para, afim de ser submetido a um reparo. Isso estava
previsto? Não. Então, isto é um fato da navegação e chama-se arribada forçada.
O que é um acidente da navegação? Acidente da navegação é o fato da
navegação que gera dano. Por exemplo, o navio que é atacado por piratas que roubam
a sua carga. É um fato inesperado que gera dano. Esse, especificamente, é uma avaria
grossa. Aliás, se você olhar no CPC tem lá um procedimento para a regulação de
avaria grossa. Um dos exemplos de avaria grossa é dano causado por pirata. E é bom
lembrar que pirata não é o cara que navega com perna de pau, tapa olho e uma
bandeira preta com uma caveira. Tem pirata até hoje? Tem. Tem muito.
Toda vez que ocorre um fato da navegação ou um acidente da navegação,
instaura-se um processo administrativo para a apuração de responsabilidade. Porque,
veja, todos esses eventos geram custos. Até o fato da navegação que não gera dano,
gera um custo, porque o navio vai ter que ancorar num porto que não estava previsto
etc..
Qual é o órgão competente para conhecer desse processo administrativo?
Tribunal Marítimo. Tribunal Marítimo que é um órgão que integra a estrutura do
Ministério da Defesa. É um órgão do Executivo. Os processos que lá tramitam são
processos administrativos. E aí o TM vai desenvolver esse processo. É um processo
administrativo como qualquer outro. Tem contraditório, devido processo. Aí o
processo administrativo se desenvolve e vai haver uma decisão nesse processo,
apontando responsabilidades.
Qual é a questão? Muitas vezes você tem um processo judicial para discutir
fatos que se qualificam como fatos ou acidentes da navegação. Por exemplo, você é
dono de uma embarcação e outra embarcação colidiu com a sua, te gerando um
prejuízo. Isso é um acidente da navegação. Mas você não quer esperar processo
administrativo nenhum. Você vai para o Judiciário contra o dono da outra embarcação
para pedir reparação de danos.
No Judiciário, vai ter perícia? Não, não vai ter. Não precisa. Como no
processo administrativo do Tribunal Marítimo eles vão apurar tudo isso, a gente
suspende o processo judicial e aguarda o desfecho do processo administrativo no
Tribunal Marítimo, porque a Lei que regula o Tribunal Marítimo diz que as decisões
do Tribunal Marítimo podem ser usadas em juízo como provas. Então, se a decisão do
processo do Tribunal Marítimo disse fulano é responsável e tem de pagar beltrano
uma indenização de tanto, isso não é uma sentença judicial, mas isso é uma prova,
que é usada do processo judicial e valorada pelo juiz. O juiz de direito valora como se
fosse qualquer outra prova,. Como valora uma perícia, por exemplo.
Para quem for juiz de comarca que é sede de porto isso vai ser importante.
Comarca do Rio de Janeiro, por exemplo. Mas, não só. Itaguaí, todo lugar que tenha
porto com algum tipo de espaço para embarcações, são muitos no Brasil, pode ter que
se valer disso aqui.
Para quem não conhece, o Tribunal Marítimo fica na Praça XV, ali do lado da
estação das barcas. É só ir lá e visitar.
Agora, é claro que o juiz precisa considerar que é uma decisão produzida em
contraditório, com ampla produção de provas . Por exemplo, uma perícia que tenha
sido feita lá é feita por um cara ligado à Marinha, um especialista, certamente muito
melhor que os peritos que o juiz de direito teria para nomear. E quem proferiu aquela
decisão? Grandes especialistas em direito da navegação, Os caras que mais entendem
desse assunto.
O Tribunal Marítimo tem uma composição mista. Uma parte de sua
composição é constituída por juízes militares, pessoal da Marinha, são oficiais da
Marinha e a outra parte é por concurso, são juristas e são profundos conhecedores de
direito da navegação. Nós já tivemos no Tribunal Marítimo grandes juristas.
Para citar um muito famoso, o Professor Celso Duvivier de Albuquerque
Mello, eminente internacionalista. Nós temos, hoje, lá, excelentes nomes, por
exemplo, o Nelson Cavalcante, que é mestre em direito processual e profundo
conhecedor das questões do direito processual ligadas ao direito da navegação. Ele
ajudou muito na hora de fazer o CPC/15 no procedimento de regulação da avaria
grossa. Também, no procedimento dos processos testemunháveis formados a bordo e
dos protestos tomados a bordo.
Então a gente tem gente muito preparada e muito competente no Tribunal
Marítimo e, por isso, vale muito a pena suspender o processo judicial.

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