O que é um fato da navegação? Fato da navegação é um acontecimento
imprevisto em uma navegação. Imagine que um navio de carga saiu do porto de Santos em direção ao porto de Suape/PE. Quando está passando pelo litoral do Rio de Janeiro verifica-se que houve um defeito em um dos motores da navegação e o navio vai para o porto do Rio e para, afim de ser submetido a um reparo. Isso estava previsto? Não. Então, isto é um fato da navegação e chama-se arribada forçada. O que é um acidente da navegação? Acidente da navegação é o fato da navegação que gera dano. Por exemplo, o navio que é atacado por piratas que roubam a sua carga. É um fato inesperado que gera dano. Esse, especificamente, é uma avaria grossa. Aliás, se você olhar no CPC tem lá um procedimento para a regulação de avaria grossa. Um dos exemplos de avaria grossa é dano causado por pirata. E é bom lembrar que pirata não é o cara que navega com perna de pau, tapa olho e uma bandeira preta com uma caveira. Tem pirata até hoje? Tem. Tem muito. Toda vez que ocorre um fato da navegação ou um acidente da navegação, instaura-se um processo administrativo para a apuração de responsabilidade. Porque, veja, todos esses eventos geram custos. Até o fato da navegação que não gera dano, gera um custo, porque o navio vai ter que ancorar num porto que não estava previsto etc.. Qual é o órgão competente para conhecer desse processo administrativo? Tribunal Marítimo. Tribunal Marítimo que é um órgão que integra a estrutura do Ministério da Defesa. É um órgão do Executivo. Os processos que lá tramitam são processos administrativos. E aí o TM vai desenvolver esse processo. É um processo administrativo como qualquer outro. Tem contraditório, devido processo. Aí o processo administrativo se desenvolve e vai haver uma decisão nesse processo, apontando responsabilidades. Qual é a questão? Muitas vezes você tem um processo judicial para discutir fatos que se qualificam como fatos ou acidentes da navegação. Por exemplo, você é dono de uma embarcação e outra embarcação colidiu com a sua, te gerando um prejuízo. Isso é um acidente da navegação. Mas você não quer esperar processo administrativo nenhum. Você vai para o Judiciário contra o dono da outra embarcação para pedir reparação de danos. No Judiciário, vai ter perícia? Não, não vai ter. Não precisa. Como no processo administrativo do Tribunal Marítimo eles vão apurar tudo isso, a gente suspende o processo judicial e aguarda o desfecho do processo administrativo no Tribunal Marítimo, porque a Lei que regula o Tribunal Marítimo diz que as decisões do Tribunal Marítimo podem ser usadas em juízo como provas. Então, se a decisão do processo do Tribunal Marítimo disse fulano é responsável e tem de pagar beltrano uma indenização de tanto, isso não é uma sentença judicial, mas isso é uma prova, que é usada do processo judicial e valorada pelo juiz. O juiz de direito valora como se fosse qualquer outra prova,. Como valora uma perícia, por exemplo. Para quem for juiz de comarca que é sede de porto isso vai ser importante. Comarca do Rio de Janeiro, por exemplo. Mas, não só. Itaguaí, todo lugar que tenha porto com algum tipo de espaço para embarcações, são muitos no Brasil, pode ter que se valer disso aqui. Para quem não conhece, o Tribunal Marítimo fica na Praça XV, ali do lado da estação das barcas. É só ir lá e visitar. Agora, é claro que o juiz precisa considerar que é uma decisão produzida em contraditório, com ampla produção de provas . Por exemplo, uma perícia que tenha sido feita lá é feita por um cara ligado à Marinha, um especialista, certamente muito melhor que os peritos que o juiz de direito teria para nomear. E quem proferiu aquela decisão? Grandes especialistas em direito da navegação, Os caras que mais entendem desse assunto. O Tribunal Marítimo tem uma composição mista. Uma parte de sua composição é constituída por juízes militares, pessoal da Marinha, são oficiais da Marinha e a outra parte é por concurso, são juristas e são profundos conhecedores de direito da navegação. Nós já tivemos no Tribunal Marítimo grandes juristas. Para citar um muito famoso, o Professor Celso Duvivier de Albuquerque Mello, eminente internacionalista. Nós temos, hoje, lá, excelentes nomes, por exemplo, o Nelson Cavalcante, que é mestre em direito processual e profundo conhecedor das questões do direito processual ligadas ao direito da navegação. Ele ajudou muito na hora de fazer o CPC/15 no procedimento de regulação da avaria grossa. Também, no procedimento dos processos testemunháveis formados a bordo e dos protestos tomados a bordo. Então a gente tem gente muito preparada e muito competente no Tribunal Marítimo e, por isso, vale muito a pena suspender o processo judicial.