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Raphael Rajão Ribeiro


Graduado e mestre em História. Chefe do Departamento
de Tratamento, Pesquisa e Acesso do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
Michelle Márcia Cobra Torre
Graduada em História e Comunicação
Social pela UFMG. Mestre em Estudos Literários pela UFMG.

Educação Patrimonial e o Ensino de


História em Instituições Arquivísticas
Ações educativas no Arquivo Público
da Cidade de Belo Horizonte

INTRODUÇÃO mostraram-se pouco preocupados com o

A
desenvolvimento de ações culturais de
s ações educativas ainda repre-
alcance mais amplo, especialmente no que
sentam uma atividade que se
se refere à manutenção de atividades de
desenvolve na menor parcela
cunho educativo.
dos arquivos públicos brasileiros. Tradi-
cionalmente entendidos como instituições Essa pouca valorização se observa em
voltadas para um número restrito de pes- inúmeros detalhes, desde a pequena preo-
quisadores e responsáveis por acervos cupação na disponibilização de espaços
acumulados no passado – contempora- capazes de abrigar exposições e oficinas,
neamente, valorizados pela sua atuação acolhimento de turmas, salas multimídia,
na adoção dos modernos mecanismos de locais para lanche, até a raríssima estrutu-
gestão e de tratamento documental –, os ração de serviços educativos, com pessoal
arquivos públicos brasileiros, via de regra, próprio. Apesar dessa situação, ainda que

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de forma dispersa, as instituições arqui- implementação de um moderno sistema de


vísticas, cada vez mais, têm demonstrado gestão documental. Partindo dessas ações
uma preocupação em adotar ações de viés básicas, o APCBH, ao longo de seus 21
educacional – inclusive em função da de- anos, expandiu sua atuação, estruturando
manda constante das escolas. áreas de gestão de documentos, conserva-
ção, reprodução, arquivos permanentes,
Porém, no momento em que tais iniciativas
acesso, pesquisa e difusão cultural.
estão sendo formuladas, um problema
emerge: a partir de que referenciais se Sobre essa última área de atuação, o

pode desenvolvê-las? APCBH tem tratado a difusão cultural


como uma categoria ampla, que engloba
Ainda que algumas instituições arquivísti-
ações como: manutenção de canais de
cas brasileiras mantenham há anos ações
comunicação, promoção de palestras,
dessa natureza, não há uma divulgação sis-
elaboração de exposições, editoração de
temática delas e, tampouco, uma reflexão
publicações voltadas para diferentes públi-
sobre os pressupostos conceituais que as
cos e atividades de cunho educativo. Vale
orientam. Tal afirmação pode ser exempli-
destacar que a arquivologia brasileira, há
ficada pelo caso de um arquivo municipal
muito, compreende que essas atividades
que há mais de quinze anos desenvolve
reforçam o objetivo primeiro dos arqui-
atividades educativas: o Arquivo Público
vos públicos – qual seja, o de “recolher,
da Cidade de Belo Horizonte (APCBH).
custodiar, preservar e organizar fundos
Criado no mesmo ano da publicação da documentais organizados na área gover-
Lei Nacional de Arquivos, 1
em 1991, o namental” (Bellotto, 2004, p. 227) – e lhes
APCBH surgiu pautado no discurso de dão projeção na comunidade.
defesa da modernização das instituições Dentro do que a instituição entende por di-
arquivísticas brasileiras. Tal perspectiva fusão cultural, o APCBH, desde meados da
apontava para a importância de uma década de 1990, conta com ações educati-
ação integrada de gestão documental, vas. Mesmo num período de consolidação,
considerada o grande salto de qualidade em que enfrentava graves problemas de
necessário para a superação dos proble- infraestrutura e espaço físico – os quais,
mas enfrentados pelos arquivos públicos ainda que amenizados, persistem –, 3 a
das diferentes esferas. instituição iniciou o desenvolvimento de

Nessa perspectiva, sua atuação inicial práticas voltadas para a exploração de suas

voltou-se para duas grandes frentes: le- potencialidades educacionais.

vantamento e recolhimento da produção Arquivo municipal, amplamente permeá-


acumulada pelo município ao longo de vel às demandas diretas da população, o
2
quase cem anos e elaboração de uma ta- APCBH, já em seus primeiros anos, depa-
bela de temporalidade, que impulsionaria a rou-se com a necessidade de desenvolver

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ações voltadas especificamente para o pú- em consonância com essa realidade do


blico escolar. Além disso, orientado por ex- Arquivo, também corroborou para a maior
periências desenvolvidas em instituições ênfase na abordagem da instituição e de
arquivísticas internacionais, notadamente seu acervo pelo seu valor de evidência
4
as francesas, percebeu a importância da para o estudo do passado.5
manutenção de ações educativas regula-
Nem sempre esse diálogo foi deliberado,
res, inaugurando uma tradição da casa em
mas existiu e, em função dele, as ações edu-
práticas dessa natureza.
cativas representam, em grande medida, as
Apesar de algumas referências esparsas, discussões realizadas no ensino de história,
não se observou no processo de implan- campo de pesquisa que também se estrutu-
tação de ações de caráter educativo no rou no Brasil ao longo dessas duas décadas.6
APCBH a possibilidade de apropriação de Nesse período, pôde-se observar, ainda,
uma baliza conceitual e metodológica es- uma reestruturação do próprio conhecimen-
truturada, justamente em função da falta to histórico escolar e das funções sociais
de acesso ao registro de debates teóricos atribuídas à disciplina, mais relacionadas
consistentes sobre práticas educacionais à formação das identidades dos sujeitos,
em instituições arquivísticas. de sua capacidade de leitura histórica do

Fazendo-se uma análise a posteriori da tra- mundo e de sua preparação para o exercí-

jetória das ações educativas na instituição, cio da cidadania, do que à transmissão de

é possível apontar dois campos que, na conteúdos factuais clássicos.

ausência de um referencial consolidado, Dois elementos, fundamentalmente, com-


orientaram de forma mais marcante as puseram o diálogo entre as ações educa-
práticas no APCBH: o ensino de história e tivas do APCBH e o campo do ensino de
a educação patrimonial. Ao se examinar história: a incorporação de procedimentos
as abordagens desenvolvidas nas ações do teórico-metodológicos de produção do
APCBH, nota-se a presença de proposições conhecimento histórico como conteúdo
teórico-metodológicas dessas duas áreas. da educação histórica em nível básico,
Pode-se inferir, inclusive, que tal situação especialmente o desenvolvimento de es-
tende a se repetir na realidade de outras tratégias de leitura de documentos; e o tra-
instituições arquivísticas.
tamento da história local como objeto dos
A presença de historiadores na equipe estudos da disciplina escolar, indo além
do APCBH sempre foi grande, o que, cer- tanto das abordagens da periodização
tamente, contribuiu para a aproximação quatripartite da história universal, quanto
entre as proposições da história, como da abordagem do local na perspectiva de
disciplina acadêmica e ensinada, e os que o que está mais próximo – espacial e
projetos de ação educativa da instituição. temporalmente – deve ser estudado antes
O referencial das experiências francesas, daquilo que está mais distante.

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No contexto da redemocratização, as re- No que se refere à história local, as orien-


formas curriculares da década de 1980, tações vêm indicando duas grandes con-
principalmente dos estados de São Paulo tribuições de sua abordagem pedagógica,
e Minas Gerais, apontavam a necessidade especialmente no ensino fundamental: a
de se trabalhar com procedimentos de percepção das mudanças e permanências,
pesquisa histórica nas práticas de ensino- ao longo do tempo, no entorno do estu-
aprendizagem da educação básica. Segundo dante – espaço ao qual ele atribui sentidos
Bittencourt (1998), essa orientação foi am- afetivos e que ganha conotações de “lugar”;
plamente incorporada nas propostas curri- e o trabalho com sujeitos, temas, fontes e
culares estaduais na década seguinte, sendo questões que não são abordados na “macro-
oficializada nacionalmente nos Parâmetros história”, seja ela universal ou do Brasil.
Curriculares Nacionais (PCN) de História para
Os professores encontram, no entanto,
os diversos segmentos de ensino. Tome-se
algumas dificuldades para realizar as
como exemplo o PCN de História para os
orientações relativas ao trabalho com o
anos iniciais do ensino fundamental:
tema na educação básica. Segundo Caimi
Os documentos são fundamentais como (2010, p. 64), as principais delas são a
fontes de informações a serem interpre- dispersão da documentação a ele relativa;
tadas, analisadas e comparadas. Nesse a frequente inexistência de fontes escritas,
sentido, eles não contam, simplesmente, o que requer um cuidado com o trabalho
como aconteceu a vida no passado. [...] pedagógico com fontes em diferentes
são entendidos como obras humanas linguagens; a necessidade de se tentar
que registram, de modo fragmentado, um distanciamento dos sujeitos e dos
pequenas parcelas das complexas rela- problemas de uma história recente, cujas
ções coletivas. [...] implicações políticas são bastante fortes
para quem a examina; a quase inexistência
A leitura dos documentos, em um traba-
de narrativas históricas que sistematizem
lho didático, pode implicar a coleta de
questões da história local, especialmente
informações que são internas e externas
acessíveis ao público escolar; a necessi-
a eles. [...] O trabalho de leitura de do-
dade de relacionar a temática com proble-
cumentos, considerando as particulari-
mas mais globais, evitando as explicações
dades de suas linguagens, é favorável de
endógenas e simplistas.
ser desenvolvido nas séries iniciais do

ensino fundamental, principalmente le- Se por um lado a presença de historiadores


vando em consideração que as crianças na instituição proporcionou uma interface
pequenas estão tomando contato com com os debates do campo do ensino de
as diversas linguagens comunicativas, história, por outro, a aproximação do Ar-
como língua escrita, matemática e artes quivo Público da Cidade de Belo Horizonte
(Brasil, 1998, p. 55-56). dos debates do campo da cultura e, mais

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especificamente, do patrimônio cultural, um manual que apresenta modelos de


implicou a incorporação de alguns con- atividades. Seu sucesso editorial e a gran-
ceitos próprios da educação patrimonial. de difusão alcançada acabaram por criar
uma associação direta entre a metodologia
Ainda que em instituições culturais, espe-
proposta e o termo educação patrimonial.
cialmente museus, as práticas educativas
pudessem ser observadas desde meados Ao longo dos anos 2000, inúmeras pro-
do século XX, a incorporação de uma nova postas de ações educativas associadas ao

perspectiva que propunha a apropriação patrimônio cultural foram desenvolvidas.

dos bens culturais por seu valor como Para além dos artefatos museais, um sem

patrimônio coletivo e estimulava a sua número de bens e de manifestações foram

leitura em seus múltiplos aspectos deu-se alvo de práticas educativas, o que ampliou

de maneira sistemática a partir da déca- consideravelmente as possibilidades me-

da de 1980. Como destaca Paulo Knauss todológicas do que se entende hoje por

(2011, p. 595): educação patrimonial (cf. Pereira, 2011).

No Brasil, a mudança de enfoque na


Apesar do alargamento de métodos, o

relação museu e educação teve também


pressuposto básico de apropriação do
patrimônio cultural em suas múltiplas di-
como marco o seminário realizado no
mensões manteve-se. Em contrapartida,
Museu Imperial, dedicado a discutir o
observa-se um rompimento da perspectiva
tema geral Uso Educacional dos Museus
de uma alfabetização cultural, por meio
e Monumentos. O tema do uso educa-
da percepção de que inúmeros atores, de
cional dos museus permitiu, na ocasião,
variadas formas, são agentes legítimos de
cunhar e fixar o conceito de educação
atribuição do status de patrimônio coletivo
patrimonial e lançar as bases de sua
aos mais diferentes bens e manifestações
metodologia.
culturais. Nessa perspectiva, um novo ar-
A museóloga Maria de Lourdes Parreira ranjo se desenha, de modo que as ações
Horta teve papel importante na difusão do de educação patrimonial se inserem numa
termo educação patrimonial e, junto com via de mão dupla, por um lado reforçando
Evelina Grunberg, foi responsável pela o valor de bens consagrados e, por outro,
publicação, nos anos 1990, do Guia bá- servindo de mecanismo de diálogo entre
sico de educação patrimonial (Grunberg; comunidade e técnicos da área, o que
Horta, 1999). Editado pelo IPHAN, esse produz um alargamento da compreensão
livro difundiu a primeira metodologia do do que é patrimônio cultural.
campo no Brasil.
Portanto, reconhecendo esses dois cam-
Com uma proposta de apropriação dos pos conceituais, o presente artigo objetiva
objetos dentro de uma lógica de alfabe- explorar as possibilidades de apropriação,
tização cultural, o Guia constitui-se em na realização de ações educativas em ar-

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quivos, de metodologias e de ideias a eles trabalho com o tema e de debate sobre


concernentes. Para tanto, pretende exami- as operações do fazer histórico.
nar algumas das principais práticas educati-
Assim, a publicação de reproduções de
vas empreendidas pelo Arquivo Público da
conjuntos ou de seleções documentais com
Cidade de Belo Horizonte ao longo de seus
fins educacionais não é rara. No caso do
21 anos de existência, identificando em
APCBH, essa modalidade representou uma
que medida as noções próprias aos campos
das primeiras ações educativas desenvol-
do ensino de história e da educação patri-
vidas pela instituição. Por ocasião do ani-
monial foram utilizadas nessas atividades.
versário de cem anos da capital mineira,7

M OMENTOS DE UMA CAPITAL


em 1997, foi editado o material intitulado

CENTENÁRIA : DOCUMENTOS
Momentos de uma capital centenária.

FOTOGRÁFICOS PARA PROFESSORES Ele se compõe de dois produtos: um conjun-

A
ções educativas em instituições to de 31 pranchas com reproduções de do-

arquivísticas não precisam ne- cumentos fotográficos de paisagens marcan-

cessariamente se voltar para a tes da história local, em formato 43 cm x 30

comunidade escolar. Outros grupos podem cm, acondicionado em uma caixa/envelope

fazer parte de atividades dessa natureza. de papel craft; e uma caixa de slides com

Apesar disso, é inegável a predominância imagens de mesma natureza, concebidos

dos estudantes e dos professores como para serem projetados em sala de aula, em

público-alvo das iniciativas de cunho práticas de ensino-aprendizagem da história

educacional. local. O material teve ampla distribuição, e


foi enviado para escolas de toda a cidade,
Tal situação se deve a um interesse recí-
sendo que a tiragem do conjunto composto
proco. As instituições arquivísticas veem
pelas pranchas foi maior.
alunos e educadores como destinatários
preferenciais de possíveis ações e as uni- As imagens contidas no material são
dades escolares e seus agentes percebem pertencentes, em sua maior parte, a um
os arquivos como importantes espaços de acervo fotográfico do APCBH adquirido de
conhecimento e pesquisa, com especial um colecionador local. As reproduções
interesse nas possibilidades de uso de apresentam cenas que vão desde o mo-
seus acervos. mento de construção da cidade, passando
por paisagens da metade do século XX, até
Nessa perspectiva, a demanda por repro-
registros da década de 1990.
dução de documentos para uso em sala de
aula é recorrente. Percebido como registro Nessa primeira ação educativa em análi-
do passado referente a algum conteúdo se, o que se observa é a perspectiva de
estudado, o acervo proporciona diversas difusão do acervo da instituição visando
oportunidades de aprofundamento no à sua utilização educacional. Selecionado

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de acordo com o seu valor para o debate pretaram a publicação enviada como um
sobre a história da cidade, que completava presente, fazendo com que ele nunca che-
cem anos, o conjunto fotográfico seria uti- gasse às bibliotecas. Essa situação serviu
lizado pelo professor sem uma mediação de parâmetro para as ações educativas
do APCBH. A atuação da instituição, nesse futuras, que tiveram uma intervenção
caso, limitava-se à escolha e à produção institucional mais direta junto ao público.
do material publicado, já que, ao longo
do processo de distribuição, o kit era en-
VISITAS MONITORADAS AO APCBH:
PRIMEIRO TEMPO
tregue às escolas, sem uma participação

U
mais efetiva do Arquivo. ma das modalidades de ação
educativa mais recorrente em
O projeto Momentos de uma capital cente-
instituições de memória, as
nária tinha como pressuposto o potencial
chamadas visitas guiadas, são realizadas,
do acervo arquivístico para o ensino de
há décadas, em boa parte dos museus
história. Publicado em um período no qual
brasileiros. Esse tipo de atividade pode
os currículos oficiais e o debate acadêmico
ser desenvolvido de múltiplas formas. Mais
apontavam para a importância da pesquisa e
comumente, o foco das visitas destinadas
do trabalho com documentos para a apren-
ao público escolar são as exposições.
dizagem da história, como foi anteriormente
Contudo, outras possibilidades de aborda-
destacado, o material visava instrumentali-
gem são viáveis, como a exploração das
zar o professor, oferecendo reproduções de
reservas técnicas, por exemplo.
um acervo acessível apenas na instituição.
Esperava-se que, com as imagens fotográfi- Como apontado inicialmente, a maior par-
cas em mãos, o professor, com sua bagagem te dos arquivos brasileiros não possui uma
teórico-metodológica própria, desenvolveria infraestrutura voltada para a realização de
as atividades específicas. visitas guiadas ou mediadas. Poucos são
os que apresentam exposições de médio e
Como os resultados dessa ação não foram
grande porte ou que destinam áreas para
avaliados sistematicamente, não se pode
o acolhimento de turmas e a realização
afirmar que ela logrou êxito com relação
de lanches.
a esses objetivos. Entretanto, relatos que
foram feitos por professores e outros pro- A ausência de acervo em exposição repre-
fissionais das escolas indicaram que ao senta um desafio para essas instituições
menos um desvio de processo ocorreu: e para os técnicos envolvidos com ações
como o kit chegou às escolas sem que o educativas, já que se faz necessário elabo-
público-alvo fosse informado sobre os ob- rar outras estratégias para atender turmas
jetivos a partir dos quais ele foi produzido, de visitantes. Muitas vezes, os arquivos se
boa parte dos exemplares não encontrou concentram apenas nas chamadas visitas
o seu destino final. Muitos agentes inter- técnicas, destinadas a um público restrito

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de estudantes de graduação e profissionais tar a instituição ao público escolar que,


da área. naquele momento, representava a parcela
mais substancial dos consulentes da casa;
No caso do APCBH, sua condição de arqui-
e apresentar a trajetória histórica do muni-
vo municipal levava a um contato frequen-
cípio, por meio da análise de uma seleção
te com o público escolar desde o instante
de fotografias, em trabalho didático com
em que sua sala de consultas foi aberta.
a história local. 8
Tal aproximação e a referência de ações
educativas internacionais representaram Pautada em propostas vigentes no campo do
estímulo para a efetivação das primeiras ensino de história, ao tratar o acervo fotográ-
iniciativas de interlocução direta com os fico como documento histórico, a visita se
professores e os estudantes. diferenciava da experiência da publicação
Momentos de uma capital centenária pelo
Antes mesmo da publicação do material
fato de a condução da atividade ficar a cargo
Momentos de uma capital centenária , o
da equipe da instituição e não do professor.
APCBH já desenvolvia projetos educativos
A realização da visita na sede do APCBH per-
que contavam com a mediação direta de
mitia que os alunos tivessem contato não só
sua equipe. Inicialmente restrito pela sua
com o acervo, mas que conhecessem parte
estrutura física – já que, no início dos anos
do processo que envolve o seu tratamento.
de 1990, mantinha-se em um pequeno
Por meio da ação, também eram informa-
conjunto de salas no prédio então ocupa-
dos sobre as possibilidades de pesquisa e
do pela Secretaria Municipal de Cultura
convidados a retornar à instituição para a
de Belo Horizonte –, o Arquivo não tinha
realização de seus trabalhos escolares.
condições de receber, sistematicamente,
turmas de visitantes. Por isso, desenvolveu As visitas monitoradas ao APCBH eram
um projeto que levava uma resumida amos- agendadas pelos professores, ou seja, a
tra de seu acervo aos espaços escolares. demanda partia das escolas para o Ar-
quivo. Apesar disso, muitos educadores
Com a mudança, em 1996, para um prédio
optavam pela ida ao APCBH sem mesmo
alugado, criou-se a possibilidade de desen-
conhecer a instituição, o que dificultava
volvimento de ações educativas na sede da
o alinhamento entre as expectativas dos
instituição. Assim, desde a segunda metade
docentes e a proposta da casa.
da década de 1990, a instituição recebe
turmas escolares em suas dependências e Com o intuito de qualificar a interação en-
realiza as “visitas monitoradas”. tre o APCBH e os professores, estes eram
convidados a participar de visitas técnicas
Orientadas, inclusive, pela publicação de
à instituição.
Momentos de uma capital centenária, as
visitas monitoradas ao APCBH cumpriam, Em 2007, uma nova ação foi implementa-
então, duas funções principais: apresen- da com vistas à qualificação das visitas e

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à preparação do professor e, consequen- a França, a participação de professores


temente, dos estudantes, para as visitas de história na coordenação das ações é
ao APCBH. Tratou-se da publicação de recorrente (cf. Association des Archivistes
uma cartilha intitulada Arquivo Público Français, 1991, p. 672-691). Em muitos
da Cidade de Belo Horizonte: informação casos a estruturação dessas atividades
e memória. Composta de 32 páginas, ela atendia diretamente aos interesses curri-
apresenta a instituição, suas funções, es- culares dessa disciplina escolar.

trutura e acervo, além de trazer sugestões Contudo, as aproximações entre as ações


de atividades didáticas a serem realizadas educativas em arquivos e os pressupos-
em sala de aula. Esse material é distribuído tos da educação patrimonial são menos
a todos os educadores que participam de frequentes. Apesar de toda a inserção
ações educativas do APCBH, bem como alcançada por essas ideias entre as insti-
para outros públicos, como estudantes tuições responsáveis pela preservação dos
de graduação e profissionais da área que patrimônios material – móvel e imóvel – e
comparecem às visitas técnicas. imaterial, no que se refere ao patrimônio

Ainda que tangencialmente, essas ações documental, essa vinculação ainda se


mantém incipiente.
representam uma aproximação de concei-
tos da educação patrimonial, a qual tem No caso do APCBH, pode-se apontar uma
por uma de suas balizas a percepção do ação realizada no início dos anos 2000
bem cultural em seu contexto de preser- como aquela que inaugurou uma interlo-
vação, incluindo-se a relação com a insti- cução mais consistente com os preceitos
9
tuição de tutela. Nessa medida, ainda que da educação patrimonial. T rata-se da
as visitas mantivessem um núcleo pautado produção de um vídeo institucional, com
nas noções do ensino de história, tanto a duração de 11 minutos, voltado para o
formação prévia dos professores, quanto público escolar. Denominada Vídeo do-
a apresentação do APCBH para os alunos cumento, a peça audiovisual foi realizada
representavam uma primeira tentativa de em parceria com a Associação Cultural do

situar o patrimônio documental. Arquivo Público da Cidade de Belo Hori-


zonte (ACAP-BH) e contou com recursos da
VÍDEO DOCUMENTO: VÍDEO INSTITUCIONAL Lei Municipal de Incentivo à Cultura, com
DIRECIONADO AO PÚBLICO ESCOLAR o patrocínio do Hospital Mater Dei.

A
interação entre as ações educa- Lançada em 2003, a produção apresenta
tivas em arquivos e os debates uma narrativa que se desenvolve por meio
do ensino de história pode ser da experiência do personagem central,
observada há mais tempo. Nos países em uma criança de nome Davi. A partir de uma
que tradicionalmente os arquivos mantêm solicitação da professora para um trabalho
serviços educativos, com destaque para escolar de pesquisa com documentos so-

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bre a história da cidade, inicia-se o debate ria, o que era a orientação predominante
sobre a importância do arquivo tanto na nas ações educativas até aquele momento.
vida pessoal da criança, quanto no cotidia-
O pioneirismo dessa proposta foi reco-
no da cidade e da administração pública.
nhecido, no ano seguinte, pelo Ministério
Ainda que o mote inicial seja uma pes- da Cultura e pelo Instituto do Patrimônio
quisa sobre a história local por meio de Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
documentos, o enfoque dado no vídeo é que elegeram, por meio do Prêmio Ro-
outro. A discussão central é sobre o sen- drigo Melo Franco de Andrade, o Vídeo
tido daquele arquivo público municipal documento a principal ação de educação
como patrimônio da cidade. Para tanto, patrimonial do ano.
parte-se das referências da criança: seu
A partir de seu lançamento, essa peça
arquivo pessoal e a variedade de docu-
audiovisual foi incorporada às visitas mo-
mentos que o compõem; suas vivências na
nitoradas feitas na instituição. Contudo,
cidade, como o uso do transporte coletivo;
apesar de sua perspectiva voltada para
os locais que reconhece na documentação
os conceitos da educação patrimonial,
histórica, como o parque central da cida-
observou-se que a estrutura das atividades
de; a importância de se preservar os docu-
de recepção de turmas escolares na insti-
mentos e os critérios utilizados para isso.
tuição se manteve a mesma, mais focada
Mobilizando-se elementos reconhecíveis nas propostas e conceitos do ensino de
pelas crianças, o vídeo constrói um dis- história, por meio de análise de documen-
curso acerca da importância do APCBH tos do acervo institucional.
como patrimônio da cidade e do valor de
sua documentação – não apenas por seu C OLEÇÃO HISTÓRIAS DE BAIRROS
conteúdo histórico, mas também por sua DE B ELO H ORIZONTE : PESQUISA

relevância probatória e, por consequência, E LEITURA DOCUMENTAL

O
sua condição de mecanismo de afirmação trabalho de pesquisa e a divul-
da cidadania. gação de seus resultados por
A adoção de tal perspectiva na elaboração meio de publicações voltadas
de uma iniciativa educativa aproximou o para o público escolar é outra possibi-
APCBH de outras experiências desenvol- lidade de ação educativa em arquivos.
vidas no campo do patrimônio, notada- Diferentemente de material pedagógico
mente aquelas realizadas em museus. Ao que apresenta apenas reprodução de do-
apropriar-se de conceitos da educação cumentos, esse tipo de iniciativa inclui o
patrimonial, a instituição abriu uma nova desenvolvimento de um texto didático e
possibilidade de atuação educacional, a elaboração de atividades a serem rea-
criando uma alternativa à utilização dos lizadas nas escolas, com a mediação do
documentos a serviço do ensino de histó- professor.

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No caso do APCBH, esse viés de ação foi pital mineira, seguindo a divisão da cidade
representado pela publicação da Coleção em nove regionais. Os exemplares têm, em
Histórias de Bairros de Belo Horizonte, que média, 64 páginas que apresentam textos,
se constitui no primeiro produto do Projeto imagens, fichas com informações básicas
Histórias de Bairros de Belo Horizonte. de cada bairro, atividades pedagógicas,
linhas do tempo e mapas – produzidos
Iniciado em 1999, o Projeto Histórias de
especialmente para as publicações, a par-
Bairros de Belo Horizonte se originou da
tir da interpretação construída nos textos
percepção de uma demanda regular pela
consulta de informações sobre os bairros didáticos.

da cidade, especialmente pelo público A Coleção tem distribuição gratuita para


em idade escolar. Muitas vezes orientados todas as escolas de ensino fundamental
pelos professores, os alunos de ensino em cotas reduzidas, constituindo material
fundamental buscavam o APCBH em bus- de biblioteca para ser trabalhado em grupo
ca de dados acerca da história local, com pelos alunos. Para evitar que se repetisse a
ênfase nos bairros. situação já mencionada, vivida em meados

No intuito de atender a essa demanda da década de 1990, quando o material de

frequente, o APCBH iniciou um levanta- ação educativa foi entregue diretamente

mento de fontes em seus acervos e nos nas escolas e apropriado por agentes indi-

de outras instituições de memória da viduais, utilizou-se uma estratégia diferen-

cidade, sistematizado a partir da divisão te: o APCBH enviou cartas de divulgação

espacial dos bairros. Ao longo de vários do lançamento dos volumes às escolas e

anos, foram coletadas inúmeras referên- informou que eles seriam entregues para

cias da trajetória histórica desses lugares, as bibliotecas sob demanda. Além disso, a

bem como se iniciou o desenvolvimento Coleção foi integralmente disponibilizada,


de propostas de elaboração de produtos a também, em formato digital, na internet
partir do material reunido. Finalmente, em (cf. Arreguy; Ribeiro, 2008).
2007, formou-se uma equipe para produzir A partir do momento em que se iniciaram
uma coleção de cadernos paradidáticos as discussões para a elaboração desse
voltados para o público de 9 a 12 anos material, tornou-se importante o desen-
– o público que buscava essas informa-
volvimento de um referencial teórico-me-
ções com mais frequência, em função da
todológico que orientaria sua confecção.
estrutura dos currículos de história e de
Tendo em vista a atuação da instituição e
geografia vigentes.
seu relacionamento com o público escolar,
Com os primeiros exemplares lançados optou-se por produzir um material para-
em 2008, a Coleção é composta por nove didático que apresentasse os resultados
cadernos, além do livro do professor, e de uma pesquisa histórica, sem com isso
aborda os quase trezentos bairros da ca- fechar um debate sobre o tema, e que,

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ao mesmo tempo, estimulasse o desen- educadores e alunos na construção de


volvimento de pesquisas e a consulta aos interpretações sobre a trajetória histórica
documentos sob a guarda do APCBH. dos inúmeros bairros da cidade, caberia
ao APCBH desenvolver e apresentar fer-
Nessa perspectiva, a principal estratégia
ramentas capazes de contribuir para um
adotada na Coleção foi o desenvolvimen-
exame mais qualificado das informações
to de atividades de leitura documental a
contidas no acervo. Nesse sentido, ao
partir do material coletado ao longo do le-
longo das atividades, foram apresentadas
vantamento realizado nos anos anteriores.
seleções de documentos, agrupados a par-
Partindo-se das discussões do campo do
tir de um problema de pesquisa, mas que,
ensino de história, foi sistematizada uma
no conjunto, eram capazes de apresentar
metodologia para a abordagem do acervo,
uma variedade de suportes, formatos, lin-
entendido como fonte histórica para o de-
guagens, produtores, datas e abordagens.
bate sobre a trajetória dos bairros.
Foram criadas atividades que buscavam
Por meio da experiência com o atendi-
promover a interação do leitor com os
mento de estudantes e de professores dos
documentos em duas perspectivas: iden-
anos iniciais do ensino fundamental – em
tificando os elementos fundamentais para
sua imensa maioria, não especialistas
a sua compreensão histórica – sujeitos his-
em história – nos espaços de consulta da
tóricos, produtores e receptores; tempo-
instituição, percebeu-se que a esse pú-
ralidades, de produção e circulação; fatos
blico faltavam ferramentas para o exame
históricos, traduzidos na narrativa sobre a
da informação contida nos documentos.
cidade e o problema histórico em questão
Sem um roteiro que os instrumentalizasse
– e operando com as especificidades da
acerca das operações de crítica interna
linguagem de cada documento – leitura
e externa, de cruzamento de fontes, de
de imagens fotográficas, iconográficas e
exame das diferentes linguagens e sua
cartográficas; textos oficiais da adminis-
consequente interpretação, acabavam
tração pública em diferentes formatos;
por relacionar-se de modo superficial e
periódicos; cartas da população etc. Com
ingênuo com o acervo.
isso, tornava-se possível apontar as dife-
Tendo em vista essa situação, a apresenta- rentes operações necessárias à análise das
ção de estratégias de leitura documental, evidências. Com o uso de recursos gráficos
por meio de atividades e de um texto ex- que chamavam a atenção para tipologias
plicativo veiculado no livro do professor, variadas, enunciados que formulavam um
significava uma contribuição da institui- problema e que traziam dados comple-
ção arquivística dentro de um processo mentares sobre os documentos, questões
mais amplo de ensino-aprendizagem que que exploravam elementos internos e ex-
tem por ator principal a comunidade es- ternos, bem como relacionavam as fontes
colar. Reconhecendo o protagonismo de entre si, e de proposições de debates que

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R V O

estimulavam uma reflexão atual sobre o importância da experiência direta com o


tema; estipulava-se uma possibilidade bem cultural para o desenvolvimento das
de roteiro para o trabalho não só com ações de educação patrimonial, a ausência
o corpus eleito pela equipe da Coleção, de exposições ou de espaços para oficinas
mas também aplicável a outros acervos são um obstáculo para a real efetivação de
arquivísticos. práticas capazes de propor uma reflexão
interativa sobres sentidos do patrimônio
Paralelamente, visando realizar um traba-
lho de formação continuada de professo- documental mantido pelas instituições

res e outros profissionais da escola – como arquivísticas.

bibliotecários –, desde o lançamento dos Tais desafios marcaram a experiência


primeiros volumes da Coleção , oficinas mais recente do APCBH, a qual consistiu
vêm sendo realizadas, em parceria com na definição de uma proposta de reformu-
as Gerências Regionais de Educação da lação das chamadas visitas monitoradas.
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.10 Realizada desde meados da década de

Por meio da experiência de elaboração 1990, como apontado anteriormente, essa

da Coleção Histórias de Bairros de Belo modalidade de ação mantinha um estreito

Horizonte , explorou-se a viabilidade de diálogo com as questões do ensino de his-

uma instituição arquivística apresentar-se tória, notadamente pelos vieses da análise

como produtora de reflexões e propositora documental e da história local. Orientadas

de metodologias no campo do ensino de pela relação próxima do público escolar

história. Tal publicação evidencia a per- com os espaços de consulta da instituição,

tinência da atuação de outros atores na as visitas tentavam atender às demandas


confecção de materiais didáticos. de aprofundamento no estudo da trajetória
histórica de Belo Horizonte.
VISITAS MONITORADAS AO APCBH:
Por uma série de motivos, com destaque
SEGUNDO TEMPO
para as transformações curriculares das

C
omo lidar com a ausência de in- escolas de ensino fundamental, com a
fraestrutura para a realização de valorização de projetos transversais em
ações educativas em instituições detrimento de conteúdos compartimenta-
arquivísticas? É possível incorporar concei- dos nas tradicionais disciplinas, e para a
tos e práticas da educação patrimonial em
redução das pesquisas presenciais em de-
uma situação desfavorável de mobilização
trimento das consultas on-line, observou-
do acervo?
se uma modificação das demandas e dos
Essas são algumas questões que atingem objetivos dos professores que procuravam
diretamente os técnicos que pretendem o APCBH para o agendamento de visitas.
implantar ações educativas em arquivos Atualmente, a ênfase recai muito mais
públicos. Partindo-se do pressuposto da sobre um debate mais amplo sobre o do-

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A C E

cumento, seus sentidos para elaboração não permitindo a construção de uma ideia
de identidades e memórias individuais e sobre a relação entre aquele acervo e a
coletivas e sua relação com a produção instituição responsável pela sua guarda.
de conhecimento histórico, do que sobre
A ausência de espaços de exposição ou de
o trabalho com a história local.
uma interação mais direta com o acervo,
Paralelamente a essa transformação, dois ao contrário do que acontecia nas outras
fatores constituíram oportunidade para instituições visitadas pelos alunos, gera-
uma reformulação das visitas monitoradas va uma dificuldade de apreensão desse
ao APCBH em 2011. O primeiro deles se espaço como um lugar de memória. As
refere à participação da instituição em um avaliações da visita monitorada ao APCBH
projeto da Secretaria Municipal de Edu- mostraram que, muitas vezes, a experiên-
cação denominado Circuito de Museus.11 cia era frustrante: estudantes, e mesmo
Essa experiência, ao longo do ano, foi professores, compreendiam-na como mais

essencial para guiar a equipe no exame uma visita a um museu, sem os atrativos

dos limites e das possibilidades para a de um museu. Afinal, que lugar era esse,

mudança das visitas. Com a inserção no onde se realizava uma visita e não havia

projeto, além do aumento da quantidade o que ver?

de atendimentos, também foi possível que Apesar do modelo de visita ter uma preo-
a equipe do Arquivo obtivesse um retorno cupação com a construção de um elo
qualitativo dos alunos quanto às visitas, entre o estudante e a instituição – por
uma vez que, ao completar o Circuito, os meio, por exemplo, da apresentação do
estudantes apresentam um produto como Vídeo Documento –, isso parecia se dis-
trabalho de conclusão no formato de uma solver no decorrer do encontro e diante
exposição. Essa tem por objetivo mostrar das expectativas dos visitantes. A própria
o que cada turma apreendeu das visitas às experiência de percorrer as áreas de traba-
instituições, qual conhecimento foi agrega- lho e de depósito do APCBH mostrava-se
do após essas visitas e como os estudantes pouco articulada às demais atividades,
representam esse novo aprendizado. dificultando uma construção de sentido

Esses trabalhos, somando-se a uma longa para aquela vivência.

experiência de visitas à instituição, indica- Frente a essas reflexões, uma segunda


ram que havia uma dificuldade dos alunos situação significou uma oportunidade de
se reconhecerem nesse espaço, bem como reestruturação da atividade. Foi o Projeto
perceberem-no como um lugar de memória Arquivo 20 Anos, ação de comemoração
e patrimônio inserido em suas vidas e mes- e reflexão sobre a trajetória da instituição
mo no cotidiano da cidade. O trabalho com nas últimas duas décadas, que permitiu
a história local por meio de documentos aporte financeiro para o desenvolvimento
fotográficos soava como mais uma aula, de inúmeras iniciativas, como seminário,

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R V O

exposição, tratamento do acervo institu- e representa o diálogo entre elementos


12
cional, dentre outras. dos campos da educação patrimonial e do
ensino de história, incorporados à cultura
No escopo do Projeto Arquivo 20 Anos,
da instituição ao longo de sua trajetória.
realizou-se a reformulação da visita ao
APCBH, que contou com recursos para Em consonância com as discussões atuais
contratação de consultoria na área, produ- do campo de educação patrimonial, a visi-
ção de sinalização interpretativa no espaço ta passou a ser compreendida como parte

da instituição, impressão de fac-símiles e de um processo da formação do estudan-

compra de material para composição de te na vida em sociedade, como sujeito e

kits pedagógicos. cidadão, mais do que como um momento


de apresentação formal da instituição ar-
O primeiro grande desafio para a implan-
quivística e de seu acervo. Desse campo
tação de uma nova proposta de visita
também foram incorporadas experiências
monitorada à instituição era superar suas
e reflexões sobre a sinalização interpre-
limitações físicas. Via de regra, ao realizar
tativa dos espaços (cf. Murta; Goodney,
excursões a espaços de memória, professo-
2002), visando promover a interação entre
res e alunos carregam algumas expectativas
os estudantes e o APCBH.
que envolvem não só a exploração de uma
Agudizou-se, também, a proposta de esta-
exposição, mas também outros momentos
belecer uma relação entre a documenta-
como, por exemplo, a confraternização por
ção do acervo do APCBH e os documentos
meio de um lanche. Essas vivências não
dos alunos, produzidos e recebidos por
respondem apenas a demandas do grupo,
eles em seu dia a dia, presente tanto no
mas são importantes na estruturação de um
Vídeo Documento quanto no formato an-
processo educativo que se pauta no contato
terior da visita. Com a intenção de mostrar
direto com o bem cultural e no estabeleci-
como cada arquivo pode ser constituído de
mento de múltiplas relações, inclusive as
uma forma, dependendo de sua natureza
de ordem sentimental.
e finalidade, promove-se uma reflexão
Assim, reconhecendo-se a inviabilidade sobre a importância atribuída a algo – que
dessas experiências, foi necessário es- implica seu enquadramento na categoria
truturar a visita de modo a proporcionar “documento” e a decisão de preservá-lo.
outras vivências capazes de produzir
A busca de uma aproximação entre a insti-
reflexões acerca do lugar do patrimônio
tuição e o cotidiano do estudante implica
documental na vida da cidade e no coti-
ainda a desconstrução da ideia do senso
diano dos alunos.
comum de que arquivar é guardar, no
O conceito que embasa o projeto – “É sentido de vigiar, aprisionar, restringir o
importante? Vamos preservar!” – sintetiza acesso. Pretende-se trabalhar o conceito
o objetivo geral do novo modelo de visita de que arquivar é guardar, no sentido de

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preservar, o que implica atribuir sentido fac-símiles, desenvolve-se uma atividade


e ordem aos documentos, conservar sua lúdica que propõe uma reflexão sobre
integridade física, na medida do possível, os diferentes formatos e suportes dos
e garantir o acesso a eles – uma zona de documentos de arquivo e de seu valor
franca interseção entre os campos da edu- informacional.
cação patrimonial e o ensino de história.
A mediação dos técnicos e estagiários do
Para tanto, os alunos recebem dicas de APCBH foi mantida, contudo procurou-se
como armazenar a sua documentação e reforçar o caráter dialógico da atividade.
de materiais, encontrados em papelarias Reconhecendo-se as recentes contribui-
ou mercados, que podem ser usados na ções do campo da educação patrimonial,
preservação de seus acervos. Além disso, busca-se elaborar uma reflexão sobre as
são disponibilizados recursos, sob a forma inúmeras possibilidades de constituição
de um kit pedagógico,13 que auxiliam os de acervos arquivísticos, em debate com
estudantes a serem, eles próprios, respon- os diferentes agentes envolvidos no pro-
sáveis pela preservação dos documentos cesso de consagração do patrimônio do-
que constituem a sua identidade. cumental. Com isso, procurou-se romper
com um discurso de poder que elege os
A noção de documento foi ressignificada.
arquivos como os únicos capazes de va-
Juntamente com a preocupação própria do
lidar acervos como de valor permanente.
ensino de história de desconstruir a noção
de documento como algo antigo, escrito Contudo, a principal transformação na
e oficial, tomando-o como qualquer pro- estrutura da visita refere-se à tentativa
dução humana portadora de informação, de constituir-se uma vivência capaz de
incorporou-se o debate da área de arquivos, proporcionar ao aluno uma relação com
referente à valoração desses registros e da o espaço da instituição e com seu acer-
definição daqueles que serão elevados à vo. Permitindo que ele, não só por meio
condição de patrimônio, ou, na linguagem do mediador, mas também através da
do campo, acervo permanente. Além dis- observação e das sensações, fosse capaz
so, propôs-se a percepção das diferentes de elaborar sua própria noção do APCBH
possibilidades de constituição de conjuntos e estabelecer vínculos individuais com o
arquivísticos, destacando-se o referencial patrimônio documental ali custodiado.
do Arquivo Público da Cidade de Belo Ho-
Nessa perspectiva, foi criada uma sinali-
rizonte e a delimitação de seu acervo pela
zação interpretativa no espaço, garantida
atuação do poder público municipal.
pela inserção de plotagens, cuja identi-
Assim, não se perde a dimensão da impor- dade visual é dada pela presença de uma
tância do acervo como evidência para a mascote.14 Um novo percurso pelo espaço
construção da história local, mas amplia- da instituição faz com que os visitantes
se o conceito. Por meio da utilização de perfaçam um circuito interno, visitando

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R V O

diferentes depósitos, onde se encontram noções de acervo e de documento e, por


documentos que ainda não foram tratados outro, o público percebe-se não só como
e arranjados. Essa alteração permite maior usuário, mas também como produtor e
riqueza de experiências, pois os alunos custodiador de documentos e, portanto,
poderão observar os diferentes ambien- responsável por sua preservação.
tes onde se encontra a documentação
em fases distintas dentro de um arquivo. C ONSIDERAÇÕES FINAIS

C
Isso permite não apenas uma percepção ontemporaneamente, os debates
melhor do trabalho da instituição, mas, sobre o papel e as possibilidades
sobretudo, de que preservar documentos de intervenções educativas em
é um trabalho dinâmico, um processo em instituições arquivísticas têm ganhado cor-
constante andamento. po, tanto em função da crescente demanda

Ao longo do trajeto, os alunos são provo- social por essas atividades,16 quanto do

cados pela sinalização interpretativa que adensamento das discussões no campo

apresenta frases, em geral, questionado- da arquivologia.

ras.15 A ideia básica das intervenções pon- A partir do exame de algumas ações educa-
tuais no espaço físico do Arquivo é instigar tivas realizadas no âmbito do APCBH, nas
a curiosidade e a reflexão dos alunos. últimas duas décadas, foram discutidas

Nessa perspectiva, frente à ausência de as contribuições teórico-metodológicas

espaços próprios, as áreas de trabalho e que os campos do ensino da história e da

de depósito da instituição são apropriadas. educação patrimonial podem oferecer para

Perseguindo-se o princípio da experiência a construção de referenciais para o desen-

direta, é proposta uma reflexão sobre o volvimento de projetos educativos em ar-


patrimônio documental a partir do conhe- quivos, especialmente arquivos públicos,
cimento de suas condições de tratamento, cuja natureza de acervo, gestão e função
de sua materialidade e de seu conteúdo, social guarda algumas especificidades.
buscando-se aproximá-lo de referências O exame realizado permite afirmar que, a
cotidianas que marcam a vida das crianças partir de seu lugar institucional, de suas
e as relações com suas identidades e suas
vivências e de seus debates próprios, os
memórias individuais e coletivas.
arquivos são capazes de contribuir em
Compreendendo-se que a educação patri- processos educativos – escolares e não
monial prevê processos, a visita monitora- escolares –, agregando novas questões e
da é entendida como um momento de sen- novas abordagens a antigos problemas.
sibilização, no qual, por um lado, a equipe Para que isso se realize, é fundamental
do APCBH se aproxima das diferentes con- que a instituição compreenda-se não como
cepções que a comunidade escolar carrega único ator desses processos, mas como um
acerca das instituições arquivísticas e das dos participantes que desenvolve a cena.

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Para tanto, é preciso que a instituição ar- vinculados desses sujeitos nos projetos
quivística reconheça os lugares sociais e educativos, tratados como objeto em si
as especificidades dos sujeitos com quem mesmos, com importância independente
interage, bem como a legitimidade de da relação que têm com suas comunida-
suas diversas demandas. Além disso, que des de origem. Cultivar a relação entre
considere, ao projetar e desenvolver essas esses dois pólos – acervo e comunidade
ações, as inúmeras mediações que perpas- –, fortalecendo os elos de pertencimento
sam os saberes por ela produzidos e, espe- e de identidade, pode contribuir para a
cialmente, as múltiplas possibilidades de atribuição de valor simbólico aos arquivos
apropriações dos acervos que custodiam. e para a ampliação do entendimento da
noção de cidadania dos consulentes.
Uma contribuição central da educação
patrimonial para o desenvolvimento das A importância de se pensar no processo de
ações educativas em arquivos é a compre- construção de capacidades de leitura de re-
ensão de que seu público-alvo, em última gistros históricos – aqueles que constituem
instância, são os sujeitos do processo de a essência dos acervos documentais – e
valorização e preservação dos bens cul- possibilitar uma leitura mais densa e diversa
turais – e que esse processo é dinâmico da história regional e local são, por sua vez,
e interminável. Os acervos documentais, contribuições fundamentais do ensino de
como parte do patrimônio cultural de uma história para o desenvolvimento de ações
dada coletividade, não podem ser des- educativas nas instituições arquivísticas.

N O T A S
1. A chamada Lei Nacional de Arquivos, lei federal n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991, foi referência
para a legislação que orientou a criação do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, lei mu-
nicipal n. 5.900, de 20 de maio de 1991, e que estabeleceu uma política municipal de arquivos,
lei municipal n. 5.899, de 20 de maio de 1991.
2. A cidade de Belo Horizonte foi inaugurada em 12 de dezembro de 1897, planejada para ser a
capital do estado de Minas Gerais. Ao longo se sua história, os acervos documentais da prefei-
tura foram tratados de diferentes formas, alternando-se períodos de manutenção de arquivos
administrativos, com fases de realização de grandes expurgos. As diversas massas documentais
foram acumuladas em condições variadas. Até a criação do APCBH, a administração municipal
nunca havia estruturado um serviço de acesso público ao acervo (cf. Parrela, 2005).
3. Em seus cinco primeiros anos, o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte ocupou três locais
diferentes, os quais ofereciam poucas condições para o armazenamento e o tratamento do acer-
vo. Em 1996, um prédio foi alugado e reformulado para receber a instituição, constituindo-se
até hoje na sede do APCBH. Apesar de remodelado, o edifício não prevê espaços para ações de
difusão, à exceção de uma sala multiuso criada em 2007, em um processo de reformulação do
layout das áreas de trabalho. Assim, não se conta com auditório, sala de exposição, espaço para
lanche etc.

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R V O

4. Os arquivos franceses têm se ocupado, desde a década de 1950, em implementar, avaliar e re-
fletir sobre uma política de ação educativa e cultural. As experiências ali realizadas vêm sendo
relatadas e disponibilizadas ao público interessado em diferentes publicações. Para mais infor-
mações, cf. <www.archivesdefrance.culture.gouv.fr>.
5. No processo de implantação de serviços educativos nos arquivos franceses, ao longo da década
de 1950, a presença dos professores de história foi marcante, em razão de terem sido os pri-
meiros a assumirem os postos de responsáveis pelas ações dessa natureza (cf. Association des
Archivistes Français, 1991, p. 672-691).
6. A dinâmica de estruturação inicial do campo do ensino de história se deu a partir da organização
de dois eventos de discussão de questões atinentes a ele: o Encontro Nacional de Pesquisa-
dores do Ensino de História – ENPEH, cuja primeira edição foi realizada em 1993 e é voltado
para um público de pesquisadores, como o próprio nome indica; e o Perspectivas do Ensino
de História, cuja primeira edição ocorreu em 1988, ainda sob o formato de seminário, e que
é voltado para um público mais amplo, incluindo professores de história da educação básica.
Ambos os encontros existem ainda e constituem-se em importantes fóruns para os debates
do campo no Brasil, além do GT de Ensino de História e Educação da Associação Nacional de
História – ANPUH, criado em 1997, quando as discussões sobre o tema já integravam os simpó-
sios e as publicações da Associação, e da Associação Brasileira de Ensino de História – ABEH,
criada em 2006 (cf. Mesquita, 2008).
7. Nesse ano de 1997, de comemoração do centenário de Belo Horizonte, vários foram os proje-
tos educativos sobre a história da cidade desenvolvidos para o público escolar no âmbito da
administração municipal, muitos deles com a produção de materiais didáticos. Até então, eram
poucas as informações sistematizadas sobre a história da capital acessíveis a esse público.
8. A seleção do acervo fotográfico utilizado ao longo das visitas se deu principalmente dentro da
Coleção José Goés, conjunto constituído por um fotógrafo local, o qual está, até hoje, entre a
documentação mais consultada pelos diferentes pesquisadores. A partir das imagens do passado,
foram produzidos registros atuais dos mesmos locais, de modo a permitir um debate sobre as
permanências e as transformações do espaço urbano.
9. Segundo Mattozzi (2008), a realização de ações de educação patrimonial encerra algumas con-
dições: “A primeira condição é que as experiências de aprendizagem se desenvolvam com a
utilização dos bens culturais originais: monumentos, arquiteturas, fontes de arquivo, peças de
museus, sítios arqueológicos, quadros autênticos etc. A segunda condição é que sejam objeto
de observação e de uso para produzir informações. A terceira condição é que esses sejam co-
locados em relação com o contexto e com a instituição que os tutela. A quarta condição é que
se promova a tomada de consciência de que são a minúscula parte de um conjunto muito mais
amplo que permite o conhecimento do passado e do mundo, o prazer de conhecer, a fruição
estética. As últimas duas condições requerem que se generalize a descoberta do valor dos bens
culturais usados e das instituições e dos sujeitos que os tutelam e os estudam”.
10. Reflexões e análises sobre o processo de produção e divulgação dessa coleção foram sistemati-
zadas em dois textos (cf. Ribeiro; Santos; Hermeto, 2010 e 2011).
11. O projeto Circuito de Museus se configura numa parceria entre a Secretaria Municipal de Educação
(SMED) e diferentes instituições da cidade voltadas para a memória, as artes e as tecnologias,
organizadas em três grupos: Circuito Ciências e Tecnologia, Circuito Artes Plásticas e Circuito
Histórico. Ao pleitear a participação, o professor opta por um dos circuitos, devendo percorrer
com seus alunos as instituições que o compõem, após apresentar um projeto pedagógico próprio,
relacionado à temática. O APCBH integra o Circuito Histórico, que era composto, em 2011, por
mais três instituições: o Museu Histórico Abílio Barreto, o Memorial Minas Vale e o Museu de Artes
e Ofícios. Em 2012, apenas as duas primeiras continuam, junto com o APCBH, nesse circuito.
12. O Projeto Arquivo 20 Anos contou com recursos da FAPEMIG e da Fundação Municipal de Cul-
tura de Belo Horizonte e com a parceria do curso de arquivologia, ligado à Escola de Ciência da
Informação da UFMG, e da Associação Cultural do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte
(ACAP-BH). Alguns de seus resultados podem ser conferidos pelo endereço <http://www.pbh.gov.
br/cultura/arquivo>.
13. Os kits são compostos de materiais de proteção individual (luvas e máscara), de materiais para
pequenas intervenções (lápis 2B, borracha para ser ralada, tecido e fitilho para confecção de
sachê), de materiais menos reagentes (clipes de plástico, cadarço de algodão) e de material para
receitas domésticas e afastamento de pragas (cravo-da-índia e pimenta-do-reino). Além disso,
contém um folder explicativo e o chamado passaporte do pesquisador, documento de identifica-
ção a ser utilizado pela criança no seu retorno à instituição.
14. A mascote da ação educativa é um caracol, cuja concha é a cidade de Belo Horizonte – identificada
especialmente pelo viaduto Santa Tereza, uma referência urbana importante –, uma metáfora da

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estreita relação entre os sujeitos históricos e o lugar onde vivem, de como ambos se definem
mutuamente e devem zelar um pelo outro.
15. Na Sala de Visitas, onde se inicia o diálogo, a parede de frente para as cadeiras onde os estu-
dantes se posicionam propõe que se pense: “Arquivo!? Que arquivo?”. Na mesa da antessala
da Conservação, onde são apresentadas as noções básicas de preservação documental, há um
conjunto de ilustrações de objetos usados em procedimentos técnicos junto com a frase que
traduz o conceito básico do projeto – “É importante? Vamos preservar!”. No alto da escada que
conduz aos depósitos de documentos, a última parte da visita, questiona-se: “E aí, onde estão os
documentos?”. Finalmente, entre o depósito de documentos não arranjados e o de documentos
arranjados, uma última provocação: “Vale a pena arrumar essa bagunça?”.
16. Vale lembrar que a criação de serviços educativos em arquivos públicos foi uma das demandas
aprovadas pela I Conferência Nacional de Arquivos realizada em Brasília, em dezembro de 2011.

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Acervo, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 67-88, jan./jun. 2012 - pág. 87


R E S U M O
O artigo analisa um conjunto de ações educativas desenvolvidas no Arquivo Público da Ci-
dade de Belo Horizonte, visando compreender o seu desenvolvimento teórico-metodológico,
que se fez em diálogo com a produção dos campos de ensino de história e educação patri-
monial. Ele é também um esforço de compreensão das contribuições desses dois campos
de referência para a ação educativa em arquivos.

Palavras-chave: ação educativa em arquivos; visita monitorada; educação patrimonial;


ensino de história.

A B S T R A C T
The article analyses a set of educative actions developed in the Arquivo Público da Cidade
de Belo Horizonte. Its aim is to understand the theoretical and methodological develop-
ment of those actions, which was done in an open dialogue with the production in the
history and heritage education fields. It is also an effort to perceive the contributions of
those fields as references to the educational action in archives.

Keywords: educative action in archives; guided visit; heritage education; teaching of


history .

R E S U M É N
El artículo analiza un conjunto de acciones educativas desarrolladas en el Arquivo Público
da Cidade de Belo Horizonte, con vistas a comprender su desarrollo teórico y metodo-
lógico, llevado a cabo a través de un franco diálogo con la producción en los ámbitos
de la enseñanza de historia y educación patrimonial. El también pone de manifiesto un
esfuerzo de comprensión de las aportaciones de esos dos ámbitos de referencia para la
acción educativa en archivos.

Palabras clave: acción educativa en archivos; visita monitoreada; educación patrimonial;


enseñanza de historia.

Recebido em 15/4/2012
Aprovado em 8/5/2012

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