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Pesquisadores afirmam que há uma crescente busca pelas práticas xamânicas por jovens
de classe média, impulsionados pelo desejo de prestar atenção em si mesmo e pelas
técnicas arcaicas do êxtase.O xamanismo é uma filosofia que visa o reencontro do
homem com o seu mundo interior e estabelece ensinamentos baseados na observação da
natureza: sol, lua, terra, água, fogo, ar, animais, plantas.
O homem, desde as antigas civilizações, busca através das plantas a cura para os males
do corpo e da alma. O uso de ervas em tratamentos naturais contra doenças, fitoterapia,
é cada vez mais usado no Brasil. Assim como o de plantas enteógenas – palavra de
origem grega que significa “Deus dentro de si”- também conhecidas como “plantas
professoras” ou “plantas de poder”.
Pesquisadores confirmam uma crescente busca de jovens de classe média por essas
“plantas de poder”, e procuram entender o que está impulsionando esse interesse. De
acordo com Beatriz Labate, em “A reinvenção do uso da ayahuasca nos centros
urbanos”, nos últimos anos a moda New Age fez com que pessoas do mundo inteiro
procurassem esses conhecimentos na América Latina. “Pequenos grupos experimentais
utilizam ayahuasca no mundo inteiro. Seja em atendimento psicoterapêutico, por meio
de vivências típicas do universo New Age, em contextos relacionados à criação artística
e até em atividades com moradores de rua”, afirma.
Wagner Lira comenta que algo intrínseco nesses jovens parece chamar por um destino
cultural e espiritual mais autêntico, com essência espiritual verdadeira e desligada do
material, assim como uma ligação entre o material e o espiritual. “Perto da natureza,
sobre o efeito de plantas que ensinam, os jovens criados nos centros urbanos percebem
coisas na natureza que antes lhes havia escapado. Fica evidente que o uso para
propósitos transcendentais vai perdurar como um traço indelével da existência humana.
Os resquícios da antiga tradição xamânica do uso de plantas sagradas, sobrevivem ao
lado de formas mais atuais de consumo”, diz. Outro fator é uma certa rejeição às
religiões tradicionais, os jovens não estariam mais aceitando os paradigmas religiosos
dominantes e continuariam buscando o equilíbrio espiritual para aliviar as angústias,
insegurança, insatisfação que todo ser humano experimenta. Pesquisadores comentam
também, que essa busca favoreceu o interesse pela saúde natural, a agricultura
sustentável, as fontes renováveis de energia e os conceitos de moradia orgânica.
Propiciando, assim, uma consciência ambiental mais abrangente.
É importante alertar que o uso das “plantas professoras” precisa ser feito com a
orientação de um mestre, mediador, sacerdote ou xamã, para que tais ensinamentos
possam realmente ser apreendidos. E essa aprendizagem costuma ser diferenciada e
particular.
Uma das religiões que faz uso das “plantas professoras” e atua na Região Metropolitana
do Recife, há 21 anos, é o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (CEBUDV).
Temos também o Santo Daime, em São Lourenço, e a Panahuasca em Camaragibe. A
instituição religiosa CEBUDV surgiu em 1961, fundada por José Gabriel Costa, um
baiano que se alistou no “Exército da Borracha” e trabalhou como seringueiro nas
florestas próximas à fronteira entre o Brasil e a Bolívia – no Estado de Pernambuco foi
fundada em 10 de fevereiro de 1988. “Dentro de tanta luta em uma floresta, lutando
com a família para sobreviver, Mestre Gabriel lembrou de nós, e trouxe a União com
um único pensamento: trazer uma paz para a humanidade”, comenta mestre Raul, do
Núcleo Cajueiro, o primeiro do Estado, e complementa: “O mestre sabia que a paz não
se consegue como quem escreve um tratado, mas com acesso à educação, moradia.
Ninguém pode estar em paz sem ter liberdade religiosa também. O trabalho da União é
promover a paz para humanidade, através do desenvolvimento pessoal, intelectual,
moral e espiritual”. Hoje, existem 131 unidades administrativas da CEBUDV no Brasil,
com cerca de 15 mil adeptos. Em Pernambuco existem quatro centros. No exterior
existe um núcleo em Santa Fé, no Novo México (EUA) e na Espanha.