Professional Documents
Culture Documents
6:145-149, 1983.
RESENHAS
REVIEWS
DINIZ, Eli — Voto e máquina política: patronagem e clientelismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1982. 228p.
* Departamento de Antropologia, Política e Filosofia — Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação — UNESP —
14.800 — Araraquara — SP.
145
D I N I Z , E . — Voto e máquina política: patronagem e clientelismo no Rio de Janeiro. R i o de Janeiro, Paz e
Terra, 1982. 228p. R E S E N H A S . Perspectivas, S ã o Paulo, 6.145-149, 1983.
"Que fatores explicariam essa malea- Quanto ao que a autora chama a elite
bilidade da máquina, essa possibilidade chaguista "formada por parlamentares
de adaptação às novas condições criadas cuja carreira política se fez no antigo esta-
com a fusão dos dois estados? Seriam do da Guanabara, observa-se uma tradi-
apenas fatores conjunturais, ligados ao ção de filiação chaguista, em alguns ca-
fechamento do regime político ou o êxito sos, sedimentada por várias legislaturas
político eleitoral da máquina teria compo- consecutivas" (p.97), existe ainda um tra-
nentes mais específicos e, portanto, bases dição familiar importante que remonta
menos movediças e mais permanentes? em alguns casos aos primórdios da políti-
Ainda que o chaguismo desapareça, en- ca carioca, levando a uma estabilidade
quanto tal, desapareceriam as condições muito grande do núcleo dirigente. " A bai-
para a emergência de um mesmo estilo de xa rotatividade dos membros integrantes
política e até de uma organização seme- desse núcleo dirigente, tanto ao nível da
lhante, embora sob novo rótulo?" (p.90) representação parlamentar, quanto ao
nível da organização partidária, seria um
Para responder a tais indagações, o importante fator na manutenção da esta-
texto procura tratar das especificidades da bilidade eleitoral do grupo chaguista"
máquina chaguista, enquanto organiza- (P-99).
ção, sua dinâmica interna de funciona- Os dados referentes à análise da re-
mento, suas metas, sua tática político- presentação parlamentar, principalmente
eleitoral, sua orientação e perfil ideológi- no que diz respeito à assembléia estadual,
cos. Os aspectos organizacionais da má- sugerem que " a máquina chaguista man-
quina redesdobram em 3 níveis distintos: tém fortes vínculos político-eleitorais com
1) organização partidária; 2) capacidade uma ampla faixa dos estratos populares
de representação nas bancadas do partido urbanos, cortando a cidade de norte a sul
no legislativo estadual, municipal e fede- inserindo-se inclusive nos bolsões de baixa
ral; 3) estabelecimento e consolidação de renda. "Através da penetração de certos
seus vínculos com o executivo estadual. ta da zona Sul" (p. 102). O perfil eleitoral
147
D I N I Z , E . — Voto e máquina política: patronagem e clientelismo no Rio de Janeiro. R i o de Janeiro, Paz e
Terra, 1982. 228p. R E S E N H A S . Perspectivas, S ã o Paulo, 6:145-149, 1983.
do chaguismo não se esgota, porém, nas clientelas locais constituem importante as-
ligações com os extratos de mais baixa pecto da estrutura e funcionamento da
renda. Através da penetração de certos máquina montada e consolidada pelo gru-
deputados do grupo em bairros de classe po liderado pelo governador Chagas Frei-
média (como Tijuca, Grajaú e Andaraí), tas, no interior do extinto M D B fluminen-
de ligações com grupos profissionais es- se" (p. 118).
pecíficos como professores, bancários e O acesso ao núcleo de prestação de
funcionários públicos, tais segmentos ur- serviços tem garantido o seu atendimento
banos também vêm respondendo favora- na medida em que é acionado um esque-
velmente ao apelo eleitoral da corrente ma informal onde, em alguns casos, a fal-
chaguista" (p. 102). ta, em outros, a precariedade dos serviços
Deve-se destacar, segundo um enfo- estimulam o apelo clientelista. O cliente-
que constante da autora os laços cliente- lismo adquire, assim, legitimidade para
listas particularmente nítido no âmbito do todos os atores envolvidos na relação,
legislativo local. " A s relações entre repre- uma vez que o atendimento às necessida-
sentantes políticos e suas bases eleitorais des em termos de serviços públicos não é
inserem-se numa complexa rede clientelis- encarado como um direito e uma prerro-
ta, cujo controle está centralizado na ins- gativa da cidadania. A o contrário, trata-
tância executiva, cerne do processo deci- se de uma concessão a quem tem maior
sório. Nesse contexto de clientelismo e pa- poder de barganha e como tal é percebido
tronagem, o deputado estaria no ápice de pelos participantes do processo. O subsis-
um sólido sistema de relações pessoais, tema político formado pelo deputado e
com um grau significativo de integração, seus elementos de ligação representam o
baseada numa teia de obrigações mútuas" elo entre a comunidade local e o governo,
(p. 127). articulando mensagens e transmitindo-as
Por outro lado, a "prática de fortale- aos órgãos responsáveis" (p. 123). "Seu
cer o poder local do núcleo de represen- estilo de ação favorece a mobilização ver-
tantes políticos de cada área exige uma tical, processo em que a participação
clara divisão de zonas de influência" (p. política é induzida por relações pessoais
112), têm-se, portanto, uma estrutura de lealdade e não por sentimentos comuns
marcada por estas divisões, delimitando o de identidade social" (p. 166).
poder das diferentes lideranças políticas Uma proporção expressiva de depu-
nas várias circunscrições administrativas e tados chaguistas considera a política co-
eleitorais. "Sob esse aspecto, a organiza- munitária como o centro de sua atividade
ção chaguista pode ser concebida como parlamentar, deixando para segundo pla-
um agrupamento específico, integrado no a condição do parlamentar enquanto
por redes clientelistas pessoais" (p.l 13). ator relevante da arena política nacional.
A influência dos políticos locais cor- "De acordo com esta ótica, a chamada
responde as suas bases eleitorais. Nesse política de atendimento popular seria não
sentido exercem uma influência que extra- só legítima como necessária enquanto for-
pola sua competência formal legal na me- ma de contrabalançar as distorções do es-
dida em que interferem decisivamente na tilo tecnocrático do governo. E mais ain-
administração local, indicando nomes pa- da, a intervenção tópica, sob os auspícios
ra os cargos mais importantes, filtrando da liderança parlamentar, seria a única al-
demandas, definindo prioridades e esta- ternativa ao vezo estilista de um sistema
belecendo critérios para a alocação dos re- decisório impermeável às demandas po-
cursos e realização de melhorias, benefi- pulares" (p. 135).
ciando suas clientelas eleitorais. " A Neste sentido, "a manutenção de
política de bairro e a articulação com vínculos estreitos com associações de mo-
148
D I N I Z , E . — Voto e máquina política: patronagem e clientelismo no Rio de Janeiro. R i o de Janeiro, Paz e
Terra, 1982. 228p. R E S E N H A S . Perspectivas, S ã o Paulo, 6:145-149, 1983.
149