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FERTILIDADE DO SOLO E FERTILIZAÇÃO


DAS FORRAGEIRAS

1. INTRODUÇÃO

O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo distribuído em cerca de 196


milhões de ha de pastagens, a qual se constitui na principal fonte de alimentação dos
ruminantes. Contudo, grande parte das pastagens está implantada em solos ácidos, pobres em
matéria orgânica, com baixos níveis fertilidade e com níveis tóxicos de Al e Mn. Isso implica
em baixo potencial produtivo com consequências sobre a produção animal (baixas taxas de
lotação e desempenho). A ausência de práticas agronômicas como calagem e adubação de
manutenção são causas primárias dos baixos índices produtivos dos sistemas de produção
baseados em pastagens.
O manejo correto do solo é um dos pontos principais para o sucesso na atividade
agropecuária, especialmente nos sistemas intensivos de produção de leite a pasto. Assim,
a amostragem do solo, com o objetivo de conhecer sua fertilidade natural, constitui-se no
primeiro passo a ser seguido pelo produtor de leite, para possibilitar que técnicos habilitados
possam recomendar de forma racional a calagem e a adubação a serem realizadas considerando
a cultura forrageira que será estabelecida na área. Após a amostragem do solo, o produtor
deverá encaminhar a amostra a um laboratório credenciado, para que se determine a sua
fertilidade. O passo seguinte consiste do preparo do solo. Após essa prática, o produtor poderá
realizar a adubação de plantio, efetuar o plantio propriamente dito e usar a pastagem,
manejando-a adequadamente. A calagem deverá ser realizada antes do preparo do solo.

2. ESCOLHA DA ÁREA ADAPTADA AO CULTIVO DE FORRAGEIRAS

A escolha da área a ser cultivada em uma propriedade rural constitui um dos


principais pontos no sucesso da exploração agrossilvipastoril. Esta escolha é importante, pois
permite selecionar forrageiras ou qualquer outra espécie vegetal, adaptadas a cada um dos
diferentes segmentos da paisagem da propriedade. Vale ressaltar que esta situação, embora
sendo mais característica da Região Sudeste, pode também ser encontrada nas demais regiões
fisiográficas do País.
3. ANÁLISE DO SOLO
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Esta operação é desenvolvida em laboratórios credenciados, pelo uso de extratores


químicos, e posterior determinação quantitativa do elemento, na solução do solo. O extrator a
ser usado deverá apresentar uma boa correlação com a capacidade de extração (absorção) de
nutrientes pelas plantas. Assim, um bom extrator deve simular o que a planta é capaz de
absorver dos elementos essenciais (nutrientes).

Observação:
 É de suma importância que o laboratório ao encaminhar o resultado de análise de
solo ao produtor rural, informe qual extrator foi utilizado. Esta informação é
importante, pois para cada extrator, existem tabelas apropriadas para determinação
dos níveis críticos dos principais nutrientes.

4. INTERPRETAÇÃO DO RESULTADO DA ANÁLISE DO SOLO

Esta é uma das fases mais difíceis e onerosas de um programa de análises de solo e
recomendação de corretivos e fertilizantes. Esta etapa deve ser desenvolvida por um técnico,
baseada nos padrões de interpretação de análise de solo disponíveis no País.
Antes de iniciar o preparo do solo, deve-se fazer uma amostragem para determinar
a fertilidade e permitir uma recomendação racional de corretivos e fertilizantes.
O preparo do solo é uma operação importante quando se pretende estabelecer uma
pastagem. O bom preparo do solo, a correção da acidez e a adubação racional garantem
um ambiente adequado para a germinação das sementes ou para a brotação de gemas de
forrageiras que se propagam por mudas. O preparo do solo deve ser feito com o objetivo de
deixá-lo suficientemente destorroado, solto e uniforme. Desta forma, uma aração, seguida de
uma ou duas gradagens e da sulcagem (para forrageiras que se multiplicam por mudas)
constituem operações importantes para a garantia do estabelecimento da forrageira.
Quanto mais rápido for a germinação e o estabelecimento da forrageira, mais cedo
o produtor poderá utilizar a pastagem para a alimentação animal.
Em situações em que há necessidade de se fazer duas arações, recomenda-se que a
primeira deva ser rasa, para destruir os restos culturais, enquanto a segunda deverá ser feita
numa profundidade de 15 a 30 cm (RODRIGUES & REIS, 1993).
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Havendo necessidade de calagem, esta deverá ser feita com antecedência mínima
de 60 dias do plantio (com o solo úmido), utilizando-se calcário dolomítico. Ela deverá ser feita
a lanço, sobre toda a área, antes da aração.
Outro ponto importante é o estabelecimento de pastagens de capim-elefante, ou
cultivares dos gêneros Panicum e Cynodon, em áreas anteriormente cultivadas com braquiárias.
Segundo observações feitas em fazendas particulares, o custo de manutenção dessas
pastagens é bastante aumentado, em decorrência das constantes capinas e/ou aplicações de
herbicidas para controle de braquiárias. Assim, recomenda-se trabalhar a área pelo menos por
dois anos, utilizando-se culturas anuais, visando reduzir a população de sementes de braquiária
e, com isto, reduzir o custo de manutenção dessas pastagens.
Também merece destaque o estabelecimento de pastagens de capim-elefante em
áreas sujeitas à erosão. Neste caso, o preparo do solo deverá ser precedido de práticas
conservacionistas. Segundo Castilhos (1987), em solos com declive de até 3%, o plantio deverá
ser feito com os sulcos abertos em curva de nível; em declividade entre 6 e 12%, deve-se
proceder à abertura de terraços; e em solo com declividade de 12 a 15%, recomendam-se
terraços com faixa de retenção.
O manejo de solo em áreas de relevo acidentado constitui prática importante
durante o estabelecimento de forrageiras, uma vez que o manejo mal conduzido acarretará
perdas apreciáveis de solo, aumentando ainda mais sua degradação. Dependendo da espécie
forrageira a ser implantada, há necessidade do estabelecimento de práticas conservacionistas,
tais como: terraços e cordões de contorno.
Para exemplificar, na Figura 1 são apresentados resultados de perda de solo por
erosão, numa pastagem degradada de capim-gordura, com aproximadamente 40%
de declive em função dos tratamentos de manejo de solo que consistiram de diferentes
proporções de área preparada.
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Figura 1. Perdas relativas de solo por erosão, comparando-se sistemas de preparo do solo para
recuperação de pastagens. Saraiva (1981).
Verifica-se que no preparo A, onde o solo permaneceu durante todo o período de
avaliação descoberto, a perda relativa de solo foi de 100%, ao passo que nos outros dois
tratamentos as perdas de solo sofreram redução bastante expressiva.
No preparo B, onde o solo foi totalmente preparado (aração e gradagem, seguido
de adubação e plantio a lanço de capim-gordura), a perda de solo ao final do período
experimental reduziu em 58%, em relação ao tratamento A. Quando o solo foi preparado em
faixas e em nível, adubado e seguido de semeadura da forrageira (preparo C), cujas áreas
preparadas corresponderam a um terço da área total, as perdas de solo reduziram em média
93%. Esses resultados confirmam a importância da cobertura vegetal do solo, no controle da
erosão e, principalmente, a manutenção de faixas de retenção, durante as operações de preparo
do solo para a formação de pastagens em áreas declivosas.
A redução ocorrida no preparo de solo C é de extrema importância não só para a
pastagem, pois evita que haja perdas de nutrientes e água durante o processo erosivo, mas,
principalmente, por manter-se quase que inalterado, do ponto de vista de fertilidade natural, o
solo, um recurso natural não-renovável.
Do ponto de vista prático, vale a pena destacar que as faixas devem ter largura
média de dois metros. Caso a declividade do solo seja menor, pode-se aumentar a largura da
faixa a ser preparada. Essa largura facilita a operação de gradagem do solo, uma vez que as
grades de tração animal têm, em média, dois metros de largura.
Além disso, convém ressaltar que, dependendo dos resultados da análise do solo,
há necessidade de se fazer recomendações de calagem e adubação nas faixas a serem
preparadas.
Na Embrapa Gado de Leite, observou-se que, ao se utilizar no processo de
recuperação, uma forrageira com grande capacidade de produzir sementes, como é o caso das
braquiárias, as faixas não-preparadas tiveram sua cobertura vegetal (em geral capim-gordura),
totalmente substituída pela braquiária. A Figura 2 apresenta com detalhes o processo de
estabelecimento em faixas, em áreas declivosas.
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Figura 2. Plantio de forrageiras em áreas montanhosas, por meio de faixas (a) cultivadas em
nível e intercaladas por faixas de retenção (b), não-cultivadas. Cóser & Cruz Filho, (1989).
Dependendo da espécie forrageira a ser implantada, especialmente se for uma
forrageira “agressiva”, como é o caso das braquiárias, as faixas poderão ser substituídas por
sulcos em nível, alternados com áreas não-preparadas. A escolha de faixas ou sulcos dependerá
da declividade do terreno. Sugerem-se sulcos em terrenos muito íngremes, onde o preparo das
faixas é dificultado. O preparo de solo em áreas declivosas utilizando sulcos em nível é também
bastante usado para o estabelecimento de leguminosas forrageiras.

Observação:
Em hipótese alguma se deve utilizar grade aradora acoplada a trator de esteira, no
sentido morro abaixo, morro acima. Utilizando esta estratégia o solo fica ainda mais exposto
aos processos erosivos.

5. CALAGEM E ADUBAÇÃO DE PLANTIO

5.1 Calagem:

Para as espécies pouco exigentes em fertilidade, recomenda-se elevar a saturação


por bases do solo para 30% a 35%, e para as espécies exigentes elevar a saturação por bases
para 40% a 45%, exceto leucena e soja perene, para as quais a saturação por bases deve ser
elevada para 45% a 50%. Para as espécies muito exigentes, recomenda-se ele- var a saturação
por bases para 50% a 60% (Tabelas 1 e 2).
A calagem tem como principal objetivo neutralizar o alumínio tóxico presente na
solução do solo, responsável direto pela sua acidez.
É importante ressaltar que as forrageiras tropicais, utilizadas na maioria dos
sistemas de produção de leite e/ou carne do País, são medianamente tolerantes a fatores de
acidez do solo e, portanto, não requerem grandes quantidades de calcário por ocasião do plantio,
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ou mesmo durante a fase de utilização da pastagem pelos animais. O calcário é um insumo


barato, mas se o produtor tiver que implantar ou reformar áreas extensas, o investimento
realizado na operação da calagem será alto, em função da quantidade total utilizada.
Entretanto, não se deve negligenciar esta importante característica que as
forrageiras tropicais apresentam, qual seja a de tolerância mediana a fatores de acidez.
De acordo com CFSEMG, 1999, o método mais indicado para a recomendação
de calagem para o Estado de Minas Gerais, e, por analogia, para toda a Região Sudeste e parte
do Centro-Oeste deverá basear-se nos teores de alumínio (Al3+) e de cálcio mais magnésio
(Ca2+ + Mg2+), embora também possa ser usado o método que se baseia na porcentagem de
saturação de bases (V%).
No primeiro caso, a equação que determina a quantidade de calagem (NC) a ser
utilizada, considerando-se o PRNT de 100% é: NC = Y (Al3+)+ [X – (Ca2+ + Mg2+)].
No segundo caso, considerando-se a saturação de bases (V%), o valor considerado
para efeito de quantificar a necessidade de calagem é de no máximo 60%. O valor Y é variável
em função da capacidade tampão da acidez do solo e que pode ser definido de acordo com a
textura do solo. Assim, em solos arenosos, ele assume valores de 0 a 1; em solos de textura
média, valores de 1 a 2; em solos argilosos valores de 2 a 3, e em solos muito argilosos, valores
de 3 a 4. O valor X é variável em função dos requerimentos nutricionais de cálcio e magnésio
das culturas. Para obter estes valores, consulte o manual da CFSEMG, 1999. O
encaminhamento dos resultados da análise de solo a um técnico da assistência técnica pública
e/ou privada e extensão rural permitirá a recomendação racional de calcário e fertilizantes.
Vale a pena salientar que ambas as opções relativas à recomendação de calcário são
baseadas na capacidade da planta em responder ao corretivo aplicado.
O calcário deverá ser aplicado a lanço sobre toda a área, com uma antecedência
mínima de 60 dias do plantio, seguido de uma aração ou de uma gradagem. Em sistemas
irrigados a calagem poderá ser feita com antecedência mínima de 15 dias da época do plantio.
A seguir é apresentado um exemplo sobre necessidade de calagem (NC) para se
corrigir a camada de 0 – 20 cm.

1) Método do Al e Ca + Mg trocáveis
A quantidade de calcário a ser aplicada é baseada nos teores de Al e Ca + Mg, obtidos
mediante análise química do solo.
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NC = Y (Al3+)+ [X – (Ca2+ + Mg2+)]

O valor Y varia com a textura do solo, enquanto o valor X é variável em função da


exigência da cultura. Assim, Y e X podem admitir os seguintes valores.
Obs. Para as gramíneas tropicais, X assume o valor 2.

Exemplo:
Al3+ = 1,1 cmolc/dm3 equivalente a meq/100 cm3
Ca2+ + Mg2+= 0,6 cmolc/dm3 equivalente a meq/100 cm3
Teor de argila = 36% (Nesse caso, Y admite valor 3)
NC = [(3 x 1,1) + (2 - 0,6)] = 4,7 t/ha de calcário, com PRNT 100%
Obs.: Se o calcário tiver o PRNT de 80%, a quantidade a ser aplicada é de:

vale ressaltar que se o solo apresentasse textura média (15 a 35% de argila),
e com os mesmos teores de Al e Ca + Mg, a quantidade de calcário a ser aplicada, com
PRNT de 100%, reduziria para 3,6 t/ha, isto porque Y admitiria o valor 2.

2) Método da saturação de bases


Neste método, a calagem é calculada para elevar a saturação de bases (V%) da capacidade
de troca de cátions a pH 7,0, a valores desejados de acordo com a cultura de interesse,
sendo a necessidade de calagem calculada por:

NC = necessidade de calcário em toneladas/ha, considerando-se a camada de


incorporação de 0-20 cm e calcário com PRNT 100%.
T = capacidade de troca de cátions do solo a pH 7,00 = cmolc/dm3 de Ca2++ Mg2++ K++
H+ + Al3+.
V2 = porcentagem de saturação de bases (%) desejada para a cultura em questão (obtida
por dados de pesquisa).
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Onde:
SB = soma de bases = Ca2++ Mg2++ K+ (cmolc/dm3 de solo)
Exemplo: T = 10,8 cmolc/dm3 , V2 = 60%, V1 = 20%

para uma incorporação a 20 cm de profundidade.


Obs.: Se o calcário tiver um PRNT de 80%, a quantidade a ser aplicada ao solo será de:

É importante destacar que as gramíneas tropicais apresentam tolerância moderada


à saturação de alumínio; portanto, recomendação de calagem, utilizando valores de V2
elevados, poderá redundar em aumentos exagerados no custo de implantação da pastagem, além
de promover alterações substanciais na disponibilidade de alguns nutrientes. Convém destacar
que, dependendo da região fisiográfica e do Estado, existem outros métodos de recomendação
de calagem que também podem ser utilizados.

5.2 Exigência de fertilidade do solo das principais gramíneas e leguminosas


forrageiras

Existem graus diferenciados de adaptação das plantas às condições adversas do solo


ou exigências diferentes quanto à fertilidade do solo, entre as espécies e dentro delas. Para
fins práticos e considerando as espécies mais comumente plantadas na região do Cerrado,
são propostos três grupos para gramíneas (Tabela 1) e dois grupos para leguminosas
(Tabela 2), segundo o nível de exigência e indicações dos respectivos graus de adaptação
à baixa fertilidade do solo. Os diferentes graus de adaptação das forrageiras às condições
de fertilidade do solo foram criados considerando, principalmente, a acidez e a
disponibilidade de fósforo.
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Tabela 1. Grau de adaptação de gramíneas forrageiras às condições de fertilidade de solo


e saturação por bases adequada.

Tabela 2. Potencial de adaptação de leguminosas forrageiras às condições de fertilidade


de solo e saturação por bases adequada.

5.3 Adubação de plantio

Com referência à adubação de plantio, é recomendado apenas a utilização do


fósforo, uma vez que o nitrogênio e o potássio, utilizados durante esta fase, podem ser supridos
pela matéria orgânica que será mineralizada, disponibilizando estes nutrientes para o
crescimento inicial das plantas. A recomendação da adubação fosfatada de plantio prende-se ao
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fato de ser o fósforo o nutriente mais importante durante as fases de germinação e


estabelecimento da forrageira. Resultados de pesquisa conduzidos pela Embrapa Gado de Leite
com capim-elefante, (cultivar Napier), mostraram que a quantidade de fósforo a ser aplicada
por ocasião do plantio varia de 100 a 120 kg/ha de P2O5, correspondentes de 500 a 600 kg/ha
de superfosfato simples, ou 222,22 a 266,67 kg/ha de superfosfato triplo, distribuídos no fundo
do sulco de plantio. Essa recomendação de adubação fosfatada é para solos que apresentam
nível crítico de fósforo baixo, independente da classe de solo. Essas fontes poderão ser
substituídas por outra, desde que mantida a mesma quantidade de P2O5 recomendada. Esta
sugestão também poderá ser recomendada para os gêneros Cynodon, Panicum, o mesmo
acontecendo com a espécie de Brachiaria brizantha. Para as espécies de Brachiaria
decumbens e Setaria sphacelata, esta sugestão poderá ser reduzida, dependendo dos resultados
de análise do solo.
As adubações com nitrogênio (N) e potássio (K2O) serão feitas em cobertura, 60 a
70 dias após o estabelecimento da cultura. Caso a análise de solo indique baixas concentrações
de potássio na solução do solo, esse nutriente deverá ser aplicado.
Também merecem destaque o enxofre (S) e o zinco (Zn). O enxofre passa a assumir
uma grande importância, na medida em que fontes tradicionais de outros nutrientes que contêm
S, como é o caso do sulfato de amônio, superfosfato simples ou sulfato de potássio, estão sendo
substituídas por outras fontes mais concentradas ou por outras mais baratas, necessitando nestes
casos, de ser suplementado.
Em geral, para solos com deficiência de enxofre, tem sido recomendada a aplicação
de 20-40 kg/ha de enxofre (CARVALHO, 1985).
As deficiências de zinco são mais comuns em áreas de cerrado (CARVALHO,
1985), havendo, pois, necessidade de suplementação. Nesse caso, recomenda-se a aplicação de
2 kg/ha de Zn, equivalente a 10 kg/ha de sulfato de zinco, juntamente com a adubação fosfatada
por ocasião do plantio (WERNER, 1986).

5.4 Adubação de manutenção

Adubação de manutenção, também chamada de adubação para produção, aplicada


durante a fase de utilização da pastagem, tem como principal objetivo possibilitar que a cultura
forrageira tenha o máximo de produtividade e com o menor custo possível. Assim, nesta fase,
o nitrogênio, o fósforo e o potássio são recomendados. Entretanto, há necessidade de que o
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produtor continue analisando o seu solo, para que o técnico, ao recomendar estes nutrientes,
possa fazê-lo de forma racional. Em muitos solos e, em função dos resultados de análise obtidos,
nutrientes como o fósforo e o potássio não necessitarão de ser aplicados, por encontrarem-se
com seus teores na solução do solo, acima do que a planta é capaz de responder com a adubação.
Nesta fase, o nitrogênio é, sem dúvida alguma, um dos nutrientes mais importantes, por ser o
principal responsável pelo aumento na produção de matéria seca da pastagem.

5.5 Gessagem

O uso do gesso agrícola (CaSO4.2H2O), um subproduto da fabricação de ácido


fosfórico, apresenta, em função de sua solubilidade, efeitos amplamente positivos no aumento
do teor de cálcio e diminuição da toxidez de alumínio nas camadas subsuperficiais (20 a 40cm)
do solo, induzindo um maior aprofundamento do sistema radicular e maior produtividade de
várias culturas (Lopes e Guilherme, 1994).
A recomendação da utilização do gesso agrícola deve ser feita quando a camada
subsuperficial apresentar as seguintes características: Ca: < 0,4 cmolc/dm3 e/ou Al: > 0,5
cmolc/dm3 e/ou saturação por alumínio (m%): > 30%. Existem vários métodos de
recomendação de doses de gesso em uso no Brasil, quase todos levando em conta o teor de
argila do solo. O método proposto por Souza et al., (1992), é bastante usado e apresenta
resultados satisfatórios, onde: dose de gesso (kg/ha) = 50 x % de argila. Não é preciso incorporar
o produto no solo.

5.6 Adubação Nitrogenada (N):

Dentre os nutrientes utilizados na produção e na intensificação das pastagens, o


nitrogênio é o fertilizante usado em maior quantidade e o que representa maior custo no sistema
de produção. O potencial de resposta de pastagens tropicais ao uso de fertilizantes nitrogenados
é excepcional, em muitos casos revelando respostas lineares com aplicações de 400 a 600 kg
ha-1, embora diversos resultados apontem respostas em doses superiores a essas.
O primeiro ponto a ser definido é a dose de N a ser empregada em cada condição
de pastagem (espécie, época do ano, clima, fertilidade do solo, uso de irrigação e estágio de
degradação), sempre procurando encontrar um equilíbrio técnico e econômico. Fertilizações
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desequilibradas, sem N ou com excesso de N, proporcionam resultados econômicos negativos


para o produtor.
O produtor deve ficar atento aos níveis de enxofre (S) no solo, uma vez que existe
relação estreita entre o S e o N, que interfere tanto na produção quanto na qualidade da
forragem. Em plantas deficientes de enxofre o crescimento é retardado, mesmo havendo
suprimento adequado de outros nutrientes, como o nitrogênio.
Deve-se estar atento no manejo da adubação nitrogenada, pois, as perdas de N por
volatilização podem ser significativamente reduzidas ou favorecidas de acordo com as
condições de aplicação. É amplamente conhecido perdas de N entre 50 a 80% da ureia aplicada
em superfície em condições de solo úmido sem irrigação posterior. Para evitar tal problema,
existe no mercado a ureia protegida com inibidores de uréase, ou ainda ureia associada a sulfato
de amônio, ou mesmo outra fonte nitrogenada, como o nitrato (porém mais caro).

5.7 Adubação Potássica (K):

A fonte mais disponível no mercado é o cloreto de potássio, (KCl, 60% de K2O) é


o fertilizante potássico mais utilizado no Brasil. Sua aplicação pode ser feita a lanço mistura-
do com o fosfato. Outra alternativa, é aplicar todo o potássio em cobertura 30 a 40 dias após
a semeadura das forrageiras.
A adubação potássica deve buscar ajustar o nível de K para 3 a 6% da CTC.
Segundo Corsi & Nussio (1993), para sistemas que fazem uso de maiores níveis de insumos e
que almejam maiores produtividades, a participação de K na CTC deve ser de 5 a 6%. Tem-se
usado na maioria das propriedades a adubação potássica à lanço, seja ela corretiva, de
semeadura ou de manutenção. Importante saber que a eficiência da adubação potássica é em
torno de 70%.
Respostas de gramíneas tropicais à adubação com K têm sido positivas, porém,
resultados mais satisfatórios são observados quando o solo apresenta acidez corrigida como
mostra a Tabela 3. Em sistemas que utilizam elevados níveis de insumos, marcadamente o
fertilizante nitrogenado, são dependentes da adubação com K, haja vista que na ausência desse
nutriente a resposta da planta forrageira ao N é limitada.
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Tabela3:

5.8 Adubação Fosfatada (P):

O fósforo é o nutriente mais importante para a formação de pastagens em solos da


região do Cerrado. Pode-se optar pelas diversas fontes disponíveis no mercado. Os fosfatos
solúveis (superfosfato simples e triplo), os termofosfatos apresentam a mesma eficiência. Os
fosfatos naturais reativos (de origem sedimentar), como os de Gafsa, Arad e Carolina do Norte
têm apresentado eficiência agronômica na fase de implantação das pastagens, da ordem de 75%
a 85% no primeiro ano e de 100% a partir do segundo ano. Já os fosfatos naturais brasileiros,
como os de Araxá e de Patos de Minas, são considerados com 50% de eficiência em relação
aos fosfatos solúveis.
Os fosfatos naturais e os termofosfatos devem ser sempre aplicados a lanço e
incorporados ao solo. Os solúveis podem ser aplicados a lanço ou em sulco. No caso de
estabelecimento de pastagens consorciadas, é conveniente aplicar metade da necessidade de
fósforo a lanço, como fosfato natural e a outra metade no sulco como fonte solúvel para que
seja disponibilizada à semeadura em linha. Se a leguminosa for semeada a lanço como o capim,
recomendam-se fontes de fósforo solúveis ou reativas.
O fósforo tem importante papel no desenvolvimento do sistema radicular e no
perfilhamento das forrageiras, é o nutriente mais importante nos primeiros dias de vida da
planta, sendo determinante para o sucesso no estabelecimento da pastagem. Os adubos
fosfatados podem ser misturados com sementes por ocasião da semeadura, pois possuem um
baixo índice de salinidade, não causando danos às sementes, principalmente os superfosfatos
simples e triplo, desde que as sementes não fiquem misturadas com o adubo por mais de 24
horas antes da semeadura.
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A elevada fixação do P em solos tropicais e a baixa mobilidade desse nutriente são


motivos de preocupação em relação às adubações fosfatadas. Para Corsi & Nussio (1993) os
valores de P no solo devem ser corrigidos para níveis superiores a 20 mg/dm 3 no sentido de
maximizar a produtividade da pastagem e permitir a exploração intensiva do recurso forrageiro.
Para início de trabalho em solos com baixos teores de P sugere-se elevar o P do solo para 10
mg/dm3 para posteriormente buscar elevados níveis deste nutriente.

Tabela 4. Interpretação de resultados da análise de fósforo no solo, extraído pelo método


Mehlich 1, para dois grupos de exigência das forrageiras.

Tabela 5. Interpretação de resultados da análise de fósforo no solo, extraído pelo método da


resina (P resina), para dois grupos de exigência das forrageiras.
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Tabela 6. Recomendação da adubação fosfatada para o estabelecimento de pastagens em


decorrência da análise do solo e da exigência das espécies forrageiras.

Tabela 7. Recomendação de adubação potássica para pastagens consorciada e solteira


em decorrência da análise de solo.

5.9 Enxofre (S):

A aplicação de fósforo na forma de superfosfato simples ou de N na forma de


sulfato de amônio já contempla a necessidade de S. Caso contrário, aplicar 20 a 75 kg/ha de S
na forma de gesso agrícola ou enxofre elementar (flor-de-enxofre). Para espécies exigentes e
muito exigentes, se necessário (saturação de alumínio (Al) > 20% ou teor de cálcio (Ca) < 0,5
meq/cm3 na profundidade de 40 a 60 cm do solo), o gesso agrícola pode ser aplicado em doses
iguais às recomendadas para culturas anuais: Necessidade de gesso em kg/ha = % de argila x
50. Se essa recomendação for adotada, a reaplicação de S deverá ser feita somente após um
período de mais ou menos 15 anos.

5.10 Micronutrientes:
Não foi identificada ainda a sua importância para o estabelecimento de pastagens
exclusivas de gramíneas. São mais importantes para as leguminosas. O molibdênio (Mo) é
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particularmente necessário para o processo de fixação de N pelo rizóbio. Uma mistura de


micronutrientes que contenha 0,2; 2,0; 2,0 e 1,0 kg/ha, respectivamente, de Mo, Zn, Cu e
boro (B), normalmente, satisfaz a exigência da maioria das plantas forrageiras. Outras
deficiências poderão surgir devido a desequilíbrios causados por exemplo, pela elevação do pH
acima de 6,5 como é o caso do manganês (Mn) para leguminosas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No manejo da fertilidade do solo, busca-se a resposta máxima do nutriente aplicado


e, no caso da pastagem, esta resposta dependerá de vários fatores que são inerentes mais ao
manejo da pastagem em si do que o manejo da adubação. Neste sentido, torna-se importante o
manejo dos períodos de descanso, dos resíduos pós-pastejo; taxa de lotação e pressão de pastejo;
categoria animal; potencial genético dos animais; valor nutricional da forragem; hábito de
perfilhamento da espécie forrageira, de forma a transformar o máximo da forragem disponível
em produto animal comercializável, tal como leite, carne, bezerros ou lã.
O conhecimento sistemático de cada sistema de produção de leite ou carne,
intensivo ou extensivo, deve ser apoiado em aspectos de planejamento e gerenciamento que
consigam ter maior previsibilidade no mundo do agronegócio. Momentos de adubar, conservar,
colher, pastejar devem sempre ser questionados e aprimorados dentro de uma empresa rural.
As adubações devem ser parceladas de acordo com a disponibilidade de água na
propriedade e rotatividade dos animais nos piquetes, assim evita que grande quantidade de
adubo no solo seja utilizado como consumo de luxo pelas plantas, sem dúvida, um desperdício
de recursos, tornando a aplicação em excesso antieconômica e algumas vezes desnecessária.
As informações contidas no artigo devem estar alinhadas com outros procedimentos
importantes para se obter sucesso em produção de bovinos a pasto, são eles: época de semeadura
(disponibilidade de água, temperatura e luminosidade), manejo da cultura antecessora através
do uso eficiente de herbicidas, uso de sementes de qualidade respeitando um número correto de
sementes/m2 de acordo com cada espécie, profundidade de semeadura, controle de plantas
daninhas, altura de entrada e saída dos animais no pasto de acordo com cada espécie, controle
de pragas e manejo da lotação em diferentes estações do ano.
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REFERÊNCIAS

CARVALHO, L. de. A. Capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum.):


formação e utilização de uma capineira. Coronel Pacheco: EMBRAPA-CNPGL, 1981. 16p.
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