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CAPÍTULO IV- A análise de entrevistas:Férias e telefone

Livro: Bardin - Analise de Conteúdo – original em francês 1994

O recurso à análise de conteúdo, para fazer parte de um material dito “qualitativo” é


indispensável: entrevistas de pesquisa, de seleção, de psicoterapia... dando lugar a
um material verbal rico e complexo.

I. A ENTREVISTA: UM MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO ESPECÍFICA

Existem várias maneiras de se “levar” uma entrevista. Classificamos


tradicionalmente as entrevistas ou entrevistas, segundo seu grau de diretividade – ou
talvez de não-diretividade – e por conseqüência segundo a “profundidade” do material
verbal recolhido. Entrevistas não diretivas de uma ou duas horas, precisando uma
prática psicológica confirmada, ou entrevistas semidiretivas (ainda nomeadas em
esboço, em guia, em grade, focalizadas, semi-estruturadas), mais curtos e mais à
vontade: seja qual for o caso, eles serão gravados e transcritos integralmente
(compreendendo hesitações, risos, silêncios, assim como relances do entrevistador).
Temos então em questão um discurso relativamente espontâneo, falado, no
qual uma pessoa – o entrevistado – discursa mais ou menos à vontade. Colocação em
cena independente do que esta pessoa tenha vivenciado, ressentido, pensado a
respeito de alguma coisa. A subjetividade está toda presente: um sujeito fala. Ele diz
“Eu”, com seu próprio sistema de pensamentos, seus processos cognitivos, seus
sistemas de valores e de representações, suas emoções, sua afetividade, e o
afloramento de seu inconsciente. Dizendo “Eu”, mesmo tratando-se de falar de outra
pessoa, ou de outra coisa , ele explora, às vezes às cegas, uma certa realidade que se
enfia entre o “desfiladeiro estreito do idioma”, de seu idioma, pois cada pessoa se
serve de seus próprios meios de expressão para se dar conta de eventos, de práticas,
de crenças, de anedotas, de julgamentos...
Todo praticante de entrevistas conhece a riqueza desta palavra, a singularidade
individual, mas também a aparência às vezes tortuosa, contraditória, “esburacada”,
com digressões incompreensíveis, contestações confusas, voltas para trás, atalhos,
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escapadas fugitivas ou noções enganosas. Discurso marcado pela


multidimensionalidade dos significados expressos, a sobredeterminação de algumas
palavras ou pedaços de frases. Uma entrevista é quase sempre polifônica. Uma
quarentena de páginas (é a norma para uma entrevista não diretiva um pouco
aprofundada), multiplicada por trinta (no mínimo) indivíduos, isto tem como atrapalhar
o analista principiante. E o que dizer de uma entrevista de grupos de 6 ou 7
participantes ! A análise de conteúdo de entrevista é um tanto quanto delicada. Este
material verbal exige uma habilidade muito mais desenvolvida do que a análise de
respostas a questões abertas ou a análise de imprensa. E o computador, apesar do
progresso atual e de suas possibilidades (sistemas especializados, inteligência
artificial), se choca aqui com uma complexidade dificilmente programável.
A principal dificuldade da analise de entrevistas de pesquisas é devida a um
paradoxo. Geralmente, o praticante se confronta com um conjunto de “x” entrevistas,
seu objetivo final sendo o de poder deduzir, a través de suas palavras, a respeito de
uma realidade (seja esta de natureza psicológica, sociológica, histórica, pedagógica...),
representando uma população de indivíduos ou um grupo social. Mas ele encontra
também, e isto é particularmente preso às entrevistas, pessoas em sua unicidade.
Como preservar a “equação particular do “indivíduo” 1, fazendo somente a síntese do
total dos dados verbais provenientes da amostra das pessoas interrogadas? Ou ainda,
como o diz Michelat, como “se servir da singularidade individual para alcançar o
social”?”.
O analista que embarca neste tipo de material verbal é rapidamente, e
concretamente, submetido a um dilema. Ele pode, certamente, proceder a uma analise
de conteúdo clássico, de grade de análise categórica, privilegiando a repetição
freqüente dos temas, todas entrevistas confundidos. A técnica tirou suas provas , ela
permite varrer ao nível manifesto o conjunto de entrevistas. Mas, no final do percurso,
uma laminagem deixará na sombra uma parte da riqueza de informação própria para
este tipo de investigações. A conta dada no final será uma abstração impotente para
transmitir o essencial dos significados produzidos pelas pessoas, deixando escapar o
talento, o original, o estrutural, e contextual. É possível empalhar algumas destas
insuficiências, descobrindo quantitativamente as co-ocorrências, por exemplo, ou
codificar os temas sobre uma base latente... Portanto, a técnica temática de
freqüência, do tipo Berelson, ainda que indispensável, se confirma, utilizada somente
sobre este tipo de material, muito limitada. A manipulação temática voltando então a
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jogar o conjunto dos elementos significativos em um tipo de “saco de temas”,


destruindo definitivamente a arquitetura cognitiva e afetiva de pessoas singulares.
Então será preciso rejeitar a analise horisontal 2 em forma de entrevista? Não,
pois ela é insubstituível sobre o plano da síntese, da fidelidade entre analistas; ela
permite o relativismo, distanciamento; ela põe em dia as constâncias, as aparências,
as regularidades. Simplesmente, deve-se completar, e de preferência antes de tudo,
por outra técnica de decifragem - e de esclarecimento – entrevista por entrevista.
Propomos então dois níveis de análise, em duas fases sucessivas ou
imbricadas, uma enriquecendo a outra. Este procedimento pode parecer pesado. Ele
não é nada, com um pouco de prática; e ele abusa a produtividade da informação final.

2. A DECIFRAGEM ESTRUTURAL
O primeiro nível consiste em um procedimento de decifragem estrutural
centralizado sobre cada entrevista3. Esta aproximação trata dos trabalhos existentes
em relação à enunciações, analise do discurso ou da oração4, ver a psicanálise... mas
de maneira não sistemática, com suavidade, em função do material verbal em si.
Trata-se menos pelo praticante de projetar teorias prontas para se servir,
eventualmente, de sua competência e sabedoria sejam quais forem. Esta aproximação
ad hoc, procurando entender do interior da palavra de uma pessoa, lembra talvez a
atitude de empatia ao sentido do psicoterapeuta americano Rogers, i.e. “de imersão
no mundo subjetivo do próximo”. Atitude que exige um esforço – mas não exclui a
intuição – na medida em que, a cada nova entrevista, é preciso fazer abstração, e de
si mesmo e das entrevistas precedentes.

1. G. Michelat, Sobre a utilização da entrevista não diretivo em sociologia, Revista francesa de


Sociologia, XVI, 1975.
2. Podemos também nomear transversal, por oposição a análise vertical, subjetiva.
3. Entrevista por entrevista, quer dizer pessoa por pessoa para uma pesquisa, ou reunião por reunião
para uma psicoterapia.
4. Sobre a análise das orações de vida, ver com proveito: J. Poirier, S. Clapier-Valadon, P. Rambaut, As
orações de vida, Teoria e prática, PUF, 1983.

Simplificar o a priori pessoal ou de contaminação de proveniência de decifragens


anteriores, tudo beneficiando por outro lado, em “outro cérebro” de certa forma,
conhecimentos adquiridos pela prática ou bens teóricos ou metodológicos exteriores, e
tudo preparando, amadurecendo, o que será a Segunda fase da análise, quer dizer a
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transversalidade temática. “Que um de seus ouvidos ensurdecesse, enquanto o outro


deve ser aguçado”, dizia Lacan. Mas os dois ouvidos entendem.
“Os indivíduos não podem ser trocados”, escreveu Michelat. O praticante
acostumado a trabalhar com material verbal produzido por entrevista – seja ele
entrevistador, analista de conteúdo, psicoterapeuta... – entende rapidamente que cada
entrevista se constrói segundo uma lógica própria. Reforçando o tema, levando-o (o
manifestando ou o escondendo), a uma organização subjacente, uma espécie de
raciocínio, afetivo e cognitivo, às vezes não consciente da medida onde a entrevista é
um discurso espontâneo ao invés de preparado.
Sob a aparente desordem temática, se tratará de procurar a estruturação
específica, a dinâmica pessoal, que pelo fluxo de palavras, orquestra o processo de
pensamento do entrevistado. Cada um tendo, não somente seu registro de temas, mas
sua própria maneira de (ou de não) os colocar em cena. Exatamente como
poderemos, durante as diversas entrevistas e sobretudo se estas são numerosas, ver
se manifestarem repetições temáticas, poderemos também situar tipos de estruturação
discursiva.
A prática de entrevistas não diretivas rende, para citar um exemplo, sensível a
um discurso do tipo esboço. Como em uma tela com corrente e trama, os temas
aparecem, e reaparecem um pouco mais à frente, em função da progressão de um
pensamento que se procura. O procedimento da análise transversal sintética consiste
em destruir, com tesouras e cola (ou tratamento de texto), este pequeno jogo de “pular
carneiro” do espírito, mas, na hora da decifragem estrutural, é muito instrutivo de o
situar.
Ou então, outro exemplo, as primeiras frases de uma entrevista não diretiva são
às vezes de um peso capital (como uma primeira entrevista em psicoterapia) na
medida em que, pego de surpresa, não tendo tempo de se “defender”, o entrevistado
libera sua estrutura temática, de uma só vez e quase apesar dele. Estes temas e sua
lógica pessoal, que ele colocará às vezes uma hora de entrevista (ou um regime de
psicoterapia) a reencontrar... Às vezes estas frases “originais” são antes precedidas,
ou mascaradas, por uma ou várias frases estereotipadas de “generalidades”, que são
quase sempre fáceis de se identificar. Aí ainda, o nível de análise sintética poderá
colocar em vista, em “sinopse”, todas estas frases chaves de começo de entrevista,
como algum tipo de slogan, mas o nível de decifragem singular tentará ao contrário de
interligar cada uma ao desenvolvimento do discurso individual que a segue.
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Não é possível, por razões materiais (comprimento), de apresentar aqui um


conjunto de entrevistas reais em sua totalidade. Não seria nada instrutivo também de
raciocinar sobre seqüências parciais de entrevista. Para cercar a dificuldade, iremos
experimentar as técnicas de análise propostas sobre uma entrevista curta em um
primeiro tempo, e então sobre um conjunto de produções verbais “encurtadas” pela
necessidade de demonstração, espécies de “modelos reduzidos” de entrevistas reais.
Uma margem confortável, á direita e á esquerda, permite levar as observações ou
símbolos codificados sucessivamente. Podemos utilizar canetas coloridas,
funcionando com um código alfabético ou numérico, marcas simbólicas, sublinhar,
circular, ou então, tirar parte do tratamento do texto de um computador... segundo a
conveniência. Sobre papel, é judicioso prever ao menos dois jogos de fotocópias, um
para se conservar inteiro, e o outro para eventuais recortes, permitindo a aproximação
de um tema espalhado em diversas partes de uma entrevista ou de várias. É
evidentemente primordial afetar um número em cada entrevista (repetido sobre cada
página).
Em primeiro lugar, é preciso “ler”. Mas ler e compreender “normalmente” não é
suficiente. É possível de se ajudar através de perguntas: “O que realmente diz esta
pessoa, ou o que ela procura significar? Como isto é dito? O que ela poderia Ter dito
de outra maneira? O que ela não diz? O que ela diz sem o dizer? Como as palavras,
as frases, as seqüências se encadeiam umas com as outras? Qual a lógica discursiva
do conjunto? Eu poderia resumir a temática de base e a lógica interna específica da
entrevista?, etc.”
(Após a decifragem de várias respostas ou entrevistas, outras questões virão se
juntar por comparação: “Esta pessoa se manifesta em tal lugar tal tema, ou a terei
encontrado em outra entrevista? Ou qual outro teria encontrado em um contexto
equivalente? Poderia nomear a especificidade de tal ou tal entrevista, dar-lhe um título
por exemplo?, etc.”).
A leitura é ao mesmo tempo “sintagmática” (seguir o encaminhamento, único e
realizado em uma entrevista, de um pensamento que se manifesta por uma sucessão
de palavras, de frases, de seqüências) e “paradigmático” (ter no espírito o universo
das possíveis: isto não é dito aí, mas isto poderia ter sido, ou o é efetivamente em
outra entrevista).

3. EXEMPLO: UMA ENTREVISTA SOBRE FÉRIAS


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Tenhamos o exemplo seguinte, curto mas suficientemente rico, e decompomos


concretamente as diferentes possibilidades analíticas.
Mulher – 28 anos – solteira:
-O que são férias para você?
-Férias? Bem... Para mim... Minha opinião sobre férias...?
-Sim, sim, as férias para você, o que elas representam?
-Oh! É fantástico, claro... Sim... Bem... Enfim, é para todo mundo igual. Pelo menos eu
penso. Sim, bem! Sonhamos com elas... As esperamos... Enfim.
-Sim, as esperamos...
-Sim, não esperamos somente isto. Mas pelo menos em certos momentos. Por exemplo,
agora está tudo cinza, triste, todo mundo está doente, cansado... Para mim, as férias
são coloridas. O azul, o mar, o céu. E a areia, toda dourada. Quente, é muito quente. A
areia é quente. E os coqueiros (risos)... Enfim, é um pouco cartão postal o que estou
falando. Mas é isto, enfim!... O sonho. Mesmo sendo esqui, é em cores mesmo assim.
Azul, sol, branco... mas um branco que brilha, pessoas bronzeadas, contentes. É isto!
-Para você as férias são cores...
-Oh! Mas não... Também... Hhmm... Não fazemos nada durante as férias. Quero dizer
nada de trabalho. Mas sim fazemos o que queremos para o prazer. Sem reclamações.
Nos levantamos ao meio dia. Ficamos devagar, sem correrias.
-E sem barulho. Sem telefone tocando. Calmo. O silêncio. Enfim... Sim... Bem! É
principalmente bom nos primeiros dias. Pois não precisamos nos preocupar. De fato...
Hhmm... Não...temos que nos trocar. As férias, é a mudança. Mudamos de “cabeça”,
de canto, de costumes. Vemos outras coisas. Eu adoro descobrir outras coisas durante
as férias. Bem, talvez um país que não conheça, ou talvez aprender a fazer cerâmica...
Ou... Não sei... Aperfeiçoar sua esquerda com um curso de tênis.
Mas sobretudo, esquecer o resto. A mala, hop! e acabou-se. Sem contas, e
sem estas pessoas que conhecemos muito. Outra coisa enfim. Sem fazer sempre os
mesmos gestos.
E, em geral, bem, vivemos com mais saúde nas férias, mais perto da natureza.
Na cidade, temos que carregar roupas, carregar... ia dizer sorrisos. Eu me sinto
fechada, falsa, na cidade, nada á vontade. Tenho a impressão de não poder respirar
fundo. Em férias, corremos, rimos, gastamos. Como crianças. Talvez isto sejam
férias... Enfim, para mim, é assim que sinto... a inocência... tudo novo...! As férias
quando éramos crianças, então isto eram férias.
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Porque é importante falar, algumas vezes nos decepcionamos. Tem que se


conquistar as férias. Ás vezes estamos tão cansados que não temos coragem de
organizá-las. Ou então tínhamos previsto alguma coisa e não deu certo, fura. As
pessoas com quem deveríamos Ter ido, não querem mais ir. Ou então, prevemos partir
com alguém... organizamos... e na hora de partir percebemos que não estamos mais a
fim de sair com esse cara. Ou então... saímos com uma amiga, uma boa amiga...
Enfim achávamos que até então era uma boa amiga... Nos dávamos bem...
Simpática... Engraçada... e hop, durante a viagem, é um monstro de egoísmo. Ou
então percebemos que ela entra em pânico em qualquer pepino.
Na verdade, não sabemos direito o que vamos encontrar nas férias... É como
pôquer! Podemos descobrir... fazer novas amizades... encontrar sua alma-gêmea
(risos). Ou então... Hhmm... nada, o buraco... o mal estar. Ou os problemas. Dá um
pouco de medo antes de sair. Não pode errar o golpe. Férias frustradas, pode ser
sinistro. Sim... Hhmm...
-Sim... Sim... as férias podem ser frustradas.
-Sim, e eu agonizo sempre um pouco... antes. Adoro partir... mas de fato... Hhmm. Por
exemplo, tenho horror em arrumar minha mala... Isso então... Horror mesmo... Sempre
faço isto em pânico no último momento. Desta maneira de uma cabeçada só.... Saio
para medir o deserto. Enfim, nunca o fiz, mas conto em fazer algum dia. E
geralmente, me saio muito bem com imprevistos (risos).

a) Analise temática. –Podemos recortar o texto em um certo número de temas


principais (seria possível dividir, eventualmente em sub-temas, se assim desejado):
- espera positiva;
- decoração hedonista;
- ausência de reclamações;
- mudanças (descobertas, de vida);
- necessidade de organização;
- imprevistos;
- eventual decepção.
b) Características associadas ao tema central –Centralizando demais sobre o tema
geral de investigação, podemos extrair os significados associados ás férias no
espírito da pessoa entrevistada:
- fantástico, sonho;
- cores (azul, dourado, branco, brilhante);
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- calor;
- alegria
- elementos da natureza (mar, céu, areia, coqueiros (neve), deserto);
- (liberdade), sem reclamações, tempo;
- calmo, silêncio;
- descoberta, novidades (pessoas, lugares, costumes...);
- aprender (cerâmica, tênis);
- viver com saúde, naturalmente (correr, rir, poucas roupas, respirar...);
- ser ainda criança (inocente, novo);
- sucesso nas férias (estar em forma para organizá-las, as companhias);
- encontros (amigos, alma gêmea).
Obtemos a imagem das férias, sua representação positiva. Mas percebemos também
que, por trás, há o oposto da decoração, que se deixa ver progressivamente na
entrevista, segundo o esquema seguinte:
- o ideal;
- o agradável;
- o desagradável;
- o risco.
Se as primeiras palavras são “fantástico” e “sonho”, as últimas, mesmo com o “looping”
verbal e o riso de contestação, sua “angustia” e “pânico”.
c) Análise seqüencial. –A entrevista é recortada em seqüências. Critérios semânticos
(organização da seqüência envolta de um tema dominante), mas também estilística
(ruptura dos ritmos, operadores gramaticais) são à base de recortes. Temos aqui,
aparentemente, 7 a 8 seqüências (ver entrevista codificada).
• Seqüência 1 de introdução, com aparição espontânea do tema de espera de
um sonho, que, após importunação do entrevistador, seguido por hesitações “Hhmm...
Hhmm”, é desenvolvida concretamente (descrição da cena “cartão postal”) pela
seqüência 2, que se fecha com um “Aí está”.
• A retomada, um pouco seletiva, do entrevistador, sobre as “cores”, carrega,
após uma perturbação “Oh mas não...”, um outro tipo de explicação em uma
seqüência 3 (negativa em sua formulação “sem”) sobre a ausência de reclamações.
Então, depois das frases lapidadas, sem verbos e um “enfim” que repele talvez um
tema ou procura ultrapassar um contradição, as seqüências 4 e 5 desenvolvem a idéia
de mudança com os temas coadjuvantes de aprendizado, de vida saudável, de volta à
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infância, os quais no locutor, pertencem provavelmente a um universo de referência, a


livre criança exploradora.
• As seqüências seguintes, até o final, balançam, mesmo com a luta do
interlocutor para o evitar, no negativo das férias. De fato, este negativo já estando
atraído, mas recusado, ao final da “seqüência 3 e no começo da seqüência 4:” Enfim...
Sim... Bem “e “não precisamos nos preocupar”, passagem de transição marcada pela
perturbação da produção do discurso. A seqüência 6, introduzida por “Porque é
importante falar”, começa a liberar um recuo, àquele do “fracasso”, sobre o tema
melhor dominado pela necessidade de uma organização para Ter sucesso em suas
férias. Quatro “ou então” e “ou bem” testemunham a invasão das dificuldades. Neste
ponto, o “pânico” é projetado sobre outrem “uma amiga”. Um “de fato” conduz a
seqüência 7, àquela do jogo do destino (“o pôquer”) entre o “encontro” da amizade ou
do amor (risos marcando o gênero) e o “nada” ou o “buraco”. As palavras fortes de
“espanto” e “sinistro” terminam esta seqüência e preparam a seguinte. A seqüência 8
testemunha pelo seu vocabulário (“angústia”, “horror”, “pânico” e mesmo a palavra
“deserto”) e seu estilo de frases curtas, de um universo ansioso ligado à partida do
interlocutor. Mesmo com a recuperação final e a denegação (“isto me saiu muito bem”
e os risos), estamos longe do sonho do começo da entrevista.

Temática Seqüência Enunciação


--O que são férias para você?
--Férias? Bem... Para mim... Minha idéia sobre férias...?
--Sim, sim, as férias para você, o que elas representam? Frase de começo
Espera --Oh! É fantástico, claro... Sim... Bem... Enfim, é para Espontaneidade hesitante
Positiva todo mundo igual. Pelo menos eu penso. Sim, bem! Nós 1 Utilização do “nós”
sonhamos com elas... Nós as esperamos... Enfim. Relance eficaz e apropriado
--Sim, as esperamos...
--Sim, nós não esperamos somente isto. Mas pelo menos
em certos momentos. Por exemplo, agora está tudo
cinza, triste, todo mundo está doente, cansado... Bem!
Decoração para mim, as férias são coloridas. O azul, o mar, o céu. 2 Desenvolvimento fácil
hedonista E a areia, toda dourada. Quente, é muito quente. A areia Utilização do “eu” e “meu”
é quente. E os coqueiros (risos)... Enfim, é um pouco Risos de censura
cartão postal o que estou falando. Mas é isto, enfim!... O
sonho. Mesmo sendo esqui, é em cores mesmo assim.
Azul, sol, branco... mas um branco que brilha, pessoas
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bronzeadas, contentes. É isto!


--Para você as férias são cores... 3 Vestimentas
--Oh! Mas não... Também... Hhmm... Não fazemos nada Relance muito seletivo
Ausência de durante as férias. Quero dizer nada de trabalho. Mas sim Perturbação seguida de um
Reclamação fazemos o que queremos para o prazer. Sem novo desenvolvimento
reclamações. Nos levantamos ao meio dia. Nós ficamos Volta do “nós”
devagar, sem correrias.
- E sem barulho. Sem telefone tocando. Calmo. O Frases curtas, secas
silêncio. Enfim... Sim... Bem! É principalmente bom nos Invasão de um tema
primeiros dias. Pois não precisamos nos preocupar. De Censurado
fato... Hhmm... Não...temos que trocar. As férias, é a Retomada do discurso
mudança. Mudamos de “cabeça”, de canto, de costumes.
Mudança Vemos outras coisas. Eu adoro descobrir outras coisas
durante as férias. Bem, talvez um país que eu não 4 Volta do “eu”
conheça, ou talvez aprender a fazer cerâmica... Ou... Eu
não sei... Aperfeiçoar sua esquerda com um curso de Hesitações devido
tênis. á procura de exemplos
Mas sobretudo, deixar cair. A mala, hop! e acabou-se. Retomada segura da
Sem contas, e sem estas pessoas que conhecemos progressão do pensamento
muito. Outra coisa enfim. Sem fazer sempre os mesmos
gestos.
E, em geral, bem, vivemos com mais saúde nas férias,
Liberdade da mais perto da natureza. Na cidade, temos que carregar
Infância roupas, carregar... ia dizer sorrisos. Eu me sinto fechada,
falsa, na cidade, nada á vontade. Tenho a impressão de Aprofundamento
não poder respirar fundo. Em férias, corremos, rimos,
gastamos. Como crianças. Talvez isto sejam férias... 5
Enfim, para mim, é assim que sinto... a inocência... tudo
novo...! As férias quando nós éramos crianças, então isto Volta do “nós”
eram férias.
Necessid. De Porque é importante falar, algumas vezes nos
Organizar decepcionamos. Tem que se conquistar as férias. Ás
vezes nós estamos tão cansados que não temos
coragem de as organizar. Ou então tínhamos previsto 6
alguma coisa e não dá certo, fura. As pessoas com
quem deveríamos Ter ido, não querem mais ir. Ou então,
prevemos partir com alguém... organizamos... e na hora Enumeração em um estilo
de partir percebemos que não estamos mais afim de sair menos correto
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com esse cara. Ou então... saímos com uma amiga, uma


boa amiga... Enfim achávamos que até então era uma
imprevisto boa amiga... Nos dávamos bem... Simpática...
Engraçada... e hop, durante a viagem, é um monstro de
egoísmo. Ou então percebemos que ela entra em pânico
em qualquer pepino.
Na verdade, não sabemos direito o que vamos encontrar
nas férias... É como pôquer! Podemos descobrir... fazer
novas amizades... encontrar sua alma-gêmea (risos). Ou 7 Risos de censura
então... Hhmm... nada, o buraco... o mal estar. Ou os
problemas. Dá um pouco de medo antes de sair. Não
pode errar o golpe. Férias frustradas, pode ser sinistro.
Sim... Hhmm... Frases inacabadas
Decepção --Sim... Sim... as férias podem ser frustradas.
Eventual --Sim, e eu agonizo sempre um pouco... antes. Adoro Estilo de poucas palavras
partir... mas de fato... Hhmm. Por exemplo, tenho horror 8 Volta do “eu” e “meu”
em arrumar minha mala... Isso então... Horror mesmo...
Sempre faço isto em pânico no último momento. Desta Retomada do controle
maneira de uma cabeçada só.... Saio para medir o Verbos: presente, passado,
deserto. Enfim, nunca o fiz, mas conto em fazer algum futuro e generalização
dia. E geralmente, me saio muito bem com imprevistos Riso de conjuração
(risos).

d) Análise das oposições1. –Dois universos opostos, em um mini combate


maniqueista afrontam-se neste discurso. Encontrar o esquema ainda é um maneira
de analisar o texto:

Cinza Cores
doença Calor, alegria

Trabalho Liberdade
Apressar-se Prazer
Reclamações Preguiça
barulho silencio

Incômodo Mudança, descoberta


Hábitos aprender

Roupas fechadas Vida saudável, natureza


Sorrisos falsos Respirar, correr, rir, atividade
cidade Infancia, inocencia
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fracassar Conquistar
Organização
coragem

O outro negativo O outro positivo


(“monstro de egoismo” (“amiga simpática,
“pânico”) engraçada”)

O vazio Descobrir
O incômodo, os incômodos O encontro (amigos, amor)

Angústia da saída
O improviso Prazer de partir
O risco

Ao longo deste pequeno jogo de oposições, particularmente marcante neste


discurso, repararemos em várias coisas:
• O “calmo” e o “silêncio”, atributos positivos das férias podem também balançar na
preocupação ( seqüências 3 a 4), e a preocupação, isto pode trazer ao vazio (“nada”,
“buraco”, da seqüência 7), dito de outra forma, o insignificante.
• As férias são, em uma espécie de equação, trazidas à infância, matriz original de um
paraíso perdido (“respirar”, “inocência”, “novo”) para o locutor, como o era
primeiramente mas de maneira mais social na descrição do paraíso do “cartão postal”
(“azul”, “branco”, “mar”, “sol”, “calor”).

e) Análise da enunciação. –Uma entrevista, pois se trata de uma palavra espontânea


de investigação, é costurada de palavras, de formulas, de pedaços de frases
aparentemente supérfluo, não levando em conta o localização semântica da busca
de temas, mas às vezes, de fato, portadores de senso. Por outro lado, o estilo, em
suas variações, é carregado de significados. Uma leitura, da “maneira de falar”,
deslocada da leitura temática, pode completar e aprofundar a análise.
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No caso presente, observaremos por exemplo:


• A evolução do estilo (comprimento, acabamento ou não das frases, grau de correção
ou de familiaridade com a linguagem) em função do conteúdo abordado pelo locutor.
Esta variação estilística nos dá uma luz diferente sobre a maneira à qual o
entrevistado ressente o que exprime2;
• A alternância do uso do “nós” e do “isto” (colocado à distância, generalização) e do
“eu”, “meu” (reapropriação, investimento pessoal);
• A chegada das perturbações de linguagem, tais como “hhmm”, frases mutiladas,
onde o sentido é variado, traduzindo também um pensamento que se procura
(seqüência 1) somente perturbações afetivas ligadas à emergência de um tema (fim da
seqüência 3);
• A especificidade, de certos tiques de linguagem próprios de um locutor ou de uma
entrevista: aqui, à abundância de “enfim” e de “ou então”, correspondendo a um modo
de pensamento enumerativo precedido por justaposição;
• O papel central do “enfim” terminando a seqüência 3: o coração da entrevista, i.e. a
ruptura entre dois mundos, àquele do bom (prazer, sonho de férias felizes) e àquela do
ruim (angústia do risco e do vazio), de encontra aí, na metade do caminho entre uma
primeira parte facilmente dominada e uma Segunda parte que tenta lutar com o
sucesso decrescente contra a irrupção da ansiedade.

1. Agradeço à G. Moser quem, me dando parte de seus próprios conceitos sobre a análise desta
entrevista, enriqueceu o que aqui proponho.
2. Em entrevista não diretiva, comprido em função do mecanismo de esboço, percebemos às vezes
que algumas seqüências são, à distância, ligadas entre si, bem que seqüências “incidentes” ou
intercaladas (poderemos as assinalar através de um código apropriado), seja porque o tema
desaparece e ressurge (ou porque se transforma, se inverte, ou se desenvolve, ou se associa com
outro, ou contamina outro, etc.), seja porque a expressão mesma, a maneira de dizer, impõe uma
aproximação. Por exemplo, uma seqüência A1 “intelectual” será seguida de B 1 “emotiva”, e
novamente de A2 “intelectual”, A3 “intelectual”, B2 “emotiva”. Ou então teremos um seqüência
“positiva”, uma “negativa”, ou uma “generalizada”, uma “particular”, uma “narrativa”, uma
“intempestiva”, ou uma ”estável”, uma “perturbada”, etc.

f) Esqueleto da entrevista (estrutural e semântica).-As diferentes aproximações


precedentes nos permitem agora de liberar a coração substancial desta entrevista,
tanto no plano de organização cognitiva quanto àquele da temática profunda
(latente, no sentido onde o locutor não o tem próprio consciência clara) 1.
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Por exemplo, podemos simplificar a simplicidade da entrevista por uma


estrutura de base, exprimindo o esqueleto de um conflito, de um ambivalência, de uma
progressão, de uma ultrapassagem, de uma narração, etc.
Aqui, poderemos resumir assim um papel central da reclamação:

Escapar das reclamações Reclamações de Organizar


sonho cotidianas conquista das férias /arriscar
Mudanças de atividades riscos de falhar

Seqüências: 1,2 3,4,5 6,7 8

1. Uma entrevista não diretiva pode trazer sabedoria ao locutor em si. Reflexões espontâneas (ou
ingênuas) ao final de entrevista do tipo “Você me fez falar de muitas coisas!” ou “É interessante,
definitivamente de refletir sobre isto” são a marca desta descoberta.

Ou então extrair o jogo afetivo entre o desejo e o temor da partida, a


necessidade do imprevisto e o medo do incômodo, à vontade do outro e a solidão:

Férias
Não Férias

Outro lugar, partir


Diferente antes O quotidiano, atual
Idade adulta

Liberdade, prazer Trabalho, barulho


Tempo, calmo Apressar-se

Risco de
tédio

Risco de decepção Se organisar


15

Resolução mágica:
O outro positivo Conjuração do destino
(“amiga simpática, (“me saio muito bem”)
engraçada”) passagem ao ato (“eu parto...”)
em outro lugar sem o outro? (“o
deserto”)

Risco do “buraco”
(Incômodo)

4. EXEMPLO: UM CONJUNTO DE RESPOSTAS SOBRE A RELAÇÃO AO TELEFONE

Na seqüência de uma entrevista com os Franceses por entrevistas não


diretivas, sobre os usos sociais do telefone como um meio de comunicação 1 e para as
necessidades de demonstração do presente capítulo, nós fizemos produzir umas
trintas pessoas (jovens de 17 a 25 anos) redações de aproximadamente uma página.
Estes últimos tendo de responder o mais espontâneo possível a mesma obrigação que
aquela utilizada para destravar as entrevistas no inquérito citado, para saber: “Gostaria
que você me falasse sobre o lugar que o telefone tem em sua vida, o que ele
representa para você...”
Observações Seqüência Temática
s
Nº 2 – “O equilíbrio”
Frase de inicio: 1 / O telefone é indispensável ! [1] / (+) utilidade máxima
profissão 2 Eu o coloco primeiramente no limite da entrevista e da [1]
de fé carta. hierarquia: face a
Equilíbrio: a Ele permite um equilíbrio . / face / tel. / carta
palavra chave? 3 Ele pode servir de fachada, de fazer valer também; (+) e (-)
Relação com os quer dizer que me protege em alguns casos, evitando-me tel. = proteção
outros a entrevista física e estimula também pois não existem as face a face = temor e
mesmas semelhanças diretas, sem confrontação, podemos inibição
Interlocutor: 4 nos revelar sem ser inibidos pelo interlocutor. / (+) sociabilidade:
palavra anônima O telefone é uma peça importante no contato e na manter laços
Influencia da amizade, uma pequena “chamada” pode mudar muito bem
16

publicidade? 5 a situação; isto gera cria laços de se chamar (-) utilidade e rapidez
regularmente. / Além do contato afetivo, o telefone é quase para o profissional [2]
indispensável [2] para a vida profissional; ele constitui
Repetição do 6 uma grande e rápida fonte de informações. / Eu utilizo o usável: quotidiano
prazer: centrípeto, telefone quase todos os dias para o meu prazer [1], para prazer
centrífugo dar prazer [2], por razões práticas também. /
Reservado ao 7 Mas deve-se de qualquer forma entrever o lado (-) incomodações
final: o negativo, negativo do telefone: “ser incomodado” muito seguido (chamadas muito
contraste com o (mas isto se torna um prazer ou não), ser chamado para freqüentes,
começo! piadas. / importunas)
Os números entre colchetes indicam um tema repetido várias vezes (ex. “indispensável”): podemos
afetar cada volta temática de um número. Em entrevista real – portanto comprido – isto facilita o
descobrimento ulterior dos locais de aparição de um mesmo tema.

Certamente, estas redações, restritas, são muito diferentes do jogo da palavra


de uma entrevista. Entretanto, sua temática não está nada distante das entrevistas
reais – nós o sabemos – e se seu enunciado (no sentido da palavra em si, com toda
retórica espontânea que isto induz) é fraca, a lógica interna está presente, ainda que
simplificada, e isto é suficiente para ilustrar a análise de um conjunto.

Análise temática e seqüencial

Entrevista nº 2: À primeira abordagem, os temas seguintes são descobertos


(eles poderão ser completados pela seqüência): utilidade, comparação com carta e
face a face, função de proteção, sociabilidade (contexto emocional; manutenção dos
laços), rapidez, função informativa, usável, prazer, incomodação.
O recorte em seqüências leva em conta, ao mesmo tempo, as particularidades
expressivas ou enunciativas.
Seqüência 1: Frase de entrada, ao mesmo tempo tomada de posição pessoal
muito afirmada e adesão a um estereotipo (a pessoa não diz “para mim o telefone
é...”).
Seqüência 2: Introdução do “Eu”. Linguagem quase matemática (“posiciona”,
“limita”, “equilibra”) onde a pessoa coloca o telefone em uma hierarquia: face a face /
telefone / carta.
Seqüência 3: Ela explicita a seqüência 2 mas em um nível muito mais
psicológico e afetivo (“fachada”, “protege”, “me evitando”, “estimula”, “confrontação”,
17

“revelou”, “inibido”). A seqüência é bastante complexa e deve ser decomposta em sua


estrutura para revelar oposições:

Telefone (+) Não telefone (-)


Fachada, fazer valer Entrevista física (evitar)
Proteção de si Intercâmbios diretas ou confrontação
Estimulação Inibição pelo interlocutor
Se revelar

A carta (correio) é esquecida e a seqüência 2 se transforma em uma seqüência


3, manifestando a preferência de proteção estimulante pelo telefone e o temor do
intercâmbio direto inibidor com outrem que é aqui nomeado de um termo longínquo e
anônimo: o interlocutor”.
Repararemos a progressão entre as três seqüências: frase curta e de estrutura
gramatical mínima à uma frase complexa e comprida.
As três seqüências seguintes (4, 5, 6) retornam à afirmações simples e
positivas:

Seqüência 4: Referência positiva à sociabilidade socio-afetiva (“contato”,


“amizade”) e ao papel de manutenção social do telefone (“laços”, “regularmente”). Um
significado mais sutil estando intercalado, àquela da pequena “chamada” a propósito,
que modifica, resulta uma “situação”: caráter mágico, apropriado, benéfico da
comunicação telefônica.
Destacar o adjetivo “pequena” no singular testemunhando o investimento
mínimo para soluções máximas.

Seqüência 5: ruptura do nível (“além”), trocamos o registro, reafirmação do


caráter indispensável, para o domínio profissional. Qualidade de rapidez, para um
conteúdo preciso, a informação (isto poderia ter sido a organização, a decisão).

Observações Seqüências Temática


Nº 3. – “O temor”
1 Confesso suportar um certo temor [1] em vista (-) temor [1]
do telefone que não saberei explicar. /
O telefone é evidentemente bem prático e eu (+) prático
aprecio freqüentemente poder dispor mas minha (-) evitarão [1]
primeira reação é de tentar o evitar [1]. Quando
18

preciso telefonar, eu penso primeiro se é possível encontro > telefone [1


me mover e ir ver [1] a pessoa em questão ao
invés de utilizar o aparelho. Se eu posso me
deslocar ao local sem dificuldade, opto por esta
Contestação? 2 solução. Mas se a única solução para mim é de temor [2]
telefonar, eu o faço sem sentir nenhum pavor [2]
intenso acompanhado de manifestações físicas! evitação [2]
Tento somente de o evitar [2] se isto me é possível. encontro [2]
Eu prefiro o contato direto [2] com as pessoas. temor [3]
Mas este temor [3] não se faz sentir se trata-se
para mim de telefonar à alguém que conheço muito encontro [3]
bem (se bem que, mesmo neste caso, eu preferiria evitação [3]
encontrar [3] a pessoa).
Quando o telefone toca, espero que outra evitação [4]
pessoa [3] responda antes de eu. Se estou sozinha, temor [4]
Trauma anterior? 3 me acontece de não responder [4], ou então medo da má notícia
simplesmente de demorar à responder. / Talvez eu
tema [4], de receber uma má noticia? É a única () esforço para es
Auto persuasão? 4 resposta que posso encontrar. É aliás um pouco a vontade
impressão que sinto.. /
Depois de um certo tempo, tento fazer de modo
que possa telefonar sem hesitar e creio ter
progredido neste sentido. Uma vez que a conversa
está iniciada, me sinto perfeitamente à vontade. /

Seqüência 6: Retorno do “Eu”. Informação sobre a usação temporária do


telefone pela pessoa e aparição de um tema hedonista: o prazer, com repetição da
palavra no sentido centrípeto (em minha direção) e centrífugo (em direção aos outros),
traduzindo um equilíbrio na direção da sociabilidade. As razões práticas invocadas
aparecem anexas e citadas para a memória.
Seqüência 7: Equilíbrio terminal por um tema negativo, àquele do incômodo,
seja por muita freqüência das chamadas (com diferenças pouco sensíveis,
subentendido não explicito, em função das circunstancias, de o chamando...
provavelmente, e reaparição condicional do tema prazer), seja por chamadas
inoportunas1.
Entrevista nº 3: Se a resposta nº 2 manifesta um equilíbrio, a palavra chave é o
temor. Confessada desde o começo, e apesar de seu final “à vontade”
19

(autopresuasão), este medo do telefone marca o conjunto. Este pode se decompor em


quatro seqüências:
1) Uma frase de introdução, direta;
2) Uma longa seqüência de explicação com diferenças pouco sensíveis; como para
uma fobia, a relação ao telefone aqui expressa é mais ou menos angustiada
segundo o caso: máximo na recepção (desconhecido), exceto com uma pessoa
conhecida e quando a conversa está iniciada. O encontro face a face
(deslocamento, ver contato direto) parece pela comparação altamente preferível;
3) Uma frase de explicação eventual do problema;
4) Um final tentando tornar a situação menos preta.

Em comparação à resposta nº 2, muito completa, o registro desta é mais restrito


com repetições temáticas.
Entrevista nº 4: O recorte em seqüências, aqui, não traz nada. A dominante da
resposta é: um mal necessário mas com o qual não podemos ver os outros.

1. As análises das respostas seguintes serão mais breves.

Observações Seqüência Temática


s
Nº 4 – “um mal necessário...”
* O telefone representa para mim um meio de (+) rapidez
comunicação rápido, instantâneo (ao contrário do (+) comunicação direta
correio que demanda um certo prazo), “direto” (o (+) progresso
correio é mais indireto). Ele representa um grande (-) falta de visão[1]
progresso técnico. À respeito disto, aliás, eu espero
Eu não gosto com muita impaciência a chegada dos novos telefones (-) falta de visão[2]
permitindo ver [1] o correspondente e não (-)comunicação alterada
simplesmente de o escutar. Eu não gosto muito do (+)indispensável[1]
Eu não posso telefone, justamente por não existir o contato visual (+)indispensável[2]
exagerar [2]. Tenho o sentimento de que a comunicação pode (-) telefoneencontro
ser alterada por este detalhe. Isto quer dizer, eu não
posso exagerar. Viver nos dias de hoje sem telefone
* sem seqüências me parece impossível ou difícil.
nítidas É uma ferramenta indispensável mas talvez as
pessoas tendem à se verem menos do fato da
facilidade que nos oferece esta invenção.
20

Objeto... utilizado: Nº 9 – “Falar...a voz” (+)


um instrumento 1 É um objeto que gosto muito de utilizar. / Posso (+)hábito:
ficar muito tempo no telefone se a conversação [1] é conversação [1]
interessante. Se não tenho nada à fazer, me acontece telefone>não fazer nada
2 muitas vezes de telefonar para um(a) amigo(a) ou (+)amizade
outro para ter novidades, falar [2], etc. / É então para (+)conversação, falar [2]
3 mim um meio de comunicação indispensável. O (+) indispensável [1]
telefone, é também um meio de se obter informações (+)função informativa
rapidamente / e talvez pelo fato de ficar anônimo traz (+)proteção do
4 uma maior facilidade de se expressar ou formular sua anonimato, da ausência
pergunta. O que importa se nos enganamos, e se de visão
ficamos vermelho... se a pessoa não o vê, não o (=timidez)
5 conhece. / (+)carretar magico
É também de alguma maneira um instrumento (+) a voz
6 mágico a respeito da voz. / (+) indispensável [2]
Indispensável [2] mas complementar, isto não me igualdade e
impede de escrever ou de me locomover. / complementaridade com
carta e deslocamento

Nº 13. “Necessidade de estar consolidado...” (+)rapidez


1 O telefone é primeiramente mais rápido e mais (+)fidelidade  da carta
seguro que as cartas que ou se perdem ou chegam (+)proteção por falta de
Único “eu” do texto muito tarde... / E ainda, o telefone nos permite de visão
2 descobrir seu caráter ao invés do físico. Eu o digo isto valorização interior >físico
para os engajamentos: no telefone, não julgamos função informativa
3 sobre a cabeça da pessoa mas pelo seu interior : (+)custo mínimo
inteligência, modo de se expressar, etc. / tel.>deslocamento
Nos permite passar uma informação sem ter de (+)sociabilidade
pagar o transporte. (+)segurança
Nos permite obter novidades ou pessoas mais (-)incomodação
seguido.
Uma ferramenta Nos permite de contatar pessoas úteis muito rápido:
4 ambulância, bombeiros, anti veneno, etc. / portanto
Projeção? ruim para a tentativa por telefone que é irritante. (-)incomodação
De fato, é uma ferramenta pratica onde o contato é
concreto e vivo bem que ele possa servir ás vezes
este contato negativo: ver sobre este assunto o
número crescente de pessoas que se colocam na lista
Estereotipo 1 vermelha para chamadas desagradáveis./
21

impessoal (+)indispensável
Nº 15.- “Unir... para o melhor e o pior”
O telefone é um meio de comunicação (+)proximidade
2 indispensável nos tempos atuais / Ele permite de se geográfica
entrar em contato com diferentes regiões, até mesmo (+)aproximação afetiva
“eu”, “me” países ás vezes. (+)antídoto à solidão
O telefone serve para aproximar os interlocutores: reconforto
3 por exemplo, na hora de uma viagem para outro país, intermediário
eu me sentia sozinha. Graças ao telefone, meus pais
Impessoal, frase de puderam me ligar, e, deste fato, me reconfortaram. / dupla função: “comuna”,
transição “sentimental”
O telefone é um intermediário que pode trazer (+)utilidade profissional
4 mensagens tanto comuns quanto sentimentais. /
Impessoal Sobre o plano profissional, o telefone é também
muito útil pois permite ás diversas empresas de se
comunicarem. Por exemplo, no ramo da
documentação, as relações entre certas (+)função informativa
5 documentações sendo tão importantes, o telefone tem
um papel essencial. Ele permite de passar as (-)angústia [1], [2], [3]
“Me”, “eu” informações da atualidade. / (-)incomodo,
É verdade que o telefone é prático, mas isto dito, desagradável,
sentiria-se que me angústia [1]. O fato de desligar o exasperação
aparelho me incomoda. Ás vezes os interlocutores
não sabem se apresentar, ou são desagradáveis, e (-)eventual má notícia
isto me exaspera. A angústia [2] vem também do fato
Interlocutores de que eu tenho sempre medo [3] de receber uma má
errantes: “pessoas” 1 notícia pelo telefone. /
uso freqüente
Nº 16. “Indispensável para a organização, mas...” (+)resposta ao
Antes de tudo é um meio de comunicação que eu afastamento [1], [2]
utilizo muito pois eu moro bastante longe [1] da (+)organização [1]
maioria das pessoas que eu conheço e isto me (+)diálogo>carta
permite de organizar [1] as coisas com elas. Isto me
2 permite também contatar pessoas que moram muito
longe [2] de mim e de ter um diálogo com elas que à (-)tempo, banalidades
escrita não me permite. /
Mas, eu não gosto das chamadas que duram muito (-)nervosismo do
tempo, onde dizemos banalidades. Prefiro ser incômodo
3 concisa e breve. invasão, ruptura da
22

Enfim, o telefone me deixa nervosa pois, em minha intimidade familiar


casa, não se passa uma refeição sem que o telefone
toque, tem quase sempre alguém no telefone... / organização [2]
O telefone ocupa um lugar importante em minha vida () obrigação do uso
“Ao mesmo tempo” * pois me organizo [1] muito envolta de contatos indispensável
positivo telefônicos. Portanto, eu o utilizo sobretudo pois eu o
sou obrigada: ele é indispensável. /
restrição ()ambivalência
Nº 19. “melhor que o ... vazio” (+)redução do
o pior O telefone é uma coisa ao mesmo tempo afastamento
positivo agradável e desagradável. Ele permite de poder se (-)ausência de visão
restrição comunicar com pessoas que gostamos e que estão de contato [1]
distantes. Preferiríamos ir as ver [1], poder ver suas medo do vazio [1]
faces, as tocar mas não podemos e é uma pena. É de (+)marcar encontros [1]
positivo qualquer forma melhor que o vazio [1], o silencio total. (-)recusa conversação
restrição Aliás, podemos marcar encontros [1] com ele. Eu não comprida
solução gosto de falar por horas no telefone. Eu prefiro ter a face a face[2], ganhar
pessoa em minha frente [2]. tempo
Em um trabalho, o telefone é muito útil para ter
negativo informações, marcar encontros [2], ganhar tempo.
Mas ele pode ser também muito fastidioso, se ele (-)incomodação
toca o tempo todo. O ideal seria de poder selecionar desejo: tri seletivo
as chamadas.
* alteração de (-)chamadas fastidiosas
oposições. Eu não gosto nada quando um desconhecido
chama e faz piadas – se podemos assim as nomear – medo do vazio [2]
Restrição de um gosto duvidoso, nem quando o telefone toca e
não tem ninguém do outro lado, ou que desligam, ou
“Nenhum” que não respondem de propósito.
“somente”
Nº 21. “Nenhum sentimento...” prático [1]
negações O telefone é para mim sobretudo um objeto função instrumental:
prático [1] que me permite resolver os problemas à resolver os problemas
“Eu não gosto” distancia. Nenhum sentimento se amarra, sem mais (-)nervosismo da
negação apreensão que alegria. Somente a irritação quando o incomodação
“impede” aparelho toca a cada cinco minutos ou quando é (-)perda de tempo
preciso falar por meia hora para nada se dizer à
alguém que não entende que você faz outra coisa. (-)ausencia de visão
É verdade que eu não gosto muito ter uma
23

discussão séria no telefone pois não posso ver a


centrifuga e cabeça de meu correspondente, o que impede de ler
centrípeta em sua face ao mesmo tempo em que fala.
Senão útil, prático [2], é tudo. útil [1], prático [2]

Nº 23. “Adoro telefonar”


É um instrumento genial! Adoro telefonar e
receber chamadas.
Eu não consigo considerar o telefone como um (+++)
“Meu” telefone simples objeto, ele é para mim uma espécie de “local encontro
de encontro” e um “objeto” pelo qual eu posso
aprender, rir e experimentar fortes emoções. De
fato, o telefone é carregado de símbolos, e eu o função emotiva
concedo talvez uma importância muito invasora para
meus próximos. Mas eu seria muito infeliz se amanhã
levassem meu telefone!

Nº 26. “Eu não gosto de telefonar”


Para mim, o telefone não passa, essencialmente,
Negação de um aparelho utilitário. Ele me permite de evitar os
deslocamentos tediosos e de telefonar à amigos que Utilidade estrita
Restrição eu não posso ver com freqüência. Paliativo dos
Mas em geral, eu não gosto de telefonar, eu não deslocamentos
Eu não gosto gosto de fazer a tentativa. Isto não me impede de Amizades
gostar de receber chamadas. (- -)
O telefone é um objeto com o qual eu não pude
nunca me familiarizar. (-)emitir
(+)receber
Nº 27. “O amigo ou o inimigo...” esquisitez
É o vínculo [1] entre eu e o mundo antes de tudo.
Eu e o mundo O telefone é ao mesmo tempo um objeto, um
utensílio complacente, pois ele coloca em relação [2] (+)laço, relação[1], [2]
com as pessoas. Mas [1] ele é também o pássaro de
“Mas” de má áugure por quem chegam as más notícias [1].
ambivalência Eu tenho a tendência de passar muito tempo no eventualidade de uma má
telefone, pelo menos segundo meus pais. notícia [1]
culpa em relação aos
O telefone me assegura e me preocupa [2]. próximos
Esperamos com alegria e impaciência uma chamada,
24

tememos [3] ou somos surpresos pelo tocar do ()ambivalência [2], [3]:


aparelho. - Seguridade
Mesmo se não me sirvo, eu gosto que ele esteja lá, - Preocupação
se por acaso... é o objeto de companhia para toda Incomodação
solidão. (+)(+) seguridade
Segundo meu humor, o telefone se torna o amigo ou o antídoto à solidão
inimigo. Risos, choros passam ás vezes por ele. ()ambivalência [4]
O que faríamos sem ele?
medo da privação
indispensável

Entrevista nº 9: Resposta muito mais densa que a precedente e muito positiva:


existem vários temas por frase em certos casos. Temas novos, tais quais o prazer da
palavra ou a mágica da voz, aparecem aqui.
Entrevista nº 13: Posição aparentemente positiva, técnica e impessoal. Mas de
fato, à partir da seqüência 2, o locutor revela uma falta de autoconfiança, e
insegurança (sequ. 3) e preocupação de ser incomodado por chamadas intempestivas
(sequ. 4). Se o nível manifesto é positivo, existe um nível latente, mais ansioso, já
amortecido de fato pela palavra “seguro” da primeira frase, ou a evocação das “cartas
que se perdem”.
Entrevista nº 15: alternância das seqüências impessoais (“indispensável”,
“intermediário”, “profissional”) e afetivas.
A função “aglutinadora” (“unir”, “aproximar”) é forte mas a relação no telefone é
ambivalente, as opiniões positivas dos três quartos da resposta estando recolocados
em questão pelo medo do exterior, e a angústia ligada á irrupção dos outros ou dos
fatos.
Entrevista nº 16: A construção é àquela de uma dissertação escolar: seqüência
positiva, seqüência negativa, conclusão sem muita diferença retomando argumentos
anteriores.
A palavra “indispensável” aparece aqui sobre um novo dia: ligado à obrigação
(isto amenizará talvez a reconsiderar este tema como não inteiramente positivo).
Entrevista nº 19: A concepção do telefone é marcada pelo “sim, mas...”. Ao invés
de um recorte em seqüências, devemos remarcar o movimento de balança: afirmação
positiva e restrição, o final se abatendo no negativo.
25

Uma hierarquia é instaurada onde o melhor seria o face a face, o pior, a


ausencia de comunicação, e o meio termo, a comunicação telefônica que apresenta
vantagens e inconvenientes.
Entrevista nº 21: As palavras chaves desta resposta são “distancia” e “é tudo”. O
locutor utiliza a totalidade de sua resposta para marcar sua distancia visto de uma
eventual implicação na comunicação. Existem uma dezena de formas lexicais ou
gramaticais do tipo negativo ou restritivo para quatro frases. É uma atitude de “defesa”.
Entrevista nº 23: Reação oposta á resposta 21. O conjunto se caracteriza por
um investimento máximo, marcado pela apropriação (“meu telefone”), provindo de uma
apetência relacional forte, com consciência de uma expansividade “invasora” e medo
da privação “se amanhã me levassem ...”.
Mas esta resposta traz mais informações sobre um desejo de sociabilidade
geral que encontra sua satisfação no instrumento telefônico que sobre características
precisas sobre o uso deste modo.
Entrevista nº 26: Atitude negativa por incapacidade de se “familiarizar” com este
modo de comunicação. A função é limitada ao “utilitário”, quer dizer no estrito mínimo.
Parece que a dificuldade seja sobretudo o fato da emissão e não da recepção:
dificuldade de ir em direção aos outros?
Entrevista nº 27: Atitude ou ambivalência do telefone é claramente expressa:
segurança/ansiedade, prazer apreensão, “amigo”/”inimigo”, “risos”/”choro”.
A temática psicológica é rica com uma dominante sobre a função relacional do
telefone (“laço”, medo da privação). É o telefone “cordão umbilical” por onde passa o
pior ou o melhor.
Repararemos pela segunda vez (cf. também nº 23) a menção dos outros com os
quais a linha é dividida.
Esta primeira leitura codificada, de três níveis (temático, estrutura, expressão),
tem como função:
- de preparar a, ou as grade(s) categórica(s) transversais;
- de fornecer hipóteses de interpretação
por uma questão de lugar, mas também em função do fenômeno da saturação,
nós limitamos os exemplos aqui à uma dúzia. De fato, à partir de um certo número de
respostas ou entrevistas, a temática se repete, trazendo cada vez menos novidades.
26

Temática: vantagens e Números


inconvenientes 4. . . 9. . . 13. . . 15. . . 16.. . 19... 21... 23... 26... 27...

Confiança
Utilidade
Rapidez
Comodidade
Economia
Favoriza a organização
Aumenta a informação
Reduz a distância
Substitui o deslocamento
Aumenta a segurança
Favoriza a proteção
É bom para a sociabilidade
Aproxima afetivamente
Constitui um laço
Permite o diálogo
Preserva a solidão
Traz o prazer da palavra
Permite o diálogo
Inquietante, anxiógeno
Falta de visão, de presença
física
Submete às chamadas
intempestivas
Perda de tempo
Exige uma acomodação, um
aprendizado
Pode trazer más notícias
Etc.

Na análise de entrevistas, é raramente possível de estabelecer uma grade categórica


única e homogênea, em função da complexidade e da multidimensionalidade do
material verbal. É preferível de “atacar por vários lados”, de certa forma.
Existem duas possibilidades: seja pegar um ponto de vista geral e homogêneo,
seja revistar certos aspectos específicos, os dois se completando.
27

Por exemplo, em nosso caso, podemos estabelecer uma grade categórica das
qualidades e defeitos, ou das vantagens ou inconveniências, atribuídas ao meio de
comunicação telefônico pelo conjunto de sujeitos. Construímos então uma grade, com
linhas, os temas qualificados e, em colunas, os indivíduos. Basta em seguida de
marcar com cortes cada intercessão (presença/ausência, ou números de ocorrências,
por indivíduo).
Podemos também referenciar todos os textos por uma inspeção visual, um
aspecto particular. Por exemplo aqui:
 Reunir todas as primeiras frases, que funcionam um pouco como os “slogans”, as
analisar, as comparar (a hipótese subjacente sendo que a primeira frase revelaria,
na maioria dos casos, a atitude de base do sujeito).
 Escolher um título para cada pessoa resumindo a especificidade de seu discurso,
um pouco à maneira de Barthes em sua análise do estado amoroso 1 (isto possui a
vantagem de obrigar a manter a originalidade de cada palavra assim como de
facilitar o maneio geral quando a massa de entrevistas ou de respostas se torna
mais importante).
 Apontar um projetor sobre as apelações nas quais os locutores fazem uso para
desenhar a materialidade do telefone: “objeto”, “instrumento”, “aparelho”, “meio de
encontro”, “intermediário”, “pássaro”... (com para pressupor que as formulações
elas mesmas trazem significados carregados de sentidos).
 Da mesma forma, procurar nos textos, e analisar as palavras utilizadas para
desenhar os interlocutores (em resposta a questão “que evoca-se quando citamos
parceiros telefônicos?”): : amigos”, “família”, “doutor”, “interlocutores”, “pessoas”,
“nós”, “aqueles que conheço”, “gentes”, “organismo”, “meus próximos”... ou a
ausencia de referencia ao interlocutor.
 Repetir o sentido das comunicações telefônicas: emissão/recepção ou
centrífuga/centrípeta, e as significações associadas ao contexto.
 Iscar uma tipologia dos indivíduos segundo seus tipos de sociabilidade
manifestada: grau de apetite relacional, necessidade dos outros, defesa ou
inibição, sociabilidade real e aspirações, etc., precisando os critérios semânticos ou
os índices expressivos que permitem no texto a análise desta dimensão.
 Colecionar as circunstâncias, situações, anedotas concretas evocadas (elas seriam
mais numerosas em entrevistas reais).
Existem muitas outras possibilidades, que as palavras à analisar e suas
particularidades poderão sugerir ao analista...

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