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2. A DECIFRAGEM ESTRUTURAL
O primeiro nível consiste em um procedimento de decifragem estrutural
centralizado sobre cada entrevista3. Esta aproximação trata dos trabalhos existentes
em relação à enunciações, analise do discurso ou da oração4, ver a psicanálise... mas
de maneira não sistemática, com suavidade, em função do material verbal em si.
Trata-se menos pelo praticante de projetar teorias prontas para se servir,
eventualmente, de sua competência e sabedoria sejam quais forem. Esta aproximação
ad hoc, procurando entender do interior da palavra de uma pessoa, lembra talvez a
atitude de empatia ao sentido do psicoterapeuta americano Rogers, i.e. “de imersão
no mundo subjetivo do próximo”. Atitude que exige um esforço – mas não exclui a
intuição – na medida em que, a cada nova entrevista, é preciso fazer abstração, e de
si mesmo e das entrevistas precedentes.
- calor;
- alegria
- elementos da natureza (mar, céu, areia, coqueiros (neve), deserto);
- (liberdade), sem reclamações, tempo;
- calmo, silêncio;
- descoberta, novidades (pessoas, lugares, costumes...);
- aprender (cerâmica, tênis);
- viver com saúde, naturalmente (correr, rir, poucas roupas, respirar...);
- ser ainda criança (inocente, novo);
- sucesso nas férias (estar em forma para organizá-las, as companhias);
- encontros (amigos, alma gêmea).
Obtemos a imagem das férias, sua representação positiva. Mas percebemos também
que, por trás, há o oposto da decoração, que se deixa ver progressivamente na
entrevista, segundo o esquema seguinte:
- o ideal;
- o agradável;
- o desagradável;
- o risco.
Se as primeiras palavras são “fantástico” e “sonho”, as últimas, mesmo com o “looping”
verbal e o riso de contestação, sua “angustia” e “pânico”.
c) Análise seqüencial. –A entrevista é recortada em seqüências. Critérios semânticos
(organização da seqüência envolta de um tema dominante), mas também estilística
(ruptura dos ritmos, operadores gramaticais) são à base de recortes. Temos aqui,
aparentemente, 7 a 8 seqüências (ver entrevista codificada).
• Seqüência 1 de introdução, com aparição espontânea do tema de espera de
um sonho, que, após importunação do entrevistador, seguido por hesitações “Hhmm...
Hhmm”, é desenvolvida concretamente (descrição da cena “cartão postal”) pela
seqüência 2, que se fecha com um “Aí está”.
• A retomada, um pouco seletiva, do entrevistador, sobre as “cores”, carrega,
após uma perturbação “Oh mas não...”, um outro tipo de explicação em uma
seqüência 3 (negativa em sua formulação “sem”) sobre a ausência de reclamações.
Então, depois das frases lapidadas, sem verbos e um “enfim” que repele talvez um
tema ou procura ultrapassar um contradição, as seqüências 4 e 5 desenvolvem a idéia
de mudança com os temas coadjuvantes de aprendizado, de vida saudável, de volta à
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Cinza Cores
doença Calor, alegria
Trabalho Liberdade
Apressar-se Prazer
Reclamações Preguiça
barulho silencio
fracassar Conquistar
Organização
coragem
O vazio Descobrir
O incômodo, os incômodos O encontro (amigos, amor)
Angústia da saída
O improviso Prazer de partir
O risco
1. Agradeço à G. Moser quem, me dando parte de seus próprios conceitos sobre a análise desta
entrevista, enriqueceu o que aqui proponho.
2. Em entrevista não diretiva, comprido em função do mecanismo de esboço, percebemos às vezes
que algumas seqüências são, à distância, ligadas entre si, bem que seqüências “incidentes” ou
intercaladas (poderemos as assinalar através de um código apropriado), seja porque o tema
desaparece e ressurge (ou porque se transforma, se inverte, ou se desenvolve, ou se associa com
outro, ou contamina outro, etc.), seja porque a expressão mesma, a maneira de dizer, impõe uma
aproximação. Por exemplo, uma seqüência A1 “intelectual” será seguida de B 1 “emotiva”, e
novamente de A2 “intelectual”, A3 “intelectual”, B2 “emotiva”. Ou então teremos um seqüência
“positiva”, uma “negativa”, ou uma “generalizada”, uma “particular”, uma “narrativa”, uma
“intempestiva”, ou uma ”estável”, uma “perturbada”, etc.
1. Uma entrevista não diretiva pode trazer sabedoria ao locutor em si. Reflexões espontâneas (ou
ingênuas) ao final de entrevista do tipo “Você me fez falar de muitas coisas!” ou “É interessante,
definitivamente de refletir sobre isto” são a marca desta descoberta.
Férias
Não Férias
Risco de
tédio
Resolução mágica:
O outro positivo Conjuração do destino
(“amiga simpática, (“me saio muito bem”)
engraçada”) passagem ao ato (“eu parto...”)
em outro lugar sem o outro? (“o
deserto”)
Risco do “buraco”
(Incômodo)
publicidade? 5 a situação; isto gera cria laços de se chamar (-) utilidade e rapidez
regularmente. / Além do contato afetivo, o telefone é quase para o profissional [2]
indispensável [2] para a vida profissional; ele constitui
Repetição do 6 uma grande e rápida fonte de informações. / Eu utilizo o usável: quotidiano
prazer: centrípeto, telefone quase todos os dias para o meu prazer [1], para prazer
centrífugo dar prazer [2], por razões práticas também. /
Reservado ao 7 Mas deve-se de qualquer forma entrever o lado (-) incomodações
final: o negativo, negativo do telefone: “ser incomodado” muito seguido (chamadas muito
contraste com o (mas isto se torna um prazer ou não), ser chamado para freqüentes,
começo! piadas. / importunas)
Os números entre colchetes indicam um tema repetido várias vezes (ex. “indispensável”): podemos
afetar cada volta temática de um número. Em entrevista real – portanto comprido – isto facilita o
descobrimento ulterior dos locais de aparição de um mesmo tema.
impessoal (+)indispensável
Nº 15.- “Unir... para o melhor e o pior”
O telefone é um meio de comunicação (+)proximidade
2 indispensável nos tempos atuais / Ele permite de se geográfica
entrar em contato com diferentes regiões, até mesmo (+)aproximação afetiva
“eu”, “me” países ás vezes. (+)antídoto à solidão
O telefone serve para aproximar os interlocutores: reconforto
3 por exemplo, na hora de uma viagem para outro país, intermediário
eu me sentia sozinha. Graças ao telefone, meus pais
Impessoal, frase de puderam me ligar, e, deste fato, me reconfortaram. / dupla função: “comuna”,
transição “sentimental”
O telefone é um intermediário que pode trazer (+)utilidade profissional
4 mensagens tanto comuns quanto sentimentais. /
Impessoal Sobre o plano profissional, o telefone é também
muito útil pois permite ás diversas empresas de se
comunicarem. Por exemplo, no ramo da
documentação, as relações entre certas (+)função informativa
5 documentações sendo tão importantes, o telefone tem
um papel essencial. Ele permite de passar as (-)angústia [1], [2], [3]
“Me”, “eu” informações da atualidade. / (-)incomodo,
É verdade que o telefone é prático, mas isto dito, desagradável,
sentiria-se que me angústia [1]. O fato de desligar o exasperação
aparelho me incomoda. Ás vezes os interlocutores
não sabem se apresentar, ou são desagradáveis, e (-)eventual má notícia
isto me exaspera. A angústia [2] vem também do fato
Interlocutores de que eu tenho sempre medo [3] de receber uma má
errantes: “pessoas” 1 notícia pelo telefone. /
uso freqüente
Nº 16. “Indispensável para a organização, mas...” (+)resposta ao
Antes de tudo é um meio de comunicação que eu afastamento [1], [2]
utilizo muito pois eu moro bastante longe [1] da (+)organização [1]
maioria das pessoas que eu conheço e isto me (+)diálogo>carta
permite de organizar [1] as coisas com elas. Isto me
2 permite também contatar pessoas que moram muito
longe [2] de mim e de ter um diálogo com elas que à (-)tempo, banalidades
escrita não me permite. /
Mas, eu não gosto das chamadas que duram muito (-)nervosismo do
tempo, onde dizemos banalidades. Prefiro ser incômodo
3 concisa e breve. invasão, ruptura da
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Confiança
Utilidade
Rapidez
Comodidade
Economia
Favoriza a organização
Aumenta a informação
Reduz a distância
Substitui o deslocamento
Aumenta a segurança
Favoriza a proteção
É bom para a sociabilidade
Aproxima afetivamente
Constitui um laço
Permite o diálogo
Preserva a solidão
Traz o prazer da palavra
Permite o diálogo
Inquietante, anxiógeno
Falta de visão, de presença
física
Submete às chamadas
intempestivas
Perda de tempo
Exige uma acomodação, um
aprendizado
Pode trazer más notícias
Etc.
Por exemplo, em nosso caso, podemos estabelecer uma grade categórica das
qualidades e defeitos, ou das vantagens ou inconveniências, atribuídas ao meio de
comunicação telefônico pelo conjunto de sujeitos. Construímos então uma grade, com
linhas, os temas qualificados e, em colunas, os indivíduos. Basta em seguida de
marcar com cortes cada intercessão (presença/ausência, ou números de ocorrências,
por indivíduo).
Podemos também referenciar todos os textos por uma inspeção visual, um
aspecto particular. Por exemplo aqui:
Reunir todas as primeiras frases, que funcionam um pouco como os “slogans”, as
analisar, as comparar (a hipótese subjacente sendo que a primeira frase revelaria,
na maioria dos casos, a atitude de base do sujeito).
Escolher um título para cada pessoa resumindo a especificidade de seu discurso,
um pouco à maneira de Barthes em sua análise do estado amoroso 1 (isto possui a
vantagem de obrigar a manter a originalidade de cada palavra assim como de
facilitar o maneio geral quando a massa de entrevistas ou de respostas se torna
mais importante).
Apontar um projetor sobre as apelações nas quais os locutores fazem uso para
desenhar a materialidade do telefone: “objeto”, “instrumento”, “aparelho”, “meio de
encontro”, “intermediário”, “pássaro”... (com para pressupor que as formulações
elas mesmas trazem significados carregados de sentidos).
Da mesma forma, procurar nos textos, e analisar as palavras utilizadas para
desenhar os interlocutores (em resposta a questão “que evoca-se quando citamos
parceiros telefônicos?”): : amigos”, “família”, “doutor”, “interlocutores”, “pessoas”,
“nós”, “aqueles que conheço”, “gentes”, “organismo”, “meus próximos”... ou a
ausencia de referencia ao interlocutor.
Repetir o sentido das comunicações telefônicas: emissão/recepção ou
centrífuga/centrípeta, e as significações associadas ao contexto.
Iscar uma tipologia dos indivíduos segundo seus tipos de sociabilidade
manifestada: grau de apetite relacional, necessidade dos outros, defesa ou
inibição, sociabilidade real e aspirações, etc., precisando os critérios semânticos ou
os índices expressivos que permitem no texto a análise desta dimensão.
Colecionar as circunstâncias, situações, anedotas concretas evocadas (elas seriam
mais numerosas em entrevistas reais).
Existem muitas outras possibilidades, que as palavras à analisar e suas
particularidades poderão sugerir ao analista...