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FACAMP – Faculdade de Campinas

Curso de Relações Internacionais


LAPRI Europa
2º Semestre de 2013
Catarina Rodrigues Duleba RA: 200910938

Resenha: Angelina Peralva – Levantes Urbanos na França

O foco central da socióloga Angelina Peralva é entender as razões e


como se formam os recentes levantes violentos nas periferias das grandes
cidades francesas. Para isso, a autora defende ser necessário, inicialmente,
montar um quadro histórico dos levantes populares na história da França, pois,
dessa forma, será possível comparar os valores que estavam em voga nessas
diferentes circunstâncias históricas. Tal panorama é de extrema importância
para apontar as raízes dos recentes atos de violência nas periferias francesas,
atos estes que ocorrem desde os anos 1990 e tornaram-se mais frequentes e
de proporções maiores nos anos 2000.

De acordo com a autora, tendo em mente o panorama histórico


proposto, é possível identificar um tipo especial de levante popular dentre os
vários que o país atravessou ao longo da história: os émeutes. A expressão
émeutes designa um tipo de levante popular cujo objetivo é conquistar maior
espaço de participação política, levantes que são tipicamente do período pré-
democrático francês. Um exemplo para compreender do que se trata um
émeutes é a comparação com outros tipos de protestos, como contra a
elevação do preço dos alimentos ou contra a demissão em massa de uma
grande indústria.

Peralva argumenta que as recentes mobilizações violentas na França se


caracterizam como sendo émeutes porque tais atos são reflexos da profunda
exclusão política que certas parcelas da população francesa vivenciam,
embora os integrantes não levantem a bandeira da inclusão nas decisões
políticas. No fundo, o que os atos de violência significam é a necessidade de
ampliar o círculo de participação política na França.
Visto isso, a autora busca mostrar como a ampliação do espaço político
na França criou uma sociedade mais estável e com conflitos sociais menos
intensos. A república, criada a partir dos anos 1870 até a 2ª Guerra Mundial,
possuía como fundamento a ideia de comunidade de cidadãos, o direito ao
voto, a participação política e reconhecimento de que há sim conflitos de
classes na sociedade. As atividades desses cidadãos, por sua vez, são
complementares, provendo o necessário para tal conjunto social como um
todo. Essa fase da história francesa é caracterizada por não haver as émeutes,
já que as demandas desse tipo de levante foram preenchidas.

A partir do fim da 2ª Guerra Mundial, houve rápidas mudanças na França


em termos de embate de classes. O fim da indústria como base de união social
e econômica bem como o aumento da individualização trouxeram o fim da
união de classes. Igualmente desse período foi a grande entrada de
trabalhadores das ex-colônias francesas, política que visava suprir a falta de
mão de obra de pouca qualificação – ou seja, mais um fator de agravamento da
estabilidade social.

Entretanto, a autora aponta que é necessário fazer uma analisa mais


profunda da situação em que um levante ocorre e as razões para o
envolvimento dos jovens. Os atuais atos de violência não devem ser analisados
sob o ponto de vista restrito das condições de vida dos jovens apenas. A
dinâmica da formação do levante é mais complexa e diz respeito aos valores
que a norteiam a sociedade francesa atual. Para isso, Peralva sugere um
estudo de alguns casos para mostrar tal dinâmica.

Ao estudar esses casos, é possível chegar à conclusão de que a


principal razão que motiva um levante é a morte de algum jovem. Portanto, um
fator que une os casos são as mortes. A partir disso, os atos violentos em
reação a tal morte se desloca das periferias da cidade e tomam os centros.
Isso ocorre por conta da atuação dos chamados casseurs, jovens anarquistas
que se mobilizam facilmente – eles buscam amplificar o protesto fazendo uso
de atos chocantes, como a destruição de prédios públicos, e acreditam que o
emprego da violência é capaz de modificar a política do esparadrapo adotada
pela política no que concerne às periferias. A seguir, o protesto recebe atenção
da mídia e ganham vistas mais políticas e pacifistas. Porém, o levante émeutes
se dispersa facilmente após a atenção que ele ganha, devido à sua base
violenta que impede a formação de atores coletivos consolidados.

Tais émeutes contemporâneas reivindicam consigo diversos valores que


estão presentes na estrutura republicana, mostrando se tratar de protestos que,
mesmo não sendo como o objetivo primordial, possui conotação política e, em
última instância, estão exigindo voz e participação política como forma de
modificar a política diante das periferias. Esses valores são o sentimento de
injustiça, repúdio à banalização da morte e dos direitos humanos. São estes os
pontos que estão presentes no contexto social dos jovens que fazem parte
desses levantes, juntamente (e não somente) com as precárias condições de
vida e o preconceito vivido cotidianamente por eles. Um termo que sintetiza
bem esse cenário dos jovens é “psicodrama vivido pelo coletivo”, situação cujo
maior expoente é os problemas e inquietações que a periferia vive resultado da
negligência do Estado e sociedade francesa quanto às mudanças sociais, o
aumento do desemprego, estagnação econômica e ascensão do terrorismo.

Em sua conclusão, Peralva reforça sua tese de que os levantes são um


reflexo da falta de representação política na França e não somente uma
questão de ordem social. Porém, esses levantes urbanos não são organizados
suficientemente para consolidar uma verdadeira mudança de ordem política.

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