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CAPÍTULO e1 de.

Como fica cada vez mais evidente em países com qualquer nível

CAPÍTULO e1
de renda, sem uma atenção primária forte os sistemas de saúde não
funcionam de maneira adequada nem resolvem os desafios da saúde
em sua comunidade.
Atenção Primária em Países de A atenção primária é apenas parte de uma abordagem para cui-
dados de saúde primários. A Declaração de Alma Ata, firmada em
endas
Baixa e Média Rendas 1978 na International Conference on Primary Health Care em Alma
Ata (atualmente Almaty no Cazaquistão), identificou muitas carac-
terísticas da atenção primária como sendo essenciais para alcançar
Tim Evans
o objetivo de “saúde para todos até o ano 2000”. Porém, ela também
Kumanan Rasanathan identificou a necessidade de trabalhar em conjunto com diferentes

Atenção Primária em Países de Baixa e Média Rendas


setores, considerar fatores sociais e econômicos que determinam a
O século XX testemunhou o surgimento de uma separação global saúde, mobilizar a participação de comunidades em sistemas de saú-
sem precedentes na saúde. Os países industrializados ou de alta renda de e garantir o uso e o desenvolvimento de tecnologia apropriada em
experimentaram uma rápida melhora nos padrões de vida, nutrição, termos de cenário clínico e custos. A declaração surgiu das experiên-
saúde e cuidados em saúde. Enquanto isso, nos países de renda baixa cias de países de renda baixa e média para tentar melhorar a saúde da
e média e de condições muito menos favoráveis, a saúde e os cuida- população após a independência. Muitos destes países construíram
dos em saúde progrediram de maneira muito mais lenta. A escala sistemas baseados em hospitais semelhantes aos dos países de alta
dessa separação se reflete nos extremos atuais da expectativa de vida renda. Esse esforço resultou no desenvolvimento de serviços de alta
ao nascer, com o Japão na extremidade maior (82 anos) e Serra Leoa tecnologia em áreas urbanas enquanto deixava a maior parte da po-
na extremidade menor (32 anos). Esta diferença de 50 anos reflete pulação sem acesso ao sistema de saúde a menos que viajassem gran-
a assustadora gama de desafios para a saúde que é encontrada nos des distâncias até esses serviços urbanos. Além disso, grande parte
países de renda baixa e média. Essas nações enfrentam não apenas da população não tinha acesso às medidas básicas de saúde pública.
uma mistura complexa de doenças (infecciosas e crônicas) e condi- Os esforços dos cuidados de saúde primários visavam levar os cuida-
ções que provocam doenças, mas principalmente a fragilidade das dos para mais perto da população para garantir o seu envolvimento
fundações que sustentam a boa saúde (p. ex., alimentos suficientes, nas decisões sobre seus próprios cuidados de saúde e para abordar os
água, saneamento e educação) e dos sistemas necessários para o aces- principais aspectos do ambiente físico e social fundamentais para a
so universal para uma atenção à saúde de boa qualidade. Nas últimas saúde como água, saneamento e educação.
décadas do século XX foi reconhecida a necessidade de diminuir essa Após a Declaração de Alma Ata muitos países implementaram
distância em termos de saúde global e estabelecer uma igualdade de reformas em seus sistemas de saúde baseadas em cuidados de saúde
condições de saúde. A Declaração de Alma Ata em 1978 solidificou primários. A maior parte do progresso envolveu o fortalecimento
uma visão de justiça na saúde independentemente de renda, gêne- dos serviços de cuidados primários; de maneira inesperada, toda-
ro, etnia ou educação e apelou por uma “saúde para todos até o ano via, muito deste progresso foi visto em países ricos, a maioria dos
2000” por meio da atenção primária à saúde. Apesar de muito pro- quais construiu sistemas que tornam a atenção primária disponível
gresso ter sido feito desde a declaração, ao final da primeira década com um custo baixo ou ausente para toda a população e que ofere-
do século XXI ainda há muito para ser feito a fim de alcançar a igual- cem a maior parte dos serviços em ambiente de atenção primária.
dade global na saúde. Esta mudança também viu o fortalecimento da medicina de família
Este capítulo analisa primeiramente a natureza dos desafios da como especialidade para fornecer serviços de cuidados primários.
saúde nos países de renda baixa e média os quais criam essa divisão Mesmo nos EUA (uma exceção óbvia a essa tendência) ficou cla-
na saúde. Depois disso ele descreve os valores e princípios de uma ro que a população dos estados com mais médicos e serviços de
abordagem de atenção primária focada nos serviços de atenção pri- atenção primária eram mais saudáveis do que aquelas com menos
mária. Posteriormente, o capítulo revisa a experiência dos países de recursos desse tipo.
renda baixa e média para lidar com desafios na saúde através de cui- Também houve progresso em muitos países de renda baixa e mé-
dados primários e uma abordagem para atenção primária. Por fim, o dia. Porém, o desafio de “saúde para todos até o ano 2000” não foi
capítulo identifica de que forma os desafios atuais e o contexto global alcançado nem de longe. As razões são complexas, mas parcialmente
fornecem uma agenda e oportunidades para a renovação dos cuida- explicáveis por uma falha geral na implementação de todos os as-
dos de saúde primários e da atenção primária. pectos da abordagem de cuidados de saúde primários, em especial
o trabalho conjunto de vários setores para abordar fatores sociais e
ATENÇÃO PRIMÁRIA E CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS econômicos que afetam a saúde e a provisão de recursos humanos e
O termo atenção primária tem sido usado de várias maneiras dife- de outros tipos em quantidade suficiente para tornar possível o aces-
rentes: para descrever um nível de cuidados ou ambiente do sistema so à atenção primária como em países ricos. Além disso, apesar do
de saúde, um conjunto de atividades de tratamento e prevenção rea- consenso em Alma Ata em 1978, a comunidade da saúde global logo
lizadas por pessoal específico, um conjunto de atributos para a forma rompeu o compromisso com as medidas de longo prazo colocadas
como os cuidados são oferecidos ou uma abordagem para organizar na declaração. A recessão econômica diminuiu o entusiasmo com a
os sistemas de saúde que é sinônima do termo cuidados de saúde pri- atenção primária e a tendência mudou em direção a programas que
mários. Em 1996 o U.S. Institute of Medicine englobou todos estes se concentram em poucas medidas prioritárias como imunização,
diferentes usos ao definir cuidados primários como “a provisão de reidratação oral, amamentação e monitoração do crescimento para
serviços de cuidados em saúde integrados e acessíveis por médicos a sobrevivência de crianças. O sucesso dessas iniciativas sustentou o
capazes de abordar a grande maioria das necessidades em cuidados movimento continuado dos esforços em saúde para longe da abor-
de saúde pessoais, desenvolvendo uma parceria sustentada com os dagem mais abrangente da atenção primária e em direção a progra-
pacientes e trabalhando no contexto de família e comunidade.”1 mas que focam em objetivos específicos na saúde da população. Essa
Usamos essa definição de atenção primária neste capítulo. A atenção abordagem foi reforçada pela necessidade de lidar com a epidemia de
primária desempenha uma função essencial nos sistemas de saúde, HIV/Aids. Na década de 1990 a atenção primária perdeu espaço para
fornecendo o primeiro ponto de contato quando as pessoas procu- muitas políticas de saúde globais e os países de baixa e média rendas
ram cuidados em saúde, lidando com a maioria dos problemas e en- estão sendo encorajados a reduzir os gastos com saúde no setor pú-
caminhando os pacientes para outros serviços quando há necessida- blico e se concentrar em análises de custo-efetividade para fornecer
um pacote de medidas de cuidados de saúde que supostamente ofe-
1
Institute of Medicine. Primary Care: America’s Health in a New Era (1996). rece os maiores benefícios.

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DESAFIOS DA SAÚDE EM PAÍSES DE RENDA BAIXA E MÉDIA vida ao nascer que persistiu apesar do progresso global na expecta-
tiva de vida nos últimos 30 anos (Fig. e1.2). As condições de saúde
Os países de renda baixa e média, definidos por renda bruta nacional nos países de renda baixa e média variam muito. Nações como Cuba
per capita <12.000 dólares americanos por pessoa ao ano, represen- e Costa Rica têm expectativa de vida e taxas de mortalidade infan-
tam >80% da população mundial. A expectativa de vida média nes-
PARTE I

til semelhantes ou até melhores do que em países de alta renda; por


ses países é bem menor do que nos países de alta renda: enquanto a outro lado, países na África subsaariana e no antigo bloco soviético
média de expectativa de vida é ao nascer nos países nos países mais experimentaram pioras significativas nestes marcadores de saúde nos
ricos é de 74 anos, ela é de apenas 68 anos nos países de renda mé- últimos 20 anos.
dia e de 58 anos nos países de renda baixa. Essa discrepância tem Conforme Angus Deaton afirmou na conferência anual WIDER
recebido cada vez mais atenção nos últimos 40 anos. Inicialmente a (World Institute for Development Economics Research) de 29 de
situação se caracterizava primariamente em termos de alta fertilidade setembro de 2006, “as pessoas nos países pobres não adoecem pri-
e elevadas taxas de mortalidade materna, infantil e de lactentes nos mariamente por serem pobres, mas em função de outras falhas na
Introdução à Medicina Clínica

países pobres, com a maioria das mortes e doenças sendo atribuível organização social, incluindo a oferta de saúde, que não melhoram
a doenças infecciosas ou tropicais em populações distantes e princi- de maneira automática com uma renda maior”. Essa análise coloca
palmente rurais. Com o crescimento da população adulta (e especial- em dúvida estudos clássicos sobre fatores sociais que explicam a boa
mente de idosos) e as mudanças no estilo de vida relacionadas com saúde em locais pobres como Cuba e estado de Kerala na Índia. As
as forças globais de urbanização surgiu rapidamente um novo con- análises realizadas nas últimas três décadas realmente mostraram
junto de desafios para a saúde, caracterizado por doenças crônicas, que é possível haver uma rápida melhora na saúde em vários contex-
aglomeração ambiental e lesões por acidentes automobilísticos (Fig. tos diferentes. O fato de alguns países terem índices bem piores pode
e1.1). No mundo todo a maioria das mortes relacionadas ao tabaco ser explicado por uma comparação das diferenças regionais no pro-
ocorre atualmente em países de renda baixa e média e o risco de uma gresso em termos de expectativa de vida ao longo deste período (Fig.
criança morrer por um acidente automobilístico na África é mais que e1.3). Enquanto a maioria das regiões teve um progresso importante,
o dobro em relação à Europa. Dessa forma, os países de renda baixa a África subsaariana e os antigos estados soviéticos apresentaram es-
e média no século XXI enfrentam um amplo espectro de desafios na tagnação ou, até mesmo, piora.
saúde – infecciosos, crônicos e relacionados a acidentes – com inci- Como os níveis de saúde médios variam entre regiões e países
dências e prevalências muito maiores do que aquelas documentadas eles também variam dentro dos países (Fig. e1.4). De fato, as dis-
nos países de alta renda e com muito menos recursos para vencer paridades dentro dos países costumam ser maiores do que aquelas
estes desafios. encontradas entre países de alta renda e baixa. Por exemplo, se os
Porém, lidar com estes desafios não significa simplesmente es- países de renda baixa e média pudessem reduzir sua taxa global de
perar o crescimento econômico. A análise da associação entre po- mortalidade infantil para o nível dos 20% mais ricos da população,
der econômico e saúde nos diferentes países revela que, em qualquer a mortalidade infantil global diminuiria em 40%. As disparidades
nível de economia, há uma variação substancial na expectativa de na saúde costumam resultar de fatores sociais e econômicos como

35

30

Lesões intencionais
Outras lesões não intencionais
25 Acidentes automobilísticos

Outras doenças
não comunicáveis
Mortes (milhões)

20

Câncer

15

Doença cardiovascular
10

Problemas maternos,
5 perinatais e nutricionais

Outras doenças infecciosas

HIV/Aids, TBC e malária


0
2004 2015 2030 2004 2015 2030 2004 2015 2030
Ano/países agrupados conforme a renda per capita
Figura e1.1 Projeções de carga de doença até 2030 em países de alta renda, média e baixa (esquerda, centro e direita, respectivamente). (Fonte: Organi-
zação Mundial de Saúde, 2008b.)

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Expectativa de vida ao nascer (anos) elevados de colesterol e tratamento da água
85 e terapia de reidratação oral para a diarreia.
2005
Apesar de décadas de “pacotes essenciais” e

CAPÍTULO e1
campanhas de saúde “básica” a efetiva imple-
1975 mentação daquilo que já se sabe que funciona
75
parece ser (de maneira ilusória) difícil.
Análises recentes começaram a focar em
“como” (em oposição a “o quê”) oferecer cui-
dados em saúde, explorando as razões para o
65
progresso na saúde ser lento e moroso apesar
da abundância de intervenções comprova-
das para os problemas de saúde nos países

Atenção Primária em Países de Baixa e Média Rendas


55 de renda baixa e média. Foram identificadas
Namíbia três categorias gerais de razões para isso: (1)
insuficiências no desempenho dos sistemas de
África do Sul
saúde; (2) condições de estratificação social; e
45 (3) desvios na ciência.
Botsuana
■ INSUFICIÊNCIAS NO DESEMPENHO DOS
Suazilândia SISTEMAS DE SAÚDE
35 Os problemas de saúde específicos costumam
0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 40.000 precisar do desenvolvimento de intervenções
PIB per capita em dólares em 2000 de saúde específicas (p. ex., a tuberculose pre-
cisa de quimioterapia de curto prazo). Porém,
Figura e1.2 Produto interno bruto (PIB) per capita e expectativa de vida ao nascer em 169 países,
a oferta de diferentes intervenções costuma
1975 e 2005. Apenas os países fora do padrão são nomeados. (Fonte: Organização Mundial de Saúde, 2008a.)
ser facilitada por um conjunto comum de re-
cursos ou funções: dinheiro ou financiamento,
trabalhadores de saúde treinados e instalações
problemas da vida diária, acesso aos recursos e possibilidade de
participação nas decisões que afetam a vida. Na maioria dos países
o setor de cuidados de saúde na verdade tende a exacerbar as desi-
gualdades da saúde (a “lei de cuidados inversos”); como resultado 300
da negligência e da discriminação as comunidades pobres e mar- Rural Urbano
ginalizadas têm probabilidade muito menor de se beneficiar dos
250
serviços de saúde pública em relação às outras pessoas. A reforma
Taxa de mortalidade abaixo

dos sistemas de saúde em direção a uma atenção primária centrada


de 5 anos por 1.000

nas pessoas fornece uma oportunidade para reverter essas tendên- 200
cias negativas.
Os serviços de saúde falharam em fazer sua contribuição para re- 150
duzir essas desigualdades sociais perversas assegurando o acesso uni-
versal às intervenções existentes, cientificamente validadas e de baixo
100
custo como redes de cama tratadas com inseticidas para a malária,
taxação para cigarros, quimioterapia de curto prazo para a tubercu-
lose, tratamento antibiótico para a pneumonia, modificação dietética 50
e medidas de prevenção secundária para hipertensão arterial e níveis
0
A Haiti Nigéria Paquistão Filipinas Ruanda

1970-1975 2000-2005 Quintil mais baixo Quintil 2 Quintil 3


Quintil 4 Quintil mais alto
52,1 100
Estados árabes 66,9
60,5
Ásia Oriental e Pacífico 70,4 80
América Latina e 61,1
Caribe 71,7
60
50,1
Sul da Ásia 63,2
45,8 40
África subsaariana
46,1
69
ECO e CEI
68,1 20
71,6
OCDE de alta renda 78,8
0
40 50 60 70 80 90 Bangladesh Colômbia Indonésia Moçambique
Expectativa de vida (anos) B 2004 2005 2002-3 2003

Figura e1.3 Tendências regionais na expectativa de vida. ECO e CEI, Euro- Figura e1.4 A. Mortalidade de crianças com menos de 5 anos conforme o local
pa Central e Oriental e Comunidade de Estados Independentes; OCDE, Organização de residência em cinco países. (Fonte: Dados da Organização Mundial de Saúde).
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. (Fonte: Commission on Social De- B. Cobertura de imunização básica (%) conforme grupo de renda. (Fonte: Dados da
terminants of Health, 2008.) Organização Mundial de Saúde, 2008a.)

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com suprimentos confiáveis e adequados para vários propósitos. In- cessidades de saúde desproporcionalmente grandes (p. ex., os pobres
felizmente, o estado atual dos sistemas de saúde nos países de renda de regiões urbanas; as mães analfabetas). Por que se deveria esperar
baixa e média é, em grande parte, disfuncional. que um pobre favelado sem renda conseguisse dinheiro para pagar o
Na grande maioria dos países de renda baixa e média o nível de ônibus necessário para viajar até uma clínica para saber os resultados
PARTE I

financiamento público para a saúde é muito insuficiente: enquanto de um exame de escarro para tuberculose? Como é que uma mãe que
os países de renda elevada gastam em média 7% do produto interno mora em um distante vilarejo rural e cuida de um lactente com con-
bruto em saúde, os países de renda média gastam <4% e os de renda vulsões febris irá encontrar os meios para levar seu filho até o local
baixa <3%. O financiamento externo para a saúde por meio de vários para cuidados adequados? Sistemas de seguridade social cambalean-
canais de doação cresceu de maneira significativa com o tempo. Ao tes ou inexistentes, ambientes de trabalho perigosos, comunidades
mesmo tempo em que estes fundos para a saúde são significativos isoladas com pouca ou nenhuma infraestrutura e discriminação sis-
(~20 bilhões de dólares [EUA] em 2008 para países de renda baixa e temática contra minorias estão entre a miríade de forças contra as
média) e têm crescido na última década, eles representam <2% dos quais se deve lutar para conseguir uma oferta de cuidados de saúde
Introdução à Medicina Clínica

gastos totais com saúde em países de renda baixa e média e, dessa mais igualitária.
forma, não são suficientes e nem uma solução a longo prazo para a
crônica falta de financiamento. Na África, 70% dos gastos com saúde ■ DESVIOS NA CIÊNCIA
vêm de fontes domésticas. A forma predominante de financiamento Ao mesmo tempo em que a ciência obteve grandes avanços na saúde
de cuidados em saúde – a cobrança dos pacientes na hora do serviço em países de alta renda, com alguns respingos nos países de renda
– é a menos eficiente e a mais desigual, deixando milhões de famílias baixa e média, muitos problemas de saúde importantes continuam
na pobreza todos os anos. a acometer primariamente países de renda baixa e média cujos in-
Os trabalhadores da saúde, os quais representam outro recurso vestimentos em pesquisas e desenvolvimento são muito insuficientes.
fundamental, não costumam receber treinamento adequado e nem A última década testemunhou esforços crescentes para ajustar esse
recebem apoio em seu trabalho. Estimativas recentes indicam uma desequilíbrio com investimentos em pesquisas e desenvolvimento
falta de >4 milhões de trabalhadores da saúde, constituindo uma cri- para novos fármacos, vacinas e diagnósticos que supram de maneira
se que é em grande parte exacerbada pela migração de trabalhadores efetiva necessidades de saúde específicas das populações nos países
da saúde dos países de renda baixa e média para os de alta renda. A de renda baixa e média. Por exemplo, o Medicines for Malaria Ventu-
África subsaariana carrega 24% da carga de doença global, mas tem re revitalizou a anteriormente “seca” fonte de novos fármacos para a
apenas 3% da força de trabalho em saúde (Fig. e1.5). A International malária. Este é apenas um dos vários esforços desse tipo, mas muito
Organization for Migration estimou em 2006 que havia mais médi- mais precisa ser feito.
cos da Etiópia trabalhando em Chicago do que na própria Etiópia. Conforme discutido anteriormente, a principal dificuldade para
Diagnósticos e fármacos essenciais não costumam chegar até os melhores condições de saúde nos países de renda baixa e média se re-
pacientes que necessitam em função de falhas na cadeia de suprimen- laciona menos com a disponibilidade de tecnologias em saúde e mais
to. Além disso, as instalações não conseguem fornecer um cuidado com a sua oferta efetiva. Na base de sistemas e desafios sociais para
seguro: novas evidências sugerem taxas muito maiores de eventos ad- uma maior igualdade na saúde está um grande desvio com relação ao
versos em pacientes hospitalizados em países de renda baixa e média que constitui “ciência” legítima para melhorar a igualdade na saúde.
em comparação com os de alta renda. Falhas governamentais no pla- A parte principal do financiamento de pesquisas em saúde é dire-
nejamento, regulamentação, monitoramento e avaliação estão asso- cionada para o desenvolvimento de novas tecnologias – fármacos,
ciadas com a comercialização desenfreada e desregulada de serviços vacinas e diagnósticos; em contraste, virtualmente nenhum recurso é
de saúde e com a caótica fragmentação destes serviços à medida que direcionado para pesquisas sobre como os sistemas de oferta de cui-
os doadores levam adiante seus respectivos programas prioritários. dados de saúde podem ficar mais confiáveis e superar as condições
Com fundações tão frágeis não chega a ser surpresa que intervenções sociais adversas. A complexidade dos sistemas e do contexto social é
de baixo custo, disponíveis e validadas não cheguem até as pessoas tal que este problema de oferta necessita de um enorme investimento
que necessitam delas. em termos não apenas de dinheiro, mas também de rigor científico,
com o desenvolvimento de novos métodos e medidas de pesquisa e
■ CONDIÇÕES DE ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL com maior legitimidade no ambiente científico.
Os sistemas de oferta de cuidados em saúde não existem em um Esses desafios comuns para países de renda baixa e média expli-
vácuo, mas sim estão envoltos em um complexo de forças sociais e cam de forma parcial o ressurgimento do interesse na abordagem de
econômicas que costumam estratificar de maneira injusta as oportu- cuidados de saúde primários. Em alguns países (principalmente de
nidades para a saúde. Mais preocupante são as forças perversas de de- renda média) tem sido obtido um progresso significativo na expan-
sigualdade social que servem para marginalizar populações com ne- são da cobertura dos sistemas de saúde com base na atenção primária
e mesmo na melhora dos indicadores da saúde da população. Mais
países estão embarcando na criação de serviços de atenção primária
apesar dos desafios que existem, em especial nos países de baixa ren-
35
da. Mesmo quando estes desafios são reconhecidos há muitas razões
para otimismo pelo fato de os países de renda baixa e média poderem
30 Sudeste asiático acelerar o progresso na construção da atenção primária.
% da carga de doença global

25 África
CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS NO SÉCULO XXI
20 Pacífico ocidental A última década viu o ressurgimento do interesse em cuidados de
Europa
saúde primários como uma maneira de lidar com os desafios de
15
Américas saúde globais do novo milênio. Esse interesse tem sido desencade-
10 Mediterrâneo oriental ado por muitos dos mesmos problemas que levaram à Declaração
de Alma Ata: disparidades rapidamente crescentes na saúde entre
5 e dentro de países, custos de cuidados de saúde crescentes em um
momento em que muitas pessoas não conseguem cuidados de qua-
0 lidade, insatisfação das comunidades com os cuidados que obtêm e
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 falha em abordar mudanças nas ameaças à saúde, em especial nas
% da força de trabalho global epidemias de doenças não comunicáveis. Estes desafios necessitam
Figura e1.5 Carga de doença global e força de trabalho em saúde. (Fonte:
de uma abordagem abrangente e de sistemas de saúde fortes com
Organização Mundial de Saúde, 2006.) atenção primária efetiva. As agências de desenvolvimento de saúde

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global reconheceram que ganhos sustentados em prioridades de saú- Reformas na oferta de serviços para tornar os sistemas de saúde
de pública como em HIV/Aids necessitam não apenas de sistemas centrados nas pessoas
de saúde robustos, mas também com o manejo de fatores sociais e Os sistemas de saúde costumam ser organizados conforme as ne-

CAPÍTULO e1
econômicos relacionados com a incidência e a progressão da doença. cessidades daqueles que fornecem os serviços de saúde, como os
Sistemas de saúde fracos têm se mostrado um obstáculo importan- médicos e os políticos. O resultado é uma centralização dos servi-
te para a oferta de novas tecnologias, como a terapia antirretroviral, ços ou a provisão de programas verticais que visam doenças espe-
para todas as pessoas que as necessitam. Mudanças nos padrões das cíficas. Os princípios dos cuidados de saúde primários, incluindo o
doenças levaram a uma demanda por sistemas de saúde que possam desenvolvimento da atenção primária, reorienta os cuidados para as
tratar pessoas como indivíduos, independentemente de consultarem necessidades das pessoas atendidas pelos serviços. Essa abordagem
com o problema de saúde pública “prioritário” (p. ex., HIV/Aids ou “centrada nas pessoas” visa fornecer cuidados de saúde mais efeti-
tuberculose) do local onde ela está buscando ajuda. A experiência vos e adequados.
com a atenção primária em países de renda baixa e média é discutida O aumento nos casos de doenças não comunicáveis em países de

Atenção Primária em Países de Baixa e Média Rendas


em maiores detalhes adiante. Em primeiro lugar, consideraremos as renda baixa e média oferece um estímulo adicional para a reforma
características dos cuidados de saúde primários e da atenção primá- urgente na oferta de serviços para melhorar o cuidado com doenças
ria conforme o entendimento atual. crônicas. Conforme discutido anteriormente, um grande número
de pessoas não recebe intervenções de custo relativamente baixo e
■ REVITALIZAÇÃO DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS que reduziram a incidência dessas doenças nos países mais ricos.
Na World Health Assembly (um encontro anual de todos os países A oferta dessas intervenções precisa de sistemas de saúde que tra-
para discutir o trabalho da Organização Mundial de Saúde [OMS]) tem de problemas múltiplos e que lidem com as pessoas ao longo de
de 2009 foi aprovada uma resolução reafirmando os princípios da um extenso período em suas comunidades, ainda que muitos países
Declaração de Alma Ata e a necessidade de os sistemas nacionais de de renda baixa e média estejam apenas agora começando a adaptar
saúde se basearem os cuidados de saúde primários. Essa resolução e construir serviços de cuidados primários que possam lidar com
não sugeriu que nada tivesse mudado nos 30 anos desde que foi feita doenças não comunicáveis e com doenças comunicáveis que preci-
a declaração e nem que ela não necessitasse de uma reformulação em sam de cuidados crônicos. Mesmo alguns países (p. ex., Irã) que con-
função das mudanças nas necessidades de saúde pública. O World seguiram sucesso significativo na redução de doenças comunicáveis
Health Report da OMS em 2008 descreveu como uma abordagem de e na melhora da sobrevivência infantil têm sido lentas para adaptar
cuidados de saúde primários é “mais do que nunca” necessária para seus sistemas de saúde para a epidemia rapidamente crescente de
lidar com as prioridades de saúde globais, especialmente em termos doenças não comunicáveis.
de disparidades e novos desafios na saúde. Ele saliente quatro amplas O cuidado centrado nas pessoas necessita de uma resposta segu-
áreas onde há necessidade de reformas (Fig. e1.6). Uma dessas áreas ra, abrangente e integrada para as necessidades daqueles atendidos
– a necessidade de organizar os cuidados de saúde de maneira a colo- pelos sistemas de saúde, com tratamento no primeiro ponto de con-
car as necessidades das pessoas em primeiro lugar – se relaciona fun- tato ou encaminhamento para serviços adequados. Como não há um
damentalmente com a necessidade de serviços de cuidados primários limite preciso entre as necessidades das pessoas para promoção de
fortes nos sistemas de saúde e com o que essa necessidade acarreta. saúde, intervenções curativas e serviços de reabilitação em diferentes
As outras três áreas também se relacionam com a atenção primária. doenças, os serviços de cuidados primários devem lidar com todos
Todas as quatro áreas necessitam de ação para levar os sistemas de os problemas que surgem de maneira unificada. Satisfazer as neces-
saúde em uma direção em que reduzirão as disparidades e aumenta- sidades das pessoas também envolve melhorar a comunicação entre
rão a satisfação das pessoas atendidas. As recomendações do World pacientes e seus médicos, que devem ter tempo para compreender o
Health Report apresentam uma visão de cuidados de saúde primários impacto do contexto social do paciente sobre os problemas que apre-
baseada nos princípios de Alma Ata, mas diferindo de muitas outras sentam. Esse aumento da compreensão é possível por meio de me-
tentativas de implementação de cuidados de saúde primários feitas lhorias na continuidade de cuidados de forma que a responsabilidade
nas décadas de 1970 e 1980. ultrapasse o tempo limitado que as pessoas passam nos serviços de
cuidados primários. A atenção primária tem o papel vital de levar as
pessoas através do sistema de saúde; quando as pessoas são encami-
nhadas para outros serviços, os fornecedores de cuidados primários
devem monitorar as consultas feitas e realizar o acompanhamento.
REFORMAS NA REFORMAS NA Também com muita frequência as pessoas não recebem os benefí-
OFERTA DE COBERTURA cios de intervenções complexas realizadas em hospitais por perderem
SERVIÇOS UNIVERSAL contato com o sistema de saúde após a alta hospitalar. A abrangência
e a continuidade dos cuidados são mais facilmente alcançadas garan-
tindo-se que as pessoas tenham uma relação pessoal continuada com
Para tornar os sistemas de Para melhorar a a equipe de cuidados.
saúde centrados nas pessoas igualdade na saúde

Reformas na cobertura universal para melhorar a


igualdade na saúde
Apesar do progresso em muitos países, a maioria das pessoas no
mundo só consegue receber cuidados de saúde se pagarem no mo-
mento do atendimento. As disparidades na saúde são causadas não
apenas por falta de acesso aos serviços de saúde necessários, mas
REFORMAS NA REFORMAS EM também pelo impacto dos gastos na saúde. Mais de 100 milhões de
LIDERANÇA POLÍTICAS PÚBLICAS pessoas são jogadas na pobreza a cada ano pelos custos dos cuidados
de saúde. Dessa forma, a cobertura universal é uma importante prio-
Para tornar mais confiáveis Para promover e proteger ridade nos países de renda baixa e média. O aumento da cobertura
as autoridades da saúde a saúde das comunidades dos sistemas de saúde pode ser considerado em termos de três eixos:
a proporção da população que recebe cobertura, a gama de serviços
oferecidos e a porcentagem dos custos que é paga. A evolução para
uma cobertura universal precisa garantir a disponibilidade de todos
os serviços de cuidados em saúde para todos, a eliminação de bar-
Figura e1.6 As quatro reformas da revitalização dos cuidados de saúde
reiras ao acesso e a organização de mecanismos de financiamento
primários. (Fonte: Organização Mundial de Saúde, 2008a.)

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como taxação ou seguros para que o usuário não pague no momento inovador de trabalhadores da saúde nas comunidades. Esses “médi-
do serviço. Isso também requer medidas além do financiamento, in- cos descalços” viviam e expandiam os cuidados nos vilarejos rurais.
cluindo a expansão dos serviços de saúde em áreas com atendimento Eles recebiam um nível básico de treinamento que permitia que eles
precário, a melhora na qualidade dos serviços em comunidades mar- fornecessem imunizações, cuidados maternos e intervenções médi-
PARTE I

ginalizadas e o aumento da cobertura de outros serviços sociais que cas básicas, incluindo o uso de antibióticos. Por meio do trabalho dos
afetam de maneira significativa a saúde (p. ex., educação). médicos descalços a China conseguiu cobrir toda a sua população
com cuidados básicos de saúde com baixo custo, grande parte da qual
Reformas em políticas públicas para promover e proteger a saúde não tinha acesso prévio aos serviços.
das comunidades Em 1982 a Rockefeller Foundation organizou uma conferência
As políticas públicas em setores que não os cuidados em saúde são para revisar as experiências da China juntamente com aquelas da
fundamentais para reduzir as disparidades na saúde e para alcançar o Costa Rica, Sri Lanka e o estado de Kerala, na Índia. Em todos es-
progresso em direção aos objetivos da saúde pública global. Em 2008 ses lugares, pareciam ter sido obtidos bons cuidados de saúde e de
Introdução à Medicina Clínica

o texto final da Commission on Social Determinants of Health da baixo custo. Apesar do baixo nível de desenvolvimento econômico
OMS forneceu uma extensa revisão sobre as políticas intersetoriais e de gastos na saúde, todos esses lugares juntamente com Cuba, ti-
necessárias para lidar com as desigualdades na saúde em nível local, nham indicadores de saúde que se aproximavam – e em alguns ca-
nacional e global. Os avanços contra grandes desafios como Aids/ sos superavam – daqueles de países desenvolvidos. A análise dessas
HIV, tuberculose, novas pandemias, doença cardiovascular, câncer experiências revelou uma ênfase comum nos serviços de cuidados
e acidentes necessitam da efetiva colaboração de setores como trans- primários, com expansão dos cuidados para toda a população de
portes, residência, trabalho, agricultura, planejamento urbano, co- graça ou com baixo custo, em combinação com a participação da
mércio e energia. Enquanto o controle do tabaco fornece um ótimo comunidade na tomada de decisões sobre os serviços de saúde e tra-
exemplo do que é possível se diferentes setores trabalharem juntos balho coordenado em diferentes setores (em especial a educação)
para alcançar objetivos na saúde, a falta de implementação de muitas visando objetivos na saúde. Durante as três décadas após o encon-
medidas baseadas em evidências para o controle do tabaco em vários tro Rockefeller alguns desses países aumentaram esse progresso en-
países também ilustra as dificuldades encontradas nesse trabalho in- quanto outros apresentaram problemas. As experiências recentes no
tersetorial e o potencial não reconhecido das políticas públicas para desenvolvimento de serviços de cuidados primários mostram que
melhorar a saúde. Em nível local, os serviços de atenção primária a mesma combinação de características é necessária para o suces-
podem ajudar a fazer políticas públicas de promoção da saúde em so. Por exemplo, o Brasil – um país grande e com uma população
outros setores. dispersa – tem obtido grandes avanços no aumento da disponibili-
dade de cuidados de saúde nos últimos 20 anos. Na última década, o
Reformas na liderança para tornar mais confiáveis as Programa de Saúde da Família no Brasil expandiu de maneira pro-
autoridades da saúde gressiva por todo o país com cobertura de quase todas as áreas. Esse
A Declaração de Alma Ata enfatizou a importância da participação programa fornece às comunidades o livre acesso às equipes de aten-
das pessoas em seus cuidados de saúde. De fato, a participação é im- ção primária formadas por médicos de atenção primária, trabalha-
portante em todos os níveis da tomada de decisões. Os desafios atuais dores da saúde da comunidade, enfermeiros, dentistas, obstetras e
na saúde precisam de novos modelos de liderança que reconheçam pediatras. Essas equipes são responsáveis pela saúde das pessoas em
o papel do governo na redução das disparidades na saúde, mas que uma área geográfica específica – não apenas daquelas que compa-
também reconheçam os vários tipos de organizações que fornecem recem aos serviços de saúde. Além disso, os trabalhadores da saúde
serviços de cuidados de saúde. Os governos precisam guiar e nego- individuais da comunidade são responsáveis por uma lista de nomes
ciar com esses diferentes grupos, incluindo organizações não gover- de pessoas dentro da área coberta pela equipe de atenção primária.
namentais (ONGs) e o setor privado e promover uma forte regulação Os problemas de acesso aos cuidados de saúde persistem no Brasil,
quando for necessária. Essa difícil tarefa precisa de reinvestimento em especial nas áreas isoladas e favelas urbanas. Porém, sólidas evi-
volumoso em liderança e capacidade de governança, em especial se dências indicam que o Programa de Saúde da Família já contribuiu
for necessária a implementação efetiva de ações em diferentes seto- com ganhos expressivos na saúde da população, em especial em ter-
res. Além disso, os grupos em desvantagem devem ser capazes de mos de mortalidade infantil e desigualdades na saúde. De fato, esse
expressar suas necessidades de forma a influenciar de maneira ativa programa já teve um impacto marcante na redução da mortalidade
a tomada de decisões. infantil em áreas menos desenvolvidas (Fig. e1.7).
O Chile também melhorou os serviços de cuidados primários
■ EXPERIÊNCIAS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM PAÍSES DE RENDA existentes na década passada, visando melhorar a qualidade de cui-
BAIXA E MÉDIA dados e a extensão da cobertura em regiões remotas, acima de tudo
Os aspectos dos cuidados de saúde primários descritos anteriormen- para as populações mais carentes. Esse esforço foi feito de maneira
te com ênfase nos serviços de cuidados primários foram implemen- conjunta com medidas visando reduzir as desigualdades sociais e
tados em várias escalas por muitos países de renda baixa e média nos acelerar o desenvolvimento, incluindo benefícios sociais para famí-
últimos 50 anos. Conforme discutido anteriormente, algumas dessas lias e grupos em desvantagem e melhora do acesso a serviços edu-
experiências inspiraram e informaram a Declaração de Alma Ata, a cacionais para a primeira infância. Como no Brasil, esses passos me-
qual levou muitos países a tentar a implementação de cuidados de lhoraram a saúde materna e infantil e reduziram as desigualdades na
saúde primários. Essa seção descreve as experiências de uma seleção saúde. Além de aumentar de maneira direta os serviços de cuidados
de países de renda baixa e média na melhora dos serviços de cuidados primários, Brasil e Chile instituíram medidas para aumentar a res-
primários e que aumentaram o nível de saúde de suas populações. ponsabilidade dos fornecedores de cuidados em saúde e a participa-
Antes de Alma Ata, poucos países tentaram desenvolver cuida- ção das comunidades na tomada de decisões. No Brasil, assembleias
dos de saúde primários em nível nacional. Em vez disso, a maioria de saúde nacionais e regionais com altos níveis de participação públi-
focava na expansão dos serviços de cuidados primários em comu- ca são parte integrante do processo de criação das políticas em saúde.
nidades específicas (em geral nas localidades rurais), fazendo uso de O Chile instituiu um documento para os pacientes que especifica de
voluntários da comunidade para compensar a ausência de instalações maneira explícita os direitos dos pacientes em termos da gama de
para a realização dos cuidados. Por outro lado, no período posterior serviços aos quais estão habilitados.
à Segunda Guerra Mundial, a China investiu em atenção primária Outros países que obtiveram progresso recente em cuidados de
em escala nacional, e a expectativa de vida duplicou dentro de apro- saúde primários incluem Bangladesh, um dos países mais pobres no
ximadamente 20 anos. A expansão chinesa dos serviços de cuidados mundo. Desde sua independência do Paquistão em 1971, Bangladesh
primários incluiu um volumoso investimento em infraestrutura de testemunhou um aumento dramático na expectativa de vida e as ta-
saúde pública (p. ex., sistemas de água e saneamento) ligado a um uso xas de mortalidade infantil são agora mais baixas do que nos países

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6 enquanto Botsuana manteve os serviços de
IDH alto IDH baixo
atenção primária de maneira mais ampla e
Mudança média anual (desde 1998) 3,96
4 conseguiu organizar o acesso disseminado

CAPÍTULO e1
2
à terapia antirretroviral para pessoas com
HIV/Aids. Dessa forma, a situação da saú-
0 de no Zimbábue ficou mais desesperadora
do que em Botsuana.
–2 A China fornece um exemplo muito
– 2,08
–4
importante sobre como mudanças em po-
– 4,24 líticas de saúde relevantes à organização
–6 de sistemas de saúde (Fig. e1.8) podem ter
– 5,64
– 6,82 consequências rápidas e de longo alcance
– 6,97 – 6,77

Atenção Primária em Países de Baixa e Média Rendas


–8 na saúde da população. Enquanto a confe-
– 8,38 rência Rockefeller de 1982 estava celebran-
–10
0-20 21-50 51-70 71+
do os avanços da China em atenção primá-
ria, seu sistema de saúde estava mudando.
Cobertura do PSF (% da população coberta)
A decisão de abrir a economia no início da
Figura e1.7 Melhora na mortalidade infantil após o Programa de Saúde da Família no Brasil. IDH, década de 1980 levou à rápida privatização
Índice de Desenvolvimento Humano; PSF, Programa de Saúde da Família. (Fonte: Ministério da Saúde, Brasil.) do setor de saúde e à perda da cobertura
universal. Como resultado, no final da dé-
cada de 1980 a maioria da população, em
vizinhos como Índia e Paquistão. A expansão do acesso aos serviços especial os segmentos mais pobres, estavam pagando diretamente do
de cuidados de saúde primários teve um papel importante nessa me- próprio bolso pelos cuidados de saúde e quase nenhum chinês tinha
lhora. Esse progresso foi liderado por uma vibrante ONG da comuni- um seguro de saúde – uma dramática transformação. Houve colapso
dade que concentrou sua atenção na melhora da vida e do sustento de do programa de “médicos descalços” e a população passou a pagar
mulheres pobres e de suas famílias por meio de microcrédito inova- pelos cuidados em hospitais ou simplesmente passou a não ter acesso
dor e integrado, educação e programas de atenção primária. aos cuidados. Esse enfraquecimento do acesso aos serviços de cuida-
Os exemplos anteriores, junto com outros nos últimos 30 anos dos primários no sistema chinês e o aumento resultante no empobre-
em países como Tailândia, Malásia, Portugal e Omã, ilustram a forma cimento por doença contribuiu para a estagnação dos progressos em
como a implementação de uma abordagem de cuidados de saúde pri- saúde na China ao mesmo tempo em que a renda aumentou em taxas
mários com uma maior ênfase na atenção primária melhorou o aces- sem precedentes. A piora na atenção primária fez com que a China
so aos serviços de saúde – uma tendência que não ocorreu em mui- encare agora problemas de saúde semelhantes àqueles que ocorrem
tos outros países de renda baixa e média. Por sua vez, essa tendência na Índia. Em ambos os países o rápido crescimento econômico esteve
contribuiu para a melhora na saúde da população e para reduzir as ligado a mudanças no estilo de vida e a epidemias de doenças não
desigualdades na saúde. Porém, à medida que essas nações progri- comunicáveis. Os sistemas de cuidados de saúde em ambos os paí-
dem outros países mostram como ganhos anteriores com a atenção ses dividem duas características negativas que são comuns quando
primária podem ser facilmente perdidos. Na África subsaariana, o a atenção primária é fraca: uma concentração desproporcional em
enfraquecimento dos serviços de atenção primária contribuiu para serviços especializados realizados em hospitais e a comercialização
pioras catastróficas em desfechos de saúde catalisadas pela epidemia desregulada de serviços de saúde. A China e a Índia testemunharam
de HIV/Aids. Países como Botsuana e Zimbábue implementaram es- a expansão dos serviços hospitalares privados que atendem a classe
tratégias de cuidados de saúde primários na década de 1980, aumen- média e as populações urbanas que podem pagar por eles; ao mesmo
tando o acesso aos cuidados e obtendo melhora expressiva na saúde tempo centenas de milhões de pessoas em regiões rurais lutam atual-
infantil. Desde então ambos os países foram gravemente afetados mente para ter acesso aos serviços mais básicos. Mesmo no primeiro
pelo HIV/Aids, com diminuição pronunciada na expectativa de vida. grupo, a falta de serviços de cuidados primários esteve associada com
Contudo, o Zimbábue também sofreu uma desordem política, um a apresentação tardia de doenças e com investimento insuficiente em
declínio da saúde e de outros serviços e a fuga de pessoal da saúde, abordagens de prevenção primária. Essa negligência da prevenção

Porcentagem do gasto total em saúde


100 Gasto do
próprio bolso

Gasto privado
pré-pago
80
Gasto em
seguridade social

60 Outros gastos
governamentais
gerais

40

20

0
65

70

75

19 8
19 9
19 0
19 1
19 2
19 3
19 4
19 5
19 6
1987
19 8
89

19 0
19 1
19 2
19 3

19 8

20 0
20 1
20 2
20 3
04

20 5
06
19 4
19 5
19 6
97

20 9
7
7
8
8
8
8
8
8
8

9
9
9
9

0
0
0

0
9
9
9

9
0
19

19

19

19

19

19

20

Figura e1.8 Mudanças na fonte de gastos com saúde na China nos últimos 40 anos. (Fonte: Organização Mundial de Saúde, 2008a.)

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traz risco de epidemias de grande escala de doenças cardiovasculares, valor de 63 bilhões de dólares ao longo do período de 2009-2014. No-
as quais poderiam ameaçar o crescimento econômico continuado. vos financiamentos também são prometidos através de várias outras
Além disso, os sistemas de saúde de ambos os países depende atual- iniciativas focadas particularmente em saúde materna e infantil nos
mente de pagamentos do próprio bolso ao usar os serviços para a países de baixa renda. A tendência geral é a coordenação deste finan-
PARTE I

maior parte de seu financiamento. Assim, uma proporção importante ciamento para diminuir a fragmentação dos sistemas nacionais de
da população sacrifica outros benefícios essenciais como resultado saúde e para uma maior concentração no fortalecimento desses sis-
de gastos com saúde ou é levada à pobreza por este custo. A natu- temas. A atenção primária abrangente em países de baixa renda deve
reza comercial dos serviços de saúde com regulação inadequada ou inevitavelmente lidar com a rápida emergência de doenças crônicas e
ausente também levou à proliferação de charlatães, cuidados inade- a crescente proeminência de problemas de saúde relacionados a trau-
quados e pressão para que as pessoas paguem por cuidados caros e, mas; assim, a assistência ao desenvolvimento da saúde internacional
algumas vezes, desnecessários. Os fornecedores comerciais têm in- deve ter maior responsabilidade sobre essas necessidades.
centivos limitados para o uso de intervenções (incluindo medidas de Além dessas novas correntes de financiamentos para os servi-
Introdução à Medicina Clínica

saúde pública) que não podem ser cobradas ou que são limitadas às ços de saúde, existem outras oportunidades. O aumento da partici-
pessoas que pagam por elas. pação social nos sistemas de saúde pode ajudar a construir serviços
Ao encarar esses problemas, China e Índia implementaram re- de atenção primária. Em muitos países, a pressão política a partir de
centemente medidas para o fortalecimento dos cuidados de saúde representantes da comunidade por um cuidado mais holístico e res-
primários. A China aumentou o financiamento governamental dos ponsável bem como iniciativas empresariais para o aumento dos ser-
cuidados de saúde, evoluiu em direção à restauração do seguro-saúde viços baseados na comunidade através de ONGs acelerou o progresso
e definiu o objetivo de acesso universal aos serviços de cuidados pri- na atenção primária sem grandes aumentos nos financiamentos. A
mários. De maneira semelhante, a Índia mobilizou fundos para uma participação da população na provisão de serviços de cuidados pri-
grande expansão dos serviços de cuidados primários em áreas rurais mários e na tomada de decisões relevantes costuma obter serviços
e está atualmente repetindo esse processo em regiões urbanas. Am- que atendam às necessidades da população como um todo em vez de
bos os países estão cada vez mais usando recursos públicos de suas prioridades mais restritas para a saúde pública.
crescentes economias para financiar os serviços de cuidados primá- A participação e a inovação podem ajudar a lidar com problemas
rios. Essas tendências encorajadoras ilustram novas oportunidades importantes com relação à força de trabalho em saúde nos países de
para a implementação de uma abordagem de cuidados de saúde pri- renda baixa e média por meio do estabelecimento serviços de cui-
mários e para o fortalecimento dos serviços de atenção primária em dados primários efetivos centrados nas pessoas. Muitos serviços de
países de renda baixa e média. cuidados primários não precisam ser oferecidos por médico ou en-
fermeiro. As equipes multidisciplinares podem incluir trabalhadores
■ OPORTUNIDADES PARA CONSTRUIR A ATENÇÃO PRIMÁRIA EM comunitários pagos com acesso a um médico em caso de necessida-
PAÍSES DE RENDA BAIXA E MÉDIA de, mas que possam fornecer pessoalmente uma variedade de ser-
Os objetivos da saúde pública global não serão alcançados a menos viços de saúde. Na Etiópia, mais de 30.000 trabalhadores de saúde
que os sistemas de saúde sejam fortalecidos de maneira significati- comunitários foram treinados e preparados para melhorar o acesso
va. Atualmente está sendo gasto mais dinheiro em saúde do que em aos serviços de cuidados primários e há evidência crescente de que
qualquer outra época. Em 2005, o gasto global com saúde totalizou essa medida está contribuindo para melhores desfechos em saúde. Na
5,1 trilhões de dólares americanos – o dobro da quantia gasta uma Índia, mais de 600.000 defensores da saúde das comunidades foram
década antes. Embora a maioria dos gastos ocorra em países de alta recrutados como parte da expansão dos serviços de cuidados primá-
renda, o gasto em muitos países emergentes de renda média acelerou rios rurais. Após a Declaração de Alma Ata as experiências com tra-
de forma rápida da mesma forma que a alocação de dinheiro para balhadores da saúde da comunidade foram mistas, com problemas
esse propósito pelos governos e por doadores para países de renda em especial com o nível de treinamento e a falta de pagamento. Os
baixa. Essas tendências unidas – maior ênfase na construção de sis- programas atuais não estão imunes a esses problemas. Porém, com
temas de saúde baseados na atenção primária e alocação de mais acesso ao apoio de médicos e com o desenvolvimento de equipes al-
dinheiro para cuidados de saúde – fornecem oportunidades para guns desses problemas podem ser contornados. Evidências crescen-
lidar com muitos dos desafios discutidos anteriormente em países tes em muitos países indicam que a alocação de tarefas apropriadas
de renda baixa e média. para trabalhadores da atenção primária que tenham tido treinamento
A aceleração do progresso necessita de uma melhor compreen- mais curto e barato em relação aos médicos será fundamental para
são sobre como as iniciativas globais em saúde podem facilitar de lidar com a crise de recursos humanos.
maneira mais efetiva o desenvolvimento da atenção primária em Por fim, melhorias recentes em tecnologias de informação e co-
países de baixa renda. Uma recente revisão do Maximizing Positive municação, em especial a telefonia móvel e os sistemas de Internet,
Synergies Collaborative Group da OMS se concentrou em progra- criaram o potencial para implementar de maneira sistemática ini-
mas financiados pelo Global Fund to Fight Aids, Tuberculosis and ciativas de saúde eletrônica (e-health), telemedicina e melhora dos
Malaria; Global Alliance for Vaccines and Immunisation (GAVI); dados em saúde em países de renda baixa e média. Esses desenvolvi-
U.S. President’s Emergency Plan for Aids Relief (PEPFAR); e Banco mentos aumentam a possibilidade de que os sistemas de saúde nesses
Mundial (HIV/Aids). Esse grupo concluiu que as iniciativas de saúde países, que ficaram por muito tempo atrasados em relação aos países
globais melhoraram o acesso e a qualidade dos serviços de saúde ava- mais ricos, mas que são menos comprometidos com sistemas antigos
liados e levaram a melhores sistemas de informação e a financiamen- difíceis de modernizar em várias situações, possam ultrapassar seus
tos mais adequados. A revisão também identificou a necessidade de parceiros mais ricos na exploração dessas tecnologias. Embora os de-
um melhor alinhamento das iniciativas de saúde globais com outras safios impostos por uma infraestrutura ruim ou ausente em muitos
países de renda baixa e média não possam ser subestimados e devam
prioridades de saúde nacional e a utilização sistemática de potenciais
ser abordados para tornar real essa possibilidade, o rápido surgimen-
sinergias. Se as iniciativas de saúde globais implementarem progra-
to de redes móveis e seu uso em saúde e outros serviços sociais em
mas que funcionem em conjunto com outros componentes dos sis-
muitos países de baixa renda em que o acesso a linhas de telefone
temas nacionais de saúde sem prejudicar a formação das equipes e
fixo era anteriormente muito limitado são uma grande promessa na
a obtenção de suprimentos, elas terão potencial para contribuir de
construção de serviços de cuidados primários nos países de renda
maneira substancial para a capacidade de os sistemas de saúde forne-
baixa e média.
cerem cuidados de saúde primários abrangentes.
As iniciativas de saúde globais continuam a obter cada vez mais
financiamentos. Em 2009, por exemplo, o presidente dos Estados CONCLUSÃO
Unidos, Barack Obama, anunciou o aumento da assistência dos Es- Ao mesmo tempo em que continua a preocupação em vencer as de-
tados Unidos ao desenvolvimento da saúde global, destinando um sigualdades na saúde global há um compromisso crescente para re-

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parar esses notórios problemas, conforme exemplificado pela mobili- Commission on Social Determinants of Health: Closing the Gap in a
zação global ao redor dos United Nations’ Millennium Development Generation: Health Equity Through Action on the Social Determinants of
Goals. Esse compromisso inicia primeiro e principalmente com uma Health: Commission on Social Determinants of Health Final Report. Gene-

CAPÍTULO e1
visão clara da importância fundamental da saúde em todos os países va, World Health Organization, 2008
independentemente da renda. Os valores da saúde e da igualdade em Kruk ME et al: The contribution of primary care to health and health systems
in low- and middle-income countries: A critical review of major primary
saúde são compartilhados através de todas as fronteiras e os cuidados
care initiatives. Soc Sci Med 70:904, 2010
de saúde primários fornecem um panorama para a sua efetiva tradu-
Macinko J et al: The impact of primary healthcare on population health in
ção para todos os contextos. low- and middle-income countries. J Ambul Care Manage 32:150, 2009
A tradução desses valores fundamentais tem suas raízes em qua-
Rasanathan K et al: Primary health care and the social determinants of
tro tipos de reformas que refletem os desafios distintos e interliga- health: Essential and complementary approaches for reducing inequities
dos para (re)orientar os recursos de uma sociedade com base nas in health. J Epidemiol Community Health (epub ahead of print, May 27,
necessidades de saúde de seus cidadãos: (1) organizar os serviços 2010)

Atenção Primária em Países de Baixa e Média Rendas


de cuidados em saúde conforme as necessidades das pessoas e co- Samb B et al: Prevention and management of chronic disease: A litmus test for
munidades; (2) subordinar os serviços e setores além dos cuidados health-systems strengthening in low-income and middle-income coun-
de saúde à promoção e proteção da saúde de forma mais efetiva; (3) tries. Lancet 376:1785, 2010
estabelecer mecanismos de financiamento sustentáveis e justos para Smillie I: Freedom from Want: The Remarkable Success Story of BRAC, the
a cobertura universal; e (4) investir em liderança efetiva de toda a Global Grassroots Organization That’s Winning the Fight Against Poverty.
sociedade. Essa agenda comum de cuidados de saúde primários Sterling, VA, Kumarian Press, 2009
salienta a importante semelhança, apesar das enormes diferenças Starfield B et al: Contribution of primary care to health systems and health.
de contexto, na natureza e direção das reformas que os sistemas de Milbank Q 83:457, 2005
saúde nacionais devem realizar na promoção de uma maior igualda- World Health Organization: Health Systems Financing: The Path to Uni-
de na saúde. Essa agenda comum é complementada pela realidade versal Coverage. World Health Report 2010. Geneva, World Health Orga-
crescente da interconectividade da saúde global devido, por exem- nization, 2010
plo, ao compartilhamento de ameaças biológicas, à superação da di- ———: Primary Health Care: Now More Than Ever. World Health Report 2008.
Geneva, World Health Organization, 2008a
versidade etnolinguística, ao fluxo de migração de trabalhadores da
saúde e à mobilização de fundos globais para apoiar as populações ———: The Global Burden of Disease 2004 Update. Geneva, World Health Or-
ganization, 2008b
mais necessitadas. Para um progresso sustentado na saúde global é
———: Working Together for Health. Geneva, World Health Organization,
fundamental obter solidariedade na saúde global ao mesmo tempo
2006
em que se fortalece os sistemas de saúde usando uma abordagem de
World Health Organization Maximizing Positive Synergies Colla-
cuidados de saúde primários.
borative Group: An assessment of interactions between global health
initiatives and country health systems. Lancet 373:2137, 2009
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