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HISTÓRIA
Resumo
Este artigo tem o objetivo apresentar uma proposta desenvolvida por técnicos pedagógicos da
Secretaria de Estado da Educação do Paraná para 25 professores da Rede Pública Estadual de
Educação do Paraná como parte da formação continuada. Essa proposta se pauta no
desenvolvimento de encaminhamentos metodológicos, relacionando a teoria com a prática,
por meio do uso da música nas aulas de História, a partir do referencial teórico da
Epistemologia da História e também do aporte teórico da Educação Histórica. A utilização da
música como fonte histórica, vem ao encontro da necessidade de construção de narrativas
históricas baseadas em evidências do passado, superando a visão tradicional das aulas de
História, compreendendo que outros documentos históricos também deverão ser inseridos na
prática docente, tais como filmes, história em quadrinhos, a iconografia, a música, fotografia,
literatura, entre outros objetos a serem vistos e utilizados como fontes históricas, uma vez que
conforme afirma ABUD (2003, p. 184) “novas abordagens, os novos objetos, outras fontes,
outras linguagens foram se incorporando ao ensino de História.” Esta fonte, ao ser inserida no
processo de ensino e aprendizagem em sala de aula, pode ser o utilizada como objeto
mobilizador, mas vai além disso, pois também deve ser explorada para formação do
pensamento histórico ao ser confrontada com outras fontes históricas. Dessa maneira, o uso
desse objeto como evidência vem a contribuir para a formação da consciência histórica como
meio de orientação no tempo, a compreensão das múltiplas temporalidades por meio da
percepção das mudanças, rupturas, simultaneidades, transformações, recorrências e
permanências.
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Professora de História da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, atuando como técnica pedagógica da
disciplina de História na SEED-PR. Formada pela FAFIJA/UENP, especialista em História, Cultura e Sociedade
pela mesma instituição. E-mail: cristinataborda@seed.pr.gov.br.
ISSN 2176-1396
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Introdução
Essa análise investigativa se justifica, uma vez que segundo o historiador Jörn Rüsen
(2010, p. 106) “o pensamento histórico, em todas as suas formas e versões, está condicionado
por um determinado procedimento mental de o homem interpretar a si mesmo e ao seu
mundo”, já que se trata de percepções de trabalhos que foram desenvolvidos para serem
socializadas com professores de escolas públicas diversas e aplicadas em sala de aula,
conforme as intencionalidades e contextos do ambiente escolar desses sujeitos.
Além disso, as Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede
Estadual do Ensino para a disciplina de História (2008, p. 78) também evidência o uso de
“imagens, livros, jornais, histórias em quadrinhos, fotografias, pinturas, gravuras, museus,
filmes, músicas são documentos que podem ser transformados em materiais didáticos de
grande valia na constituição do conhecimento histórico.” A ainda ressalta que “podem ser
aproveitados de diferentes maneiras” em sala de aula, ou seja, esses documentos servem como
fontes históricas a fim de estabelecer relações entre o passado e trazer significado ao sujeito
envolvido no processo de aprendizagem.
Com isso, os trabalhos que vem sendo desenvolvidos pelos técnicos da Secretaria de
Estado da Educação, visam as investigações sobre o processo de ensino e aprendizagem na
História, em que procura compreender as ações dos sujeitos inseridos no ambiente escolar e
produzir conhecimentos “buscando a superação de teorias reprodutivistas e relativistas sobre a
educação, em geral, e sobre os processos de escolarização, em particular” (SCHMIDT;
GARCIA, 2008, p. 30).
Dessa maneira, esse artigo apresenta o resultado do trabalho realizado, em uma turma,
com 25 professores de Escolas Públicas Estaduais da cidade de Curitiba – Paraná, realizado a
apresentação da proposta de encaminhamentos metodológicos com o uso da música como
fonte histórica como evidência do passado, contribuindo, assim, para a formação da
consciência histórica como meio de orientação no tempo, a compreensão das múltiplas
temporalidades por meio da percepção das mudanças, rupturas, permanências,
simultaneidades, diferenças e semelhanças.
Este estudo pautou-se numa pesquisa qualitativa, em que busca por meio do
conhecimento tácito, trabalhar o conhecimento histórico, de modo a explicar, mobilizar e
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Segundo Napolitano (2002, p. 8) a “canção é um produto do século XX, aquilo que hoje chamamos de música
popular, em seu sentido mais amplo.”
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A definição de documentos/monumentos utilizado nesse artigo segue o conceito segundo Jacques Le Goff
(2003, p. 537-538) deve-se “repensar a própria noção de documento”, que para ele “a memória coletiva e a sua
forma científica, a história, aplicam-se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos. Assim, o
documento é construído a partir da percepção e contextualização de uma sociedade, de um determinado período
histórico, que fabrica esse documento conforme suas “relações de forças”. E é a partir dessa consciência de que o
documento e o monumento se dá a partir de uma construção histórica e social, que garante a cientificidade ao
processo do historiador.
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Desse modo, a música foi o instrumento escolhido para a ação investigativa, na qual as
canções foram definidas de acordo com a proposta e o recorte de um determinado conteúdo
histórico, tais como “Eleições de 1929” trabalhadas com canções como É Sopa, de Eduardo
Souto e Eu Ouço Falar, de J.B. Silva Sinhô, de maneira a serem abordadas como um
instrumento mobilizador, bem como uma fonte histórica para ser estudada, interpretada,
analisada como evidência do passado. A escolha dessas fontes e proposta de
encaminhamentos foram definidas por técnicos pedagógicos da Secretaria da Educação do
Paraná, envolvendo departamentos diversos, entre os quais o Portal Dia a Dia Educação e o
Departamento de Educação Básica (DEB).
Cabe ressaltar que tanto as letras de todas as canções utilizadas e repassadas aos
professores, que retratam esse período histórico especificamente, foram retiradas do site de
Franklin Martins no ano de 2014, época em que ocorreram as discussões.
Seguindo a ideia de que para o planejamento seja pensando para desenvolvimento das
aulas, bem como a utilização de fontes históricas diversas - filmes, músicas, iconografias,
jornais, fotografias, textos escritos, entre outras - e dos conteúdos a serem ensinados, só se
efetivam quando ganham forma a partir da prática dos professores em sala de aula, o
conhecimento deve ser socializado de maneira crítica, investigativa e qualitativa.
Do exposto, foi elaborado os seguintes questionamentos sobre as duas canções – “qual
mensagem as canções veiculam e como ocorreu a articulação entre as músicas e o contexto
histórico e político da época?” A partir disso, foi possível analisar as concepções e ideias
apresentadas pelos professores.
Nessa primeira análise, pode-se verificar algumas respostas dadas por eles, que foi
posteriormente categorizadas para levantamento dos questionamentos, dúvidas e afirmações
colocadas pelo grupo da formação. A exemplo disso, o professor A afirma que “a política
estava em momento efervescente naquela época, aqueles que estavam fora do poder queriam
entrar e os que estavam no comando não queriam deixar o poder. E isso se apresentou
também nas diversas expressões culturais do período.”
Proposta de intervenção
reconsiderar algumas ideias da formação da classe política, a qual tinham apoio inclusive da
própria população e de grupos representativos em que acostumados a fraudes existentes no
país, também acabavam por aceitar as fraudes de outros, mesmo vindo uma nova frente
política com inúmeras promessas e visões para o país.
A segunda intervenção está ligada à apresentação a partir de um pequeno texto
comentando a criação da primeira Copa do Mundo, segundo este “depois da Olimpíada de
1928, com divergência quanto à condição de amadores dos jogadores e sabendo que o futebol
não faria parte dos Jogos Olímpicos de 1932, a FIFA decidiu realizar sua própria competição
internacional de futebol” (MOCHILEIRO, 2014), lembrando que o futebol ainda não era a
“paixão nacional” nesse momento histórico.
Com esses documentos, os docentes puderam confrontar as ideias que são propagadas
a respeito do futebol no Brasil, em que sempre foi a “paixão nacional”. Problematizaram e
questionaram essa visão de que o país vivia em torno dessa perspectiva do futebol, como
esperança, na qual puderam estabelecer por meio das narrativas históricas a relação de
presente, passado e a expectativa de futuro, pois conforme afirma Rüsen
A narrativa histórica organiza essa relação estrutural das três dimensões temporais
com representações de continuidade, nas quais insere o conteúdo experiencial da
memória, a fim de poder interpretar as experiências do tempo presente e abrir as
perspectivas de futuro em função das quais se pode agir intencionalmente. A
narrativa histórica constitui a consciência histórica como relação entre interpretação
do passado, entendimento do presente e a expectativa de futuro mediada por uma
representação abrangente da continuidade. Essa mediação deve ser pensada como
especificamente histórica por operar a inclusão da interpretação do presente e do
futuro na memória do passado. (RÜSEN 2010, p. 65)
Cabe ressaltar o cuidado de não tornar a disciplina de História algo que se faz pela
análise do passado para prever o futuro, pois desse modo seriam desconsiderados as
subjetividades temporais, como se pode perceber na afirmação de Hobsbawm
as pessoas não podem evitar a tentativa de antever o futuro mediante alguma forma
de leitura do passado. Elas precisam fazer isso. Os processos da vida humana
consciente, para não falar das políticas públicas, assim o exigem. E é claro que as
pessoas o fazem com base na suposição justificada de que, em geral, o futuro está
sistematicamente vinculado ao passado, que, por sua vez, não é uma concatenação
arbitrária de circunstâncias e eventos. (HOBSBAWM 1998, p.50)
indicado por V.Excia, pois que tenho numerosa família e vivo sómente de música e com
grandes dificuldades”.
Essa última intervenção realizada por meio da fonte musical – letra e canção - foi
retirada do site de Franklin Martins, com o título “Eu ouço falar seu Julinho”, pesquisado em
junho de 2014. proporcionou uma visão de como algumas situações podem ocorrer devido a
interesses e, nesse caso, interesses políticos, para inserção de familiares para serem indicados
para um emprego em algum ambiente do governo. Percebe-se, portanto, que mesmo na
referida época – 1930 – havia os interesses políticos concatenados ao processo cultural da
sociedade.
A partir dessas intervenções realizadas, os docentes puderam realizar o confronto de
informações das fontes entregues e construíram, com isso, novas narrativas, pois passaram a
visualizar outras questões mais amplas que envolviam outros interesses não só nacionais,
assim como afirma Hobsbawm (1998, p.50) em que “a maior parte da ação humana
consciente, baseada em aprendizado, memória e experiência, constitui um vasto mecanismo
para comparar constantemente passado, presente e futuro.”
A mudança nas narrativas pode ser notada nas produções apresentadas pelos
professores, como a do professor H “A partir da análise dessas outras fontes, consegui
visualizar o acontecimento da Copa e os interesses políticos. Como nessa época o Brasil ainda
não era esse mito todo, a política ainda era ‘o ópio do povo’, mas sem deixar os interesses
maiores de lado, pois a eles também era interessante que tivéssemos uma política de pão e
circo que funcionasse a contento.”
Considerações finais
sócio-histórico, sofre contraponto enriquecedor através das discussões surgidas da análise das
canções, implodindo as explicações históricas, fechadas e unidimensionais. No limite, a
própria linguagem do professor se musicaliza” (NAPOLITANO; AMARAL; BORJA, 1986,
p. 177).
REFERÊNCIAS
ABUD, Katia Maria. A construção de uma Didática da História: algumas ideias sobre a
utilização de filmes no ensino. História. São Paulo, v 22, n. 1 pp.183 a 193, 2003.
CORREIA, Janaina dos Santos. O uso da fonte literária no ensino de história: diálogo com o
romance “Úrsula” (final do século XIX). História & Ensino, Londrina, v. 18, n. 2, jul./dez.
2012. Disponível em <
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/viewFile/12451/11906.>. Acesso
em: 11 jul. 2014.
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. 2. ed. São Paulo. Edusp, 2006. p. 181
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. Tradução Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia
das Letras, 1998.
MARTINS, Franklin. Revolução de 1930: eu ouço falar “Seu Julinho”. 2014. Disponível
em: < http://www.franklinmartins.com.br>. Acesso em: 26 jun. 2014.
NAPOLITANO, Marcos. História & Música: história cultural da música popular. Belo
Horizonte: Autêntica, 2002.
_______; AMARAL, Maria Cecília; BORJA, Wagner Cafagni. Linguagem e canção: uma
proposta para o ensino de história. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 7, n. 13, p
177-188, set. 1986.
RÜSEN, Jörn. Razão Histórica: teoria da história: fundamentos da ciência histórica. Brasília:
Universidade de Brasília, 2010.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione,
2004.