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O multiculturalismo
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A discussão desenvolvida neste artigo consiste numa releitura dos posicionamentos apresentados
em trabalhos anteriores (NEIRA, 2010 e 2011).
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Professor Titular e coordenador do Grupo de Pesquisas em Educação Física escolar
(www.gpef.fe.usp.br).
Os embates travados nos anos 1960, nos Estados Unidos, para combater a
desigualdade presente nas escolas resultaram na chamada “educação multicultural”
o que permite compreendê-la como produto de movimentos reivindicatórios por
liberdade, participação política e igualdade econômica empreendidos por sindicatos
de professores, instituições e famílias que se alinharam às lutas sociais de grupos
étnicos sitiados e combatidos durante o conflituoso processo de integração social. A
educação multicultural deve seu histórico, em parte, ao ativismo afroamericano e
seu envolvimento nos problemas educacionais, com destaque para o currículo. Hoje,
ela se multiplicou de tal forma que agora inclui a participação de outros grupos
étnicos, e outras minorias, tais como os homossexuais e o movimento feminista. O
termo é originário do prefixo multi, que foi adotado para abraçar diversos grupos e
da expressão cultura - em vez de racismo - para que o público de educadores
brancos não criasse empecilhos ao movimento.
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pluralismo alegam que a democracia não abarca somente o interesse pelos direitos
de todos os cidadãos, mas também, a história e a cultura de grupos tradicionalmente
marginalizados. Sob o manto da igualdade, o pluralismo se converte em uma virtude
social suprema, sobretudo na perspectiva pós-moderna, na qual a globalização e o
neoliberalismo empurram as comunidades para uma cultura mundial, única e
uniforme. Nesse campo, a diversidade se converte em algo intrinsecamente valioso
e desejável até o ponto da atribuição de um caráter exótico e fetichista.
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Uma vez mais, a etnia, classe, religião, sexualidade etc. foram alocadas na
esfera privada, pouco ou nada se relacionando com a dinâmica estrutural elitista. A
lógica multicultural pluralista é incapaz de perceber as relações de poder que
existem entre a construção da identidade, as representações culturais e as lutas por
recursos. Somente com esta conjugação as escolas poderão rever seu histórico
papel de racionalizadoras da conduta dos privilegiados e de acobertadoras dos
métodos que a hegemonia utiliza para regular a ordem social (YUDICE, 2006).
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ou diretora deverá ter cuidado ao conversar com os professores para não invocar
seu privilégio funcional e falar-lhes com suficiência ou então, falar por eles. Uma
atenção semelhante deverá permear a ação docente quando se referir aos alunos.
Sobre a base de privilégio da opressão, muitos professores multiculturais
essencialistas simplesmente transferem aos estudantes um conjunto não
problemático de dados autênticos transformando sua prática pedagógica em um
embate permanentemente tenso perante as concepções de mundo dos estudantes.
Tal ação aproxima-se do doutrinamento, ao considerar que, uma sociedade
democrática, essa postura pedagógica reflete arrogância didática.
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exposição dos valores que norteiam suas práticas. Daí o multiculturalismo crítico
estar comprometido com o igualitarismo e a eliminação do sofrimento humano.
(KINCHELOE; STEINBERG, 2012).
com a etnia, gênero e outros marcadores sociais. Desvelar esse processo é o que
mais interessa ao multiculturalismo crítico, portanto, o que se pode recomendar aos
educadores é que se dediquem a analisar profundamente a maneira pela qual a
dinâmica de poder se reflete na cultura viva, mundana e cotidiana, tomando nota
como o patriarcado, a supremacia branca e o elitismo de classe invadem todas as
dimensões humanas. O multiculturalismo crítico tenta desocultar a natureza oculta
dessas operações, descobrindo como acontecem sem que sejam percebidas,
inclusive pelos seus próprios participantes. Às vezes, a sutileza desse processo é
extremamente desconcertante, dado que a natureza obscura de muitas
manifestações preconceituosas em relação à etnia, sexo, religião e classe, torna
difícil o convencimento de sua realidade aos indivíduos da cultura dominante. Essa
sutileza é acompanhada pelo conhecimento da existência de tantas diferenças
intragrupais quanto intergrupais (YUDICE, 2006).
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determinado grupo étnico, por quê?), de classe (qual a classe social que tem espaço
prioritário nessa dança, por quê?) e de gênero (qual o papel atribuído à mulher e ao
homem nessa dança, por quê?). Nesse sentido, os alunos e o professor analisarão
como se configuram suas próprias relações com esse produto cultural: estabelecem
relações românticas, de consumo, críticas, preconceituosas? Durante todo esse
percurso, os alunos podem ressignificar os elementos da cultura corporal
analisados, mantendo o sentido original ou alterando-o (NEIRA, 2011).
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multicultural crítico da Educação Física tem como dever desvelar essa trama que
consagrou determinados modos de pensar e agir.
Referências Bibliográficas
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