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01/06/2018 Execução provisória da pena: Defendendo os 2% | JOTA

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STF

Execução provisória da pena: Defendendo os 2%


O que os números mostram?

IVAR A. HARTMANN

06/09/2016 23:18
Atualizado em 22/11/2016 às 13:04

Foto: Luiz Silveira/Agência CNJ

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01/06/2018 Execução provisória da pena: Defendendo os 2% | JOTA

Pesquisadores de variadas expertises se unem para, com independência, conciliar a agenda

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especializado
O Supremo irá decidir, pela segunda vez em alguns meses, sobre a possibilidade de
execução provisória da pena após condenação em segunda instância. Não está
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claro o que motivou o tribunal a voltar à questão tão cedo.

Uma possível razão seria o impacto da mudança de entendimento no sistema


prisional brasileiro. Críticos da decisão do Supremo temem um agravamento da já
insustentável situação de superlotação das nossas prisões. Contudo, estudo do
projetoLeia newsletters
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em Números, divulgadoe na
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passada, estima ao
em site
menos de
4 mil o total de réus que poderiam ser presos a partir da decisão do Supremo em
fevereiro. Não chega a 1% da população ASSINEtotal do sistema.
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Esse número compreende réus com penas iguais ou maiores a 8 anos – sujeitos,
portanto, ao regime fechado. Os réus que potencialmente iriam para o regime
semiaberto não foram considerados no estudo por opção metodológica.

Mesmo se incluirmos esse conjunto de réus na análise, porém, os impactos da


decisão do Supremo continuam baixos. Quando consideramos réus soltos, com
recurso no STJ ou Supremo, após condenação em segunda instância a 4 ou mais
anos, o número estimado pelo levantamento sobe para 12.980 réus. Isso representa
2,1% do sistema prisional. Ou seja, ainda assim o impacto quantitativo da decisão de
fevereiro do Supremo é irrisório.

E quais as chances desses réus nos tribunais superiores? O amicus do Instituto


Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) cita estudo que encontrou taxa de
sucesso de 45,99% nos Recursos Especiais interpostos pela defesa. Parece que a
defesa reverte quase metade das condenações no STJ.

Mas acusação e defesa têm pelo menos dois meios de chegar ao tribunal: o
Recurso Especial e o Agravo em Recurso Especial. Esse segundo destranca os
recursos que pararam no tribunal de segunda instância e traz justamente os pleitos
com menos mérito. O IBCCRIM trata do caminho com mais chances de reversão e
não fala do outro. Mas ambos são obstáculo ao trânsito em julgado. Dados do
projeto Supremo em Números mostram que no ARESp os réus conseguiram apenas
1,4% de decisões favoráveis entre 2014 e 2015. O quadro completo, com REsp e
AREsp, atesta 9,1% de sucesso dos réus. Já o Ministério Público costuma obter 44%
de decisões a seu favor.

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01/06/2018 Execução provisória da pena: Defendendo os 2% | JOTA

No Supremo? 0,1% de decisões absolutórias, segundo pesquisa apresentada pelo


ministro Barroso.

A despeito dessa realidade, organizações que defendem um sistema penal melhor


dedicaram-se a pedir a impossibilidade de execução provisória da pena de maneira
nunca antes vista no Supremo. São 10 amici curiae nas duas ações. Todos eles
apoiando a mesma posição.

Entre os processos sobre direito penal, há apenas um no Supremo com mais amici
do que essa ação. Trata-se do RE 635659, sobre trá co de drogas. Foram 19
manifestações da sociedade civil. O tempo que as associações tiveram para
ingressar nos processos não foi o mesmo. Quanto menos tempo entre o início do
processo e o julgamento, mais difícil ca mobilizar, produzir uma peça e ingressar no
caso. No RE 635.659 as organizações ingressaram com um amicus a cada 71 dias,
em média. Nas ADCs 43 e 44 esforçaram-se para viabilizar um amicus a cada 10
dias. Um esforço notável.

O recorde é ainda mais impressionante quando se leva em conta o grupo de réus


potencialmente afetados pelos processos. Os 2% da execução da pena a partir da
segunda instância foram objeto de preocupação e investimento 7 vezes maior que
os presos do trá co de drogas. Isso apesar desses últimos representarem 28% do
sistema prisional, segundo o último Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias. A ADPF 347, que discutiu a situação deplorável e desumana das
prisões brasileiras como um todo mereceu apenas 4 amici.

Os 2% cujo futuro o Supremo julgará nessa quinta receberam defesa privilegiada. A


execução antecipada da pena desses é incerta. Já para a vasta maioria dos réus, ela
é realidade há muito tempo: chama-se prisão preventiva ou provisória, responsável
por 40% da população prisional. Quando esses tiveram seu dia no Supremo,
principalmente em ações como a ADPF 347, os esforços das associações que lutam
por um sistema penal melhor foram bem diferentes. Resta a pergunta: um sistema
penal melhor para quem?

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