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meio eletrônico
Sumário
1. Introdução. 2. O comércio eletrônico como
objeto da tributação. 2.1. Princípios que devem
orientar a tributação das operações realizadas
via Internet. 2.2. O conceito de comércio ele-
trônico. 2.3. A expansão do comércio eletrôni-
co e o seu posicionamento no contexto econô-
mico no Brasil e no Mundo. 2.4. De como reage
a tributação, diante do comércio eletrônico. 3.
Provedor: insumo imprescindível para os ne-
gócios do mundo web e as perspectivas da tri-
butação sobre ele incidente. Natureza jurídica
do serviço prestado, para fins de tributação. 4.
Imunidade ou isenção tributária em relação às
operações virtuais. 5. Conclusões.
1. Introdução
A divisão da linha da história da huma-
nidade em idades (idade antiga, idade mé-
dia, idade moderna e idade contemporânea)
decerto terá que ser alterada, com o acrésci-
mo de uma nova faixa, correspondente à in-
serção da Internet nas relações sociais e ins-
titucionais das pessoas, notadamente com
o boom dessa via de comunicação, operada
nos últimos cinco anos do século vinte. Con-
ceitos e condutas foram revistos, valores fo-
ram totalmente reformulados, numa autên-
tica revisão radical em costumes e práticas,
inclusive no campo dos negócios.
Assim, pode ser dito que a Internet colo-
Ivan Lira de Carvalho é Juiz Federal. Pro- cou de bruços, também, conceitos e práticas
fessor da UFRN. Doutorando em Direito jurídicas, inclusive os pertinentes ao Direi-
(UFPE). to Tributário. Sim, pois em razão da difu-
Brasília a. 40 n. 160 out./dez. 2003 179
são, em escala crescente, do comércio eletrô- 2. O comércio eletrônico como
nico (popularizado pelo anglicismo e-com- objeto da tributação
merce) e da prestação de serviços on-line,
adveio uma pletora de questionamentos acer- 2.1. Princípios que devem orientar a tributação
ca da possibilidade (ou não) de o Estado das operações realizadas via Internet
tributar ditas atividades. E é justamente so-
bre alguns desses problemas que tratará o Qualquer ramo do conhecimento cientí-
presente ensaio. fico, para garantir respeito e utilidade às
É de ser considerado, sob a lente dessa suas proposições, necessita ostentar uma ra-
revolução, um ponto deveras sensível do sis- zoável coleção de princípios, base sobre a
tema estatal, que é o chamado poder tribu- qual são desenvolvidas todas as atividades
tário, cuja noção apresenta um profundo teor de cunho investigativo do específico seg-
das manifestações próprias da soberania do mento. Acerca da força dos princípios, diz
Estado. E não se fala aqui de qualquer ma- Ronaldo POLETTI (1996, p. 285) que esses
nifestação, mas de uma das suas mais pre- são “certos enunciados lógicos admitidos
claras e necessárias, pois é certo que o Es- como condição ou base de validade das de-
tado moderno (isto é, o Estado capitalis- mais asserções que compõem dado campo
ta) deposita nesse poder sua principal do saber”.
fonte de manutenção, para a sua organi- Pois no ainda incipiente campo da tri-
zação e exercício das atividades públicas butação do comércio eletrônico, apresenta-
irrenunciáveis, resolvendo e executando se um rol de princípios, os quais sem dúvi-
funções e serviços de ordem e de extensão da hão que ser somados aos princípios ge-
várias. rais do Direito e mais especificamente aos
Esse poder tributário se encontra tradi- princípios do Direito Tributário, visando dar
cionalmente ligado à noção de jurisdição e crédito e utilidade aos fins propostos por
por sua vez esta última tem permanecido essa atividade arrecadadora estatal.
vinculada, também por tradição, à noção de A sedimentação de uma razoável carta
território nacional. Entretanto, o comércio de princípios norteadores da tributação ora
eletrônico, como tudo que transcorre via In- em estudo tem sido preocupação de entes
ternet, não tem necessária amarração a um estatais e de entidades não-governamentais,
território determinado, nem dá demasia- a exemplo do Center for Strategic & Internati-
da atenção aos limites políticos e geográ- onal Studies (CSIS), tradicional instituição
ficos demarcadores das fronteiras nacio- pública norte-americana, dedicada à pesqui-
nais. sa e à análise do impacto da tecnologia da
Assim, da mesma forma que a atividade informação na sociedade e na estrutura do
empresarial foi levada a adotar posturas e Estado, que no contexto do seu projeto Glo-
conceitos diferentes nos seus ofícios, a par- bal Information Infrastructure Comisson (GIIC)
tir da implementação do e-commerce, também publicou importante documento, sob o títu-
o Estado deve estar alerta para as novas for- lo E-commerce taxation principles: a GIIC pers-
mas de exercício da sua potestade tribu- pective, analisando os postulados a seguir
tária, sob pena de vê-la minguar sensivel- destacados.
mente. O primeiro deles, nominado nos circui-
É, pois, um dos mais destacados objetos tos acadêmicos como princípio da neutrali-
deste estudo, a tentativa de levantar alguns dade, indica que deve o Estado abster-se de
pontos acerca de como o Estado pode parti- criar novos impostos ou taxas exclusiva-
cipar dessa nova realidade, qual seja a das mente para o comércio eletrônico. Em com-
operações realizadas via Internet, potenci- plemento, entende o CSIS, por meio do GIIC,
almente geradoras de tributos. que a necessária e imprescindível tributa-