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A Estrutura Básica do Tarot

Joana Trautvetter

O Tarot, segundo Ouspensky em Um Novo Modelo do Universo, é originalmente um


conjunto de Hieróglifos que compõe um livro de sabedoria representativo da Kabbalah,
Astrologia, Alquimia e Magia, que pode ser dividido em três partes:
A 1ª parte representa Deus e é simbolizada pelo Triângulo e é constituída por 21 dos
Arcanos Maiores;
A 2ª parte representa o Homem, é simbolizada pelo Ponto e é o Louco, Arcano XXI nas
escolas da Tradição antiga, ou XXII, nas abordagens de algumas escolas modernas.
Considerado como Arcano Zero, representa a síntese do Tarot.
A 3ª parte representa o Mundo Visível e é representada pelo Quadrado. São os 56
Arcanos Menores, formando 4 séries de 14 cartas cada.
A primeira parte constitui o Mundo Numênico, aquele que só é percebido pelos
sentidos interiores e que pode ser entendido como mundo sutil, onde a informação
inteligente e a energia sutil se integram para gerar tudo que existe. A esse mundo
chamamos o Mundo Objetivo, ou Real, pois é a realidade Permanente e Imanentede
tudo, a essência de todo universo manifesto e não manifesto, além de toda imaginação
humana.
A segunda parte constitui o Mundo Psíquico do Homem, atributo do Ser
Senciente em evolução: dotado de sensibilidade e consciência, esse ser possui uma
bagagem arquetípica inserida em seu inconsciente que participa do inconsciente coletivo
que opera desde tempos imemoriais. Essa bagagem é carregada de uma carga cármica
positiva e negativa que condiciona o tipo de experimentação na estrada da construção da
evolução da criatura. Esse ser é criativo – à imagem e semelhança de seu Pai, o Criador,
a fonte do Noûs, do que está além da existência. Esse ser é dotado de Livre Arbítrio, para
criar e conduzir sua jornada. A parte consciente desse mundo é uma pequena janela
aberta na imensidão do inconsciente. O mundo psíquico é a dimensão onde experiências
são vividas, decodificadas e organizadas; onde se processam as decisões e avaliações e
onde é construído o sentido de todas as coisas. Tudo o que é entendido como “Existindo”
é entendido nesse mundo psíquico; todos os valores, todos os atributos, todos os
significados, nomes, toda construção do conhecimento estão nesse domínio.
A terceira parte é o Mundo Fenomênico, é o mundo físico, perceptível aos cinco
sentidos comuns aos seres humanos. Esse mundo é denominado Mundo Subjetivo, pois é
experimentado e interpretado pelo mundo psíquico do homem. É o mundo das formas,
onde o Mundo Noumênico se manifesta. Embora a essência não se corrompa, as formas
são múltiplas e impermanentes e por isto este mundo é chamado mundo ilusório ou Maya,
na denominação hindu. Os atributos de tudo que existe ou acontece no mundo físico
existem só no mundo psíquico do homem, que o experencia, e essa experiência é matizada
pela bagagem arquetípica, pelo conjunto de sensações, emoções, informações e
capacidade pessoal de decodificar, elaborar, e atuar sobre o mundo externo; é matizada
também pela intenção e motivação pessoal de cada um. Os estudos contemporâneos sobre
a percepção, no domínio da psicologia esclarecem muito esse tema. A própria fisiologia do
sistema neurológico mostra que estímulos visuais, auditivos, olfativos, etc. são captados e
interpretados de formas diferentes por diferentes organismos. O próprio estado psicológico
de uma pessoa condiciona sua percepção e avaliação dos fenômenos do mundo externo a
ele. No mundo físico onde estão todas as formas materiais, inseridas nas três dimensões,
tudo é impermanente. Vão-se as formas, permanece a essência e a experiência psíquica
das mesmas.
O Tarot é um conjunto simbólico que sintetiza os conhecimentos milenares sobre a
relação entre esses três mundos. Essa relação pode ser representada de duas maneiras,
como vemos nos esquemas a seguir. ações
a b
a – o mundo visível, manifesto ou fenomênico é o quadrado e se encontra contido no
ponto sem dimensão, que representa a consciência do homem. esta, por sua vez, se
encontra no centro do triângulo do mundo objetivo ou noumênico, que é a verdadeira
realidade, que é divina.
b – deus é representado pelo triângulo, no qual se encontra inscrito o quadrado,
símbolo do universo manifesto, no qual se encontra inscrito o ponto sem dimensão, que é
a consciência do homem.
Na representação A, se colocarmos no ponto central O Mundo, arcano que simboliza o
Absoluto, isto é, o triângulo e o quadrado juntos, estaremos representando Grande
Arcano do Tarot. O Grande Arcano do Tarot permite dividir os Arcanos Maiores em três
grupos de 7 Arcanos, reunidos em torno do Arcano do Universo:

O grupo referente ao Homem (Plano do Homem)


I. O Mago - Adam Kadmon; a Criança Divina, a Fonte da Humanidade;
XXI. (XXII o 0) O Louco - O homem Individual, a consciência em evolução no mundo
fenomênico;
VI. A Tentação – O Livre Arbítrio, a consciência diante da escolha;
XV. O Diabo – a consciência enfrentando a sombra;
VII. O Carro – a consciência enfrentando a estrada da existência;
IX. O Eremita – a busca interior, o encontro com o Mestre;
XII. O Homem Suspenso – a Realização.

O grupo referente ao Universo (Plano da Natureza)


XIX. O Sol – a verdade fecunda;
XVIII. A Lua – o medo do desconhecido;
XVII. A Estrela – o poder criador, a esperança;
XVI. A Torre Fulminada – a libertação das estruturas obsoletas;
XX. O Renascimento (A Libertação) – a mudança de nível da consciência;
X. A Roda da Fortuna – o testamento espiritual, o Moinho do Mundo;
XIII. A Transmutação – a morte e o renascimento.

O grupo referente a Deus (Plano do Espírito)


II. A Grande Sacerdotisa – a gnose, a Divina Substância;
III. A Imperatriz – o poder criador, a Trindade Divina;
IV. O Imperador – a autoridade sobre os quatro elementos, a estabilidade;
V. O Hierofante – a iniciação, a quintessência;
XIV. A Temperança – o fluxo da consciência, a respiração espiritual;
XI. A Força – o poder do amor e da união, o domínio do espírito sobre a forma;
VIII. A Lei – a lei do equilíbrio universal, a balança metafísica, a justiça divina.

Avaliando desta forma, teremos o Arcano do Absoluto no centro, como ponto central.
Em torno dele, está o Triângulo Divino, composto pelos demais 21 Arcanos Maiores,
representando assim a Divindade enquanto o conjunto formado pela sua criação(Plano da
Natureza), da consciência humana (Plano do Homem), e de atributos puramente divinais
(Plano Espiritual ou Plano do Arquétipo). Veremos oportunamente, que cada Arcano Maior
será estudado de acordo com sua representação em cada um desses planos. Por fim, Em
torno do Triângulo Divino, temos o quadrado do mundo manifesto, representado pelas
quatro séries de Arcanos Menores, que podem ser associadas, entre outras coisas, aos
quatro elementos básicos que compõe toda a substância manifesta no mundo físico. Cada
série é composta de catorze Arcanos: dez representam as Sefirot da Árvore da Vida e
quatro representam os poderes Yud – Hei – Vav – Hei, e aparecem nos baralhos em forma
de Rei, Dama, Cavaleiro e Valete ou pajem, escravo. Desta forma teremos composto o
Grande Arcano do Tarot.
O Esquema do Grande Arcano foi utilizado por alguns estudiosos como forma de
abertura oracular, mas na verdade, é uma representação da estrutura geral do Tarot, cuja
importância é eminentemente filosófica. O círculo da consciência, o ponto, o átomo que é
uma consciência individualizada, concebe em seu âmago, o Absoluto: o Mundo Noumênico
e Fenomênico tomados juntos, Arcano XXII. Quando essa consciência alcançar a
iluminação, estará integrada a esse todo, se tornando onisciente, onipresente e onipotente,
à imagem e semelhança de seu criador. Esse é o objetivo final do Tarot, auxiliar, como
Oráculo para essa Senda, o desenvolvimento do buscador. Para isto, ele dispõe de uma
forma de contemplar a Divindade em sua forma metafísica (o triângulo de Arcanos
Maiores) e o Mundo Físico (o quadrado) que é a manifestação divina perceptível aos
sentidos. O Grande Arcano pode ser representado como segue:

De acordo com Mebes, os Arcanos Maiores correspondem às 22 letras hebraicas e as


antigas escolas iniciáticas lhes atribuíram um valor numérico, além de um hieróglifo
correspondente e uma associação Astrológica. Temos o seguinte quadro representativo
dessas associações:

Letra Nome = Valor Arcano do Tarô Astrologia Hieróglifo

1 Alef A 1 O Mago Pólo Neutro Ser Humano

2 Beit B 2 A Sacerdotisa Lua Boca Humana

3 Guímel G 3 A Imperatriz Vênus Mão formando canal


4 Dálet D 4 O Imperador Júpiter Seio que alimenta

5 Hei H 5 O Hierofante Áries Respiração

6 Vav V 6 A Tentação Touro Olho, ouvido

Flecha em movimento
7 Záin Z 7 A Carruagem Gêmeos
reto

8 Chet Ch 8 A Lei Cancer Campo para cultivo

9 Tet T 9 O Eremita Leão Telhado - Proteção

A Roda da
10 Yud I, Y, J 10 Virgem O dedo indicador
Fortuna

11 Kaf K, C 20 A Força Marte Mão apertando algo

12 Lamed L 30 O Suspenso Balança Mão aberta

13 Mem M 40 A Transmutação Pólo negativo Uma mulher

14 Nun N 50 A Temperança Escorpião O fruto

Flecha em movimento
15 Samech S 60 O Bafomet Sagitário
circular

a, E, i, Uma ligação sob


16 Ayin 70 ATorre Fulminada Capricórnio
o, u tensão

17 Pei P, F 80 A Estrela Mercúrio Boca com língua

18 Tsadi Ts, X 90 A Lua Aquário Cobertura opressora

19 Kuf K, Q 100 O Sol Peixes Um machado

20 Reish R 200 O Renascimento Saturno Cabeça humana

S, Sh, Flecha em movimento


21 Shin 300 O Louco Pólo positivo
Ch oscilante

22 Tav T 400 O Mundo Sol Um peito

Os Arcanos Aleph, Mem e Shin correspondem às Letras - Mães e simbolizam os aspectos


básicos do Ternário. Aleph corresponde ao Neutro, Mem ao pólo negativo e Shin ao pólo
positivo. Podem ser associadas aos elementos Ar (Aleph), Fogo (Shin) e Água (Mem) e
ainda ao Espaço (Mem), à Energia (Shin) e ao Tempo (Aleph).
Os Arcanos com correspondência de planetas são as Letras duplas do Alfabeto, que
podem ter duas pronúncias diferentes, aludindo ao aspecto positivo e negativo de cada
planeta. Os arcanos com correspondência ao signo zodiacal são as letras simples.

Os Arcanos Menores são divididos em quatro séries, que se referem aos quatro
elementos manifestos no Universo das formas; são As Quatro letras do Nome de Deus, da
Kabbalah:Yud / Hei / Vav / Hei; são as quatro classes de espíritos elementais; na
simbologia, são as quatro bestas do Apocalipse, são os quatro instrumentos do homem
sobre a terra: a Fé e o Amor, a Sensibilidade, O Intelecto e a Capacidade de Realização;
são ligados aos elementos básicos dos signos, água, fogo, terra e ar, na Astrologia, e aos
quatro pontos cardeais. Como já vimos, as quatro séries ou naipes possuem 14 lâminas
cada uma, são entendidas de acordo com os quatro mundos que se interpenetram na
Árvore; Emanação, Criação, Formação e Feitura. As quatro figuras, em cada naipe,
simbolizam os poderes Iud – Hei – Vav – Hei desses mundos citados e personificam sua
atuação enquanto os atores (as pessoas e seus papéis) que a consciência identifica no
mundo físico. Podemos, a princípio, delinear as séries como segue:

Bastões (Paus ): Elemento Fogo da Alquimia, domínio dos Duendes;


é o princípio Ativo, Masculino, Yang, O PAI; atributo humano do Poder da
Fé e do Amor; é o Domínio do Rei, o Iud, ativo, dotado de intenção e poder
realizador – na Árvore da Vida, corresponde ao Mundo da Emanação.

Taças (Copas ): Elemento Água, domínio das Ninfas; é o Princípio


reativo, Feminino, Yin, A Mãe; é o atributo humano da Sensibilidade. É o
domínio da Rainha, é o 1º Hei, receptivo e fecundo - na Árvore da vida,
corresponde ao Mundo da Criação, Beriah.

Gládios (Espadas ): Elemento Ar, domínio dos Silfos; é o Princípio


Interativo, Masculino, o Segundo Yang, a iniciativa, a interação dos dois
primeiros poderes, O Filho; é o atributo humano do Intelecto. É o domínio
do Cavaleiro, é o logos, é o Vav – na árvore da vida, corresponde ao
Mundo da Formação, Yezirah.

Pentáculos (Moedas ou Ouros ): Elemento Terra, domínio dos


O Tetragrammaton
Joana Trautvetter

“O que está embaixo é análogo ao que está em cima,


e o que está em cima é análogo ao que está embaixo,
para perfazer as maravilhas da coisa única.”

O Tetragrammaton é a representação mais perfeita do processo de formação de todas


as coisas no mundo sutil e denso, sejam clichês, situações, criaturas, objetos e o próprio
Universo. Toda avaliação de situações em que aplicaremos os Arcanos do Tarot, seguirá
este princípio, que constitui a fisiologia fundamental para investigação de todos os
fenômenos.
São quatro os componentes do Tetragrammaton, que também é conhecido como O
Nome de Deus, devido ao fato de se aplicar a toda a Sua Criação, através da qual nossa
Consciência pode reconhece-LO. A Kabalah nomina esses componentes:

Yud – He – Vav – He
“No princípio era o verbo, e o verbo se fez carne...”

Estudaremos no capítulo sobre a Árvore da Vida, o que Kabalah ensina sobre como Deus
cria o Universo por intermédio do seu verbo. Para além da Vontade Manifesta de Deus, o
Verbo, o pulsar eterno que mantém toda a sua Criação, nossa mente, por mais evoluída
que seja, não tem como conhece-LO. Por isto, dizemos que Deus além da existência. Nós o
percebemos em suas infinitas manifestações, as materializações do Verbo Eterno.
Ao mesmo tempo em que, da Vontade de Deus emana um Influxo de Poder Ativo e
positivo, dotado de Informação e Intenção, é gerado, por complementaridade, o Poder
Receptivo e negativo, dotado de energia polarizada, a substância sutil, pronta para ser
fecundada pelo Poder Ativo, recebendo-o, contendo-o, delimitando-o e criando com ele
tudo que se manifesta. Da interação destes Poderes nasce toda a Criação e suas infinitas,
múltiplas formas; a este princípio interativo ou conjunctio chamamos o Logos, na
linguagem Teosófica, o G.A.D.U. – O Grande Arquiteto do Universo. Se chamarmos Espírito
ao primeiro princípio, e Substância ao segundo, teremos que a união do Espírito e da
Substância gera a Vida que se Manifesta em múltiplas Formas. Podemos exemplificar este
processo assim:

Yud He Vav He
Devido a este princípio, as letras hebraicas Yud – He – Vav – He compõe o Nome de
Deus, porque indica que Esse Imponderável, que significa toda a informação inteligente do
universo, mais sua energia ou substância, mais o poder criador que pulsa animando tudo
que existe, se manifesta de acordo com o princípio descrito pelos quatro componentes.
Como o quarto elemento simboliza a forma resultante de cada processo, os três primeiros
representam a essência da criação, A Trindade, que é símbolo da Divindade em todas as
culturas.
As quatro letras hebraicas que sintetizam o fenômeno da criação de tudo que existe,
são, em essência, o Verbo criador, imanente em todo universo. Há muitas formas de
pronúncias para esse Nome, onde a mais conhecida é Yaveh, como vemos na Bíblia, que se
deriva para Jeovah. A forma Yaveh do Nome de Deus provém da contração Iud – He que
compõe a parte Yang ou ativa do nome, e Vav – He, que compõe a parte Yin ou reativa,
feminina, do nome. Sua pronúncia é utilizada no caminho da Kabalah prática e é dotada de
grande poder realizador. Tudo que acontece no mundo fenomênico obedece a esse modo
de criação. Podemos exemplificar de muitas formas este postulado: Eis algumas bem
simples:

Pai → Mãe → Gestação (Filho) → Forma do Filho


Idéia de um Objeto → Material → Confecção → Objeto Criado
Energia Elétrica → Lâmpada → Luz → Ambiente Iluminado
Intenção → Recepção → Interação → Situação Criada

Esse postulado embasa o conceito de um princípio masculino – Deus Pai – que fecunda
o princípio feminino – Deusa Mãe – para gerar a natureza, o universo, o homem – Deus
Filho– o advento que possibilita as condições para que se desenvolva A Vida
Manifesta neste ou em outro plano de existência. Joseph Campbel,
em O Poder Do Mito ilustra maravilhosamente essa idéia, demonstrando como a idéia da
existência de um Deus Pai e de uma Deusa Mãe é representada por simbolismos adotados
em diversas culturas, das mais desenvolvidas às mais primitivas, sob formas diversas,
matizadas pela linguagem simbólica de cada cultura.
O Conjunctio, ou a relação entre o masculino e o feminino é simbolizado em muitas
culturas como princípio da divindade. Os deuses do panteão hindu são representados com
sua respectiva consorte, como Shiva e Adishakti. No budismo, o Guru Vajradara, Lama
supremo, é representado em abraço sexual com sua consorte, simbolizando o poder
criador da interação entre o aspecto masculino e ativo e o aspecto feminino e receptivo,
que neste caso indica a união do espírito iluminador e da mente em estado receptivo, de
vacuidade, como exemplo ou referencial para aquele que busca a vitória sobre a ilusão,
sobre o sofrimento. O Linghan indiano simboliza o mesmo princípio, como veremos no
Arcano III, assim como a flor de Lis. O falo e a vagina unidos são um símbolo manifesto
desse princípio, da mais elevada sutileza.
O Espíritofecunda a Substância – a informação inteligente fecunda a energia.
Não poderíamos imaginar a existência do espírito, enquanto essência sutil da vida, ou
melhor, utilizando o conceito rosacruciano – o espírito enquanto a inteligência imanente
em toda a coisa existente, ou energia formatada – sem que ele penetrasse a substância e
nela gerasse, criativamente, interativamente, a multiplicidade da forma. Esta concepção
ancestral da Criação pode também ser expressa da seguinte maneira:

1 3 4
2
Princípio Ativo Processo Criador Coisa Criada
Princípio Receptivo

1. O Princípio Ativo pode ser relacionado com toda Energia que estrutura, anima e
alimenta tudo que existe o mundo visível. É o grande Yud, que pode também ser
representado pelo ponto no sentido em que este expressa o potencial concentrado de
irradiação positiva, como um núcleo atômico, como o Sol no nosso sistema solar; também
refere-se à idéia anterior a qualquer forma, como afirmou Platão; é o Pleno de Potencial, é
a polaridade positiva da energia, é Yang e pode ser entendida como Mônada. É o primeiro
hexagrama do I Ching, O Criativo.

2. O Princípio Receptivo pode ser relacionado com toda substância que recebe o
influxo, e é necessariamente Vazio, oco de energia, mas pleno de potencialidade, como um
ovo sem gema, um como uma célula sem núcleo, como um átomo sem o núcleo
agregador, como o sistema solar sem o sol, se é que isto é possível no universo
compreensível. É a polaridade negativa da energia, dotada do poder atrativo e da
fecundidade, é o 1º He, é opoder yin. É o segundo hexagrama do I Ching, O Receptivo.
Quando 1 e 2 entram em contato, sendo esse instante imponderável e imerso no mais
sutil e abstrato da compreensão da vida, temos representado o binário. Nosso universo
conhecido é irrefutavelmente construído sobre binários: luz/sombra; cheio/vazio;
espírito/matéria; expansão/contração; dia/noite; masculino/feminino; bem/mal; sim/não;
positivo/negativo. “Os opostos se atraem”, não existem isoladamente, e estando em
contato, interagem pela poderosa instabilidade da junção, até que se fundem, se
equilibram e resultam em um processo interativo neutralizado. O espermatozóide, cheio de
energiayang, mas incompleto em si, navega desesperadamente em direção ao óvulo cheio
de energia yin, ou melhor, vazio de Yang e portanto cheio de possibilidade de vida, mas
que também é incompleto para a vida, em si mesmo. A fusão do conteúdo genético dos
dois e as condições geradas em torno deles cria um ser em desenvolvimento, que após
todo o processo de interação e maturação nasce para o mundo visível como uma nova
Criatura. Assim também tudo é emanado, criado, formado e feito no seio de Deus que é
tudo isso mais Ele mesmo, que está além da existência do que conhecemos ou
imaginamos.

3. A Criação, o processo Vav, interativo e gerador de tudo que existe. As polaridades


se atraem, interagem até a neutralização, o equilíbrio. Toda natureza física e metafísica
busca o equilíbrio dos opostos. O elemento positivo e o elemento negativo, atraídos um
para o outro entram em interação de forma a compor uma unicidade, sem perder, todavia,
sua natureza íntima. Enquanto interagem, mantém viva a unidade que compõe e a tornam
capaz de gerar incessantemente a própria forma. Vemos um pedaço de madeira que se
mantém existindo durante um período de tempo sobre a terra. Ali estão prótons e elétrons
interagindo incessantemente de forma a compor os átomos que se agregam em moléculas
cujo conjunto percebemos como madeira. No mundo psíquico também mantemos nossas
situações de acordo com elementos ativos e receptivos em nossa mente. Intenções,
necessidades, desejos compõe as forças mais visíveis em nossa psique, movendo e
nutrindo constantemente nossa experiência de vida. Toda tensão psíquica busca
incessantemente a saciedade neutralizadora. Esta é a força da trindade, que permite a
criação de todas as coisas em todos os níveis vibratórios. O processo criativo é
representado pelo triângulo místico, tendo a neutralização como resultante do conflito da
energia do binário. O estágio criador é também visto no símbolo do círculo com o ponto ao
centro, símbolo da célula, do átomo, do sol: este é o símbolo da unidade da Vida há
milênios na terra. Hermeticamente, representamos o triângulo do Poder Criador do
Universo de duas maneiras:
Acima temos a representação dos dois grandes triângulos criativos: O triângulo
descendente, ou involutivo, que representa binários de um plano sutil neutralizando-se em
direção ao plano mais abaixo – manifestação do processo coagula; e o triângulo evolutivo,
onde binários de um plano mais denso se neutralizam em direção aos níveis mais sutis –
manifestação do processo solve. O Triângulo Ascendente tem a natureza Yang, opera de
forma ativa, como ação da vontade no mundo físico, é ligado ao Fogo; O Triângulo
Descendente opera pela da ação de forças dos níveis sutis, que nominamos Vontade
Divina, e que percebemos como que vindo sobre nós, por isto essa recepção é passiva,
portanto de natureza Yin, ligada à Água.
De forma ampla, podemos dizer que toda criação, do Mundo Sutil ao energético e ao
físico, obedece ao primeiro movimento. A intenção inteligente toma para si a substância e
adquire forma. A matéria é energia manifesta. O segundo movimento, do mundo físico ao
sutil, descreve o processo dinâmico de neutralização de binários fenomênicos em direção à
essência. Uma tempestade que cai dissipa a tensão atmosférica. Uma flor que desabrocha
cumpre um papel no ecossistema e desaparece. Assim também, o esforço que os seres do
mundo físico fazem por crescer na escala evolutiva, resolvendo conflitos através do
processo cognitivo e criativo é um triângulo evolutivo. O exercício equilibrado da faculdade
de livre arbítrio obedece ao triângulo evolutivo. A escolha define um caminho, que leva a
uma finalidade. Um desejo gera uma tensão que se dissipa ao se obter a satisfação, da
qual resta uma experiência interna (ponto neutro). Inúmeros exemplos podem ser
pensados. O fato é que todo Universo se equilibra entre os dois movimentos criadores.
Podemos afirmar que há Causas (+) e Condições (-) que Interagem, resultando em
Efeitos (N), tanto do sutil para o denso, quanto do denso para o sutil. A criação de
situações na vida cotidiana de uma pessoa obedece esse padrão. Um conflito interno não
resolvido (um karma negativo, por exemplo), acionará forças inconscientes na direção de
um tipo de experiência, de forma a se obter um aprendizado, uma liberação. Dons e
atributos positivos atrairão situações de qualidade positiva de forma a se dar experiências
gratificantes. Por outro lado, atitudes positivas gerarão estados mentais positivos e
elevação do nível vibratório da pessoa. Podemos ver isto refletido inclusive no desempenho
do nosso corpo físico.

4. A Manifestação, o quarto componente do Tetragrammaton, pode ser explicitado


pelo quadrado, que representa o que é visível na dimensão do que está realizado. Na
matéria, no cruzamento das abscissas temos o dimensionamento de todo e qualquer
objeto possível. As três dimensões – largura, comprimento e profundidade nos oferecem a
possibilidade de ver, tocar, enfim, perceber qualquer volume. Quatro elementos
fundamentais são necessários para compor qualquer corpo material – Fogo, Terra, Água e
Ar. O quinto elemento, éter ouespaço é o elemento sutil no qual atua a energia
imponderável que mantém as demais agregadas e em funcionamento. Espírito é o nome
hermético dessa energia, que é onipresente.
Quando o Espírito “Deus-Pai” deixa a Matéria, ela é devolvida à “Deusa Mãe” –
Substância, para desagregar-se e retomar outras formas sob novos comandos sutis. Nosso
corpo físico (como o de qualquer ser, objeto, ou componentes da natureza) é composto de
átomos que já fizeram parte de qualquer coisa que se possa imaginar; uma folha de couve,
peixes, aves, quem sabe, dinossauros ou rochas do princípio dos princípios... No entanto,
quando a energia de espírito deixa nosso corpo, ele é decomposto para vir a servir de
substância para outras formas de vida. A representação do quarto estágio da Criação
também pode ser feita através do Cubo, que veremos, foi amplamente utilizado nos
arcanos do Tarot. Mas a representação talvez mais antiga e tradicional, embora poucos a
entendam como tal, é a da Cruz de braços iguais, ou a Cruz Solar. Também ela é
amplamente utilizada nos Arcanos do Tarot, e são muitas as formas encontradas para seu
emprego simbólico, ligadas às Escolas da Tradição hermética no Ocidente e no Oriente.

Toda criação segue o esquema tetragramático, fisiologia pura do processo criativo que
vem se repetindo desde tempos sem início. A repetição do processo cria tudo aquilo que se
manifesta, e a consciência humana, como uma criança no universo, vai aprendendo e
evoluindo com a dança da criação. Por isto, a cada Tetragrammaton corresponde um
ponto, que simboliza o seu significado, a quintessência daquilo que se manifestou.
Podemos representar esse processo assim: Yud – He – Vav – He.
O quadrado com um ponto no meio tem esse significado. Mas outros símbolos existem,
e a representação mais antiga, talvez, seja a Sagrada Ank, ou Cruz Ansata dos egípcios.
Ela representa a consciência que se desenvolve sobre a cruz da vida na matéria; também
com esse sentido existe a Cruz Rosa-cruz, onde a rosa no centro da cruz representa a alma
humana evoluindo na matéria. Os quatro braços da cruz simbolizam os quarto elementos,
os quatro pontos cardeais, as quatro virtudes herméticas, os quatro elementos alquímicos,
etc. (de acordo com G. O. Mebes, temos duas grandes interpretações para o lugar dos
elementos na Cruz Solar, como veremos no capítulo do Imperador). Do ponto de vista
hermético, não há sentido para a cruz com o corpo do Cristo pregado a ela; isto significa
um corpo atado à matéria, onde ele já está de fato. A triste imagem do Cristo crucificado é
uma meta-linguagem que apenas proclama o padecer físico e aliena o sublime sentido do
próprio sacrifício da vida de Jesus para a Imortalização da Obra do Messias. A cruz é um
símbolo hermético muito anterior ao cristianismo.
O Tarot como Oráculo:
a Cruz Solar e o Tetragrammaton
Joana Trautvetter

A criação segue seu curso, e por isto a cada ciclo Yud – He – Vav – He se segue um
novo ciclo, e assim temos a passagem do tempo ao longo dos processos. O tempo nada
mais que nada mais é do que uma seqüência, percebida pela mente, de ciclos de
acontecimentos que sucedem uns aos outros. A sucessão dos processos se dá de forma
entrelaçada, onde o final de um ciclo origina outro. Assim, temos que o 2º He de uma
situação fato ou experiência se torna o Yud de um novo ciclo. Isto se representa da
seguinte forma:
Yud – He – Vav – He / Yud – He – Vav – He / Yud – He – Vav – He / Yud...
A cada ciclo chamamos de Família. A Primeira Família que gerou tudo o mais é um
mistério que estudaremos no capítulo da Árvore da Vida. Se utilizarmos, para meditação, o
processo indutivo da mente podemos visualizar, por
intermédio da relação de causa e conseqüência, o
processo que antecedeu a qualquer fato físico ou
psíquico. Aplicando o conhecimento do Iud – He – Vav
–He, podemos encontrar as famílias anteriores ao que
se dá no momento e a partir de um fato presente
qualquer, podemos retroceder no tempo e alcançar
uma percepção da origem de tudo que já existiu e
existe como um ponto imponderável e sutil. Yud - He - Vav - He
Se, por outro lado, tomarmos uma situação atual e www.sacredhandpublishing.com
avançarmos na reflexão sobre seu desdobramento, por
meio do processo dedutivo da mente, poderemos avaliar as possibilidades futuras,
aplicando o esquema Iud – He – Vav – He.
Se considerarmos que o Poder Yud atrai para si um He complementar (Lei da
Complementaridade), assim como o próton atrai o elétron, teremos facilidade de avaliar
perspectivas claras. O ponto que representa a quintessência estará implícito em cada
família, e representa o marco de aprendizado, a gestalt que se fecha em cada etapa da
experiência.
Naturalmente, tanto um processo quanto outro tropeçam na questão das variáveis
intervenientes em qualquer acontecimento, incluindo, no caso de avaliação de situações
futuras, o livre poder de escolha de cada consciência ao direcionar sua experiência de vida.
Para um meditador alcançar com clareza a avaliação da seqüência dos acontecimentos pela
reflexão profunda, é necessário que ele tenha acesso aos domínios mais sutis da mente,
libertando o poder intuitivo que reside no inconsciente, para além da fabricação dos
pensamentos condicionados e influenciados pelas aparências externas das coisas. Por isto,
embora seja possível desenvolver essa capacidade independentemente de qualquer
procedimento externo, a utilização de um bom oráculo é um auxílio poderoso, pois canaliza
os dotes inconscientes por meio do próprio influxo energético sutil da pessoa, projetando-o
nos símbolos construídos para tal fim.
O Tarot é o mais completo oráculo de que dispomos. Construído a partir de arquétipos
profundamente identificados com o inconsciente coletivo e se traduzindo por uma
simbologia viva no organismo psíquico individual ao longo de milênios e com incrível
atualidade, o Tarot dispõe de uma flexibilidade única, adaptando-se a qualquer
investigação que se pretenda realizar. Desde que se tenha o domínio do Tetragrammaton,
o buscador não terá como se perder na avaliação das situações, por mais complexas que
pareçam. No capítulo sobre o Arcano XVII, a Estrela da Magia, estudaremos outras formas
oraculares. O Tarot é visto pelo grande mestre suíço Oswald Wirth como uma “ máquina de
filosofar”. Na verdade, a aplicação do Tetragrammaton nas aberturas de Tarot permite a
reflexão sobre situações das mais simples às mais complexas, mesmo existenciais e
espirituais profundas, de grande utilidade na evolução da consciência.
O Tarot Hermético aplicado como oráculo, segue, indefectivelmente, o esquema Yud –
He – Vav – He – Ponto. Em situações de desdobramento mais longo, o esquema pode ser
aplicado, mas não se recomenda avançar além da quarta família, justamente devido à
questão do livre arbítrio. A consciência se transforma, e o Iud de uma quinta família
poderá estar totalmente transformado com relação ao Iud presente e pelo livre arbítrio, os
atores envolvidos poderão dar rumos completamente novos a cada situação.
Cabe, neste ponto, uma observação preciosa para aqueles que desejem aplicar o
oráculo, especialmente para orientar outras pessoas. É de fundamental importância que
um operador do oráculo tenha um trabalho autêntico e profundo consigo mesmo, no
âmbito do autoconhecimento, do equilíbrio emocional e do desenvolvimento interior no
sentido da libertação do poder intuitivo da mente. Cada operador corre o risco de projetar,
no momento da interpretação do oráculo, seus próprios medos, desejos, bloqueios e
condicionamentos. Se ele não investe no autoconhecimento e não trabalha o equilíbrio
emocional não estará apto a avaliar situações de uma outra pessoa, já que não dispõe do
desprendimento psicológico necessário para isto. Por isto, um terapeuta precisa, antes de
mais nada, passar ele mesmo por um processo profundo de análise. Assim também um
operador do oráculo precisa primeiro buscar a clareza de seu mundo interior; então poderá
contemplar o do outro.
Por outro lado, o poder intuitivo da mente é o caminho para a verdadeira sabedoria interior e
sua atuação depende de uma prática consistente de relaxamento da mente ordinária. Este não é
um caminho difícil, mas exige muita dedicação e prática. Nossa mente é poderosa e é treinada
intensivamente para estar atenta ao mundo externo; além disso, nossos medos, frustrações e
dores profundas, alojadas em nosso inconsciente, levam a mente ordinária a fugir do olhar
interior, mas estão prontos para se misturar às nossas percepções e interferirem no fluxo
intuitivo autêntico. Por isto, é fácil confundir um medo ou desejo com intuição e é fácil e
recorrente projetar sobre o outro nossos clichês pessoais, sem nos apercebermos disso.
Ao estudarmos, na parte sobre astrologia, o planeta Netuno, veremos
que o mesmo canal do fluxo intuitivo é também o canal da inspiração. De
forma sutil, a inspiração se manifesta sob forma de fantasias, em sua
essência, riquíssimas e criativas. Um organismo psíquico livre de
bloqueios, preconceitos e recalques atuam com estes canais de forma
maravilhosa, nos domínios da arte, da espiritualidade e da sintonia
Glifo de harmoniosa com a sabedoria do universo e da manifestação de forças sutis
Netuno na natureza dos acontecimentos.
Os acontecimentos são anunciados por sinais, que se fazem sentir nos níveis sutis de
vibração e uma mente aberta é capaz de perceber estes sinais e integrá-los em uma
percepção clara e sábia. Para alcançar esse estado de sintonia interior e conectar nossa
consciência à sincronicidade que permeia todos os eventos sutis e densos que constituem a
experiência, é preciso trabalhar nosso mundo interior incessante e incansavelmente. Se
alguém não tem ainda esse poder desenvolvido, deve, em primeiro lugar buscá-lo com
todas as forças e trabalhar com o oráculo, em um primeiro momento, de forma a conhecê-
lo, compreendê-lo e aplicá-lo em assuntos pessoais. Esse caminho leva anos.
É perigoso demais para o Karma pessoal interferir em interpretações e decisões de
outras pessoas, e por melhor que sejam as intenções, o que parece bom para alguém pode
ser um desastre pessoal para o outro. O dano que podemos causar é grave e
responderemos por ele, em algum momento de nossos caminhos, pela ação do karma. Por
isto, além de todos os cuidados mencionados, que visam a autenticidade da interpretação
oracular, o operador do oráculo deve, acima de qualquer coisa, evitar decidir pelo outro ou
direcionar de forma pessoal sua decisão. O verdadeiro oráculo respeita, acima de tudo, o
livre arbítrio. Deve ser usado para esclarecer, auxiliar a compreensão e a auto-avaliação,
dentro dos episódios da experiência, mas jamais induzir a posturas que não sejam
autênticas para a pessoa que consulta.
Por fim, é preciso, para um bom operador, que ele seja dotado da autêntica compaixão,
que pode até ser dura com aquele que consulta, mas que tenha o firme propósito de
auxiliar a pessoa a crescer, a se tornar um ser humano melhor, a ser ele mesmo, uma vez
que é uma criatura de Deus com qualidades, dificuldades e caminhos pessoais, integrados
aos propósitos evolutivos do universo. Não é fácil manter uma postura assim desprendida,
pois a maior parte das pessoas que procuram o oráculo está em busca de alívio para as
aflições do caminho e de forças para prosseguir. Querem ouvir o que imaginam que seja
bom para eles, e é preciso muita força para mostrar a verdade e que o único caminho para
a felicidade é o da vitória sobre nós mesmos, em nossa ignorância, condicionamentos
equivocados e venenos mentais. É preciso ter uma visão clara que a geração do sofrimento
é interna e que toda situação pode ser mudada quando nos empenhamos de forma positiva
no crescimento interior.
O operador também enfrenta a dificuldade com a ignorância sobre a função oracular,
onde se espera que o oráculo adivinhe situações como se elas estivessem escritas em um
destino inexorável, engendrado por um estranho Deus, que se diverte em distribuir
venturas e desventuras. Interessante lembrar que adivinhação é um termo que deriva de
divinação, termo originado de Divinatio, ou Ato Divino. O oráculo se propõe a avaliar o Ato
Divino que é a própria essência da criação, onde está a natureza humana evoluindo. O
universo opera por leis inteligentes e harmoniosas; conhecê-las e aplicá-las implica em
conhecer o Divino Ato em tudo que existe e acionar a Graça Divina na vida de cada um de
nós, pela acumulação de méritos e crescimento interior. O verdadeiro oráculo foi criado
para isto. Muitos são os oráculos; mas veremos que o Tarot Hermético, nas mãos de um
operador esclarecido, é autêntico.

A Cruz Solar
Para efeito de interpretação dos Arcanos, aplicaremos o Tetragrammaton, como
veremos, em formas diferentes, de acordo com o propósito da abertura, o que depende do
tipo de questão que temos pela frente e do nível de abordagem. Da mesma forma que o
Universo é Criado, ele continua a ser gerado, nos mínimos detalhes, seguindo as mesmas
leis – por isto, não existe nenhuma forma de praticar aberturas oraculares de natureza
hermética, que não siga esse esquema. Mesmo o Mandala Astrológico, que em um primeiro
momento parece ter uma estrutura diferente, opera de acordo com esse princípio.
Para iniciar, estudaremos a Cruz Solar, que é a forma mais simples de abertura do
Tarot. Para isto, utilizaremos quatro Arcanos que representarão os quatro poderes das
Letras do Nome de Deus. Nesta prática, se entende que tudo que acontece no mundo, seja
o desenvolvimento de uma situação, um acontecimento qualquer, a realização de qualquer
coisa, pode ser simplificado em seus componentes primários Yud – He – Vav – He,
cumprindo a lei da analogia, onde o Macrocosmos se reflete no Microcosmos. A Cruz Solar,
portanto, opera com uma única família, sintetizando os princípios fundamentais da situação
investigada.
Vale a pena salientar que não existe nenhuma consulta oracular autêntica com um
número de cartas inferior a 3. Retirar um Arcano para se ter uma mensagem pode ser
inspirador, mas não quer dizer nada do ponto de vista oracular. Precisamos entender, no
mínimo os princípios ativo e receptivo de uma situação, assim como das possibilidades de
interação criativa entre esses princípios, para ter uma “frase” oracular que permita um
avaliação mínima, mesmo para se refletir sobre um momento.
O Iud revela o princípio ativo da questão; o He revela as condições que o princípio ativo
enfrenta, mesmo que em nível interno, psíquico; o Vav revela a interação entre os dois,
conflitos e complementaridades, a possibilidade de acontecer algo entre esses dois
princípios. Podemos ter um grande Yud e um receptivo He, mas não há interação possível.
Tomando um exemplo bem prático, posso ter um magnífico cão e uma gatinha fértil, mas
não haverá possibilidade de cruzamento entre os dois. Para uma mente muito bem
treinada, pode ser suficiente lidar com esses três dados, pois será capaz de inferir
resultados possíveis a partir dos elementos fornecidos em três casas. O quarto elemento,
porém, o 2º He, revela a perspectiva do tipo de resultado que se pode obter nessa
situação, e é importante lembrar que o oráculo é capaz de captar interferências
inesperadas que escapam à mente mais perspicaz. Deixar uma interpretação ao sabor da
intuição pode ser perigoso, como já vimos.
A Cruz Solar trabalha com cinco casas: a posição de número 5 é adotada nesta
abertura para identificar qualidades da experiência interior (quintessência) da situação
analisada. Considerando que o desenvolvimento da consciência superior é o propósito
fundamental de toda experiência, a carta 5 é a essência do significado da situação e de
forma hermética, podemos dizer que ela indica o que na verdade, nos leva a essa
experiência; a força sutil que nos encaminhou para esse tipo de situação.
O Arcano da quintessência pode também ser encontrado pela soma cabalística dos
valores numéricos dos Arcanos componentes da família. A soma cabalística é obtida
somando os algarismos do número final e extraindo os nove de forma a ter um número
abaixo de 22. Considero, pela prática, mais inspirador escolher a quinta casa, pois oferece
mais condições de manifestação das forças inconscientes que operam. Podemos, além de
escolher uma lâmina para a quinta casa, fazer a soma cabalística das quatro primeiras e
meditar sobre ela, pois sempre há uma chave nessa mensagem. A abertura da Cruz solar é
sfeita considerando-se como casa 1 a primeira carta escolhida por quem pergunta; casa 2
a segunda, e assim por diante – consultar abaixo a orientação sobre o procedimento para
abertura do Tarot. Eis o esquema da abertura:

1. Princípio Ativo, Yud: Representa a qualidade da idéia e a força da intenção de


quem consulta, é poder ativo da questão, o ponto de partida para a experiência. O Arcano
que aparece nessa casa se refere à pessoa base, fonte da pergunta, e indica a adequação
ou não do que se pergunta.
2. Princípio Receptivo, 1º He: Qualidades do objeto da pergunta com relação à
capacidade de responder à intenção da casa 1. O Arcano que sair nesta posição indicará a
qualidade do cenário a que a pergunta se aplica. O cenário pode ser uma pessoa. Se
perguntarmos sobre um relacionamento, essa carta indica a disponibilidade da pessoa
objeto da pergunta para responder aos anseios da pessoa da casa 1.
3. Processo, Vav: Características possíveis da interação de 1 e 2; favorabilidades e
dificuldades do processo ou do caminho da situação. O Arcano que aparecer nesta posição
vai indicar qualidades da relação entre a pessoa da primeira casa e a pessoa (ou contexto)
da segunda, no âmbito do que foi perguntado.
4. Resultado Visível, 2º He: Resultado potencial físico, prático, visível da situação;
5. Resultado Sutil, O Ponto de Mutação, a Quinta Essência: Experiência Interna
obtida a partir da vivência do processo como um todo. As inferências interiores sobre a
experiência condicionarão o desenvolvimento da situação da pessoa que perguntou para o
futuro.
É muito importante praticar a Cruz Solar para situações bem simples, corriqueiras, de
maneira a refletirmos profundamente em busca da compreensão dos significados
essenciais de cada casa. Entender o que é Yud em uma situação, o que é He, o que é Vau.
A prática habilitará o operador a analisar situações mais complexas, e tudo que se queira
perguntar pode ser resumido a este incrível esquema.

O Procedimento para as Aberturas


No início do processo, o operador embaralha o Tarot, utilizando a mão direita para
movimentar o maço e a esquerda para dar suporte. A face das lâminas deve estar voltada
para a palma da mão esquerda e o movimento é feito da direita para a esquerda, em
direção contrária ao “fluxo do tempo” (esquerda para a direita), ritualisticamente, isto
sindica a intenção de busca do conhecimento do futuro.
Enquanto isto, o consultante deve visualizar a situação sobre a qual vai consultar da
forma mais clara possível, procurando construir na mente um quadro onde está a própria
pessoa e/ou as outras pessoas envolvidas, o cenário, o contexto, aquilo que se deseja que
aconteça, etc.. Então a pergunta deve ser formulada ao oráculo de forma clara e simples,
se possível em uma frase muito curta. Deve-se excluir perguntas tipo: é isto ou aquilo,
pois causam confusão na resposta. Quanto mais clara a interrogação que se tem na mente,
mais simples se faz a sua formulação. Quanto mais simples e direta a questão, melhor o
oráculo vai respondê-la. Jamais se deve pensar em duas ou mais situações em uma
pergunta. Imaginemos que se lança um pensamento como uma seta em busca de um alvo:
a resposta de que se precisa. Se houver mais de um alvo, deve-se lançar mais de uma
seta, mas uma por vez. Pergunte-se uma coisa de cada vez, jamais colocando a
palavra se no meio.
Deve-se Manter a perspectiva de que há uma situação e um desenvolvimento provável,
ou seja, há um passado, um presente e, certamente haverá um futuro. Veremos no Arcano
VIII que, se há uma coluna à esquerda e Ártemis (o princípio equilibrante) no meio, haverá
a coluna da direita. Pela Lei do Karma e pela Lei da Evolução, se algo vem se
desenvolvendo, está havendo um momento atual e haverá uma projeção futura. Os
acontecimentos não nascem necessariamente de acontecimentos visíveis. O que se passa
na mente das pessoas, seus sentimentos e emoções são poderosas forças que operam de
forma a criar contextos que se expressam sob forma de acontecimentos no plano
mundano.
E não nos enganemos, o que se passa na mente de uma pessoa cria um forte turbilhão
astral que, embora invisível, vai operar sobre a mente de outras pessoas e vai influenciar a
criação de situações que respondem com perfeição ao verdadeiro padrão de energia que
está sendo emitida. Muitas vezes achamos que nossos pensamentos são meras
formulações vãs. Não são. O universo se move por energias que não vemos e nossos
pensamentos são poderosos. Ás vezes achamos que estamos pensando de uma forma boa
e que logo a seguir coisas boas podem nos acontecer. Mas devemos saber que há uma
infinidade de pensamentos, emoções, desejos e atitudes anteriores, e às vezes, mesmo
nos posicionando de forma positiva, temos de enfrentar conseqüências meio difíceis
geradas em situações anteriores, antes de chegar ao mérito do que estamos gerando
agora. Este é o valor do oráculo, pois revela para nós o que está se passando em níveis
sutis que não somos capazes de perceber com nossos sentidos comuns.
Dentro dessa postura, se pede o conselho ao Mestre sobre o desenvolvimento do
pensamento formulado e se mantém em mente que o Mestre Interior do consultante, sua
própria infinita sabedoria, utilizará o oráculo para responder à sua questão. Podemos
afirmar que a dimensão oracular do Tarot opera ao nível do contato do inconsciente do
consultante com formas arquetípicas dotadas de sabedoria, para que a escolha das
lâminas, aparentemente casuais, expressem uma mensagem inteligente, intencional e
direcionada. É neste momento que entra em cena o operador, como humilde intérprete da
linguagem do oráculo, com a qual ele deve ter um cuidado, um desprendimento e um
respeito infindos.
Toda atenção deve ser dada ao procedimento inicial. O consultante deve respirar e
pousar a mão esquerda sobre o baralho (posição do corte), colocando toda a intenção da
pergunta, sob forma de energia mental, no baralho. Em seguida, faz o corte, passando a
energia para as cartas e, ao soltar o baralho, dividido em dois montes sobre a mesa, soltar
também o pensamento formulado sobre ele e tirar tudo da mente, que deve ficar leve e
solta, sem estar dispersiva: apenas vazia.
O baralho será então distribuído pelo operador com a mão direita, em círculo, sobre a
mesa (começar na posição de 9 horas, à esquerda do operador, abrindo o círculo em
sentido anti-horário, sem deixar espaços em aberto. Esse é o sentido correto do Yud-He-
Vav-He (vide em “O Imperador”). Com a mão esquerda, o consultante escolhe
aleatoriamente as cartas, em número determinado pelo tipo de abertura (para a Cruz
Solar, são 5), colocando-as ao centro do círculo, uma sobre a outra, com a face voltada
para baixo. Após a escolha das cartas, o operador faz o movimento inverso para recolhê-
las, podendo usar a mão esquerda para auxiliar no fechamento, já que a abertura está
definida.
Pela mão esquerda, do inconsciente, flui a energia sutil. Pela mão direita fluem as
energias organizadas, mentais. Por essa razão, o operador utiliza só a mão direita, de
forma a não passar para o baralho os influxos do próprio inconsciente e o consultante
opera só com a esquerda, para fluir, sem interferência da mente racional, sua energia para
o baralho.

Introdução aos Arcanos Menores e aos Naipes


Joana Trautvetter

Os Arcanos Maiores representam os 22 Caminhos


Psíquicos entre as Sefirot da Árvore da Vida, enquanto
os 56 Arcanos Menores representam as próprias
Sefirot, recipientes, preciosidades, safiras, realizações
divinais, espirituais, astrais e físicas.
Do ponto de vista oracular, cada Arcano Menor indica
uma experiência, uma conquista, um fato astral cuja
manifestação já ocorreu ou que está em vias de
cristalizar no mundo fenomênico. Todo clichê astral
pode ser modificado, por isso não há “adivinhação” de
futuro, mas antes, uma análise de clichês que podem
ser modificados com o esclarecimento e com a
mudança interior de postura, mesmo os clichês mais
densos.
Os Arcanos não foram desenvolvidos com o objetivo
oracular, mas sim com a perspectiva de orientar as
iniciações vividas pelos neófitos nas escolas ocultistas.
Neste trabalho não aprofundaremos a abordagem
iniciática, mas que poderá ser apreciada em toda sua
profundidade com a leitura do livro que traz Tarot Joana Trautvetter
transcrições dos ensinamentos de G. O. Mebes, Os
Arcanos Menores do Tarot, para aqueles que
dominarem
a linguagem desse Mestre martinista, maçom e rosa-cruz.

A cartomancia

A cartomancia utilizou por séculos os Arcanos Menores sem contar com sua
decodificação hermética, devido ao obscurantismo do medievo, à destruição dos livros
antigos de sabedoria e à matança dos mestres que detinham conhecimentos mais
profundos sobre o conhecimento profundo de nossa origem, sobre o propósito de nossa
existência, sobre nosso poder realizador independente de credos e sobre o fato de que
somos os construtores do nosso caminho, à medida em que nos trabalhamos interiormente
para isso.
A sabedoria popular, imersa no inconsciente pessoal e coletivo se manifesta nas
abordagens aos símbolos com grande propriedade, mas despida da Gnose original. Daí
toda a influência cultural dessas práticas, que postulam a existência de um “destino” e
exilam, com tolerância de potentados que preferem seres dependentes e tementes, do que
mentes esclarecidas e atuantes, astralmente. A compreensão de que geramos nosso
caminho, ao trilha-lo, se perde no obscuro do medievo e nos torna pedintes de graça
divina, quando já a possuímos, em essência, somos seus executores, jamais seus
replicantes!
Portanto, a busca de análise de tendências sutis, em vias de manifestação, mas
passíveis, totalmente, de intervenção de nossa Mente Superior, Fruto Divino, é o
verdadeiro propósito da criação dos Arcanos Menores do Tarot, como caminho de
esclarecimento para que possamos formatar nossas experiências de forma cada vez mas
consciente e luminosa. Por este fato é que a abordagem hermética não considera a
existência de destino, mas sim da relação entre causa e conseqüência, que se
desenvolve de acordo com o esquema tetragramático.
Podemos dizer que no naipe dos Bastões, azilutiano, encontramos a formação mais sutil
de todas a causas de todos os demais processos de nossa existência. Para realizar em uma
vida ou em uma vivência, a experiência interior do ideal ou dos ideais a serem vividos esse
poder atua sobre nós de forma muitas vezes insondável, enquanto trilhamos os caminhos
dos três mundos subseqüentes, mais ao alcance de almas ainda não libertas dos véus do
fenômeno, que ainda não realizaram o estado búdico ou crístico. Por essa razão, muitas
vezes entendemos o porquê de experiências e episódios que vivemos nos demais mundos,
mais perto de nossa consciência como alma encarnada, só depois, por vezes, muito depois
dos episódios consumados em Azyiah, manifestação fenomênica. Por isso se diz que tudo
tem um sentido, nada está fora da perfeição da sincronicidade do Universo Inteligente,
emanação do Totalmente Harmonioso e Imanente.Essa é a diferença principal do emprego
dos Arcanos no hermetismo, o que difere profundamente da cartomancia, que avalia, em
seu alcance limitado a linguagem simbólica e sua relação com fatos, mas cujo emprego
popular é extremamente simplista, criando associações diretas dando-nos a impressão de
que o destino está “escrito”. Esse saber simplório, embora encontre grande relação com o
contato com o poder de manifestação do sutil, e seja mais assertivo com relação ao
passado, clichês já manifestos, é totalmente destituído do conhecimento da grande lei
hermética da atração universal (atraímos o que formatamos no nível astral – na mente e
no coração – Hod e Netzah, como aprendemos no Arcano XVII, A Estrela da Magia).

A Árvore da Vida

Vamos avaliar a aplicação oracular dos Menores à luz dos postulados de Mebes para
cada Arcano, e utilizando os ensinamentos de Z’ev Ben Shimon Halevi, quanto à estrutura
da Árvore da Vida. Na medida do possível, tentaremos entender o significado oracular de
acordo com seu significado hermético, e faremos uma correlação com as interpretações
das duas maiores linhagens de cartomancia, que surgiram na Europa a partir do século
XVII. Essas práticas, pelos registros correntes em nossa cultura, utilizam apenas parte dos
Arcanos Menores, dependendo da influência da cultura onde floresceu. Não utilizam o
pajem, nas linhas espanholas e não utilizam o cavaleiro, nas linhas francesas. Não existe
na cartomancia autêntica a utilização dos Arcanos Maiores, pois que seu conhecimento se
manteve velado pela igreja de Roma, como vimos no histórico do início do livro, e devido a
várias deformações dos Maiores, apenas poucos grandes buscadores, como Papus, Eliphas
Levi e depois, a Golden Down, puderam nos restituir fragmentos da compreensão deles, o
que encontramos com mestria no incomparável Mebes.

A Árvore da Vida, os Quatro Mundos


e as correspondências com os Quatro Naipes e as Figuras da Corte.

Os Arcanos Menores são 56 lâminas, divididas em quatro séries, ou naipes,


correspondentes aos quatro mundos da Grande Árvore da Vida. Esses naipes têm entre si
uma relação que opera de acordo com a dinâmica tetragramática Iud - He - Vav - He.
Neste esquema, os Bastões são Iud; as Taças, He; os Gládios, Vav e as Moedas, o
2ºHe. Mebes estabelece uma relação entre os Naipes e as quatro pessoas da Primeira
Família Rosacruciana.
O esquema acima pode ser aplicado a cada um dos naipes dos Arcanos Menores: as 10
esferas (sefirot) correspondem às cartas numeradas do Ás ao Dez. Cada mundo representa
uma das figuras: Rei, Rainha, Cavaleiro e Pajem. No conjunto de quatro árvores teremos,
portanto, quatro figuras em Bastões, em Taças, em Gládios e Moedas, compondo as
dezesseis figuras menores. Os quatro conjuntos completos de números de 1 a dez, para
cada mundo ou naipe, comporão as quarenta lâminas numeradas do conjunto de Arcanos
Menores.

Naipe dos Bastões ou Paus


Joana Trautvetter

O Bastão é a influência do Iud superior, o Amor Transcendental, que


se reflete em todas as Sefirot da 2ª Família. Bastões ou Paus, portanto,
representa o reflexo, nas almas, do Iud, poder do Amor Ativo,
descendente, que traz da fonte original da criação, para baixo, o poder e
o impulso realizador da natureza humana. O Bastão, como vimos é
associado ao elemento Fogo, que na astrologia é entendido como o
idealismo, manifestação do Fogo Divino, conexão com nossa origem
divinal, que impulsiona a criatura à ação.
Movido pela profunda e insondável necessidade de realizar em nossa consciência a
concepção original de nossa origem no seio da plenitude de infinita sabedoria, potencial,
poder e inteligência superior, o idealismo do Fogo divino é a centelha fundamental que nos
impulsiona na senda evolutiva, expressão máxima do Legado do Amor de Deus por todos
os seres e pelo universo que emanou de Si.
A Mônada Divina insufla em nosso veículo animal a construção do corpo adamantino do
Ser Humano em sua concepção luminosa original, dotado de consciência, poder criador e
infinito amor, emanado como Idealismo e Fé. Este é o elemento transmutador, que nos
impulsiona por meio do desejo de afirmação em ideais elevados, onde por fé, por
convicção, por necessidade de expansão, a criatura se move para além de si mesma e de
seus limites. O Bastão do Poder Divino do Fogo nos insufla a capacidade de Ousar,
a primeira virtude hermética. O naipe dos bastões compõe as dez sefirot e os quatro
poderes (as figuras), do Mundo da Emanação, Azilut.
Os Arcanos deste naipe indicam os estágios de desenvolvimento do poder realizador das
situações que se apresentam, no prisma de sua conexão com ideais verdadeiros, a única
fonte de poder que temos sobre a Terra, o mundo manifesto. Quanto maior a conexão
com esta fonte azilutiana, que não é consciente, é como uma chama que arde em nosso
âmago, maior o poder realizador que teremos em nossas experiências como filhotes
divinos em evolução.

Naipe das Taças ou Copas


A Taça é o reflexo do primeiro He, que representa a Vida
Transcendental. É caracterizado pelo Amor atrativo, de natureza
receptiva, em direção à união, entre os seres, entre tudo que existe, e
em essência vital, vivido entre nós, nos abre, como o ventre feminino, a
Alma Divinal, para o ideal divino, à essência masculina, o Espírito
Divinal, que nos fecunda e preenche, cujo impulso é ascendente, flui
na direção da elevação da consciência a essa possibilidade criadora
e fecunda.
As sefirot de Taças ou Copas representam o poder receptivo da
natureza humano aberto ao influxo divinal, experimentado como
amor
do coração e acompanhado do sentimento de plenitude que reporta a alma humana,
encarnada na terra, ao estado de êxtase original, quando nos encontrávamos todos
imersos no grande útero de Deus, em sua face feminina, nutridora e plenificante. É o Graal
da simbologia arturiana, a taça pronta para receber o influxo fecundo do Amor
transcendental. Por isso, quando estamos amando, temos a impressão de que estamos
vendo a Face de Deus na criatura amada.
Experimentamos o Amor desde nossos estágios mais primitivos de existência. Por mais
que isto tenha o poder de nos causar imensa dor, é por seu intermédio que caminhamos
diretamente para a plenitude. Sem o Amor, receptáculo do Idealismo, a alma não tem
como evoluir, e em verdade, não existe divindade fora do Amor, seja em que nível se
manifeste, se no familiar, fraternal, romântico e no amor pelo trabalho, pelo ideal, pelos
mestres, pelo saber, e, finalmente, o Amor Maior, o Amor Compassivo, onde realizamos
que somos o outro, somos um com todos e tudo que se passa no seio da humanidade está
em nós mesmos. É o sentimento que mais nos eleva, e por isso, sua realização em nosso
coração, chacra da união com o divino é o ponto de partida para toda e qualquer
experiência real da alma de união com o Pai/Mãe de onde viemos. O êxtase da alma
entregue ao amor, quando encarnada, é o reflexo do êxtase do espírito integrado ao Todo.
O êxtase da experiência de amar no chacra base é o sabor original que a alma
encarnada retém, da plenitude do êxtase espiritual, de infinita integralidade, é sua
memória, seu legado, o presente que Deus nos deu, para apontar sempre o caminho de
volta ao seu coração, o âmago de nós mesmos, seus rebentos no Universo com que Seu
Amor nos brindou para evoluir. Somos todos crianças nesse berço, sem exceção. A dor,
porém, que essa dimensão evolutiva nos causa, pois que, distantes desse berço, ansiamos
por ele e nos arrebentamos nas experiências fenomênicas, envenenadas pelo mental
inferior, é responsável por todos os desvios, deformações e patologias, que, por vezes, nos
colocam à deriva do verdadeiro caminho evolutivo.
Mas acovardar-se diante dessa possibilidade de dor, entrar pelo caminho do escapismo,
hipocrisia ou represamento do se dar incondicionalmente ao amor é morrer
espiritualmente. Fechar-se a esse magnífico, mas assustador sentimento, é romper com
Azilut, ao qual não acessamos diretamente, já que o nosso alcance, como almas
encarnadas só chega até Beriah, domínio desta experiência, amar. Todo amor é beriático,
mesmo que em seus estágios primitivos venha carregado das sombras dos apegos, desejos
carnais e de disputas de poder. Estas características se devem ao estágio mais sombrio do
desenvolvimento, só surgiram quando entramos no mundo intelectual dos naipes
seguintes, quando descemos, ancestralmente, na Árvore da Vida, em direção à experiência
manifesta, ao sabor de nossa condução. Nosso Pai/Mãe nos deu Essência, Poder e
Condições. Sabíamos que aqui, nos planos densos, iríamos enfrentar sombras insondáveis.
Mas escolhemos desenvolver o Conhecimento e nos tornamos os Anjos de Asas Partidas.
Agora, só temos um caminho, o de construir nosso retorno à plenitude, portando em
nossos espírito o que viemos buscar: a Sabedoria. Mas não há como a realizar, senão
abrindo nossas almas ao Amor.
Ali estão, nos Gládios, mundo mais denso que este, Yezirah, o mental, as defesas, os
argumentos, a racionalidade, que, se é fundamental para a evolução, já que formata o
conhecimento do bem e do mal, é também onde surgem as espadas que sangram o
Coração do Amor, mesmo quando intentam defender o Ideal ou interpretar as frustrações
necessárias e naturais do mundo manifesto. Mas o Ideal sem amor é egolatria, fanatismo
e, portanto, desequilíbrio astral; o mundo manifesto em Azyiah, a experiência fenomênica,
por sua vez, é permeado de todos os clichês astrais formados no mental, que, entre outras
coisas, fomenta nossa ilusão egóica do que as coisas devem ser (que o não são,
necessariamente) e de todos os anseios e expectativas pessoais, assim como preconceitos
e bloqueios profundos, oriundos de nossas heranças inconscientes, provindas de nós
mesmos e de nossa ancestralidade, incluindo o inconsciente coletivo.
A dimensão de experiência da Taça, cujo princípio essencial é a entrega do ego à
inundação do amor, tem o poder de um dia, por fim, dissolver todas estas sombras
yeziráticas, e assim, vencer o orgulho, o ressentimento, o apego ao eu isolado, a avareza,
a avidez e todo o ressentimento ou ódio que possamos portar, por nossas frustrações em
nossos egos anchos. Por isso, vale citar o poeta, Milton Nascimento: ¨Toda maneira de
amor vale a pena!”... Eu acrescentaria que todos os custos também valem a pena, todos.
A esse naipe pertence nosso coração divinal, e em permanente imersão nele, estão os
corações dos iluminados autênticos, e todos são expressão da compaixão resultante da
abertura, sem limites, acima do racional e fenomênico, a essa dimensão de experiência. É
o elemento Água, esposa do Fogo, associado à sensibilidade, à emoção, aos atributos da
alma, à receptividade, fluidez e infinda entrega. É a ilimitada possibilidade de
desprendimento do ego na fusão com o outro, manifestação de Deus Vivo no coração de
cada um.
É o poder do Calar, é o poder que a alma possui de trazer fundo para dentro de si
mesma uma emoção, um sentimento, sem amarras, lembremos que é o mundo superior
da experiência espiritual: é a segunda virtude hermética. O naipe das Taças é composto
das dez sefirot e os quatro poderes do Mundo da Criação, Beriah. Os Arcanos desse naipe
indicam os estágios de experiência emocional das situações avaliadas. Sendo a fonte do
poder atrativo, busca a fusão. Mas, ao ser este mundo emanado da Imponderável
Plenitude de Deus, no sentido de virmos a desenvolver o conhecimento, é ele que
também nos inclina a desejar a experiência fenomênica, a manifestação realizadora, feliz e
prazerosa da experiência psíquica e física do Amor.
Na mitologia grega, quando Afrodite, deusa do amor, nasce do esperma dos testículos
decepados de Urano, que caem no oceano; do sangue do deus, que cai sobre a terra,
nascem as fúrias. As piores sombras em nossos seres nascem do reverso da experiência de
amar, quando se degenera em desejo incontido e desesperançado, que é dor, e esmaga
todo aquele que não se abra à transcendência do amor incondicional, o que abre a alma e
apenas se entrega. Toda perversão nasce do amor não realizado, da castração do prazer
cuja plenitude está no coração, sem negar o poder do chacra base, onde pode se
degenerar e obscurecer o coração de ciúme, possessão e prepotência. Desde estágios
primitivos, onde surge o apego aos prazeres mais físicos dessa dimensão, aos estágios
mais sublimes de fusão, dissolução da ilusão de separação e da realização consciente da
mais sublime virtude, onde fomos concebidos, a compaixão, que realiza o “Amar ao
próximo como a tu mesmo”, porque o próximo É tu mesmo.
Nos Arcanos de Taças estudaremos os caminhos do Amor em nossas existências
fenomênicas. Em que dimensão o vivemos, em que caminhos o colocamos, como estamos,
diante dessa possibilidade de experiência sublime?

Naipe dos Gládios ou Espadas


Joana Trautvetter

O Gládio é o reflexo do Vav da primeira família, o Logos, o princípio


gerador, o Grande Arquiteto do Universo encarnado em nossa essência
mental, disponível para cumprir o que nossa mente construir, pelo
princípio sagrado da Atração Universal. O Gládio ou Espada reflete o
Logos, e dá origem às formas astrais. A forma sutil é gerada de acordo
com a Informação Inteligente do ponto sem dimensão, pelo poder do Pai
(Iud) e consubstanciada pelo poder atrativo e receptivo da mãe (He).
Desta forma, podemos entender as espadas como o processo de
interação, gerador de
formas astrais, formuladas, percebidas e interpretadas pela mente humana, a encarnação
da dinâmica, da conjugação do Sagrado Verbo, seu Vav.
Estas formas astrais, que compõe e formatam nossa experiência de níveis
subconscientes ao consciente, insufladas pelo poderoso En-Sof-Aur, e criadas no âmago do
nosso coração que deseja manifesta-las, mas, ainda criança, não sabe bem como faze-lo,
nos empurra, com o poder do desejo de realização, à aventura da experiência, para que o
Propósito Original seja realizado, ou seja, de manifestar, em toda a criação, o paraíso
divinal, acrescido de consciência, para que Deus não só se espelhe, mas se amplie, somos
seus filhotes, estamos, neste naipe, formando em nossas mentes em evolução, a essência
dinâmica da construção de Sua Obra.
Por essa razão, este é o Naipe mais difícil, mais desafiador, é o que faz sangrar nossa
alma, pois formamos clichês, como crianças ainda imaturas, que nos causam dor no
mundo físico e sangramos nosso coração beriático. Faz parte de crescer, e não há como
evoluir sem enfrentar a dor e sem vencer a nós mesmos e a toda formatação mental que
herdamos de toda a história da criação, incluindo nossas inclinações mais primitivas e
animais, assim como toda maldade (negação do Amor), que geram clichês e egrégoras de
peso terrível sobre nossos medos mais fundos, cuja origem é a ilusão de que o corpo é a
nossa vida, sobre nossos ressentimentos mais profundos, pela ilusão de que estamos sós,
fechados em nosso ego, que somos desamados, abandonados e que o mundo não tem
sentido, uma vez que o estamos interpretando intelectualmente.
O Gládio é associado ao elemento Ar, que representa o intelecto, utilizando esse termo
para representar o nível mental experimentado no estágio humano. Simboliza Excalibur, na
mitologia arturiana e indica o poder mental, gerador dos clichês astrais que formatam e
interpretam tudo que se manifesta, incluindo situações, acontecimentos e experiências
pessoais. É o poder do querer, terceira virtude hermética.
Muitos principiantes estranham que neste naipe mental esteja inserido tal poder.
Lembremos que sua fonte vem do Iud - Pai, o Ideal, o Projeto dotado de força
manifestadora, que fecundou, originalmente, nosso He - Mãe, nossa alma emanada, a
substância plena de potencial que só experimentamos na terra, pelo fremir do nosso
coração. Esse poder, inserido no princípio dos princípios, imbuiu no GADU manifesto no
nível mais sutil de cada ser senciente, esse poder do se mover na direção apontada pela
essência da personalidade-alma, no sentido de Querer a experiência, mesmo que dolorosa,
mas que em busca de plenitude, para cumprir o propósito da evolução do Todo. A fonte
permanece velada, por divinal compaixão, para que a realizemos, ainda que sangrando em
cada etapa, e pela gradual percepção da relação interdependente de causa e conseqüência,
possamos, em um tempo que não é longe ou perto, já que dimensão experimentada em
nossa limitação da vida encarnada, manifestarmos, por nossa Vontade Consciente, a
perfeição e a harmonia em nossa construção de vida. Para que então, se realize o Éden
sobre a Terra, Terra esta, o plano da manifestação de nossos clichês astrais, o que
independe do planeta, já que a vida é infinita. Se bem que poderíamos acordar mais
rapidamente e cuidar melhor do paraíso que já temos, generoso e fértil, sob nossos pés,
um ser vivo, como cada um de nós. Que nutre, preserva e inspira a vida superior, em casa
minúsculo organismo senciente que habita seu seio.
Na Grande Árvore da Vida, este é o naipe que compõe as dez sefirot e os quatro
poderes no Mundo da formação, Yezirah, o mundo astral. Os Arcanos deste naipe
permitem estudar o desenvolvimento dos processos mentais no mundo astral da pessoa. É
o naipe mais assustador, o mais temido pela cartomancia, cuja associação entre esses
arcanos e episódios muito dolorosos foi percebida com clareza. O conhecimento que esses
buscadores não detinham é de que aqui, já que no mundo encarnado voltamos nossa
mente para o fenomênico, estão nossas batalhas mais penosas, pois que
nele formamos nossa impressão do que nossa vida deve ser.
Na experiência de conhecimento crescente deste mundo formador de nossa existência,
estamos imersos na dualidade de tudo, por onde nossa mente, quando voltada apenas
para o fenomênico, se debate entre a luz e a sombra, gera conflitos, medos, ansiedade,
depressão, sensação de estarmos perdidos, de não sabermos quem somos ou qual é nosso
caminho, chegamos a pensar que pode não haver caminho e tudo é acaso! Na maior parte
das vezes, não sabemos sequer o que é certo ou errado. A mente forma padrões de
interpretação, com base em dualidades, e energias mentais reverberam por todo o Ocacha,
insuflam nosso inconsciente, até que um Avatar venha dispersa-la ou que sua luz inunde
nosso espírito e nossa mente humana se abra a essa Luz, que elimina toda essa dicotomia.
Mesmo assim, é a mente que evolui para o Conhecer, que se amplia para a
Pleniconsciência, e só utilizamos um pequeno percentual de seu poder, às últimas
avaliações, dez por cento, acredito que nas últimas décadas muitos de nós já avançaram
bastante!
Se a dicotomia permite à nossa mente discernir a luz da sombra, a dor e o sofrimento, o
bem e o mal, por outro lado, divinalmente, a este mundo foi concedido pela Infinita
Sabedoria Divinal, o poder da escolha, o Livre Arbítrio, e do poder de manifestação
fenomênica, já que Iud/He concedem a este filho Vav esse poder divinal. Por isso, quando
decidimos, inspirados pela possibilidade do Conhecimento, alternativa concedida por
Lúcifer, o mais poderoso dos Arcanjos, que, cumprindo A Vontade e o Propósito Divinal
desceu às esferas densas e as irradiou, energeticamente, com o propósito de alçarmos o
Conhecer, para quem desejasse – daí nossa diferença com relação aos seres angelicais,
que, segundo algumas tradições, nos invejam, de certa forma - descemos, por meio de
Yezirah, para o mundo denso e sombrio das manifestações, onde detemos a dádiva das
sensações, emoções, construção de pensamento, consciência e assim, ampliamos a Deus,
nossa Fonte Iluminada, cumprindo Seu desejo de crescermos e multiplicarmo-nos!!!
Neste mundo mental começa nossa saga mais dolorosa, o exercício do Livre Arbítrio,
onde, gradualmente, vamos entendendo que é o responsável pela formatação de toda
nossa experiência mundana, a essência do aprendizado pelas leis do Karma, a relação
interdependente de causa e conseqüência, onde construímos nossas virtudes, mesmo que
lentamente, a despeito de nossas sombras e onde sucumbimos às nossas delusões e
apegos, pois somos crianças no berço de Deus Pai/Mãe.
Descemos ao mundo formativo mental, trazemos em essência sutil e imanente, nossa
natureza divinal, plena e amorosa. Mas, como fruto de nossa evolução por caminhos
tenebrosos de culpas, medos e ignorância, graças ao medievo, no caminho ocidental,
formamos clichês penosos, desde o inconsciente coletivo a padrões sociais, religiosos e
familiares opressivos e restritivos da criança divina que habita todos nós e sofre,
encarnada no nível astral e físico, sujeito a influências planetárias, ao tempo, ao espaço,
ao desgaste do corpo, ao sofrimento da alma, à frustração dos desejos do coração e à
ilusão de morte. Mas toda essa dicotomia, dor e sombra vai, lentamente, construindo
nossa consciência com bases cada vez mais lúcidas.
Muitas pessoas me perguntam, sobre o porquê de uma cultura tão mística e integrada
espiritualmente como a que tivemos no Tibet, passou por horrores tão penosos. Vejo que
eles preservaram o caminho místico e devocional dentro da maior pureza e sabedoria
divinal que conheço sobre a Terra. Seu domínio sobre a mente ilusória alcançou o máximo
do potencial e temos, no Budismo tibetano mais de mil iluminados e criaturas que,
efetivamente estão no nível Beriático e nos emanando luzes da mais divinal substância. Por
isso, videntes antigos já diziam que o ocidente abraçaria o oriente, no final dos tempos.
Mas o ocidente, com todas as mazelas impostas e sofridas por ele mesmo, fez o caminho
da mente e da dicotomia. São dois mundos que hoje, se interpenetram, se refundindo, e
trazemos uma compreensão cognitiva dos milagres da criação. Somos todos um só, e o
flagelo tibetano trouxe seus monges e sua história para o âmago de nossos corações, pois
desceram das alturas e hoje estão pelo mundo, nos trazendo essa essência pura e nos
esclarecendo onde a mente dual não chega, sozinha, mas que é capaz de abraçar. Mesmo
que todos os monges pereçam, sua vinda para o ocidente criou, no seio da humanidade a
possibilidade dessa fusão, e nossas mentes não teriam sido sensibilizadas sem a história
pungente de toda imolação dessa cultura, que agora se funde à nossa. Eles preservaram
todo acesso místico para nós, que tivemos a ousadia de meter a mão e deformar os
ensinamentos de nosso Avatar mais amado, no ocidente, Jesus de Nazaré, o Cristo. Nem
sequer existe, na liturgia cristã, uma só prece dedicada a Jesus! Temos o Pai Nosso, a Ave
Maria (pai e mãe), mas nos esquecemos de dirigir uma prece direta ao Filho, muito
embora, em tantos momentos o invoquemos, Ai Jesus! Me acode... Pois que perdemos em
nossas liturgias ocidentais, por influência do paulinismo, esse acesso direto ao Avatar,
como prática litúrgica, a conexão com o “LUNG” (repasse direto de Luz e Poder) desse ser
abençoado, como temos o privilégio de fazer, com os Buddhas, por suas linhagens diretas
de discípulos que não mudam sequer uma vírgula de suas palavras e práticas.
Adotamos a imagem da imolação, por força da apropriação indébita das igrejas ditas
cristãs de falarem em Seu Nome e gerarem medo, ignorância, culpas e toda dor, sangue,
poder e riquezas às custas das pobres almas crentes, imoladas e dominadas
vergonhosamente, exploradas em níveis inconscientes, por séculos, uma vez que foram
destituídos de sua identidade como filhas diretas e amadas de Deus, criadas à sua
Imagem e Semelhança, tendo em seu âmago o mesmo Cristo, que Joshua Bem Myriam
realizou em si, o mesmo drama de paraíso e inferno, decorrente do embate do Espírito
Divino enfrentando as sombras mentais geradas pela inserção, na carne, da Divindade que
nos possibilita construir o Corpo Adamantino de Deus encarnado em nós, que em nossa
cultura, temos como referência, refúgio, exemplo e ensinamentos de Jesus, tão
profundamente traído na essência de sua divindade, que não tinha templos construídos
sobre pedras, que não portava mais que uma sandália e vestes gastas, que dizia a quem o
seguia, pegue sua “cruz” (corpo e alma), deixe tudo para trás e siga-me! Quanto contraste
diante da ostentação e opulência dos que se dizem estar em seu nome! Quanto sangue
inocente vertido, quantas almas aprisionadas em culpas por dogmas que Ele não criou,
quanta ignorância, cegueira, sangue, insanidade e dor!!! Aí está o sangue que verteu às
vésperas de concluir sua senda exotérica, no Jardim do Getsêmani.
O poder do intelecto humano, que, em nossa cultura se distanciou da integração mística
com o divinal, por meio da ciência moderna, oficial, do establishment, alcança os mesmos
princípios da sabedoria ancestral, inspirada divinalmente por nossos Avatares, agora,
acrescida de uma dimensão cognoscível em nível de formatação mental. Jamais
alcançaremos por esse caminho, per si, a sabedoria gnóstica dos que treinam a mente
para desprender do mundo fenomênico, por meio da meditação, de forma a mergulhar
plenamente no Universo da experiência do mundo sutil. Mas há que se alcançar a
plenitude, já que Keter está em Malkut, e que a Luz se fará por toda a extensão da criação,
que se fundirá ao Todo que temos como propósito, ampliar, multiplicar, plenificar.
É no naipe dos Gládios, Mundo da Formação (de nossas experiências), Yezirah, que
iremos entender os clichês mentais que estão sendo formados por nós mesmos, assim
como sua relação com toda extensão do mundo de formas astrais com as quais temos que
lutar, e contra as quais não teremos poder nenhum, enquanto não pudermos vencer a nós
mesmos, dissolvendo, ao invocar o poder Iud/He, em sua essência pura, a Fé e o Amor
Divinais, para vence-las em nós mesmos e transmuta-las. Não há maior vitória, em
nenhum império, nenhum herói, nenhuma divindade conhecida, que não seja a obtida na
batalha em nosso mundo mental. Tudo que vivemos no fenômeno está na mente.
De nada adianta repetições de frases de auto-ajuda ou recitar preces como quem recita
“Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão” se não estivermos Vigiando e Orando –
Vigiando porque nossos pensamentos facilmente se perdem no astral negativo, e,
detectando as negatividades das delusões, é Orando (solicitando a Deus/Pai, sempre por
meio de seus filhos já iluminados, que nos protegem nesse caminho, canalização dessa luz,
para que nossa essência seja soberana e que nossa mente esteja a serviço de nosso
espírito, verdadeiro Filho de Deus à sua Imagem e Semelhança, que estudamos na
Temperança, e que façamos sobre a Terra o melhor que pudermos para avançarmos,
todos, em direção à plenitude e ao cumprimento do propósito! Tendo, obrigatoriamente,
respeito (não indolência), às nossas limitações, para não cairmos em desprezo com relação
às nossas limitações e falhas. Que possamos nos amar em nossas fraquezas, pois que
somos crianças crescendo, mas que mantenhamos, em Yezirah, a chama da fé (Iud) e o
amor incondicional (He).

O Naipe das Moedas, Pantáculos ou Ouros

Joana Trautvetter

O Pantáculo ou Moedas, ou ainda Ouros ou Diamante, manifesta o


2º Hepara as criaturas, o fenômeno resultante do Propósito da fecundação
do Iud transcendental sobre a amorosa receptividade do He transcendental,
filtrado pelo alcance progressivo, na consciência em evolução, do processo
Vav, onde o GADU, insuflado em nosso existir no Universo, nos leva, por
tentativa e erro, texto a construir as experiências físicas da nossa existência
sobre o mundo manifesto, por enquanto, neste planeta maravilhoso, mas
em qualquer dos outros mundos grandiosamente manifestos do Pai / Mãe.
É a dádiva da possibilidade de realizar a quarta virtude hermética, Saber. A criança em
evolução dentro de nós realiza cabalmente um processo dentro de si ao experimentar, com
todos os sentidos fenomênicos, mais experiência de emoção, sentimentos e cognição, o
que reconhece no mundo manifesto, experimentado pelos sentidos.
O segundo He da Primeira Família Rosacruciana é a primeira manifestação das
emanações transcendentais, que criam o mundo fenomênico, o Universo Holográfico que
está ainda além de toda compreensão racional do porquê se manifesta, enquanto estamos
distantes do Saber de que existe um propósito por trás de cada folha que cai no outono.
Assim como na criação dos mundos físicos, como conta o Gênesis, em sua poesia
simbólica, também nós, criadores como o Pai/Mãe, criamos nossas vidas terrestres, e
temos pela frente toda seqüência de episódios previamente construídos em nossas mentes,
de forma a, com dor ou deleite, desfrutarmos da imensa dádiva de aprender, crescer,
ampliar conhecimento, sabedoria e nos abrirmos, seja qual for o caminho escrito por nós,
sob influência do Cosmos atento e Inteligente, para nossa própria plenitude.
O poder condensador desse 2º He se reflete na feitura de todas as coisas físicas, no
mundo material, que é uma sombra tosca do que está criado por nós nos mundos
superiores. Mebes afirma: “O Transcendental manifestou-se pelo Transcendente; O
Transcendente Se fez conhecer pela Forma; a Forma condensou-se fazendo surgir o
denso... ” O denso é experimentado pelos sentidos físicos da criatura em evolução. O que
toma forma física dá impressão de realidade aos sentidos e permite o desenvolvimento
cognitivo, onde a mente dual interpreta, como “bom ou ruim”, “prazeroso ou doloroso”,
“luz ou sombra”, “positivo ou negativo”, “aceitável ou rejeitável”, etc.
O esforço da alma para sobreviver no mundo físico e controla-lo, domina-lo, faz a mente
escrava dos sentidos físicos, como nos mostra a saga do Mahabarata e o Arcano VI, onde
somos seduzidos pelos “olhos e ouvidos”, hieróglifo egípcio que representa a tentação das
ilusões físicas. Pensamos que somos nosso corpo, pensamos que estamos seguros pelo que
possuímos ou realizamos no mundo fenomênico... Esquecemos que tudo isto faz parte da
impermanência, que tudo fica aqui, que este é apenas o palco das realizações internas.
A mente não sutilizada se empenha em representar papéis, fazer figuras e manter
atitudes visíveis aos demais, em que afirma identidade ou ego. Se apega à forma física de
maneira visceral, esquecendo, tantas vezes inclusive, de tratar sua forma física com amor,
tal avidez em se afirmar fenomenicamente... E briga com Deus, porque as coisas dão
erradas, porque esbarra em limites, em frustrações, em perdas, em humilhações, em
desamparos sem esperança, se agarra em delusões fenomênicas, luta por coisas que não
realizam o mundo interno, enfim.
A mente trabalhada traduz em integridade e honestidade sua contribuição e escreve,
por meio de suas obras o enriquecimento do seu espírito, mesmo que não seja
compreendido de imediato. Sua obra personifica seu espírito, assim temos, gravadas na
história da humanidade a obra de centenas de Mestres, que só foram compreendidos muito
depois que se foram, podemos citar uma lista interminável, o próprio Cristo, São Francisco,
os Buddhas, na ciência Da Vinci, Kepler, Newton e tantos outros, na arte, Van Gogh,
Amadeus Mozart, Ludwig Van Beethoven, enfim.
As Moedas são ligadas ao elemento terra, que representa toda capacidade de
concretização na natureza da psique humana em um dado momento fugaz, transitório, de
sua existência manifesta. Mestres ascencionados nos ensinam que, no momento de nossa
saída do planeta, nossa maior dor não é das bobagens e erros que cometemos, mesmo
quando ferimos alguém com nossa identidade que se esforça por crescer, uma vez que
egos têm dimensões diferentes, e só se sente ferido por nós quem projeta sobre nós o que
está dentro de si mesmo. Nossa dor maior é de não termos realizado o que poderíamos
alcançar por medo, preconceito, apego, preguiça ou ignorância de nossa importância no
Universo.
Este é o plano da manifestação. A história que cada um de nós escreve no mundo da
matéria é um reflexo esmaecido de nossa morada em Keter, de nosso verdadeiro Ser
divinal. Em vários níveis evolutivos, transformamos e atos e realizações o quanto damos
conta, Deus não está ali com um livrinho nas mãos anotando nossos erros e pronto a nos
condenar ao fogo eterno. Ele já nos ofereceu tudo, o Iud da programação e poder plenos, o
He das condições para fazermos de nossa estrada uma vida Maior, e continua insuflando
seu Amor e Sabedoria em todas as partículas de energia de seu Universo Tão Inteligente e
Harmonioso. O Fogo dos infernos, sombra do Fogo de Azilut, só existe em nossa
consciência que queima, infinitamente, enquanto nos afastamos do Divinal Amor, enquanto
nos perdemos da dádiva da entrega e fabricamos, em nossas mentes impregnadas de
delusões, sofrimentos que, ao fim de tudo, cansados, vamos descobrir que são nossas
fabricações, apenas. Inúteis? Não, estamos aprendendo com elas. O fenômeno é
holográfico e tem um propósito, construir nosso conhecimento e dilapidar o diamante que
já somos, projetados e emanados pelo G.A.D.U. Universal.
Pantáculo é o poder do saber, quarta virtude hermética, pois que manifesta, per si, o
que formatamos astralmente. Por isso é a quarta, pois, quando alcançarmos a virtude de
manifestar em nossas vidas Amor, Compaixão, Sabedoria, Felicidade e causas de
felicidade, então teremos realizado as três anteriores, e tudo que veremos é luz, plenitude
e Glória de Deus, por meio de nós, manifesta no mundo fenomênico.
As lâminas do naipe dos pantáculos ou moedas compõem as dez sefirot e os quatro
poderes do mundo da feitura, Azyiah. Os Arcanos desse naipe permitem avaliar o
desenvolvimento das realizações da criatura no mundo material, onde se cristaliza, para
seu espanto, dor ou felicidade, o processo que se desenvolve em seu mental criador, o
Filho de Deus gerador de toda realização. Neste nível temos o espelho do que estamos
fazendo interiormente.
Tentar modificar, manipular ou controlar problemas terrestres é como dizem os Lamas
–“E como você ter uma mancha em seu rosto, olhar no espelho e tentar limpar o espelho
para tentar fazer a mancha sair!” Quando compreendermos e realizarmos esse
ensinamento, seremos livres, enfim, para realizar nosso propósito e toda nossa felicidade
de divindades encarnadas. Aqui está o conhecimento da essência de todos os milagres.
Há uma sabedoria única no Oráculo, que se expressa pela capacidade de se entender a
mensagem desse Arcano. Interpretar seu significado é um desafio que deve ser abortado.
É necessário apenas informar sobre seu poder formativo de idéias ou intenções astrais, que
podem estar a serviço de um Propósito superior ou de intenções maléficas. O conjunto
nem sempre esclarece, pois que o sabor de uma experiência pode ser doloroso ou
prazeroso, e seu significado evolutivo não está condicionado a esse sabor.
Para melhor compreender a distribuição dos Arcanos Menores, precisamos recorrer ao
esquema da Árvore da Vida. No esquema abaixo, podemos ver que Bastões correspondem
a Azilut, e representa os domínios do poder da figura do Rei. Taças corresponde a Beriah,
domínios do poder da figura da Rainha. Gládios correspondem a Yezirah, domínios do
poder da figura do Cavaleiro. Moedas correspondem a Aziyah, domínios do poder da
figura doPajem. Os números de um a dez nos Arcanos Menores correspondem às Sefirot.
Cada um dos mundos se desdobra em dez sefirot e dez figuras, e estas, quatro por naipe,
representam o poder de influência dos quatro mundos, em um naipe específico.

A quatro figuras
Joana Trautvetter

As quatro figuras, Rei, Dama, Cavaleiro e Pajem, simbolizam forças, atividades


ou personagens dos naipes, cujas características são análogas aos componentes do
Tetragramaton: Iud (Rei), He (Rainha), Vav (Cavaleiro) e 2º He (Pajem).
Representam poderes e papéis da própria pessoa que consulta o oráculo, mas
dependendo de sua posição nas aberturas, podem estar indicando personagens ou
movimentos externos à pessoa. Cada pessoa tem em si todas as possibilidades de
vivenciar qualquer das figuras. Utilizaremos uma adaptação do esquema de Mebes para
estudar as figuras, como segue.

Iud - Bastões Vav - Espadas 2º He - Moedas


+ 1º He - Copas
Fogo Ar Terra
Água
Rei de Bastões Rei de Taças Rei de Gládios
Rei de Moedas
Pai, poder, Esposo da dama, Pai do cavaleiro,
Iud Pai realizador,
personagem de personagem de personagem de
personagem de
natureza masculina natureza masculina natureza masculina
natureza masculina
ativa, realizadora, receptiva, sensível, interativa, mental,
inercial, poder material.
poder nos ideais. poder no amor. poder articulador.

Rainha de
Rainha dos Rainha das Rainha dos Gládios
Moedas
Bastões Taças Mãe do cavaleiro,
1º Dona dos filhos,
Esposa do pai, Senhora da atração, personalidade de
He personalidade de
personagem de personagem de natureza feminina
natureza feminina
natureza feminina natureza feminina interativa, geradora de
inercial, mantém as
ativa, consubstancia o receptiva, criadora de formas, mental,
condições das
poder. condições. articuladora.
realizações físicas.

Cavaleiro de Moedas
Cavaleiro de Bastões Cavaleiro de Cavaleiro dos Gládios
Individualidades
Transmissor do Taças Agente ativo, que
componentes,
Vav poder ativo, Intermediário, atrai os transmite a vida,
movimento inercial
movimento ativo, elementos, movimento movimento mental
mantenedor das
caminho do poder. espontâneo e atrativo. interativo, transforma
formas.
transmite ideais. Caminho do as formas astrais.
Caminho da prática,
Caminho de desafios. sentimento. Caminho do intelecto.
da adaptação.

Valete de Valete dos


Valete de Valete de
Taças Gládios
2º Bastões Moedas
Servidor da atração, Servidor da
He Servidor do poder, Servidor dos filhos,
realização a serviço transmissão, realização
realização a serviço obreiro,
do amor ou filho do a serviço da mente ou
do poder ou filho do realização prática,
amor, efeito fecundo do filho da mente, efeitos
poder, efeito criativo. efeito dos feitos.
amor. mentais

As figuras resaltadas em vermelho representam a essência do poder do naipe, em


seu lugar correto. Constituem a família perfeita dos Arcanos Menores.

Os Reis
Cada Rei é a representação do poder Iud em um naipe. O Iud porta em si, o poder
divino masculino, portanto ativo, que podemos interpretar como Informação
Inteligente e poder fecundador, análogo ao Relâmpago da Árvore da Vida, que desce
em ação germinativa, na direção da manifestação. Um Rei sempre terá um poder
polarizador em si, e geralmente aparece representando um personagem, que pode ser
masculino ou feminino, pois a lâmina sempre descreve a característica Astral, não a
física. Conhecemos homens com natureza receptiva, análogo ao feminino, assim como
mulheres com características mais ativas, análogas ao masculino.
Uma pessoa não pode ser representada por um único Arcano, por isso, o naipe do
Rei indica o tipo de energia daquela pessoa dentro de determinado contexto, não na
vida como um todo. Alguém pode deter o poder de um Rei de Bastões em uma
situação, mas não em outra, onde pode estar atuando mais emocionalmente e sair
como um Rei de Taças, ou mais racionalmente e aparecer em um Rei de Gládios. Um
personagem pode ter sobre uma pessoa o efeito taças e sobre outra o efeito moedas. É
preciso avaliar as figuras dentro de determinado contexto e no prisma de sua
colocação na abertura, de acordo com a seqüência do Tetragramaton: Iud-He-Vav-He.
A verdade é que uma personalidade masculina se torna plena quando é capaz de
integrar em si os quatro Reis, aplicando-os com sabedoria e discernimento, de acordo
com a área de experiência em que estiver sendo solicitado, devendo preservar a
orientação íntima da postura do Rei dos Bastões.

O Rei de Paus
Este Rei personifica o poder masculino máximo dentro dos Arcanos Menores, uma vez
que é o Senhor de Azilut, expressão da Face Masculina do Poder Divino, gerador de todas
as coisas. Encarna e expressa a Vontade Divina, a presença do Espírito, irradiando o ideal
superior e o poder de manifestação em todos os níveis da Árvore, no caminho descendente.
Atua por meio do poder fecundante dos ideais e exerce seu efeito sobre tudo e
sobre os demais, por personificar a magnitude desse poder. Sua presença inspira
segurança, fé, confiança, respeito e evoca o amor divinal em Beriah.
Quando representa a pessoa que consulta o Oráculo, indica que nessa situação
específica ela está revestida desse poder pela sintonia com propósitos superiores. A
força interior, assim insuflada e mantida, aliada a uma atitude positiva (natural do
elemento Fogo), são determinantes para a evolução da situação. Quando a posição
desse Arcano na abertura indica alguém envolvido na situação, está-se falando de
um personagem poderoso, íntegro, respeitável, cuja posição é decisiva na situação.
Se o conjunto mostrar interação favorável, pode-se esperar o melhor da pessoa
assim representada.
Pode simbolizar o pai, de forma arquetípica, um grande chefe, uma autoridade
máxima, um mestre, um guru, alguém que personifica a presença divina, em seu
aspecto masculino, ativo e imbuído do poder de girar a Roda do Mundo.
Conhecido carinhosamente como o “Pau dos Paus”, o Poder dos Poderes, quando
aparece no caminho de uma mulher, eliminada a possibilidade de estar retratando
o arquétipo do seu pai, representa o grande
homem de sua vida, a personificação de seus ideais mais elevados. Ele detém o poder
de a preencher, realizar e plenificar. A melhor companheira deste rei será a Rainha das
Taças, que detém o poder atrativo e receptivo e a capacidade de entrega, o que a
torna em Graal para este Iud.

O Rei de Copas
Este é o poder Iud inserido no Mundo do amor, da devoção e da emoção. É o Rei
amoroso, cujo psiquismo está tomado pelo amor e cujas atitudes são movidas pelo
sentimento, espiritualidade e sensibilidade. Por isto é visto como esposo da Rainha, senhora
de sua devoção amorosa.
A força de seu amor e capacidade de se permitir viver o sentimento e estar
pronto a agir motivado pelo sentimento, o caracteriza como o companheiro, o
amante, o personagem capaz de realizar os anseios da alma, de preencher as
necessidades emocionais dos que os rodeiam, buscando também realizar sua busca
interior de sentido, de propósito, de saciedade. É um personagem receptivo, mas
dotado de poder de direcionamento, quando sensibilizado em uma situação.
Pode representar a pessoa que consulta, indicando que seu poder ativo está
tomado por sentimentos, cujo encaminhamento deve ser estudado no restante da
abertura, podendo ou não conduzir a uma experiência gratificante.
Quando aparece para representar outra pessoa, indica uma receptividade afetiva
inequívoca desse personagem à pessoa que consulta. Isto pode ocorrer em
qualquer nível de relacionamento, amoroso, fraterno, familiar ou profissional.
Justamente por sua receptividade, pode personificar alguém talentoso e forte,
mas em posição fraca, pois está mais à disposição da vontade do outro que da sua
própria, na situação analisada. A decisão não vem dele, mas da pessoa ou instância
que o está sensibilizando.

No amor, este é o Rei que busca na Rainha o seu Graal. No campo espiritual, é o
caminho do místico, daquele que atua devocionalmente inspirado, a serviço do Influxo
Espiritual Superior, do amor e da compaixão. O Graal é sua Rainha.
Como não detém o comando, em situações familiares personifica o pai amoroso,
compreensivo, mas não exerce a função de estabelecimento de limites e carece de
severidade, o que pode gerar problemas, a não ser que esteja acompanhado de uma
rainha forte. Sua melhor companheira é a Rainha dos Bastões.

O Rei de Espada
Rei que encarna o poder Iud no Mundo do Intelecto, é o senhor da ação mental, racional,
direcionada para a formação de clichês astrais destinados à manifestação. Personificando o
princípio VAV, dá início ao maior drama humano: o Livre Arbítrio.
Este personagem pode utilizar a Espada Excalibur a serviço do bem ou ao
serviço de si próprio. Justamente por isso é a figura de Rei mais difícil de
interpretar, pois que não se sabe para que direção sua mente tem inclinação
pessoal.
É o melhor companheiro da dama de moedas, que se abre para as feituras
materiais, mas há que se questionar, a que propósito servem?
Na dimensão da mente, que conecta o Espírito com o mundo material, todas as
seduções e impressões imagéticas refletidas pelo fenômeno, não só seduzem o
princípio Iud, mas, em sua dicotomia, o ensinam, por tentativa e erro, o Caminho
(Vav) por meio do qual construímos o conhecimento, sempre dual, característica do
mundo intelectual, mas também nos maltratam e punem, pois nada há, fora da
experiência materializada no fenômeno, que antes não tenha existido no mundo
mental. A isto, alguns hermetistas chamavam de Lei da Atração, que hoje é
utilizada na neurolingüística.
Este Rei, que manifesta o Poder Iud na mente de qualquer pessoa encarnada, é
o responsável pela Lei da Atração. A mente formula, o Universo cumpre. Por isto,
ele é a chave para uma existência construtiva ou destrutiva e a interpretação de
seu significado na abertura é um grande desafio,
pois é o contexto que dirá o que está sendo formatado pelo poder astral dessa força da
mente.

O Rei de Ouro
Neste domínio de realizações materiais o poder Iud do Rei está empenhado em
manter a segurança, estabilidade e continuidade dos assuntos do mundo físico.
Esta é a posição mais inercial para esse poder, que vai cumprir na criação o
ensinamento do Imperador, cuja essência é a Lei da Adaptação, que cuida de se
adequar constantemente às circunstâncias para assim garantir a permanência, mas
que em situações imperativas pode atuar de modo direto sobre as circunstâncias, de
forma a se impor no mundo manifesto.
Na cartomancia mostra uma personalidade estável, imersa no mundo material,
provedora e previsível, do ponto de vista de atitudes.
Trata-se de um excelente administrador. Não é caracterizado como ambicioso,
não é dado a mudanças em seus rumos, podendo ser conformado e centrado em seu
cotidiano e em suas atividades físicas, sem grandes questionamentos ou buscas
interiores.
Sua Rainha ideal é a dos Gládios, que confere ao par as aspirações mentais e a
possibilidade de dinâmica nas situações.
Em uma abertura, pode indicar estabilidade material, conforto, bens preservados,
segurança física.

As Rainhas
Joana Trautvetter

O poder do primeiro He aqui está representado em quatro níveis de atuação. A Rainha


representa o poder atrativo, receptivo e fecundo, que providencia as condições para
atuação do Iud, sendo a substância da qual este se reveste, para trazer o universo à
manifestação. Personifica o princípio feminino e a natureza feminina que está inserida no
aspecto dual de tudo que existe.
Enquanto o rei é o poder fecundador, a rainha é o receptáculo a ser fecundado, e o
caráter de tudo que se realiza é moldado por sua natureza, possui o seu sabor. Podemos
imaginar a informação inteligente contida em uma molécula de DNA, pronta a cumprir o
papel de construir um novo organismo, aqui temos o poder do rei. A substância, no caso,
as moléculas protéicas que vão dar corpo ao novo organismo é o domínio de ação da
rainha. A criatura assim formada integra, em sua forma, os dois elementos.
A rainha detém o poder atrativo do vazio interior, que traz até si o elemento
fecundante, assim corresponde ao Mundo de Beriah, onde o imponderável se reflete pela
primeira vez, domínio da Água, símbolo da emoção, do amor e da espiritualidade.

A Rainha dos Paus


Como esposa do pai, esta personalidade está completamente voltada para servir o
propósito superior, movida por seus ideais e dando forma, em sua vida, à expressão
do que acredita e do que está a serviço. É o feminino realizador, traz o poder do naipe
do fogo, mas atua de forma feminina, cumprindo funções que permitem a realização
dos ideais.
É a senhora do Fogo, poderosa enquanto vinculada aos propósitos e detém a
capacidade de enfrentamento de desafios, onde luta com a força de suas convicções,
com sua fé. É a melhor companheira do Rei das Taças, cuja natureza maleável
permite que os ideais personificados na dama sejam realizados.
Na cartomancia, indica uma mulher forte, cuja vida pode estar mais ligada às
realizações, que podem ser profissionais, ao serviço de ideais, da fé.
Costuma descrever uma personalidade honesta, feminina, mas ativa, de caráter
enérgico, firme, determinada.

A Rainha das Copa


Esta é a mais poderosa das damas. Encarna o princípio beriático em sua essência,
manifestando o amor, a receptividade, a fecundidade, o poder de atração, de geração
e nutrição. É também a sabedoria inerente à espiritualidade, a gnose, a compreensão
e a compaixão.
É a senhora das águas, é a alma, rege a espiritualidade e as artes, é a
companheira do Rei dos Bastões, dotada de toda substância espiritual para
consubstanciar a ação criadora do rei.
Na cartomancia descreve uma mulher amorosa, forte, espiritualizada e sensível,
identificada em sua parceria com o rei, seja este um companheiro ou uma vinculação
espiritual.

A Rainha dos Espada


Neste domínio mental, a alma se torna polarizada pela razão.
Em essência, esta é a rainha fecundada pelo ideal e que está influenciando o rumo
dos acontecimentos como geradora de contextos emocionais em torno das idéias, no
mundo mental.
Senhora do Ar, companheira do realizador, Rei das Moedas, é vista com
desconfiança pela cartomancia, pois detém o poder atrativo do feminino, mas está a
serviço das idéias próprias. Mais uma vez, sendo este o mundo mental, portanto,
intermediário entre o que está em cima e o que está abaixo, esta rainha pode ser
seduzida por apelos inferiores da mente, gerando situações de opressão em seu
entorno. Por vezes descreve uma pessoa solitária, na cartomancia pode ser vista
como a mulher separada ou viúva, lutando pela vida, ou como uma mulher casada,
mas infeliz, ciumenta e possessiva, lutando para manter o casamento.
Podemos ter aqui uma personalidade inteligente e atuante, defensora dos
princípios evolutivos, mas do
mesmo modo podemos encontrar uma personalidade articuladora, manipuladora,
destrutiva ou obstrutiva no caminho das situações. De qualquer forma, está em defesa de
algo, que pode ser ou não um bom propósito.

A Rainha das Ouros


Neste mundo das manifestações físicas, a natureza feminina da dama cristaliza-se
de forma inercial, acomodando-se e adaptando-se às circunstâncias, cuidando de
forma incessante de prover a sustentação material. Por isto é vista como dona dos
filhos, pois sua função é nutrir o que está manifesto, a obra final.
Parceira do Rei dos Gládios, a Rainha de Moedas nutre constantemente aquilo que o
poder Vav gera continuamente. Clichês astrais precisam de condições receptivas no
mundo do fenômeno, para se manifestar, essa é a personalidade que providencia
condições.
A senhora da Terra é estável, firme e centrada na matéria. Pode indicar uma
personalidade apegada aos bens, à situação econômica, ou envolvida demais com os
assuntos materiais.
Em seu aspecto negativo é a avareza, a rigidez, a obtusidade.

Os Pajens

Joana Trautvetter

Os valetes ou pajens representam o poder de manifestação final de qualquer processo.


Sua ação é inexorável, pois quando as coisas chegam nesse nível de manifestação, estão
inscritas no universo. São o fruto de processos anteriores, por isso são vistos como filhos,
mas devem ser entendidos como produto final, dentro da vibração de cada mundo.
Os valetes encarnam o poder da Lei da Atração, realizando o que está programado no
nível astral, o que, em alquimia, denominamos coagulação. Sua presença indica algo que
toma forma e contém um significado, uma mensagem, tem origem em um propósito. A
partir da experiência do valete, se pode tomar o caminho ascendente, de solvência da
experiência por meio da cognição, experiência e apreciação interior.
Por suas características, podem por vezes aparecer indicando uma criança e seu naipe é
correlato à sua natureza. Não há como avaliar sexo de um valete, pois temos crianças de
ambos os sexos com naturezas de Fogo, Água, Terra e Ar. Lembremos também que a
natureza de uma criança não é determinada só pelo signo solar, mas pelo conjunto do
horóscopo de nascimento. Como a infância é uma fase muito Lunar, o naipe pode estar
também indicando características emocionais, mais ligadas à posição e aspectos da Lua.
O Valete de Copas
O valete de Taças é o filho e servidor da rainha, ou seja, é a personificação das
realizações motivadas pelo amor. É o amor expresso, vivenciado, sob todas as formas
que se pode imaginar. É a atenção, o toque, o carinho, a carícia, o presente, todas as
realizações alcançadas pelo caminho do cavaleiro das Taças. As ações visíveis da
pessoa referida na abertura estão motivadas pelo amor e representadas de forma
palpável, inscritas no universo de maneira irreversível. Uma criança assim
representada é uma criança amorosa, provavelmente feliz, criativa, artística. Abraçará
com o coração o que vier a amar na vida, portanto, desde cedo é preciso nutri-la com
valores elevados, para que desenvolva o idealismo, o discernimento e a capacidade
realizadora.

O Valete dos Espada


Realização a serviço da mente. Servidor da mente, personificação de uma idéia
cristalizada e incrustada em uma situação, atitude ou obra intelectual. Voltamos para o
mundo dual, de luz e sombra.
A manifestação aqui representada pode ter um propósito superior, mas pode servir
a propósitos escusos, por isso esse Arcano não é bem visto pela cartomancia, podendo
representar um inimigo, alguém que faz intrigas, planta idéias nocivas na mente das
pessoas, um espião, alguém em quem não se confia, pois está a serviço de uma
intenção que não se tem como avaliar, a não ser pelo desenvolvimento da abertura
oracular.
Quando representa uma criança, sua natureza é ligada ao elemento Ar. É preciso
se dar muita atenção ao fato, pois, mesmo indicando inteligência, habilidade
intelectual, é preciso avaliar outros indicadores, pois muitas vezes indica carência e
sugere que esta criança está imersa demais em seus próprios pensamentos, portanto,
pode estar fechada aos ideais mais elevados e ao amor.
Muitas vezes encontramos crianças feridas em posição mental de defesa, quando este
Arcano sai em uma abertura com esse tema.

O Valete de Ouros
O servidor ou filho dos feitos, a encarnação das obras, indica o obreiro com o fruto
de seu trabalho realizado nas mãos. O pajem é o que realiza, o que dá forma definitiva
às coisas práticas, materializadas, definidas no mundo fenomênico. É o mais poderoso
dos Valetes, o obreiro, inserido em Azyiah, psiquicamente imerso nas questões de
trabalho e concretização das idéias. Aqui a força de manifestação é total, são clichês
astrais que cumpriram seu propósito, seja superior ou inferior. Um resultado
inequívoco é apresentado por esse Arcano.
Quando representa uma criança, indica uma natureza prática, telúrica, de
preponderância do elemento Terra. Criança que facilmente desenvolve o apego
material, precisa de atenção para se abrir ao mundo dos ideais e ao preenchimento da
necessidade de amor. Os valores do espírito e do coração precisam ser evidenciados.

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