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MULTICULTURALISMO, GÊNERO E FEMINISMOS: MULHERES

DIVERSAS, LUTAS COMPLEXAS


Resumo: o multiculturalismo, o feminismo e a noção de gênero
fundamentam as reivindicações políticas dos coletivos de excluídas e
subalternizadas que lutam por seus direitos. Relações dialógicas entres
essas diferentes categorias conceituais de análises podem ser pensadas
a partir das estruturas políticas, na leitura de mundo e na luta pela
democratização do conhecimento e dos espaços de poder. Do ponto de
vista conceitual os intelectuais utilizam estas categorias para pensar as
questões de gênero, etnia e classe. De um ponto de vista de valor,
interpretam a realidade a partir das pautas indígenas, feministas e
afrodescendentes.
INTRODUÇÃO:
O multiculturalismo pode ser interpretado como uma invenção
contemporânea que vem sendo usada desde o liberalismo para
interpretar as sociedades democráticas e o seu funcionamento social.
Cunes (2009), compreende que o multiculturalismo nasce da pressão
exercida por diferentes movimentos sociais, por exemplo, os
afrodescendentes, indígenas, feministas que se insurgem contra a
subalternização e lutam por direito de representatividade.
O multiculturalismo não é uma categoria epistemológica fechada,
sua particularidade está em conceber a cultura, a diferença e a
diversidade como recursos de emancipação e contraposição aos
projetos universalistas, tanto de direita quanto de esquerda. Os
intelectuais do multiculturalismo têm como objetivo central a luta contra a
ideia de homogeneização do mundo. Indo de encontro com o discurso
hegemônico analisam as formas que tomam a diversidade, as diferenças
e as questões de gênero nos diferentes contextos da colonização. Cunes
(2009), reitera que há coincidências entre as pautas dos intelectuais do
multiculturalismo, do feminismo e outros movimentos de esquerda que
lutam contra as práticas de cultura etnocida.
Neste artigo Cunes se concentrou em analisar a recepção das
teorias multiculturalistas em torno da luta de mulheres indígenas na
Guatemala. Seu interesse é entender como estas categorias contribuem
para questionar as desigualdades sociais e de que modo as mulheres se
organizam para a afirmação de suas identidades.
Categorias como o multiculturalismo e o feminismo trazem a tona
o debate em torno das diferenças e desigualdades de uma infinidade de
perguntas e temores. Neste contexto, é importante considerar como fator
fundamental voz das mulheres e sua diversidade. Para realização desta
pesquisa Cunes (2009), recorreu a teóricos do multiculturalismo, do
feminismo que questionam as perspectivas hegemônicas ao analisar a
realidade social.
O FEMINISMO HEGEMONICO FRENTE AO
MULTICUTURALISMO
Algumas vertentes do feminismo hegemônico se escandalizaram
com a chegada do multiculturalismo, por ser uma teoria que reivindica a
diferença e a identidade como ponto de partida para pensar as
contradições do sistema. As pesquisadoras do feminismo ortodoxo
entendiam que as categorias do multiculturalismo podem naturalizar os
discursos da ideologia dominante.
Desde sua origem, a reivindicação não é a diferença, posto que a
sociedade não está dizendo o que as mulheres devem ser, se não
exigindo que elas sejam o que a tradição determina. Mas o problema do
feminismo não é apenas uma luta contra o patriarcado, para afirmação
do gênero. As feministas também questionam os discursos naturalizados
sobre as identidades das mulheres.
As reivindicações das diferenças não são imposições masculinas.
As mulheres indígenas buscam suas próprias pautas e sustentam a luta
de suas necessidades. O significado das diferenças que as mulheres
reclamam nem sempre reclamam as mesmas ditadas pelo patriarcado.
Aura Cunes (2009), compreende que apesar das contradições e
controvérsias não ocultam as relações de poder e de dominação, pelo
contrário, visibilizam e valorizam as lutas criativas das mesmas mulheres
indígenas.
Por outro lado, um posicionamento mais categórico é aquele que
sustenta que o multiculturalismo é uma categoria que mais confunde a
luta universal das mulheres e as dividem. Cunes(2009) demonstra que
em certos momentos a retórica feminista defende posições severas,
como as que sustentam que o reconhecimento das pautas das mulheres
é um retrocesso.
MollerOkin, em debate entre os opositores e defensores do
multiculturalismo lançou uma pergunta questionadora: o multiculturalismo
é mal para as mulheres? Concluído que as mulheres das minorias
étnicas, que em muitos casos podem ser a maioria, talvez esteja melhor
sem a cultura em que nasceram e foram extintas, elas tentam integrar-se
a uma cultura nacional menos sexista. Okin não questiona o contexto
mais amplo quem as mulheres indígenas têm vivido. O feminismo
etnocêntrico não questiona a relação do feminismo com o liberalismo.
Antes de tudo assume que o liberalismo por princípio deu as mulheres
maior equidade que as culturas ditas primitivas, bárbaras etc. este
discurso feminista reproduz o colonialismo ideológico e o discurso que é
semelhante aos discursos do patriarcado.
É muito frequente encontrar feministas que insistem em não
compreender que as mulheres indígenas e afrodescendentes não vem a
luta das mulheres como única ou a mais importante reivindicação. Ao
fazer suas próprias conclusões, argumentam, por exemplo que é porque
se encontram atrapalhadas nas lutas étnicas e não são capazes de
questionar o poder masculino de seu povo. Muito poucas falam de outro
elemento que é fundamental: o poder de dominação das mulheres
brancas e mestiças pesa tanto quanto o patriarcado de homens brancos
e mestiços e indígenas.
Se bem que as mulheres como gênero não se subordinam frente
ao patriarcado de diferentes maneiras, as mulheres brancas e mestiças
sempre tiveram privilégio nos contextos de colonização e escravidão.
Precisamente esses privilégios evidenciam que essas mulheres têm
vivido o patriarcado de maneira diferente que as mulheres indígenas e
afrodescendentes. Na América Latina as mulheres brancas têm com as
mulheres indígenas e afro descentes uma relação de proprietária de
escravas. Seria incoerente ocultar estes fatos históricos que evidenciam
as desigualdades para privilegiar um argumento de universalidade como
única forma de ser mulher, levantando apenas uma única bandeira.
Em histórias e experiências de opressão distintas, os interesses e
as lutas também variam. As mulheres brancas com estabilidade
econômica, seguramente tenderia a lutar por particularidade que não são
as mesmas de todas as mulheres. Bell Hooks , feminista afro-americana
escreveu a respeito de como as mulheres negras não se veem refletidas
nas lutas das mulheres brancas. As mulheres brancas pedem para não
serem utilizadas como objeto de beleza e de fragilidade, e denunciam
sentir-se presas em jaulas de ouro em suas pobres residências. Já as
mulheres afrodescendente geralmente não tinha casa, não eram objeto
de beleza e muito mento lhes era concedido o tratamento de fragilidade,
pelo contrário, eram vistas como rusticas, destinadas ao trabalho
doméstico e a exploração sexual sob o imaginário de sua suposta
desumanidade.
Carneiro compreende que historicamente as mulheres são vistas
como identidade objeto. Por isso, se o feminismo deve libertar as
mulheres deve ser de toda forma de opressão.
As alianças e as construções entre as mulheres deveram revisar
as condições de desigualdade e de poder de dominação entre as
mesmas mulheres. Cunes (2009) reitera que o trabalho de
desconstrução das hierarquias de poder e de dominação é muito
doloroso, mas é uma tarefa imprescindível.
O MUTICULTURALISMO FRENTE AO FEMINISMO E A
PERSPECTIVA DE GÊNERO
Cunes(2009) interpreta que a tendência multiculturalista de
naturalizar as culturas indígenas tem um efeito muito grave,
particularmente para as mulheres, pois as teorias essencialistas não
reconhecem as construções históricas e sociais. Não expõe criticamente
as situações de opressão e de desigualdade em que vivem. Ademais,
essa categoria impossibilita o questionamento das identidades
hegemônicas, de refletir sobre os valores dominantes e das relações de
poder.
Em sua construção doutrinária o multiculturalismo parte de uma
neutralidade de gênero. Como categoria política não contempla as
categorias étnicas, o feminismo etc. daí a dificuldade de representar os
interesses das mulheres, ainda serve como uma categoria de formação.
Para uma defesa das lutas indígenas existem vários argumentos
gerados por homens indígenas que questionam o trabalho das mulheres
em torno da perspectiva do gênero e do feminismo. Cunes(2009)
organizou em quatro grandes reivindicações esses temas: o gênero e o
feminismo são categorias ocidentais; como tais podem prejudicar o
tecido social comunitário; é uma imposição de cooperação, portanto,
atenta contra a autonomia das organizações e finalmente, o gênero é
uma nova forma de colonialismo.
Junto ao questionamento das categorias de gênero e de
feminismo como categorias ocidentais, há proposições de outas
categorias que são próprias do pensamento indígenas. No nível da
américa Latina se reivindicam os princípios de complementariedade e
dualidade como conceitos que deve sem usados. Sem dúvida estes
trabalhos limitam uma análise crítica das relações entre homens e
mulheres indignas. Há discurso que negam as relações de dominação
entre homens e mulheres, alertando que com os “olhos ocidentais”,
podem interpretar certas práticas como signos de desigualdades e
opressão, mas que não tem um significado diferente na lógica das
culturas indígenas. Sem dúvida estes discursos têm dificuldade de
reivindicar os conceitos de complementariedade, qualidade em um
diálogo com a realidade com proposições políticas que não ocultem as
relações de poder e opressão existentes.
O segundo ponto com aqueles que mostram preocupação pela
defesa do tecido social comunitário. Assim, gênero e feminismo
enquanto categorias ocidentais, ao serem levadas as comunidades
indígenas, alterariam a organização própria e a forma com que está
estruturada. Chama a atenção como essa preocupação surge com mais
ênfase ao tratar da questão de gênero, quando deveria ser uma
constante, uma vez que tudo que busca transformações sociais alteram
as condições sociais. Por outro lado, este temor por alterar o tecido
social também está dando por sentado que é perfeito o que foi
construído a margem das condições da sociedade em geral. Este
argumento é também debatível porque as situações sociais não desejam
ser alteradas, qual é a razão de estar fazendo esforço para
transformações sociais nos espaços indígenas?
O terceiro aspecto, também já vejo que muitas organizações têm
assumido a categoria de gênero por imposição internacional. Esta havia
de não respeitar a autonomia das organizações. Mas que constrói a
autonomia das organizações? Quem pensa a respeito de saber se essa
autonomia é plural ou democrática, e quanto a participação das mulheres
e de outros grupos subordinados? Esta demanda da autonomia é
importante sempre que se tem um fundamento de peso, assim se expõe
com intensão de evadir qualquer responsabilidade com trabalho com
mulheres a partir da perspectiva de gênero.
O quarto ponto se refere a ideia de gênero como uma nova forma
de colonialismo. Este argumento é apresentado pelas mulheres
indígenas que percebem o sistema a subordinar suas vozes, seus
interesses e suas perspectivas. Mas, a defesa a partir de homens parece
que vai em outra linha. É importante considerar na medida em que se
realiza uma análise séria do porque isto pode ser uma nova forma de
colonialismo. Sem dúvida este argumento perde sua força ética e se
expõe como argumento para uma desculpa para distanciar dessas
categorias.
Nestas reivindicações não se podem afirmar que todos os homens
são contrários e as mulheres a favor da luta das mulheres. Igual que há
homens comprometido com as lutas a partir da perspectiva de equidade
de gênero, há mulheres para quem essas lutas não são importantes.
Sem dúvida, o discurso hegemônico que questiona sob diferentes
desculpas, as categorias de gênero e feminismo, vem categoricamente
de homens. Isto demonstra que os homens como sujeitos tem
predominância política e discursiva na articulação, apropriação e
recriação do discurso multicultural.
As lutas dos movimentos indígenas não surgem com o
multiculturalismo, estas vem de muito tempo atrás, mas no momento as
pautas coincidem. As elaborações políticas que contemporaneamente
estão sendo feitas são influenciadas pelo multiculturalismo, o qual
adquire conteúdos particulares em cada contexto. Mas, algo que é
comum em diversos cenários, é a representação de mulheres como
símbolos políticos das construções das nações de dos povos indígenas.
Isto pode parece ser o que ParthaChaterjee relata para os casos de
Bengala, onde o nacionalismo anticolonial colocou a questão das
mulheres no âmbito espiritual afastado do político. As mulheres forma
construídas como um símbolo criando assim um novo patriarcado. A
construção de mulheres como símbolos está sendo aproveitado pelo
mercado e pelo Estado, para explorar a imagem das mulheres tanto me
termos políticos como mercantil.
Enquanto tanto, a neutralidade do gênero que em muitos casos o
multiculturalismo hegemônico defende não conta das situações de
subordinação diferenciada que vive as mulheres e homens. É necessário
rever se implicitamente se reivindicam um sujeito homem que, aqui
representa os interesses das mulheres e do homes sem diferenciações,
está marado geneticamente. Duvidar apesar disso, permite a
possibilidade de observar para não repetir nesses movimentos os
esquemas da hierarquia e de construção do mundo ocidental em termos
universais masculinos e particulares femininos. Duvidar também nos
daria a possiblidade de criar teorias que sejam uteis e relevantes para
uma pratica política diferente.
DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO A PARTIR DAS MULHERES
MAIAS DA GUATEMALA
A luta atual pelas transformações sociais e ideológicas a partir do
movimento de mulheres e a partir do movimento maia, tem sido
influenciado pela entrada do paradigma multicultural. Embora, ambos
movimentos tenha sido afetado de diferentes maneiras, suas ideologias
e discurso estão sendo questionado – cada vez mais – por atoras sócias
de carne e osso: as mulheres maias que estão inconformadas com as
teorias que ocultam práticas sociais e experiências complexas, que estão
vivendo precisamente das suas experienciais logicamente as mulheres
maias não tem apenas uma vivencia, exposições nem posições
homogêneas, se não uma diversidade de opiniões e de construções,
como descreverei minuciosamente.
Notáveis mulheres maias como Virginia Ajxup, Juana Batzibal e
Maria LuisaAurruchich (Oxfam 2000), preocupadas pela construção
positiva de um passado não colonial dos povos indígenas, cujas
heranças permanecem, fazem elaborações analíticas muito importantes
a partir da cosmovisão maia, nas quais buscam se distanciar da
racionalidade ocidental. A partir deste ponto de vista, enfatizam que
existe práticas de complementariedade e de dualidade, equilíbrio e
reciprocidade em mitos espaços dos povos indígenas, principalmente na
área rural, que é necessário analisar e resgatar. A respeito das situações
opressivas como a violência, que poderiam está vivendo as mulheres
indígenas, argumentam que a problemática pode ser entendida como
herança da colonização a mesma que chegou a se transformar em parte
das condutas masculinas em detrimento das mulheres. Contudo, embora
existissem, não podem fechar as possibilidades de questionar a partir
das práticas propriamente maia.
Por outro lado, há mulheres maias que compartilham de todo o
posicionamento anterior. Elas, não necessariamente se definem como
feministas, algumas são mais críticas do feminismo, embora não
desconheça essa corrente filosófica. Essas mulheres mais do que as
outras, recuperam a análise da cosmovisão maia, mas em uma
perspectiva questionadora, que parte da vivência cotidiana das
mulheres. Estas intelectuais estão elaborando proposta de relações
sociais baseadas nas construções próprias, o que implicou em
problematizar as ideias que se tem sobre a “cultura”, “cosmovisão”,
“complementariedade”e”dualidade”. Estas perspectivas são expostas por
mulheres como Emma Chirix (Oxfam, 2000), HermelindaMagzul
(Camuns 2000) e Irmã Alícia Velásquez Nimatuj (2002).
Um terceiro grupo constituem aquelas cujo caminho e lealdade
não foi construído – somente – em torno das organizações maias. Mas
bem, algumas mulheres vem participando em organizações de mulheres
e em organizações feministas. Essas mulheres se assumem
arbitrariamente como feministas, incorporando em suas linguagens em
suas vivencias em suas propostas de vida a ideologia feministas; mas
também como maia reivindicam fortemente sua identidade étnica. Sobre
a experiência dessas mulheres maias feministas, há muito menos
sistematização , mas se resgata a experiência escrita de Amanda Pop,
Adela Delgado, Lúcia Willis (Oxfam 2000), Franscisca Álvares (Camus
2000) e Carmen Álvares (Cumes e Monzón 2006). Também é importante
resgatar a produção do grupo de mulheres Kapla, que não se define
necessariamente como feministas, mas que defende uma perspectiva
crítica das relações de gênero a partir do ser maia.
Atualmente as mulheres maias em suas organizações de
mulheres continuam insistindo em buscar a justiça social e genérica.
Entretanto, é necessário sublinha que o fato de aceitar ou de trabalhar
juntas seguindo esta linha de pensamento e ação, não tem uma tarefa
fácil. Esta complexidade tão pouco assumida por todas as organizações
de mulheres com o mesmo empenho. A desigualdade de gênero se
complexifica quando se entrecruzam com a étnica. O valor ou a
importância que deve ser dada a cada uma tem gerado conflitos entre os
diferentes grupos, posto que algumas mulheres, todavia insistem que o
étnico não deveria ser incluído na agenda do movimento de mulheres
(Dary 2006). De igual maneira poucas organizações maias se apropriam
da perspectiva de gênero, mas elas fazem um uso mecânico e
tecnológico do mesmo.
Reivindicar a cultura, a diferença e as identidade que não são
solucionadas com simples debates, com a integração de um tema a
outro, muito menos evitando sua presença e implicações. Este problema
no caso guatemalteco é interessante porque há vários debates entre as
mesmas mulheres: por um lado algumas organizações de mulheres
maias buscam questionar a perspectiva de gênero, no entanto ela é vista
como uma categoria imposta e resgata os princípios da cosmovisão maia
e o conteúdo que tem cada um deles. Por outro lado, há organização de
mulheres (maias e mestiças) principalmente as vinculadas as políticas
públicas em instancias que estão buscando incorporar de forma
unificada as categorias de etnia gênero e classe social.
Não há neste momento organização de mulheres maias que
assumam institucionalmente como feministas. No entanto, há mulheres
maias feministas nos diversos espaço. Em geral, não se encontra um
rechaço ao feminismo, o qual é entendido como um movimento político
das mulheres feministas. As mulheres mais que assumem como
feministas são estigmatizadas como aquelas que assimiladas pela
cultura ocidental. Da mesma forma, o feminismo reivindicado pelas
mulheres maias, está bem influenciado pelo feminismo da igualdade, que
é a corrente hegemônica na Guatemala apesar da diversidade étnica.
Talvez faça falta no contexto guatemalteco as elaborações políticas e
analíticas de outros feminismo interpelado nos outros lados do mundo e
que seguramente, contribuem com as demandas das mulheres maias
feministas.
A PERSPECTIVA DE OUTROS FEMINSMO
RESSIGNIFICANDO A DIFERENÇA
A expereicna de algumas mulheres com o feminismo nem sempre
tem sido grata, no entanto, como temos analisado, algumas de suas
vertentes reproduzem práticas de assimilação, questionando duramente
as mulheres que optam por reivindicações étnicas e não se decide em
lutar exclusivamente como mulheres. Por outro lado, também há
feministas que reproduzem ideologias e práticas racistas fazendo uso
dos privilégio de poder frente a outras mulheres. O que acontece dento
das organizações feministas o tema da diversidade étnica não esta
suficientemente trabalhado como no caso guatemalteco.
Porém, há outra vertentes feministas que têm se dado o trabalho
de estudar o tema da diversidade e das diferenças. Esta corrente foi
denominada como: feminismo da diferença. Não esta este feminismo
isento de críticas nas quais são assinaladas as suas contribuições e
suas desvantagens - porem a partir de um uso crítico – suas analises
são valiosas para contexto etnicamente diversos, como é ocado de
vários países da América Latina.
Vemos , por exemplo que para algumas feministas parece difícil
reivindicar a diferença sem cair na desigualdade. Entretanto, há
mulheres indígenas que reivindicam o direito a suas diferenças
demandando assim mesmo a questão da igualdade. O conteúdo das
reivindicações das diferenças não tem a mesma conotação que as
diferenças impostas pelo patriarcado e pelo racismo. Aqui a diferença
que é reivindicada não é aquela que justifica um trato desigual (Gutierrez
2002; 47) se não aquela que busca processo libertadores; que não se
constrói em hierarquia, se não em horizontalidade que não se impõe, se
não que é reivindicado a partir das sujeitas em um marco complexo e
crítico.
Gutiérrez reitera que a preocupação tem sentido quando as lutas
pelas diferenças ocultam ou justificam as identidades tradicionalmente
subordinadas das mulheres. Assim, fomentar as diferenças seria abrir
caminho para abandonar as formas de opressão. No entanto, quando a
diferença é reivindica por grupos subalternos para lutar por novas formas
de exercício do poder e pela construção de novas visões de mundo “não
e mais a mesma”. Pelo contrário, é uma defesa política e democrática da
diversidade. (2002, 47), neste caso, a diferença de sexo /gênero, raça
/étnica, idade, etc. não justifica a desigualdade social, cultural econômica
ou política, da mesma maneira que as diferenças de nossas crenças,
valores ou formas de vida tão pouco justifica um trato desigual ou
discriminatório. Isto deixa de manifestar que se luta contra a
desigualdade, não e contra a diferença (Gutiérrez, 2002, 49).
Em situações de subordinação, o ressignificar positivamente a
diferença é uma luta crucial e um direito humano. Como disse Trih T.
Min-há: “nossas lutas por significado são também nossas lutas por
diferentes modos de existir e devir. (citada em AvtarBrah 2004, 31). De
uma existência denegrida se toma o direito de uma existência digna,
reclama-se a participação e o direito ante de ser do que de estar. Para
os que sugerem que reivindicando as diferenças se reivindicam as
formas de opressão, AvtarBrah responde que é necessário ser mais
aguçado: “A diferença nem sempre é indicadora de hierarquia e de
opressão. Portanto, se a diferença resulta na desigualdade, exploração
ou no igualitarismo , diversidade e formas democráticas de agencia
política e contextualmente contingente (conveniente) (2004, 134).
Analisar a maneira como são construídas as diferenças é o ponto de
partida , o básico. E situações de dominação a diferença é construída
como um mecanismo de praticas excludentes e discriminatórias. Mas
nas lutas por justiça, a diferença se constrói como uma afirmação da
diversidade. Ao dizer podemos falar de uma diferença horizontal (Brah,
2004, 120), neste caso, defendemos a construção de uma diferença com
equivalência a humanidade (Brah 2004, Gutiérrez 2002).
Atualmente os debates estão focados nas diferenças e nas
identidades, o que é compreensível devido a longa história de anulação
ilusório e remarcação das diferenças dos inferiores. No entanto, em
muitos casos estamos empenhados atolados nas discussões sobre as
identidades como fim em si mesmo e não como um meio que permita dar
força as mobilizações que nos leve a desafiar as formas de dominação
que utilizaram nossas diferenças como uma justificação de sua vigência.
Sobre estas contradições sem dúvida, é necessário aprofundar o debate
e não dar apenas umas pinceladas.
DESNATURALIZANDO SISTEMAS PATRIARCAIS
RACIALMENTE ESTRUTURADOS
A partir do feminismo pós-colonial, é sustentado que as
sociedades – em contextos coloniais – não só foram fundamentadas
sobre o tratamento da desigualdade entre indígenas e “não indígenas” e
também sobre um tratamento desigual entre mulheres e homens. Por
isso mesmo, os efeitos que produzem têm impactos diferentes sobre
cada coletivo. Os sistemas de dominação, como racismo, o patriarcado,
o clácismo, não operam de maneira similar entre homens e mulheres,
como tão pouco são sistemas que funciona de maneira separadas.
Atualmente, diversos movimentos sociais abandonaram lutas a partir das
diferenças e das identidades políticas. No entanto, partem regularmente
de apenas uma noção de diferença: a diferença sexual e de gênero,
diferença étnica, diferença de classe, etc. se bem que esta demanda tem
gerado uma série de direitos para os coletivos subordinados, também
particularizado a análise e a ação política sobre a realidade.
A luta pelas identidade políticas, tanto de gênero como étnica e de
classe social, que partem do particular, absolutisa e priorizar apenas um
aspecto do sistema de dominação se convertem em muros que
invisibilizam o que Hooks chama o “sobrecurzamento de opressões”
(2004,60). Essas lutas também podem entrar em competência, criando
discurso que mais do que desafiar os poderes de opressão tentam
legitimar-se deslegitimando as lutas dos outros. Um efeito desta
(realidade) fenômeno é que aquelas que sofrem o sobrecurzamento de
opressões como as mulheres indígenas na Guatemala, são obrigada
eleger determinadas posições e tantas vezes, dividir suas lealdades
políticas, encontrando-se entre as fronteiras das diversas reivindicações.
Estas formas de reivindicação tendem a pensar os subalternos
como o problema. E as mulheres maias que estão fazendo lutas a partir
de diferentes perspectivas ou que criticam as identidades políticas
rígidas se elas expõe: “definam suas identidades! Definam suas
lealdades! Parece que as identidades políticas unidimensionais têm uma
importância de primeira ordem, incluindo antes de tudo a realidade que
querem mudar.
Para Preciado (2004), fazer um trabalho que consiere esse
sobrecurzamento e opressões, não é simplesmente questão de term em
conta a especificidade étnica e de gênero nas analises de classe. Apela-
se, pelo contrário ao estabelecimento de uma intersectoriedadepol´tica e
uma interdependência explicativa de todos esses eixos de opressão. Se
trata, como dizem AvarBrha (2004; 135) e Preciado (2004; 2) de pensar
uma política relacional de não compartimentalizar e de hierarquizar as
opressões, ao invés disso, formular analises e estratégias para desafia-
las conjuntamente, apoiando-se em uma análise de como se conectam e
se articulam. Como disse Hooks (2004, 60) é assim como as mulheres
negras, de cor e indígenas podem aproveitar as desvantagens de sua
marginalidade para imaginar e criar formas com as quais possam
desafiar os poderes em suas mutiplas dimensões. Seguramente como
toda proposta esta perspectiva tem suas limitações, mas no momento
parece importante levar em consideração esse debate.
Este tipo de perspectiva operacional é usada nas lutas políticas e
nas análises acadêmicas. Segundo Alonso, embora escassos alguns dos
textos que analisam a etnicidade e sua conexão com a constituição dos
Estado e os nacionalismo tem sido produzido por acadêmico para os que
o gênero e a sexualidade são desigualdade analíticas centrais. Uma vez
que as construções de gênero e sexualidade tem sido chaves para a
formação das subjetividade e coletividades étnicas nacionais, as lógicas
de poder avançadas a partir do Estado têm consequências diferentes
para homens e mulheres (cita Camus: 166).
O imaginário criado exclui as indígenas e mulheres, naturalizando
as desigualdades inscritas em seus corpos , mediante a folclorização
estetização e mercantilização. Os movimentos buscam criar uma
“unidade nacional” mediante diversas políticas que tentam ser contra
hegemônicas ao estado herdado. No entanto, uma análise das
exclusões, das falhas na construção do Estado e a partir de uma
perspectiva de gênero, permitirá indagar se estes nacionalismos que
estão tentando criar os movimentos indígenas poderiam esta
reproduzindo alguns dos erros que acontecem no Estado atual.
Colocar as mulheres indígenas como símbolo chave das
identidades políticas, neutralizando ou minimizando a partir das
desigualdades sociais que se inscrevem em seus corpos, não só
poderiam estar legitimando os efeitos do mesmo sistema colonial,
patriarcal, construído radicalmente, uma vez que estariam reproduzindo
os processos excludentes e de coisificação das mulheres. Embora
quando o essencialismo como estratégia de luta tem sido crucial frete a
uma sociedade profundamente racista, a cultura não pode seguir sendo
mais importante que as próprias mulheres, enquanto não é desvelado o
modo como esta vivem e em quais condições de poder. Não tem sentido
desafiar uma opressão que conduz ao reforçamento de outras, seria
como cais em uma autoderrota (BRHA 2004, 135).
Se para muitos maias, o sistema patriarcal e o machismo que são
vividos de diferentes formas na atualidade entra os indígenas são
produtos da colônia, reproduzir formas diferentes da dos colônias,
implicara também em fazer uma análise sólida sobre como as opressões
de gênero, etnia e classe tem se articulado e afetado de maneira
diferente as mulheres e os homens. Esta é uma função que não cabe só
as mulheres maias, se tem acontecido desta maneira, talvez seja porque
a noção de dominação também está sendo excludente.
As noções de complementariedade, desigualdade e reciprocidade,
equilíbrio e qualquer outras significado que são reivindicadas para
nomear as relações entre homens e mulheres nas sociedade maias, são
legitimas e urgentes como ideias de sociedade, como utopias que guiam
ações inspiradas e em uma realidade. Porém, se estas são usadas para
neutralizar uma realidade existente, tem um efeito perverso.Na
atualidade existem escassas discussões e exposições como a de
complementariedade, talvez seja útil pensar seu conteúdo: se
estáhavendo a legitimação de uma complementariedade desigual? Se
querem construir uma complementariedade em igualdade?
Por outro lado, se desde o essencialismo feminista pensam as
práticas que subjugam as mulheres indígenas são consequências de sua
própria cultura, não estaria problematizando a relação histórica de luta
que houve entre o liberalismo e o feminismo. Se estariam assumindo por
princípio que o liberalismo tem dado as mulheres maior equidade que
“essas culturas indígenas”. Isto nega os séculos de lutas que as
mulheres brancas e não indígenas tiveram frente e as consequências do
liberalismo, enquanto as mulheres negaras sofriam os processos de
escravidão e colonização (HÉRNANDEZ, 2004, 14).
De modo que quando são tomadas posições extremas, o
feminismo essencialista vê ao patriarcado indígenas como o único
responsável pela situação das mulheres indígenas; ou, o essencialismo
indígenas justifica o sexíssimo e o machismo como produtos exclusivos
da colônia. Assim, ambas visões seguem uma mesma perspectiva:
ocultam suas posições de poder e dividem as operações, dando maior
importância as lutas identitárias particularizadas. Neste caso compartilho
o raciocínio de Brha quando propõe: “parece imprescindível que não
compartimentalizemos as opressões, mas que formulemos, em vez dela,
estratégias para desafia-las conjuntamente sobre a base de uma
compreensão de como se interconectam e se intercruzam (...) é uma
perspectiva que reivindica o questionamento continuo da essencialismo
e todas suas variantes (Brah, 2004 – 36).
CONCLUSÕES
Centralizar o debate em si entre os negros e indígenas mais ou
menos machismo, em saber se as mulheres indígenas ou negras ou
mestiças, ou se empenhar em construí um modelo universal de
mulheres, tem desgastado os movimentos de mulheres. Enquanto, tanto
se tem deixado – e se deixa – de lado o que é mais importante:
compreender como e porque acontecem determinadas situações e quais
as implicações que elas têm para vida das mulheres.
As construções a partir da diversidade e da diferença são
complexas e contraditórias. As ideias políticas hegemônicas não
ensinam que só é possível avançar sobre a base da homogeneidade, da
assimilação e da imposição da luta dos mais fortes. De maneira que
quando nos encontramos em situações que a diversidade é marca,
parece que estamos em uma situação caótica e ficamos desesperados.
Porém, mais do que pensar se a diversidade é “boa” ou “ruim” é “um
obstáculo ou “uma riqueza”, a diversidade é e está. Sobre esta base nos
vemos obrigados a construí estre todas. Não de umas para as outras e
sobre outras. Neste caso o princípio do pluralismo é importante. Que
esta tarefa não é fácil, é verdade, porém são os desafios de uma
construção diferente e que está em nossas mãos.
Como disse Maldonado: ” se trata de um debate complexo e cheio
de dobras em que é conveniente não se precipitar buscando formas
muito simples. Por princípio é um debate em que a feminista tem que
participar de forma inevitável. Consideramos o amadurecimento
democrático do feminismo, talvez o mais adequando para tomar parte do
debate, será levar para as discussões públicas as próprias controvérsias
internas do feminismo. Não tem sentido aparecer diante da sociedade
com uma só voz, como feminista” (2004:42).
Construir desde a pluralidade de posicionamentos, vivenciais,
perspectivas e propostas permitirá como foi feito em outros contextos,
que entre mulheres diversas em contexto desiguais reconstruamos os
conceitos, os marcos analíticos e políticos que regem nossas lutas. As
mulheres indígenas, assim como tem feito as negras, por exemplo do
que temos muito a dizer a respeito do que significa o feminismo, o
patriarcado, o gênero, assim como o ser indígena e os ser mulheres em
contextos coloniais cruzados pelo racismo, o patriarcado e o classismo
para mencionar algumas dimensões da realidade. Tudo isso, como eu
disse antes, são questões básicas para pensar em que tipo de sociedade
queremos construir ou estamos construindo entre todas.
Nas mulheres indígenas também teremos que realizar pactos com
os homens indígenas. Mas, não a partir de posições hierárquicas como
até agora vem ocorrendo, talvez de uma construção paralela. Mas nos
conformaremos em ser o símbolo das novas nações indígenas, talvez
sujeitas e construtoras de suas novas nações.

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