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O Modelo de Hecksher-Ohlin

KRUGMAN & OBSTFELD, CAP. 4; WTP, CAP. 7

OBS.: ESTAS NOTAS DE AULA NÃO FORAM SUBMETIDAS A REVISÃO, TENDO COMO
ÚNICA FINALIDADE A ORIENTAÇÃO DA APRESENTAÇÃO EM CLASSE.
COMENTÁRIOS SÃO BEM VINDOS E PODEM SER ENVIADOS A
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OU DISTRIBUIÇÃO PROIBIDA SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DO AUTOR.

Roland Veras Saldanha Jr Página 1 12/09/2006


INTRODUÇÃO

o O modelo Hecksher-Ohlin (H-O) é um “clássico” do comércio internacional,


incorporando à explicação do comércio internacional, entre outras coisas, a
importância das diferenças nas dotações de fatores entre os países. Eli
Hecksher e Bertil Ohlin são suecos, este último tendo recebido o Nobel em
1977.
o Posto de forma simples, o comércio internacional é influenciado pelas
dotações relativas de fatores, vale dizer, o país que tem mais terra (em
comparação aos outros países), costuma ter uma vantagem na produção de
bens que usem este insumo de forma intensiva. O tratamento explícito da
importância das proporções de fatores fez com que este modelo também
ficasse conhecido como o “modelo de proporções de fatores”.
o Em sua versão mais simples, aqui analisada, o modelo H-O supõe 2
economias, cada qual produzindo 2 bens e usando 2 fatores. Um terceiro nome
identificado com o modelo H-O é o de modelo 2 x 2 x 2 de H-O.
o Diversos teoremas importantes decorrem do modelo H-O. Eles serão
apresentados agora e “derivados” a seguir:
a) Um país exporta os bens cuja produção é intensiva na utilização dos
fatores de produção que lhe são relativamente abundantes.
b) Se as tecnologias e produtos nos dois países forem idênticos e todos os
produtos forem produzidos em todos os países (especialização
incompleta), os preços dos fatores serão iguais nos dois países (teorema
da equalização dos preços dos fatores).
Estrutura Básica do Modelo

o Cada uma das 2 economias produz 2 bens: vestimentas (V) e alimentos (A)
usando 2 insumos, Terra (T) e trabalho (L). As tecnologias empregadas nos
dois países são idênticas e estão sujeitas à lei dos rendimentos marginais
decrescentes.
o Supõe-se que ambos os fatores sejam utilizáveis na produção dos dois
bens: os fatores são inespecíficos e, assim, precisam receber a mesma
remuneração quer estejam sendo usados em um ou outro setor. Os insumos,

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entretanto, não podem ser transferidos entre os países, apenas os bens e
serviços finais estão, neste modelo, sujeitos ao comércio.
o Para a economia doméstica, as funções de produção são:

QV = QV (T , L ) , PMg LV > 0; PMg LV


'
< 0 ; PMg TV > 0; PMg TV
'
<0

Q A = Q A (T , L ) , PMg LA > 0; PMg LA


'
< 0 ; PMg TA > 0; PMg TA
'
<0

o Como as tecnologias não são lineares, as necessidades de utilização de


insumos são variáveis, sendo representadas por:
1 1 1 1
aLV = ; aTV = ; aLA = ; aTA =
PMg LV PMgTV PMg LA PMgTA

obs. No Krugman e Obstfeld, por opção didática dos autores, a definição dos
coeficientes de utilização de insumos é apresentada em termos de 1/PMe, em
vez de 1/Pmg. Esta opção faz necessária a mudança na própria definição dos
coeficientes de utilização de insumos, e é coerente com a explicação
encontrada no texto e no apêndice do Cap. 4. Nesta apostila, em escolha mais
rigorosa do ponto de vista formal, usa-se a definição baseada na Produtividade
Marginal.

Isoquantas e escolha ótima de insumos

o Uma curva útil nesta apresentação é a ISOQUANTA, uma curva que dá as


combinações entre diferentes quantidades utilizadas de insumos que
produzem uma mesma quantidade de um bem ou serviço.
o As isoquantas podem ser obtidas a partir da função de produção. Para a
produção de alimentos na economia doméstica, por exemplo, a quantidade
produzida de alimentos é função da quantidade de insumos, terra e trabalho,
utilizadas por intervalo de tempo.
o Deseja-se conhecer as outras combinações de T e L que produzem
exatamente QA0 unidades de alimentos. Para tanto, faz-se uma diferenciação
total da função de produção. O raciocínio pe simples:
a) Para uma tecnologia dada, a variação na quantidade produzida (dQA)
ocorre apenas se houver variação na utilização de insumos , dL e/ou dT
diferente(s) de zero .

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b) A relação entre a variação na utilização de cada insumo e a variação na
quantidade produzida é dada pelas produtividades marginais dos
insumos. Lembre-se que no cálculo da PMg de um insumo, supõe-se
que a quantidade utilizada do outro esteja constante. Assim, pode-se
expressar a variação na quantidade produzida por:
∂Q A ∂Q A
dQ A = dT + dL = PMg TA dT + PMg LA dL
∂T ∂L
1 1
dQ A = dT + dL
aTA a LA

c) Numa isoquanta, a quantidade produzida não varia, ou seja, dQA =0,


logo:

dT PMg LA
0 = PMg TA dT + PMg LA dL ⇒ =−
dL PMg TA

d) A razão pela qual se precisam substituir um insumo pelo outro para


manter a produção constante é conhecida como Taxa Marginal de
Substituição Técnica (TMST) entre os insumos, sendo esta a inclinação
da isoquanta, obtida acima:
PMg LA
TMST = −
PMg TA

e) Note que:
o Há infinitas isoquantas, uma para cada nível de produção, QA.
o Se a PMg dos fatores é decrescente, à medida que se usa mais de
um fator e menos do outro a inclinação da Isoquanta varia. O formato da
isoquanta, neste caso, é côncavo em relação à origem.
f) Pode-se usar as isoquantas para conhecer a combinação ótima de
insumos a ser utilizada. Para tanto, falta conhecer apenas o custo de
utilização dos fatores, o salário, w, e a renda da terra, r. Supondo que
estes sejam conhecidos e dados (uma hipótese que será relaxada mais
adiante, mas que não prejudica este raciocínio), basta encontrar a
combinação de insumos que, para uma tecnologia dada, maximiza os
lucros.
g) Se os preços dos bens são dados, escolher a combinação de insumos
que maximiza os lucros ou que minimiza os custos são problemas que

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geram soluções idênticas (por quê?). Há dois caminhos para estruturar o
problema:
(1) Encontrar a combinação entre T e L que minimiza os custos para
produzir uma determinada quantidade, QA0; ou,
(2) Encontrar a combinação entre T e L que produz a quantidade
máxima (lucro máximo) para um custo dado (CT0).
o Estes são problemas chamados “duais”, duas formas para se obter as
mesmas condições ótimas. Abaixo a estrutura analítica do primeiro:
min CT = rT + wL
s.a
Q A0 = Q A (T , L )

h) A solução analítica pode ser obtida através da construção de uma função


auxiliar, o lagrangeano.
o Este é um “truque” matemático para combinar a função objetivo (min
CT) com a restrição, colocando-as numa única expressão, F, a função de
Lagrange.

F = rT + wL − λ ( QA (T , L ) − QA0 )

o A empresa procura os custos mínimos e, para encontrá-los, considera


variações nas quantidades utilizadas de T e L. Quando estas
quantidades forem ótimas, ou seja, compatíveis com os custos mínimos,
o gráfico da função lagrangena estará no fundo de um vale (custo
mínimo, dadas as restrições). Neste ponto, a tangente à curva que
representa a função de Lagrange será horizontal, ou seja, terá inclinação
igual a zero. Em termos formais, para que a escolha de insumos seja
ótima é necessário que:
∂F
= 0 ⇒ r − λPMg TA = 0
∂T

∂F
= 0 ⇒ w − λPMg LA = 0
∂L

∂F
= 0 ⇒ Q A0 − Q A (T .L ) = 0
∂λ

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o Dividindo a segunda condição pela primeira, percebe-se que para que
a escolha de insumos seja ótima, a TMST entre T e L, precisa ser igual
ao preço relativo dos respectivos insumos:

w PMg LA
=
r PMg TA

o A última condição, a derivada da função de Lagrange em relação a


lambda, apenas exige que a restrição de quantidade seja respeitada, ou
seja, que:
Q A0 = Q A (T , L )

o Note que se w/r aumentar (diminuir) a razão PMgLA/PMgTA também


precisa aumentar (diminuir), para que os lucros continuem máximos. Isto
significa que um aumento na razão salário/aluguel aumentará a razão
T/L utilizada, pois esta é a forma pela qual a PMgLA aumenta em relação
a PMgTA (usando menos L a PMg deste insumo aumenta e usando mais
T, a PMg deste insumo diminui).

i) A solução gráfica é bastante intuitiva, mas exige que se construa uma


nova função, a ISOCUSTO, que mostra as combinações entre utilizações
de T e L que implicam um mesmo custo total de produção.
o Seja CT0 um determinado nível de custos, a isocusto associada a este
nível de custos é:
CT0 = rT A + wL A
ou
CT0 w
TA = − LA
r r

o Diversas curvas de isocusto podem ser construídas, uma para cada


nível de custos. No gráfico, observa-se que isocustos mais altas (mais
distantes da origem) implicam custos mais altos. Note que a inclinação
da isocusto num determinado ponto é dada por – (w/r).
o Escolha, agora, como no exercício analítico, uma determinada
quantidade de alimentos a ser produzida, representando-a graficamente
pela isoquanta associada. O problema é encontrar, no gráfico, a forma
mais barata (ótima) para produzir esta quantidade de alimentos. É

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simples perceber que a combinação ótima de insumos será aquela em
que a isocusto mais baixa tangencia a isoquanta, ou seja, o ponto 1 na
figura. (Desconsidere, para esta explicação, o uso de aTF e aLF nos eixos
do gráfico abaixo, entendendo que no eixo horizontal mede-se as
quantidades de trabalho usadas em valores absolutos, e no eixo vertical,
as quantidades absolutas de terra usadas – veja obs. no início da
apostila )

o Sabendo que a inclinação da isocusto é igual a –(w/r) e que a


PMg LA
inclinação da isoquanta num ponto é dada por TMST = − , percebe-
PMg TA
se que no ponto de tangência entre as curvas, a primeira condição de
minimização de custos encontrada na solução analítica é satisfeita:
PMg LA w
− =−
PMg TA r

o Como a solução encontra-se na isoquanta, a segunda condição


também é satisfeita:
Q A0 = Q A (T , L )

j) Note, novamente, que um aumento em w/r faz com que a Isocusto fique
mais inclinada (em termos absolutos). Isto leva a isoquanta a tangenciar
uma nova linha de isocustos, num ponto em que se utilizará menos L e
mais T para que o custo seja mínimo, como já foi visto, a razão T/L
“ótima” aumenta. [faça um gráfico e cheque este raciocínio!]

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Classificação das tecnologias segundo a intensidade de utilização dos fatores

o Um setor A é dito relativamente intensivo na utilização de um fator


de produção j em relação ao setor V quando, para cada e todo preço
relativo do insumo j, a utilização ótima de insumos indique que o uso
do insumo j em relação ao uso dos outros insumos, k, seja maior e A do
que em V:
jA j
> V
k A kV

o Se a produção de A é intensiva na utilização de terra em relação à


produção de V, e os únicos insumos utilizados sejam T e L, as
utilizações relativas ótimas de insumos no setor que produz A seria
exibida pela curva FF e no setor V, por CC:

Relação entre os Preços Relativos dos bens e dos fatores

o Mantém-se a hipótese de que as empresas sejam, em todos os


setores, perfeitamente competitivas. Isto significa que cada fator de
produção é demandado segundo a regra de maximização de lucros para
este tipo de empresas:
PMg LA ⋅ PA = w
PMg TA ⋅ PA = r
PMg LV ⋅ PV = w
PMg TV ⋅ PV = r

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de onde se pode concluir que:
PMg LA ⋅ PA = PMg LV ⋅ PV
PMg TA ⋅ PA = PMg TV ⋅ PV

ou que,
PMg LA PV PMgTA
= = (1)
PMg LV PA PMgTV

o De forma que uma alteração nos preços relativos obriga uma


realocação da utilização dos fatores entre os dois setores que satisfaça
as condições acima, que garantem a maximização dos lucros.
o Vamos considerar agora, e esta é uma complicação que traz
importantes conclusões no modelo H-O, que a produção de alimentos
seja relativamente intensiva na utilização de terra, ou seja, que:
T A TV
>
L A LV

o Isto significa que, qualquer seja a relação salário/aluguel, uma


quantidade relativamente maior de terra/trabalho estará sendo usada na
produção de alimentos do que na produção de vestimentas. O que
aconteceria na economia se o preço das vestimentas aumentasse?
o Imediatamente pode-se dizer que haverá uma realocação dos fatores
de produção que, pela condição (1), precisa implicar um aumento nas
PMg dos insumos usados na produção de alimentos em relação às PMg
dos insumos utilizados na produção de vestimentas. Isto, com efeito,
corresponde a uma diminuição no uso destes fatores no setor que
produz alimentos, que passarão a ser empregados na produção de
vestimentas.
o Como a produção de vestimentas é relativamente intensiva em
trabalho, as quantidades de mão de obra a serem deslocadas para este
setor precisam ser relativamente maiores do que as quantidades de
terras. A mão de obra ficará relativamente mais escassa e, em
conseqüência, os salários aumentarão em relação aos aluguéis.
o Mas esta não é a única conclusão que se pode tirar desta análise. A
elevação relativa dos salários implicará, em ambos os setores, num

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aumento da proporção ótima na utilização de terra em relação à mão de
obra (veja o impacto de uma elevação dos salários em relação aos
aluguéis na seção sobre a escolha ótima de insumos). Como o aumento
na utilização ótima de terras exige que a Produtividade Marginal deste
fator diminua (em ambos os setores) em relação à PMgL, e lembrando
que os fatores são remunerados pelo valor de suas produtividades
marginais, os detentores de terras estarão definitivamente em pior
situação após a elevação do preço das vestimentas (intensivas em mão
de obra):

w PMg L
(1) = aumenta, logo a PMgT precisa cair em relação à PMgL ;
r PMg T

PMgTA ⋅ PA = r 
(2)  , a PMgT cai em ambos os setores, a renda da terra
PMgTV ⋅ PV = r 
diminui em termos de alimentos e de vestimentas (isole PMgT e
cheque você mesmo).
o Os assalariados, a seu turno (e pelo mesmo raciocínio) tem seu poder
de compra aumentado em termos dos dois bens (tenha certeza de ter
entendido, faça as contas!)
o O gráfico abaixo ajuda a compreender o argumento (C para
vestimentas e F para alimentos).

o Admitindo que a produção de alimentos seja relativamente intensiva


em terra (ou, o que é o mesmo, que a produção de vestimentas seja
relativamente intensiva em mão de obra), um aumento no preço relativo
das vestimentas faz com que os salários aumentem em relação aos

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aluguéis, de (w/r)1 para (w/r)2. Os proprietários de terras são
inequivocamente prejudicados, os assalariados, beneficiados.
o De forma geral: uma elevação no preço relativo de um bem beneficia
os detentores do fator de produção usado intensivamente na produção
deste bem, prejudicando aos demais. Este argumento não depende da
especificidade dos fatores, mas das diferenças nas intensidades de
utilização dos mesmos entre os setores.

Restrição de Fatores: Pleno Emprego


o Até o momento o raciocínio ligou os mercados de bens e fatores sem
exigir que estes estivessem plenamente empregados. Vamos incorporar
esta restrição usual nos modelos de comércio internacional.
o A condição de pleno emprego coloca limites nas capacidades de
produção dos diferentes bens, apenas exige que toda a mão de obra
esteja empregada na produção de alimentos ou vestimentas, assim
como que toda a terra seja plenamente utilizada (na produção de um,
outro, ou dos dois bens).
o Vamos utilizar um diagrama bastante conhecido, chamado “Caixa de

TV TA

QA

QV QA

QV QA
QV

LV LA

Edgeworth” para entender o pleno emprego no modelo H-O. Nesta


“caixa”, serão representadas as isoquantas para a produção de
vestimentas e de alimentos. Inicie construindo um mapa de isoquantas
para cada setor, lembre-se que ele mostra as possíveis combinações de
insumos associadas às diferentes quantidades produzidas de cada bem:

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o Note que as isoquantas na produção de alimentos foram traçadas
mais próximas ao eixo do trabalho, a produção de vestimentas está

0
TV

TA

0 LV

sendo suposta intensiva em trabalho. Da mesma forma, as isoquantas


na produção de alimentos foram desenhadas mais próximas ao eixo da
terra, pois este é um setor intensivo em terra.
o Agora, vamos manter o gráfico das vestimentas como está, apenas
fazendo com que seus eixos tenham o tamanho das dotações totais dos
respectivos insumos. No gráfico dos alimentos, faça a mesma coisa, de
forma que ambos terão as mesmas dimensões. (Este desenho não foi
feito aqui, apenas o raciocínio!).
o Tome o gráfico dos alimentos e gire-o em 90o, encaixando-o ao
gráfico das vestimentas de forma a obter uma caixa: esta é a caixa de
Edgeworth para a produção..
o Na caixa, observe que as isoquantas de alimentos estão com
concavidades opostas. Os pontos de tangência entre isoquantas opostas
são pontos em que as inclinações das isoquantas são idênticas, ou seja,
em que a mesma remuneração relativa ao trabalho e à terra é
compatível com a maximização dos lucros em ambos os setores, estes
pontos de tangência são conhecidos como pontos da “curva de contrato”,
w PMg L
a curva que reúne todos os pontos para os quais = em ambos
r PMgT
os setores.

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o Para que as empresas estejam maximizando os lucros em ambos os
setores, é necessário que estejam sobre a curva de contrato.
Evidentemente, sobre a curva de contrato a economia está operando em
pleno emprego, toda a terra e toda a mão de obra disponíveis
encontram-se alocadas em um ou outro setor.
o Na curva de contrato, se houver um aumento no preço relativo das
vestimentas, o ponto de tangência precisará ocorrer a um custo relativo
w/r mais alto. A produção de vestimentas aumentará e a de alimentos irá
cair, os salários aumentarão mais do que os preços e a renda da terra
diminuirá de forma inequívoca.
o Outra possibilidade interessante a ser considerada é a de um
aumento nas dotações de apenas um fator (ou um aumento nas
dotações de um fator superior ao aumento nas demais). Neste caso, a
caixa de Edgeworth aumenta desproporcionalmente, implicando uma
expansão desigual das possibilidades de produção de um país.
o Na figura abaixo, um aumento nas disponibilidades de terra faz com
que a caixa de Edgeworth fique mais alta, tornando a terra um fator
relativamente mais abundante. Um resultado básico do modelo é que a
economia tende a aproveitar as vantagens associadas à abundância
relativa de fatores, ou seja, a produção do bem intensivo na utilização de
terra tenderá a aumentar, como mostra a figura. Ocorre uma redução na
produção de vestimentas (intensiva em mão de obra) e um aumento na
produção de alimentos.

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o O efeito de uma mudança desproporcional nas dotações de fatores de
uma país pode ser visualizado também através de um deslocamento da
FPP. Trata-se de uma deslocamento viesado, com maior expansão na
capacidade produtiva do bem intensivo na utilização do insumo cuja
dotação aumentou proporcionalmente mais. Note que se o preço relativo
do bem não diminuir com a expansão dos fatores, a produção deste bem
tende a aumentar e a do outro bem tende a cair.

Efeitos do Comércio Internacional no Modelo HO

o Da análise precedente ficou clara a dependência entre os preços


relativos e as remunerações dos fatores, de especial interesse o impacto
sobre a distribuição de renda quando ocorre uma mudança nos preços
relativos e há diferença na intensidade de utilização de insumos entre os
setores produtivos domésticos.
o Os aspectos discutidos até o momento, vale notar, dizem respeito ao
lado da oferta. Para determinar o preço relativo internacional de um bem,
entretanto, é necessário tratar também dos fatores da demanda. O
preço relativo internacional de um bem é determinado pela interação das
forças de oferta e demanda.
o No Krugman & Obstfeld, até o momento, o tratamento dado aos
aspectos de demanda é pouco rigoroso, e nesta apresentação do
Modelo H-O este problema não diminui. De fato, supõe os autores que
as preferências sejam idênticas entre os países, ou seja, que as curvas

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de demanda dos dois países sejam idênticas para todos os bens. A
obtenção da curva de demanda internacional, neste caso, é bastante
simples: basta somar as demandas doméstica e estrangeira para cada
preço relativo e obtém-se a curva de demanda internacional. Como já se
fez nos modelos anteriores, entretanto, medem-se as quantidades nos
mercados em termos relativos, ou seja, o mercado mundial de
vestimentas, por exemplo, é representado por um gráfico em que se tem
o preço relativo das vestimentas em termos de alimentos no eixo vertical,
e as quantidades relativas mundiais de vestimentas em termos de
alimentos, no eixo horizontal. Com uma curva de demanda relativa, as
curvas de demanda doméstica, estrangeira e internacional serão
idênticas, pois as proporções demandadas não se alteram quando as
curvas de demanda relativas são somadas (e as preferências são
idênticas).
o Se os países usam tecnologias idênticas e produzem bens
exatamente iguais (e comercializáveis), diferindo apenas no que
concerne à abundância relativa de fatores, é uma simples decorrência da
análise precedente que o país com abundância relativa de mão de obra
conseguirá ofertar o bem que utiliza este insumo de forma intensiva a
preços menores do que o país relativamente abundante em terras. No
gráfico abaixo, mostram-se as curvas de oferta do país doméstico e
estrangeiro para a situação de autarquia, expondo a hipótese de que o
país local é relativamente abundante em mão de obra, e o país
estrangeiro é relativamente abundante em terras. [A abundância relativa
depende da comparação entre as dotações totais de terra e mão de obra
entre os países, nestes termos, supõe-se aqui que (L/T) > (L*/T*)]. Sob
estas hipóteses, em autarquia observa-se preço relativo das vestimentas
maior na economia estrangeira do que na doméstica.
o Com o comércio internacional, as diferenças internacionais de preços
tendem a ser eliminadas, pelo que o preço das vestimentas na economia
estrangeira tende a cair e na economia doméstica a aumentar. Isto traz
repercussões importantes na distribuição de renda interna aos países:
(1) Na economia doméstica, relativamente abundante em mão de
obra, o setor intensivo na utilização de trabalho (vestimentas) é
privilegiado, com aumento dos salários e redução da renda da
terra na renda agregada.
(2) Na economia estrangeira, relativamente abundante em terras, o
setor produtor de alimentos é privilegiado, aumentando a

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participação da renda da terra e reduzindo a dos salários na renda
agregada.

o Adicionalmente, mantidas as hipóteses de tecnologias e produtos


idênticos, as remunerações aos fatores de produção tenderão a se
igualar! Este é o teorema da equalização dos preços dos fatores. Note
que não há qualquer incongruência entre este resultado e a explicação
para as diferenças nos salários (e remuneração a outros fatores)
apresentadas no modelo de fatores específicos. De fato, nos modelos
anteriores supunha-se, para que houvesse a possibilidade de comércio
internacional, que as tecnologias produtivas fossem diferentes entre os
países. Têm-se, portanto, um novo aspecto a ser considerado, que não
invalida os apresentados anteriormente, mas complementa-os.

Evidência Empírica sobre o Modelo H-O


o O Paradoxo de Leontief – um famoso estudo pulicado em 1953 por
Wassily Leontief, implicou um importante ataque à validade do Modelo
H-O. Avaliando as evidências para os EUA, Leontief descobriu que as
exportações norte-americanas eram menos intensivas em capital do que
suas importações, um resultado diretamente oposto ao previsto pelo
modelo H-O quando se considera a relativa abundância de capital/mão
de obra dos EUA, quando comparada à da maioria dos outros países.
Não se tem uma solução definitiva, até hoje, para o paradoxo observado,
mas diversas explicações tendem a recuperar a validade do modelo H-O:

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(1) As exportações dos EUA são relativamente intensivas em mão de
obra especializada, em que os EUA são relativamente abundantes.
Tomar a mão de obra sem levar em conta sua qualidade pode
gerar o paradoxo mencionado;
(2) As exportações dos EUA são intensivas em tecnologia, “fator”
abundante naquele país, conforme prevê o modelo H-O.

o Testes baseados em dados mundiais tendem a reproduzir o paradoxo


de Leontief, mas novamente, um maior cuidado em isolar os tipos de
fatores por sua qualidade podem reabilitar o modelo H-O.
o Além da dificuldade empírica em isolar fatores de produção idênticos
para testar efetivamente o modelo H-O, outra suposição importante,
aquela que se refere à utilização de tecnologias idênticas nos diferentes
países apresenta pouca sustentação empírica, o que também justifica a
fragilidade do modelo ao explicar as evidências do mundo real.
o Apesar destas dificuldades, entretanto, é um modelo que traz
importantes elementos à compreensão do impacto do comércio
internacional sobre a distribuição de renda. Deve ser usado conjugado
aos demais modelos para a efetiva compreensão da lógica do comércio
internacional.
Perguntas

Problemas do Capítulo 4 – Krugman & Obstfeld: Todas

Bibliografia

Caves, Richard E., Frankel, Jeffrey A., Jones, Richard W. World, Trade and Payments: An
Introduction. USA: Addison Wesley, 1999.

Krugman, Paul R., Obstfeld, Maurice. Economia Makron Books, 1999.

Roland Veras Saldanha Jr Página 17 12/09/2006

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