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domingo, 10 de agosto de 2014

23:07

A dupla Marco Dutra e Juliana Rojas integra o grupo de jovens cineastas responsáveis pelo chamado
"novíssimo cinema brasileiro", tendo inclusive participado do filme-coletivo Desassossego (Filme das
Maravilhas). Pelo fato de contar com uma estrutura narrativa mais convencional em relação à obras
comoOs Monstros ou A Alegria, Trabalhar Cansa parece até um pouco de lado com relação às produções
"novíssimas". Mas isso é algo que não deve acontecer, não só pelo fato de que seguir uma linha
estrutural não pode ser visto como defeito, mas principalmente por trazer uma série de ideais do
movimento. O principal deles é justamente a junção de gêneros cinematográficos.

Se em A Fuga da Mulher-Gorila, de Felipe Bragança e Marina Meliande, brinca-se com os gêneros road
movie e musical, em Trabalhar Cansa une-se elementos do suspense/terror e do drama social.

A história gira em torno de Helena, uma dona de casa que resolve abrir um minimercado. Tudo vai bem
até seu marido, Otávio, perder o emprego. A mulher não desiste da ideia de abrir a loja, contando com o
apoio do marido, o que não significa que o casal não sofrerá um abalo. A partir daí, Helena terá que lidar
com o fato de ser a responsável por colocar a comida na mesa da família, pressão que irá levá-la a ser
muito dura com seus empregados.

A trama também envolve misteriosos acontecimentos no mercado, criados a partir de um


interessantíssimo clima de suspense. Mas é melhor não dar muitos detalhes e deixar você, leitor, se
surpreender ou se envolver por conta própria.

Exibido na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes 2011, Trabalhar Cansa é uma ótima estreia
de Marco Dutra e Juliana Rojas na direção de longas metragens. Eles já haviam realizado vários curtas
premiados, como As Sombras, mas é no novo filme que demonstram seus potenciais.

Impossível falar sobre a produção sem tratar das atuações de Helena Albergaria e Marat Descartes, que
dão vida à Helena e Otávio. Ainda desconhecidos no cinema, os dois se entregam de forma
impressionante aos personagens. Descartes, inclusive, tinha tudo para criar um Otávio caricato, como o
homem triste que perdeu o emprego e não consegue mais sustentar sua família, mas acaba
desenvolvendo um personagem muito mais complexo.

Colado de <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-192860/criticas-adorocinema/>

Página 1 de Trabalhar cansa (2011)


domingo, 10 de agosto de 2014
23:09

Trabalhar Cansa | Crítica


Filme de Festival Cansa
Marcelo Forlani
29 de Setembro de 2011

Trabalhar Cansa
Trabalhar Cansa
Brasil , 2011 - 99 min.
Drama
Direção:
Juliana Rojas e Marco Dutra
Roteiro:
Juliana Rojas e Marco Dutra
Elenco:
Helena Albergaria, Marat Descartes, Naloana Lima, Marina Flores, Lilian Blanc
Regular

Página 2 de Trabalhar cansa (2011)


Esses dias vi numa dessas redes sociais uma imagem sarcástica que dizia algo do tipo "tudo
parece oficial com pequenas folhas ao seu redor". Trabalhar Cansa, filme de Juliana
Rojas e Marco Dutra tem vários louros destes no cartaz. Os mais nobres são os da mostra Un
Certain Regard, do Festival de Cinema de Cannes, e o de ganhador de prêmios do júri do Festival
de Paulínia.
Durante a exibição de Trabalhar Cansa, eu me mantive compenetrado, esperando a todo instante o
momento da virada, que mostraria, enfim, porque o longa fora escolhido para representar o país no
mais nobre festival de cinema do mundo. Quando o tal momento chega, traz junto o
arrependimento. Não sei até agora se o desespero ali era de Otávio (Marat Descartes) ou dos
cineastas, na tentativa de chocar o público com uma catarse que se mostra apenas gratuita.
A trama, de cunho bastante psicológico, acompanha a vida de Helena (Helena Albergaria), dona
de casa que decide investir em um mercadinho de bairro. Para ganhar algum tempo livre, ela
contrata Paula (Naloana Lima), empregada que vai ajudá-la com a casa e com a filha, Vanessa
(Marina Flores). O problema é que a oportunidade aparece bem na hora que seu marido é demitido
e as contas começam a atrasar. Na época do Natal, soma-se às dificuldades enfrentadas por um
cada vez mais desmotivado Otávio a visita de sua sogra.
No mercadinho Curumim, as coisas não vão melhor. Helena começa a desconfiar de seus
empregados, o local não para de apresentar problemas (de esgoto, infiltração, etc.) e, para piorar,
algo muito Arquivo X aparece escondido por ali, com presas enormes, aumentando a bizarrice toda
da situação.
Perdoem a minha total falta de sensibilidade artística, mas não entendo. Não entendo os festivais e
não entendo quem votou no filme. Enfim, não entendo o filme. Percebo a crítica social, que mostra
a classe média paulistana (e brasileira). Vejo ali a bronca contra a sociedade, que descarta
profissionais competentes apenas para contratar outros mais novos e baratos, deixando sem
espaço essas pessoas mais "experientes". Pego até mesmo o puxão de orelha dado contra esta
mesma classe média que não sabe pedir "por favor", nem dizer "obrigado" e acha que está o tempo
todo sendo passada para trás. Mas não existem mesmo outras formas de mostrar tudo isso que não
seja pela estranheza?
Trabalhar Cansa | Cinemas e horários

Colado de <http://omelete.uol.com.br/cinema/trabalhar-cansa-critica/>

Página 3 de Trabalhar cansa (2011)


domingo, 10 de agosto de 2014
23:11

Trabalhar Cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas (Un Certain Regard)

por Ursula Rösele


Em seus curtas-metragens já ficava claro o interesse de Dutra e Rojas em abordar o mundo a partir do que há de
irracional, fantástico e inexplicável em sua constituição. Deste mundo, a partir dos olhos da dupla de diretores,
emergem horrores internos, manifestados através da mutação homem-natureza, de um choque que é constantemente
velado; tanto pela narrativa quanto pelas imagens – que servem mais para ocultar racionalidades do que propor
respostas. Se as mesmas existem, ficam a cargo da relação que estabelecemos com essas imagens.
Os espaços retratados em Trabalhar Cansa nos são perfeitamente reconhecíveis, porém, indecifráveis no híbrido que
produzem entre real e fantasia, vida e morte, criadores e criaturas. Uma família de classe média brasileira.
Empregados e empregadores. Após a demissão do marido, a esposa abre um pequeno comércio, contrata uma nova
empregada, admite algumas pessoas para trabalharem com ela. Na superfície, questões banais, cotidianas, como é de
praxe na obra de Dutra e Rojas.
A trilha é uma constante; ao invés de ser convocada apenas nos momentos de suspense que prenunciam algum
acontecimento, ela permanece. Não há necessariamente um crescendo de tensão na narrativa, mas uma construção
que é tensa em si, misteriosa em si, aterradora - ainda que nada de estranho aconteça com os personagens. O marido
perde o emprego e embarca em uma guerra na lógica selvagem do mercado de trabalho que, embora não deixe de ser
também atual, parece derivada de um período político brasileiro de alguns anos atrás (como discorre Ciccarini em
crítica do filme aqui). A esposa lida com a invasão da mãe, as contas que se acumulam, as dificuldades de conduzir um
empreendimento – adversidades comuns, porém, quando esta mulher dirige o olhar a alguém ou alguma coisa, o
contraplano que nos revelaria a razão de seu assombro nada nos esclarece.
Se o que vemos em Trabalhar Cansa nos parece tão inverossímil, é porque deixamos de observar as entranhas da
sociedade e esquecemos dos monstros que abrigamos dentro de nós. O cansaço gerado pelo trabalho parece vir da
impossibilidade de coexistirem em um mesmo e equilibrado espaço, homem e natureza, ego e superego, consciente e
inconsciente – questão premente em grande parcela do cinema contemporâneo (em Apichatpong, Shyamalan, Bong
Joon-ho, Tsai Ming-Liang e alguns outros). Se em Tio Boonmee – que pode recordar suas vidas
passadas Apichatpong iniciava sua narrativa com a imagem de um búfalo preso a uma árvore lutando bravamente
por se desvencilhar em fuga de um mal que não sabíamos de que se tratava, em Trabalhar Cansa cães ladram
desconfiados, defendendo-se de uma ameaça que, a nossos olhos, parece não existir.
É preciso quebrar as paredes, embrulhar e queimar o monstro deTrabalhar Cansa como se o mesmo jamais tivesse
existido, mas também é necessário que o libertemos de dentro de nós. Se a esposa derruba uma parede para tentar
desvendar o motivo de uma aparente infiltração ter se transformado em uma enorme mancha negra, o marido
participa de uma dinâmica na qual deve se livrar das amarras, quebrar metaforicamente a parede que o impede de
reagir ao que lhe acontece. A esposa se suja, o marido grita, a filha segue em silêncio e a empregada muda de
emprego. Nas aparências nada está fora do lugar, porém, a partir do universo em suspenso construído por Dutra e
Rojas, sabemos que as profundezas de cada um, habitam criaturas, solidões e angústias. Só não sabemos como, onde
e quando elas irão se manifestar.
*Visto no Festival de Cannes 2011.
Filme Citado:
Trabalhar Cansa (2011/Marco Dutra e Juliana Rojas)

Colado de <http://filmespolvo.com.br/site/eventos/cobertura/1188>

Página 4 de Trabalhar cansa (2011)


domingo, 10 de agosto de 2014
23:13

Para rever Trabalhar Cansa


LUIZ ZANIN
Quarta-Feira 29/05/13
O lançamento de Trabalhar Cansa em DVD (Lume) permite a revisão de um
dos mais interessantes filmes brasileiros dos últimos anos. Dirigido pela
dupla Juliana Rojas/Marco Dutra, o longa se situa em ponto excêntrico ao
atual dilema do cinema brasileiro: ora produzimos para a tela grande o “mais
do mesmo” televisivo, cortejando o mercado de [...]

O lançamento de Trabalhar Cansa em DVD (Lume) permite a revisão de um dos mais


interessantes filmes brasileiros dos últimos anos. Dirigido pela dupla Juliana Rojas/Marco
Dutra, o longa se situa em ponto excêntrico ao atual dilema do cinema brasileiro: ora
produzimos para a tela grande o “mais do mesmo” televisivo, cortejando o mercado de
maneira subalterna; ora, por reação, contemplamos um experimentalismo estéril, destinado
aos egos do diretor e seu círculo de amigos, e também a uma crítica de aduladores. Quem fica
de fora nos dois casos? O público, submetido ora ao pragmatismo da rotina ora à irrelevância
que passa por vanguarda.
Trabalhar Cansa busca seu espaço em outra parte. Síntese de realismo e gênero fantástico,
inova na linguagem cinematográfica, sem esquecer que o cinema não é mero exercício formal,
mas também instrumento crítico do real.
A trama fala da trajetória divergente de casal. Ele acabou de ser demitido da empresa e
começa a se sentir à margem da sociedade. Ela decide realizar o sonho do negócio próprio e
abre um mercadinho.
Otávio (Marat Descartes) e Helena (Helena Albergaria) não sabem, mas têm sonhos e
pesadelos complementares. Ele perde sua referência social ao ser desligado da empresa. Ela,
muda de perspectiva e atitude ao passar de dona de casa a patroa. São alterações subjetivas
que geram consequências na vida prática. O filme mostra algo que se poderia definir como o
progressivo embrutecimento de marido e mulher. Perdendo o papel de provedor, ele perde o
rumo e, por reação, muda seu relacionamento com as pessoas. Ela, progressivamente
desumaniza-se no contato com seus empregados.
O próprio estabelecimento comercial que ela começa a explorar torna-se, de certo modo, uma
metáfora dessa perda de humanidade. Por exemplo, há nas paredes uma estranha umidade
que não para de crescer e não parece ter causa aparente. O ambiente começa a tomar o ar

Página 5 de Trabalhar cansa (2011)


que não para de crescer e não parece ter causa aparente. O ambiente começa a tomar o ar
fantasmagórico e pressente-se a existência de monstros, reais ou imaginários a assombrar o
local. O mundo torna-se estranho para uma pessoa que se tornou estranho a ele, como
Helena.
Nada disso se dá por acaso, ou por mero divertimento da dupla de diretores. O que se nota é
um agudo comentário político sobre o nosso tempo e o nosso modo de ser no vácuo do
ultracapitalismo moderno. Nesse mundo em que as relações se liquefazem, para usar um tema
caro ao sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
Não existe espaço humano num ambiente em que as relações de patrão e empregado se
estereotipam pela hierarquia e as corporações funcionam segundo preceitos fascistas – como
bem detectou o cineasta francês Nicolas Klotz em A Questão Humana. É dessa anomia
monstruosa, com aparência de normalidade, que fala Trabalhar Cansa, estupenda estreia de
dois jovens diretores.

Colado de <http://blogs.estadao.com.br/luiz-zanin/para-rever-trabalhar-cansa/>

Página 6 de Trabalhar cansa (2011)

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