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A Sincronia Perfeita.

Numa tarde de setembro, enquanto passava pelos corredores de sua escola


empolgada com o término das provas, Kia tirou os fones dos ouvidos e decidiu
beber um pouco de água. Seu tour pela escola estava na parte em que mais
gostava naquele momento, que era a parte artística da escola. Via diversos
desenhos ao longo dos corredores pendurados pelas paredes e apreciava os
traços dos clubes de desenho e de pintura.

Entre uma golada e outra na água gelada do bebedouro, ela ouviu uma música
de que gostava muito saindo de uma das salas próximas. Oque ouvia era For
the Love of God, uma das mais famosas músicas do guitarrista Steve Vai, um de
seus preferidos.

Desde pequena uma pessoa muito fechada, Kia Ume tinha grande adoração
por músicas do estilo do rock. Era sempre reprimida em sua família quando
dizia querer comprar discos de bandas como The Beatles ou ir a shows dos
Artic Monkeys, pois grande parte de seus parentes eram componentes famosos
do universo da música clássica premiados e muito reconhecidos. Graças a tais
fatores, a jovem Kia se dedicava a tempo quase integral, ou seja, quando não
estava na escola, ao estudo do piano, fora outros instrumentos como o cello e o
contrabaixo acústico.

Por mais que se dedicasse a esses instrumentos, sua paixão era na verdade, a
liberdade apresentada pelo rock. Em suas playlists de música, 90% do espaço
era ocupado pelos melodiosos solos de Joe Satriani e as guitarras pesadas de
Metallica.

Um tanto quanto curiosa pelo som que enchia seus ouvidos de tal forma que a
fazia flutuar, Kia decidiu conferir de onde tal som vinha. Olhando entre uma
sala e outra, ela percebeu que o som vinha de uma sala que estava
aparentemente vazia no final do corredor. Um longo suspiro foi tudo oque ela
conseguiu esboçar.

Procurava pela janela da sala, com um pouco de medo, por quem ou por que
aparelho que reproduzia tais notas. Pensativa, Kia decidiu tomar coragem para
abrir a porta. Levemente pôs suas mãos sobre a maçaneta e começou a rodá-la
lentamente, se esforçando para não fazer barulhou ser percebida. Abriu a porta
com um leve ranger, mas nada muito perceptível, e viu que no centro da sala,
um garoto que parecia ter sua idade, provavelmente de alguma outra turma,
tocava os solos sem nenhuma dificuldade aparente, gesticulando e fazendo
diversas caretas.
Por cerca de dois minutos, Kia observou o garoto com um sorriso no rosto,
interessada no que via e ouvia. Quando a música cessou, os dois se olharam
lentamente, olho no olho. A expressão dos dois era de pavor, talvez um pouco
puxado para a vergonha. O rosto de ambos tomou uma tonalidade vermelho
vivo, de forma que ficou bem aparente que os dois eram extremamente tímidos.

-MEDESCULPEEUFIQUEIIMPRESSIONADACOMAMÚSICAVOCÊTOCAM
UITOBEMPRAZERMEUNOMEÉKIAOCÉUTÁLINDOHOJENÉ?

Kia soltou as palavras em desespero, de forma que parecessem ordens o que


saiam da boca dela. Por sorte, o garoto entendeu exatamente o que ela disse e
respondeu de prontidão:

-OLÁTUDOBEMDESCULPAEUSOUMARCOHIDEA!

Com sua resposta, o silêncio reinou enquanto os dois se encaravam


extremamente constrangidos. Nenhum dos dois parecia saber oque fazer, até
que ele relaxou os ombros e soltou uma leve risada. Percebendo que o garoto
havia relaxado, Kia deixou sair um riso frouxo, até que os dois começaram a
gargalhar de forma irrefreável. Riram de tanto que ambos foram ao chão
enquanto choravam e riam.

Depois de se acalmarem, Marco explicou que também estava no primeiro ano


do ensino médio, assim como Kia, mas estava na turma 1-C, enquanto Kia
estava na 1-A. Ele explicou que tinha ficado na escola porque não tinha um
amplificador decente em casa, e que o da escola era muito melhor que o
próprio.

- E você, Kia, porque ficou na escola? – Ele perguntou de forma educada

- Eu fiquei porque, já que minha mãe não está em casa, pensei em esperar aqui
enquanto ouço música. – Disse ela mostrando seus fones que estavam
pendurados em seu pescoço.

Os dois estavam claramente envergonhados com a situação, até mesmo um


pouco desconfortáveis. Depois da curta resposta de Kia á longa pergunta de
Marco, ambos olharam para o relógio. O ponteiro já passava das seis horas e já
sabiam que deveriam ir para casa, pois a escola encerraria suas atividades em
aproximadamente vinte minutos. Eles se despediram de forma respeitosa, e ela
saiu da sala enquanto Marco guardava sua guitarra na capa.

Ela saiu da escola a pé em direção á estação de trem, onde tomaria um trem


que parava próximo á sua casa. Em pouco mais de quinze minutos, chegou ao
portão de sua casa, que era um tanto quanto sofisticada. Deixou seus sapatos na
porta de entrada e subiu as escadas em direção ao seu quarto. O dia havia sido
um tanto quanto exaustivo, então não estava com nem um pouco de vontade de
encarar seus pais.

Depois de comer um macarrão instantâneo em seu quarto, Kia tomou um


longo e relaxante banho, para que pudesse se deitar em sua cama para dormir.
Por mais que tentasse, não conseguia dormir por algum motivo, que não sabia
qual era. Rolava de um lado e para o outro na cama, sem conseguir encontrar
conforto para dormir. Na verdade, Kia estava quase dormindo e projetando em
sua cabeça aquela movimentação toda, achando que ainda estava controlando
seu corpo. Até que, um pouco antes de se dar conta que já dormia sem perceber,
notou que oque tanto lhe incomodava era o garoto, que havia lhe intrigado e
que não a deixava descansar. Quando se deu conta disso, sua consciência se
esvaiu, fazendo que ela entrasse num sono profundo.

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