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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

RICARDO MACHADO MANHA

Vygotsky na Educação Teológica

São Paulo, novembro de 2006


RICARDO MACHADO MANHA

Vygotsky na Educação Teológica

Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TGI-2)


apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie
para validação dos créditos de teologia de seminário
maior.

Orientador: Dr. Edson Pereira Lopes

São Paulo, novembro de 2006


RICARDO MACHADO MANHA

Vygotsky na Educação Teológica

Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TGI-2)


apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie
para validação dos créditos de teologia de seminário
maior.

Aprovado em .....................................................

Banca Examinadora

____________________________________________
Dr. Edson Pereira Lopes

____________________________________________

____________________________________________
O presente trabalho é dedicado a Deus pelo sustento incondicional da
minha vida, aos meus pais pelo amoroso incentivo, a minha esposa
pela fiel dedicação, ao meu filho pela resignificação da vida.
RESUMO NA LÍNGUA VERNÁCULA

Esta obra visa refletir a respeito da aplicabilidade dos princípios educacionais de Lev
Semyonovitch Vygotsky à teologia
Sua obra, “A Formação Social da Mente”, que tem como base a teoria interacionista do
desenvolvimento humano, será o foco deste trabalho.
Analiso os três pilares que sustentam o raciocínio de Vygotsky, quais sejam: As funções
psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral; O
funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo
exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico; e a relação ser humano / mundo é
uma relação mediada por sistemas simbólicos.
RESUMO NA LÍNGUA ESTRANGEIRA

This work aspire to think about to apply Vygotsky’s education theory to theology.
His book, “Mind in Society – The Development of Higher Psychological Processes”,
based on interacionist theory of the human development, will be the focus this work.
I analyze the three columns sustain Vygotsky’s thesis: The psychological functions
have a biological support, because they are result of brain employment; The psychological
functioning establish oneself in the socials interactions between persons and world, and the
socials interactions develop oneself in the historic process; The relation human/world are
mediate by means of symbolics systems.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 07

1 A HISTÓRIA DA TEORIA DE VYGOTSKY ................................................................... 10

1.1 – As teorias de Karl Marx e Frederich Engels ...................................................... 12

1.2 – Concepções do Desenvolvimento humano ........................................................ 13

1.2.1 – Inatista ................................................................................................. 14

1.2.2 – Ambientalista ....................................................................................... 14

1.2.3 – Interacionista ....................................................................................... 14

2 A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL DE L. S. VYGOTSKY ........................................ 16

2.1 As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade
cerebral ....................................................................................................................... 16

2.2 O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo


e o mundo exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico ................. 18

2.3 A relação ser humano / mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos ..20

3 VYGOTSKY E A TEOLOGIA ........................................................................................... 25

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 36


7

INTRODUÇÃO

Será que os princípios filosóficos / educacionais de Vygotsky podem ser relacionados


com a teologia? Cremos que sim. Na presente obra, analisamos as convergências de sua teoria
com a teologia reformada. O leitor acompanhará o estudo dos diferentes recursos pedagógicos
encontrados nas Escrituras, sob a visão do desenvolvimento sócio/histórico/cultural de
Vygostsky.
É possível aplicar os princípios filosóficos / educacionais de Vygotsky em qualquer área
de atuação, inclusive a teologia. Apesar da influência do materialismo de Marx, Engels e do
da teoria da evolução de Charles Darwin sobre a sua teoria, de que o indivíduo se desenvolve
num processo histórico-cultural, ela não causa a depreciação da figura do professor e da
conduta ética e moral como muitos defendem. Muito pelo contrário, sua teoria nos conduz
inevitavelmente a considerar a participação do professor importante na mediação do ensino,
na facilitação dele, e na análise e criação de métodos didáticos eficazes e condizentes com a
teoria interacionista.
Ainda atribui ao aprendiz uma participação mais efetiva na construção do conhecimento,
tornando-a mais interessante, leva em consideração a bagagem histórica do aluno, e preocupa-
se com a qualidade e a funcionalidade o material didático.
O desenvolvimento dos processos internos do ser humano acontece em um ambiente
social, e a interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento e aprendizagem.
O fato de nascermos em um mundo histórico, implica, conseqüentemente, que o nosso
desenvolvimento é influenciado pelas experiências e conquistas de muitos outros indivíduos
ao longo dos tempos. Por isso, sua teoria baseia-se no processo sócio, histórico e cultural.
Vygotsky nasceu no século retrasado e viveu no início do século 20. Por que temos
contato com a sua obra tão tardiamente? Um dos motivos que impediram a propagação do seu
pensamento foi o contexto em que vivia. A ex União Soviética restringia sua atuação fora do
oriente. Com a queda da “cortina de ferro” Vygotsky começou a ganhar o mundo. Outro fator
que auxiliou a propagação de suas idéias é o ensino a distância (EAD) muito comentado
atualmente e alvo de muitas teses. Quando Vygotsky elaborou sua teoria, a idéia da internet
não estava nem estado embrionário. Com o desenvolvimento e expansão da tecnologia,
Vygotsky foi resgatado para a defesa de uma melhor qualidade de ensino. Isto ocorre porque
seu trabalho, baseado na teoria interacionista, apregoa, como implicação natural, a interação
do aluno no aprendizado e a utilização de vários recursos auxiliadores na educação. Essa
8

preocupação, em facilitar o aprendizado e torná-lo agradável, ocorre muito tempo antes de


Vygotsky. Em sua obra “O Conceito de Teologia na Didática magna de Comenius”, o
professor Edson Pereira Lopes (2003, p.77) faz a seguinte observação: “preocupa-se em
distribuir corretamente o tempo escolar entre ensino com conversas, jogos, recreações e
música, pois deseja que a escola seja agradável e atraente. Com esses princípios, cativa seus
alunos, abolindo os castigos corporais, tão em voga na escola desse período.” Aliás, essa
teoria, em tornar o ensino rico e agradável, conduz inevitavelmente a qualificação do
professor, tornando-o um facilitador do ensino. Infelizmente, inúmeras vezes, não somos
beneficiados por essas facilidades; ou por desconhecimento da teoria ou por descaso.
Pesquisar Vygotsky e interiorizar sua teoria auxiliará na reformulação dos nossos princípios
educacionais, fortalecendo o ensino. Conseqüentemente, a solução de muitos problemas
sociais podem ser amenizados focando essa qualidade.
Deve-se ater ao fato de que só a educação em si não é a solução de todos os problemas
socais. Afirmar, como é comum em nossos dias, principalmente nos programas políticos-
partidários, que a educação resolve o problema da violência é ofender grandemente o
trabalhador analfabeto que tem uma conduta ética exemplar. É importante ressaltar que essa
qualidade do método deve vir acompanhada de qualidade de conteúdo. Portanto, deve
apresentar-se com profundas raízes cristãs. Daí surge a necessidade de relacionar a teoria de
Vygotsky com a teologia. Tanto confrontando uma com a outra, no intuito de passar pelo crivo
da teologia; quanto associá-los nos pontos convergentes.
Corroborando com esta tese Matatias G. dos Santos (1973, apud HACK, 1985, p. 132)
faz a seguinte observação:

“Os melhores métodos de instrução devem ser indubitavelmente aqueles que


transmitam às novas gerações, com a máxima rapidez e eficiência, os conhecimentos
fixados pelas experiências do passado. A instrução é como o tesouro em que se
armazenam os valores a aplicar nas realizações do ideal; [...] esses valores [...]
podem ser usados para o bem, como para o mal; [...] Daí resulta que a instrução, por
si só, tem uma importância muito relativa, por maior que seja o seu realce. Falta-lhe,
nesse caso, uma força coordenadora ou mesmo subordinadora que a ponha em
relação segura com uma finalidade certa e sadia, atinente, não só às realizações da
presente vida, mas em imperativos da imoralidade.”

Além disso, através de sua teoria poderemos analisar as formas de ensino encontradas
nas Sagradas Escrituras com uma nova visão, sob outro ponto de vista.
9

Portanto, o estudo de Vygotsky redundará na melhoria do aprendizado, auxiliando na


compreensão e elaboração de estratégias pedagógicas, facilitando também a compreensão das
Escrituras.
10

1 A HISTÓRIA DA TEORIA DE VYGOTSKY

Vygotsky publicou diversos livros e artigos. Ao se deparar com suas obras, um leitor
atento perceberá que ele estudou o desenvolvimento humano à luz do evolucionismo e do
pensamento de Marx e Engels. Sua obra de maior impacto foi “A Formação Social da
Mente”, na qual basearemos nossos estudos.
Vygotsky nasceu na cidade de Orsha, na Bielo-Rússia, em 17 de novembro de 1986.
Era membro de uma família judia, sendo o segundo de oito irmãos. Seu pai era chefe de
departamento de um banco e sua mãe era professora formada, mas não exercia a profissão.
Sua família tinha uma situação econômica confortável e podia oferecer educação de alta
qualidade aos filhos. Sua casa tinha atmosfera intelectualizada, onde pais e filhos tinham o
hábito de debater sistematicamente diversos assuntos. A biblioteca dos pais estava sempre à
disposição dos filhos e dos amigos. Criado nesse ambiente de grande estimulação intelectual,
desde cedo se interessou pelo estudo e reflexão sobre várias áreas de conhecimento.
Organizava grupos de estudo com os amigos, utilizava freqüentemente a biblioteca pública e
aprendeu diversos idiomas. Tinha áreas de interesse, como literatura, poesia e teatro. A maior
parte da educação formal foi realizada em casa, por meio de tutores particulares. Apenas aos
15 anos ingressou em um colégio privado. Graduou-se em Direito pela Universidade de
Moscou, em 1917. Ao mesmo tempo, freqüentou cursos de história e filosofia na
Universidade Popular de Shanyavskii, onde aprofundou também estudos em psicologia e
literatura. Anos mais tarde, em razão do seu interesse em trabalhar com problemas
neurológicos, como forma de compreender o funcionamento psicológico humano, estudou
também medicina. Do mesmo modo de sua formação acadêmica, sua atividade profissional
foi muito diversificada. Trabalhou em diferentes localidades na ex-União Soviética tendo
saído do país uma única vez, em 1925, para uma viagem de trabalho a outros países da
Europa. Foi professor pesquisador nas áreas de psicologia, pedagogia, filosofia, literatura,
deficiência física e mental, atuando em diversas instituições de ensino e pesquisa, ao mesmo
tempo em que lia, escrevia e dava conferências. Criou o laboratório de psicologia na escola de
formação de professores de Gomet, na Região da Bielo-Rússia.
Vygotsky foi casado com Roza Smenkhova e teve duas filhas. Desde 1920 conviveu
com a tuberculose, doença que o levaria à morte em 1934, com apenas 37 anos. Apesar de
uma vida tão curta, sua produção escrita foi muito vasta. Seu interesse diversificado e sua
formação interdisciplinar determinaram a natureza dessa produção: foram cerca de 200
11

trabalhos científicos, cujos temas vão desde a neuropsicologia até a crítica literária, passando
por deficiência física e metodológicas relativas às ciências humanas. As idéias de Vygotsky
não se limitaram a uma produção individual. Ao contrário, multiplicaram-se e se
desenvolveram na obra de seus colaboradores, dos quais destacaram-se como principais
Alexander Romanovich Luria e Alexei Nikolaievich Leontinev. Após a morte prematura de
Vygotsky, seus seguidores procuraram estudar e valorizar as suas idéias e seus trabalhos,
ignorados inicialmente no Ocidente e com publicações suspensas na União Soviética de 1936
a 1956. Entretanto, nas duas últimas décadas foram resgatados e aprofundados, em um
reconhecimento evidente do enorme significado das contribuições teóricas da psicologia russa
para a compreensão do ser humano. Vygotsky ganhou destaque na psicologia americana a
partir da publicação, em 1962, da sua monografia Pensamento e Linguagem (Thought and
Language). No Brasil, a primeira publicação de seus trabalhos foi a coletânea “A Formação
Social da Mente”, ocorrida em 1984.
Vygotsky, Luria, e Leontinev buscavam uma “nova psicologia”, que consistisse numa
síntese entre duas fortes tendências presentes do início do século XX, cujas divergências
geravam uma “crise na psicologia”: a psicologia como ciência natural (experimental,
preocupando-se com a quantificação dos fenômenos observáveis) e a psicologia como ciência
mental (aproxima-se da filosofia e das ciências humanas).
A teoria do evolucionismo foi justamente a causadora de muitos estudiosos se
embrenharem no estudo do desenvolvimento humano, e Vygotsky está inserido nesse grupo.
Os evolucionistas de maior influencia sobre Vygotsky foram Vladimir Aleksandrovich Vagner
e a Charles Darwin.
Vygotsky entendia que a origem do homem se distinguia em dois períodos: a evolução
biológica de Darwin e a historia do homem sob o prisma de Marx e Engels. Essa aceitação
dos conceitos darwinianos como a “variação” e “seleção natural”, por exemplo, redundava na
admiração de outras implicações do conceito de Darwin como a base hereditária da anatomia
e fisiologia, a idéia de que temos coisas em comum com os animais, dentre outras. Apesar de
admirar o evolucionismo, ele resistia à idéia de Darwin de que as faculdades mentais do
homem e dos animais inferiores não diferissem em tipo, apesar de diferir em grau. Vygotsky
afirmava que o homem adquiria traços humanos por causa do domínio da cultura através da
interação social com os outros. Por causa disso, colocou parâmetros na evolução biológica e
na genética, limitando-as. Dessa forma, afirmava que havia diferenças fundamentais entre
animais e homens. Associada a esta afirmação nota-se a influência Wagner sobre sua teoria
quando demonstra sua crença na ocorrência da aprendizagem pela experiência que conduzia
12

ao desenvolvimento do Intelecto em contraste com o Instinto. Ou seja, a experiência do


convívio com os outros integrantes da sociedade e da própria natureza conduzia a novas
formas de agir. Diante de tudo isso, para elucidar o foco do nosso estudo, é importante
salientar que Vygotsky associava os animais à sua quase completa dependência da herança
genética para viver e sobreviver; ao contrário do homem, que dominando o conhecimento e a
sabedoria incorporados na cultura humana, podem dar um passo decisivo no sentido da
emancipação em relação à natureza. Mais adiante, associaremos este tópico ao conceito
teológico do domínio do homem sobre o cosmos. Por enquanto, vale lembrar que estaremos
comparando a teoria de Vygotsky com os ensinos cristãos reformados.

1.1 As teorias de Karl Marx e Frederich Engels

As teorias de Marx e Engels tiveram grande participação no desenvolvimento da teoria


de Vygotsky, e em especial o materialismo dialético. Sobre esse assunto Abbagnano diz:

entende-se por esta expressão a filosofia oficial do comunismo enquanto teoria


dialética da realidade. Mais do que um materialismo trata-se verdadeiramente de um
dialetismo naturalista, cujos princípios foram postos por Marx mas desenvolvidos
por Engels de uma maneira que foi depois, mais ou menos fielmente, seguida pelos
filósofos comunistas que são os únicos seguidores de tal filosofia
(ABBAGNANO, 1982, p.623)

Entender Marx e Engels clarificará o nosso estudo a respeito do pensamento de


Vygotsky já que este nasceu e cresceu em um país comunista.
Definindo o materialismo dialético, podemos dizer que “qualquer doutrina que não
admite outra substância ou realidade além da matéria, sendo o pensamento uma qualidade
da última, é chamada materialismo” (DUROZOI, 1996, p. 316) Associada a esta definição,
relatando a terceira lei da dialética, ou seja, a negação da negação, Abbagnano diz: “A terceira
significa que cada síntese é por sua vez a tese de uma nova antítese que dará lugar a uma
nova síntese” (ABBAGNANO, 1982, p.623) Dessa forma, podemos compreender porque um
dos principais princípios de Vygotsky é a afirmação de que o homem influencia o meio e é ao
mesmo tempo influenciado por ele.
Tratando um pouco de Engels, ele cria que o homem só se tornou homem e
conseqüentemente deu início a sua história no momento em que desceu das árvores e
13

desenvolveu uma postura ereta. Liberando as mãos para manipulação de objetos e construção
de instrumentos como as armas primitivas de pedra e madeira, desenvolvendo assim ações
motoras mais complexas. (ENGELS, 2000, p. 215) Os homens começaram a trabalhar em
cooperação e houve a necessidade de aprimorar a comunicação. Portanto, o trabalho
antecedeu a fala e a sua origem se deu com a fabricação de instrumentos. Dessa forma, o
homem transformava o ambiente e não agia simplesmente passivo. Acertadamente comentam
René Van Der Veer e Jaan Valsiner:

[...] a adoção por Vygotsky da teoria de Engels implicava a aceitação de uma


distinção entre evolução biológica e história humana e da importância do papel dos
instrumentos e do trabalho na origem da cultura humana. Um dos principais desafios
para a psicologia marxista seria demonstrar como o uso de instrumentos e o trabalho
haviam influenciado os processos mentais humanos. (VEER E VALSINER, 1999,
p.218).

O próprio Darwin havia dito que, não raras vezes, muitos animais faziam uso de
instrumentos. Portanto, qual era a diferença essencial entre homens e animais? Uma visão
clássica era a de que os animais não passavam de maquinas vivas, mas isso incomodava
Vygotsky. Também incomodava a idéia de que os animais não são basicamente diferentes dos
seres humanos. Para Vygotsky, a história dos seres humanos estava intimamente ligada aos
instrumentos. Esses instrumentos permitiram que os seres humanos dominassem a natureza,
assim como o instrumento técnico da fala permitiu-lhes dominar seus próprios processos
mentais. Os animais demonstram que usam instrumentos e não trabalho. Os animais fabricam
e usam instrumentos, mas isso não redunda em trabalho. Como os animais não desenvolvem
trabalho, eles não podem desenvolver a fala. Portanto, Vygotsky optou pela solução dialética
de que a diferença entre animais e seres humanos é tanto uma questão de grau como de
espécie.

1.2 Concepções do Desenvolvimento humano.

Para avançarmos no estudo da Teoria Histórico-cultural, é importante falarmos sobre


algumas visões existentes sobre o ser humano, o mundo, a sociedade, as relações sociais.
Essas visões são chamadas de concepções de desenvolvimento humano. Analisaremos,
mesmo que brevemente, as concepções inatista, ambientalista e interacionista.
14

1.2.1 Inatista

A concepção inatista apregoa a posse de qualidades e capacidades do ser humano


desde o nascimento. Sobre esse assunto Abbagnano diz: “Doutrina segundo a qual existem no
homem conhecimentos ou princípios práticos inatos, isto é, não adquiridos com a experiência
ou pela experiência, e anteriores a ela”. (ABBAGNANO, 1982, p.521). Ou seja, os dons e
talentos do indivíduo já estão prontos quando ele nasce e vão se desenvolvendo ou
amadurecendo durante sua existência. A pessoa se desenvolve de forma espontânea e suas
habilidades já são predeterminadas pelas condições herdadas. O desenvolvimento vai
obedecendo a um processo de maturação interna que não sofre transformação a partir das
influências do meio social. Algumas expressões populares ilustram essa concepção: “filho de
peixe, peixinho é”; “Pau que nasce torto morre torto”; “O homem já nasce pronto”.

1.2.2 Ambientalista

A concepção ambientalista formula suas expectativas de forma oposta a inatista. Crê


que o ambiente forja a capacidade e qualidade do indivíduo. Nessa concepção a pessoa se
desenvolve a partir do sucesso ou do fracasso da sua reação quando responde ao ambiente. A
pessoa tende a repetir o que deu certo e, assim os comportamentos são reforçados e se fixam
como novas aprendizagens. Nessa concepção, aquilo que a pessoa herda ao nascer não
influencia a sua forma de ser no futuro. A pessoa vai sendo construída, de forma passiva,
pelos fatores externos, quase como se fosse uma massa de modelar. Há algumas expressões
populares que ilustram essa concepção: “O meio faz o homem”, “Diz-me com quem andas e
eu te direi quem és”.

1.2.3 Interacionista

Ao contrário do que comumente se pensa esta concepção não é a integração das duas
concepções anteriores. Mas por si só forma outra vertente de pensamento sobre o
15

desenvolvimento humano. Ela defende a transformação constante do indivíduo pelo ambiente,


ao mesmo tempo que o ambiente é transformado pelo indivíduo. Ambos se transformam
criando uma interação. Ou seja, a pessoa aprende e se desenvolve por meio da interação entre
suas características biológicas e o meio físico e sócio-cultural em que vive. O ser humano
vivencia e conhece o mundo de forma ativa, porque transforma o ambiente enquanto é
também modificado pelo meio social. De acordo com essa concepção, a ênfase do
desenvolvimento humano tem seu foco nas relações sociais que são estabelecidas no contexto
vivenciado pela pessoa. A teoria histórico-cultural do desenvolvimento humano, abordada por
Vygotsky, sustenta-se na concepção interacionista. Essa teoria considera que o indivíduo tem
uma participação ativa na construção do seu desenvolvimento de si e do mundo, por meio da
interação com as outras pessoas do seu meio social. Dessa forma, o desenvolvimento humano
caracteriza-se em uma dimensão social, cultural e histórica.
Apesar de haver muitos estudiosos que se dedicaram exclusivamente a uma ou outra
concepção do desenvolvimento humano, hoje admite-se que elas não são excludentes. Antes,
elas são analisadas conjuntamente.
16

2 A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL DE L. S. VYGOTSKY

Tendo visto alguns pontos importantes para a compreensão do trabalho de Vygotsky


passemos agora à essência de sua teoria. È importante, neste momento, esclarecer o que são as
funções psicológicas superiores. Oliveira relata de forma clara a definição:

“O ser humano tem a possibilidade de pensar em objetos ausentes, imaginar eventos


nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores. Esse
tipo de atividade psicológica é considerada ‘superior’ na medida em que se
diferencia de mecanismos mais elementares tais como ações reflexas (a sucção do
seio materno pelo bebê, por exemplo), reações automatizadas (o movimento da
cabeça na direção de um som forte repentino, por exemplo) ou processos de
associação simples entre eventos (o ato de evitar o contato da mão com a chama de
uma vela, por exemplo).” (OLIVEIRA, 2003, p. 26).

Em seus estudos, Vygotsky, dedicou-se aos mecanismos próprios das funções


psicológicas superiores, buscando uma alternativa que integrasse numa mesma perspectiva, o
ser humano enquanto corpo e mente, ser biológico e ser social, membro da espécie humana e
participante de um processo histórico.
Para explicitar essa nova abordagem, acompanharemos as três divisões do pensamento
central de Vygotsky conforme relatado por Marta Kohl de Oliveira, que podem ser
considerados os pilares do pensamento de Vygotsky.

“Essa nova abordagem para a psicologia fica explícita em três idéias centrais que
podemos considerar como sendo os “pilares” básicos do pensamento de Vygotsky:
as funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade
cerebral; o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o
indivíduo e o mundo exterior, as quais desenvolvem-se num processo histórico; e a
relação homem/mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos”.
(OLIVEIRA, 2005, p.23)

2.1 As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade
cerebral.

O ser humano cria e transforma seus modos de ação na sua relação com o meio.
17

“É justamente essa visão sobre o funcionamento psicológico que está na base das
concepções de Vygotsky a respeito do funcionamento do cérebro: se a história social
objetiva tem um papel crucial no desenvolvimento psicológico, este não pode ser
buscado em propriedades naturais do sistema nervoso. Isto é, o cérebro é um sistema
aberto, que está em constante interação com o meio e que transforma suas estruturas
e mecanismos de funcionamento ao longo desse processo de interação. Não
podemos, portanto, pensar o cérebro como um sistema fechado, com funções pré-
definidas, que não se altera no processo de relação do homem com o mundo”.
(OLIVEIRA, 2005, P. 83)

O ser humano possui uma existência material que o limita, restringe o campo do
desenvolvimento. O cérebro, no entanto, não é um sistema de funções fixas e imutáveis, mas
um sistema aberto de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são
moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. Essa plasticidade
é muito importante, pois o homem possui imensas possibilidades de realização. Ou seja, o
cérebro pode servir para novas funções, criadas na história do ser humano, sem que sejam
necessárias transformações no órgão físico. Apesar de parecer “o caos”, essa flexibilidade
cerebral supõe uma estrutura básica estabelecida ao longo da evolução da espécie, que cada
um de seus membros traz consigo ao nascer.
Algumas descobertas, cientificamente comprovadas, podem corroborar essa
afirmação:

“[...] Sabemos fisiologicamente que células nervosas que disparam juntas se


conectam. Se praticar algo diversas vezes, essas células nervosas tem
relacionamento de longo prazo. Se ficar nervoso diariamente [...] está religando e
reiterando aquela rede neural diariamente. E aquela rede neural agora tem um
relacionamento de longo prazo [...]. Cada vez que interrompemos o processo de
pensamento isso produz uma resposta química no corpo; (e) a cada vez que
interrompemos, aquelas células nervosas que estão ligadas entre si começam a
quebrar o relacionamento de longo prazo.” (QUEM SOMOS NÓS?, capítulo 6)

Um dos colaboradores de Vygotsky, Luria, aprofunda-se na questão da estrutura básica


do cérebro, estipula três grandes unidades de funcionamento cerebral.

“A primeira delas é a unidade para regulação da atividade cerebral e do estado de


vigília: para que os processos mentais se desenvolvam de forma adequada é
necessário que o organismo esteja desperto [...] Além disso é necessário que o
cérebro funcione num nível adequado, nem muito inibido e nem muito excitado. [...]
Embora o sistema nervoso tenha normalmente, um certo nível de atividade e a
manutenção desse nível seja uma característica essencial do funcionamento do
organismo, há situações em que esse nível deve ser aumentado. O sistema nervoso
conta, então, com essa forma de controle sobre o seu próprio nível de atividade, o
que lhe dá condição de funcionamento adequado, dependendo da situação em que o
organismo se encontre. A segunda unidade de funcionamento cerebral é a unidade
para recebimento, análise e armazenamento de informações. Essa unidade é
responsável, inicialmente, pela recepção de informações sensoriais do mundo
18

externo através dos órgãos dos sentidos. Trabalha com informações específicas,
como por exemplo, na percepção visual, com pontos luminosos, linhas, manchas. A
seguir essas informações são analisadas e integradas em sensações mais complexas,
constituindo objetos completos[...]. Depois são sintetizadas em percepções ainda
mais complexas que envolvem, simultaneamente, informações de várias
modalidades sensoriais[...]. Assim se dá a percepção de cenas, eventos, situações
que se desenvolvem no tempo e no espaço. Todas essas informações, das mais
simples às mais complexas, são armazenadas na memória e podem ser utilizadas em
situações posteriores enfrentadas pelo indivíduo. A terceira unidade postulada por
Luria é a unidade para programação, regulação e controle da atividade. ‘A atividade
consciente do homem apenas começa com a obtenção da informação e sua
elaboração, terminando com a formação das intenções, do respectivo programa de
ação e com a realização desse programa em atos exteriores (motores) ou interiores
(mentais)’. [...] Enquanto a segunda unidade trabalha com a recepção da informação
vinda do ambiente, essa terceira unidade regula a ação, física e mental, do indivíduo
sobre o ambiente. Luria enfatiza em seu trabalho que qualquer forma de atividade
psicológica é um sistema complexo que envolve a operação simultânea das três
unidades funcionais. [...] Essas três grandes unidades de funcionamento cerebral
estão presentes em todos os indivíduos da espécie humana e são as bases sobre a
qual se construirão mecanismos específicos, carregados de conteúdo cultural. Outro
aspecto importante resultante das concepções de Luria, sobre a organização cerebral,
é a idéia de que a estrutura dos processos mentais e as relações entre os vários
sistemas funcionais transformam-se ao longo do desenvolvimento individual. [...] Os
processos de mediação simbólica e o pensamento abstrato e generalizante, tornado
possível pela linguagem passam a ser mais centrais nos processos psicológicos do
adulto. [...] Lesões em determinadas áreas do cérebro podem causar problemas
completamente diferentes, dependendo do estágio do desenvolvimento psicológico
do indivíduo. Foi propondo uma linha de investigação que buscasse descrever a
estruturação das funções mentais em condições normais de desenvolvimento, sua
perda ou desorganização em caso de lesão cerebral e suas possibilidades de
recuperação que Vygotsky lançou os fundamentos do que viria a ser a
neuropsicologia de Luria e as bases de uma compreensão da psicologia humana, que
contempla o substrato biológico do funcionamento psicológico dessa espécie, cujo
desenvolvimento é essencialmente sócio-histórico”. (OLIVEIRA, 2005, pp. 86-89)

2.2 O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo


e o mundo exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico.

Após termos visto as funções psicológicas tem um suporte biológico, ou seja, o


cérebro, passemos para as relações sociais. Ao longo da história da espécie humana os signos
e instrumentos1 são compartilhados pelo conjunto dos membros do grupo social, permitindo a
comunicação entre os indivíduos e o aprimoramento da interação social. A partir do momento
em que os signos e instrumentos são compartilhados socialmente, os indivíduos aprendem os

1
Para facilitar a leitura e a sua compreensão adiantamos a definição de instrumentos e signos que serão
abordados no capítulo seguinte: Os signos e os instrumentos constituem os sistemas simbólicos, que são os
elementos intermediários entre o sujeito e o mundo. Os instrumentos são objetos sociais e mediadores da relação
entre o indivíduo e o mundo. E os signos, por sua vez, são meios auxiliares para solucionar questões psicológicas
como, por exemplo, lembrar, comparar coisas, relatar, escolher. Este é utilizado internamente, aquele
externamente.
19

seus significados, que é a compreensão socialmente partilhada. O significado é o elo entre o


signo, objeto ou idéia, e a compreensão social que temos dele. Quando nos comunicamos com
outras pessoas, precisamos entender qual o significado das coisas que nos mostram, nos
pedem, sobre o que nos falam, nos oferecem, nos ensinam. Se estivermos em contato com
outras pessoas, essa comunicação vai forçando o aparecimento, em nós, de novas formas de
perguntar, de responder, de olhar, de pegar e de entender sobre as coisas, as situações, as
relações. À medida que partilhamos socialmente os significados das coisas e do mundo,
construímos internamente o sentido. O Sentido é a compreensão que a pessoa,
individualmente, constrói a partir de um significado posto socialmente. A construção do
sentido passa pela vivência e experiência de cada pessoa, por isso é sempre individualizada.
Quando criamos internamente o sentido, estamos passando pelo processo de internalização.
Ao internalizarmos um significado, criando um sentido individualizado, estamos
desenvolvendo as nossas funções psicológicas. Esse desenvolvimento é favorecido pela
interação com outras pessoas. Para Vygotsky a internalização ocorre em duas dimensões:
primeiro, no nível social, na medida em que os indivíduos partilham os significados postos
pela cultura; segundo, no nível individual, porque o indivíduo reorganiza, ressignifica e
transforma os significados partilhados socialmente em processos particulares de construção de
novos sentidos. Vygotsky exemplifica esse processo com o ato de apontar.

“Chamamos de internalização a reconstrução interna de uma operação externa. Um


bom exemplo desse processo pode ser encontrado no desenvolvimento do gesto de
apontar. Inicialmente, esse gesto não é nada mais do que uma tentativa sem sucesso
de pegar alguma coisa, um movimento dirigido para certo um objeto, que
desencadeia a atividade de aproximação. A criança tenta pegar um objeto colocado
além de seu alcance; suas mãos, esticadas em direção àquele objeto, permanecem
paradas no ar. Seus dedos fazem movimentos que lembram o pegar. Nesse estágio
inicial, o apontar é representado pelo movimento da criança, movimento este que faz
parecer que a criança está apontando um objeto – nada mais que isso. Quando a mãe
vem em ajuda da criança, e nota que o seu movimento indica alguma coisa, a
situação muda fundamentalmente. O apontar torna-se um gesto para os outros. A
tentativa malsucedida da criança engendra uma reação, não do objeto que ela
procura, mas de uma outra pessoa. Conseqüentemente, o significado primário
daquele movimento malsucedido de pegar é estabelecido por outros. Somente mais
tarde, quando a criança pode associar o seu movimento à situação objetiva como um
todo, é que ela, de fato, começa a compreender esse movimento como um gesto de
apontar. [...] O movimento de pegar transforma-se no ato de apontar.”
(VYGOTSKY, 2003, P. 74).

A pessoa tem uma participação ativa na construção do seu desenvolvimento e vai


formando e transformando o conhecimento de si e do mundo por meio da interação que
estabelece com as outras pessoas de seu grupo social. Quando uma pessoa internaliza um
20

significado, ela volta a agir no mundo de forma diferente, porque o sentido que ela construiu,
que passa a ser compartilhado com as outras pessoas, a faz compreender o mundo de forma
diferente. Assim, acontece um movimento de vai e vem: a construção de conhecimentos de si
e do mundo.
Para Vygotsky, essa transação do homem, ou transformação de um ser biológico para
um sócio-histórico, ocorre porque a cultura é parte essencial da constituição da natureza
humana. Não se pode pensar no desenvolvimento como um processo abstrato,
descontextualizado, universal. Os aspectos histórico, social e cultural da espécie humana, e
sua interação com as condições de vida social, são as origens da vida consciente e do
pensamento abstrato. Entendamos esses aspectos: é histórico porque o nosso desenvolvimento
é influenciado pelas experiências e conquistas de muitos outros indivíduos ao longo do tempo.
É social porque o conhecimento é organizado e estruturado pelos grupos sociais como, por
exemplo, a família, a escola, a igreja, as empresas. É por meio desses grupos que vivenciamos
as nossas experiências no mundo e, portanto, aprendemos e nos desenvolvemos. É cultural
porque o desenvolvimento sofre influência do contexto cultural em que vivemos como a
linguagem, os valores, os hábitos, as crenças. O ser humano faz cultura por meio da sua
atuação na natureza, transformando-a, para que ela sirva aos seus propósitos, criando
instrumentos.
O ser humano é interativo, ou seja, compreende o mundo, transforma-o e transforma a
si mesmo por meio das relações sociais estabelecidas com outras pessoas. Nesse sentido, a
relação social tem um papel muito importante na origem do desenvolvimento, pois é nos
grupos sociais que o indivíduo organiza o seu conhecimento e as suas funções psicológicas.
Desse modo, deve-se procurar analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior dos
indivíduos, a partir da interação do sujeito com a realidade.

2.3 A relação ser humano / mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.

O ser humano não se relaciona com o mundo diretamente, sua relação é mediada. Os
signos e os instrumentos constituem os sistemas simbólicos, que são os elementos
intermediários entre o sujeito e o mundo. Esse conceito de mediação é central para a
compreensão vygotskyana sobre o funcionamento psicológico. Pensando genericamente,
mediação é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação
21

deixa, portanto, de ser direta e passa ser mediada por esse elemento. A presença de elementos
mediadores introduz um elo a mais nas relações organismo/meio, tornando-as mais
complexas. Ao longo do desenvolvimento do indivíduo as relações mediadas passam a
predominar sobre as relações diretas. Vygotsky comenta:

“Toda forma elementar de comportamento pressupõe uma reação direta à situação-


problema defrontada pelo organismo – o que pode ser representado pela fórmula
simples (S R). Por outro lado, a estrutura de operações com signos requer um
elo intermediário entre o estímulo e a resposta. Esse elo intermediário é um estímulo
de segunda ordem (signo), colocado no interior da operação, onde preenche uma
função especial; ele cria uma nova relação entre S e R. O termo ‘colocado’ indica
que o indivíduo deve estar ativamente engajado no estabelecimento desse elo de
ligação. [...] Conseqüentemente, o processo simples estímulo-resposta é substituído
por um ato complexo, mediado [...].” (VYGOTSKY, 2003, p. 53)

Dessa formulação é que surge a sua conhecida figura do triângulo, onde “S” é
estímulo, “R” é resposta, e “X”, o elemento mediador.

S ______________ R

Esses sistemas simbólicos constituído pelos signos e instrumentos são criados pela
sociedade ao longo da história humana, mudando a forma social e o nível de seu
desenvolvimento cultural. Exemplificando a mediação, OLIVEIRA (2003, 27) diz que quando
um indivíduo aproxima sua mão da chama de uma vela e a retira rapidamente ao sentir dor,
está estabelecida uma relação direta entre o calor da chama e a retirada da mão. Se, no
entanto, o indivíduo retirar a mão quando apenas sentir o calor e lembrar-se da dor sentida em
outra ocasião, a relação entre a chama da vela e a retirada da mão estará mediada pela
lembrança da experiência anterior. Se, em outro caso, o indivíduo retirar a mão quando
alguém lhe disse que pode se queimar, a relação estará mediada pela intervenção dessa outra
pessoa.
22

Dessa forma, os signos são meios auxiliares para solucionar questões psicológicas
como, por exemplo, lembrar, comparar coisas, relatar, escolher. São inúmeras as formas de
utilizar signos como instrumentos que auxiliam no desempenho de atividades psicológicas.
Fazer uma lista de compras por escrito, utilizar um mapa para encontrar um determinado
local, fazer um diagrama para a construção de um objeto, amarrar uma fita no dedo para não
esquecer um compromisso são alguns exemplos de como estamos constantemente recorrendo
à mediação simbólica para melhorar as nossas possibilidades de armazenamento de
informações e de controle da ação psicológica.
Os instrumentos, por sua vez, são objetos sociais e mediadores da relação entre o
indivíduo e o mundo. Para Vygotsky, “o signo age como um instrumento da atividade
psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho”. (VYGOTSKY,
2003, p. 70) Contudo, ele ressalta que há um aspecto que deve ser notado com relação a essa
analogia. Ela converge na questão, já comentada, que “a analogia básica entre signo e
instrumento repousa na função mediadora que os caracteriza”. (VYGOTSKY, 2003, p.71)
Contudo,

“A função do instrumento é servir como um condutor da influência humana sobre o


objeto da atividade; ele é orientado externamente; deve necessariamente levar a
mudanças no os objetos. Constitui um meio pelo qual a atividade humana externa é
dirigida para o controle e domínio da natureza. O signo, por outro lado, não
modifica em nada o objeto da operação psicológica. Constitui um meio da atividade
interna dirigido para o controle do próprio indivíduo; o signo é orientado
internamente”. (VYGOTSKY, 2003, p. 72-73)

Vygotsky trabalha, portanto, com a noção de que a relação do ser humano com o
mundo é fundamentalmente uma relação mediada pelos sistemas simbólicos, por meio das
interações sociais.
Lembremos do que está relatado no livro de Saussure: “O signo lingüístico une não
uma coisa e uma palavra, mas um conceito a uma imagem acústica”. (Saussure, 2000, p. 80)
Como esses conceitos

“são construídos ao longo da história dos grupos humanos, com base nas relações
dos homens com o mundo físico e social em que vivem, eles estão em constante
transformação [...] As transformações de significado ocorrem não mais apenas a
partir da experiência vivida, mas, principalmente, a partir de definições, referências
e ordenações de diferentes sistemas conceituais, mediadas pelo conhecimento já
consolidado na cultura”. (OLIVEIRA, 2005, pp.48, 50)
23

Um dos sistemas simbólicos mais importantes para Vygotsky é a linguagem. Ela é


básica em todos os grupos humanos. Por isso, o desenvolvimento da linguagem e sua relação
como o pensamento ocupa lugar central na sua obra. Para ele, o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores ocorre pela mediação proporcionada principalmente pela linguagem.
Ele trabalha com duas funções básicas da linguagem o intercâmbio social e o pensamento
generalizante. É para se comunicar com seus semelhantes que o ser humano cria e utiliza os
sistemas de linguagem, ou seja, Intercâmbio social. Esta intervém no processo intelectual
desde o momento de seu nascimento. A criança não é capaz de, por si apenas, apropriar-se dos
conhecimentos desejáveis por mio da interação com os demais elementos do seu grupo social.
Ela comunica seus desejos e seus estados emocionais por meio de sons, gestos e expressões. É
a necessidade de comunicação que impulsiona o desenvolvimento da linguagem. Com relação
ao pensamento generalizante, para que a comunicação seja possível de forma mais
sofisticada, não apenas por gestos e expressões, é necessário que sejam usados signos
compreensíveis, que traduzam idéias, sentimentos, vontades, pensamentos, de forma precisa.
Por meio da palavra, designamos os objetos, os representamos, mas, também, abstraímos e
generalizamos suas características. Podemos exemplificar o pensamento generalizante
utilizando a palavra casa, que tem um significado preciso, compartilhados pelos usuários da
língua portuguesa. Independentemente do tipo de casa que cada indivíduo conheça (grande,
pequena, alta, baixa), ou da simpatia que alguém possa ter por um tipo ou outro de casa, a
palavra denomina um certo conjunto de elementos o mundo real. O conceito de casa pode ser
traduzindo por esta palavra e será adequadamente compreendido por outras pessoas, mesmo
sendo as suas experiências concretas diferentes da experiência do indivíduo que usou a
palavra casa. É esse fenômeno que gera a função da linguagem chamada pensamento
generalizante. É essa função que torna a linguagem um instrumento do pensamento e assegura
a comunicação entre as pessoas. Essa capacidade de generalizar, abstrair, incluindo objetos,
outros seres, ou mesmo ações, liberta-nos dos limites da experiência concreta. Nós não
precisamos estar em contato direto com um objeto para conversarmos sobre ele. Calvino
mesmo relata que “[os símbolos] são imagens de cousas ausentes”. (CALVINO, 1989, VI, p.
361)
Apesar da mediação fazer parte da grande maioria das nossas relações, há algumas
relações que são diretas, sem mediação. Quando uma criança toca a chama da vela e se
queima, ela tem uma relação direta com o meio. Mas, quando se lembra da dor ou é avisada
por outra pessoa que pode se queimar, ela passa a ter uma relação mediada pela lembrança ou
24

pela pessoa. Por isso, percebemos que há relações diretas, não mediadas, apesar de ser
minoria.
Dessa forma, podemos notar a influência e importância do signo no desenvolvimento
do ser humano. No próximo capítulo, relacionaremos estes conceitos, dos aos signos e a da
mediação, com os símbolos mais comuns da igreja.
25

3 VYGOTSKY E A TEOLOGIA.

Há inúmeros aspectos que podemos abordar comparando a teoria de Vygotsky com a


teologia reformada, comecemos pela história. Tanto Vygotsky como a teologia reformada dão
especial atenção à história, atribuindo a ela uma importância fundamental na formação ou
elaboração de princípios. Vygotsky fundamenta o desenvolvimento do indivíduo nas relações
sociais. Ao mesmo tempo em que o indivíduo é influenciado pelo meio ele também o
influencia. Mas qual a relação entre o desenvolvimento do indivíduo com a história do
dogma? Para responder a essa pergunta analisemos o que Berkhof diz:

“Um dogma pode ser definido como uma doutrina, derivada da Bíblia, oficialmente
definida pela Igreja e declarada firmada sobre a autoridade divina. Essa definição
em parte dá nome, em parte sugere suas características. Seu assunto se deriva da
Palavra de Deus, pelo que é autoritário. Não é mera repetição do que se encontra nas
Escrituras, mas é fruto da reflexão dogmática. E é oficialmente definido por um
corpo eclesiástico competente, sendo declarado ter base na autoridade divina. Tem
significado social por ser a expressão de uma comunidade, e não de um só
indivíduo. E reveste-se de valor tradicional, pois transmite as preciosas possessões
da Igreja para gerações futuras. Na história do dogma, vemos a Igreja tornando-se
mais e mais cônscia das riquezas da verdade divina, sob a orientação do Espírito
Santo, atenta às suas elevadas prerrogativas como coluna e fundamento da verdade,
atarefada na defesa da fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos”.
(BERKHOF, 1992, P. 20)

Os dogmas não “caíram do céu” simplesmente. Eles são frutos da reflexão da


comunidade, que através dos tempos elaboraram, desenvolveram, aprimoraram, depuraram
seu conteúdo. Gerações após gerações, se dispuseram a comentá-los; houve vários concílios
para debatê-los. Dessa forma os dogmas assumiram a forma final 2 como a temos hoje. Temos
muito mais condições hoje de avaliar a teologia que no passado. Somos muito mais
desenvolvidos, porque os significados foram trazidos até nós pela história. Aliás, os
ensinamentos bíblicos que Berkhof declara firmada na autoridade divina, surgiram dentro de
um contexto histórico, com homens comuns vivendo suas idéias. A partir do momento que a
vida passa a ter outro sentido, esses homens passam a ressignificar suas vidas e
conseqüentemente agir de forma diferente influenciando a sociedade e sendo influenciados
por ela. Cabe lembrar que muitas das idéias dos apóstolos registradas nas escrituras, sofreram
algum tipo de influência da sociedade da época. Sobre esse assunto relata Costa:

2
A igreja reformada admite a situação de pecado do homem e reconhece que somos passivos de erros. Por esse
motivo, crê que seus dogmas podem ser sempre revistos. Daí surge a conhecida frase: igreja reformada sempre
se reformando.
26

“[...] o apóstolo Paulo também se valera das contribuições de rabinos judeus e de


pagãos que os ajudavam em sua argumentação, sem, contudo, ser influenciado por
seus ensinamentos. Assim permanece a consciência de que todas as coisas provêm
de Deus e, que as concepções verdadeiras da realidade – ainda que nos lábios dos
ímpios (Cf. At 17.28; Tt 1.12) –, podem ser instrumentos úteis para a elaboração e
transmissão da verdade divina”. (COSTA, 2006, pp. 31, 32)

Aí surge o ciclo, ou seja, o indivíduo recebe influência da sociedade, ressignifica, e


volta a influenciar a sociedade com seus pensamentos ressignificados.
Outro aspecto de grande importância é com referência aos sistemas simbólicos. Como
já vimos nos capítulos anteriores o relacionamento do indivíduo com o mundo é mediado
pelos signos e instrumentos. Todo seu comportamento será regido pelo significado que aquele
símbolo tem para o indivíduo. Para ilustrar esse aspecto notemos o exemplo dado por
Oliveira:

“A palavra casso, por exemplo, tem o significado objetivo de ‘veículo de quatro


rodas, movido a combustível, utilizado para o transporte de pessoas”. O sentido da
palavra carro, entretanto, variará conforme a pessoa que a utiliza e o contexto em
que é aplicada. Para o motorista de táxi significa um instrumento de trabalho; para o
adolescente que gosta de dirigir pode significar forma de lazer; para um pedestre que
já foi atropelado o carro tem um sentido ameaçador, que lembra uma situação
desagradável, e assim por diante. O sentido da palavra liga seu significado objetivo
ao contexto de uso da língua e aos motivos efetivos e pessoais de seus usuários.
Relaciona-se com o fato de que a experiência individual é sempre mais complexa do
que a generalização contida nos signos (grifos meus)”. (OLIVEIRA, 2005 pp. 50-
51)

Notemos que a experiência de cada indivíduo terá grande influência sobre sua ação ou
reação. No exemplo citado, o taxista terá mais afeição pelo automóvel, em contraste com o
pedestre atropelado que o temerá. Isso será percebido por nós através de coisas simples do
dia-a-dia, através da ação ou reação de cada um deles. Um lhe dará valor, lavando-o com
freqüência ao mecânico, ao lava - rápido. O outro, desejará nem ao menos dirigi-lo. Mas fica
uma pergunta, qual é a relação com a teologia?
Aqui notamos aquilo que muitos estudiosos cristãos têm dito através dos tempos, a
educação é muito importante para sociedade; é inclusive chamada de remédio para os males
sociais. Isso não é recente, notamos que mesmo no século XVI já afirmavam tal proposição.

“Foi com o propósito de reconstrução e restauração do povo checo que Comenius


escreveu não só a Didática checa, como também a Janua linguarum reserata,
editada em 1631, cujo conteúdo demonstra o foco relativo à educação. Era como se
Comenius tivesse aplicado sua esperança na educação como meio de manter unido e
vivo o povo checo. Tal esperança parece refletir sua crença no princípio de que
somente por meio da educação, e, nesse caso, educação religiosa, se poderia
27

reconduzir os homens à paz política e social, visto que somente por meio da fé na
educação é que o homem poderia sair das trevas para a razão e compreensão do seu
semelhante. A educação é, para retomar o título de uma obra posterior de Comenius,
a Via Lucis [Caminho da luz] que conduz à verdadeira regeneração do homem e do
mundo (CAULY, 1995, p. 126). Diante disso, constata-se que o interesse pedagógico
não pode ser dissociado do interesse teológico, visto que a educação constitui a via
da renovação [...].” (Lopes, 2006, pp. 134-135)

Toda a desordem social é reavaliada, e sua existência é inversamente


proporcional à atuação da educação teológica na sociedade. Ou seja, quanto mais o indivíduo
for educado nos valores cristãos menor será o caos social existente e vice-versa. Comentando
sobre isso Francis Schaeffer diz: “sempre que a arte ou a ciência procuraram fazer-se
autônomas, certo princípio sempre se manifestou – a natureza ‘devora’ a graça e,
conseqüentemente, a arte e a ciência bem logo começam a parecer destituídas de
significação.” (SCHAEFFER, 1997, PP. 22-23)
Mas como isso ocorre? É justamente através dos motivos efetivos e pessoais dos
indivíduos com relação aos signos que toda a sociedade caminha. Se alterarmos os sentidos, a
sociedade caminhará diferente. É dando ao indivíduo novos valores, que ele passará a
reestruturar seus objetivos, suas metas. Valorizará coisas que antes ele não valorizava, e
preterirá as que desejava. Contudo, depende da igreja imprimir valores corretos na sociedade.
Relembrando o que Vygotsky defendia: a internalização ocorre em duas dimensões: primeiro,
no nível social, na medida em que os indivíduos partilham os significados postos pela cultura;
segundo, no nível individual, porque o indivíduo reorganiza, ressignifica e transforma os
significados partilhados socialmente em processos particulares de construção de novos
sentidos. Uma ilustração muito simples, contudo eficaz, é relatada por Boanerges Riberio:

“[...] os artigos 12 e 23 do Tratado de comércio e Navegação declaravam,


respectivamente: 1º.) que os vassalos de S. M. Britânica residentes nos territórios e
domínios portugueses não seriam perturbados [...] e teriam perfeita liberdade [...]
para celebrarem o serviço divino em honra ao Todo-Poderoso Deus, quer dentro de
suas casas particulares, quer nas suas particulares igrejas e capelas, sob as únicas
condições de que estas externamente se assemelhassem a casas de habitação, e
também que o uso dos sinos lhes não fosse permitido para o fim de anunciarem
publicamente as horas do serviço divino”. (RIBEIRO, 1973, p.17)

Quando se fala de templos evangélicos, não são ligados à lembrança os sinos e as


torres. Isso porque, na formação da igreja protestante no Brasil, conforme relatado, não lhe
era permitido o uso de tais recursos. E até hoje, com exceção de alguns poucos templos, não
são utilizados os sinos e as torres, pois sua utilização é ligada diretamente à igreja católica
romana. Para que haja uma mudança é necessário que haja primeiro uma resignificação.
28

Quando houver essa ressignificação, os sinos e as torres serão associadas também às igrejas
evangélicas. A igreja evangélica tem a tarefa de intervir na cultura brasileira, afetando a
internalização de novos sentidos no nível social, que será partilhado por toda a sociedade. E
conseqüentemente o indivíduo reorganizará, resingificará e transformará esses novos sentidos.
Devolvendo à sociedade essa nova projeção, influenciando-a. Cremos que os seres humanos,
feitos a imagem e semelhança de Deus, têm impregnado no seu ser alguns atributos do
próprio Deus. Isso significa que os valores morais são reconhecidos pelo homem em
decorrência de sua imagem e semelhança. Contudo, manchado pelo pecado, o homem
desvirtua, ou abandona tais valores morais. Nesse sentido, a função educadora da igreja é
reorganizar e ou relembrar os verdadeiros princípios; dando novos e saudáveis modos de vida.
Se a princípio falamos da atuação educadora da igreja externamente, agora nos
voltamos a sua educação interna. Muito pode ser explorado de Vygotsky, com relação à
educação em nossas igrejas. Tratemos primeiramente do interacionismo.
As escrituras dão muita ênfase na soberania de Deus. Em seus estudos a igreja
reformada reconhece que:

“[Deus] é apresentado como o Criador, e Sua vontade como a causa de todas as


coisas. Em virtude de Sua obra criadora, o céu, a terra, e tudo o que eles contêm Lhe
pertencem. Ele está revestido de autoridade absoluta sobre as hostes celestiais e
sobre os moradores da terra. Ele sustenta todas as coisas com a Sua onipotência, e
determina os fins que elas estão destinadas a cumprir. Ele governa como Rei no
sentido mais absoluto da palavra, e todas as coisas dependem dele e Lhe são
subservientes”. (BERKHOF, 1992, P. 78)

Mas a igreja reformada também defende a responsabilidade humana, que podemos


entender claramente nas palavras do Dr. Heber Carlos de Campos citando Hoekema:

“O fato do homem ser uma criatura o torna absolutamente dependente. [...] Mas
como uma pessoa que é, o homem tem um certo grau de independência, ‘não uma
dependência absoluta, mas relativa. Ser uma pessoa significa ser capaz de fazer
decisões, de estabelecer metas e de mover-se em direção às metas estabelecidas. Isto
significa possuir liberdade – ao menos no sentido de ser capaz de fazer suas próprias
escolhas. O ser humano não é um robot cujo curso é totalmente determinado por
forças externas. Ele tem o poder de auto-determinar-se e de auto-dirigir-se’”.
(CAMPOS, 2006, p.13, apud HOEKEMA, 1986, 5)

Dessa forma, entendemos que Deus, na sua soberania, deu ao homem a capacidade de
interagir com o meio, de tomar decisões. A Sagrada Escritura, por exemplo, é fruto de uma
história, ou várias histórias ocorridas no tempo e no espaço. Homens escreveram, através de
suas próprias experiências, e com suas próprias características, os ensinamentos divinos que
29

atravessam os séculos. A igreja reformada crê que estes homens foram inspirados pelo próprio
Deus, através do seu Santo Espírito, tornando as Escrituras inerrantes e infalíveis. Isso não
invalida a liberdade humana, ou os argumentos aqui apresentados, pois a orientação do
Espírito de Deus guiava os escritores sem tolher suas características e experiências.
Dando continuidade a essa interação, aprouve Deus ainda, incumbir ao homem de
interpretá-la, e comentá-la. Deus poderia simplesmente fazer cair do céu todas as suas
ordenanças e ainda trazê-las de forma tão clara que não haveria a menor sombra de dúvida
sobre cada ponto ou vírgula. Como conseqüência dessa interação, o homem, através dos
tempos, vem se aperfeiçoando na interpretação das Escrituras. Essa união de pensamentos,
congruentes e divergentes, que ocorreram e continuam ocorrendo através dos séculos, tem
feito bem ao homem. Pois hoje temos muito mais subsídios para nos aproximar o máximo
possível da vontade de Deus. E isso graças a interação de homem com o homem. O próprio
Deus interage com as suas criaturas. O seu Espírito Santo relaciona-se com o homem tanto
inspirando o escritor, quanto iluminando o leitor.
Os efeitos educacionais do interacionismo e da utilização dos sistemas simbólicos é
incalculável. Esta perspectiva pode trazer os efeitos prazerosos da aprendizagem que muitos
pedagogos almejam. Contudo, antes de prosseguirmos é assaz oportuno relatarmos o
comentário de Portela Neto:

“[...] podemos registrar nos últimos anos alguns melhoramentos saudáveis no


sistema educacional, tais como: (1) O processo educacional passou a ser mais
interativo e participativo – mais interessante para o aluno; (2) A individualidade dos
alunos passou a ser observada pelos professores com maior intensidade e
consideração; (3) As limitações dos alunos não foram descartadas; (4) Os pais, e não
somente a escola, foram considerados uma parte importante para o conhecimento
dos educandos; (5) O material didático produzido passou a apresentar não somente
conteúdo, como também forma, sendo que esta última acentuou a atratividade
estética, procurando despertar o interesse dos alunos”. (PORTELA NETO, 2000, p.
75)

A primeira impressão é que o autor está falando das benfeitorias decorrentes da


filosofia do aprendizado e desenvolvimento de Vygotsky. Mas o que ele aborda em seu texto é
uma crítica ao construtivismo de Jean Piaget. Por isso relataremos brevemente uma
comparação entre as duas vertentes.
Comparando a teoria de Piaget e a de Vygotsky, poderemos notar algumas diferenças.
Entre estas diferenças podemos destacar que a teoria de Piaget é construtivista, com ênfase no
papel estruturante do sujeito, e também que Piaget reformou em bases funcionais as questões
30

sobre pensamentos e linguagem. Por ser ao mesmo tempo pensador e cientista experimental, a
Piaget interessava uma visão transformadora da epistemologia.
Apesar de a teoria de Vygotsky também apresentar um aspecto construtivista , seria na
medida em que busca explicar o aparecimento de inovações e mudanças no desenvolvimento
a partir do mecanismo de internalização. Por outro lado, Vygotsky enfatiza o aspecto
interacionista, pois considera que é no plano intersubjetivo, isto é, na mediação entre as
pessoas, que se originam as funções mentais superiores. Considerando-os mecanismos
psicológicos complexos, que envolvem controle consciente de comportamento, ação
intencional e liberdade do individuo em relação às características do presente momento.
A teoria de Piaget também apresenta a dimensão interacionista, mas sua ênfase é
colocada na interação do sujeito com o objeto físico. Por exemplo, na observação de um
objeto a criança vai aprender a afirmar unicamente o que ela percebe, a distinguir o que é real
do que é produto da imaginação e conseqüência da afetividade, que influencia seu juízo; e,
além disso, não está clara em sua teoria a função da interação social no processo de
conhecimento.
Para Piaget, a criança se apodera de um conhecimento se "agir" sobre ele, pois
aprender é modificar, descobrir, inventar. Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui
relações entre as pessoas. A relação do individuo com o mundo está sempre mediado pelo
outro. Este processo de mediação ou, melhor dizendo, os mediadores, sempre vão estar entre
o homem e o mundo real, estes mediadores são : Instrumentos e Signos.
Os estudos de Vygotsky sobre a aquisição de linguagem como fator histórico e social
enfatizam a importância da interação e da informação lingüística para a construção do
conhecimento. O centro do trabalho passa a ser, então, o uso e a funcionalidade da linguagem,
o discurso e as condições de produção. Já para Piaget o desenvolvimento cognitivo se dá pela
assimilação do objeto de conhecimento a estruturas anteriores presentes no sujeito e pela
acomodação dessas estruturas em função do que vai ser assimilado. A adaptação – que
envolve a assimilação e a acomodação numa relação indissociável – é o mecanismo que
permite ao homem não só transformar os elementos assimilados, tornando-os parte da
estrutura do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomodação deste organismo aos
elementos incorporados. Quando o campo afetivo está afetado a adaptação não acontece, à
criança assimila, pode até acomodar, mas a adaptação estará cortada.
Outro fator desenvolvido na teoria de Piaget é a maturação, onde acreditava-se que o
desenvolvimento estivesse predeterminado e, o seu afloramento, vinculado apenas a uma
31

questão de tempo. Por sua vez Vygotsky criticou severamente este fator, pois acreditava que o
desenvolvimento tinha sua origem nas capacidades humanas.
Outra divergência que notamos claramente é a respeito da fala egocêntrica. Enquanto
que para Piaget é uma transição entre estados mentais individuais não verbais, de um lado, e o
discurso socializado e o pensamento lógico de outro. Para Vygotsky está claramente associada
ao pensamento e indica que a trajetória da criança vai dos processos socializados para os
processos internos. Desta forma, podemos dizer que para Vygotsky, o desenvolvimento é um
processo que se da de fora para dentro, já para Piaget, o desenvolvimento se da de dentro para
fora.
Uma conseqüência natural dessa abordagem sócio-histórica é o aprimoramento das
técnicas de ensino. Quanto mais o aluno interagir, maior será a eficácia do ensino. Quanto
mais utilizamos de signos que alcançam o íntimo do indivíduo maior será a probabilidade dele
internalizar a matéria. O próprio Senhor utiliza de recursos que vão além da audição. A Ceia
do Senhor marca bem essa característica. Para que lembrássemos do sacrifício de Cristo,
bastaria que alguém falasse sobre o assunto, ou contasse e recontasse sua história
periodicamente. Mas Deus na sua infinita sabedoria, lança mão de outros recursos. É sabido
por todos que enquanto lembramos da sua morte vicária, comemos o pão e bebemos o vinho.
O significado desses elementos penetram no homem muito além dos seus ouvidos. O paladar
é requerido para tornar mais vívida, mais próxima, aquela fatídica, e abençoadora ação. O
ouvinte literalmente come o material didático. Calvino comenta:

“[...] o sacramento não faz que Cristo primeiro comece a ser o pão da vida; pelo
contrário, enquanto revoca à memória ter-se {ele} feito pão da vida, de que nos
alimentemos continuamente, e desse pão nos oferece o gosto e o sabor (grifos
meus), faz que sintamos o poder daquele pão. Pois, assegura-nos que tudo quanto
Cristo fez e sofreu, isso se fez para vivificar-nos; então, que esta vivificação é
eterna, [vivificação] pela qual, sem fim, sejamos alimentados, sejamos sustentados e
sejamos conservados na vida”. (CALVINO, 1989, p. 342, Vol. IV)

O simbolismo do pão, o significado do pão, como mantenedor da vida é utilizado em


analogia a Cristo que nos sustenta e nos conserva vivos.
Seguindo o mesmo princípio, pelo batismo “somos nós alimpados de [nossos]
pecados pelo sangue de Cristo. Mas, o sinal e testemunho desse lavraco qual é, senão o
batismo? Vemos, portanto, como essa absolvição se relaciona ao batismo.” (CALVINO,
1989, p.287, Vol. IV)
32

O próprio Cristo encarnado, enquanto peregrinava na terra, antes da consumação de


sua obra, pregava nos campos; e lançava mão dos recursos naturais a sua volta para tornar
mais próximo o conteúdo de seu sermão: “E por que andais ansiosos quanto ao vestuário?
Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos
afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles”.(Mateus,
6:28-29)
33

CONCLUSÃO

O pequeno texto a seguir sintetiza bem a abordagem de Vygotsky sobre o


aprendizado e desenvolvimento.

“A internalização de formas culturais de comportamento envolve a reconstrução da


atividade psicológica tendo como base as operações com signos. Os processos
psicológicos, tal como aparecem nos animais, realmente deixam de existir; são
incorporados nesse sistema de comportamento e são culturalmente reconstituídos e
desenvolvidos para formar uma nova entidade psicológica. O uso de signos externos
é também reconstruído radicalmente. As mudanças nas operações ocorrem na
linguagem. Aspectos tanto da fala externa ou comunicativa como da fala egocêntrica
‘interiorizam-se’, tornando-se a base da fala interior. A internalização das atividades
socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto
característico da psicologia humana; é a base do salto quantitativo da psicologia
animal para a psicologia humana. Até agora, conhece-se apenas um esboço desse
processo.” (VYGOTSKY, 2003, pp.75-76)

Abraçar cegamente esses ensinos não é recomendável e nem sensato. Apesar de


destacarmos as vantagens do pensamento de Vygotsky na educação e, ao mesmo tempo,
usamos como ferramenta para entender certos métodos de ensino narrados nas escrituras, ele
como todo humano, nascido debaixo do pecado, está sujeito a erros. Dessa forma, ele será
sempre estudado sob o prisma da Palavra de Deus.
Além disso, percebemos que unir várias áreas de pensamento, tentando relacioná-las
não é incomum em nossos dias. E com a teologia não é diferente. Também não pode ser visto
como incorreto. Muito pelo contrário, a teologia deve ser a área que rege as demais. Isso não
significa que tudo o que Deus manifestou nas Sagradas Escrituras diz respeito a todas as áreas
conhecidas da ciência. Não, Deus restringiu-se à algumas áreas. Por isso, não encontraremos
noções de matemática, física nuclear, ou medicina nas Escrituras. Contudo, cada proposição,
cada doutrina, deve ser um balisador das nossas vidas, principalmente em se tratando de
comportamento.
O conhecimento pleno de Deus é inatingível. Podemos apenas conhecê-lo através das
coisas que ele mesmo revelou de si mesmo. Não teríamos condições de estudá-lo se ele não
houvesse se manifestado primeiro. Por essa razão, nós o conhecemos através da análise de sua
revelação natural, ou seja, as coisas criadas; e, de sua revelação especial, as Escrituras. Dessa
forma nos aproximamos mais do conhecimento de Deus.
34

Esse conhecimento não precisa vir necessariamente do povo cristão. Se bem que, na
maioria das vezes, é de lá que temos novas fontes de informação. Mas ela também pode vir de
contextos não-cristãos. Torna-se propício reafirmamos as seguintes palavras:

“[...] o apóstolo Paulo também se valera das contribuições de rabinos judeus e de


pagãos que os ajudavam em sua argumentação, sem, contudo, ser influenciado por
seus ensinamentos. Assim permanece a consciência de que todas as coisas provêm
de Deus e, que as concepções verdadeiras da realidade – ainda que nos lábios dos
ímpios (Cf. At 17.28; Tt 1.12) –, podem ser instrumentos úteis para a elaboração e
transmissão da verdade divina (grifos meus)”. (COSTA, 2006, pp. 31, 32)

Por isso, entendemos que os pensamentos filosóficos de Vygotsky com relação ao


desenvolvimento podem servir como instrumento para entendermos mais de Deus, ao mesmo
tempo que aprimoramos a forma de proclamar Deus.
Outro fator que merece consideração, é que para o protestantismo reformado a
atividade cultural do homem não está dissociada da verdade divina, elas são, inclusive,
consideradas compatíveis. Por esse motivo, vemos Calvino, um mentor da teologia reformada,

“elevando o nível de apreciação pela música no culto. Vemo-lo entrando no campo


da educação, com a fundação da Academia de Genebra, e tentando desenvolver uma
verdadeira concepção cristã da cultura. Encontramo-lo, através de sua intensa
atividade literária, elevando a alturas inabituais, o nível da língua francesa. [...] ele
se dirige ao rei [...] afirmando, também, de uma forma que evidencia o mais
profundo interesse pela situação política corrente” (KNUDSEN, 1990, p. 30)

Associado à está informação, o relato da vida dos puritanos na Inglaterra, elucida quão
importante é a adoção de princípios norteadores:

“‘É Correto que dediquemos nossa vida à sua glória’ É assim que começa o
Catecismo de Genebra, escrito por Calvino em 1541. Com essa compreensão, os
puritanos – dentro da tradição reformada – lutaram para glorificar a Deus no
trabalho, sexo e casamento, no tratamento com o dinheiro, na família, na pregação,
na vida da igreja, no culto, na educação, na ação social e no estudo das Escrituras.
Em tudo isso eles viam a Deus na esfera comum...”. (FERREIRA, 1999, p. 36)

Dar à sociedade novos princípios mediadores da conduta ética e moral é primordial


para o desenvolvimento do Estado, para a melhoria da qualidade de vida. Mas como
resignificar o pensamento da sociedade? Através da educação ministrada pela igreja. Um
ensino de excelente qualidade sempre foi perseguido pelos cristãos. Desde a reforma até os
dias atuais essa característica tem marcado os protestantes. No próprio batismo os pais se
comprometem a ensinar seus filhos a ler as Escrituras e a interpretá-las por si só.
35

Que Deus nos ilumine para discernir os métodos, criar novas estratégias de ensino,
para resignificar a sociedade.
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