Professional Documents
Culture Documents
Tema I
O processo autônomo de execução e a fase executiva. Conceito e finalidade da execução. Meios de execução.
Natureza jurisdicional do processo de execução. Diferença existente entre processo de execução e processo
de conhecimento. Autonomia do processo de execução em relação ao de conhecimento. Princípios
informativos do processo de execução e da fase executiva: o princípio da realidade; o princípio da
parcialidade; o princípio dispositivo. Etapas no processo de execução.
Notas de Aula1
1. O processo de execução
1
Aula ministrada pelo professor José Antônio Ocampo Bernardez, em 28/8/2009.
Hoje, portanto, há a sentença da fase cognitiva, e o devedor, desde então, conta com
prazo de quinze dias para satisfazer a obrigação que ali lhe foi imposta. Não pagando,
poderá se defender, se garantir o juízo com a penhora de bens seus, defesa a que se chama
de impugnação. Mas aqui surgem alguns problemas.
O primeiro é a nomeação de bens à penhora, que hoje é feita pelo próprio credor, e
não pelo devedor, e a possibilidade de penhora on line, medida severamente gravosa que
torna indisponível bem de absoluta relevância para o devedor, qual seja, seu ativo mais
volátil – o dinheiro. Ao mesmo tempo em que esta medida é severa, ela é de enorme
eficácia, porque não só tem a capacidade de provocar a satisfação plena do crédito, ao final,
quando do eventual levantamento pelo credor, como propugna a resolução do processo de
forma célere pelo próprio devedor, que se vê na contingência de oferecer solução rápida,
quer por acordo, quer para liberação de eventual excesso de penhora. A demora na
execução, hoje, é desinteressante a todos os participantes do processo, em regra.
Hoje, então, o processo é sincrético: há, num mesmo processo, a junção de duas
fases distintas, a cognitiva e a executiva. Este processo misto se contrapõe aos processos
autônomos de conhecimento e execução de outrora, pois onde vige o sincretismo não vige a
autonomia, por mera constatação lógica.
Toda execução, mesmo a fase executiva do processo sincrético, tem início em um
título executivo que a lastreie, e este título pertence a rol típico estabelecido pelo legislador.
O modelo sincrético do processo, em regra, se baseia na obtenção e execução de um título
executivo judicial, mas nem todo título desta natureza será executado sincreticamente, pois
há títulos executivos judiciais que demandarão processo de execução autônomo: a sentença
penal condenatória é o exemplo maior. Veja: o juiz penal, ao condenar o réu em crime com
repercussão econômica de qualquer sorte, aporá na sentença penal, também, o valor
indenizatório mínimo a ser pago pelo condenado; a satisfação deste valor, porém, não
poderá ser perseguida no próprio juízo criminal, demandando satisfação em processo
autônomo. O mesmo se dá com a sentença arbitral, ou com a sentença estrangeira
homologada pelo STJ.
Afora estes títulos judiciais, o processo sincrético é o que se presta à satisfação do
crédito contido em títulos executivos judiciais. O processo executivo autônomo, porém,
ainda será o procedimento a ser seguido para todos os títulos executivos extrajudiciais, e
para os títulos executivos judiciais pontuados acima.
Veja que os procedimentos satisfativos são bastante diversos entre si. O artigo 598
do CPC bem ilustra, pois é norma de reenvio que destaca os dispositivos da execução dos
que se dirigem à cognição:
Surge questão altamente discutida, hoje: o prazo de quinze dias, previsto no caput
do artigo supra, tem início em que momento? Tamanha foi a confusão criada em torno da
definição deste dies a quo que, assim que surgiu a reforma, surgiram também oito correntes
doutrinárias disputando a solução deste aspecto. Hoje, basicamente, duas são as vertentes.
Vejamos.
A primeira corrente, à qual se filia o STJ e Cássio Scarpinella Bueno, dispõe que o
prazo tem início automaticamente, quando do trânsito em julgado da sentença, ou seja, é
dispensada qualquer intimação do devedor para pagamento. Não pagando neste prazo, e
havendo requerimento do credor (pois vigora o princípio da disponibilidade da execução,
eis que o credor pode não querer satisfazer o crédito, por qualquer motivo), tem início a
fase de expropriação dos bens do devedor, já com a aplicação da multa2.
O TJ/RJ, por seu turno, filia-se à segunda corrente, capitaneada por Alexandre
Câmara, a qual defende que o prazo de quinze dias, para pagamento espontâneo, tem início
da intimação do devedor para pagar, ou seja, não corre automaticamente com o trânsito em
julgado da sentença. Veja o Incidente de Uniformização de Jurisprudência 7/2007, do
TJ/RJ:
Parece ser o entendimento mais correto, de fato, este do TJ/RJ, porque a própria
dinâmica da ordem do processo pode tornar impossível o pagamento da obrigação, em
2
Leonardo Greco defende que esta multa só poderia incidir se o devedor agir com dolo, ou seja, se conta com
recursos para pagamento e não paga deliberadamente, dolosamente. Não dispondo o executado de recursos
disponíveis, diz este autor, a multa não pode ser imposta. É tese isolada.
determinados casos, se não houver intimação. Imagine-se que o processo tenha sido
remetido ao STF ou STJ por motivo de recurso. Tendo lá transitada em julgado a decisão
favorável ao credor, se o prazo tiver logo início pode acontecer de os autos não estarem
disponíveis para o devedor para obtenção da própria guia de pagamento, o que faz com que
a perda do prazo, e a incidência de multa, ocorram sem que o devedor tenha qualquer
ingerência – o que não acontecerá se, baixados os autos à origem, haja a intimação para
pagamento.
Esta segunda corrente encontra ainda uma discussão que a subdivide internamente,
referente a quem deve ser intimado, o devedor pessoalmente, por AR, ou apenas seu
advogado, por publicação no diário oficial. Câmara defende que o AR é imponível, mas a
jurisprudência tem adotado a mera publicação no diário oficial para cientificar o devedor do
seu prazo para pagamento.
De qualquer forma, terminado o prazo sem que tenha havido pagamento
espontâneo, cabe à parte credora requerer a invasão do patrimônio do devedor, em simples
petição avulsa, pela já mencionada disponibilidade da execução. Mesmo que a fase de
cumprimento da sentença tenha início de ofício, a atuação oficiosa termina quando não há
pagamento espontâneo, eis que pode, o credor, não querer a invasão coercitiva do
patrimônio do devedor, por qualquer motivo que seja. Pelo ensejo, veremos em apartado os
princípios da execução, os quais se aplicam tanto à execução autônoma quanto à fase
executiva.
O prazo para pagamento, na execução por título executivo extrajudicial, é de três
dias, na forma do artigo 652 do CPC:
“Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o
pagamento da dívida. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 1º Não efetuado o pagamento, munido da segunda via do mandado, o oficial de
justiça procederá de imediato à penhora de bens e a sua avaliação, lavrando-se o
respectivo auto e de tais atos intimando, na mesma oportunidade, o executado.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 2º O credor poderá, na inicial da execução, indicar bens a serem penhorados (art.
655). (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 3º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exeqüente, determinar, a
qualquer tempo, a intimação do executado para indicar bens passíveis de penhora.
(Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 4º A intimação do executado far-se-á na pessoa de seu advogado; não o tendo,
será intimado pessoalmente. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 5º Se não localizar o executado para intimá-lo da penhora, o oficial certificará
detalhadamente as diligências realizadas, caso em que o juiz poderá dispensar a
intimação ou determinará novas diligências. (Incluído pela Lei nº 11.382, de
2006).”
A contagem deste prazo tem início no próprio ato, e não na juntada do ato de
citação com conteúdo positivo ao processo.
Veja que, hoje, o cumprimento deste prazo é interessante, porque dá ao devedor a
vantagem de pagar os honorários advocatícios pela metade.
Vale mencionar que ainda persiste, hoje, a necessidade da exceção de pré-
executividade, por uma só razão: se não há mais o prazo para embargos à execução, porque
corrido in albis, pode o executado, percebendo a motivação bastante, opor a exceção de
pré-executividade para salvaguardar-se da injustiça notada, eis que este instrumento pode
ser utilizado a qualquer tempo, ante sua fundamentação em fato de ordem pública,
cognoscível de ofício. Havendo prazo para embargos, não há necessidade de tal
instrumento, pois nos embargos é possível a dedução de toda a matéria cognoscível de
ofício.
“Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos
os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.”
“Art. 222. A citação será feita pelo correio, para qualquer comarca do País, exceto:
(Redação dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
(...)
d) nos processos de execução; (Incluído pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
(...)”
A lei permite, então, a citação por oficial de justiça, e por edital, subsidiariamente,
se não localizado o devedor pelo oficial; veda a citação postal; mas nada fala sobre a
citação por hora certa. Seria esta cabível?
“Súmula 196, STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa,
permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos.”
A abordagem dos demais princípios pode ser feia de forma esparsa, quando da
análise dos demais institutos da execução.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Evidentemente que não. A dialética processual impõe que haja a formulação de uma
tese pelo autor, de uma antítese pelo réu, e da síntese, pelo julgador. Esta dinâmica só
ocorre no processo cognitivo, porque no executório a citação do réu-executado se dá não
para que ele defenda-se, mas sim para pagar a dívida que já se definiu que por ele é devida.
Wilson Marques diz que, em regra, o processo de execução não é dialético, na
medida em que não há tese ou antítese, afirmação ou negação, não havendo contraditório,
portanto. Há quem diga que o contraditório estaria presente simplesmente pela
possibilidade de que haja ciência do ato, e possibilidade de qualquer reação a tal ato – e isto
acontece também na execução. Contudo, não é o que pensa este autor, para quem a dialética
implica em apresentação de teses contrárias com vistas a positivar a síntese, a solução do
direito, o que não se dá na execução.
Os embargos do devedor, por si, seriam oportunidade dialética no curso da
execução, mas estes são uma ação autônoma incidental, de natureza cognitiva, e não
consistem em etapa da execução, não a desnaturando, portanto. À exceção de pré-
executividade se aplica o mesmo raciocínio, mas se se a interpretar como ato processual no
curso da execução, será, de fato, uma exceção à ausência de dialética do processo de
execução.
Questão 2
Resposta à Questão 2
É claro que esta ação merece extinção sem resolução do mérito, porque carece de
interesse-necessidade. Havendo o título executivo prévio, a sentença do juizado transitada
em julgado, basta que esta seja executada para que a pretensão à satisfação do credor seja
obtida. Veja a apelação 2003.001.32632, do TJ/RJ:
Vale dizer que Wilson Marques tem opinião peculiar sobre esta situação, quando se
tratar de título executivo extrajudicial. Para ele, há, sim, interesse na ação cognitiva de
título executivo extrajudicial, pelo seguinte raciocínio: o título executivo extrajudicial não
conta com processo cognitivo prévio a sua formação, e por isso toda e qualquer discussão
poderá ser suscitada na execução de tal título, uma vez que não há decisão judicial prévia
resolvendo nenhuma controvérsia sobre ele. Sendo assim, por ser esta execução um leque
aberto de discussões sobre o título extrajudicial, o percurso de um processo de
conhecimento deste título executivo extrajudicial se justificaria, teria interesse, porque nele
se elidiriam quaisquer questões que fossem decididas na sentença, e a execução desta,
novel título executivo substituto ao extrajudicial deduzido, se faria sem que as questões ali
resolvidas pudessem ser novamente ventiladas. O interesse, então, é permitir uma execução
com matéria de defesa muito mais restrita do que seria se fosse executado o próprio título
extrajudicial. É uma tese isolada, e que causa bastante estranheza, pois se calca justamente
em uma eventualidade, qual seja, a discussão que será possível nos embargos.
No cumprimento de sentença, diga-se, sequer se discute esta tese de Wilson
Marques, porque como qualquer execução de título judicial, a matéria de defesa encontra
barreira na coisa julgada adquirida pelo próprio título exeqüendo.
Questão 3
Reposta à Questão 3
Tema II
Notas de Aula3
1. Legitimação na execução
“Art. 570. O devedor pode requerer ao juiz que mande citar o credor a receber em
juízo o que lhe cabe conforme o título executivo judicial; neste caso, o devedor
assume, no processo, posição idêntica à do exeqüente. (Revogado pela Lei nº
11.232, de 2005)”
Assim, o MP tem legitimidade para executar uma sentença de alimentos, eis que se
trata de interesse individual indisponível, mas não tem interesse para executar uma sentença
condenatória por indenização ordinária, sem qualquer cunho indisponível. A legitimidade
para tanto está no artigo 201 da Lei 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente:
Repare que o STJ restringe esta atuação do MP, pois entende que somente surge
quando o alimentando não contar com representante hábil, ou quando com este conflitarem
os interesses do alimentando.
O interesse social, que ampara a legitimação do MP, é um gênero, composto pelas
espécies de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Surge a questão: quando o
MP atua, nestas hipóteses de execução coletiva lato sensu, sua legitimação é ordinária ou
extraordinária?
A doutrina diverge ferozmente. A primeira corrente, capitaneada por Paulo César
Pinheiro Carneiro, entende que a legitimidade é sempre ordinária, porque o interesse da
instituição se confunde com o próprio interesse social em jogo, qualquer que seja a espécie.
Outra vertente, oposta, defende que se trata, sempre, de legitimação extraordinária, porque
o MP está sempre deduzindo em seu nome o direito alheio – assim se colocando Fredie
Didier Júnior. Araken de Assis, por seu turno, defende uma corrente intermediária, que
analisa a legitimidade segundo a diferença entre as modalidades de interesses: para os
interesses difusos e os coletivos stricto sensu, vige a indivisibilidade, fazendo impossível a
particularização dos titulares; os individuais homogêneos, ao contrário, encontram titulares
divisíveis, unidos por uma conveniência que identifica os direitos. Sendo assim, conclui
este autor que quando os interesses são indivisíveis, o MP atua como legitimado ordinário;
quando se tratar de direito divisível, como nos individuais homogêneos, a legitimação é
tipicamente extraordinária.
O artigo 68 do CPP precisa ser mencionado, quando se fala de legitimidade ativa do
MP:
“Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o
e 2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será
promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.”
“Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato
entre vivos, não altera a legitimidade das partes.
“Art. 568. São sujeitos passivos na execução:(Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
III - o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação
resultante do título executivo; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
IV - o fiador judicial; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
V - o responsável tributário, assim definido na legislação própria. (Redação dada
pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)”
“Art. 573. É lícito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumular várias execuções,
ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que para todas elas seja
competente o juiz e idêntica a forma do processo.”
(artigo 475-J do CPC), e em outra o da obrigação de fazer (artigo 461 do CPC), cada uma
em seu rito.
“Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em
nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor.”
Luis Fux entende que até seria possível a nomeação à autoria, quando se estivesse
diante de hipótese de desconsideração da personalidade jurídica: como nesta situação se
pretende afastar a pessoa jurídica para fazer a execução recair na pessoa por trás, seria
cabível nomear-se à autoria quem seja realmente o responsável pela dívida. É entendimento
isolado.
O chamamento ao processo, também, não encontra lugar na execução, porque o
artigo 595, parágrafo único, do CPC, trata de situação muito similar, expressamente
prevista para a execução:
“Art. 595. O fiador, quando executado, poderá nomear à penhora bens livres e
desembargados do devedor. Os bens do fiador ficarão, porém, sujeitos à execução,
se os do devedor forem insuficientes à satisfação do direito do credor.
Parágrafo único. O fiador, que pagar a dívida, poderá executar o afiançado nos
autos do mesmo processo.”
Trata-se, neste dispositivo, do protesto por preferência. Imagine-se que haja três
execuções em curso, por três credores diversos, em face de um mesmo devedor. A penhora
dos três processos recairá sobre o mesmo bem, e se uma das varas de execução comandar
primeiro esta constrição, os demais credores poderão pleitear incursão na penhora, com a
devida ordem de preferência.
Sobre este artigo 711 do CPC, a súmula 270 do STJ é relevante:
“Súmula 270, STJ: O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente
federal em execução que tramita na Justiça Estadual, não desloca a competência
para a Justiça Federal.”
Há duas orientações sobre o tema. Marcelo Abelha defende que se trata, de fato, de
uma mitigação à perpetuatio, porque se a competência havia sido cristalizada no juízo da
cognição de primeiro grau, a alteração desta competência é uma exceção. Fredie Didier
defende, pelo outro lado, que não há mitigação, pela só razão de que a execução é uma
nova ação, e é dali que se definirá a competência para tal princípio, sendo dali a nova
perpetuatio a ser observada. A posição de Didier desafia uma crítica: ela se baseia no
direito de ação, enquanto a perpetuatio jurisdictionis é um princípio do processo, e não do
direito de ação.
Uma vez escolhido o foro da execução, nesta hipótese em que é cabível, poderá o
credor alterar, novamente, esta escolha, já no curso da execução? Leonardo Greco defende
que como a lei não limitou, não apondo restrição a esta alteração, é possível quantas
escolhas queira o credor, no curso da execução.
Vale observar o artigo 747 do CPC, que cuida dos embargos por carta precatória.
Nesta circunstância, o executado pode ajuizar os embargos no juízo deprecado ou no
deprecante, a seu exclusivo critério, mas a competência para julgamento não se altera: será
do deprecante, salvo se os embargos versarem unicamente sobre atos praticados pelo
deprecado, quando por este serão julgados. Veja:
A mera interpretação literal do artigo 475-I do CPC – a qual é feita pelo STJ,
inclusive –, permite esta conclusão. As hipóteses de execução pelos artigos 461 e 461-A são
defensáveis por mera petição, adstrita a aspectos processuais.
Ocorre que a doutrina processual civil, em peso, vem defendendo que a
impugnação, esta específica forma de defesa do executado, deve ser utilizada em qualquer
procedimento de cumprimento de título executivo judicial, qualquer que seja a natureza da
obrigação.
As matérias da impugnação são previstas no artigo 475-L do CPC:
“Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
II – inexigibilidade do título; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
III – penhora incorreta ou avaliação errônea; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
IV – ilegitimidade das partes; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
V – excesso de execução; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como
pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que
superveniente à sentença. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 1º Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também
inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados
inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou
interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como
incompatíveis com a Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 2º Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia
quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o
valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação.
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)”
Veja que são todas matérias de ordem pública, o que, a rigor, sequer demandaria
uma peça específica,formal, pois são matérias cognoscíveis de ofício.
De qualquer forma, a competência para a impugnação é do mesmo órgão em que
corre o cumprimento de sentença. De acordo com o artigo 475-M, a impugnação correrá
entranhada nos autos, se contar com efeito suspensivo, ou em apenso, se não tiver este
efeito.
“Art. 475-M. A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe
tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução
seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou
incerta reparação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Tema III
Notas de Aula5
1. Pressupostos da execução
Antes da reforma, o artigo 580 do CPC tinha uma redação sobre os pressupostos da
execução que não era exatamente precisa. Veja como era e como ficou este dispositivo:
5
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 31/8/2009.
“Art. 580. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a
obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo. (Redação
dada pela Lei nº 11.382, de 2006).”
E veja que a ordem de menção dos atributos também é outra, sendo mais técnica a
ora adotada: a obrigação deve ser certa, líquida e exigível. Certeza é o an debeatur, sendo
obrigação certa aquela em que não há dúvidas a respeito da sua existência. Liquidez diz
respeito ao quantum debeatur, que é a delimitação da extensão da prestação, quer
pecuniária, quer de outra natureza. E exigibilidade da obrigação é atributo que diz da
possibilidade de exigir-se o cumprimento da obrigação.
Quanto à liquidez, a eventual necessidade de que haja o cálculo aritmético de uma
obrigação não lhe retira este atributo; tampouco a necessidade de atualização da obrigação
tem este condão. Veja os artigos 475-B e 614, II, do CPC:
“Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua
liquidação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 1º Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de
seu advogado. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 2º A liquidação poderá ser requerida na pendência de recurso, processando-se em
autos apartados, no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com
cópias das peças processuais pertinentes. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 3º Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso
II, alíneas ‘d’ e ‘e’ desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for
o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido. (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)”
(...)”
“Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: (Incluído pela Lei nº 11.232, de
2005)
I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação
de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; (Incluído pela Lei nº 11.232,
de 2005)
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua
matéria não posta em juízo; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
IV – a sentença arbitral; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao
inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J)
incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou
execução, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)”
podendo ajuizar uma ação civil indenizatória ex delicto para tanto. Todavia, pode optar por
aguardar o término da ação penal, e proceder apenas à execução da sentença penal
condenatória.
Veja que por vezes a ação civil ex delicto é mais interessante à vítima. Por exemplo,
se se tratar de crime praticado por um empregado de uma sociedade, a ação penal se
concentrará nele, enquanto a civil poderá alvejar tanto o funcionário quanto a própria
sociedade, por culpa in eligendo ou in vigilando, aumentando as chances de obter efetiva
indenização.
É claro que a sentença criminal só pode ser executada contra quem figurou na lide
criminal. Neste aspecto, se assemelha bastante ao inciso VII do artigo 475-N, que delimita
os efeitos do formal e da certidão de partilha apenas às pessoas ali relacionadas.
Os incisos III e V do artigo 475-N são semelhantes, falando ambos de sentenças
homologatórias de acordo, mas a diferença deve ser apontada: quando existe um processo
judicial, no qual se alcança o acordo e se o homologa, trata-se do caso do inciso III; quando
se alcança um acordo extrajudicialmente, sem processo que o preceda, e as partes entram
em juízo apenas para obter a homologação de tal pacto, a hipótese é a do inciso V.
Veja que o interesse na homologação judicial do acordo extrajudicial é justamente a
transformação de seu título em judicial, porque o rito do cumprimento de sentença é mais
pesado ao devedor do que a execução autônoma. Humberto Theodoro Júnior é um autor
que assim interpreta, e entende até que esta hipótese do inciso V é de jurisdição voluntária.
A sentença arbitral, do inciso IV do artigo 475-N, é a última hipótese legal de título
executivo judicial. O artigo 18 da Lei 9.307/96 dispõe que a sentença arbitral não fica
sujeita a recurso ou homologação judicial, motivo pelo qual a justiça arbitral, hoje, não é
tida mais por equivalente jurisdicional, como a autocomposição, a autotutela, ou a
mediação: é a própria jurisdição. Veja o artigo:
“Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica
sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.”
“Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais: (Redação dada pela Lei nº 5.925,
de 1º.10.1973)
I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
(Redação dada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o
documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento
de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos
advogados dos transatores;(Redação dada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)
III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os
de seguro de vida; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de
2006).
V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel,
bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor,
quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão
judicial; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos
inscritos na forma da lei; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força
executiva. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 1º A propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título executivo
não inibe o credor de promover-lhe a execução. (Redação dada pela Lei nº 8.953,
de 13.12.1994)
§ 2º Não dependem de homologação pelo Supremo Tribunal Federal, para serem
executados, os títulos executivos extrajudiciais, oriundos de país estrangeiro. O
título, para ter eficácia executiva, há de satisfazer aos requisitos de formação
exigidos pela lei do lugar de sua celebração e indicar o Brasil como o lugar de
cumprimento da obrigação. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)”
A interpretação literal da maior parte dos incisos deste artigo supra é suficiente, mas
há algumas peculiaridades a serem apontadas. O inciso I deste artigo aponta documentos
que são, ao mesmo tempo, títulos de crédito e títulos executivos extrajudiciais; sendo assim,
é necessária a juntada do título original ao processo executório, por conta da cartularidade
do título de crédito?
6
Suscitar-se-ia, talvez, uma terceira via, a querella nullitatis, quando a ação declaratória de nulidade do artigo
33, supra, não fosse mais cabível, por perda do prazo, por exemplo, e o vício fosse de inexistência ou de
nulidade absoluta. Não há amparo doutrinário para tal cabimento, sendo este um questionamento pessoal aqui
levantado.
De início, vale dizer que a nomenclatura definitiva e provisória não é muito técnica,
porque o título é que é definitivo ou provisório. A execução definitiva, em regra, calca-se
em um título definitivo, como a sentença transitada em julgado, ou qualquer título
extrajudicial. A provisória, tradicionalmente, só era possível em um caso: a execução da
sentença pendente de recurso sem efeito suspensivo.
A execução provisória, outrora, se instrumentalizava por meio da emissão de uma
carta de sentença, porque se há a pendência de recurso significa que os autos estão
fisicamente indisponíveis, eis que remetidos ao órgão de julgamento do recurso. Extraída a
carta de sentença, a execução provisória se daria instruída por ela.
O CPC, porém, não mais prevê a carta de sentença, desde a reforma. A execução
provisória é instruída, hoje, por meras cópias das peças processuais pertinentes – o que é
muito mais lógico e eficiente, diga-se.
O artigo que sedia a execução provisória, hoje, é o 475-O do CPC:
“Art. 574. O credor ressarcirá ao devedor os danos que este sofreu, quando a
sentença, passada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a
obrigação, que deu lugar à execução.”
Contudo, esta execução, mesmo quando há a apelação da sentença dos embargos, é ainda
definitiva, como prevê o STJ na súmula 317, supra. Não há conversão da execução
definitiva em provisória, para o STJ.
Entretanto, o artigo 587 do CPC, posterior à súmula 317, estabelece exatamente o
contrário: para o novel legislador, esta hipótese, a execução que se iniciou definitiva, se
torna provisória quando há apelação com efeito suspensivo da decisão que julgou
improcedentes os embargos. Há que se mencionar que a maior parte da doutrina, como
Humberto Theodoro Júnior e Vicente Greco Filho, defende que prevalece a nova redação
legal, mas o STJ ainda se mantém firme ao teor da sua súmula 317, a despeito da nova
redação do artigo 587.
Sobre isso, Alexandre Câmara defende que o novo dispositivo apenas fez com que
se tornasse necessária a caução neste caso, ou seja, a execução do título extrajudicial só
prosseguirá se houver caucionamento, porque os embargos são a primeira oportunidade de
discussão, em juízo, do direito material (diferentemente do cumprimento de sentença, que é
precedido por um extenuado rito cognitivo). Não se transforma a execução definitiva em
provisória, mas apenas se exige, na definitiva, que haja caução. A bem da verdade, isto já
ocorre na hipótese do artigo 475-M, § 1º, do CPC: a execução é definitiva, eis que é
cumprimento de sentença, e há a possibilidade de caução para prosseguir na execução
quando esta ficaria suspensa, por conta do efeito suspensivo atribuído à impugnação.
Reveja este artigo 475-M:
“Art. 475-M. A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe
tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução
seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou
incerta reparação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 1º Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exeqüente
requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando caução suficiente
e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos. (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
(...)”
Há uma só hipótese em que o STJ não aplica a sua súmula 317: na execução fiscal.
Esta é fundada na certidão da dívida ativa, título executivo extrajudicial, e por isso é
definitiva. Havendo embargos julgados improcedentes, se o executado apela com efeito
suspensivo, a execução se transforma em provisória, em argumento menos jurídico do que
compassivo: será muito dificultosa a reversão da execução, se a Fazenda a levar a cabo,
porque só poderá, o executado, reaver seu patrimônio por meio dos precatórios. Por isso,
esta execução se torna provisória, e a fazenda precisará caucionar se pretender prosseguir
na excussão dos bens o executado.
O artigo 741, II e parágrafo único, do CPC, é a principal sede do tema, mas também
há o artigo 475-L, II e § 1º, versando sobre isso:
(...)
Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo,
considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal
Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. (Redação pela Lei nº
11.232, de 2005)”
“Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
(...)
II – inexigibilidade do título; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
(...)
§ 1º Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também
inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados
inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou
interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como
incompatíveis com a Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
(...)”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema IV
Notas de Aula7
1. Responsabilidade patrimonial
O tema é versado nos artigos 591 e seguintes do CPC, que serão abordados
pontualmente, adiante.
Por conceito, compilado das ideias de Cândido Dinamarco e Alexandre Câmara, a
responsabilidade patrimonial é a possibilidade de sujeição do patrimônio do executado à
satisfação da obrigação prevista no título executivo.
7
Aula ministrada pela professora Flávia Pereira Hill, em 1/9/2009.
“Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos
os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.”
Este artigo 592, III, na verdade é redundante, em relação ao artigo 591, porque a
única diferença é que os bens não estão, neste inciso III, na posse do devedor, mas nunca
saíram de seu patrimônio, caindo na regra geral.
O inciso V do artigo supra trata de situação em que a alienação é ineficaz, em
relação ao exeqüente, por conta da fraude à execução. Sendo ineficaz, é como se nunca
houvesse ocorrido, o que faz com que se entenda que o bem nunca saíra, para o exeqüente,
do patrimônio do devedor – sendo também caso de responsabilidade primária, portanto.
A responsabilidade secundária, por sua vez, é a que recai sobre bens alheios ao
patrimônio do próprio devedor. Os incisos I, II e IV do artigo 592, supra, definem estas
hipóteses. Primeiro caso é o do sucessor a título singular: quando o terceiro adquire um
bem considerado litigioso, porque alvejado por ação real ou reipersecutória (na qual se
discute justamente a entrega ou restituição do bem), este adquirente sabe de sua condição
de responsável patrimonial secundário. Há quem defenda que esta hipótese seja, em
verdade, de responsabilidade primária, porque reconhece esta hipótese como fraude à
execução – assim se posicionando o ministro Teori Albino Zavascki, isoladamente.
A segunda hipótese de responsabilidade secundária é do cônjuge, que pode ter seu
patrimônio alcançado pela dívida do seu consorte, quando a lei assim o previr. O Código
Civil apresenta esta hipótese, nos artigos 1.643 e 1.644 o CC:
Assim, vê-se que se a dívida contraída por um dos cônjuges reverter em benefício
da família, o patrimônio comum, e mesmo o pessoal do cônjuge não contraente da
obrigação, por ela responderá.
Outra hipótese vem no artigo 1.659, IV, do CC, que deve ser lido em combinação
com a súmula 251 do STJ:
“Súmula 251, STJ: A meação só responde pelo ato ilícito quando o credor, na
execução fiscal, provar que o enriquecimento dele resultante aproveitou ao casal.”
“Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo pagamento
da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens da sociedade.
§ 1º Cumpre ao sócio, que alegar o benefício deste artigo, nomear bens da
sociedade, sitos na mesma comarca, livres e desembargados, quantos bastem para
pagar o débito.
§ 2º Aplica-se aos casos deste artigo o disposto no parágrafo único do artigo
anterior.”
patrimônio pessoal do sócio. O artigo 596 do CPC, supra, bem como o artigo 1.024 do CC,
prevêem este benefício de ordem, atentos a esta subsidiariedade:
“Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas
da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.”
Perceba que a leitura do caput deste artigo pode dar a entender que o legislador
consumerista adotou também a teoria maior da desconsideração, mas o § 5º do dispositivo
logo revela que, em verdade, adotou-se ali a mencionada teoria menor. Isto porque, em
última análise, sempre que se perceber que a personalidade jurídica se tornou obstáculo ao
ressarcimento do consumidor, esta será desconsiderada – haja ou não abuso da
personalidade. E a insuficiência de patrimônio é obstáculo claro.
Portanto, segundo a jurisprudência e a maior parte da doutrina, o regime específico
do CDC adota a teoria menor, em que é bastante a presença do requisito objetivo, a
insuficiência de patrimônio social, para que seja possível a desconsideração da
personalidade jurídica. Outrossim, há quem, minoritariamente, critique ferozmente esta
leitura, reputando que a leitura do § 5º deve ser coligada ao caput do artigo 28, e não de
forma isolada, o que levaria ao entendimento de que o elemento subjetivo é, sim, exigido,
também no CDC tendo sido adotada a teoria maior.
“Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o
preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em
juízo, com a citação de todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar
o preço que lhes corresponda ao valor real.”
“Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o
devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada
fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.”
“Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias
de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.”
Esta espécie consiste na prática de atos pelo devedor que, conscientemente, leva-o à
diminuição de seu patrimônio, a ponto de reduzi-lo à insolvência, mesmo antes da execução
se instaurar. A doutrina aponta dois requisitos básicos para configurar esta fraude: o dano, a
insolvência, o eventus damni, que é a situação de insuficiência de ativo para suportar o
passivo daquele indivíduo; e o consilium fraudis, elemento subjetivo que demonstra a
consciência do devedor e do terceiro de que aquele ato poderia levar o devedor à
insolvência (consciência que pode ser presumida). O artigo 158 do CC excepciona a
necessidade de demonstração do consilium fraudis, sempre que a oneração ou alienação for
a título gratuito: presume-se o conluio fraudulento, nestes casos.
Ocorrida a fraude contra credores, se entende que o ato será considerado ineficaz
perante o credor prejudicado. Araken de Assis fala em infraeficaz, e não totalmente
ineficaz, porque o ato é eficaz contra outras pessoas, que não aquele credor que comprovou
o vício. O CC dispõe que é anulável o ato praticado em fraude contra credores, mas a
doutrina processual defende que é ineficaz. Isto porque fosse o ato é anulável, se
efetivamente anulado, o bem retornaria ao patrimônio de onde originalmente saiu, ou seja,
do executado, sendo posto à disposição de todos os seus credores – o que não acontece. Por
isso, a ineficácia é mais precisa, porque ela só atinge o negócio em relação àquele credor,
somente contra ele não sendo oponível o ato, que permanece existente, válido e eficaz
perante terceiros, inclusive demais credores. Assim, o bem permanece onde está, mas pode
ser invadido para satisfazer o crédito daquele credor que demonstrou a fraude.
A sede adequada para apontar a fraude contra credores é a ação revocatória, ou
pauliana, processo de conhecimento em que cabe ao autor a prova dos elementos da fraude.
A súmula 195 do STJ é relevante:
“Súmula 195, STJ: Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude
contra credores.”
A ação autônoma é necessária, portanto, não sendo possível tal dedução em sede de
embargos.
Para o STJ, portanto, os dois requisitos para a fraude à execução são: o registro da
penhora, ou, não havendo, a comprovação da má-fé do terceiro adquirente; e a redução do
devedor ao estado de insolvência (requisito este que ainda coincide com o que a doutrina
sempre defendeu).
O artigo 615-A do CPC traz uma faculdade especial ao exequente:
“Art. 240 - O registro da penhora faz prova quanto à fraude de qualquer transação
posterior. (Renumerado do art. 245 com nova redação pela Lei nº 6.216, de 1975).”
Sempre que um bem que já se encontra gravado por penhora for onerado ou
alienado, ocorre esta circunstância. Há dois requisitos, portanto: o registro efetivo da
penhora; e a alienação ou oneração do bem penhorado.
Veja que não há que se falar em consilium fraudis, e nem mesmo insolvência,
porque já houve a concentração da execução naquele bem, que está afetado ao
cumprimento da execução, não podendo mais ser onerado ou alienado.
Assim como as demais modalidades de alienação fraudulenta de bens, gera somente
ineficácia do negócio perante o exeqüente frustrado, e não invalidade – ineficácia que pode
ser decretada nos próprios autos da execução, em incidente cognitivo.
Casos Concretos
Questão 1
Em uma execução movida pela Corretora Brasil, em face de Paulo, foi penhorado
um veículo de marca Vectra-GM, ano 2004, de propriedade de Manoel, que estava em
poder do executado a título de empréstimo gratuito. Manoel ajuizou embargos de terceiro
com pedido liminar de liberação do bem da constrição judicial e conseqüente manutenção
de posse em seu favor. Anexou Certificado de Registro de Veículo do Detran e argumentou
que não responde pelas dívidas de Paulo, de quem é amigo e colega de profissão, razão
pela qual emprestou seu carro pois o mesmo estava atravessando difícil situação
financeira. A embargada, em contestação, pleiteou a improcedência do pedido. Sustentou
que o veículo pertence efetivamente a Paulo, pois, além de circular pelas ruas da cidade
com o automóvel, afirmou, nos autos do processo de execução, ser o seu proprietário.
Ademais, ao se interpretar o verbete nº 132 da súmula do STJ, o registro não significa
propriedade ou a sua falta não implica a não propriedade. Autos conclusos, decida os
embargos.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Em execução que tem por base sentença penal condenatória transitada em julgado,
movida pelo Banco X em face de Jamil, Wanda, ex-mulher do executado, ajuizou embargos
de terceiro em face do exequente. Sustenta que a penhora recaiu sobre o imóvel de sua
exclusiva propriedade. Alega que, mesmo estando casada com o executado à época da
prática da apropriação indébita, não é ela responsável pela reparação dos danos, a teor
do disposto no art. 1.659, IV do Cód. Civil. A ocorrência do crime se deu em janeiro de
2002, enquanto a construção da moradia se operou de setembro de 1997 a abril de 1999,
inexistindo, assim, a possibilidade desta ter-se beneficiado com o produto do crime. Aduz
que o imóvel deve ser considerado bem de família, pois serve a ela e suas filhas de
residência. Em contestação, o embargado alega ter havido fraude à execução, uma vez que
na separação judicial o imóvel foi atribuído exclusivamente à embargante, quando ela já
tinha inequívoca ciência da demanda executiva movida contra seu ex-marido, inclusive por
força de protesto à alienação de bens. Aduz que a embargante sempre foi do lar, não
auferindo rendimentos compatíveis com a edificação do imóvel e que, embora a construção
tenha sido concluída em abril de 1999, foram realizados acabamentos na casa até meados
de 2003. A meação da embargante é suscetível de penhora, uma vez que, mesmo sendo
pessoal a responsabilidade do executado pela prática do delito, o outro cônjuge responde
por ter se beneficiado com o produto do crime. Finalmente, sustenta que a
impenhorabilidade da Lei 8.009/90 não pode ser oposta quando se tratar de execução de
sentença penal condenatória. Considerados comprovados todos os fatos narrados, decida
os embargos, fundamentadamente.
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
a) Há duas correntes, sendo certo que a majoritária entende que esta atuação
oficiosa é vedada, ante a carência de norma autorizativa da quebra da inércia
pelo magistrado. Porém, há precedentes esparsos que autorizam esta
desconsideração de ofício, como se vê no REsp. 370.068:
b) Há, aqui também, duas correntes sobre a sede adequada para efetivar a
desconsideração. A primeira é a que defende o mero incidente processual
cognitivo, no bojo da execução, é suficiente para operacionalizar a
desconsideração da personalidade jurídica, e esta é a orientação do STJ.
Aplicando-se esta corrente, seria possível a desconsideração, no caso em tela,
pela aplicação da teoria menor neste procedimento instrutório a ser regido pelo
juízo da execução.
A corrente contrária, porém, demanda o ajuizamento de processo autônomo
para tanto, quando não seria possível a análise da desconsideração no bojo da
execução: seria via processual inadequada para tanto.
No curso de uma ação de execução fiscal em que foi promovida a citação regular
do executado, houve a penhora de bem móvel consistente em um veículo automotor.
Antonio, terceiro em relação à demanda, promoveu ação de embargos de terceiro (art.
1.046 do CPC) com o objetivo de desconstituir a penhora que recaiu sobre o referido
veículo automotor. Alegou que adquiriu o bem do executado, mas que, por ocasião da
aquisição, não tinha conhecimento da ação executiva que já tramitava contra o vendedor /
executado, nem tampouco tinha conhecimento de que este já havia sido citado na demanda
executiva. Alegou, ainda, que não constava qualquer restrição judicial sobre o veículo
junto ao órgão de trânsito (DETRAN). Aduziu que houve a regular transferência do
veículo, com a expedição dos documentos necessários pelo órgão competente. O Município
alegou em sua contestação (art. 1.053 do CPC) que o fato de não estar registrada no
DETRAN qualquer restrição ao veículo não afasta o direito do exeqüente, uma vez que a
alienação ocorreu após a citação válida do devedor e, portanto, em fraude à execução.
Como deve ser julgada a ação de embargos de terceiro? Decida, dispensada a forma de
sentença, indicando os dispositivos legais pertinentes.
Resposta à Questão 4
A doutrina clássica diria que a citação válida em processo que possa gerar
condenação e a insolvência do devedor são suficientes a desenhar a fraude à execução.
Segundo esta vertente, não há prova do segundo requisito, da insolvência do executado, não
estando, portanto, configurada fraude à execução.
Segundo a novel posição do STJ, posta na súmula 375 desta Corte, é exigido do
exeqüente a demonstração do registro da penhora, ou da ciência do terceiro adquirente, de
que aquele ato de alienação reduziria o devedor à insolvência – o que não aconteceu, in
casu, segundo o enunciado.
De uma ou de outra forma, não houve fraude à execução.
Tema V
A liquidação incidente da sentença (art. 475-A introduzido pela Lei 11232/2005). Conceito. Casos de
iliqüidez da sentença. Nova natureza jurídica da liquidação. Limites da liquidação. Liquidação frustrada.
Modalidades de liquidação: por arbitramento e por artigos. A liquidação da sentença penal condenatória e
da sentença arbitral. A liquidação, promovida por particular, da sentença genérica proferida em sede de
processo coletivo (art. 98, Lei nº 8.078/90).
Notas de Aula9
1. Liquidação de sentença
“Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular
pedido genérico: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens
demandados; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
9
Aula ministrada pela professora Flávia Pereira Hill, em 1/9/2009.
A regra geral da execução está no já abordado artigo 580 do CPC, que exige
obrigação líquida, certa e exigível para haver execução. Para extrair a liquidez, quando uma
decisão seja certa e exigível, mas ilíquida, é que se presta o incidente de liquidação.
Veja que o pedido genérico é excepcional, admitido nas hipóteses do artigo supra,
porque como regra a liquidez deve ser colhida desde o pedido. Exemplo clássico de pedido
genérico admitido é a compensação por danos morais: a jurisprudência é pacífica em tolerar
este pedido como uma das exceções à liquidez.
A correlação entre a sentença e o pedido determina que se este for certo e líquido,
igualmente o deve ser a sentença. Sendo uma das hipóteses do artigo supra, em que há
pedido genérico, cabe também o dispositivo genérico.
A sentença ilíquida, genérica, não pode, de pronto, ser executada. É preciso que,
após a fase cognitiva e antes da fase executória, seja instaurado um incidente dedicado
exclusivamente a esta atribuição de liquidez. A fase de liquidação de sentença, portanto, é
incidental ao processo sincrético.
Há alguns procedimentos em que a sentença ilíquida é absolutamente vedada,
mesmo que se desenhe uma das hipóteses do artigo 286 do CPC. É o caso, por exemplo, do
artigo 52, I, da Lei 9.099/95:
Por isso, a liquidação de sentença nos juizados especiais é impossível, por pura falta
de compatibilidade ou necessidade, eis que não há sentença a ser liquidada ali jamais.
Outra hipótese é o procedimento sumário, como se vê no artigo 275, II, “d” e “e”,
do CPC:
“Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: (Incluído pela Lei nº 11.232, de
2005)
(...)
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
(...)
IV – a sentença arbitral; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
(...)
VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
(...)
Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J)
incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou
execução, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)”
“Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua
liquidação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 1º Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de
seu advogado. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 2º A liquidação poderá ser requerida na pendência de recurso, processando-se em
autos apartados, no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com
cópias das peças processuais pertinentes. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 3º Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso
II, alíneas ‘d’ e ‘e’ desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for
o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido. (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)”
A liquidação provisória é cabível até mesmo contra a Fazenda Pública, porque este
incidente não implica oneração ou invasão patrimonial de qualquer sorte: é a mera
quantificação do débito certificado na sentença.
A liquidação provisória, por óbvio, só terá efeitos se a decisão liquidada for
confirmada. Se o órgão ad quem alterar a decisão, é claro que a liquidação perderá o objeto,
porque o conteúdo da decisão liquidada será outro.
Araken de Assis defende que não contraria a sentença a inclusão de juros e correção
monetária ali não previstos, em fase de liquidação. Não é uma ofensa a este princípio da
correlação o cômputo de juros e correção monetária que não foram trazidos expressamente
na sentença. A respeito, veja a súmula 254 do STF:
Este princípio decorre de uma construção jurisprudencial, que passa pela súmula
344 do STJ:
“Súmula 344, STJ: A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não
ofende a coisa julgada.”
“Art. 475-C. Far-se-á a liquidação por arbitramento quando: (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
I – determinado pela sentença ou convencionado pelas partes; (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
II – o exigir a natureza do objeto da liquidação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de
2005)”
A liquidação por arbitramento, de fato, nada mais é do que uma perícia. Sempre que
os danos apurados em um processo precisarem de aferição por um técnico, será caso de
liquidação por arbitramento.
A respeito, veja o REsp. 489.195:
“REsp 489195 / RJ. DJ 19/11/2007 p. 230. CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO. COLISÃO DE VEÍCULOS. PARALISAÇÃO DE
AUTOMÓVEL DE AUTO-ESCOLA. LUCROS CESSANTES. OMISSÃO NÃO
CONFIGURADA. PREJUÍZO EXISTENTE. APURAÇÃO EM LIQUIDAÇÃO
DE SENTENÇA.
I. Não padece de nulidade acórdão que enfrenta as questões suscitadas, apenas que
de modo adverso à pretensão da parte.
II. Configurados o dano e os lucros cessantes pela paralisação de veículo de auto-
escola necessário ao desenvolvimento das atividades da autora, cabível a sua
condenação, cujo montante, todavia, deve ser apurado em liquidação de sentença,
considerando-se, notadamente, o volume médio de aulas ministradas pela empresa
e o valor das mesmas, porém com a dedução obrigatória das despesas operacionais,
não consignadas na documentação unilateralmente apresentada, que se rejeita.
III. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.”
Neste julgado, o STJ entendeu que é cabível a liquidação por arbitramento para a
apuração de lucros cessantes, o que nada mais é do que uma perícia contábil.
O inciso I do artigo supra prevê que as partes possam optar pela liquidação por
arbitramento, ou que a sentença assim o determine. O inciso II, porém, trata de hipótese em
que esta modalidade de liquidação é imperiosa, por conta da peculiaridade do objeto
liquidando.
O procedimento da liquidação por arbitramento vem no artigo subseqüente, 475-D
do CPC, e é bastante auto-explicativo:
“Art. 475-E. Far-se-á a liquidação por artigos, quando, para determinar o valor da
condenação, houver necessidade de alegar e provar fato novo. (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)”
A liquidação por artigos é aquela que tem por escopo a comprovação de fatos
novos, relevantes ao quantum condenatório. Fato novo não é necessariamente aquele que
ocorreu após a prolação da sentença liquidanda. O marco temporal para identificar se o fato
é novo é o momento em que este foi levado ao conhecimento do juiz: a partir do momento
em que o juiz remete a apuração de determinados fatos à liquidação de sentença, resta claro
que estes fatos só serão comprovados neste segundo momento, na liquidação de sentença. A
isto se denomina liquidação por artigos.
Como se pode perceber, a liquidação por artigos envolve extenso rito instrutório,
porque ali serão comprovados fatos que pela primeira vez vêm ao processo. Sendo assim, o
artigo 475-F indica que o rito para esta dilação probatória será o comum, ordinário, se
assim o foi a fase e conhecimento do processo, ou sumário, se a fase cognitiva foi sumária.
Se a fase inicial do processo foi em procedimento especial, a doutrina recomenda-se que
sejam observados quais são os elementos a que se aterá a liquidação, e dali fazer o
enquadramento do rito liquidatório em ordinário ou sumário.
Pode acontecer de uma sentença ser aparentemente ilíquida, porque não se pode
verificar prontamente o valor de tal condenação, mas na verdade ser líquida, demandando
apenas a realização de cálculos aritméticos para se extrair o valor exato. O artigo 475-B do
CPC é relevante:
mas a penhora só poderá ser feita com base no valor menor, obtido pelo contador. Assim se
faz por questão de cautela, e se o executado não impugnar a execução, o valor maior será
identificado como correto, a partir de então.
O § 1º do artigo supra traz prazo para que os elementos em poder de terceiros ou do
próprio executado sejam apresentados, a fim de que se possa compor a planilha de cálculos.
Se o terceiro não apresentar os dados, pode ser decretada busca e apreensão, e pode ser
configurado o crime de desobediência. Se for o executado quem se nega a trazer os
elementos requisitados, o juiz tomará por verdadeiras as informações trazidas pelo
exeqüente.
O já transcrito artigo 475-N, II, do CPC, dispõe que a sentença penal condenatória é
título executivo judicial, a ser executado no cível. O juiz criminal, é claro, não se imiscui
em discussões de valores da condenação ilíquida que proferir, sendo necessária a liquidação
desta sentença no cível, em regra. É claro que, se for fixado um valor mínimo indenizatório
na sentença criminal, como hoje se permite, não será preciso liquidar-se este título, eis que
o valor não é genérico.
Como já se adiantou, a liquidação desta sentença é feita em um novo processo, e
não em um incidente processual (pelo que se fala, como se vê no dispositivo em comento,
em citação para a liquidação). O rito, porém, é o mesmo das modalidades previstas, por
arbitramento ou por artigos.
A sentença arbitral segue a mesma dinâmica: se o juízo arbitral não fixar valor, a
liquidação será feita na modalidade necessária, por meio de processo autônomo no juízo
cível, prévio à execução.
“Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de
que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido
fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras
execuções. (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de
liquidação, da qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado.
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução
individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Sim, é possível, para a maior doutrina e jurisprudência. Por ser a liquidação por
arbitramento uma perícia, podem-se aplicar os dispositivos que regulam a produção da
perícia. O TJ/RJ permite a quesitação da liquidação por arbitramento, tendo julgados
emblemáticos sobre o tema. Veja, por exemplo, o Agravo de Instrumento 2006.002.23587:
Notas de Aula10
De início, cumpre afastar uma controvérsia prática que surgiu sobre este momento
processual, após a reforma: são devidos novos honorários advocatícios na fase de
cumprimento de sentença, sem qualquer dúvida, como já pacificou o STJ. Inclusive, aplica-
se aqui a fixação dos honorários já na intimação para cumprimento da sentença, na forma
do artigo 652-A do CPC, pela norma de reenvio do artigo 475-R do mesmo diploma:
10
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 18/9/2009.
Há uma discussão se, neste ato de intimação, já deve vir consignada a multa de dez
por cento do artigo 475-J do CPC, já abordado. Vale rever o artigo, porém:
A primeira controvérsia a respeito desta multa é quanto à sua natureza jurídica e sua
finalidade: a primeira corrente entende se tratar de sanção de direito material, pelo
descumprimento da sentença – algo como uma cláusula penal fixada por lei. Segundo esta
corrente, a multa será sempre devida, objetivamente, sendo constatado o descumprimento.
Deste lado está José Miguel Medina. É corrente um tanto severa, quiçá injusta, pois se o
devedor simplesmente não tem como pagar a dívida: a sanção objetiva pune a
impossibilidade de pagamento, e não a intenção de não pagar. Da mesma forma ocorre se o
devedor, desejoso em pagar, simplesmente não tem tempo hábil para alienar seu patrimônio
e amealhar os fundos necessários.
Segunda corrente defende a natureza de meio de coerção, mera sanção processual,
para estimular o cumprimento da obrigação – caso em que se assemelharia muito às
astreintes. Sendo assim, tendo esta natureza, poderia ser afastada a multa, quando o juiz
entendesse incabível, como qualquer meio de coerção o pode. Parece tese mais razoável,
mas comporta uma crítica: o meio de coerção, em regra, não pode ter a mesma natureza da
obrigação que está sendo descumprida, especialmente porque o meio de coerção deve ser
eficiente: se o devedor não paga dívida pecuniária, igualmente não pagará esta dívida
majorada por sanção coercitiva. Seria, então, mais correta a imposição de uma medida de
subrogação, como a penhora. Neste sentido, a multa pareceria mais punitiva do que
coercitiva, como dispõe a primeira corrente, mas a jurisprudência tem ignorado esta crítica,
fixando astreintes em obrigações pecuniárias, por exemplo, sem restrições – e a multa do
artigo 475-J do CPC pode ser, mesmo, medida processual de coerção. A divergência
persiste.
Se o devedor fizer o depósito do valor, dentro do prazo, mas deixando clara a sua
intenção em impugnar, o depósito deverá conter a multa de dez por cento? Alexandre
Câmara entende que sim: a mens do dispositivo é o pagamento findando a execução,
este autor, o juiz deveria inclusive modificar o meio de coerção, e não apenas reduzi-lo, em
casos em que a multa diária se faz ineficaz. As astreintes ineficazes se desvirtuam, se
tornando meio de enriquecimento indevido do credor, mais do que meio de coerção contra
o devedor.
Ultrapassadas estas questões, o próximo passo, após a fixação dos honorários
advocatícios, há quem diga que se aplica o artigo 617 do CPC: deferido o cumprimento da
sentença, tal como deferido o processamento da execução autônoma, a prescrição é
interrompida.
Fux defende que o processo é sincrético, mas duas são as ações, uma na cognição, e
uma na fase satisfativa. Por isso, seria aplicável o artigo 617, supra. Para quem entende que
a ação é uma só, tendo sido iniciada na inicial da fase cognitiva, não há nova interrupção da
prescrição – só se interrompe no deferimento da inicial cognitiva. O executado não é citado,
e sim intimado para pagamento ou penhora.
O oficial de justiça fará a penhora e a avaliação. Se não tiver conhecimento técnico
para avaliar, o § 2° do já visto artigo 475-J do CPC determina que será nomeado avaliador
somente para esta tarefa.
O prazo para a impugnação começa na intimação da penhora, como diz o artigo
475-J, § 1°, do CPC. Não se pode entender, com isso, que a penhora seja exigência para que
seja possível a impugnação: a impugnação independe da garantia do juízo, esta se prestando
apenas para a obtenção de efeitos suspensivos na impugnação. A penhora é condição para
concessão de efeito suspensivo à impugnação; sem penhora, a impugnação é admitida, mas
o cumprimento terá seu curso ininterrupto. Assim entendem Alexandre Câmara e Fredie
Didier. É o mesmo raciocínio dos embargos à execução de título executivo extrajudicial.
Mas se a penhora não é condição de procedibilidade, quando terá início o prazo para
a impugnação? Tem-se entendido, ao arrepio da lei, que é necessária a intimação para
pagamento, penhora ou impugnação em quinze dias. Se os autos não estiverem em primeira
instância, a intimação será de quando estiverem disponíveis, retornados de eventual
recurso, por exemplo.
Sobre o termo a quo para impugnar, de acordo com Didier, é possível, e
recomendável, o oferecimento da impugnação sem a necessidade de prévia penhora, que
permanece importante apenas para conferir o efeito suspensivo à execução.
Para ele, o que a regra do artigo 475-J estabeleceu foi um limite temporal máximo para o
oferecimento da impugnação, valendo dizer que esta pode ser apresentada até quinze dias
da intimação da penhora. Mas como a penhora não é requisito essencial ao oferecimento da
impugnação, esta pode ser oferecida antes mesmo da penhora, a qualquer tempo, desde a
intimação da sentença. Daniel Amorim Assumpção Neves, citado por Didier, fala que o
prazo indicado na lei é o prazo máximo, ou seja, após esse prazo ocorre a preclusão
temporal, mas nada impede que o demandado ingresse com a impugnação a qualquer
momento, antes mesmo da constrição judicial. Ainda segundo Daniel Assumpção:
“E nem se alegue que, antes de intimado da penhora, o prazo não terá sido
iniciado, o que vetaria a prática do ato processual, considerando-se que essa tese já
foi amplamente rejeitada pela melhor doutrina.”.
Araken de Assis entende que não é cabível esta duplicação, mas prevalece o
entendimento de Câmara.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Esta multa reverte para o autor. Seu termo inicial, para o STJ, é do dia do trânsito
em julgado da decisão. Quanto à intimação, há duas correntes: Câmara entende que deve
haver intimação pessoal; Atos Gusmão Carneiro entende que basta a intimação do
advogado.
Quanto à objetividade da multa, para quem a entende uma sanção de direito
material, ainda é devida, mesmo quando o devedor não cumpre a sentença porque não tem
recursos; para quem defende que é meio de coerção, pode ser revista pelo magistrado.
Veja o REsp. 954.859:
Questão 2
Sandro Vil, desejando cobrar uma dívida escorada em um cheque prescrito, ajuizou
uma ação monitória em face de Hamilton Formoso, no dia 22/01/08. Regularmente citado,
o réu deixou transcorrer o prazo legal sem interpor embargos monitórios, pelo que o juiz
proferiu sentença para condená-lo ao pagamento de R$ 20.000,00 e aos consectários da
sucumbência. A decisão transitou em julgado em 01/04/08, diante da não apresentação de
recurso. Na data de 17/04/08, Sandro protocolou petição perante o juízo que decidiu a
causa em primeiro grau de jurisdição, requerendo a execução do título judicial, com a
expedição do mandado de penhora e avaliação. Outrossim, neste momento, foi procedida a
juntada aos autos, pelo agora exeqüente, da planilha atualizada do débito, acrescendo
uma multa de 10% pela desídia do devedor (art. 475-J do CPC), além de um novo
arbitramento de verba honorária, distinto daquele oportunamente determinado pela
sentença, de forma referencial, no presente, para a fase de cumprimento da sentença. Fato
posterior, já efetivada a penhora e avaliação de bens pelo meirinho, Hamilton,
devidamente intimado, apresentou tempestiva impugnação, em 20/05/08, argüindo que não
fora intimado pessoalmente para cumprimento voluntário do julgado, seja pelo correio ou
por mandado, quiçá por seu advogado através de publicação no Diário Oficial. Sua defesa
sustenta-se, assim, na ocorrência de excesso de execução, pelo não cabimento in casu da
aplicação da respectiva multa, bem como diante do fato de que não seriam devidos novos
honorários advocatícios, uma vez que a Lei 11.232/05 acabou com a execução como
processo autônomo, transformando-a em simples etapa do processo de conhecimento, de
modo que, se não há novo processo, não há nova verba honorária. Ademais, anexou à peça
de defesa um comprovante de depósito judicial, em importe que cinge os termos do
dispositivo da sentença condenatória, conforme planilha também junta. Os autos foram
encaminhados a conclusão. Responda, motivadamente, como o juiz da causa deve decidir
a questão, dirimindo as controvérsias.
Resposta à Questão 2
É devida a nova verba honorária. A intimação pessoal, por seu turno, é questão
divergente, mas no TJ/RJ tem prevalecido que basta a intimação do advogado.
Veja o Agravo de Instrumento 2008.002.16705, do TJ/RJ:
Tema VII
Notas de Aula11
“Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
11
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 18/9/2009.
A mesma lógica se segue nos embargos, como se verá: quem embarga por excesso
também deve demonstrar o que entende devido. Caso o devedor não indique a parcela que
entende devida, o juiz não poderá permitir a emenda da impugnação: deve rejeitar
liminarmente a impugnação.
Alegado o excesso de execução, o devedor, logicamente, está reconhecendo que
parte da execução é legítima. Sendo assim, esta parte incontroversa será executada
normalmente, e eventual efeito suspensivo na impugnação, ou nos embargos, só atinge a
parte controvertida do valor exequendo.
A impugnação pode correr entranhada nos autos ou em apenso – não criando uma
nova relação processual, neste segundo caso. Ela só é autuada em apenso quando se
amoldar ao que dispõe o artigo 475-M, § 2°, do CPC:
“Art. 475-M. A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe
tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução
seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou
incerta reparação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 1° Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exeqüente
requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando caução suficiente
e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos. (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)
§ 2° Deferido efeito suspensivo, a impugnação será instruída e decidida nos
próprios autos e, caso contrário, em autos apartados. (Incluído pela Lei nº 11.232,
de 2005)
§ 3° A decisão que resolver a impugnação é recorrível mediante agravo de
instrumento, salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá
apelação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)”
É bem lógico :se a impugnação tem efeito suspensivo, ela permanece nos próprios
autos; se não tem, corre em apenso, para que a execução tenha seu curso livre.
Para ganhar efeito suspensivo, a impugnação precisa preencher o que estabelece o
caput do artigo supra: seus fundamentos serem relevantes, e o prosseguimento da execução
ser suscetível de causar grave dano ou de difícil reparação.
Ali onde consta embargos do devedor, conforme o artigo 741 do CPC, leia-se
impugnação.
As teses defensivas do artigo 475-L, diga-se, são matérias cognoscíveis de ofício, à
exceção do inciso VI, o que é mais um argumento para se entender que a impugnação é
possível antes da penhora.
O inciso I traz um vício que não se convalida: a nulidade de citação pode ser
suscitada a qualquer tempo. Já a ilegitimidade de parte, prevista no inciso IV, não é a
ilegitimidade da etapa de conhecimento – porque esta teria que ter sido alegada na fase
cognitiva, estando preclusa pela sentença. Esta ilegitimidade é da fase executiva, quando,
por exemplo, a demanda corre contra alguém apenas porque se operou a desconsideração
da personalidade jurídica, já na execução: este executado pode entender-se ilegítimo.
O inciso II do artigo 475-L fala em título inexigível, e o § 1° traz o que se entende
por inexigibilidade em relação a leis inconstitucionais. De forma geral, esta tese defensiva
especificamente calcada em inconstitucionalidade pode ser alegada quando, no momento da
prolação da sentença a lei já era inconstitucional, e também quando houve um controle
concentrado de constitucionalidade, em que a lei que deu ensejo à sentença foi considerada
inconstitucional posteriormente, mas com efeitos ex tunc.
O problema é quando a declaração de inconstitucionalidade da lei que fundamentou
a sentença em execução foi declarada inconstitucional a posteriori, mas com efeitos ex
nunc: mesmo neste caso, a doutrina costuma admitir o manejo de ação rescisória da
sentença, que se procedente, permitirá a alegação posterior de inexigibilidade do título
rescindido. Se perdido o prazo da rescisória, não há esta solução.
Humberto Theodoro Junior, por seu lado, defende que a declaração de
inconstitucionalidade da lei fundamentadora da sentença é matéria que sempre azoará a
inexigibilidade do título, a qualquer momento, sem violar a coisa julgada. Sérgio Ricardo
de Arruda Fernandes compartilha desta tese, e diz que o título não se desconstitui, mas sim
perde a eficácia, dispensando inclusive a rescisória, ante a inconstitucionalidade do seu
fundamento.
Interposta a impugnação, o exequente poderá sobre ela se manifestar (havendo
quem chame de impugnação à impugnação, resposta, ou mesmo contestação da
impugnação), contando com cinco dias para tanto, eis que não há prazo específico previsto
e a regra geral é esta, como dispõe o artigo 185 do CPC:
“Art. 185. Não havendo preceito legal nem assinação pelo juiz, será de 5 (cinco)
dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.”
Há quem defende que sejam dez dias, em analogia à réplica, constante do artigo 326
do CPC:
“Art. 326. Se o réu, reconhecendo o fato em que se fundou a ação, outro Ihe opuser
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido no prazo
de 10 (dez) dias, facultando-lhe o juiz a produção de prova documental.”
E há ainda quem entenda que sejam quinze dias, pela regra da isonomia: se ao
impugnante é dado este prazo, ao impugnado também deve ser – assim defendendo Fredie
Didier. Cassio Scarpinella, a seu turno, é um dos que entendem que a impugnação é ação, e
por isso serão quinze dias para responder a esta ação, como qualquer contestação.
O TJ/RJ entende que não há custas processuais para a impugnação, tampouco
honorários. A etapa de execução já teve seus honorários fixados.
A decisão que julga a impugnação é impugnável por agravo de instrumento, na
forma do artigo 475-H, ou por apelação, a depender do resultado: se a execução for
fulminada pela decisão, comporta esta apelação – pois é sentença; se não termina a
execução, cabe agravo de instrumento – pois é interlocutória.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
devidas, não pode prevalecer, por destoar da letra expressa do Código Tributário
Fluminense (DL 05/1975) e de ditames explícitos e implícitos da Carta da
República e do Código Tributário Nacional, de específico o princípio da
legalidade. Recurso que se conhece, rejeitada a preliminar contrária. Provimento
do mesmo, no afastar da exigência em tela.”
Questão 2
Resposta à Questão 2
A) Depende da orientação que for seguida, pois há três correntes, uma que defende
ser prazo de cinco dias, outra de dez, e outra de quinze dias.
Questão 3
Resposta à Questão 3
O artigo 475-L do CPC é exemplificativo, havendo ali matérias que são inclusive
cognoscíveis de ofício. Por isso, mesmo ausente deste dispositivo, a matéria ali suscitada\
pode ser deduzida em impugnação, sem óbice.
Tema VIII
A execução por quantia certa fundada em título extrajudicial. Finalidade. Fases da execução por quantia
certa contra devedor solvente. Averbação da distribuição (art. 615-A, CPC). A fase da proposição: petição
inicial, fixação de honorários e citação. Parcelamento. Arresto.
Notas de Aula12
Esta modalidade vem tratada especialmente nos artigos 652 e seguintes do CPC,
artigos que serão abordados pontualmente.
A reforma da Lei 11.382/06 alterou significantemente a execução de título
extrajudicial. Vale lembrar, porém, que sempre que um procedimento for omisso, poderá se
valer dos demais para suprir as suas lacunas, naquilo que for compatível. Os artigos 598 e
475-R dão a nota:
A execução que se estuda, neste tópico, é contra devedor solvente, que é aquele que,
em tese, possui patrimônio suficiente para cumprir a obrigação. O procedimento para
execução de devedor insolvente, por obrigação pecuniária, responde a rito diferente, que
tem início no artigo 748 do CPC, e será estudado em tópico próprio adiante. Destarte, três
são as premissas básicas, para ser este o rito adotado: o título é extrajudicial; a obrigação é
pecuniária, e o devedor é solvente.
Nada impede, porém, que o credor opte pelo outro procedimento, da execução por
via da insolvência civil, ou seja, persiga o rito da execução contra devedor insolvente.
12
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 8/9/2009.
Nesta situação, parte-se da premissa que o devedor não tenha patrimônio, mas a decretação
da insolvência é muito similar à de falência, inclusive abrindo concurso de credores – o que
pode não ser a melhor opção, a depender da natureza do crédito em busca.
Iniciada a execução por quantia certa contra devedor solvente, se no seu curso ficar
claro que o devedor é insolvente, terá o credor que ajuizar nova execução, agora contra
devedor insolvente. A convolação dos ritos, diga-se, não é possível, porque os
procedimentos são muito distintos, inclusive implicando mudança de competência: a
insolvência civil é perseguida na vara empresarial, enquanto a execução contra devedor
solvente é de competência da vara cível.
Pelo ensejo, vale dizer que a insolvência civil, quando decretada, equivale a uma
interdição temporária de direitos, porque o insolvente perde toda a administração de
patrimônio, por cinco anos desde a decretação final da insolvência (prazo após o qual todas
suas obrigações são extintas).
Vejamos os dispositivos necessários sobre o procedimento em análise, a começar
pelo artigo 652 do CPC:
“Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o
pagamento da dívida. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 1º Não efetuado o pagamento, munido da segunda via do mandado, o oficial de
justiça procederá de imediato à penhora de bens e a sua avaliação, lavrando-se o
respectivo auto e de tais atos intimando, na mesma oportunidade, o executado.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 2º O credor poderá, na inicial da execução, indicar bens a serem penhorados (art.
655). (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 3º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exeqüente, determinar, a
qualquer tempo, a intimação do executado para indicar bens passíveis de penhora.
(Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 4º A intimação do executado far-se-á na pessoa de seu advogado; não o tendo,
será intimado pessoalmente. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 5º Se não localizar o executado para intimá-lo da penhora, o oficial certificará
detalhadamente as diligências realizadas, caso em que o juiz poderá dispensar a
intimação ou determinará novas diligências. (Incluído pela Lei nº 11.382, de
2006).”
Repare que este dispositivo supra cria um sistema análogo ao da litigância de má-fé,
mas atinente exclusivamente à execução.
Juntamente com a petição inicial da execução, deve vir o título executivo
extrajudicial, e uma planilha demonstrativa do débito atualizado, na forma do artigo 614, I
e II, do CPC:
“Art. 659. A penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o
pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários advocatícios.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 1º Efetuar-se-á a penhora onde quer que se encontrem os bens, ainda que sob a
posse, detenção ou guarda de terceiros. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de
2006).
§ 2º Não se levará a efeito a penhora, quando evidente que o produto da execução
dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da
execução.
§ 3º No caso do parágrafo anterior e bem assim quando não encontrar quaisquer
bens penhoráveis, o oficial descreverá na certidão os que guarnecem a residência
ou o estabelecimento do devedor.
§ 4º A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora,
cabendo ao exeqüente, sem prejuízo da imediata intimação do executado (art. 652,
§ 4º), providenciar, para presunção absoluta de conhecimento por terceiros, a
respectiva averbação no ofício imobiliário, mediante a apresentação de certidão de
inteiro teor do ato, independentemente de mandado judicial. (Redação dada pela
Lei nº 11.382, de 2006).
§ 5º Nos casos do § 4º, quando apresentada certidão da respectiva matrícula, a
penhora de imóveis, independentemente de onde se localizem, será realizada por
termo nos autos, do qual será intimado o executado, pessoalmente ou na pessoa de
seu advogado, e por este ato constituído depositário. (Incluído pela Lei nº 10.444,
de 7.5.2002)
§ 6º Obedecidas as normas de segurança que forem instituídas, sob critérios
uniformes, pelos Tribunais, a penhora de numerário e as averbações de penhoras de
bens imóveis e móveis podem ser realizadas por meios eletrônicos. (Incluído pela
Lei nº 11.382, de 2006).”
Esta providência legislativa foi bastante salutar, uma vez que se os honorários forem
fixados apenas na sentença, seria necessária execução posterior à própria execução, apenas
pelos honorários. Fixados já no “cite-se”, a penhora é efetuada já com o valor deste
honorários, incrementando bastante a efetividade do processo. Vale ressaltar que os
honorários são definidos em número inteiro, e não em percentual, porque o legislador fez
questão de apontar para o artigo 20, § 4º, do CPC, como se vê no dispositivo acima.
Os honorários advocatícios definidos no “cite-se” são tidos por provisórios: quem
promove a execução, pode tê-la frustrada no seu curso, pelos embargos. Os honorários, pela
mera distribuição da execução, não podem ser devidos, pelo que o provimento dos
embargos à execução implica cancelamento, pelo juiz, dos honorários fixados na citação.
Humberto Theodoro Júnior, assim como a jurisprudência do STJ, admite a fixação
da verba honorária para os embargos e para a execução, ambos em favor de quem triunfou
– duas verbas separadas; ou a fixação dos honorários apenas nos embargos, sem honorários
na execução, mas com patamar maior, de forma a englobar em uma só verba a remuneração
pela execução e pelos embargos.
A citação do executado não pode ser via postal, pela vedação expressa no artigo
222, “d”, do CPC. Esta citação deve ser feita por oficial de justiça.
“Art. 222. A citação será feita pelo correio, para qualquer comarca do País, exceto:
(Redação dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
(...)
d) nos processos de execução; (Incluído pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
(...)”
“Art. 8º - O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida
com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou
garantir a execução, observadas as seguintes normas:
I - a citação será feita pelo correio, com aviso de recepção, se a Fazenda Pública
não a requerer por outra forma;
II - a citação pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta no endereço
do executado, ou, se a data for omitida, no aviso de recepção, 10 (dez) dias após a
entrega da carta à agência postal;
III - se o aviso de recepção não retornar no prazo de 15 (quinze) dias da entrega da
carta à agência postal, a citação será feita por Oficial de Justiça ou por edital;
IV - o edital de citação será afixado na sede do Juízo, publicado uma só vez no
órgão oficial, gratuitamente, como expediente judiciário, com o prazo de 30 (trinta)
dias, e conterá, apenas, a indicação da exeqüente, o nome do devedor e dos co-
responsáveis, a quantia devida, a natureza da dívida, a data e o número da inscrição
no Registro da Dívida Ativa, o prazo e o endereço da sede do Juízo.
§ 1º - O executado ausente do País será citado por edital, com prazo de 60
(sessenta) dias.
§ 2º - O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição.”
A citação por edital é cabível, mas não tem qualquer utilidade prática. O arresto, por
seu turno, é muito mais interessante do que a citação editalícia, para os fins que o credor
pretenda. Veja os artigos 653 e 654 do CPC:
“Art. 654. Compete ao credor, dentro de 10 (dez) dias, contados da data em que foi
intimado do arresto a que se refere o parágrafo único do artigo anterior, requerer a
citação por edital do devedor. Findo o prazo do edital, terá o devedor o prazo a que
se refere o art. 652, convertendo-se o arresto em penhora em caso de não-
pagamento.”
executiva do processo sincrético, pelo que a penhora não precisa deste arresto prévio,
quando ausente o devedor.
Se mesmo após o edital o devedor não for localizado, a súmula 196 do STJ
determina a nomeação de curador especial com poderes para oferecer embargos:
“Súmula 196, STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa,
permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos.”
“Art. 1.102-C. No prazo previsto no art. 1.102-B, poderá o réu oferecer embargos,
que suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos,
constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o
mandado inicial em mandado executivo e prosseguindo-se na forma do Livro I,
Título VIII, Capítulo X, desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 1° Cumprindo o réu o mandado, ficará isento de custas e honorários
advocatícios. (Incluído pela Lei nº 9.079, de 14.7.1995)
(...)”
Se o executado opta pelo parcelamento, este será feito de forma bem estrita, nos
moldes do artigo 745-A do CPC:
Assim, o devedor deve pagar trinta por cento da dívida, e o restante em seis parcelas
com juros de um por cento ao mês. Feito nestes moldes, o parcelamento é um direito do
devedor, dispensando anuência do credor para ser deferido. É claro que qualquer
parcelamento mais benéfico ao devedor, outrossim, demanda a concordância do credor.
Durante o curso do parcelamento legal, a execução fica suspensa, sendo extinta ao
final, com o pagamento. Se o parcelamento for feito por acordo, igualmente, a suspensão é
recomendável, mas há juízos que interpretam que deve haver extinção, em analogia ao
artigo 794, II, do CPC:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
O art. 652-A menciona que o juiz, ao despachar a petição inicial da execução por
título extrajudicial, deve fixar os honorários advocatícios na forma do art. 20, parágrafo
4º do Código de Processo Civil, enquanto que o parágrafo único do mesmo dispositivo
menciona que, se o pagamento integral for realizado em 3 dias, esta verba honorária será
reduzida pela metade.Indaga-se:
a) Este artigo pode ser aplicado quando o executado requerer o parcelamento na
forma do art. 745-A?
b) Se forem interpostos embargos do devedor, deverá ocorrer nova condenação em
honorários advocatícios?
Resposta à Questão 2
b) Sim, porque os embargos são uma nova ação, devendo haver remuneração
advocatícia correspondente.
Pelo novo artigo 615-A do Código de Processo Civil, o exeqüente poderá, no ato de
distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução, para fins de
averbações em registros diversos. Deve, depois, comunicar ao juízo as averbações
efetivadas no prazo de 10 dias (CPC, artigo 615-A, § 1°). Que prazo é esse? É preclusivo?
E se não for atendido, qual a conseqüência? Serão desconsideradas as averbações?
Resposta à Questão 3
Este prazo é meramente processual, impreclusivo, e se não for atendido faz com que
o termo inicial do período de ocorrência de fraude à execução seja da data em que houve a
comunicação, enquanto que se for observado o prazo, este termo inicial remontará à data da
averbação. De forma alguma, porém, serão desconsideradas as averbações.
Tema IX
A execução por quantia certa fundada em título extrajudicial: continuação. Os Embargos à execução.
Generalidades. Natureza jurídica. Requisitos genéricos de admissibilidade dos embargos: competência, a
tempestividade e a legitimação. Desnecessidade de penhora (Lei nº 11.382/06). Procedimento. Revelia.
Natureza da decisão. Objeção de não-executividade.
Notas de Aula14
1. Embargos à execução
1.1. Prazo
O prazo para embargar, antes da reforma, era de dez dias. Atualmente, é de quinze
dias, na forma do artigo 738 do CPC, mas não em todo caso. Veja:
14
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 8/9/2009.
“Art. 755. O devedor será citado para, no prazo de 10 (dez) dias, opor embargos;
se os não oferecer, o juiz proferirá, em 10 (dez) dias, a sentença.”
Os embargos oferecidos pela Fazenda Pública têm previsão no artigo 1º-B da Lei
9.494/97, e contam com prazo de trinta dias:
“Art. 1°-B. O prazo a que se refere o caput dos arts. 730 do Código de Processo
Civil, e 884 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no
5.452, de 1o de maio de 1943, passa a ser de trinta dias" (NR) (Incluído pela
Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)”
Este artigo supostamente alterou o artigo 730 do CPC, que contemplava prazo de
dez dias, como se vê abaixo. Esta questão ainda é alvo de discussão, porém, e será abordada
em tópico próprio adiante.
“Art. 730. Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a
devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo
legal, observar-se-ão as seguintes regras: (Vide Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal
competente;
II - far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do
respectivo crédito.”
1.2. Penhora
Em brevíssima suma, eis que o tema conta com tópico próprio para seu estudo, o
rito do cumprimento de sentença é o seguinte: após o trânsito em julgado, o exequente deve
se manifestar, em no máximo seis meses, requerendo que haja o seu cumprimento, na forma
do artigo supra, § 5°. Em seguida, dá-se, já, a expedição do mandado de penhora e
avaliação (não havendo citação, portanto). Após, realiza-se a penhora e avaliação, e há a
intimação do devedor, em pessoa ou pelo seu advogado, a fim de que este apresente a
impugnação. Pela literalidade, portanto, a penhora é necessária para poder haver
impugnação.
Contudo, a doutrina vem defendendo que a penhora não é uma condição para que
possa haver a impugnação. Em verdade, seria apenas uma condição para que a impugnação
tenha efeito suspensivo da decisão em cumprimento. E há ainda quem defenda que a
penhora restou dispensada, porque se para opor embargos não mais é necessária, para a
impugnação também não o seria – o que não parece uma interpretação muito correta, eis
que os pressupostos dos ritos são muito diversos, pois no cumprimento de sentença já
houve toda uma prévia dilação perante o Judiciário, enquanto a execução do título
extrajudicial encontra aqui o primeiro contato com o juízo.
Alexandre Câmara, portanto, defende que a penhora no cumprimento de sentença
tem o escopo precípuo de conferir efeito suspensivo à impugnação, e parece ser a leitura
mais correta do regime atual, porque a impugnação prévia à penhora, desde que sem efeito
suspensivo, não representa qualquer prejuízo ao credor. Entretanto, apesar de coerente, é
uma interpretação contra legem, e gera um efeito prático relevante: impossibilita a
identificação do termo a quo do prazo para a impugnação, eis que a intimação, termo inicial
do prazo na lei, é da penhora.
Pelo ensejo, vejamos o efeito suspensivo dos embargos à execução.
Vê-se, então, que o efeito suspensivo dos embargos agora é ope judicis, e só será
concedido se: houver requerimento do embargante; houver prévia penhora; e houver risco
de dano no prosseguimento da execução.
Destarte, não só não é mais automaticamente suspensa a execução, como sequer
pode ser concedido este efeito suspensivo de ofício. O requerimento do embargante é
necessário, segundo Fredie Didier, porque se assemelha em efeitos a uma “antecipação da
tutela” nos embargos, e como a tutela antecipada, para a maior doutrina 15 e para a
interpretação legalista, não pode ser concedida de ofício, aqui também não poderia.
A necessidade de penhora é um requisito para a concessão da suspensão porque o
credor precisa ficar resguardado em seu direito. E a concessão do efeito suspensivo, neste
momento, é protetiva do executado: é uma cautela legal necessária para ambos os lados,
porque se o credor não tem a penhora, o devedor pode fraudar a execução; e se o credor
obtém a penhora, mas não tem efeito suspensivo, o bem penhorado poderá ser alienado, o
que pode levar à frustração do devedor, em eventual provimento dos embargos.
Daí já se colhe o último requisito, qual seja, a presença de risco de dano irreversível,
que é justamente a frustração do direito do devedor em eventual triunfo nos embargos.
Percebe-se uma certa colisão entre o § 1° e o § 6° do artigo supra: enquanto o
primeiro dispõe que a penhora é necessária e prévia, o segundo diz que a concessão não
15
O ministro Luiz Fux entende que a tutela antecipada pode ser prestada de ofício, porque seria uma espécie
de poder implícito: se foi provocado para prover tutela definitiva, nada impede que faça o menos, ou seja,
proveja tutela provisória, de ofício.
impedirá os atos de penhora. Mas como “impedirá”, no futuro, se a penhora deve ser
prévia, é pressuposto para a concessão do efeito suspensivo?
Alexandre Câmara aponta esta contradição, exatamente nestes termos, mas a
doutrina tem interpretado este § 6° como referente a uma substituição, renovação, ou
repetição da penhora, o que ocorre no futuro, e escaparia à suspensão do processo: mesmo
já tendo sido suspenso, por conta da prévia penhora, novos atos de penhora poderão ser
realizados em plena suspensão.
Os embargos à execução são oferecidos em petição inicial, que segue a regra geral
do CPC. Ofertados, serão autuados em apenso à execução, na forma do artigo 736,
parágrafo único, do CPC:
Repare que a improcedência liminar dos embargos, calcada no artigo 739, III, do
CPC, é de uso muito mais livre e incondicionado do que a improcedência liminar prevista
pelo artigo 285-A: enquanto neste se exige sentença idêntica em caso análogo, nos
embargos a análise do escopo protelatório pode ser inédita, dispensado qualquer paradigma
prévio.
Leonardo Greco diz que se trata, esta hipótese, de uma sentença de mérito em
cognição sumária, induzindo coisa julgada meramente formal. Por isso, o teor poderia se
novamente discutido em uma ação anulatória, por exemplo. Não é interpretação majoritária,
porque tornaria inútil esta rejeição, eis que a anulatória seria quase um passo obrigatório a
suceder este improvimento liminar.
Superada a fase de análise da rejeição sem que esta se opere, o juiz determinará a
citação do exequente, para responder aos embargos. O artigo 740 do CPC assim determina,
mas não apõe ali o termo citação, expressamente:
“Art. 740. Recebidos os embargos, o juiz mandará intimar o credor para impugná-
los no prazo de 10 (dez) dias, designando em seguida a audiência de instrução e
julgamento.
Parágrafo único. Não se realizará a audiência, se os embargos versarem sobre
matéria de direito ou, sendo de direito e de fato, a prova for exclusivamente
documental; caso em que o juiz proferirá sentença no prazo de 10 (dez) dias.”
“Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no
entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
(...)
V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes;
(Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
(...)”
Casos Concretos
Questão 1
Pelo disposto no artigo 736, do Código de Processo Civil, com a redação conferida
pela Lei 11.382/06, os embargos à execução poderão ser oferecidos independentemente de
penhora, depósito ou caução. Se considerarmos que a exceção ou objeção de pré-
executividade surgiu como criação doutrinária para possibilitar ao executado a veiculação
de matérias do tipo ausência de liquidez ou exigibilidade da obrigação, ausência de
condições para o exercício da ação executiva ou ainda ausência de pressupostos
processuais, entre outras matérias, sem a necessidade de garantia prévia do juízo, será
correto concluir que a objeção de pré-executividade perdeu sua relevância e utilidade?
Resposta à Questão 1
Não: a matéria de ordem pública pode ser alegada a qualquer momento, e nisto
reside o interesse na exceção de pré-executividade, pois ela será a via para dedução desta
matéria.
Questão 2
Resposta à Questão 2
A exceção precisa ser rejeitada, porque a casuística apresentada faz deduzir que seja
necessária a análise de provas, o que não pode ser feito em objeção de não executividade.
A respeito, veja o Resp. 866.632:
Tema X
A execução por quantia certa fundada em título extrajudicial: continuação. Espécie de embargos: a)
conforme a origem do título: embargos à execução contra Fazenda Pública fundada em título judicial e em
título extrajudicial; b) conforme o objeto da execução: embargos oponíveis à execução por quantia certa,
para entrega de coisa e de obrigação de fazer ou de não fazer; c) quanto à repercussão na marcha do
processo de execução: embargos suspensivos e não suspensivos. O procedimento. A petição inicial. Resposta.
Procedimento subseqüente. Os embargos à arrematação e à adjudicação (art. 746) e breves comentários
sobre os embargos de terceiros (art. 1.046).
Notas de Aula16
1. Espécies de embargos
Desde logo, cumpre salientar que a execução contra a Fazenda Pública é sempre
fundada em título judicial: simplesmente não existiria execução de título extrajudicial
contra a Fazenda, em interpretação literal do artigos 100, da CRFB:
“Art. 100. à exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos
pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária,
far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
(...)”
O artigo 730 do CPC, porém, não faz distinção, e se as vias executórias são
unificadas, contra a Fazenda, não há que se fazer diferença, sendo admissível a execução de
título executivo extrajudicial contra esta, portanto.
“Art. 730. Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a
devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo
legal, observar-se-ão as seguintes regras: (Vide Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal
competente;
II - far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do
respectivo crédito.”
tenha que ajuizar ação de conhecimento, a fim de que se o converta em sentença, e só então
poder satisfazer seu crédito, que já era líquido, certo e exigível desde sempre.
A melhor conclusão, portanto, é que é admissível esta execução contra a Fazenda. A
jurisprudência, sumulada no enunciado 279 do STJ, encampa esta tese:
“Súmula 279, STJ: É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda
Pública.”
O artigo 730, supra, determina a citação da Fazenda para opor embargos em dez
dias, mas este prazo é de trinta dias, contados da juntada do mandado de citação aos autos.
A matéria dedutível nos embargos, pela Fazenda, é a que consta do artigo 741 do
CPC:
Hoje, como se sabe, o efeito suspensivo dos embargos é ope judicis, em regra não
havendo este efeito. Os embargos oferecidos pela Fazenda, porém, têm efeito suspensivo
ope legis, como o era antes da reforma em quaisquer embargos, pois esta é a conclusão a
que faz chegar o artigo 739-A do CPC, já abordado, em conjunto com o acima transcrito
artigo 730. A lógica é a seguinte: o artigo 730 estabelece que o precatório será expedido se
os embargos não forem oferecidos, ou se forem rejeitados. Ora, se só se pode expedir
precatório nesta circunstância, tem-se que a mera apresentação de embargos é a
responsável pelo não prosseguimento da execução, pela não emissão dos precatórios –
tendo, o oferecimento dos embargos, efeito suspensivo automático, portanto.
O procedimento dos embargos opostos pela Fazenda não é diferente dos embargos
opostos por particulares. A única diferença é esta peculiaridade quanto ao efeito suspensivo.
“Art. 745. Nos embargos, poderá o executado alegar: (Redação dada pela Lei nº
11.382, de 2006).
(...)
V - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de
conhecimento. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
(...)”
O artigo 621 do CPC é bastante claro quando dispõe que estas obrigações só são
passíveis de execução se constantes de títulos extrajudiciais, nunca judiciais:
Os embargos podem ser oferecidos sem que haja depósito da coisa, porque a
exigência do artigo 737 do CPC foi revogada, valendo o artigo 736 para a matéria:
“Art. 737. Não são admissíveis embargos do devedor antes de seguro o juízo:
(Revogado pela Lei nº 11.382, de 2006)
I - pela penhora, na execução por quantia certa; (Revogado pela Lei nº 11.382, de
2006)
II - pelo depósito, na execução para entrega de coisa. (Revogado pela Lei nº
11.382, de 2006)”
Estes embargos são opostos por terceiros, que são pessoas alheias ao processo, à
relação processual, não ocupantes de posição processual alguma, nem como parte principal,
nem como secundária.
O terceiro, por vezes, pode ser atingido em seu patrimônio por uma execução com a
qual sequer teve contato. Por exemplo, o adquirente de bens em fraude à execução, ou o
cônjuge, quando responde pelas dívidas do outro, ou ainda o fiador judicial, etc.
Há que se trazer, aqui, a distinção feita por Liebman entre os titulares da
responsabilidade executória primária e os titulares da secundária: aqueles que figuram no
processo, titularizando a relação jurídica de direito material que fez gerar a obrigação
executada, são os devedores primários. Aqueles que não são partes, não tendo titularizado a
relação jurídica material fundadora da execução, mas têm seu patrimônio atingido, são os
responsáveis, devedores secundários. Desta distinção decorre a regra de que os titulares
primários resistem à pretensão executória por meio de embargos do devedor, enquanto os
titulares secundários resistem pela via dos embargos de terceiros.
O terceiro, no entanto, pode se encontrar em duas situações distintas: a de poder
negar a sujeição de seus bens àquela execução, como quando lhe acusam de adquirir em
fraude à execução, e nega esta ocorrência; ou a de não poder negar a sujeição de seus bens
– por exemplo, quando a fraude à execução ocorreu de fato –, caso em que o terceiro ainda
Como dito, ao contrário do regime anterior, os embargos hoje são, em regra, sem
efeito suspensivo da execução. Os embargos terão efeito suspensivo, excepcionalmente,
quando o prosseguimento da execução representar risco de dano irreparável ao executado,
aliado à probabilidade de bom direito deste devedor.
Para que haja a suspensão, ainda, é preciso que haja a garantia do juízo, pela
penhora. A penhora não é pré-requisito para os embargos, mas o é para que estes tenham
efeito suspensivo.
O artigo 739-A do CPC é relevante, especialmente o § 6°, valendo revê-lo:
cumprido, na execução o prazo flui desde a juntada aos autos de cada um dos mandados,
para o respectivo executado citado.
No processo de conhecimento, como se sabe, a pluralidade de procuradores dos
litisconsortes faz com que o prazo seja contado em dobro; nos embargos, esta duplicação
não ocorre, porque, novamente, os embargos não são defesa formal, são defesa ativa,
ataque, ação. Não se aplica o artigo 191 do CPC:
“Art. 295. A petição inicial será indeferida: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
I - quando for inepta; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
II - quando a parte for manifestamente ilegítima; (Redação dada pela Lei nº 5.925,
de 1º.10.1973)
III - quando o autor carecer de interesse processual; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição (art. 219, §
5o); (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
V - quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à
natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se
puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal; (Redação dada pela Lei nº 5.925,
de 1º.10.1973)
Vl - quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira
parte, e 284. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: (Redação dada pela
Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
I - Ihe faltar pedido ou causa de pedir; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; (Redação dada
pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
III - o pedido for juridicamente impossível; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)”
apelação no duplo efeito retira a eficácia da sentença, e a execução que estava parada
continua parada.
Se a execução estava suspensa, mas os embargos foram julgados improcedentes, a
apelação terá efeito meramente devolutivo, e esta sentença de improcedência produzirá
efeitos: a execução que estava suspensa retomará seu curso.
A natureza da execução quando há pendente apelação contra sentença que julgou
improcedentes os embargos do devedor é peculiar. A execução é definitiva, quando a
sentença transitou em julgado, ou quando fundada em título executivo extrajudicial, nos
termos do artigo 587 do CPC:
“Art. 587. É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória
enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do
executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739). (Redação dada pela
Lei nº 11.382, de 2006).”
Ocorre que este artigo faz uma ressalva bastante estranha: se os embargos foram
julgados improcedentes, e a apelação veio a ser recebida com efeito suspensivo, a execução
é considerada provisória. É estranha esta redação, eis que uma execução que era definitiva
só pela força do título extrajudicial, agora, que tem a seu favor também uma decisão de
improcedência do instrumento para sua resistência, passa a ser provisória. A opção
legislativa é realmente incongruente, despropositada.
A sentença que julga os embargos é uma sentença de mérito, eis que a ação é
cognitiva, em busca da tutela judicial de não se submeter àquela execução. Transita em
julgado materialmente e é passível de rescisão, nos casos em que a ação rescisória for
cabível.
O artigo 745 do CPC traz rol de matérias dedutíveis como fundamentos dos
embargos:
“Art. 745. Nos embargos, poderá o executado alegar: (Redação dada pela Lei nº
11.382, de 2006).
I - nulidade da execução, por não ser executivo o título apresentado; (Incluído pela
Lei nº 11.382, de 2006).
II - penhora incorreta ou avaliação errônea; (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; (Incluído pela Lei
nº 11.382, de 2006).
IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de título para entrega
de coisa certa (art. 621); (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
V - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de
conhecimento. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 1º Nos embargos de retenção por benfeitorias, poderá o exeqüente requerer a
compensação de seu valor com o dos frutos ou danos considerados devidos pelo
executado, cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos valores, nomear
perito, fixando-lhe breve prazo para entrega do laudo. (Incluído pela Lei nº 11.382,
de 2006).
§ 2º O exeqüente poderá, a qualquer tempo, ser imitido na posse da coisa,
prestando caução ou depositando o valor devido pelas benfeitorias ou resultante da
compensação. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”
Casos Concretos
Questão 1
Luciana Barros moveu ação de execução por título extrajudicial em face de José
Peixoto e sua esposa, por falta de pagamento dos alugueres referentes ao imóvel X, sito na
rua Y, nº 8, Centro, nesta cidade. O feito foi distribuído para a 4ª Vara Cível da Capital. Os
locatários executados argüiram, sob a forma de exceção de pré-executividade, a nulidade
do título que embasa a execução por carecer de liquidez e certeza, tendo em vista que a
locação foi prorrogada por tempo indeterminado após expirado o prazo contratual
estabelecido por sentença, e a locadora foi notificada pelo executado acerca da rescisão
do contrato para que recebesse as chaves do imóvel no prazo de 30 dias, prazo este
esgotado e entrega de chaves recusada. Pleitearam também os executados, o
reconhecimento de conexão, pois há em curso, na 2ª Vara Cível da Capital, ação de
consignação em pagamento por recusa injustificada de recebimento dos alugueres do
mesmo imóvel, em face da exeqüente, onde inclusive esta, devidamente citada, recebeu as
chaves. Pediram assim, a reunião dos processos. A autora respondeu impugnando a
reunião dos processos, sustentando decorrer a ação consignatória de um equívoco e que as
partes são diversas, visto que a consignatória teve como autora a sociedade pertencente
aos executados, Marcel Cozinhas LTDA.
1) Sendo você o juiz da 4ª Vara Cível, profira decisão sobre a conexão entre
processo de execução e de conhecimento, fundamentando.
2) Cabível na espécie a exceção de pré-executividade?
Resposta à Questão 1
1) A reunião dos processos, aqui, é desnecessária, eis que a execução não tem
julgamento, propriamente dito, e este é o escopo da reunião de processos, em
regra. Obstar uma ação até que a outra seja julgada, por relação de
prejudicialidade que se perceba, é possível; o que não é necessário é o
julgamento conjunto, a reunião. Há, portanto, conexão por prejudicialidade, e há
suspensão, mas não há reunião ou julgamento conjunto.
admissível à regra geral. Esta alegação de iliquidez como defesa, portanto, não
só é improcedente, como não é matéria de exceção de pré-executividade.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema XI
Procedimento comum entre a execução fundada em título executivo judicial e extrajudicial. Penhora e
avaliação. Conceito de penhora. Efeitos processuais e materiais. Modificação da penhora: repetição,
ampliação, redução e substituição da penhora. Objeto da penhora. Bens penhoráveis e bens impenhoráveis.
Avaliação: momento e possibilidade de repetição.
Notas de Aula17
1. Penhora
17
Aula ministrada pelo professor Wilson Marques, em 9/9/2009.
Vige aqui o brocardo prius in tempore potior in jure, significando que aquele que
primeiro obtém a penhora tem preferência no pagamento de seu crédito diante daqueles
outros credores que penhoraram o mesmo bem, mas mais tarde. Na insolvência, diga-se,
vigora princípio oposto: o pars conditio creditorum, segundo o qual todos os credores
recebem frações iguais do crédito em execução, na proporção de seus créditos. Este tema
será alvo de estudo dedicado, adiante.
A preempção criada para o exequente pela penhora não afasta, porém, as demais
garantias e privilégios que recaiam sobre o bem penhorado. Estes terão respeitada a sua
garantia, somente após a qual a penhora incidirá.
Antes da reforma, como visto, era o devedor quem tinha o direito de nomear bens
de seu patrimônio para a satisfação do crédito exequendo. Hoje, este direito assiste primeiro
ao credor, e somente após ao devedor (e por fim ao oficial de justiça, quando não houver
indicação de nenhuma das partes).
O artigo 653 do CPC trazia uma espécie de pré-penhora, o arresto, já abordado.
Reveja:
Com a reforma, em que a penhora passou a ser realizada logo no início, no mesmo
momento em que este dispositivo permitia a realização deste arresto, parece que o
dispositivo supra perdeu a sua razão de ser, a não ser que se imagine situação em que o
oficial de justiça arreste cautelarmente desde logo os bens, na citação, e somente após o
prazo de três dias para pagamento se converta este arresto cautelar em penhora – o que é
pouco prático, diga-se. O dispositivo não foi revogado, é fato, mas sua utilidade é quase
nenhuma.
A ordem legal de preferências também sofreu alterações, como se vê no artigo 655
do CPC:
O primeiro lugar ainda é o mesmo, o dinheiro, que é o bem mais líquido que se
pode conceber. Contudo, antes da reforma, falava-se apenas no dinheiro em espécie, e não
nas aplicações financeiras, como hoje consta, o que gera um problema intrincado: o
dinheiro, bem fungível que é, quando depositado, consiste em um contrato de depósito
irregular, depósito de coisa fungível. Este depósito se regula pelo mútuo, e neste contrato,
o CC estabelece que o mutuante transfere ao mutuário o domínio e a propriedade do bem
emprestado. Veja os artigos 645 e 587 do CC:
Assim, quando o CPC alude ao dinheiro que esteja aplicado, está criando uma outra
hipótese em que a execução recairá sobre bem de terceiro, porque o bem que está
depositado na instituição financeira, enquanto lá estiver, pertence a ela, e não ao
depositante. Por isso, tecnicamente, o que se penhora, quando se busca o dinheiro aplicado,
é o crédito que o devedor possui perante a instituição financeira mutuária. A súmula 328 do
STJ trata bem do tema, deixando claro que todo o numerário que estiver em poder do
banco, por conta do desenho legal do depósito, pertence mesmo ao banco:
“Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem
autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam
integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem
ou estabelecerem economia separada.”
Por intermédio do Banco Central, o juiz da causa requisita informações sobre bens
do executado, que lhe chegarão ao conhecimento pela via do convênio chamado Bacen Jud,
que é o meio de envio dos dados ao juízo, e subsequente bloqueio, pelas mãos deste
magistrado, dos valores depositados.
O inconveniente maior desta medida é que todos os depósitos do devedor ficam
inicialmente bloqueados, e, mesmo que depois a penhora venha a se concentrar em apenas
um, a indisponibilidade do excesso é um tremendo problema para o executado. E mais:
pode recair, o bloqueio, sobre bens impenhoráveis, como a remuneração alimentar do
executado, o que é verdadeiro absurdo.
“Art. 656. A parte poderá requerer a substituição da penhora: (Redação dada pela
Lei nº 11.382, de 2006).
I - se não obedecer à ordem legal; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
II - se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o
pagamento; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
III - se, havendo bens no foro da execução, outros houverem sido penhorados;
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
IV - se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já penhorados ou
objeto de gravame; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
V - se incidir sobre bens de baixa liquidez; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de
2006).
VI - se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou (Redação dada pela
Lei nº 11.382, de 2006).
VII - se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a
que se referem os incisos I a IV do parágrafo único do art. 668 desta Lei. (Incluído
pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 1º É dever do executado (art. 600), no prazo fixado pelo juiz, indicar onde se
encontram os bens sujeitos à execução, exibir a prova de sua propriedade e, se for
o caso, certidão negativa de ônus, bem como abster-se de qualquer atitude que
dificulte ou embarace a realização da penhora (art. 14, parágrafo único). (Incluído
pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 2º A penhora pode ser substituída por fiança bancária ou seguro garantia judicial,
em valor não inferior ao do débito constante da inicial, mais 30% (trinta por cento).
(Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 3º O executado somente poderá oferecer bem imóvel em substituição caso o
requeira com a expressa anuência do cônjuge. (Incluído pela Lei nº 11.382, de
2006).”
O remanejamento destes bens, no CPC, foi bastante proficiente. Veja os artigos 649
e 650 do CPC, com as redações antigas e as alteradas:
“Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos
dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Questão 4
Resposta à Questão 4
A prisão do depositário não mais tem amparo, mesmo que a CRFB assim
permitisse, outrora, pelo que até mesmo sem ação própria era possível esta prisão, como
dizia a súmula 619 do STF:
“Súmula 619, STF: A prisão do depositário judicial pode ser decretada no próprio
processo em que se constituiu o encargo, independentemente da propositura de
ação de depósito.”
Ocorre que, após a adesão do Brasil ao Pacto de São José da Costa Rica, que diz
que não é permitida qualquer prisão por dívida, salvo a de alimentos, o STF debateu
diversas vezes a matéria, culminando na posição final de que não mais é tolerável esta
prisão. Veja a ementa do emblemático HC 87.585, do STF:
Em verdade, surgem hoje duas correntes sobre o tema, no STF: a primeira, reputa o
tratado como norma supralegal – superior à lei ordinária sobre o tema, mas inferior à
CRFB (corrente que prevaleceu); a segunda, que tem status constitucional. Seja pela
primeira, seja pela segunda corrente, a prisão do depositário infiel é hoje inviável: pela
prevalente, é inviável porque a CRFB autoriza, mas as normas infraconstitucionais não
mais regulamentam em que hipóteses, e o pacto, hoje vigente, só permite na prisão por
alimentos.
Tema XII
Procedimento comum entre a execução fundada em título executivo judicial e extrajudicial. A expropriação
segundo o CPC: adjudicação, alienação por iniciativa particular, alienação em hasta pública e usufruto de
móvel ou imóvel. Possibilidade de alienação por meio eletrônico. Procedimento para cada uma dessas
espécies.
Notas de Aula18
Existem outros casos em que não haverá avaliação, por questão de lógica: a penhora
de dinheiro é a mais clara hipótese.
O momento da avaliação, agora, é concomitante à penhora: o oficial de justiça é
também avaliador. Surtirá um só auto, de penhora e avaliação.
1.1. Adjudicação
Não pode haver adjudicação por preço inferior ao da avaliação, como se vê.
Como se disse, não mais podem remir o bem o cônjuge, os ascentendes e os
descendentes. Contudo, podem requerer adjudicação, o que faz com que o efeito prático
seja o mesmo.
A legitimação para adjudicar está no caput e no § 2° do artigo supra, mas há que se
perceber uma extensão de legitimação especial no § 4°: a sociedade e os demais sócios
podem pedir adjudicação de cotas de outro sócio que estão penhoradas, preferindo a
terceiros, evitando a entrada de estranhos no quadro social.
Deferida a adjudicação, se houver perfeita coincidência numérica entre o valor do
crédito e o do bem adjudicado, a execução se extingue sem percalços. Se o preço do bem
adjudicado for inferior ou superior ao crédito exequendo, outrossim, há que se solucionar a
diferença: se o bem adjudicado for de valor maior, é preciso que o exequente deposite em
favor do credor o valor que recebeu em excedente; se for menor, a execução prosseguirá
pelo valor faltante.
Pode acontecer, entretanto, de o valor do crédito ser idêntico ou superior ao valor do
bem adjudicado, e ainda assim ser preciso o depósito do valor integral do bem adjudicado
para obter o bem. Assim ocorre quando houver, por exemplo, credores com privilégios reais
sobre o bem. Note que, nesta situação, a adjudicação não representará pagamento, porque o
credor adjudicante simplesmente adquiriu o bem, pagando por ele, ainda persistindo credor
do executado. Quem levantará o depósito são os credores com privilégio, e não o devedor,
por óbvio; restando valor depositado após a satisfação destes credores privilegiados, o
credor que adjudicou o bem prosseguirá na execução, levantando seu próprio depósito
restante, e ainda perseguindo eventual diferença, se houver.
Questão que fraciona a doutrina é quanto à legitimação para adjudicar pelo credor
com garantia real. De um lado – por todos, Humberto Theodoro Júnior –, defende a
doutrina que este credor receberá seu crédito no momento da entrega do produto,
independentemente da propositura de ação hipotecária própria (por exemplo). O seu direito
ao levantamento do produto, fruto de qualquer que seja o método de pagamento, decorre do
próprio direito real que lhe assiste, bastando a exibição da prova de seu privilégio. É
corrente problemática, porque permite que haja o recebimento, por este credor, à revelia de
um crivo processual que permita contraditar seu título de privilégio (um contrato de penhor
falso, por exemplo).
Do outro lado, Frederico Marques entende que o credor privilegiado precisará
propor ação própria de execução, penhorando o mesmo bem garantidor, que alhures é
adjudicado, para pretender levantar o valor com a devida preferência. Assim o é porque
nesta dinâmica, ele estará submetendo o seu título de privilégio ao contraditório, para fixar-
se em um título executivo judicial, ao final. Do contrário, a chance de fraude é severa.
A arrematação não é uma compra e venda. Não é correto se falar em venda em hasta
pública judicial, porque para haver compra e venda, que é contrato, é imperativo o
consenso, o que passa longe daqui, vez que estamos em sede de expropriação forçada do
bem. Esta diferenciação, muito correta, só foi feita em 1855, na obra de Paula Batista, em
seu compêndio de processo civil, porque até então se entendia que havia consenso entre
executado e adquirente, sendo que o executado era apenas representado pelo juiz – o que
definiria a operação como compra e venda.
Hoje, então, não se fala mais em venda em hasta pública judicial: a arrematação é
ato executório de excussão forçada. Há dois atos unilaterais: um, do juiz, expropriando o
bem; outro, do adquirente, manifestando interesse em pagar o preço – o que não significa
que surja um último ato bilateral, muito menos consensual.
que julgou os embargos, e não àquela interposta contra a sentença exequenda, porque
simplesmente não existia possibilidade de se levar bens à hasta pública em execução
provisória: nesta, o ponto em que se parava o procedimento era justamente este, da
arrematação. Em 2002, com a Lei 10.444, o artigo 588, II, do CPC (cuja previsão resta
consubstanciada no artigo 475-O, III, do CPC, hoje), passou a admitir a arrematação em
hasta pública na execução provisória, na qual podem ser levados a cabo todos os atos de
excussão, com a só diferença de que o levantamento dos valores depende de caução.
“Art. 588. A execução provisória da sentença far-se-á do mesmo modo que a
definitiva, observadas as seguintes normas: (Redação dada pela Lei nº 10.444, de
7.5.2002) (Revogado pela Lei nº 11.232, de 2005)
(...)
II - o levantamento de depósito em dinheiro, e a prática de atos que importem
alienação de domínio ou dos quais possa resultar grave dano ao executado,
dependem de caução idônea, requerida e prestada nos próprios autos da execução;
(Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002) (Revogado pela Lei nº 11.232, de
2005)
(...)”
O recurso a que se refere o artigo 686, V, do CPC, então, pode ser tanto o da
sentença que julga os embargos do devedor quanto o da sentença exequenda.
Ainda quanto a esta fase, a intimação do executado, um dos que devem ser avisados
especialmente da arrematação, devia ser pessoal. Sem tal aviso pessoal, não se poderia
realizar a arrematação, sob pena de nulidade. A reforma alterou esta circunstância, fazendo
com que a intimação seja devida apenas na pessoa do advogado do executado, a fim de
evitar burla ao procedimento pelo executado que se furtava à intimação. Se o executado não
tiver advogado nos autos, somente então, deverá ser intimado pessoalmente, pois deve ser-
lhe facultado remir a execução.
Não encontrado o devedor, por estar em local incerto, a jurisprudência permite a
intimação por edital, mesmo já tendo havido o edital para ciência geral – que parece um
descompasso, eis que se já houve edital, não faz sentido uma nova comunicação idêntica.
A ausência de intimação do devedor é causa de nulidade absoluta da arrematação.
Além do devedor, o artigo 698 do CPC – que se aplica a todas as modalidades de
alienação judicial – impõe a intimação também de outras pessoas, diretamente relacionadas
àquele bem:
“Art. 619. A alienação de bem aforado ou gravado por penhor, hipoteca, anticrese
ou usufruto será ineficaz em relação ao senhorio direto, ou ao credor pignoratício,
hipotecário, anticrético, ou usufrutuário, que não houver sido intimado.”
Sendo ineficaz, é válida para o adquirente, mas é ineficaz perante os não intimados:
mantêm sua condição de credores especiais. No entanto, o artigo 694 do CPC dispõe de
forma bem diferente, ao remeter ao artigo 698 supra no seu § 1°, VI:
“Art. 694. Assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo serventuário da
justiça ou leiloeiro, a arrematação considerar-se-á perfeita, acabada e irretratável,
ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do executado. (Redação
dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 1° A arrematação poderá, no entanto, ser tornada sem efeito: (Renumerado com
alteração do paragrafo único, pela Lei nº 11.382, de 2006).
I - por vício de nulidade; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
II - se não for pago o preço ou se não for prestada a caução; (Redação dada pela
Lei nº 11.382, de 2006).
III - quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a existência de
ônus real ou de gravame (art. 686, inciso V) não mencionado no edital; (Redação
dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
IV - a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à arrematação (art.
746, §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
V - quando realizada por preço vil (art. 692); (Incluído pela Lei nº 11.382, de
2006).
VI - nos casos previstos neste Código (art. 698). (Incluído pela Lei nº 11.382, de
2006).
§ 2° No caso de procedência dos embargos, o executado terá direito a haver do
exeqüente o valor por este recebido como produto da arrematação; caso inferior ao
valor do bem, haverá do exeqüente também a diferença. (Incluído pela Lei nº
11.382, de 2006).”
Ser tornada sem efeito, aqui, será desfeita, ou seja, nulificada. Há, portanto, uma
antinomia entre as normas: uma diz que é ineficaz; outra, que é nula. Assim se soluciona:
aqueles não intimados podem requerer a realização de nova hasta pública, fazendo
prevalecer o artigo 694 do CPC, ou podem preferir que não se anule, mantendo-se a hasta
feita, mas exercendo seu direito correspondente, ante a ineficácia – prevalecendo, então, o
artigo 619 do CPC (se a arrematação foi feita por bom preço, por exemplo). A opção
favorece ao credor não intimado, sendo deixada a seu critério.
1.3.2. Licitação
si – será o licitante vencedor. Será praça, se bem imóvel, e leilão, se móvel, distinção de
nomenclatura que não faz qualquer sentido.
Na primeira praça ou leilão se apurará valor igual ou superior ao da avaliação. Não
havendo oferta que alcance esta pretensão, será procedida segunda praça ou leilão, que se
contentará com proposta inferior ao valor de avaliação do bem – desde que não seja preço
vil.
Terminada a licitação, o licitante vencedor obterá o auto de arrematação – terceira
etapa da arrematação – considerando-se realizada, de então, a excussão do bem.
O pagamento do preço pelo arrematante pode ser de forma imediata, assim que
declarado vencedor seu lanço, ou em prazo de quinze dias, desde que preste caução. Veja o
artigo 690 do CPC:
“Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a
propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a
taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de
melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste
do título a prova de sua quitação.
Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre
sobre o respectivo preço.”
A regra é que quem responde são os adquirentes, em negócios jurídicos usuais, mas
na hasta pública a situação é diferente: a subrogação do valor incide sobre o preço, e não na
pessoa do adquirente: é do preço pago que será descontado o valor dos tributos, ou seja,
quem, suporta, efetivamente, o peso dos tributos é o alienante.
Normalmente, podem arrematar bens em hasta pública aqueles que estejam em
plena administração de seus bens, sem qualquer restrição – inclusive o próprio exequente,
que pode preferir arrematar do que adjudicar, esperançoso em obter preço menor. Contudo,
há pessoas que são proibidas de arrematar, como dispõe o artigo 690-A do CPC:
“Art. 690-A. É admitido a lançar todo aquele que estiver na livre administração de
seus bens, com exceção: (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
“Art. 693. A arrematação constará de auto, que será lavrado 24 (vinte e quatro)
horas depois de realizada a praça ou o leilão.”
“Art. 693. A arrematação constará de auto que será lavrado de imediato, nele
mencionadas as condições pelas quais foi alienado o bem. (Redação dada pela Lei
nº 11.382, de 2006).
Parágrafo único. A ordem de entrega do bem móvel ou a carta de arrematação do
bem imóvel será expedida depois de efetuado o depósito ou prestadas as garantias
pelo arrematante. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”
O artigo 619-A do CPC permite a realização da hasta pública por meio eletrônico,
pela internet. Veja:
“Art. 689-A. O procedimento previsto nos arts. 686 a 689 poderá ser substituído, a
requerimento do exeqüente, por alienação realizada por meio da rede mundial de
computadores, com uso de páginas virtuais criadas pelos Tribunais ou por
entidades públicas ou privadas em convênio com eles firmado. (Incluído pela Lei
nº 11.382, de 2006).
Parágrafo único. O Conselho da Justiça Federal e os Tribunais de Justiça, no
âmbito das suas respectivas competências, regulamentarão esta modalidade de
alienação, atendendo aos requisitos de ampla publicidade, autenticidade e
segurança, com observância das regras estabelecidas na legislação sobre
certificação digital. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”
Ainda não se vê aplicação prática desta forma de execução, mas tudo caminha para
que seja o método usual no futuro. Os atos de alienação serão todos feitos de forma
eletrônica, mas com o mesmo conteúdo.
O usufruto não pode ser concedido ex officio: deve ser requerido pelo exequente.
Requerido, abrirá o juiz para contraditório pelo executado, que pode não desejar esta forma
de execução.
“Art. 717. Decretado o usufruto, perde o executado o gozo do móvel ou imóvel,
até que o exeqüente seja pago do principal, juros, custas e honorários advocatícios.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).”
“Art. 719. Na sentença, o juiz nomeará administrador que será investido de todos
os poderes que concernem ao usufrutuário.
“Art. 722. Ouvido o executado, o juiz nomeará perito para avaliar os frutos e
rendimentos do bem e calcular o tempo necessário para o pagamento da dívida.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 1° Após a manifestação das partes sobre o laudo, proferirá o juiz decisão; caso
deferido o usufruto de imóvel, ordenará a expedição de carta para averbação no
respectivo registro. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 2° Constarão da carta a identificação do imóvel e cópias do laudo e da decisão.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
A questão impõe a exegese do que seja preço vil, conceito jurídico indeterminado.
Há um claro subjetivismo, mas a jurisprudência tem definido que é vil aquele preço inferior
a sessenta por cento do valor de avaliação, havendo quem decida ser vil apenas aquele
preço inferior a cinquenta, ou, no mínimo, quarenta por cento. Uma boa média para não ser
vil é superar cinquenta por cento.
No caso, o preço é claramente vil: trinta por cento do valor de avaliação é muito
pouco. Na jurisprudência, não se encontra admissão de valores inferiores a quarenta por
cento do valor avaliado. Está correto o executado, e por isso a alienação deve ser
invalidada, na forma do artigo 692 do CPC:
“Art. 692. Não será aceito lanço que, em segunda praça ou leilão, ofereça preço
vil. (Redação dada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)
Parágrafo único. Será suspensa a arrematação logo que o produto da alienação dos
bens bastar para o pagamento do credor. (Incluído pela Lei nº 8.953, de
13.12.1994).”
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema XIII
Procedimento comum entre a execução fundada em título executivo judicial e extrajudicial. A suspensão e a
extinção do processo de execução autônomo ou da fase executiva.
Notas de Aula19
Com a sua suspensão, a execução não deixa de existir, e não deixa de produzir
efeitos: apenas deixa de caminhar aos atos subseqüentes àquele momento em que se
suspendeu. Cessada a causa da suspensão, o processo retomará o percurso exatamente de
onde estava.
A causa da suspensão do processo, entretanto, pode eventualmente se converter em
uma causa de extinção. Imagine-se, por exemplo, a suspensão provocada pela oposição de
embargos do devedor com este efeito suspensivo. Processados os embargos, a sentença que
os julgar procedentes – reconhece o pagamento, por exemplo – terá o condão de extinguir a
execução, por óbvio, não havendo qualquer lógica em ser retomada a execução.
Na hipótese em que os embargos são julgados procedentes, a própria sentença dos
embargos automaticamente extinguirá a execução, ou será necessária outra sentença, na
própria execução, extinguindo-a, eis que os embargos têm natureza de ação autônoma
incidental à execução? Alguns autores entendem que a própria sentença dos embargos
extinguem a execução, quando sentença de procedência, porque é a consequencia lógica e
automática desta decisão. Entretanto, a corrente mais formalista, e que prevalece, entende
que é preciso que haja uma sentença dedicada à extinção da execução, nos autos desta,
apartada da sentença dos embargos – afinal, são ações distintas.
Há duas formas de suspensão da execução, a necessária e a voluntária. A suspensão
necessária, ou ex lege, se dá quando a lei estabelece-a como obrigatória. Quando a lei não
impuser a suspensão, mas o juiz achar por bem operá-la, trata-se de suspensão voluntária.
A exceção de incompetência, suspeição ou impedimento, por exemplo, é causa de
suspensão ex lege, na forma do artigo 306 do CPC:
“Art. 306. Recebida a exceção, o processo ficará suspenso (art. 265, III), até que
seja definitivamente julgada.”
19
Aula ministrada pelo professor Wilson Marques, em 10/9/2009.
O inciso I do artigo supra é bem literal, assim como o III é bem lógico; o inciso II,
remete ao artigo 265, I a III, que segue transcrito:
Esta suspensão convencionada não pode protrair-se por mais de seis meses, como
diz o artigo 265, § 3°, supra, no processo de conhecimento. Na execução, não há este limite
temporal, como se vê no artigo 792, supra. Muito lógica esta ausência de limite, pois assim
não se impede que o credor conceda prazo maior ao devedor para cumprir a obrigação, no
ajuste que fizerem.
Nada impede que as partes convencionem, transacionem, para extinguir a execução,
e não para suspendê-la. Podem, peticionando ao juízo conjuntamente, informar do acordo
extrajudicial que pactuaram, culminando na extinção, e não na suspensão. É claro que, se o
acordo envolver concessão de parcelamento, prazo, ou qualquer outra medida que torne
“Súmula 234, TFR: Medida Cautelar em Ação Rescisória para Obstar os Efeitos da
Coisa Julgada – Cabimento.
‘Não cabe medida cautelar em ação rescisória para obstar os efeitos da coisa
julgada.’”
O artigo 489 do CPC agora diz, expressamente, que a ação rescisória não suspende
a execução da sentença, trazendo como meio de obter esta suspensão justamente a cautelar
incidental, sem a qual pode acontecer de a ação rescisória tornar-se inútil, ao final – pondo
fim a esta discussão, por força legal. Veja:
inclusive, o credor renunciar ao crédito, simplesmente – o que termina a execução por falta
de objeto.
Há razões anômalas que podem extinguir a execução, como a pura desistência por
parte do exequente. E esta desistência, ao contrário da que se passa no processo de
conhecimento, é unilateral, não dependendo da anuência do executado citado.
A prescrição da dívida originária do crédito não extingue a execução. A prescrição é
a perda do direito subjetivo de exigir o cumprimento de determinado dever jurídico pela
outra parte, perda que decorre da inércia em determinado prazo – diferente da decadência,
que é o poder de simplesmente sujeitar a parte contrária a determinada situação, sem que
seja necessária a exigência do cumprimento de qualquer dever – não há dever, há simples
sujeição. A prescrição, portanto, impede a pretensão de haver o cumprimento do dever, e
por isso não extingue a execução, eis que o direito material, o crédito exequendo, ainda
persiste, forte, nada impedindo o curso da execução.
A extinção da execução é feita por sentença, na forma do artigo 795 do CPC:
A natureza jurídica deste ato, se é uma sentença ou não, é também discutida, porque
o conceito de sentença não se amolda a este ato: não há lide alguma sendo resolvida.
Contudo, a lei mantém este nomen a este ato judicial, e é difícil conceituar este ato a
qualquer moldura legal, qualquer classificação legal dos atos judiciais. De qualquer forma,
é o ato que encerra a execução.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Tício ingressa em juízo com execução por quantia certa contra devedor solvente em
face de Caio. No decorrer do processo, os dois ingressam com petição conjunta requerendo
a suspensão da execução diante da possibilidade de acordo para o pagamento da dívida.
Deve ser deferida a suspensão?
Resposta à Questão 2
Tema XIV
Procedimento especial de execução por quantia certa: em face da Fazenda Pública. Legitimidade ativa e
passiva. Título executivo. Honorários (art. 1º-D, Lei nº 9.494/97). Honorários devidos em execuções não
embargadas. Precatórios e Requisições de Pequeno Valor. Art. 730 do CPC. Artigo 100 da CF/88.
Parcelamento de Precatórios (art. 78, ADCT). Questões controvertidas. Jurisprudência. Doutrina. O novo
art. 741, alterado pela Lei 11.232/2005. Aplicabilidade ou não do procedimento estatuído no art. 475-J.
Notas de Aula20
Este procedimento, regulado no CPC nos artigos 730 e 731, pressupõe a ocupação
do pólo passivo da execução pela Fazenda Pública, e que haja um título judicial ou
extrajudicial continente de obrigação de pagar. Se o título representar obrigação de fazer,
não fazer ou entregar coisa, a execução da Fazenda será idêntica à do particular, não
havendo qualquer especificidade a ser seguida. Veja os artigos do CPC:
“Art. 730. Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a
devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo
legal, observar-se-ão as seguintes regras: (Vide Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal
competente;
II - far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do
respectivo crédito.”
“Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o
art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados
de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras
pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição
Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que
20
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 11/9/2009.
Este posicionamento é mais do que superado, havendo até mesmo a súmula 279 do
STJ a permitir a execução de título executivo extrajudicial contra a Fazenda:
“Súmula 279, STJ: É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda
Pública.”
Humberto Theodoro Júnior propõe que quando a execução for por título
extrajudicial, e não forem oferecidos embargos pela Fazenda, o juiz deve proferir sentença
incidental somente com a finalidade de requisitar o precatório, atendendo ao artigo 100 da
CRFB. Para ele, então, é possível a execução de título executivo da fazenda, mas o rito dos
precatórios necessariamente será acessado apenas pela previsão do crédito em sentença. Em
que pese haver até mesmo um julgado do STF neste sentido, a praxe é a requisição direta
do precatório pelo juízo, sem proferir sentença incidental alguma.
“Art. 2º-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão em
folha de pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento ou
extensão de vantagens a servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, inclusive de suas autarquias e fundações, somente poderá ser
executada após seu trânsito em julgado. (NR) (Incluído pela Medida provisória nº
2.180-35, de 2001)”
“Art. 1º-D. Não serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções não embargadas. (NR) (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de
2001)”
“Súmula 345, STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não
embargadas.”
O fundamento para esta exceção é que a execução, aqui, é conduzida por advogado
distinto, porque não é o litigante na ação civil pública quem conduzirá a execução
individual, e sim o patrono do credor particularizado – fazendo jus aos honorários, portanto.
Citada a Fazenda, esta pode simplesmente ficar silente, ou embargar. Mas pode
também ofertar proposta de pagamento, anuindo na execução sofrida, mas o pagamento
oriundo desta proposta não escapará do rito dos precatórios ou das RPVs. Esta proposta de
pagamento não suspende ou interrompe o prazo dos embargos.
Pode a Fazenda embargar total ou parcialmente, opondo-se contra a totalidade ou
apenas parte do valor executado. Opondo-se parcialmente, reconhece a parte não
embargada como incontroversa; sendo o caso, diga-se, o valor da causa nos embargos é
somente referente à parte embargada, e o valor incontroverso pode desde logo ser
requisitado.
Repare que pode surgir uma dúvida, na requisição do valor parcialmente
reconhecido: se a execução for de grande valor, mas a parcela incontroversa for de pequeno
valor, requisitar-se-á esta por RPV, ou seguirá como parâmetro o valor integral, sendo
necessária a requisição de precatório?
O artigo 100, § 4°, da CRFB, há pouco transcrito, veda o fracionamento de
precatórios. Sendo assim, mesmo que a parcela incontroversa seja de menor valor, a dívida
deve ser considerada na sua integralidade para fins de definição do modo de requisição, e
por isso será necessária a via do precatório, mesmo se a parcela incontroversa que for ser
requisitada seja digna de RPV. Trata-se da vigência do princípio da unidade dos
precatórios, que apregoa esta impossibilidade de fracionamento jurídico do precatório.
Tendo sido requisitado o precatório do valor incontroverso, se ao final o restante se
demonstrar devido, será feita uma retificação no mesmo precatório já requisitado, a fim de
ali incluir o valor restante. Se os embargos, outrossim, forem acolhidos, o juiz deverá
proceder da seguinte forma: será necessária a solicitação do cancelamento do precatório
requisitado, porque a parte incontroversa se demonstrou a única devida, e portanto é este o
valor global a ser pago; como é de pequeno valor, no exemplo, deverá ser requisitado RPV,
e não precatório. Veja que se o valor incontroverso requisitado já fosse grande, devido por
precatório, nada aconteceria: permaneceria vigente o precatório do valor incontroverso.
Há uma ressalva quando houver litisconsórcio ativo na execução contra a Fazenda:
o valor da causa será o total dos pedidos cumulados, mas a requisição, a qualquer tempo,
será analisada por litisconsorte, e não globalmente: a cada credor, será requisitado o
cabimento de RPV ou precatório. Vale dizer que incluem-se aí os advogados, como
credores litisconsortes na execução, pelos seus honorários.
O levantamento dos valores, a obtenção do alvará, pode ou não implicar
recolhimento de imposto de renda: dependerá da natureza do valor devido, que está sendo
levantado. Se for verba indenizatória, por exemplo, não há tributação pelo IR.
O prazo para a Fazenda embargar é de trinta dias, na forma do artigo 1°-B da Lei
9.494/97, mesmo que o artigo 730 do CPC fale em dez dias, como se vê.
“Art. 1°-B. O prazo a que se refere o caput dos arts. 730 do Código de Processo
Civil, e 884 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no
5.452, de 1o de maio de 1943, passa a ser de trinta dias" (NR) (Incluído pela
Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)”
Na justiça comum este prazo de trinta dias tem prevalecido. Contudo, esta alteração
está em discussão no STF, e há decisão liminar sobrestando todos os processos de execução
em que esta norma supra está sendo aplicada. Na justiça laboral, diga-se, esta norma é
inconstitucional, e tem prevalecido a antiga redação do artigo 884 da CLT, que prevê cinco
dias para os embargos:
A matéria ventilável nos embargos está no artigo 741 do CPC, já transcrito, que foi
alterado para comportar a matéria alegável pela Fazenda em execução de título judicial,
enquanto os fundamentos para discussão de execução de título extrajudicial vêm no artigo
745 do CPC, também já visto.
A Fazenda Pública pode opor exceções, inclusive a de pré-executividade (apesar de
esta não ter utilidade, porque podem os embargos tratar de tudo que ali é dedutível).
Se ajuizados embargos, e forem estes julgados improcedentes, a apelação da
Fazenda não terá efeito suspensivo, mas o trânsito em julgado deve ser alcançado, a fim de
que haja a requisição correspondente.
A improcedência dos embargos não desperta reexame necessário, porque este
reexame só cabe quando a Fazenda é condenada a pagar valor acima de sessenta salários-
mínimos, na forma do artigo 475 do CPC, e a sentença de improcedência dos embargos é
declaratória, e não condenatória.
“Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: (Redação dada pela Lei nº 10.352,
de 26.12.2001)
I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as
respectivas autarquias e fundações de direito público; (Redação dada pela Lei nº
10.352, de 26.12.2001)
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida
ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI). (Redação dada pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001)
§ 1° Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao
tribunal, haja ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do tribunal
avocá-los. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
“Súmula 733, STF: Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no
processamento de precatórios.”
Descabe recurso, mas cabe mandado de segurança, para o próprio tribunal, se for o
caso.
Seguindo-se ao atendimento da requisição pelo presidente do tribunal, ela é
encaminhada à Fazenda devedora. Se a requisição for feita até primeiro de julho, deve ser
feito o pagamento até o fim do mesmo exercício; se após julho, o pagamento pode ser feito
até o último dia do exercício seguinte. Mas veja que surge uma questão: a definição do
exercício é feita pela requisição do juiz ao presidente, ou do presidente à Fazenda
devedora?
O CJF entende que a requisição que deve ser feita até julho para definir se o
pagamento é devido no mesmo exercício é a que o juiz faz ao presidente do tribunal,
porque não há como se controlar a chegada da requisição do presidente à Fazenda
devedora.
1.4.1. Preterição
O STF, por seu turno, nega que haja caráter jurisdicional neste sequestro, reputando-
o providência administrativa, porque o que se pretende, ali, é a imediata liberação do valor
que foi preterido, e não a devolução do que foi pago a quem era também credor.
Se simplesmente não há qualquer pagamento de verbas condenatórias pela Fazenda,
não ocorre preterição, e sim o puro descumprimento de decisão judicial, ao que o artigo 34,
VI, da CRFB, sede dos princípios constitucionais sensíveis, comina possibilidade de
intervenção:
“Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
(...)
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
(...)”
A RPV pode ter lugar em qualquer juízo, uma vez que o parâmetro para definir se é
esta a via é somente o valor.
No Juizado Especial Federal, há uma particularidade excepcionalíssima: ali, o rito é
sincrético, ou seja, transitada em julgado a sentença a requisição do RPV é imediata, nem
se falando no rito do artigo 730 do CPC. Veja o artigo 17 da Lei 10.259/01:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Poderá o credor da Fazenda Pública que contra ela possuir um título judicial e
dois títulos extrajudiciais, todos eles traduzindo obrigações certas, líquidas e exigíveis,
cumular todas as execuções numa única ação e num único processo?
Resposta à Questão 2
Tema XV
Procedimento especial de execução por quantia certa: promoção pela Fazenda Pública. Execução Fiscal
(Lei nº 6.830/80). Possibilidade de a Fazenda Pública promover execução com fundamento no art. 475-J:
hipóteses já admitidas pela jurisprudência - execução de honorários advocatícios em juízo comum e em
Juizado Especial (Leis nº 9.099/95 e 10.259/01).
Notas de Aula22
1. Execução fiscal
A Lei 6.830/80 é o diploma que regula a execução fiscal para recebimento, pela
Fazenda, de suas dívidas ativas tributárias e não tributárias.
Nem sempre, diga-se, a Fazenda se vale da execução fiscal para obter a satisfação
de seus créditos. Por exemplo, a Fazenda se utilizará eventualmente do procedimento de
cumprimento de sentença, do já visto artigo 475-J do CPC, como quando a Fazenda tem
verba honorária a receber do particular perdedor em determinada lide, por exemplo. Em
regra, contudo, o procedimento é a execução fiscal, via LEF.
A certidão da dívida ativa é o título executivo extrajudicial. Em regra, este título
vem em conjunto com a própria petição inicial, como dispõe o artigo 6º, § 2°, da LEF:
1.1. Legitimidade
“Súmula 66, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal
promovida por conselho de fiscalização profissional.”
Quando o exequente for conselho regional, ainda se justifica a competência federal?
A jurisprudência tem entendido que não, majoritariamente, entendendo que neste caso é
22
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 11/9/2009.
estadual. A súmula supra, porém, em sua lógica, não diferencia, estabelecendo que a
competência é sempre federal, dando ensejo a divergências sobre este aspecto.
1.2. Intervenção do MP
Chegando a inicial ao juiz, pode esta ser indeferida, pois como qualquer inicial, é
feito juízo de sua admissibilidade. Na esfera federal, em relação à União, a dívida tributária
de até dez mil reais deve ser inscrita na dívida ativa, mas a sua execução será facultativa
(para o INSS, este valor é de dois mil e quinhentos reais). Se uma execução de valor abaixo
deste limite for ajuizada, o juiz não poderá entender que falta interesse de agir nesta ação. O
STF, contudo, vinha entendendo que estas execuções careciam de interesse, mas sua
jurisprudência assim se orientava quando o patamar era de apenas mil reais, e, sendo hoje a
facultatividade até dez mil reais, não mais se fala em falta de interesse, porque o valor não é
mais irrisório.
Determinada a citação, admitida a inicial, no próprio despacho liminar de conteúdo
positivo o juiz fixará os honorários advocatícios da execução. Como o CPC é aplicável
subsidiariamente no que for compatível com a LEF (no que esta for omissa), aplica-se o
artigo 652-A do CPC à execução fiscal:
O “cite-se” também interrompe a citação, como dispõe o artigo 8°, § 2°, da LEF:
“Art. 8º - O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida
com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou
garantir a execução, observadas as seguintes normas:
I - a citação será feita pelo correio, com aviso de recepção, se a Fazenda Pública
não a requerer por outra forma;
II - a citação pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta no endereço
do executado, ou, se a data for omitida, no aviso de recepção, 10 (dez) dias após a
entrega da carta à agência postal;
III - se o aviso de recepção não retornar no prazo de 15 (quinze) dias da entrega da
carta à agência postal, a citação será feita por Oficial de Justiça ou por edital;
IV - o edital de citação será afixado na sede do Juízo, publicado uma só vez no
órgão oficial, gratuitamente, como expediente judiciário, com o prazo de 30 (trinta)
dias, e conterá, apenas, a indicação da exeqüente, o nome do devedor e dos co-
responsáveis, a quantia devida, a natureza da dívida, a data e o número da inscrição
no Registro da Dívida Ativa, o prazo e o endereço da sede do Juízo.
§ 1º - O executado ausente do País será citado por edital, com prazo de 60
(sessenta) dias.
§ 2º - O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição.”
“Art. 222. A citação será feita pelo correio, para qualquer comarca do País, exceto:
(Redação dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
(...)
d) nos processos de execução; (Incluído pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
(...)”
Se, outrossim, a dívida for fiscal de natureza não tributária, nada obsta que se
aplique este dispositivo do CPC, facultado o parcelamento ao devedor.
É aplicável, também na execução fiscal, a rejeição liminar de embargos, prevista no
artigo 739, III, do CPC, também já discutido.
Se o executado preferir indicar bens à penhora, ao invés de pagar, o artigo 11 da
LEF estabelece a gradação legal de interesse dos bens. Repare que na execução fiscal vige
o regime antigo, em que o devedor é quem indica bens à penhora, e não o credor, como o é
na execução comum atual, pós reforma.
Caso a nomeação pelo devedor não observe a ordem deste artigo, ela será ineficaz, e
o direito de nomeação será passado ao credor, ao fisco.
Na execução fiscal, como se vê, a penhora ainda é uma condição para recebimento
dos embargos. O prazo dos embargos é de trinta dias, na forma do artigo 16 da LEF:
A LEF nada fala a respeito do efeito suspensivo dos embargos, pelo que se aplica o
artigo 739-A, § 1º, do CPC, já abordado: não mais há este efeito suspensivo
automaticamente, sendo necessário o requerimento do embargante, a penhora prévia e o
risco de dano para que a suspensão seja deferida.
O embargado será intimado para impugnar os embargos, também em prazo de trinta
dias, na forma do artigo 17 da LEF:
1.6. Remição
Como curiosidade, o artigo 1.482 do CC também prevê a remição, mas esta norma
está mitigada pela reforma processual, que só admite a remição pelo próprio executado,
como se vê no dispositivo acima. Veja:
O artigo 26 da LEF determina que a execução fiscal será extinta sem qualquer ônus
para as partes, se a inscrição na dívida ativa for cancelada antes da sentença:
“Súmula 640, STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por
juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado
especial cível e criminal.”
Não cabe, porém, recurso especial, eis que a decisão não promanou de tribunal, mas
sim de juízo de primeiro grau.
1.11. Prescrição
23
Esta norma foi discutida em sua constitucionalidade, eis que é matéria de prescrição tributária tratada em lei
ordinária, quando se exige lei complementar para este assunto. O STJ entendeu que esta norma é meramente
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
A) A decisão foi incorreta: seria necessária a emenda da inicial para a inclusão dos
sócios no pólo passivo, pois do contrário eles são considerados terceiros.
B) Poderão, neste ponto, valer-se de embargos de terceiro, eis que ainda não estão
formalmente integrados à lide como partes.
Tema XVI
Procedimento especial de execução por quantia certa: em face de devedor insolvente. Conceito.
Generalidades. Da declaração de insolvência requerida: a) por credor; b) por devedor ou seu espólio.
Declaração judicial de insolvência. Atribuição do administrador. Procedimento.
Notas de Aula24
“Art. 748. Dá-se a insolvência toda vez que as dívidas excederem à importância
dos bens do devedor.”
24
Aula ministrada pelo professor Wilson Marques, em 14/9/2009.
Imagine-se que, proposta a execução contra devedor solvente, constata-se que não
há bens a serem penhorados: a insolvência é presumível, se não se encontra nenhum bem
penhorável, ou, mesmo que o haja, sequer é suficiente para atender a este credor singular
que iniciou a execução tendo-o por solvente.
Também quando arrestados os bens do devedor, na forma do artigo 813, I, II e III do
CPC, há presunção de insolvência:
A insolvência requerida pelo credor tem início por uma verdadeira petição inicial,
na qual se expressa a pretensão de execução por quantia certa contra devedor insolvente.
Abre-se, então, aquela fase cognitiva, a fim de constatar e declarar a insolvência. O devedor
se defenderá mediante embargos (mesmo que se trate de uma fase cognitiva, de fato),
embargos estes que, peculiarmente, têm natureza de defesa, e não de ação autônoma. É uma
verdadeira contestação nomeada de embargos, diferentemente dos embargos do devedor
singular solvente, que têm natureza de ação porque não há nenhuma nota cognitiva no rito
executivo contra devedor solvente, como aqui o há. Veja os artigos 754 e 755 do CPC:
“Art. 755. O devedor será citado para, no prazo de 10 (dez) dias, opor embargos;
se os não oferecer, o juiz proferirá, em 10 (dez) dias, a sentença.”
Apesar de a maior parte da doutrina entender assim, que estes embargos têm
natureza de contestação, Humberto Theodoro Júnior defende que são exatamente os
mesmos embargos do devedor com natureza de ação, nada mais. É minoritário, porém,
porque estes embargos são uma impugnação à cognição (papel exercido por contestação), e
não à execução, como os embargos comuns.
Citado, além de responder por meio de embargos, o devedor pode ter outras
atitudes. Pode simplesmente pagar a dívida, extinguindo o processo: com o pagamento,
prova que não é insolvente, e elimina qualquer objeto da demanda.
Pode o devedor também depositar em juízo a quantia demandada, a fim de discutir
se é devida ou não, se o credor é legitimo ou não, etc. – depósito elisivo, como é chamado.
Se prosseguindo a discussão, comprovar-se que o devedor depositante tem razão, ele
levantará o depósito, extinguindo a execução; se estava errado, quem levanta é a parte
contrária, o credor. A única certeza, após o depósito elisivo, é que jamais haverá declaração
de insolvência: o devedor é solvente, pois demonstrou capacidade patrimonial para saldar a
dívida, no depósito efetuado.
Veja os artigos 756 e 757 do CPC:
“Art. 757. O devedor elidirá o pedido de insolvência se, no prazo para opor
embargos, depositar a importância do crédito, para lhe discutir a legitimidade ou o
valor.”
Terceira atitude que pode o devedor tomar, quando citado para a execução como
insolvente, é a de simplesmente silenciar, quedando-se inerte. A consequência desta inércia
é a revelia: se estamos diante de uma fase cognitiva, a ausência de argumentação contrária,
na via dos embargos contestatórios, implica revelia, com todos seus efeitos – especialmente
a presunção de veracidade da alegação de insolvência. Silente o devedor, portanto, o juiz
provavelmente julgará procedente a petição de declaração de insolvência, e a sentença
declarará esta insolvência, passando então à fase executiva.
Note-se que se falou que o juiz provavelmente declarará a insolvência, na hipótese
da revelia, e não certamente. Isto porque pode haver a falta de algum pressuposto ou
condição para tanto, como a inexigibilidade do título, a ilegitimidade do requerente, etc.
Nestes casos, mesmo com revelia, haverá improcedência do pedido ou extinção por
carência de ação.
Se o devedor oferecer a resistência que a lei lhe faculta, os embargos elisivos, pode
neles argumentar que a dívida é inexistente, ou que está sendo cobrada a maior. O devedor
pode alegar, virtualmente, tudo aquilo que lhe for de direito. Pode também resumir sua
defesa à alegação de que não é insolvente, ou seja, não contesta a dívida sob qualquer
aspecto, mas sim a qualidade de insolvente que se lhe imputa o credor. Demonstrando que
não é insolvente, a execução se extinguirá, não podendo haver a convolação desta execução
naquela contra devedor solvente.
Vencida a fase postulatória, o juiz decidirá quem tem razão, credor ou devedor,
declarando ou não a insolvência, por sentença. Antes disso, nada impede que haja a
produção de provas, ou qualquer outro passo procedimental colhido por analogia ao rito
ordinário – réplica, providências preliminares, audiência de instrução e julgamento, etc.
1.2. Autoinsolvência
“Art. 760. A petição, dirigida ao juiz da comarca em que o devedor tem o seu
domicílio, conterá:
I - a relação nominal de todos os credores, com a indicação do domicílio de cada
um, bem como da importância e da natureza dos respectivos créditos;
II - a individuação de todos os bens, com a estimativa do valor de cada um;
III - o relatório do estado patrimonial, com a exposição das causas que
determinaram a insolvência.”
Não haverá citação dos credores, nesta situação. O juiz simplesmente verificará,
após oitiva do MP (ante o interesse público na lide), se estão presentes as condições da
insolvência, e a declarará ou não. A decisão que declara ou não a insolvência, nesta
primeira fase, é uma sentença, para a maior parte da doutrina – por todos, Barbosa Moreira.
Para Alexandre Câmara, é decisão interlocutória, porque não termina o processo (parecendo
estar mais afeito ao conceito antigo de sentença). A decisão é mesmo uma sentença, porque
responde à pretensão inicial – declarar ou não a insolvência. E a última decisão, que
termina a execução, por qualquer que seja o motivo, é também uma sentença. Veja que,
então, trata-se de uma resposta escalonada à pretensão inicial, sempre, a execução contra o
insolvente, quando declarada a insolvência.
situação material do executado, criando uma nova situação jurídica – o que é aspecto
constitutivo. Estes efeitos estão no artigo 751 do CPC:
“Art. 961. O crédito real prefere ao pessoal de qualquer espécie; o crédito pessoal
privilegiado, ao simples; e o privilégio especial, ao geral.”
Em síntese, pode-se traçar a seguinte ordem neste concurso de credores com títulos
executivos hábeis: em primeiro lugar, receberão aqueles credores titulares de créditos
trabalhistas; em seguida, antes de passar aos próximos credores, há o pagamento das
custas processuais, o que não pode ser considerada uma posição no rol de credores,
propriamente dita.
Segunda categoria a receber, portanto, é a dos credores com créditos resultantes de
acidentes trabalhistas.
Em seguida, em terceiro lugar, os créditos fiscais, categoria que tem uma ordem
interna: primeiro são pagos os créditos federais; em seguida, os estaduais; e por último os
municipais.
A seguir, em quarto lugar, passa-se ao adimplemento dos credores com garantia
real, detentores de penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária.
Em quinto lugar, passa-se ao pagamento dos créditos com privilégio especial.
Em sexto lugar, são pagos os créditos com privilégio geral.
Em último, passa-se ao pagamento dos credores quirografários.
Cada uma das classes deve ser inteiramente adimplida, para somente então se passar
à classe seguinte. Se, alcançando uma das classes, o valor não for suficiente para adimplir
todos os credores daquela classe, haverá um rateio entre eles: cada um receberá percentual
do valor dedicado a sua classe, se o montante não puder pagar toda a classe.
Vê-se, portanto, que o princípio pars conditio creditorum se impõe de forma
intraclasse, ou seja, é vigente para os credores de uma mesma classe. A ordem legal deve
ser respeitada, de classe para classe, ou seja, não há igualdade de direito de crédito entre
credores de classes diferentes – a igualdade vigora apenas entre os credores de uma mesma
classe.
As declarações de crédito são autuadas, e os credores concorrentes são intimados,
como dito, para apresentar impugnações, que podem versar sobre quaisquer aspectos dos
créditos – categoria, montante, ou mesmo a própria existência.
Não havendo impugnação, ou resolvidas as que foram propostas, é hora de se
formar o quadro geral de credores. Neste momento, far-se-á a contabilização do ativo e do
passivo, expressando, já, a ordem dos credores, e a quem caberá receber quanto – atividade
incumbida ao contador judicial. Certamente, necessariamente, os credores quirografários
receberão percentuais, se é que receberão alguma coisa, porque se fossem receber a
integralidade não haveria insolvência, e sim solvência.
Se o juiz detectar algum erro no quadro geral de credores, ou se algum credor
apontar tal erro, os autos retornarão ao contador para apurar o que está errado, e refazer o
quadro. Quando este quadro for finalmente aprovado pelo juiz, passar-se-á à fase de efetivo
pagamento aos credores.
Pode acontecer de haver algum credor que não se habilitou no processo, a tempo de
formar o quadro geral de credores: é o chamado credor retardatário, aquele que tinha
condições de declarar seu crédito e não o fez, por desídia, ou qualquer que seja a razão.
Embora retardatário, não ficará excluído do rateio, perdendo o crédito. Não perde seu
crédito nem o direito a participar do rateio, apenas perdendo direito a tomar parte do rateio
que eventualmente já tenha sido efetuado – e que não será desfeito.
Para ter direito a seu crédito, este credor retardatário, no entanto, deverá entrar com
uma ação direta, justamente para que seu crédito seja reconhecido, e incluso na respectiva
categoria, na forma do artigo 784 do CPC. Esta razão não terá qualquer sentido se o
processo houver sido extinto, porque então o patrimônio do devedor terá se extirpado.
Deverá, este credor, guardar seu crédito, aguardando que o devedor amealhe patrimônio
para uma possível execução futura.
Sendo ajuizada a ação direta de habilitação, os demais credores serão citados para
impugnar aquele crédito, se quiserem, tal como foi oportunizada a impugnação
originalmente contra todos os créditos habilitados tempestivamente. Proceder-se-á a um rito
cognitivo, com eventual fase probatória, e, não havendo irregularidade, constatada pelo juiz
ou pela impugnação procedente, o pedido do retardatário será julgado procedente, e seu
crédito passará a compor a respectiva categoria do quadro geral de credores. Se verificada
alguma irregularidade, o pedido será julgado improcedente, e o crédito não será habilitado.
Da sentença que habilita ou não o crédito do retardatário caberá apelação25.
Quando incluído o crédito do retardatário, se não houve ainda a repartição dos
valores, ele simplesmente será incluído no quadro, e concorrerá como qualquer outro credor
de sua classe.
Em relação àqueles credores que receberem a integralidade de seu débito, por óbvio,
a obrigação do devedor fica naturalmente extinta. Em relação àqueles que só receberam
percentual, porém, a extinção é igualmente parcial, o que significa que, surgindo mais bens
no patrimônio do devedor, serão promovidas novas arrecadações, alienações e rateios,
pagando a cada um mais um percentual, até que se adimpla toda a dívida.
Este procedimento, porém, de novas arrecadações e pagamentos aos credores
remanescentes pelas dívidas parciais, tem um limite temporal. Não pode o devedor ficar
perpetuamente sob a espada da dívida, pendente sobre seu patrimônio eternamente. A lei
prevê, então, para estas novas arrecadações, o prazo de cinco anos, contados da data de
encerramento do processo de insolvência, que se dá quando é prolatada a sentença de
extinção do processo, quando finda o último rateio do patrimônio conhecido do devedor.
Veja o artigo 778 do CPC:
Passados cinco anos, o devedor poderá pedir ao juízo da insolvência que decrete a
extinção das obrigações, conforme admite o artigo 779 do CPC:
25
Pode ser requerida a reserva de montante, quando da apelação, para o caso de ser esta provida, a fim de que
o credor que foi rechaçado na sentença não seja prejudicado, mas para que também não seja estagnado o
procedimento satisfativo. Reservado o valor, se ao final for procedente o crédito, o credor o receberá; se for
realmente improcedente, o montante retorna à massa, redistribuído entre os credores que já receberam, na
ordem legal.
Este pedido de extinção se trata de mais uma ação incidental à insolvência, iniciada
por petição. Expedidos os editais, poderão os credores impugnar o pedido de extinção, na
forma do artigo 780 do CPC:
Se nada restar comprovado que impeça a extinção das obrigações, a sentença será
procedente, e devedor retornará à liberdade para a prática de atos da vida civil. Veja os
artigos 781 e 782 do CPC:
“Art. 781. Ouvido o devedor no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá sentença;
havendo provas a produzir, o juiz designará audiência de instrução e julgamento.”
“Art. 782. A sentença, que declarar extintas as obrigações, será publicada por
edital, ficando o devedor habilitado a praticar todos os atos da vida civil.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Tema XVII
Procedimento especial de execução por quantia certa: dívida alimentar decorrente de ato ilícito ou
decorrente de vínculo de parentesco. Reflexos da Lei nº 11.232/05 nestes procedimentos.
Notas de Aula26
1. Execução de alimentos
A dívida alimentar pode surgir tanto por conta de uma relação de parentesco como
por uma questão de responsabilidade civil, e surgirá de uma decisão interlocutória ou de
uma sentença. Em qualquer dos casos, a execução seguirá a mesma forma, aqui abordada.
Esta execução é uma espécie do gênero execução contra devedor solvente, tendo
peculiaridades atentas à natureza do crédito exequendo.
Antes da instauração do processo sincrético, era cediço que duas eram as espécies
de execução de alimentos: a execução comum, nos exatos moldes de qualquer execução
comum contra devedor solvente; e a execução especial, com possibilidade de prisão civil,
respectivamente apontadas nos artigos 732 e 733 do CPC:
A reforma operada pela Lei 11.232/05, porém, fez nascer dúvida sobre a
manutenção destas duas formas de execução. A lei não tratou destes artigos supra
expressamente, fazendo surgir a dúvida se seriam aplicáveis ou não os seus preceitos a estas
execuções – o sincretismo, a multa automática pelo não pagamento, etc.
Humberto Theodoro Junior defende que não houve qualquer alteração: se a reforma
não apontou para estes dispositivos, em nada lhes pertine, continuando tudo como antes.
Assim, a execução de alimentos, por uma ou outra forma, deve ser efetuada de forma
autônoma, em ação de execução autônoma, e não em fase executiva.
Esta não é a melhor orientação, contudo. Se a reforma veio agilizar a satisfação dos
créditos, não faz sentido esta agilidade ser menor justamente nos créditos mais relevantes e
urgentes, que são os alimentares.
Por isso, ao menos quanto à execução alimentar comum, a maior doutrina entende
que toda a reforma é aplicável, correndo esta execução sob o processo sincrético, hoje. A
execução da prestação alimentar do artigo 732 do CPC, portanto, segue exatamente o
mesmo rito da execução de qualquer título executivo judicial contra devedor solvente, o
cumprimento de sentença, sem ressalvas. Assim, remete-se a tudo que foi discorrido sobre
tal execução, com todas as discussões cabíveis (inclusive sobre a multa e seu termo a quo),
26
Aula ministrada pelo professor Wilson Marques, em 14/9/2009.
no tópico a ela dedicado. O mesmo se fala sobre a execução provisória, que aqui é também
tratada conforme a regra geral.
A execução especial dos alimentos, do artigo 733, supra, tem também a si aplicável
a reforma processual advinda da Lei 11.232/05, naquilo que for agilizar o processo.
Objetivamente, o que mudou é que passou a ser uma fase do processo sincrético, e não uma
execução autônoma de título judicial; e aplica-se a multa de dez por cento, pelo não
pagamento espontâneo.
A dualidade de modalidade de execuções se justifica pela alta relevância do crédito
do qual o credor parte em busca, e da natureza das relações que ensejam este crédito. A
opcionalidade é conferida ao credor justamente porque pode ele não pretender expor o
devedor às consequências gravosas da modalidade especial, que comina a prisão civil caso
não haja adimplemento da prestação devida. Simplesmente, pode o filho querer receber a
dívida, mas não querer que seu pai seja submetido à prisão, mesmo sendo sua subsistência
que está em jogo; ou pode entender que este caminho mais pesaroso é o necessário, mesmo
que seu pai vá ser exposto a medida coercitiva de tal severidade.
Feita a opção, não há fungibilidade, não há conversibilidade. Optada a via comum,
em que o caminho é a penhora, não pode haver requerimento da prisão; da mesma forma,
optando pela via especial do artigo 733 do CPC, a coerção é feita pela prisão, não podendo
ser requerida penhora.
Há jurisprudência nos tribunais superiores que dispõe que a execução do artigo 733
do CPC só pode redundar na prisão do devedor quando ele não tiver bens penhoráveis. Ou
seja: as Cortes Maiores criam uma espécie de subsidiariedade entre os ritos: havendo bens
penhoráveis, o rito a ser seguido é o do artigo 732; não havendo, pode ser seguido o rito do
artigo 733. Elimina-se, com isso, a opção dada ao credor. Esta jurisprudência é
frontalmente contrária à lei, que não criou esta subsidiariedade de forma alguma, e mais:
cria uma regra de desigualdade, porque aqueles devedores ricos, proprietários de bens
penhoráveis, jamais poderão sofrer o rito da prisão civil, enquanto o devedor pobre, sem
bens para garantir o pagamento, será submetido à prisão. Por tudo isso, não tem prevalecido
esta orientação: há, realmente, uma alternatividade de ritos, cuja opção é dada ao credor, e
somente a ele.
Se alguma subsidiariedade deveria existir é na via inversa: sendo insuficiente a
coerção da prisão, e havendo bens excutíveis, passar-se-ia à execução comum, à penhora.
Isto sim privilegiaria a mens legislatorum, protetiva do crédito alimentar.
Ainda segundo a jurisprudência, execução especial com prisão civil não é
admissível quando se tratar apenas da cobrança de diferenças nos valores. Assim, se o
devedor pagar a menor, não poderá ser executado no rito especial por esta diferença. Esta
posição é criticável, porque a diferença na prestação ainda é de natureza alimentar, não
havendo justificativa plausível para esta diferenciação – ao contrário, é diferença que
parece fomentar o mau comportamento do devedor, que, sabedor de que não poderá ser
preso, paga a menor, intencionalmente levando o restante do débito à execução comum.
Corretamente, agora, a jurisprudência é pacífica em dizer que não é admissível o
rito do artigo 733 para a cobrança autonômica de juros, custas processuais e honorários
advocatícios. Estas verbas fogem ao conceito de alimentos, e por isso não podem despertar
prisão civil, que é constitucionalmente dedicada apenas ao devedor alimentar.
1.1. Competência
A regra geral da competência para estas execuções é a que vem traçada no artigo
475-P, II, do CPC:
Quando assim fixados, se os alimentos não forem pagos, qual é o instrumento para o
alimentando havê-los?
Veja que os artigos 732 e 733 do CPC aludem à execução da sentença que fixar
alimentos, e não da escritura pública. Em leitura literal, não poderia, portanto, haver
execução desta escritura, nos moldes destes artigos, pelo que seria necessária, a rigor, uma
execução de título extrajudicial, para haver os alimentos ali consignados.
Esta solução afastará muito a procura pela solução cartorária, porque, como já se
pôde ver, a execução de título extrajudicial é muito menos favorável do que o cumprimento
de sentença.
Todavia, fica difícil enquadrar a escritura pública no alcance dos artigos 732 e 733
do CPC, expressamente dedicados ao cumprimento de decisões judiciais. Mesmo assim,
parece que este será o caminho adotado – a execução da escritura pública como se sentença
fosse –, sob pena de se esvaziar o tremendo avanço que foi a desjudicialização desta
questão.
A problemática, contudo, é severa, e ainda não tem solução jurisprudencial, e nem
mesmo doutrina dedicada.
“Art. 734. Quando o devedor for funcionário público, militar, diretor ou gerente de
empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, o juiz mandará
descontar em folha de pagamento a importância da prestação alimentícia.
Parágrafo único. A comunicação será feita à autoridade, à empresa ou ao
empregador por ofício, de que constarão os nomes do credor, do devedor, a
importância da prestação e o tempo de sua duração.”
A dívida alimentar vencida há mais de três meses não pode ensejar a execução
especial com prisão do devedor. Veja a súmula 309 do STJ:
“Súmula 309, STJ: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é
o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as
que se vencerem no curso do processo.(*).
(*) julgando o HC 53.068-MS, na sessão de 22/03/2006, a Segunda Seção
deliberou pela ALTERAÇÃO da súmula n. 309. REDAÇÃO ANTERIOR (decisão
de 27/04/2005, DJ 04/05/2005): O débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende as três prestações anteriores à citação e as que
vencerem no curso do processo.”
“(...)
§ 2 º O cumprimento da pena não exime o devedor do pagamento das prestações
vencidas ou vincendas; mas o juiz não lhe imporá segunda pena, ainda que haja
inadimplemento posterior.
(...)”
A Lei do Divórcio acabou com esta restrição, como se pode ver no teor atual do § 2°
deste artigo, há pouco transcrito. Quantas prisões forem necessárias serão decretadas,
quantas vezes o devedor se tornar inadimplente. Mas repare que a nova prisão só pode ser
decretada por nova dívida: se o devedor foi preso pelo mês de setembro, por exemplo, e, até
o final do período da prisão não o pagou, não pode o juiz determinar nova prisão pelo
mesmo mês de setembro. Agora, se inadimpliu este mês; foi preso; pagou a dívida; e em
outubro veio a inadimplir novamente este outro mês, nada obsta a decretação de nova
prisão coercitiva, agora para pagamento do mês de outubro. Em síntese: por cada prestação,
ou período de três prestações, só pode ser preso uma vez, mas se inadimplir nova prestação,
ou período de prestações, será novamente preso.
O § 3° do artigo 733 determina que uma vez paga a prestação alimentícia, a prisão
será sustada. Atente-se, porém, que o pagamento a que se refere é das parcelas iniciais que
ensejaram a execução, e também daquelas vencidas no curso do processo. Para ser solto,
tem que ficar em dia com as prestações iniciais, e todas mais que sobrevierem impagas, até
a prisão. A súmula 309 do STJ reflete este entendimento, oriundo de uma interpretação
sistemática do ordenamento, que em situações similares (inadimplemento de alugueres, por
exemplo), dá esta nota – a mora só se purga pelo pagamento também daquilo vencido no
curso do processo.
Alimentos provisionais não se confundem com provisórios: provisionais são aqueles
alimentos fixados em uma ação cautelar, destinados a manter o alimentando até que haja a
ação de alimentos propriamente dita, e que nela se fixem os provisórios, em antecipação de
tutela, e os definitivos, ao final. Hoje, não há sentido nesta cautelar, porque os alimentos
provisórios podem ser requeridos desde logo, na inicial de alimentos, com natureza
antecipatória. Por isso, o termo “provisionais”, no artigo 733 do CPC, deve ser lido de
forma ampla, ou seja: quaisquer alimentos são executáveis neste rito, provisórios,
definitivos, e eventualmente provisionais, se alguém ainda se der ao trabalho de ajuizar
com esta cautelar inútil.
A prisão do devedor de alimentos pode ser decretada de ofício, desde que na ação
judicial ajuizada já pelo rito do artigo 733 do CPC – considera-se, esta escolha de rito, um
pedido implícito da prisão. Se foi ajuizada pelo rito do artigo 732, é claro que não pode
haver prisão, nem de ofício, e nem mesmo a requerimento, como dito.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Claro que não: a prisão civil não é pena, é medida de coerção, e o sursis é um
instituto de direito penal, dedicado à suspensão da pena.
Quanto à prisão especial, por ser graduado superior, o artigo 295, VII, do CPP,
estabelece esta prerrogativa ao réu, que pode, sim se estender à prisão civil.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Não tem razão alguma: o artigo 733 do CPC deve ser interpretado de forma
inteligente, compreensiva, abrangendo quaisquer tipos de alimentos, e não apenas os
provisionais. Simplesmente, não há qualquer lógica em se manter sua aplicabilidade
adstrita aos alimentos provisionais, sobremaneira porque hoje em franco desuso.
Questão 3
Gohan, menor impúbere até então residente na cidade do Rio de Janeiro, propôs
ação de alimentos em face de seu pai, Goku, tendo sido a sua pretensão julgada
inteiramente procedente pelo juízo competente desta mesma Comarca. Ocorre que, após o
trânsito em julgado, Gohan mudou de domicílio para a cidade de São Paulo, onde foi
distribuída a ação de execução deste julgado. Indaga-se:
Resposta à Questão 3
a) Sim: pode-se invocar o artigo 100, II, do CPC, porque a execução passa a
acompanhar o alimentando, seguindo-o ao seu domicílio. Contudo, é tese
equivocada, prevalecendo mesmo o artigo 475-P, II, do CPC.
b) Sim, na forma do artigo 201, III, do ECA, entrega esta atribuição ao MP, mas
apenas quando se tratar de menor desamparado. Havendo pai, mãe, tutor, a estes
incumbe promover a ação.
Tema XVIII
Procedimento especial de execução por quantia certa: Juizado Especial. Procedimento específico previsto na
Lei nº 9.099/95 e aplicação do procedimento estabelecido pela Lei nº 11.232/05 em casos de título executivo
judicial. Instauração e desenvolvimento. Incidência, ou não, da multa prevista no art. 475-J. Defesa do
executado e necessidade, ou não, de garantia do juízo. Etapa expropriatória. Extinção do processo.
Notas de Aula27
27
Aula ministrada pelo professor Ademar Vidal Neto, em 15/9/2009.
Esta dinâmica se aplica, sim, aos juizados, não havendo incompatibilidade deste
envio ao contador judicial para confirmação dos cálculos apresentados pelo credor. De fato,
há três casos em que a remessa ao contador é necessária: quando a planilha apresentada
pelo credor for patentemente discrepante, ou seja caso de assistência judiciária, na forma do
§ 3°; ou quando o credor estiver em juízo pessoalmente, sem representação de advogado,
pelo que se presume que não tenha perícia suficiente na formulação dos cálculos.
O caput do artigo 52 da Lei 9.099/95 já determina a aplicabilidade das disposições
do CPC ao rito do juizado, quando compatíveis. Questiona-se, então: o conhecido artigo
475-J do CPC se aplica no juizado?
A doutrina entende que é perfeitamente aplicável. O Fonaje conta com dois
enunciados sobre o tema, o 97 e o 105:
O Fonaje realizou, ali, uma boa interpretação do artigo 475-J, § 1º, do CPC, que
vale ser revisto:
“(...)
§ 1° Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na
pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante
legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer
impugnação, querendo, no prazo de quinze dias. (Incluído pela Lei nº 11.232, de
2005)
(...)”
Até a entrada em vigor da reforma executória do CPC, a regra geral da execução por
quantia certa determinava que se liquidassem os bens do devedor, a fim de transformá-los
em dinheiro e, somente então, pagar ao credor. Hoje, a regra geral faz prevalecer a
adjudicação direta do bem penhorado ao credor, e somente após a manifestação deste
credor no sentido de que não deseja haver o bem para si, será necessária a sua
transformação em dinheiro.
Se o credor não deseja haver o bem na espécie, a família do devedor pode pretender
a adjudicação do bem a si, antes da sua leva à hasta pública. Veja o artigo 685-A do CPC:
bem como, se for o caso, a comissão de corretagem. (Incluído pela Lei nº 11.382,
de 2006).
§ 2° A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo
exeqüente, pelo adquirente e, se for presente, pelo executado, expedindo-se carta
de alienação do imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel,
mandado de entrega ao adquirente. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
§ 3º Os Tribunais poderão expedir provimentos detalhando o procedimento da
alienação prevista neste artigo, inclusive com o concurso de meios eletrônicos, e
dispondo sobre o credenciamento dos corretores, os quais deverão estar em
exercício profissional por não menos de 5 (cinco) anos. (Incluído pela Lei nº
11.382, de 2006).”
A Lei 9.099/95 já contemplava esta modalidade, no já transcrito artigo 52, VII. Para
ser possível esta dinâmica, é preciso que alguém – credor, devedor ou terceiro – se
apresente com a intenção de promover a alienação privada, e que o juiz autorize tal venda.
A norma do juizado, em verdade, é mais proficiente do que a do CPC. Aqui, o juiz
marca desde logo a realização do leilão judicial, e faculta às partes a realização da venda
privada até a data da hasta pública.
Surgindo pessoa interessada na compra, por valor igual ou superior ao avaliado, a
alienação particular substituirá a hasta pública, que será cancelada. Se a oferta particular for
inferior ao valor da avaliação do bem, as partes serão ouvidas para anuir ou não na
alienação, eis que esta venda pode não satisfazer suas expectativas, tanto do credor quanto
do devedor. Se um deles discordar, não se realiza a alienação privada, e a hasta pública será
o caminho.
A fase de expropriação, nos juizados especiais, é problemática, pelo seguinte:
muitas vezes, a penhora recai sobre bens de pequeno valor, e de difícil venda em hasta
pública. Por esta dificuldade, o enunciado 71 do Fonaje faz a seguinte previsão:
Destarte, não é preciso um processo autônomo para estes embargos, como o são no
processo civil regular. No juizado, os embargos são incidentes ao processo executório,
operados no bojo do cumprimento.
Terminada a eventual discussão dos embargos à arrematação ou adjudicação, nada
mais há a ser feito: o processo será extinto, por sentença. Se a integralidade do crédito
exequendo não for satisfeita, e não houver mais bens a serem penhorados, há algumas
providências a serem tomadas em prol do credor. Veja os enunciados 75 e 76 do Fonaje:
“Enunciado 75 - Substitui o Enunciado 45 - A hipótese do § 4º, do 53, da Lei
9.099/1995, também se aplica às execuções de título judicial, entregando-se ao
exeqüente, no caso, certidão do seu crédito, como título para futura execução, sem
prejuízo da manutenção do nome do executado no Cartório Distribuidor. (Nova
Redação aprovada no XXI Encontro – Vitória/ES)”
Assim, a execução não deve ser extinta, para dar lugar a uma nova execução na
percepção de bens penhoráveis no futuro, mas sim suspensa, por previsão legal expressa,
aqui aplicável.
Este é o único precedente sobre o tema, no STJ, não sendo possível, ainda, falar que
esta é a posição cristalizada desta Corte.
1.2. Execução de sentença de obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa nos Juizados
“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o
pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
(...)
§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de
atividade nociva, se necessário com requisição de força policial. (Redação dada
pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
(...)”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Tema XIX
Mecanismos para a efetivação e cumprimento das decisões interlocutórias que imponham obrigação de fazer,
não fazer e entregar coisa. Meios de coerção e meios de sub-rogação: fungibilidade e concessão ex officio.
Astreintes: momento e meio processual adequado para a sua exigibilidade. Execução provisória e/ou
definitiva das astreintes. Redução ou ampliação das astreintes. Sanções aplicáveis àqueles que procrastinam
a marcha processual.
Notas de Aula29
“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o
pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
(...)
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada
ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. (Incluído pela Lei nº
8.952, de 13.12.1994)
(...)”
Repare que mesmo que este dispositivo inexistisse, a simples regra geral da
antecipação da tutela seria suficiente para autorizar a decisão liminar e a sua execução.
Mesmo porque é preciso que os requisitos da antecipação de tutela, do conhecido artigo
273 do CPC, estejam presentes, quais sejam, o fumus boni juris e o periculum in mora, para
que este § 3° do artigo supra seja aplicável.
O juiz pode conceder a liminar de forma inaudita altera parte, ou depois de citar
este, se entender necessário. As liminares inaudita altera parte são sempre
excepcionalíssimas, ou seja, a regra geral é que haja a citação do réu, prévia à concessão da
liminar. As hipóteses de liminar inaudita são: se a oitiva do réu for por em perigo o direito,
ante a tremenda urgência do que se pleiteia, ou ante a possibilidade de o réu frustrar o
cumprimento, ficando necessário o efeito surpresa da ordem judicial.
O procedimento da execução da liminar é exatamente o mesmo procedimento da
execução de qualquer título executivo judicial, variando de acordo com a obrigação que
contiver, de fazer, não fazer ou dar coisa. Na decisão, o juiz estabelece a obrigação a ser
cumprida, fixa um prazo e a sanção pelo descumprimento. A efetivação, então, passa a se
dar nos mesmos termos das decisões judiciais finais.
Acontece que esta execução é provisória, porque a própria decisão é provisória. Isto
significa que os atos que possam prejudicar o devedor demandarão caução, sendo esta a
principal diferença da execução definitiva.
Quando o juiz antecipa os efeitos da tutela em caso muito urgente, não se pode
entender que haja a exata dinâmica dos artigos 461 e 461-A do CPC no que diz respeito à
forma de cumprimento: a urgência pode ser tamanha que não se pode falar em concessão de
prazo para cumprimento da decisão, para somente então adotar medidas coercitivas. Por
isso, admite-se, por exemplo, a busca e apreensão de medicamentos expedida
imediatamente, inclusive de forma inaudita altera parte. A regra, porém, é mesmo seguir-se
a exata dinâmica dos artigos 461 e 461-A do CPC, sem diferenças.
29
Aula ministrada pelo professor Ademar Vidal Neto, em 16/9/2009.
Casos Concretos
Questão 1
poderá o magistrado, de ofício, verificando que a multa se tornou excessiva, reduzir o seu
valor com efeitos retroativos? Fundamente.
Resposta à Questão 1
Tema XX
Cumprimento da sentença que reconhece obrigação de entregar a coisa. Procedimento para o título
executivo judicial e extrajudicial.
Notas de Aula30
30
Aula ministrada pelo professor Ademar Vidal Neto, em 16/9/2009.
“Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a
tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação. (Incluído pela
Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
§ 1° Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e quantidade, o
credor a individualizará na petição inicial, se lhe couber a escolha; cabendo ao
devedor escolher, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz.
(Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
§ 2° Não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á em favor do
credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar
de coisa móvel ou imóvel. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
§ 3° Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1° a 6° do art. 461.
(Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)”
“Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha
pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não
poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.”
“Art. 630. Qualquer das partes poderá, em 48 (quarenta e oito) horas, impugnar a
escolha feita pela outra, e o juiz decidirá de plano, ou, se necessário, ouvindo
perito de sua nomeação.”
Casos Concretos
Questão 1
Por sentença, Pastor Alberto foi condenado a restituir à Igreja Cristã Presbiteriana
Missionária coisa certa (imóvel, móveis, utensílios e documentos da Igreja).Transitada em
julgado a decisão judicial, a vencedora pediu e o juiz lhe deferiu a expedição de mandado
de imissão na posse dos bens imóveis em causa e a expedição de mandado de busca e
apreensão dos bens móveis em causa. Alegando que não foi citado para a execução,
Alberto pretende a reconsideração da decisão, a fim de sustar os atos executórios "com
imediato efeito repristinatório ao ato atacado e retorno ao status quo ante".A autora
aduziu que o requerimento, dirigido à expedição de mandado de imissão na posse e de
mandado de busca e apreensão, independe da instauração de processo de execução, pois a
natureza da ação possessória já ostenta a necessária eficácia executiva lato sensu. Diante
do caso concreto, DECIDA.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema XXI
Cumprimento da sentença que reconhece obrigação de fazer e não fazer. Procedimento para o título
executivo judicial e extrajudicial.
Notas de Aula31
31
Aula ministrada pelo professor Ademar Vidal Neto, em 15/9/2009.
Desde logo, é importante dizer que a execução das decisões interlocutórias que
condenam a fazer, não fazer ou entregar coisa é exatamente igual à execução da sentença
que assim condena. Por isso, tudo que se dirá aqui é aplicável ao estudo da execução de
sentença ou decisão interlocutória de fazer, não fazer ou dar coisa certa.
Por trás deste tipo de execução, está, fundamentalmente, a efetividade do processo.
O juízo deve dar ao credor tudo, e exatamente, aquilo que ele deveria receber se o devedor
houvesse cumprido a obrigação espontaneamente. Nas obrigações de fazer, não fazer ou dar
coisa, é esta obrigação que deve tentar ser entregue pelo juízo, e não algo alternativo. A
entrega da obrigação específica é o desfecho ideal de todo processo; a conversão em perdas
e danos deve ser tida por ultima ratio.
Em 1994, o artigo 461 do CPC entrou em vigor, sendo muito festejado ante seu
escopo promotor da tutela específica da obrigação, especialmente por força do § 5° deste
artigo. Veja:
“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o
pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 1° A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou
se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 2° A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art. 287).
(Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada
ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. (Incluído pela Lei nº
8.952, de 13.12.1994)
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou
compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do
preceito. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 5° Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de
atividade nociva, se necessário com requisição de força policial. (Redação dada
pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
§ 6° O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso
verifique que se tornou insuficiente ou excessiva. (Incluído pela Lei nº 10.444, de
7.5.2002)”
Se a conversão em perdas e danos vier a ser procedida, porém, a execução da
sentença seguirá o rito do cumprimento de sentença, na forma do famigerado já bem
abordado artigo 475-J do CPC, e seguintes, porque passará a ser uma execução para entrega
de dinheiro, que é ali regulada.
A sentença condenatória em obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa é o
pressuposto lógico da execução desta espécie. A natureza desta decisão depende da
classificação que se adote: se for adotada a classificação trinária, trata-se de sentença
condenatória, por óbvio; se se adotar a classificação quinária, esta sentença é executória
lato sensu, pois define o objeto da obrigação, o prazo para o seu cumprimento, e a sanção
aplicável em caso de descumprimento.
“Art. 635. Prestado o fato, o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 (dez) dias; não
havendo impugnação, dará por cumprida a obrigação; em caso contrário, decidirá a
impugnação.”
1.1. Astreintes
Astreintes não é sinônimo de multa diária. A periodicidade das astreintes pode ser
livremente estabelecida pelo juízo, de acordo com a necessidade, e não apenas diária. Nada
impede, por exemplo, que uma astreintes seja fixada em periodicidade de horas, ou até
mesmo de minutos, se o caso demandar urgência tal que indique esta necessidade.
A incidência e a exigibilidade das astreintes é ponto um tanto controvertido.
Vejamos um exemplo: se o juiz profere sentença, da qual há apelação no duplo efeito,
enquanto pender o julgamento do recurso a sentença não tem eficácia, não podendo as
astreintes ali cominadas serem exigidas. O prazo para cumprimento da obrigação, como
visto, só pode ser contado quando não estiver suspensa a eficácia da decisão, e se o credor
promover a intimação pessoal do devedor para cumprimento. Somente após o prazo
determinado na decisão exequível é que as astreintes começam a incidir.
A multa será exigível, será executável, desde quando o credor quiser, a partir da
incidência: nada impede que o credor venha a executar provisoriamente a multa que tenha
incidido pelo descumprimento da decisão, quando bem entender, se ocorreu a incidência
(ou seja, se a sentença não estiver com a eficácia cumprida). É claro que, enquanto a
sentença estiver sem eficácia (na pendência de apelo com efeito suspensivo, por exemplo),
a multa não incide, e não há o que se executar provisoriamente.
Pode o credor, também, preferir aguardar o trânsito em julgado da sentença, mas
não é necessário este aguardo, se a multa incidiu.
Tendo sido iniciada a execução provisória da multa, se a sentença for modificada,
esta multa perde sua causa jurídica. Tendo o executado padecido de prejuízos com a
execução provisória, estes serão suportados, agora, pelo exequente derrotado.
A incidência das astreintes, é claro, só ocorre até o cumprimento da obrigação pelo
devedor. Uma vez cumprida, cessa a incidência das astreintes.
O § 2° do artigo 461 do CPC, supra, fala que a multa não se confunde com as
perdas e danos eventualmente percebidas. Isto significa que, em casos concretos, em que a
incidência da multa por longo período não tem o efeito coativo esperado, o juiz converte a
obrigação em perdas e danos, não suprimindo a multa até então incidida. Destarte, o credor
que tem a obrigação específica frustrada terá agora a seu dispor o valor em que esta foi
convertida, e o valor acumulado das astreintes que incidiram até o momento da conversão,
podendo executar ambos. Uma verba não se confunde ou se substitui à outra.
As astreintes podem ser fixadas de ofício pelo juízo, como autoriza o § 4°do artigo
em comento, sem que isto viole a inércia ou a congruência.
Não se pode confundir as astreintes com a cláusula penal de obrigações, o que
significa que não há, aqui, a limitação das astreintes ao valor teto da obrigação principal,
como o há na cláusula penal.
O § 6° do artigo 461 do CPC é altamente relevante: segundo este dispositivo, pode
o juiz alterar o valor da multa, enquanto ela incide; ou reduzir o valor global alcançado pela
incidência, quando este se demonstrar excessivo. Em outras palavras: as astreintes não
fazem coisa julgada, nem mesmo formal.
juiz para, diante da casuística, decidir qual será a melhor medida coercitiva a ser empregada
para obter a tutela específica ou resultado equivalente.
Esta obtenção de “resultado prático equivalente” a que alude o dispositivo é uma
fantástica inovação. Trata-se de uma providência intermediária entre a tutela específica,
resultado prioritário, e a conversão em perdas e danos, ultima ratio. Exemplo desta medida
seria, em uma obrigação de reparar uma determinado bem, se negando o devedor a fazê-lo,
o juiz determinar que outra pessoa o faça, à custa do devedor.
Ao optar por uma ou outra medida, o juiz deverá estar atento à sua efetividade, mas
também à menor gravosidade para o devedor. Há que se observar uma gradação nas
medidas, da mais branda (porém ainda efetiva) à mais severa.
Dentre estas medidas, uma que gera enorme polêmica é a prisão do devedor
descumpridor da decisão judicial. Há autores que defendem, como Marinoni, se tratar de
prisão civil admissível, mas é posição tremendamente incoerente, permissa venia, porque a
CRFB fala expressamente em vedação à prisão por dívida, o que seria, para este autor,
débito pecuniário, e não débito em obrigações de fazer, não fazer ou dar.
Outros autores defendem que esta prisão é possível, e tem mesmo natureza civil,
mas ao argumento de que pesa mais, na ponderação dos valores, a segurança das
obrigações, a efetividade das decisões judiciais, do que a vedação à prisão civil por dívida.
É claro que a posição destes autores não pode prevalecer, e a prisão por
descumprimento de decisão judicial não pode ter natureza civil. Contudo, a discussão é
mais interessante quando se fala que o descumprimento da decisão poderia ensejar
cometimento do crime de desobediência, do artigo 330 do CP, ensejando a prisão em
flagrante (prisão-condução, porque o auto de prisão em flagrante não pode ser lavrado,
dada a pena de pequena monta deste crime):
“Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.”
Não tendo sido obtida a tutela específica, tampouco sendo possível o resultado
prático equivalente, será convertida a obrigação em perdas e danos.
Esta conversão se opera por meio de uma liquidação incidental, dedicada a apurar o
valor pecuniário equivalente à prestação específica que não pôde ser obtida. Nesta
liquidação, as partes podem se manifestar, concordando ou discordando do valor ali obtido.
Alcançando um valor final, a execução prosseguirá pela forma padrão de execução
de título judicial de obrigação de pagar quantia certa: seguirá o rito do artigo 475-J do CPC,
desde então.
Por força do artigo 644 do CPC, as regras aplicadas à execução de fazer, não fazer
ou dar coisa, baseadas em título executivo extrajudicial, se aplicam subsidiariamente às
disposições do artigos 461 e 461-A do CPC, ou seja, a execução destas obrigações calcadas
em título judicial. Esta regra não é uma via de mão dupla: o contrário não procede, ou seja,
a execução de título extrajudicial, nestes casos, não sofre aplicação dos artigos 461 e 461-A
do CPC. Veja:
“Art. 632. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o devedor será
citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe assinar, se outro não estiver
determinado no título executivo. (Redação dada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)”
Mesmo que neste artigo não venha cominada a medida coercitiva de que pode se
valer o juiz, este poderá cominar, a seu critério, aquilo que entender devido e necessário,
como autoriza o artigo 645 do CPC:
Assim, o devedor será citado para cumprir a obrigação titulada, no prazo previsto no
título ou que o juiz fixar, sob pena de multa diária.
O artigo 633 do CPC dispõem que:
“Art. 633. Se, no prazo fixado, o devedor não satisfizer a obrigação, é lícito ao
credor, nos próprios autos do processo, requerer que ela seja executada à custa do
devedor, ou haver perdas e danos; caso em que ela se converte em indenização.
Parágrafo único. O valor das perdas e danos será apurado em liquidação, seguindo-
se a execução para cobrança de quantia certa.”
“Art. 634. Se o fato puder ser prestado por terceiro, é lícito ao juiz, a requerimento
do exeqüente, decidir que aquele o realize à custa do executado. (Redação dada
pela Lei nº 11.382, de 2006).
Parágrafo único. O exeqüente adiantará as quantias previstas na proposta que,
ouvidas as partes, o juiz houver aprovado. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de
2006).”
O sistema traçado nestes artigos, em suma, dispõe que se o executado não cumpre a
obrigação, ou o credor poderá pedir a conversão da obrigação em indenização por perdas e
danos, prosseguindo na forma da execução para recebimento de quantia certa, do artigo
475-J e seguintes do CPC; ou requerer que a obrigação seja cumprida, na espécie, por um
terceiro, à custa do devedor. É claro que somente poderá ser feita esta última opção se a
obrigação puder ser cumprida por terceiros, pois se for infungível, não há quem possa
cumprir, senão o próprio devedor.
Feita a segunda opção, o exequente adiantará ao terceiro o pagamento do terceiro
que cumprirá a obrigação, e, a posteriori, receber do devedor a quantia aprovada pelo juízo.
A aprovação pelo juiz ocorrerá após a colheita de três orçamentos e a oitiva das
partes sobre a proposta. É claro que a conversão direta em perdas e danos é muito mais
lógica, quando cominada multa e o devedor não cumprir a obrigação.
Os artigos 635 e 636 do CPC dispõem:
“Art. 635. Prestado o fato, o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 (dez) dias; não
havendo impugnação, dará por cumprida a obrigação; em caso contrário, decidirá a
impugnação.”
“Art. 637. Se o credor quiser executar, ou mandar executar, sob sua direção e
vigilância, as obras e trabalhos necessários à prestação do fato, terá preferência, em
igualdade de condições de oferta, ao terceiro.”
Assim, se o credor quiser, ele próprio pode, por mão própria, executar o fato, e será
remunerado pelo devedor como se no mercado estivesse atuando. É algo pouco factível,
mas a lei o faculta.
O artigo 638 do CPC é praticamente inútil, porque simplesmente menciona aquilo
que já é a regra geral:
“Art. 638. Nas obrigações de fazer, quando for convencionado que o devedor a
faça pessoalmente, o credor poderá requerer ao juiz que Ihe assine prazo para
cumpri-la.
Parágrafo único. Havendo recusa ou mora do devedor, a obrigação pessoal do
devedor converter-se-á em perdas e danos, aplicando-se outrossim o disposto no
art. 633.”
Como se vê, as medidas traçadas para este rito de execução, de título extrajudicial
para cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, são muito ineficazes. Por isso,
questionar-se-ia se não seria dado ao credor optar pelo rito do cumprimento de sentença,
ajuizando uma ação de conhecimento para ao final obter o título judicial e passar à fase
executória sincrética, muito mais favorável ante as novéis previsões do § 5° do artigo 461
do CPC.
Parte da doutrina entende, ao tratar do tema de forma genérica, que não há interesse
de agir na propositura da ação de conhecimento quando há título executivo, eis que a via
executória já é de plano acessível – é a corrente majoritária. Outra parcela diz que, qualquer
que seja o título executivo extrajudicial, o ajuizamento da ação de cognição é possível por
conta da eventual dúvida que o credor tenha se este preenche ou não os requisitos da
exequibilidade, dúvida que o propugna à via cognitiva para que não se exponha ao risco da
sucumbência na execução – havendo utilidade, portanto.
Contudo, esta discussão sobre o interesse refoge um pouco ao caso em debate,
porque neste, mesmo para aqueles que pensam que não há interesse judicial, pode haver
interesse na via cognitiva mesmo sem dúvidas quanto à exequibilidade do título: o credor
“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o
pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
(...)
§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de
atividade nociva, se necessário com requisição de força policial. (Redação dada
pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
(...)”
É claro que, para que este dispositivo supra seja aplicável à execução do título
extrajudicial de obrigação de fazer ou não fazer, é preciso que se compreenda e demonstre
que haja inconstitucionalidade na sua não aplicação, porque é dispositivo alheio ao rito. E
esta inconstitucionalidade se baseia na impossibilidade de se cogitar de um rito inútil, como
ocorre com esta execução.
Para as obrigações de não fazer, os artigos 642 e 643 do CPC prevêem o seguinte:
“Art. 642. Se o devedor praticou o ato, a cuja abstenção estava obrigado pela lei ou
pelo contrato, o credor requererá ao juiz que lhe assine prazo para desfazê-lo.”
“Art. 643. Havendo recusa ou mora do devedor, o credor requererá ao juiz que
mande desfazer o ato à sua custa, respondendo o devedor por perdas e danos.
Parágrafo único. Não sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação resolve-se em
perdas e danos.”
É preciso atentar para a diferença que há entre obrigações de não fazer instantâneas
e permanentes. Estas últimas são aquelas que se protraem no tempo, e que podem ter sua
continuidade desfeita: a proibição de que uma fábrica emita gases tóxicos, por exemplo,
que se descumprida permite que o descumprimento seja obstado pelo juízo. As
instantâneas, de outro lado, são aquelas que não podem ser desfeitas: uma vez realizadas,
não há como desfazer seus efeitos – tornando inaplicável o artigo 642 do CPC, portanto,
convertendo-se em perdas e danos.
“Art. 622. O devedor poderá depositar a coisa, em vez de entregá-la, quando quiser
opor embargos. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)”
“Art. 625. Não sendo a coisa entregue ou depositada, nem admitidos embargos
suspensivos da execução, expedir-se-á, em favor do credor, mandado de imissão na
posse ou de busca e apreensão, conforme se tratar de imóvel ou de móvel.(Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)”
A voz do terceiro, nesse caso, dependeria do depósito da coisa. Vindo esta ao juízo,
poderá, então, opor embargos de terceiro (admitindo-se, pela fungibilidade, também os
embargos do devedor opostos por este terceiro). É claro que, da mesma forma que ao
devedor é facultado se defender sem o depósito ou a penhora, ao terceiro deve ser estendido
o mesmo raciocínio: também ele não poderá ser impedido de embargar pela necessidade da
garantia do juízo, ou seja, pode embargar sem pagar ou depositar a coisa, este depósito
tendo apenas o efeito suspensivo da execução, tal como o é para o devedor.
O artigo 627 do CPC traz uma condição importante:
“Art. 627. O credor tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa,
quando esta não lhe for entregue, se deteriorou, não for encontrada ou não for
reclamada do poder de terceiro adquirente.
§ 1° Não constando do título o valor da coisa, ou sendo impossível a sua avaliação,
o exeqüente far-lhe-á a estimativa, sujeitando-se ao arbitramento judicial. (Redação
dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
§ 2° Serão apurados em liquidação o valor da coisa e os prejuízos. (Redação dada
pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)”
O caput deixa entrever que a conversão em perdas e danos é ultima ratio: se a coisa
for depositada, não há possibilidade de o credor converter a obrigação em perdas e danos.
Esta é a posição dominante. Contudo, há corrente que defende que não há esta condição,
podendo a conversão ser realizada a critério do credor.
O artigo 628 do CPC, bem literal, trata do direito de retenção:
“Art. 628. Havendo benfeitorias indenizáveis feitas na coisa pelo devedor ou por
terceiros, de cujo poder ela houver sido tirada, a liquidação prévia é obrigatória. Se
houver saldo em favor do devedor, o credor o depositará ao requerer a entrega da
coisa; se houver saldo em favor do credor, este poderá cobrá-lo nos autos do
mesmo processo.”
“Art. 629. Quando a execução recair sobre coisas determinadas pelo gênero e
quantidade, o devedor será citado para entregá-las individualizadas, se lhe couber a
escolha; mas se essa couber ao credor, este a indicará na petição inicial.”
Casos Concretos
Questão 1
Tício obteve sentença condenando o réu a não realizar determinada conduta, sob
pena de multa diária de mil reais. Transitada em julgado a sentença, o perdedor não se
absteve da conduta proibida. Tício ingressa em juízo dois meses após o trânsito em julgado
da decisão, cobrando a multa acumulada até aquela data. No momento oportuno, o
executado se defende alegando que não fora citado no processo executório, sendo assim, a
multa não estava incidindo. Argüiu, ainda, o excesso do valor cobrado, considerando que
o negócio jurídico do qual redundou o processo possui expressão patrimonial em torno de
vinte mil reais. Decida a controvérsia.
Resposta à Questão 1
Não há que se falar em citação, neste ponto, eis que o processo é sincrético. A
intimação, contudo, deve ser feita, sob pena de nulidade.
Quanto ao argumento de excesso, o valor das astreintes não está limitado ao
patamar da obrigação principal, pelo que é igualmente insípida a alegação.
Por tudo, o devedor não tem qualquer razão.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3