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Rodrigo Cesar Medeiros Bertoldo

O PECADO PARA A MORTE


E O PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO

Apresentação de projeto de pesquisa ao Instituto


Teológico Missionário, da disciplina Hamartiologia, como
requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em
teologia, sob a orientação do professor Éber.

Rio de Janeiro, 2018


PECADO PARA A MORTE

Sabe-se que o pecado cometido por Adão foi um pecado para a morte, pois Deus já o havia
alertado sobre as consequências de sua desobediência:

“mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela
comeres, certamente morrerás”. (Gn 2.16 grifo meu). Romanos 5.12,18 destaca que a morte passou
para todos os homens, e todos, a partir de então, foram passíveis de condenação. Por isso, João
Batista promulgou a solução para toda humanidade, apontando para a solução desse problema:

“...Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Jo 1.29.

Interessante notar que o verbo “tirar” (αίρω) se encontra no particípio presente ativo, que
equivale dizer que, naquele momento presente, Jesus já estava ativamente cumprindo o plano da
salvação, trazendo esperança para a humanidade condenada pelo pecado de Adão. No texto correlato
de 1 Jo 3.5, fica ainda mais evidente a verdade de sua missão:

“Sabeis também que Ele se manifestou para tirar os pecados, e nEle não existe pecado”.
Agora João utiliza o mesmo verbo, airo, no subjuntivo aoristo ativo, que sugere uma ação que
contrasta a afirmação de João Batista no sentido de que toda vez que pecarmos, seu perdão nos
alcança ao confessarmos a transgressão e a deixarmos. Essa é uma verdade evidenciada em todo a
epístola. Ou seja, enquanto no Evangelho se fala do pecado que separava o mundo de Deus, na
epístola se fala sobre os pecados individuais cometidos por aqueles que já estão em Cristo.

Sabemos que foi por meio do sacrifício de Cristo que fomos justificados e livrados da morte
eterna (Rm 5.1-10), mas ainda assim, a Bíblia aponta pecados que, quando cometidos, são para a
morte.

No texto clássico de 1 Jo 5.16 alguns teólogos associam o “pecado para a morte” com o
pecado contra o Espírito Santo, porém outros tentam polarizar o significado através de uma
interpretação que diferencia o agente infrator. Sobre isso, Severino Pedro destaca:

Alguns teólogos procuram desassociar o pecado que é para a morte daquele que é
classificado com blasfêmia contra o Espírito Santo. Segundo esta maneira de
interpretar o texto que aqui está em foco, o pecado para a morte é praticado por
alguém que é ‘irmão’ (isto é, um cristão). Enquanto que a blasfêmia contra o Espírito
Santo, somente será praticado por um pecador. Em 1 João 5.16,17 parece que o
pecado para a morte está ligado à apostasia. Ali diz que “Há pecado para morte, e
por esse não digo que ore”. Depois, o apóstolo acrescenta: “Há pecado que não é
para morte”. Alguns estudiosos das Escrituras sustentam que ‘esse pecado para
morte’ que aqui está em foco, é a blasfêmia contra o Espírito Santo, manifestado em
forma de apostasia, em razão do termo ‘irmão’ (se alguém vir pecar seu irmão),
encontra-se inserido na frase.1

Ao olharmos o panorama de toda a perícope, podemos enxergar, exegeticamente, o que


significa o dito pecado. No seu contexto imediato, João fala de doutrinas que fundamentam a fé
cristã: Jesus como Filho de Deus (v. 5); a humanidade de Cristo e o ministério do Espírito Santo (v.
6); a tri-unidade de Deus (v. 7); a salvação através de Jesus (v.11-13) etc. Todo esse bojo teológico
culmina no versículo supracitado sobre “o pecado para a morte”, sugerindo que, ao se negar todas
essas verdades doutrinárias, estaria se cometendo o pecado aludido. Esse pensamento se reforça nos
versículos posteriores, quando o escritor cita que o nascido de Deus conhece O que é Verdadeiro,
referindo-se a Cristo. Na verdade, toda a epístola amarra-se na antítese entre os que guardam e
praticam o genuíno evangelho com aqueles que vão na contramão da Palavra de Deus.

Em suma, o “pecado para a morte” é negar as verdades fundamentais da ortodoxia cristã.

PECADO OU BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO

Este não é o único pecado possível contra o Espírito Santo, mas, com certeza, é o mais grave.
A Bíblia fala em resistir ao Espírito Santo (At 7.51); em mentir para o Espírito Santo (At 5.3); e em
entristecer o Espírito Santo (Ef 4.30). Em nenhum desses casos, porém, se fala tão severamente como
no caso da referência à blasfêmia contra o Espírito Santo, onde se diz que não há perdão.

A palavra blasphemeo é usada 56 vezes no Novo Testamento como verbo, adjetivo e


substantivo. As ideias envolvidas nesta palavra, de acordo com a mentalidade judaica, era cometer
uma ofensa séria, porquanto negava ou tratava levianamente a soberania de Deus, bem como a
dignidade do homem como criatura de Deus. O objetivo daquele que profere blasfêmia é odiar, ferir,
prejudicar, aniquilar, menosprezar, desdenhar, detestar, abominar, difamar, caluniar, amaldiçoar,
espoliar, arruinar, demolir, repugnar, ridicularizar, implicar, provocar, caçoar, humilhar, envergonhar,
criticar, cortar, contrariar, banir, surrar, intimidar, esmagar, imprensar. No grego, “blasfêmia”
significa “dizer coisas abusivas”, e indica algo declarado contra o que pertence a Deus. Às vezes
significa “difamação” e “calúnia”.

1
PEDRO, Severino. A Doutrina do Pecado. Rio de Janeiro. CPAD: 2012. p. 227.
Jesus mostrou que a blasfêmia contra o Espírito Santo ultrapassa os limites da redenção:

“Portanto, eu vos digo: todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia
contra o Espírito Santo não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o
Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será
perdoado, nem neste século nem no futuro” (Mt 12.31,32).

Para entendermos o que Jesus quis dizer com “blasfemar contra o Espírito Santo”, é
importante conhecer o contexto em que Ele usou essa expressão. Jesus havia expulsado demônios de
um homem e os fariseus atribuíram este poder a Satanás. Mas, a verdadeira fonte do seu poder era o
Espírito Santo. Os fariseus, portanto, conheciam a vida de Jesus e sabiam que o poder que em Cristo
operava era o poder de Deus. A inveja os impedia de admitir tal coisa diante do povo.

Já haviam feito muitas acusações contra Jesus, mas, aqui, se tratava de falar contra a origem
do poder dele. Sendo a origem o Espírito, os fariseus cometiam uma blasfêmia ao dizer que se tratava
do príncipe dos demônios. Para esta atitude, não haveria perdão, de forma alguma.

E nessa perícope, “blasfêmia” reveste-se de um sentido sombrio e tenebroso. O texto não


alude a um pecado em particular, mas a um ato ou atos definidos que determinam um estado
pecaminoso, uma oposição determinada e voluntária contra a força e obra do Espírito Santo. Neste
caso, o pecado consiste em duas maneiras:

 Resistir deliberadamente toda e qualquer operação do Espírito Santo;

 Atribuir às forças do mal aquilo que está sendo realizado pelo Espírito de Deus;

De acordo com a advertência de Jesus aos fariseus, blasfemar contra o Espírito Santo é um
pecado imperdoável. Essa blasfêmia era mais do que uma incredulidade ignorante: era uma aberta e
consciente oposição a Deus e a tudo que é de Deus. Em sua conduta pecaminosa os fariseus não
reconheceram a atuação do Espírito Santo nas obras de Jesus. O Senhor havia demonstrado a seus
opositores que tanto a razão quanto a instrução religiosa que haviam recebido não deixavam dúvidas
de que o Espírito Santo operava nEle. Mas, em seu ódio contra Jesus, os fariseus optaram por não
aceitar a evidência dada por Deus.

Portanto, o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo, não se refere a um ato isolado em
que alguém fale ou realize impensadamente. Na declaração de Estevão em At 7.51, onde chama
aqueles ouvintes de “homens de dura cerviz”, elucida que o pecado mais comum em que uma pessoa
sem Deus pode cometer contra o Espírito Santo é resisti-lo. Nesse caso, não é tão somente as
palavras, mas uma mente endurecida que resiste qualquer operação miraculosa da parte de Deus.
Trata-se, portanto, de um pecado praticado apenas pelo não convertido. Pode assumir a forma de
desdém (At 17.32); de adiamento (At 24.25); de ridicularização (At 17.32), ou de oposição agressiva
(At 5.33-40).

Por fim, pecar contra o Espírito Santo é ficar sem o Intercessor. Quando o homem peca contra
Deus, Jesus intercede por ele junto ao Pai:

“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de
todo o mundo” (1 Jo 2.1,2).

Na posição de Sumo Sacerdote, Jesus intercede perante Deus pelos “transgressores” e pelos
“santos” (Is 53.12; Hb 7.25).

Pecando o homem contra Jesus, o Espírito Santo intercede por ele junto ao Filho de Deus (Jo
16.8; Rm 8.26).

Pecando o homem contra o Espírito Santo quem intercederá por ele? Ninguém! Eis aí a razão
por que tal criatura se toma ré de juízo eterno.

Um pensamento geral é que este pecado de blasfêmia ofende a sensibilidade de Deus. A


interpretação verdadeira, por conseguinte, é que o pecado imperdoável não pode ser perdoado
durante a vida física, na terra, e nem na vida de além-túmulo. “...Se alguém falar contra o Espírito
Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” (Mt 12.32b). Diante do Juízo Final,
aquele que pecou contra o Espírito Santo não terá direito ao perdão, visto que ele será julgado por
suas palavras proferidas contra Deus (Jd v. 15).

BIBLIOGRAFIA

PEDRO, Severino. A Doutrina do Pecado. Rio de Janeiro. CPAD: 2012.


FRIBERG, Barbara e Timothy. O Novo Testamento grego analítico. São Paulo. Vida Nova:
1987.

VÁRIOS. Enciclopédia Estudos de Teologia. Minas Gerais. Semeie: 2013.

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