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O que é uma prova de Atualidades?
Corriqueiramente, concurseiros dos mais diversos níveis se deparam com essa pergunta e a
resposta não é tão óbvia quanto parece ser. A origem dessa confusão começa no conteúdo
dos próprios programas de provas das diferentes instituições organizadoras. As bancas
organizadoras possuem diferentes compreensões sobre o que vem a ser uma prova de
Atualidades. Portanto, a aprovação na prova de Atualidades começa por uma leitura atenta do
edital de prova e do seu conteúdo programático.
Apesar das dificuldades e das desconfianças que se possa ter com relação a este conteúdo
existem alguns terrenos seguros nos quais podemos nos debruçar. Para desvendar esses
“nós” devemos definir algumas prioridades. Inicialmente, é possível entender atualidades
como o domínio global de tópicos atuais e relevantes. Nesse sentido, domínio global significa
saber situar e se situar frente aos temas, algo diferente de “colecionar” e “decorar” fatos da
atualidade. A relevância de tais tópicos se dá em função da “agenda” de debates do momento
e do conteúdo programático do concurso que se vai realizar. Ou seja, nem tudo interessa para
uma prova de Atualidades.
Numa prova séria e bem feita de Atualidades (e pasmem elas existem!), o mundo das
celebridades, o vai e vem do mercado futebolístico, o cotidiano do noticiário policial, etc.,
têm pouco valor como conteúdo de prova. Assim, os fatos só passam a ser conteúdos de
prova quando possuem valor histórico, sociológico, e político para compreensão da realidade
presente e dos seus principais desafios.
Dessa forma, o conteúdo de prova refere-se as “atualidades” e seus fatos através de um
desencadeamento global de conhecimentos e noções que se relacionam ao contexto nacional
e ao internacional. Portanto, tal conteúdo tem como característica fundamental a interpretação
do fenômeno histórico político e social a partir de seus diferentes tópicos: política econômica;
política ambiental; política internacional; política educacional; política tecnológica; políticas
públicas; política energética; política governamental; aspectos da sociedade; bem como o
desencadeamento de relações entre esses conteúdos e os fatos da atualidade.
Desde já, chama-se a atenção para o fato de que o conteúdo de Atualidades é muito diferente
de outros conteúdos. Não existem fórmulas, macetes, atalhos, “musiquinhas”, ou qualquer
outro estratagema capaz de preparar um aluno para tal empreitada. O que existe é interesse
e leitura. O que esse material oferece então é o direcionamento para a prova. As chaves de
interpretação, modos de pensar e de relacionar os conteúdos serão fornecidos em aula. Assim,
colocamos à disposição textos e comentários para informação e reflexão prévia sobre os
principais tópicos de Atualidades.
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Por que estudar Atualidades?
Para além da resposta óbvia: – para passar no concurso! O conteúdo de atualidades é hoje um
diferencial em tempos de concursos tão disputados, pois as médias de acertos são elevadas
nas matérias mais tradicionais, como Português, Direitos, etc., os acertos no conteúdo de
Atualidades podem lançar o candidato posições à frente. Esse argumento ganha maior peso
porque a maioria dos concurseiros não sabe o que estudar e nem como estudar.
Para além desse fato, saber refletir sobre atualidades é um ato de conscientização política e
social, engajamento, e cidadania, por isso muitos concursos públicos exigem esse conhecimento
de forma orientada.
Dessa forma, pergunto aos concursandos: Por que não estudar atualidades?
Bons estudos!
Cássio Albernaz
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EDITAL
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Atualidades
Clipping de Notícias:
Clipping é a seleção de notícias e artigos retirados de jornais, revistas, sites e demais veículos de
imprensa, como forma de reunir um conjunto de notícias a respeito de determinados assuntos.
A clipagem visa estabelecer uma lista de temas de interesse e seus respectivos conteúdos que
estão sendo publicados na imprensa.
Portanto, o clipping presta um serviço de pesquisa e organização de notícias a serem utilizadas
por assessores de imprensa, políticos, empresários, celebridades, estudantes, e a interesses
diversos, como nesse caso específico para organizar tópicos de estudos para concursos púbicos
relativos ao conteúdo de Atualidades.
Política Nacional
Depois de quase dois anos e 11 sessões de julgamento, a Lei da Ficha Limpa foi considerada
constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e será aplicada integralmente já nas eleições
deste ano. Pela decisão, a lei de iniciativa popular atingirá também atos e crimes praticados
antes da sanção da norma, em 2010.
A partir das eleições de 2012, não poderão se candidatar políticos condenados por órgãos
judiciais colegiados por crimes como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e contra o
patrimônio público, improbidade administrativa, corrupção eleitoral ou compra de voto, entre
outros, mesmo que ainda possam recorrer da condenação.
Também estarão impedidos de disputar as eleições aqueles que renunciaram aos mandatos
para fugir de processos de cassação por quebra de decoro, como fizeram, por exemplo, Joaquim
Roriz (PSC-DF), Paulo Rocha (PT-PA), Jader Barbalho (PMDB-PA) e Valdemar Costa Neto (PR-SP).
Detentores de cargos na administração pública condenados por órgão colegiado em processos
de abuso de poder político ou econômico, ou que tiverem suas contas rejeitadas, também
serão barrados.
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Pelo texto da lei aprovado pelo Congresso e mantido pelo STF, aqueles que forem condenados
por órgãos colegiados permanecem inelegíveis a partir dessa condenação até oito anos depois
do cumprimento da pena. Esse prazo, conforme os ministros, pode superar em vários anos o
que está previsto na lei.
Se um político for condenado a cinco anos de prisão por órgão colegiado, por exemplo, já estará
imediatamente inelegível e continuará assim mesmo se recorrer da sentença em liberdade, até
a decisão em última instância. Se o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmar a pena de cinco
anos, o político ficará inelegível durante o período de reclusão. Quando deixar a cadeia, terá
início o prazo de oito anos de inelegibilidade previsto pela Ficha Limpa.
Depurado. “Uma pessoa que desfila pela passarela quase inteira do Código Penal, ou da Lei de
Improbidade Administrativa, pode se apresentar como candidato?”, indagou o ministro Carlos
Ayres Britto. Ele explicou que a palavra candidato significa depurado, limpo. O ministro disse
que a Constituição tinha de ser dura no combate à improbidade porque o Brasil não tem uma
história boa nesse campo.
“A nossa tradição é péssima em matéria de respeito ao erário”, disse Ayres Britto. “Essa lei é
fruto do cansaço, da saturação do povo com os maus tratos infligidos à coisa pública.”
Por terem de analisar todos os artigos da lei, o julgamento teve diversos placares. Por 6 votos a
5, os ministros julgaram que a Ficha Limpa vale para fatos ocorridos antes da sanção da lei, em
2010. De acordo com Gilmar Mendes, julgar constitucional a lei para atingir casos já ocorridos
seria abrir uma porta para que o Congresso aprove legislações casuísticas para atingir pessoas
determinadas com base no que fizeram no passado. “Não há limites para esse modelo. Isso é
um convite para mais ações arbitrárias”, afirmou. Além dele, votaram contra a retroatividade os
ministros Celso de Mello, Marco Aurélio Mello e Cezar Peluso.
Por 7 votos a 4, o Supremo julgou constitucional barrar candidatos condenados por órgãos
colegiados. Gilmar Mendes, Celso de Mello, Dias Toffoli e Cezar Peluso consideram que, nesses
pontos, a Ficha Limpa viola o princípio da presunção da inocência, segundo o qual ninguém
será considerado culpado antes de condenação definitiva.
Por 6 votos a 5, os ministros julgaram não ser exagerado o prazo fixado na lei para que
permaneça inelegível o político condenado por órgão colegiado – oito anos a contar do fim
do cumprimento da pena. Cinco ministros defendiam que o prazo começasse a contar da
condenação pelo órgão colegiado. Assim, quando a pena fosse cumprida, o político poderia se
candidatar.
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BNB – Atualidades – Prof. Cássio Albernaz
Pela primeira vez na história, o Supremo julgou e condenou um senador. Ivo Cassol (PP-RO)
foi considerado culpado no crime de fraude a licitação e punido com 4,8 anos de prisão em
regime semiaberto. Mas, em vez de determinar a perda automática do cargo eletivo, como
fez no caso do mensalão, o tribunal reviu o entendimento e deixou para o Senado a decisão
de cassá-lo ou não. A mudança de posição do STF se deve à entrada em cena dos dois últimos
ministros nomeados por Dilma: Teori Zavascki e Roberto Barroso. Foi o voto dos dois que
fez o placar anterior, de 5 a 4, mudar para 6 a 4 (Luiz Fux não participou dessa decisão). A
expectativa é de que o novo entendimento interfira também no julgamento dos recursos dos
réus do mensalão.
O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou ontem, por 10 votos a zero, o senador Ivo Cassol
(PP-RO) a 4 anos, 8 meses e 26 dias de prisão em regime semiaberto e multa de R$ 201,8 mil pelo
crime de fraude em licitações. O delito foi cometido entre 1998 e 2002, quando o parlamentar
exercia o cargo de prefeito da cidade de Rolim de Moura, em Rondônia. O congressista ficará em
liberdade até o julgamento de eventuais recursos que poderá protocolar na própria Suprema
Corte. Os ministros definiram que caberá ao Senado deliberar sobre a perda do mandato de
Cassol, decisão que deve interferir no caso dos réus detentores de cargo eletivo condenados no
julgamento do mensalão.
Na Ação Penal 470, o STF havia determinado por cinco votos a quatro a perda do mandato
dos parlamentares condenados, cabendo ao Congresso apenas cumprir a ordem. No entanto,
diante da chegada de dois novos ministros à Corte, o entendimento acabou modificado ontem.
Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso consideram que cabe ao Legislativo definir se cassará ou
não o mandato do congressista. Ambos foram decisivos para a formação do placar de seis a
quatro — Luiz Fux, que é contrário a essa corrente, não participou do julgamento de Ivo Cassol,
pois já havia atuado no processo quando ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, alertou para a possibilidade de ocorrer a “incoerência”
de um parlamentar que perdeu os direitos políticos e condenado ao semiaberto — regime no
qual é permitido trabalhar durante o dia — exercer o mandato no Congresso até as 18h e depois
ter que se recolher no estabelecimento próprio para o cumprimento da pena. “Pune-se mais
gravemente quem exerce responsabilidade maior, essa deve ser a regra. Quanto mais elevada a
responsabilidade, maior deve ser a punição, e não o contrário”, afirmou Barbosa.
Luís Roberto Barroso ponderou, no entanto, que a Constituição é clara quanto à prerrogativa
exclusiva do Legislativo para decretar a perda do mandato de parlamentares. “Eu lamento que
tenha essa disposição, mas ela está aqui. Comungo da perplexidade de Vossa Excelência, mas a
Constituição não é o que eu quero, é o que eu posso fazer dela”, disse.
No julgamento, iniciado na quarta-feira e concluído ontem à noite, Ivo Cassol e os outros oito
réus do processo acabaram absolvidos da acusação de formação de quadrilha. Já por fraude,
além do senador foram condenados a 4 anos e 9 meses de prisão Salomão da Silveira e
Erodi Antonio Matt, que eram respectivamente presidente e vice-presidente da Comissão de
Licitações de Rolim de Moura.
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A sessão de ontem acabou presidida pelo vice-presidente Ricardo Lewandowski até a chegada,
já no fim da tarde, de Barbosa ao plenário. Ele acompanhou a maior parte do julgamento de
seu gabinete por ter sentido dores na coluna. O julgamento foi concluído menos de 10 dias
antes do prazo em que os crimes prescreveriam: 17 de agosto.
“Conluio”
De acordo com a denúncia do Ministério Público, o esquema criminoso consistia no
fracionamento ilegal de licitação de obras e serviços de modo que somente empresas
envolvidas no “conluio” disputavam o procedimento. Relatora do processo, a ministra Cármen
Lúcia destacou que houve a intenção de fraudar 12 licitações durante o período em que Cassol
comandou a Prefeitura de Rolim de Moura. O STF definiu que não houve formação de quadrilha,
uma vez que não se comprovou a reunião de mais de três acusados para a prática dos crimes.
“O fato é que houve direcionamento das empresas pelo município de Rolim de Moura”, frisou
o revisor da ação, Dias Toffoli. Ricardo Lewandowski acrescentou. “Ocorreu, a meu ver, um
conluio entre a administração do município e as empresas que participavam das licitações”,
afirmou.
Em nota, Ivo Cassol diz que continuará exercendo o mandato, que termina em 31 de janeiro
de 2019. “Sou inocente e vou recorrer em liberdade da sentença que fui condenado! Não
houve direcionamento às empresas beneficiadas e muito menos fracionamento dos processos
licitatórios conforme denúncia contra mim apresentada”, destacou o parlamentar, primeiro
senador condenado na história do STF.
Sob polêmica, Congresso promulga PEC que acaba com voto secreto para cassação
O Congresso promulgou no começo da tarde desta quinta-feira (28) a PEC (Proposta de Emenda
à Constituição) que acaba com o voto secreto nos processos de cassações de mandatos e em
votação de vetos presidenciais, mas a falta de clareza no texto da proposta pode evitar que
a medida seja de fato colocada em prática. Por se tratar de uma PEC, o texto não precisa ser
sancionado pela presidente da República e, após promulgado, já está em vigor.
Os presidentes da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-
AL), assinaram a emenda constitucional 76/2013 que "abole a votação secreta nos casos de
perda de mandato e de apreciação de veto presidencial", mas não prevê de forma expressa que
o voto terá de ser aberto.
Caso Donadon
Em 28 de outubro de 2013, em votação secreta, a Câmara manteve o mandato de
Natan Donadon (ex-PMDB-RO), condenado pelo Supremo. Com quórum de menos
de 410 deputados, 233 votaram a favor de sua cassação, 131 contra e houve 41
abstenções. Para cassá-lo, eram necessários 257 votos, o que representa a metade
do total de deputados mais um voto.
O caso Donadon foi o que inspirou a Câmara a votar a PEC do Voto Aberto, projeto
que foi ao Senado, que a aprovou em segundo turno.
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Henrique Alves lembrou que a PEC é uma resposta às reivindicações da população que foi
às ruas nos protestos do mês de junho deste ano. "Ao aprovar o voto aberto, o Congresso
caminha ao encontro dos legítimos anseios na nossa gente. Não há mais espaço na política para
o obscurantismo. Que cada um assuma suas posições legítimas e busque em cada eleição a
aprovação popular", declarou.
"O Brasil está mudando, e as instituições precisam acompanhar as mudanças sobre pena de
verem afetada a sua credibilidade", afirmou Renan Calheiros.
Ele explicou que a Constituição determina, como regra geral, o voto aberto no Legislativo, mas
prevê algumas exceções. "A intenção é garantir, em questões específicas, que ele [o parlamentar]
decida de acordo com sua consciência a salvo de pressões políticas e de governos", disse.
"Alguns votos secretos estão intrinsecamente associados às garantias de liberdade e da
democracia", acrescentou.
A PEC que havia sido aprovada por unanimidade na Câmara também previa a abertura do
voto para indicações de autoridades (como embaixadores e diretores de agências públicas) e
eleições das mesas diretoras das duas Casas, mas a maioria dos senadores rejeitou essa parte
do texto.
"Não houve vencedores ou derrotados na longa sessão de terça-feira. Gnahou o Brasil como
um todo. Avalio que o Parlamento passa por um histórico processo de amadurecimento, de
aproximação com a sociedade", disse Calheiros.
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Aprovação da PEC no Senado
Em uma sessão tumultada, o plenário do Senado aprovou com mudanças em segundo turno na
terça-feira a PEC que acaba com o voto secreto no Legislativo.
O texto-base da PEC, de autoria do ex-deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP), que a propôs em
2001, foi aprovado por 58 votos a favor, quatro votos contra e nenhuma abstenção. A matéria
estabelece que serão abertas as votações de cassações de mandatos parlamentares e de vetos
presidenciais.
A proposta de por fim ao voto secreto ganhou força no Congresso após a sessão em que a
Câmara, no final do mês de agosto deste ano, manteve o mandato do deputado Natan Donadon
(sem partido-RO), condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 13 anos de prisão por
peculato e formação de quadrilha. Na opinião de especialistas, o voto aberto poderia ter
evitado esse resultado.
Cassação de mensaleiros
Com a promulgação da PEC, quatro deputados condenados no julgamento do mensalão devem
ter os seus processos de cassação examinados em sessões abertas.
Foram condenados os deputados José Genoino (PT-SP), que ainda pode ser beneficiado por
um pedido de aposentadoria, Valdemar Costa Neto (PR-SP), Pedro Henry (PP-MT) e João Paulo
Cunha (PT-SP).
Na quarta-feira (27), o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
afirmou que, com a promulgação da PEC, o caminho para a abertura de processos de cassação
fica aberto e que a Mesa da Câmara vai discutir "caso a caso" o que ocorrerá com os quatro
deputados.
(Com informações da Agência Senado)
APOSTA NO PLEBISCITO
Autor(es): Luiza Damé
O Globo – 26/06/2013
Mudança de rumo. Dilma em reunião no Palácio do Planalto com o vice Temer, ministros e
representantes da OAB e do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral: presidente quer
plebiscito a tempo de mudanças valerem para 2014
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Da rua às urnas
Segundo o ministro, na reunião com o comando do Congresso, Henrique Alves disse que a
reação da Câmara foi contrária à Constituinte específica. Já Renan afirmou que o Senado
não colocou fortes resistências. O ministro disse que não houve recuo do governo, mas uma
constatação de que não haveria tempo hábil para convocar uma Assembleia Constituinte e
aprovar as mudanças políticas para as eleições de outubro de 2014.
– O instrumento que temos que viabiliza o entendimento é o plebiscito. O povo tem
consciência, sabe o que quer, sabe o que reformar. Esse é o recado das ruas, e as urnas vão
ter de se encontrar com as ruas. Para isso, temos de fazer a reforma política e não queremos
postergar essa agenda. A convergência possível é o plebiscito, que permite ao povo participar –
argumentou Mercadante.
A Constituinte específica, que foi anunciada pela presidente na reunião com governadores e
prefeitos das capitais, provocou um vai e vem no Planalto. Logo depois de se reunir com Dilma,
no fim da manhã de ontem, o presidente da OAB anunciou que ela havia recuado e abraçado a
proposta da OAB – que defende a realização da reforma política através de plebiscito.
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– O governo sai convencido de que uma proposta de Constituinte não é o mais adequado, que
atrasa o processo. O plebiscito deve ser convocado para que a população diga diretamente qual
reforma política ela quer – disse o presidente da ordem.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que participou da reunião com a OAB, acudiu para
desmentir a informação. O ministro afirmou que não houve recuo algum do governo. Segundo
Cardozo, Dilma apenas ouviu e gostou da proposta da OAB.
– Isso é inegavelmente algo interessante, que deve ser discutido. O governo não encampou nem
deixou de encampar. Apenas estou falando que é uma proposta interessante, que apresenta
uma solução que não necessitaria de mudança na Constituição – afirmou o ministro da Justiça.
Após a primeira entrevista, Cardozo voltou a falar com os jornalistas para insistir que não houve
recuo do governo. A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) também divulgou nota,
reforçando a posição do ministro.
– Eu respondi umas cinco vezes que não havia recuo. A ideia de um plebiscito é uma das
premissas fundamentais nossas. Não dá para dizer que eu disse que vamos recuar. Ao contrário,
estamos reafirmando a necessidade de um plebiscito. Nós achamos que a reforma política exige
um plebiscito. Isso está virando uma confusão. Em momento algum, eu disse que haveria recuo
no plebiscito. O que eu disse foi que a ordem apresentou uma proposta que se harmonizava
com as nossas premissas. E, portanto, passava a ser vista por nós como interessante, na medida
em que ela harmonizava e não exigia mudança constitucional. Também disse que não fechamos
em nenhuma proposta – afirmou o ministro.
Dilma fará mais consultas
Na nota, a Secom diz que a presidente recebeu a proposta da OAB e do Movimento de Combate
à Corrupção Eleitoral, considerou-a "uma importante contribuição", mas não tomou qualquer
decisão e deixou claro que ouvirá outras entidades sobre reforma política. No encontro,
segundo a Secom, a presidente "reiterou a relevância de uma ampla consulta popular por meio
de um plebiscito".
Tanto Cardozo como Mercadante disseram que a presidente não defendeu assembleia
constituinte, mas processo constituinte.
– A presidente ontem (anteontem) falou em processo constituinte específico. Ela não defendeu
uma tese. Há várias maneiras de se fazer um processo constituinte específico. Uma delas seria
uma assembleia constituinte específica, como muitos defendem. A outra forma seria, através
do plebiscito, colocar questões que balizassem o processo constituinte específico feito pelo
Congresso – argumentou Cardozo.
– Se formos fazer um procedimento que vai atrasar ainda mais o processo, não é prioridade.
Por isso, a presidente, em nenhum momento, falou de assembleia constituinte. Ela falou em
um plebiscito para instituir um processo constituinte específico para fins da reforma política.
Ou seja, foco – disse Aloizio Mercadante.
O governo fez um estudo sobre as possibilidades de reforma política e chegou a dois caminhos:
plebiscito deli berativo e assembleia constituinte reformadora. No plebiscito – que prevaleceu –
o eleitor vai responder a questões básicas sobre, por exemplo, lista aberta ou fechada; sistema
proporcional (que funciona hoje) ou majoritário (o chamado distritão); e financiamento público
ou financiamento privado ou financiamento público e de pessoa física com limite de doação
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para as campanhas. Na avaliação do Planalto, esses três pontos podem ser mudados por uma
consulta popular.
O plebiscito seria precedido de uma campanha didática da Justiça Eleitoral sobre cada um dos
temas abordados e organizaria a defesa partidária da consulta.
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"Foi por isso que a presidente falou em plebiscito popular, para que se estabeleça um processo
constituinte específico para a reforma política. Não vamos postergar esse processo. As urnas
vão ter de se encontrar com as ruas."
Mercadante disse que o governo vai consultar a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Carmen Lúcia, para definir qual o prazo limite paraa realização do plebiscito.
Para dar uma resposta rápida aos protestos de rua dos últimos dias – que puseram em xeque
o modo tradicional de fazer política – o que Dilma quer, agora, é abraçar uma causa popular,
como a do plebiscito. Na avaliação do Planalto, ao defender a consulta ao povo e empunhar
novamente a bandeira contra a corrupção Dilma pode se recuperar do desgaste político.
Críticas. A presidente deixou de lado a ideia da Constituinte exclusiva
diante das fortes reações contrárias no Congresso e após ouvir conselhos de Temer.
Parlamentares aliados e pe-tistas se queixaram de não terem sido ouvidos por Dilma antes
do lançamento da proposta. O maior receio dos parlamentares era que a convocação de uma
Constituinte nesse formato – composta por "notáveis" de fora do Congresso – reduzisse o
poder e ainfluênciados partidos, aprovando temas contrários a seus interesses.
"A Câmara não aceita reforma política via Constituinte específica", disse Alves a Dilma,
nanoite de ontem. "Nósnão podemos descambarpara as tentativas de suprimir a liberdade de
expressão", afirmou Renan.
Para Temer, a Constituinte é inviável por "razão singela". "Trata-se de algo que significao
rompimento da ordem jurídica, porque nunca será exclusiva e sempre abarcaráumaporção de
temas", advertiu o vice, professor de direito constitucional.
Mal-estar. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado
Coêlho, causou mal-estar no Planalto ao anunciar, após encontro com a presidente, que Dilma
desistira da proposta de Constituinte exclusiva. Coelho disse ajornalistas ter apresentado
à presidente um projeto de reforma que mexia em "pontos cruciais", sem necessidade de
reformar a Constituição.
Defensor da proposta de As-sembleiaConstituinte, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
passou o dia ontem dando entrevistas e argumentou que Dilma "não recuou" da propostade
Constituinte. A Presidência chegou até a divulgar nota após a reunião da OAB, dizendo que
não havia decisão tomada. "O fundamental é que o povo seja consultado neste processo",
disse Cardozo. Ele acrescentou que o governo analisava várias sugestões, inclusive a da OAB.
"A presidente falou de processo constituinte específico, não falou de Constituinte", justificou.
"Estamos reafirmando anecessidade de plebiscito."
GLOSSÁRIO
•• Constituinte
Uma Constituinte é convocada para redigir ou reformar a Constituição. Isso foi feito para
elaborar a Constituição de 1988, por exemplo. Não se prevê, no entanto, a convocação de
Constituinte específica para um único tema, como a proposta feita por Dilma em relação à
reforma política.
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•• Plebiscito
É uma consulta popular que ocorre por meio de votação secreta e direta com o objetivo de
criar uma lei. Cabe ao Congresso propor um plebiscito e a medida deve ser aprovada tanto na
Câmara quanto no Senado. Depois, o projeto é enviado ao Tribunal Superior Eleitoral, que irá
definir as regras da consulta.
•• Referendo
Segue a mesma lógica do plebiscito, mas tem o objetivo de aprovar ou rejeitar uma lei que já
foi criada.
Apoio da OAB
O presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coelho, sugeriu a Dilma, em reunião ontem,
3 perguntas para o plebiscito: sobre financiamento, modelo de eleição e uso da internet na
campanha.
A cartada de Dilma
O Globo – 25/06/2013
Numa tentativa de responder aos protestos nas ruas do país, a presidente Dilma Rousseff reuniu
ontem os 27 governadores e 26 prefeitos de capitais, no Palácio do Planalto, e propôs um pacto
nacional em torno de cinco pontos: responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, educação
e transporte público. A proposta mais polêmica, que causou reações no Congresso e no STF, é
a realização de um plebiscito para convocar uma Constituinte específica para fazer a reforma
política. Dilma também cobrou punição mais dura contra a corrupção, que seria transformada
em crime hediondo. Para ministros do Supremo Tribunal Federal e constitucionalistas, a ideia
de Constituinte específica para a reforma política é inconstitucional, pois, se ela fosse criada,
estariam abertas as portas para a mudança de toda a Constituição. Mesmo aliados do Planalto,
que não veem ilegalidade na proposta, argumentam que ela seria inadequada, por avançar em
atribuições dos parlamentares. O projeto do plebiscito será encaminhado ao Congresso neste
semestre, mas ainda será elaborado pelo Planalto, em parceria com governadores e prefeitos.
Com relação à mobilidade urbana, bandeira que desencadeou a onda de manifestações, Dilma
prometeu liberar R$ 50 bilhões para o setor de transportes e ampliar as desonerações da União
dos impostos sobre óleo diesel
Presidente propõe pacto nacional e plebiscito sobre Constituinte para reforma política
Catarina Alencastro
Luiza Damé
Na mira das ruas. Antonio Anastasia, Miriam Belchior, Eduardo Campos, Aloizio Mercadante,
Roseana Sarney, José Eduardo Cardozo e Jaques Wagner assistem a discurso de Dilma
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O BRASIL NAS RUAS
BRASÍLIA Para tentar dar uma resposta aos protestos que avançam pelo país, a presidente
Dilma Rousseff reuniu ontem os 27 governadores e 26 prefeitos de capitais, no Palácio do
Planalto, e propôs um pacto nacional em torno de cinco pontos que vêm sendo expostos pelas
manifestações de ruas. Os pactos são pela responsabilidade fiscal, pela reforma política, pela
saúde, pela educação e pelo transporte público, mas todas as propostas nessas áreas ainda
serão definidas em grupos de trabalho formados por representantes das três esferas de
governo. A principal proposta defendida pela presidente foi o debate sobre a realização de
plebiscito para convocar uma Constituinte específica para fazer a reforma política.
Proposta essa que provocou as mais fortes reações negativas tanto no mundo político como no
jurídico. Entre os políticos, a impressão majoritária, principalmente entre os da oposição, é que
essa é uma prerrogativa exclusiva do Congresso. Entre os juristas, o entendimento é de que não
se pode fazer uma Constituinte para discutir um único tema.
– Quero, neste momento, propor o debate sobre a convocação de um plebiscito popular que
autorize o funcionamento de um processo constituinte específico para fazer a reforma política
que o país tanto necessita. O Brasil está maduro para avançar e já deixou claro que não quer
ficar parado onde está – disse Dilma, na abertura da primeira reunião da presidente com os
27 governadores e 26 prefeitos de capital. Amanhã, Dilma recebe o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, seguindo o
roteiro de que vai conversar com todos os poderes.
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uma nova legislação que classifique a corrupção dolosa como equivalente a crime hediondo,
com penas severas, muito mais severas.
Com relação à mobilidade urbana, bandeira que desencadeou a onda de protestos pelo país,
Dilma prometeu ampliar as desonerações da União dos impostos PIS/Cofins para o diesel e
disse que investirá mais R$ 50 bilhões, dinheiro que virá do Tesouro Nacional, do Orçamento
da União e de financiamentos, em obras de mobilidade urbana, com prioridade para metrôs.
O ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, disse após a reunião que o governo vai acelerar a
aplicação de outros R$ 88,9 bilhões, já previstos no Orçamento da União, em obras urbanas.
Dilma quer ampliar a participação do povo nas decisões do setor, criando o Conselho Nacional
do Transporte Público, com votos da sociedade civil e de usuários de ônibus e metrôs.
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OS CINCO PACTOS PROPOSTOS POR DILMA
1º PACTO – Pela responsabilidade fiscal, para garantir estabilidade da economia e o controle da
inflação. Seria um pacto perene entre todos os entes da Federação.
2º PACTO – Construção de ampla e profunda reforma política, por meio de uma Constituinte
específica para fazer mudanças no sistema político. Combater a corrupção de forma mais
contundente e aprovar nova legislação para classificar o crime de corrupção como hediondo,
com penas mais severas.
3º PACTO – Pela saúde pública, com contratação de médicos estrangeiros como medida
emergencial; construção de novas unidades de saúde básica e abertura até 2017 de 11.447
novas vagas para graduação em Medicina e 12.376 vagas em residência.
4º PACTO – Mobilidade urbana e transporte. Ampliar as desonerações da União (Pis/Cofins)
para óleo diesel. Tem que ter a contrapartida dos estados e municípios. Promessa de mais R$
50 bilhões em investimentos para obras de mobilidade urbana, com prioridade para metrôs.
5º PACTO – Da educação pública, com investimentos na formação de educadores e mais escolas
da creche aos ensinos profissionalizante e superior. Aprovar 100% dos royalties do petróleo
e 50% dos roylaties do pré-sal para educação — dos recursos da União, dos estados e dos
municípios.
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incide sobre o óleo diesel usado pelos ônibus e sobre a energia elétrica utilizada pelos trens
e metrôs, com o objetivo de baratear as tarifas. A presidente informou também que decidiu
destinar mais R$ 50 bilhões para os investimentos em mobilidade urbana, mas não especificou
se serão mais financiamentos ou se haverá também recursos orçamentários.
Em sua apresentação inicial, Dilma disse que todos sabem que são incontáveis as dificuldades
para resolver os problemas que estão sendo apontados pela população que foi às ruas, nas
recentes manifestações por todo o país. "Eu mesmo tenho enfrentado, desde que assumi a
Presidência, inúmeras barreiras, mas a energia que vem das ruas é maior do que qualquer
obstáculo", afirmou. "As ruas estão nos dizendo que o país quer serviços públicos de qualidade,
quer mecanismos mais eficientes de combate à corrupção que assegurem o bom uso do
dinheiro público, quer uma representação política permeável à sociedade onde, como já disse
antes, o cidadão e não o poder econômico esteja em primeiro lugar", observou.
Para resolver os problemas apontados pela população, a presidente propôs aos governadores
e prefeitos cinco pactos. O primeiro deles é pela responsabilidade fiscal para garantir a
estabilidade da economia e o controle da inflação. Mas nem Dilma e nem os ministros que
falaram sobre a proposta após a reunião esclareceram em torno de que meta fiscal será definido
esse pacto. Atualmente, os mercados reclamam uma política fiscal menos expansionista, que
colabore com a política monetária do Banco Central no controle da inflação.
O segundo pacto proposto por Dilma diz respeito à construção de uma ampla e profunda
reforma política. A presidente lembrou que "esse tema já entrou e saiu da pauta do país por
várias vezes" e que "é necessário que nós tenhamos a iniciativa de romper o impasse". Para ela,
esse passo só poderá ser dado por meio de uma Constituinte específica. Para convocá-la, Dilma
propôs a realização de um plebiscito. "O Brasil está maduro para avançar e já deixou claro que
não quer ficar parado onde está."
Após a reunião, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, explicou que o plebiscito é
necessário porque será ele que "vai delegar o mandato popular" aos constituintes. Ele informou
que o governo encaminhará uma proposta de convocação do plebiscito ao Congresso Nacional
e que ele poderá ser realizado, por exemplo, no dia 7 de setembro ou 15 de novembro.
A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse que Dilma deverá fazer uma
reunião, ainda nesta semana, com os presidentes do Legislativo para discutir a questão. "Os
governadores e prefeitos concordaram com a presidente que a reforma política é fundamental
e é sobre isso que o governo vai conversar com o Poder Legislativo", afirmou. Deputados e
senadores querem incluir na Constituinte, também, a reforma tributária.
O pacto político prevê também a aprovação de uma lei que classifique a corrupção dolosa como
equivalente a crime hediondo, com penas muito mais severas.
O terceiro pacto é em torno da saúde. "Quero propor aos senhores e às senhoras acelerar os
investimentos já contratados em hospitais, UPAs e unidades básicas de saúde" disse Dilma. Ela
sugeriu ampliar também a adesão dos hospitais filantrópicos ao programa que troca dívidas por
mais atendimento e incentivar a ida de médicos para as cidades e regiões que mais precisam.
"Quando não houver a disponibilidade de médicos brasileiros, contrataremos profissionais
estrangeiros", afirmou. Segundo ela, o Brasil continua sendo um dos países do mundo que
menos emprega médicos estrangeiros, apenas 1,79% do total, contra 25% nos Estados Unidos.
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O objetivo do quarto pacto, segundo Dilma, "é dar um salto de qualidade no transporte público
nas grandes cidades". Para isso, ela decidiu ampliar a desoneração tributária federal, que havia
sido negada na semana passada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Agora, o governo
vai reduzir o PIS e a Cofins do diesel usado pelos ônibus e da energia elétrica usada por trens e
ônibus. Haverá mais R$ 50 bilhões em programas de transportes. O quinto pacto será em torno
da educação. A presidente pretende destinar 100% dos royalties do petróleo para a educação
e 50% dos recursos do pré-sal, a serem recebidos pelas prefeituras, pelo governo federal, e
pelos municípios. "Confio que os senhores congressistas aprovarão esse projeto que tramita no
Legislativo com urgência constitucional", afirmou.
O Globo – 31/01/2014
Em nove dias, a campanha para arrecadar recursos para pagar a multa aplicada a Delúbio
Soares no julgamento do mensalão conseguiu arrecadar mais que o dobro do que tem de ser
pago. Nesta quinta-feira, o site da campanha divulgou que foram doados R$ 1,013 milhão, para
pagar a multa de R$ 466.888,90 que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o ex-
tesoureiro do PT pague até amanhã. De acordo com o site, o valor restante – cerca de R$ 546
mil – será repassado para arcar com a multa do deputado João Paulo Cunha e do ex-ministro
José Dirceu.
Mais da metade do total de doações entrou na conta entre ontem e hoje. Na noite de quarta-
feira, o site apontava que havia arrecadado R$ 415.390,86. Em texto publicado hoje na página,
os autores da campanha agradecem as doações.
“Ao expressarmos imensa gratidão aos milhares de doadores, muitos inclusive sem filiação
partidária e movidos apenas pela indignação e o sentimento de solidariedade, convocamos para
as novas jornadas em favor de José Dirceu e João Paulo Cunha. E o valor excedente de nossa
campanha, descontados os tributos, será doado a esses companheiros, visando o pagamento
de suas injustas e exorbitantes multas”, afirmam.
Eles destacam que o trabalho de mobilização feito nas redes sociais, entre os militantes petistas
e de partidos de esquerda, movimentos sindicais e entre amigos resultou no sucesso da
campanha.
Dirceu foi condenado a pagar uma multa de R$ 676 mil (em valores da época) pelo crime
de corrupção ativa. Já João Paulo Cunha foi multado em R$ 370 mil (também em valores da
época) por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Ele ainda tem um recurso a
ser analisado e que pode levar à absolvição pelo crime de lavagem. Nesse caso, a multa seria
reduzida para R$ 250 mil. Os valores ainda precisam ser corrigidos, tarefa que cabe ao Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
A família do ex-deputado José Genoino afirmou ontem que doaria R$ 30 mil para a campanha
do o ex-tesoureiro do PT. A família de Genoíno conseguiu, em dez dias, R$ 761.962,60. São R$
94.448,68 a mais do que o valor necessário para arcar com a multa definida pelo STF.
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Após a primeira reunião da nova Executiva Nacional, o PT soltou nota oficial no fim da tarde
desta segunda-feira para, entre outros assuntos, agradecer a ajuda de correlegionários para
arrecadar recursos para pagamento das dívidas dos petistas envolvidos no escândalo do
mensalão.
O ex-presidente do partido, José Genoino, foi o primeiro a ser beneficiado pela rede de
solidariedade. Conseguiu pouco mais de R$ 700 mil, cerca de R$ 60 mil do que havia sido
estipulado como sua multa. A arrecadação também beneficiaria o ex-tesoureiro Delúbio Soares
e o ex-ministro José Dirceu, ambos presos no Presídio da Papuda, em Brasília. Genoino está em
prisão dominiciliar, na casa de uma filha.
Ainda na reunião, o PT informou que precisa abrir mais diálogo com a pautas das ruas
(manifestações). A direção do partido anunciou também que vai aproveitar o aniversário de
34 anos do partido, no próximo dia 10, em São Paulo, para lançar oficialmente a candidatura à
reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Sobre a polêmica envolvendo a participação de petistas no governo de Sérgio Cabral, o
presidente do partido, Rui Falcão, foi enfático:
– Não há crise, o PMDB é nosso aliado nacional. A disputa entre nossas candidaturas lá vai se
dar em termos políticos – disse.
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A página é um site pessoal sem ferramenta de pagamento online – mesmo modelo adotado pela
família do ex-deputado José Genoino para captar recursos. A família de Genoíno conseguiu, em
dez dias, R$ 761.962,60. São R$ 94.448,68 a mais do que o valor necessário para arcar com a
multa definida pelo STF.
Parte do valor doado a Genoino poderá ajudar outros petistas a pagarem a multa definida no
julgamento do mensalão. Após alcançar o valor, a família de Genoino divulgou texto indicando
que o valor restante poderia ser repassado a outros petistas condenados no processo.
“Assim, não temos ainda um cálculo preciso do valor que restará após toda esta tramitação,
mas com certeza daremos continuidade a essa corrente de solidariedade aos companheiros
condenados injustamente na ação penal 470”, afirma o texto publicado no site, assinado pela
mulher de Genoíno e pelos filhos.
O Globo – 14/01/2014
Não vai ser dessa vez que o PMDB conseguirá aumentar seu espaço na Esplanada dos
Ministérios. Em uma longa conversa na noite desta segunda-feira com o vice-presidente Michel
Temer, a presidente Dilma Rousseff informou que não irá ampliar o número de ministérios
comandados pelos peemedebistas na reforma ministeria que se inicia. O partido continuará no
comando de cinco pastas.
O que a presidente não decidiu ainda é se os peemedebistas continuarão comandando
exatamente os mesmos ministérios que têm hoje: Minas e Energia, Agricultura, Previdência,
Turismo e Aviação Civil.
A decisão frustra as pretensões do principal partido aliado, que pleiteava um sexto ministério,
de preferência Integração Nacional ou Cidades. A presidente afirmou que vem recebendo muita
pressão para acomodar no governo três partidos da base aliada que já se comprometeram com
sua eleição e hoje não se sentem contemplados com ministérios – PSD, PTB e o recém-criado
PROS – e que, por isso, não poderia ampliar os espaços do seu principal aliado. Além disso,
disse que a tendência é que o PP, que ainda não sacramentou o apoio à sua reeleição, continue
comandando uma pasta.
Dilma pretende concluir a reforma ministerial em fevereiro, e deve voltar a conversar com
Temer nas próximas semanas para sacramentar quais serão os espaços do partido nos próximos
meses. O vice-presidente saiu do encontro direto para a residência oficial do Jaburu, onde
comunicaria o resultado da reunião ao senador Vital do Rêgo, nome apontado pela legenda
para a Integração, a outros líderes do partido.
Apesar do resultado do encontro, peemedebistas não se davam por vencidos na noite desta
segunda-feira, e afirmavam que insistiriam na necessidade de se ampliar o número de
ministérios.
– Nada ainda é definitivo. Aqui (em Brasília), um dia o sim vira não, no outro o não vira sim.
Vamos insistir na necessidade de se ampliar os ministérios do partido – disse um cacique da
legenda.
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Antes mesmo do encontro, o presidente nacional da legenda, senador Valdir Raupp (RO) havia
comentado com ironia a hipótese de não crescimento da legenda na Esplanada:
– A presidente deve saber o tamanho do PMDB, a capacidade do PMDB de administrar os
ministérios que tem administrado até agora. Se vai ter mais espaço ou não, quem decide é a
presidente da República – afirmou.
Após a conversa inicial com Temer, a presidente deve receber nos próximos dias os caciques
dos demais partidos da base aliada para costurar os novos nomes que devem assumir as pastas
até o fim de seu primeiro mandato. A tendência é que pelo menos oito ministros deixem os
cargos para disputar as eleições, e Dilma ainda precisa escolher quem comandará as pastas da
Integração Nacional e a Secretaria dos Portos, que era comandada até outubro pelo PSB.
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programa. Uma das saídas é o Pronatec Brasil sem Miséria. Dos 8 milhões de matrículas, foram
reservadas 1 milhão aos mais pobres, do Bolsa Família.
São várias as contrapartidas que os beneficiários apresentam. Essas condicionalidades
reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social;
e as ações e programas complementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo
que os beneficiários consigam superar a situação em que se encontram. O Bolsa Família é um
programa vitorioso, que ninguém nos tira mais.
O Globo – 08/01/2014
Os estádios deverão estar prontos para receber os jogos, enquanto os problemas ocorrerão
pela falta de investimentos em infraestrutura, como em aeroportos
O relacionamento entre autoridades brasileiras e a cúpula da Fifa nunca chegou a ser risonho
em torno do projeto da Copa. Escolhido o país, há sete anos, para sediar pela segunda vez o
torneio — a primeira, em 1950 —, é certo que houve uma demora para o inicio dos trabalhos.
Apenas em 2010 instalou-se o comitê de organização do evento.
Não seria um problema se o poder público, em todos os níveis, fosse um exemplar gerenciador
de obras. É muito o contrário, sabe-se. Portanto, cartolas da Fifa — o suíço Joseph Blatter, o
primeiro deles, e o francês Jerome Valcker — têm motivos para reclamar de atrasos, embora
não contribua em nada para a boa convivência entre a entidade e países-anfitriões a conhecida
arrogância com que a federação internacional de futebol conduz seus interesses pelo mundo
afora.
Nos últimos dias, Blatter se chocou com a própria Dilma, ao afirmar que a Copa brasileira seria
a mais atrasada, à esta altura do calendário, desde sua chegada à Fifa, em 1975. Logo recebeu
uma resposta presidencial via twitter, com a garantia de que a deste ano será a “Copa das
Copas”.
Exagero de ambos os lados. Desconte-se, ainda, que o relacionamento pessoal entre os dois
seria acidentado, a ponto de Blatter ter reclamado da presidente ao técnico Luís Felipe Scolari,
segundo o jornal “O Estado de S.Paulo”.
A seis meses do efetivo pontapé inicial, configura-se um quadro previsto já há muito tempo:
estádios prontos, ou pelo menos em condições de receber jogos; o entorno de infraestrutura
com precariedades e, num plano mais amplo, legados para as cidades-sede parcos ou
inexistentes, a depender do caso.
Dos 12 estádios, faltam concluir seis, que não cumpriram a data-limite da Fifa, 31 de dezembro:
São Paulo, Manaus, Natal, Cuiabá, Curitiba e Porto Alegre. Mas a previsão é que eles sejam
entregues, paulatinamente, até abril. Nada desastroso, portanto. Não há mais solução possível
e definitiva é para as dificuldades que existirão, por exemplo, nos aeroportos, cujas obras são
vítima dos atrasos nas licitações provocados pela resistência ideológica dentro da máquina
pública à cessão de terminais ao setor privado. O resultado está no Portal da Transparência,
do governo, em que o balanço dos investimentos em aeroportos é o seguinte: do total previsto
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de R$ 6,7 bilhões a serem investidos, apenas R$ 1,7 bilhão (25,3%) havia sido contratado e só
R$ 900 milhões (13,4%), gastos. O retrato não muda — até piora, em certas cidades —, ao se
verificar o andamento de projetos de mobilidade relacionados ao torneio.
Então, não há por que temer um retumbante fracasso, mas, infelizmente, além de estádios,
pouco ficará para a população, quando o circo da Fifa for desarmado — com a exceção do Rio,
em que há projetos em curso para as Olimpíadas de 2016. É exigir demais da capacidade de o
Estado executar projetos. Ele é bom em pagar salários, aposentadorias, etc. E na cobrança de
impostos e similares.
A Lei da Ficha Limpa vai completar quatro anos em 2014, quando, pela primeira vez, terá
plena efetividade em uma eleição geral. Cercada de polêmicas e controvérsias quando criada,
a legislação representa, agora, a proibição da candidatura de políticos que tenham sido
condenados por órgão colegiado em processos criminais ou por improbidade administrativa,
e daqueles que renunciaram ao cargo eletivo para escapar da cassação. Juristas ouvidos pelo
Correio asseguram que não haverá brecha para os chamados fichas sujas nas eleições de
outubro.
Fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o juiz Márlon Reis alerta
que os partidos e os candidatos que tentarem driblar a norma, diferentemente de 2010,
sairão frustrados das próximas eleições. Há quatro anos, dezenas de postulantes a cargos
legislativos concorreram em situação sub judice, quando o registro não é concedido pela Justiça
Eleitoral, mas o candidato insiste em disputar, mesmo sabendo que os votos poderão não ser
contabilizados para efeito de resultado.
Em 2010, os senadores Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Jader Barbalho (PMDB-PA) e João
Capiberibe (PSB-AP) foram barrados com base na Lei da Ficha Limpa. Nas urnas, os três
conquistaram votos suficientes para serem eleitos, mas não foram diplomados porque os
registros das respectivas candidaturas haviam sido rejeitados. Eles tomaram posse no ano
seguinte, graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a legislação não
poderia ter sido aplicada naquele pleito, uma vez que a norma foi criada menos de um ano
antes da eleição. O artigo 16 da Constituição estabelece que as leis que alteram o processo
eleitoral só têm validade um ano depois de sua vigência.
Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro do STF Marco Aurélio Mello observa
que o Supremo nem sequer chegou a analisar se os políticos acima mencionados estavam
ou não elegíveis. "O Jader Barbalho, por exemplo, foi salvo pelo gongo, pelo artigo 16. Mas o
tribunal não proclamou a inaplicabilidade da Lei da Ficha Limpa. Proclamou apenas que ela não
se aplica às eleições de 2010, mas, à rigor, ele está exercendo o mandato com a condição de
inelegível, porque o Supremo concluiu que a lei se aplica a atos e a fatos pretéritos", destacou o
magistrado, lembrando que, em fevereiro de 2012, o STF declarou a constitucionalidade da lei.
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Poucos aventureiros
Márlon Reis considera que, este ano, poucos vão se aventurar a desafiar a Justiça Eleitoral, pois,
segundo ele, as chances de sucesso em um eventual recurso serão praticamente nulas. "Nas
eleições de 2014, a Lei da Ficha Limpa vai atingir um grande número de pessoas. Os fichas sujas
que se candidatarem serão apenas aqueles que desafiam o sistema, o que é um desserviço que
os partidos prestam ao eleitor e a eles próprios. Mas esse número deve ser pequeno, pois a
maior parte dos atingidos são aqueles que nem tentam (se candidatar)", sintetizou o juiz, que
atua na Comarca de Imperatriz, interior do Maranhão.
Ele observou que a Ficha Limpa foi "plenamente aplicada" às eleições municipais de 2012,
mas, na ocasião, ainda havia muitas dúvidas. As brechas em relação à lei embaralharam o jogo
eleitoral e prejudicaram inúmeros municípios do país, que até hoje enfrentam mudanças na
chefia do Executivo por conta de pendências de candidatos na Justiça Eleitoral. "Há algumas
semanas, foi tirado o mandato do prefeito de Barra do Garças (MT), ainda relacionado à Lei da
Ficha Limpa. A culpa é dele próprio e do partido que indica o nome de um candidato inelegível",
afirmou. Reis se referiu a Roberto Ângelo Farias (PP), condenado pelo TSE por abuso de poder
econômico e uso indevido dos meios de comunicação quando candidato a deputado federal
nas eleições de 2010.
O ministro Henrique Neves, do TSE, resume a situação da Lei da Ficha Limpa. "Em 2010, havia
uma dúvida sobre a aplicabilidade da lei. No ano seguinte, o Supremo considerou que não seria
aplicável pela regra da anualidade. A Ficha Limpa já valeu de fato em 2012, mas surgiram dúvidas
por ter sido a primeira vez em que foi aplicada. Já em 2014, ela se aplicará integralmente sem
que pairem dúvidas sobre as hipóteses de inelegibilidade", disse.
Contas rejeitadas
Uma das controvérsias da lei que poderá perdurar durante a campanha de 2014 é a dúvida
quanto à aplicação da Ficha Limpa no caso de gestores que tiveram as contas de suas gestões
rejeitadas por tribunais de contas. O TSE já interpretou que políticos nessa situação ficam
inelegíveis, como também já considerou que somente o Legislativo tem o poder de rejeitar
contas. Segundo Henrique Neves, quando se trata de contas anuais do governo, o entendimento
é de que a palavra final é do parlamento, enquanto em relação às contas de convênios, basta
uma decisão do Tribunal de Contas.
No entanto, diante das constantes mudanças na composição do tribunal, há uma dúvida quanto
à interpretação que os ministros do TSE darão ao trecho da lei que trata da inelegibilidade
decorrente da rejeição de contas. "O que a gente observa é que a jurispridência do TSE ainda é
vacilante sobre alguns entendimentos que se alteraram durante a própria eleição municipal",
disse a advogada eleitoral Maria Cláudia Bucchianeri.
"Os fichas sujas que se candidatarem serão apenas aqueles que desafiam o sistema, um
desserviço que os partidos prestam ao eleitor e a eles próprios"
Márlon Reis, juiz e coordenador do MCCE
Memória
Iniciativa popular
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Fruto de um projeto de iniciativa popular que reuniu mais de 1,6 milhão de assinaturas, a Lei
da Ficha Limpa foi aprovada na Câmara em 5 de maio de 2010, votada no Senado (foto) no
dia 19 daquele mês e sancionada pelo então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, em junho.
Poucos dias depois, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a regra poderia ser aplicada
nas eleições daquele ano. O autor do primeiro recurso contra a legislação foi ex-governador
do Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC). O julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) ficou
empatado e acabou suspenso sem a proclamação de um resultado.
Roriz então desistiu de se candidatar ao Governo do DF, indicando a mulher, Weslian, para
concorrer. Somente em março de 2011, após dezenas de candidaturas serem barradas, o
Supremo estabeleceu que a legislação não poderia ter entrado em vigor no pleito de 2010.
Já em 2012, o STF julgou uma ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que pedia que a
regra fosse declarada válida. Os ministros definiram que a Lei da Ficha Limpa é constitucional
e que atinge renúncias ou condenações anteriores à data em que a norma foi publicada. (DA)
O Globo – 20/12/2013
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milhão de pessoas às mas, em junho, o petista tem assumido posição chave como conselheiro
político de Dilma. Ele foi um dos idealizadores da proposta da reforma política por meio de uma
assembleia constituinte e participou da elaboração dos cinco pactos nacionais que a presidente
propôs, à época. Dilma o elegeu para fazer o papel de porta-voz do governo na crise que abalou
sua popularidade.
No entanto, a superexposição de Mercadante, que tem um estilo considerado agressivo pelos
colegas, desencadeou um processo de ataque de aliados enciumados com a escalada relâmpago
do petista. Era o chamado fogo amigo em ação. Mercadante começou a sofrer críticas públicas
de políticos, que argumentavam que, ao exercer o papel de braço-direito de Dilma na área
política, estava relegando a segundo plano suas funções como ministro da Educação.
Por recomendação da própria Dilma, Mercadante passou a ter um relacionamento mais
discreto com a chefe, deixando de ir a todas as viagens com ela, como fazia até então, para
participar apenas das agendas de sua área. Como um mantra, Mercadante repete que quer
ficar na Educação e, dentro do possível, ajudar na campanha da reeleição. Mas que, como bom
funcionário, assumirá a missão que lhe for entregue. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, é um
dos nomes defendidos pelo PT para o lugar de Mercadante.
Com o argumento de que ainda não tem a reforma definida, a presidente Dilma adiantou
apenas que Mantega, que tem sido criticado pela condução da economia, não será demitido:
— Eu não tenho a reforma aqui e não pretendo dá-la [...]. No que se refere ao ministro Guido,
pela vigésima ou trigésima vez, eu reitero que ele está perfeitamente (bem) no lugar onde está.
A substituição de Padilha na Saúde é um dos principais dilemas da presidente. Apesar dos
problemas da área, a pasta tem um dos maiores orçamentos da Esplanada e é visada pelos
partidos aliados. O PT não quer abrir mão da pasta. Padilha trabalha por uma solução interna,
mas a presidente sofre pressão de partidos governis-tas que cobiçam o ministério, como o
PROS, dos irmãos Cid e Ciro Gomes _ candidato ao posto.
Esplanada tem três vagas com interinos
No Ministério da Saúde, a bolsa de apostas gira em torno de três nomes: Helvécio Magalhães,
secretário de Atenção à Saúde; Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde; e Mozart
Salles, secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Responsável pelo programa
Mais Médicos, Mozart é o preferido de Padilha.
Além de Mercadante, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) e o secretário-executivo da
Previdência, Carlos Eduardo Gabas, também estavam cotados para substituir Gleisi na Casa
Civil O nome de Mercadante era aventado para o posto ou para a coordenação da campanha
de Dilma à reeleição. Uma ala do PT defendia a escolha do ministro da Educação para a Casa
Civil porque, trabalhando diariamente próximo a Dilma poderia ajudá-la informalmente na
campanha, sem deixar de exercer suas funções no governo.
À presidente tem mais três vagas na Esplanada para preencher: a Integração Nacional, a
Secretaria de Portos e a Secretaria de Assuntos Estratégicos, que estão ocupadas por interinos.
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A presidente Dilma disse que até o carnaval trocará dez ministros que
disputarão as eleições, e que Guido Mantega ficará na Fazenda
Meta fiscal
"Eu acredito que o Brasil tem tido um excelente desempenho nessa questão do superávit. Se
a gente olhar o G-20, que é o grupo das 20 economias mais desenvolvidas, nós vamos ver que
apenas seis economias fazem o superávit primário. Estamos entre as melhores. Somos uma
economia que tem uma preocupação fiscal forte, que se traduz no esforço do governo federal
e dos entes federados no sentido de garantir um superávit primário mostrando que as contas
brasileiras são robustas".
Inflação
"Os indicadores demonstram uma situação muito melhor do que muita gente esperava. Tinha
gente dizendo que nós íamos fechar o ano com inflação de 7%, que as pessoas tinham de se
prover de dólares, que haveria uma catástrofe. Não é isso que está se verificando. Tudo indica
que ela vai fechar comportada, abaixo do ano passado. Como vocês sabem, previsão é algo que
não se faz de um dia para o outro, porque você corre o risco de errar."
Indexação da economia
"Eu sou contra indexação. Nós superamos problemas herdados do passado. Um deles era a
inflação descontrolada. Tem uma que nós temos de sempre olhar e cuidar: a indexação. A
indexação talvez seja a memória mais forte do processo inflacionário crônico que nós vivemos
ao longo dos anos 80 e 90. Indexação é algo extremamente perigoso. Então, indexar a economia
brasileira ao câmbio ou qualquer outra variável externa é uma temeridade".
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Crise Econômica
"A situação do Brasil em 2013 foi de mostrar bastante força diante do agravamento da crise.
A recuperação da economia americana é ótima pra nós e para o mundo, porque começa a
recuperação da economia global".
Taxa de crescimento
"Se a gente for comparar taxa de crescimento das economias, nós tivemos um desempenho
bem razoável considerando o que acontece no resto do mundo. Esperamos que o mundo tenha
uma outra configuração e um outro perfil em 2014. Aquele grande teórico italiano (Antonio
Gramsci) dizia: "pessimismo da razão e otimismo da vontade"!
PIB DE 2014
"Eu não faço previsões do PIB e acho que vocês não deviam fazer. Nós temos condições
de afirmar que o PIB (2013) vai ficar ali em torno de 2%, 2 e pouco. Este ano, tivemos um
desempenho melhor, acima do que tivemos em 2012. Sob todos os aspectos, nos saímos até
bem. Eu não vou te dizer qual vai ser o PIB, nem o deste ano, tampouco do ano que vem,
porque se eu errar 0,2 na casa deci-I mal, eu pago um pato louco".
Pessimismo
"Eu acho absolutamente imperdoável um governo pessimista. A não ser algum que está diante
da guerra, e, mesmo assim, eu prefiro a linha Chur-chill: "sangue, suor e lágrimas" vamos até o
fim, vamos derrotar, porque é assim que se ganha as coisas. No que se refere ao primeiro ano
de governo, nós vínhamos de 2010, ninguém estava esperando que a crise fosse se aprofundar."
Concessões
"Estamos conseguindo fazer as concessões que prometemos. Nós tivemos seis concessões de
aeroportos ao longo do meu governo. Fizemos as cinco rodovias viáveis, porque tem rodovia
que não é viável... O TCU aprovou a primeira de ferrovias".
Investimento externo
"No que se refere à desconfiança ou qualquer outro sentimento em relação ao Brasil por parte
de investidores internacionais, eu vou dizer uma coisa: o Banco Central acabou de divulgar
novos números sobre o investimento estrangeiro direto no Brasil. Até novembro foram US$ 57,5
bilhões. Estaremos sempre entre os cinco, seis (primeiros). US$ 57,5 bilhões é algo bastante
significativo, e ninguém bota US$ 57 bilhões onde acha que a situação é muito crítica."
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Leilão de libra
"Acho que há uma tendência de muita gente de olhar sempre o copo meio vazio. E (isso) é
complicado, porque uma parte da economia é expectativa. Cada vez que você instila a
desconfiança, instila uma clima de expectativa muito ruim. Vou dar um exemplo bem concreto:
leilão de Libra. Eu passei pelo menos os cinco dias anteriores ao leilão de libra pensando em
que mundo estamos, eu e a imprensa. A imprensa dizia que seria uma catástrofe, que viriam
os chineses se adonar dos nossos recursos, que não vinha nenhuma empresa internacional,
enfim, que seria uma situação caótica. Ora, o leilão mostrou um dos consórcios mais fortes do
mundo."
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CONSTRANGIMENTOS NA CÂMARA
Ele encaminhou o pedido por meio do irmão e líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), e a
carta foi entregue, durante a reunião da Mesa por outro petista, o vice-presidente da Câmara,
André Vargas (PR). A carta é assinada por Genoino e pelo advogado Alberto Moreira Rodrigues.
Após a reunião da Mesa, o presidente da Câmara disse que foi um dia “difícil e constrangedor".
À noite, o constrangimento aumentou. José Guimarães subiu à tribuna no plenário para fazer
um discurso de desagravo. E relatou o que ouviu do irmão sobre um eventual processo de
cassação: — Não suportaria mais esta tortura, me disse ele. Depois do discurso do petista,
Henrique Alves ressaltou a atuação de Genoino como parlamentar, mas salientou que agiu com
serenidade: — Cumpri rigorosamente o meu dever regimental e constitucional.
É um momento difícil e constrangedor que esta Casa está vivendo. Não é agradável para quem
quer que seja. No discurso, o irmão de Genoino disse que ele foi grandioso ao renunciar: —
Renunciou talvez até para proteger a bancada do PT. Não iremos permitir que destruam a
história do PT. Talvez o gesto dele de renunciar ao mandato seja maior do que o da abertura do
processo de cassação. Quem sabe algum dia a história será reescrita e esse Parlamento possa
devolver a ele seu direito político.
O único pecado que cometeu foi ser presidente do PT. Esse plenário deve muito a alguns
parlamentares, um deles é Genoino. o discurso de Guimarães gerou críticas de outros
parlamentares. Enquanto ele finalizava, a deputada Liliam Sá (PROS-RJ) disse, aos gritos, que
ninguém queria ouvir aquele discurso: — o Brasil não quer ouvir isso não, deputado.
A reunião da Mesa da Câmara começou tensa e com atraso. O PT queria que a direção da Casa
suspendesse a análise do caso até fevereiro, quando terminava a licença médica de Genoino.
Eleito pela primeira vez deputado em 1983 e no exercício do sétimo mandato na Câmara,
Genoino passou por uma cirurgia em 24 de julho e, em setembro, teve a licença prorrogada por
120 dias. Antes de ir para a reunião, Henrique Alves disse a líderes partidários que a maioria da
Mesa votaria pela abertura do processo de cassação.
Quando a votação do pedido já estava 4 a 2, André Vargas apresentou a carta. Tinham votado a
favor da abertura do processo os deputados Fábio Faria (PSD-RN), Simão Sessim (PP-RJ), Márcio
Bittar (PSDB-AC) e Henrique Alves. Os dois petistas da Mesa, Vargas e Antonio Carlos Biffi (PT-
MS), ficaram contra.
O sétimo integrante da Mesa, Maurício Quintela (PR-AL), votaria pela abertura do processo
de cassação, mas só o fez depois que a renúncia foi apresentada. A carta foi lida em plenário
logo depois da reunião e será publicada no Diário Oficial de hoje. Desde setembro, o deputado
Renato Simões (PT-SP) está na vaga aberta com a licença médica de Genoino, mas não será
efetivado como titular da vaga, que deverá ficar com a também petista Iara Bernades, outra
suplente.
Simões contou que recebeu um telefonema de Genoino, que o agradeceu e disse que eles vão
se ver, no momento oportuno. Ainda em sua carta, Genoino disse que renuncia “após mais de
25 anos dedicados à Câmara, e com uma história de mais de 45 anos de luta em prol da defesa
intransigente do Brasil, da democracia e do povo brasileiro”.
Volta a falar em inocência e que nunca obteve vantagens financeiras: “Considerando que não
pratiquei nenhum crime, não dei azo a quaisquer condutas, em toda minha vida pública ou
privada que tivesse o condão de atentar contra a ética e o decoro parlamentar; considerando
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que sou inocente, que sempre lutei por ideais e jamais acumulei patrimônio ou riqueza, aí
concluí pela renúncia”.
Genoino exerceu mandatos na Câmara entre 1983 e 2002, quando disputou o governo de São
Paulo e perdeu. Conseguiu se eleger novamente em 2006, um ano depois do escândalo do
mensalão. Em 2010, ficou como suplente, e só voltou no início de 2013, de novo como suplente.
Economia Nacional
De janeiro a junho, as empresas com sede no Brasil fizeram investimentos diretos no exterior
de US$ 11,3 bilhões. Esse valor, que representa um aumento de 60% em relação ao mesmo
período do ano passado, mostra que as companhias brasileiras retomaram o processo de
internacionalização que, após uma onda em 2010 e 2011, havia perdido fôlego ao longo de
2012. A expansão dos negócios brasileiros no exterior decorre, em parte, do cenário interno
mais morno, que desestimula investimentos, e de problemas de competitividade no país, como
a inflação e os custos.
O Brasil passou a ser neste ano uma importante fonte de investimentos feitos por montadoras
de veículos e fabricantes de autopeças no exterior. Só no primeiro semestre, quase US$ 1
bilhão saíram do país com essa finalidade, valor recorde, mas ainda inferior às remessas de
lucros às matrizes no período, de US$ 1,5 bilhão. São recursos direcionados a aportes de capital
adicionais em subsidiárias, aquisições ou criação de novos negócios. Esses investimentos
do setor foram os maiores da indústria de transformação no semestre e se aproximam dos
realizados pela indústria petroleira, a que mais investe fora do país, com US$ 1,1 bilhão.
Com um cenário interno mais morno e várias barreiras de competitividade no país, como a
inflação e o aumento dos custos, as empresas brasileiras aproveitam para expandir os negócios
no exterior.
É o que apontam os dados mais recentes do Banco Central (BC) relativos aos investimentos
brasileiros diretos no exterior. A parte desse montante destinada ao aumento de capital em
outros países – aplicações feitas na criação, ampliação ou aquisição de novos negócios – teve
aumento de 60,6% no primeiro semestre de 2013 ante o mesmo período em 2012. Até junho
as empresas com sede no Brasil investiram US$ 11,3 bilhões em novos negócios no exterior,
retomando um processo de internacionalização que, após uma leva de expansão em 2010 e
2011, havia perdido fôlego no ano passado.
"Várias razões têm levado as empresas brasileiras a buscarem espaço fora", diz Luis Afonso Lima,
presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização
Econômica (Sobeet). "Pode ser um mercado que já está saturado no Brasil, pode ser para estar
mais próximo da matéria-prima, ou então para buscar em outros países expertise que não
temos aqui."
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É o que acontece, por exemplo, com o setor de tecnologia da informação, diz Lima, citando
o exemplo da Stefanini, empresa brasileira de tecnologia que fez diversas aquisições
internacionais desde 2009, focadas principalmente no mercado dos Estados Unidos. O setor
tem pouco peso na balança comercial, mas seu tamanho triplicou em 2013: os investimentos
das companhias nacionais de TI em outros países passaram de US$ 11 milhões no primeiro
semestre de 2012 para R$ 32 milhões nos seis primeiros meses deste ano.
"É natural imaginar brasileiros investindo no exterior", diz Fábio Silveira, analista da GO
Associados. "O risco do país piorou sob a ótica internacional, passa por piora doméstica, por
período de inflação alta. Tudo isso estimula o investidor a pôr mais dinheiro lá fora."
Isso não significa, porém, que esteja ocorrendo um desinvestimento no país e uma fuga do
capital para outras regiões. "Os investimentos internos desaceleraram, mas não estão caindo",
destaca Lima. Ele lembra que o nível de internacionalização das empresas brasileiras é ainda
muito pequeno, mesmo se comparado a outros países emergentes.
Entre 2011 e 2012, enquanto os emergentes aumentaram a sua participação no bolo total de
investidores externos de 25,2% para 30,6% – os Brics passaram de 12,9% para 15,5% -, o Brasil
perdeu espaço, com queda de US$ 3 bilhões no total de capitais aplicados fora do país, segundo
dados da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). "A
internacionalização é um caminho que vem sendo trilhado por todos os emergentes, e aqueles
que não fizerem terão dificuldades em competir mais à frente. E o Brasil ainda faz pouco",
afirma Lima.
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A produção brasileira esperada de 88 milhões de toneladas de soja para 2014 deve superar a
safra dos EUA, de 85,7 milhões de toneladas, que está em fase final e foi afetada pela seca.
Do crescimento de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pelo mercado para este ano,
segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC) mais recente, um pouco mais de um ponto
porcentual virá da agroindústria, calcula o diretor de pesquisa da consultoria GO Associados,
Fabio Silveira.
Nas suas projeções, ele considerou o PIB do agronegócio de 2012 em R$ 989 bilhões e a
estimativa de crescimento para o setor de 5% para este ano, ambos os dados da Confederação
Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). Se as estimativas de crescimento se confirmarem, o
PIB do agronegócio deve somar R$ 1,038 trilhão em 2013, 23% de toda a riqueza no País.
A cifra inclui os segmentos antes e depois da porteira", ressalta Adriana Ferreira Silva,
economista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que calcula
o PIB do agronegócio para a CNA. Isso significa que a cadeia da agroindústria considera não
só os produtos primários da agricultura e da pecuária, mas também toda a riqueza criada no
processamento e na distribuição, além do desempenho da indústria de insumos.
O agronegócio está puxando não só a indústria de alimentos, mas também a de bens de capital.
Na minha avaliação, o agronegócio pode neste ano tracionar a economia mais do que o varejo",
diz o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri, que acompanha de perto
o consumo. Enquanto a indústria patina. A produtividade da soja no Mato Grosso é de 3,1
quilos por hectare, enquanto nos EUA é Inferior a 3 quilos. A vantagem é anulada pelo alto
custo de logística.
O varejo desacelera, as evidências da força do agronegócio para tracionar outros setores
da economiajá aparecem nas vendas de insumos. "Se não houver nenhum imprevisto até
dezembro, as vendas de tratores de rodas neste ano serão recordes", afirma o diretor de
Vendas da Agrale, Flávio Crosa.
Surpresa» Ele conta que 2012 já tinha sido um ano bom para a agricultura e foram vendidos
no mercado 56 mil tratores de rodas, que são para o agronegócio. Para este ano, a estimativa
inicial era vender 54 mil máquinas. Mas até agosto foram comercializados 44,9 mil unidades,
segundo a Anfavea. A perspectiva agora é que o ano feche com 60 mil tratores comercializados.
"Não imaginávamos que uma demanda tão forte assim."
Além da capitalização dos" produtores, Crosa cita a manutenção até dezembro do Programa
BNDES de Sustentação do Investiment (PSI) como fator de impulso às vendas.
A história se repete no fertilizante. Em 2012, foram vendidas 29,5 milhões de toneladas.
Consultorias projetam para este ano 30,5 milhões de toneladas. Até agosto alta foi de 5,5%.
"Teremos mais um recorde", prevê o diretor da Associação Nacional para Difusão de Adubos
(Anda), David Roquetti Filho.
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BRASIL GRANDE: PAÍS VOLTA A TER MAIOR TAXA DE JURO REAL DO MUNDO
IPCA recua para 5,86%, mas Selic sobe para 9,5%. Brasil volta a ter a maior taxa real
do mundo
No mesmo dia em que a inflação medida pelo IPCA em 12 meses recuou para 5,86%, patamar
abaixo de 6% pela primeira vez este ano, o Banco Central (BC) decidiu aumentar os juros pela
quinta vez seguida. Atento aos riscos de os índices de preços continuarem num patamar alto
em 2014 — ano eleitoral — o BC elevou a taxa básica (Selic) de 9% para 9,5% ao ano. Com
a medida, o país volta a ter o juro real mais alto do mundo, de 3,5%, segundo levantamento
do economista Jason Vieira, à frente de Chile e China. Desde abril do ano passado, o país não
ocupava o primeiro lugar na listagem. A decisão unânime do Comitê de Política Monetária
(Copom) foi tomada depois de o govemo começar a ajustar o discurso político para justificar o
abandono da bandeira dos juros baixos. A cúpula do BC também indicou que a taxa pode subir
mais e deixou o caminho aberto para a Selic voltar à casa dos dois dígitos ainda neste ano.
Essa foi a leitura feita pelos economistas do mercado financeiro do comunicado publicado após
a reunião. O texto enxuto foi exatamente o mesmo divulgado nos três encontros anteriores do
comitê. Nele, os diretores do BC afirmam que a decisão mira no controle de preços no ano que
vem.
"O comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar
que essa tendência persista no próximo ano" diz a nota. Para os economistas, esse é um sinal de
que o Palácio do Planalto diminuiu a interferência no trabalho do Banco Central por entender
que a inflação alta pode representar um perigo político ainda maior do que a fragilidade do
crescimento.
— O discurso político está sendo ajustado de olho nas eleições de 2014. Vão deixar claro que
elevar os juros para dois dígitos não é retrocesso, mas uma ação conjuntural para manter
conquistas — frisou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Para o economista-chefe da Asset Votorantim, Fernando Fix, é cedo para mudar o cenário
original: juros básicos em 9,75% ao ano no fim de 2013. Essa é a aposta da maioria dos analistas.
— Não seria recomendável declarar vitória (no combate à inflação) neste período — disse.
Segundo analistas, havia argumentos para indicar que os juros não continuariam a subir
no mesmo ritmo. A economia não voltou a crescer na velocidade desejada. O dólar caiu e
pressionará menos
a inflação no Juturo, e a incerteza em razão do possível calote da dívida dos EUA embaralha de
vez as previsões. De outro lado, o BC tem dito que o mais importante é ancorar expectativas de
consumidores e empresários. E as apostas para a inflação no ano que vem são altas. O próprio
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BC espera que o IPCA feche o ano em 5,8%. E projeta taxa de 5,7% para 2014. A meta anual é de
4,5% com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais.
— É um desafio muito grande entrar no ano que vem corn previsão de inflação alta e uma
i pressão forte que vem dos preços administrados — ponderou o ex-secretário do Tesouro
Nacional Carlos Kawall.
FiRJAN E FIESP CRITICAM DECISÃO O economista referiu-se ao prometido aumento de gasolina
e às perspectivas de alta de tarifas de trans-j portes. Nas projeções de Kawall, o BC deve
começar 2014 com mais altas de juros. Ele aposta em dois aumentos de 0,25 ponto percentual
nas duas primeiras reuniões do Copom. Com isso, a Selic chegaria a 10,5% ao ano.
A ata da reunião de agosto já indicava maior preocupação com a inflação. Vários trechos
destacavam seus efeitos na economia: aumento de riscos, depressão de investimentos,
encurtamento dos horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos e
deterioração da confiança de empresários. Além disso, ressaltava que inflação alta subtrai
poder de compra de salários e de transferências, diminui o consumo, reduz o potencial de
crescimento da economia e geração de empregos e de renda.
Entidades empresariais e sindicais criticaram a decisão do BC. Para a Federação das Indústrias
do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) a alta foi equivocada e o ciclo de aperto monetário deve
ser encerrado. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), avalia que o novo aumento prejudica um momento propício à retomada da atividade
econômica,
— É hora de baixar os juros e aumentar o investimento público em concessões, para voltarmos
a crescer — disse Sk.
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Os resultados no fechamento de 2012 foram “uma ducha fria”, frustrando esperanças de
retomar o crescimento e indicando que na indústria brasileira “a crise é mais profunda”, não
apenas um efeito conjuntural devido aos graves problemas da economia global, afirmou Julio
de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O
Brasil “não acompanhou a evolução industrial do mundo” nos últimos 20 anos, como fizeram
China, Coreia do Sul e Índia. Assim, sem desenvolver setores mais dinâmicos, como o eletrônico
e o farmacêutico, tampouco avançou suficientemente em inovações tecnológicas, disse
Almeida à IPS. Além disso, há cerca de 15 anos, a indústria e alguns “serviços organizados”
sofrem um acúmulo de custos, sejam logísticos, financeiros ou energéticos, que reduzem sua
competitividade.
Agravando tudo, os salários aumentaram nos últimos cinco anos muito acima da produtividade.
Somente no ano passado, cresceram, em média, 5,8%, enquanto o rendimento caiu 0,8%,
segundo o Iedi.
É possível sobreviver sendo pouco competitivo se a economia mundial crescer em um bom
ritmo, mas os problemas apareceram com a crise iniciada em 2008 nos Estados Unidos e que
depois se espalhou especialmente para a Europa, que “estreitou o mercado industrial” no
mundo e colocou o mercado interno brasileiro sob intensa disputa, observou Almeida.
Apesar de tudo, este economista acredita que este ano pode haver uma recuperação, graças às
medidas governamentais que baratearam a eletricidade e reduziram tributos para alguns setores
industriais, além de baixar juros, estabilizar a taxa de câmbio e anunciar fortes investimentos
em infraestrutura de transporte. Porém, será necessário aumentar a produtividade com fortes
investimentos em inovações tecnológicas, especialmente porque o Brasil tem “uma indústria
avantajada”, ressaltou.
De fato, a indústria da velha geração metal-mecânica, especialmente a automobilística, é
predominante no país, com um peso crescente. Com uma longa cadeia produtiva, incluindo
peças de automóveis e máquinas agrícolas, o segmento de veículos representava 21% do
produto industrial em 2011, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea).
Essa participação duplicou nos últimos 20 anos, enquanto a indústria de transformação, em
seu conjunto, transitou o caminho inverso em sua contribuição para o produto interno do país,
caindo para 14,6% em 2011. Ou seja, a importância do automóvel para a economia brasileira
continua crescendo.
Por isso, a principal medida do governo para atenuar os efeitos recessivos da crise financeira
internacional de 2008 foi reduzir impostos sobre os veículos a partir de dezembro daquele ano,
após três meses de abrupta queda nas vendas. É uma fórmula repetida em outras crises. O
petróleo e o aço também continuam sendo elementos fundamentais do esforço brasileiro para
reverter a desindustrialização.
Agora se busca recuperar a indústria naval, aproveitando o petróleo descoberto debaixo da
camada de sal no leito do Oceano Atlântico, perto da costa brasileira. Para impulsionar a
produção nacional foi criada uma legislação que exige componentes variáveis e crescentes de
origem nacional, que podem chegar a até 70% do total da construção de cada navio, plataforma,
sonda e demais equipamentos destinados à atividade petroleira.
Todo esse esforço, baseado em intervenções do Estado, como estímulos tributários ou
financeiros a setores escolhidos e medidas consideradas protecionistas, incluindo barreiras
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aduaneiras e a imposição de muito conteúdo nacional em produtos como automóveis, além dos
navios petroleiros, provoca a rejeição por parte de muitos analistas de correntes liberais, com
forte audiência entre os operadores e os meios de comunicação especializados em economia.
A desindustrialização não é necessariamente uma “doença”, já que “a indústria vai mal, mas o
Brasil vai muito bem”, com muito emprego e salários elevados, resumiu o economista Edmar
Bacha, em entrevistas realizadas no ano passado ao anunciar o livro coletivo que organizou sob
o título O futuro da indústria no Brasil, publicado este mês.
Em sua análise, o setor manufatureiro brasileiro perdeu competitividade principalmente pela
explosão salarial que elevou custos. A média salarial no Brasil, em dólares, cresceu 14,4% ao
ano entre 2006 e 2011, um recorde mundial longe de ser ameaçado por Austrália, que aparece
em segundo lugar com 9%, segundo os coautores do livro, Beny Parnes e Gabriel Hartung.
Bacha, que participou de governos anteriores que implantaram políticas econômicas mais
liberais, afirmou que a competitividade não se constrói com protecionismos, mas com maior
abertura comercial, que permita a integração com as cadeias produtivas internacionais. O
México é apresentado como um exemplo disso.
Ampliando o olhar dos especialistas, a única coincidência sobre as causas da perda de
capacidade industrial é a falta de competitividade. Há divisões tanto na interpretação de suas
origens como em seu significado e remédios, segundo o lugar onde se detém cada observador.
Os analistas vinculados ao setor primário, por exemplo, questionam a primazia atribuída à
indústria como promotora do progresso e da inovação. Argumentam que a agricultura agrega
hoje muita tecnologia e muito conhecimento, incorporando pesquisa científica e mecanização.
Mas no governo brasileiro se destacam os “desenvolvimentistas”, começando pela presidente
Dilma Rousseff. Por isso é irônico que a queda da indústria se acentue enquanto o país é
administrado por dirigentes que priorizam o setor e que, para recuperar sua competitividade,
adotaram medidas acusadas de serem extremamente intervencionistas pelos partidários de
soluções de mercado.
Está ficando claro que o governo quer combater a inflação via desonerações tributárias,
pelo menos parcialmente. Para alguns, é a solução ideal. A redução dos impostos leva a uma
queda de preços que alivia a inflação, economizando altas exageradas de juros (e seus efeitos
colaterais sobre a atividade, o emprego e o salário). Ao mesmo tempo se ataca aelevadíssima
carga tributária, um problema estrutural no Brasil. Parece um almoço grátis, contrariando a
máxima de que isso não existe em economia. Infelizmente, não é o caso. Vejamos por quê.
Para começar, as desonerações não são de graça nas contas públicas. Sem uma compensação
via corte de gastos do governo ou aumento de outros impostos, as desonerações reduzem o
superávit primário, como tem sido o caso recentemente. O superávit primário, quê já atingiu
acima de 4% do produto interno bruto (PIB) no passado, caminha para ficar pouco abaixo de
2% este ano, e em direção a 1% no ano que vem. Mesmo com o benefício de juros menores, a
relação dívida-PIB começaria a subir no médio prazo se mantida essa política.
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A estabilidade da relação dívida-PIB (ou melhor, a sua queda) é uma das razões por que a meta
de superávit primário tem sido considerada um dos pilares da política macroeconômica.
A essencial redução da carga tributária, para ser sustentável e benéfica para a economia, deve
ser calcada na queda dos gastos públicos. O espírito da Lei de Responsabilidade Fiscal requeria
exatamente isto: que fossem especificadas compensações para quedas permanentes de receita.
Na contramão, neste ano a Lei de Diretrizes Orçamentárias permite que as desonerações sejam
abatidas da meta (além dos já tradicionais abatimentos do PAC), tornando a meta de superávit
primário de 3,1%, na prática, uma meta de 1,9% do PIB.
A redução da carga tributária baseada em piora fiscal tende a ser temporária, já que em
algum momento será necessário fazer um ajuste fiscal (isto é, corte de gastos ou volta
da carga tributária) para restabelecer a estabilidade da dívida pública no médio prazo e a
responsabilidade fiscal.
Mas ter custo fiscal não é necessariamente ruim, desde que os benefícios das desonerações
sejam palpáveis. Infelizmente, no combate à inflação os benefícios percebidos das desonerações
no curto prazo não se estendem no longo prazo.
A queda do superávit primário equivale a uma política expansionista, que gera aumento
da demanda e pressiona a inflação. Afinal, corte de impostos é um clássico instrumento de
incentivo ao consumo: quanto mais repassado ao consumidor, maior o incentivo.
Mas não falta consumo no Brasil. Seu crescimento tem sistematicamente excedido a expansão
do PIB, principalmente nos últimos dois anos. O Banco Central tem reconhecido nos seus
documentos oficiais que o crescimento do PIB tem sofrido de problemas de oferta. Ou seja,
o crescimento tem sido limitado pela produção, não pela falta de incentivo ao consumo (ou
demanda em geral). Um sinal dessa limitação é que crescentemente a demanda está sendo
satisfeita com importações, o que tem piorado sistematicamente a conta corrente no balanço
de pagamentos (já alcançando um déficit de quase de 3% do PIB, de um superávit de 2% no
passado não tão distante).
Esse descompasso entre o crescimento da oferta e demanda é a raiz da parte mais resistente
da inflação. Para além dos choques de commodities e dos aumentos de preços temporários
de alimentos (devidos a efeitos climáticos) ocorridos, está ficando claro que a inflação se está
estabelecendo num patamar mais alto. Um bom termômetro desse fenômeno é a inflação de
serviços, que resiste à queda e se mantém em tomo de 8% ao ano.
Ao estimular o consumo, a política de desonerações agrava o descompasso entre a oferta e a
demanda e alimenta a inflação no médio prazo.
Poder-se-ia argumentar que reduzir impostos estimula a oferta (aumenta a produção), já que
reduz os custos das empresas. De fato, se as desonerações tivessem focado nos custos das
empresas, e não nos consumidores, o impacto seria diferente. Com custos menores as empresas
produziriam mais. No entanto, as desonerações estão sendo direcionadas aos consumidores.
Há uma pressão para o repasse integral dos benefícios aos preços, o que auxilia na inflação
de curto prazo, mas não auxilia restabelecer a competitividade das empresas. Sem mexer na
competitividade das empresas dificilmente haverá incentivo a maior produção e investimento.
A política de desonerações incentiva o consumo, mas não o investimento, na contramão da
necessidade atual da economia brasileira.
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O peculiar dessa política é que os efeitos no curto prazo são contrários aos efeitos permanentes
na inflação. Enquanto no curto prazo a queda dos impostos tende a reduzir os preços e a gerar
um alívio temporário, o impacto permanente é de mais inflação. E quanto maior o repasse do
benefício tributário pelas empresas aos preços, maior será o incentivo ao consumo. Ou seja,
quanto mais bem-sucedida a política sobre a inflação no curto prazo, mais difícil será segurar a
inflação no médio prazo.
Há um certo consenso tio País sobre os objetivos para a economia. É necessário combater
a inflação, reduzir a carga tributária e o custo das empresas e incentivar a produção e o
investimento. Mas o diabo está no desenho das políticas. As desonerações tributárias, se
repassadas aos preços, aliviam a inflação no curto prazo, mas a pioram no longo prazo, já que
incentivam o consumo, e não o investimento. Desonerações focadas nas empresas, financiadas
por cortes de gastos públicos, teriam efeito benéfico no longo prazo. Da mesma forma,
inúmeras reformas que atacam a complexidade de produzir no País, com impacto direto na
produtividade, poderiam incentivar o crescimento no Brasil e, simultaneamente, combater a
inflação de forma permanente.
Banco Central admite que vai seguir a cartilha de Dilma e protelar ao máximo a elevação dos
juros para estimular a retomada da atividade produtiva. Pelas suas projeções, o IPCA deste ano
será de 5,7% e o Produto Interno Bruto terá incremento de 3,1%
O Banco Central deixou bem claro ontem que é a presidente Dilma Rousseff quem determina o
rumo da política monetária. Durante a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, sinalizou
que vai tolerar a continuidade da alta dos preços até que a economia se recupere. Para o diretor
de Política Econômica do órgão, Carlos Hamilton Araújo, porém, há um único remédio eficaz
para conter a alta inflação: a taxa básica de juros (Selic). Diante das incertezas no mercado
interno e externo, o BC indicou que deve esperar mais um pouco para tomar qualquer decisão.
Na visão dos analistas, esse prazo pode acabar em maio, quando a maioria do mercado espera
aumento de 0,25 ponto percentual na Selic, de 7,25% para 7,50% ao ano.
“No momento, a nossa percepção de inflação é maior que a média. Isso, em parte, se deve
a aumentos grandes, e com frequência elevada, de itens que são muito visíveis. Alimentos e
combustíveis são os principais pontos. E quando os aumentos de preços estão concentrados
nesses itens, a percepção da população é de que há mais inflação do que o índice de preços
aponta”, justificou Hamilton. Ao explicar sobre as armas necessárias para conter a alta do custo
de vida, o diretor do BC falou em “remédios ruins” que podem ser usados pelo Comitê de
Política Monetária (Copom) e citou o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1940-
45 e 1951-55). “Tem várias coisas que podem ser feitas. Consta que, em certa oportunidade,
Churchill disse que democracia é o pior sistema de governo com exceção de todos os outros.
Para combater a inflação, a taxa de juros é o pior remédio à exclusão de todos os demais”,
afirmou Carlos Hamilton. “Agora, sobre o que vai ser feito, especificamente, o Copom vai se
reunir, e isso é uma decisão do Comitê”, completou.
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Na avaliação do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, com essa afirmação, o
BC sinalizou que vai obedecer à presidente Dilma, apesar de não concordar. “Esse comentário
vai em direção oposta ao que a presidente disse. Neste momento, o melhor é focar no combate
da inflação e menos na retomada do crescimento. E os juros são, realmente, a ferramenta
mais eficiente para conter a alta de preços”, destacou. Na última quarta-feira, em Durban, na
África do Sul, Dilma afirmou que “não concorda com políticas de combate à inflação que olhem
a questão da redução do crescimento econômico”. Diante da péssima repercussão entre os
investidores, a presidente disse que sua fala foi “manipulada” pela imprensa e pelo mercado.
Abandono
No relatório divulgado ontem, o BC elevou a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) deste ano de 4,8% para 5,7%. Em 2014, prevê alta de 5,3%. Com isso, o governo
Dilma Rousseff será marcado por um período de forte inflação e de crescimento pífio, com o
Produto Interno Bruto (PIB) apontando média de crescimento anual de 2,55%. Nas contas do
BC, o avanço do PIB em 2013 será de apenas 3,1%, depois de 2,7% em 2011 e de 0,9% no ano
passado. Essa combinação nada confortável, de fraca atividade e custo de vida elevado, mostra
que a autoridade monetária praticamente abandonou o compromisso de levar a inflação para o
centro da meta, de 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O IPCA acumulado
em 12 meses, por sinal, baterá em 6,7% no segundo trimestre deste ano, rompendo o teto da
meta, de 6,5%.
Na visão do economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, o relatório de 100
páginas do BC confirma parte das declarações da presidente Dilma em Durban. “O texto diz
que o país tem um problema de crescimento e de choque de oferta. Enquanto tivermos esse
quadro, com a economia patinando, o Banco Central não deverá tomar medidas mais firmes,
como o aumento de juros”, disse. “Para que os juros não subam agora, o Ministério da Fazenda
vai ajudar no controle da inflação com mais desonerações”, completou. A seu ver, a alta da
Selic, se vier, começará apenas em agosto, chegando a 8,5% ao ano em dezembro. “A visão
que tenho é de que há um risco inflacionário muito alto. O BC precisar agir, mas o risco de a
economia não crescer é alto”, afirmou.
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meta de inflação hoje. O perigo de atrasar ainda mais a decisão de aumentar os juros é a meta
de inflação subir mais um pouco, para 6%.
Qual o fator do relatório de inflação que o senhor considera mais preocupante e que poderá
espantar os investidores?
O fato de a expectativa de inflação ter subido quase um ponto percentual de um relatório para
o outro e o BC praticamente não mudar o tom. Pelo contrário, a autoridade monetária continua
insistindo que a inflação tende a passar logo, que são problemas que não vão ocorrer mais,
como câmbio, aumento forte de salários e de alimentos. O problema é que os pontos relevantes
foram praticamente deixados de lado. Um indicador importante, como a difusão (total de
produtos e serviços com preços remarcados), que está em mais de 75%, foi praticamente
relevado às traças no documento.
Guido Mantega, ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff, ocupou o mesmo cargo, bem
como o de ministro do Planejamento no governo Lula
Em um ano de crescimento em ritmo lento, o Brasil perdeu para o Reino Unido o sexto lugar
no ranking das maiores economias do mundo. O desaquecimento da economia brasileira é
resultado da crise internacional, que afetou os Estados Unidos e a União Europeia.
Nas últimas décadas, a estabilidade econômica fez com que o Brasil fosse um dos países que
mais subissem no ranking das maiores economias mundiais. Em meio à crise que atingiu as
nações europeias, o país ultrapassou a Itália e se tornou a sétima maior economia em 2010. No
final do ano passado, superou o Reino Unido e assumiu a 6a posição do ranking, liderado por
Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França.
Este ano, porém, a queda do PIB (Produto Interno Bruto) e a desvalorização do real perante o
dólar causaram a queda de colocação. Segundo a Economist Intelligence Unit (EIU), que elabora
a lista, somente em 2016 o Brasil poderá reassumir o posto ocupado pelos britânicos, em razão,
principalmente, da taxa de câmbio.
Isso acontece porque o levantamento é feito com base no PIB nominal – a soma de todas as
riquezas de um país – convertido em dólar. O real tem hoje uma desvalorização aproximada de
12% em relação ao dólar, enquanto a libra esterlina (moeda inglesa), atingiu uma valorização
de quase 4%.
A desaceleração da economia foi outro fator preponderante para o rebaixamento. Dados do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontaram, em novembro, um aumento
de apenas 0,6% da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo
período no ano anterior.
O fraco desempenho fez com que o mercado revisse as projeções iniciais de crescimento de
4,5% para somente 1,2% este ano, índice inferior ao de muitos países europeus em crise e
abaixo da média de 3,1% estimada para a América Latina.
Tal situação foi provocada pela recessão na Europa e desaceleração econômica nos Estados
Unidos e na China, cujos efeitos atingiram o setor de produção e os investimentos na indústria
brasileira.
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Nos países desenvolvidos, a crise gera desemprego, reduz o consumo e diminui o valor de
commodities (produtos em estado bruto, como café e petróleo), o que gera impactos nas
exportações brasileiras e na produção nacional. Os investimentos, por sua vez, também são
reduzidos, pois esses países em dificuldades financeiras precisam redirecionar recursos para
cobrir os prejuízos nas contas domésticas.
Para 2013, o Governo Federal e o Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe)
projetam um crescimento econômico de 4%, enquanto analistas do mercado financeiro, mais
cautelosos, apontam 3,4%. Mas isso dependerá da melhoria na economia internacional.
Zona do Euro
As expectativas para a economia mundial em 2013, no entanto, não são das melhores. A
Europa e os Estados Unidos devem continuar em lenta recuperação de suas finanças, segundo
analistas.
Em 2012, a Zona do Euro, formada por 17 países que adotaram a moeda única, entrou
oficialmente em recessão econômica. Este termo significa que houve uma retração na atividade
econômica, com queda na produção, maiores taxas de desemprego e perda do poder aquisitivo
da classe média.
Há um consenso de que uma economia entra em recessão após dois trimestres seguidos de
redução no PIB. Foi o que aconteceu na Europa, que registrou no terceiro trimestre deste ano
uma queda de 0,1%, seguindo a tendência do segundo trimestre, que apresentou contração de
0,2% na economia.
A recessão na Zona do Euro foi causada pela crise das dívidas públicas. Os gastos públicos dos
países europeus, que já eram altos antes da crise de 2008, tornaram-se insustentáveis quando
os governos tiveram que “injetar” trilhões de dólares no mercado para evitar a falência dos
bancos.
Depois, para equilibrar as contas, tiveram que apelar para pacotes econômicos que incluíram
o corte de benefícios sociais e aumento de impostos. As indústrias tiveram que demitir,
aumentando o número de desempregados.
Agora, se as contas não forem balanceadas, a dívida pública de metade dos 27 países que
compõem a União Europeia (UE) será o correspondente a 60% do PIB dessas nações em 2014,
segundo um relatório divulgado recentemente por especialistas da Comissão Europeia.
Emergentes
Já nos Estados Unidos, que ainda sentem o efeito da crise, democratas e republicanos tentam
chegar a um acordo para evitar o abismo fiscal no primeiro dia de 2013. Abismo fiscal é uma
série de medidas previstas, como cortes de gastos e de tributos, que, caso sejam efetivadas,
podem levar o país a um novo período de recessão.
Nesse cenário global, os chamados emergentes, que ganharam destaque ao continuarem
crescendo em meio à crise de 2008, agora também passam por dificuldades. É o caso, além do
Brasil, da China, que terá em 2012 o pior desempenho em três anos – aumento de 7,4% no PIB,
a metade de três décadas atrás, mas ainda excepcional se comparado ao de outros países.
Entender essas mudanças na economia mundial é importante porque elas influenciam
movimentos políticos que, por sua vez, geram transformações sociais.
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No ano passado, 2,7 milhões de brasileiros mudaram o perfil de renda, deixando as classes D e
E para fazer parte da classe C. Além disso, 230 mil pessoas saíram da classe C e entraram para
as classes mais ricas (A e B).
A maior da parte da população (54%) fazia parte da classe C em 2011, uma mudança em relação
ao verificado em 2005, quando a maioria (51%) estava na classe D/E. Um total de 22% dos
brasileiros está no perfil da classe A/B, o que também representa um aumento em comparação
ao constatado em 2005, quando a taxa era 15%.
É o que mostra a sétima edição da pesquisa Observador Brasil 2012, feita pela empresa Cetelem
BGN, do Grupo BNP Paribas, em parceria com o instituto Ipsos Publics Affairs.
O levantamento indica ainda que a capacidade de consumo do brasileiro aumentou. A renda
disponível, ou o montante de sobra dos ganhos, descontando-se as despesas, subiu de R$
368, em 2010, para R$ 449, em 2011, uma alta de pouco mais de 20%. Na classe C, houve um
aumento de 50% (de R$ 243 para R$ 363).
Enquanto a renda média familiar das classes A/B e D/E ficaram estáveis, na classe C cresceu
quase 8%. Mas a pesquisa mostra que em todas as classes houve um aumento da renda
disponível, que ultrapassou R$ 1 mil, entre os mais ricos.
“O aumento da renda disponível em todas as classes sociais indica que houve maior contenção
de gastos”, destaca a equipe técnica responsável pela pesquisa.
O país enviou mais dólares para o exterior do que recebeu em 2013. O saldo negativo da
entrada e saída de dólares do país ficou em US$ 12,261 bilhões. Em 2012, o saldo ficou positivo
em US$ 16,753 bilhões.
Desde 2008 (US$ 983 milhões), início da crise financeira internacional, o país não registrava
saldo negativo. E o de 2013 é o maior desde 2002 (US$ 12,989 bilhões), ano de tensão na
economia por causa das eleições. Os dados foram divulgados hoje (8) pelo Banco Central (BC).
No ano passado, o fluxo financeiro (investimentos em títulos, remessas de lucros e dividendos
ao exterior e investimentos estrangeiros diretos, entre outras operações) foi responsável pelo
saldo negativo do fluxo cambial. O segmento registrou saldo negativo de US$ 23,396 bilhões,
contra o resultado positivo de US$ 8,380 bilhões em 2012.
Já o fluxo comercial (operações de câmbio relacionadas a exportações e importações)
apresentou saldo positivo de US$ 11,136 bilhões contra o superávit de US$ 8,373 bilhões em
2012.
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Em dezembro, o fluxo cambial ficou negativo em US$ 8,780 bilhões, o maior resultado negativo
desde setembro de 1998 (US$ 18,919 bilhões). Em dezembro de 2012, o saldo ficou negativo
em US$ 6,755 bilhões. No mês passado, o fluxo financeiro ficou negativo em US$ 6,898 bilhões.
O comercial também registrou déficit, de US$ 1,881 bilhão.
Nos dois primeiros dias úteis deste ano, o fluxo cambial continuou negativo, registrando saldo
de US$ 480 milhões. O fluxo financeiro (US$ 246 milhões ) e o comercial (US$ 234 milhões)
ficaram negativos nos dias 2 e 3 deste mês.
O BC também informou que os bancos fecharam 2013 com posição de câmbio vendida, o que
indica expectativa de queda do dólar, em US$ 18,124 bilhões.
O Globo – 30/01/2014
O desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país terminou o ano passado em
5,4% abaixo dos 5,5% registrados em 2012, mostrou a Pesquisa Mensal de Emprego (PME)
divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE. Em dezembro, o indicador recuou para 4,3%, a taxa mais
baixa da série histórica da pesquisa iniciada em 2002. Antes, o menor nível de desemprego, de
4,6%, havia sido registrado em novembro de 2013 e em dezembro de 2012.
Em 2013, os desocupados somaram, em média, 1,3 milhão de pessoas, 0,1% a menos que em
2012, ou menos 20 mil pessoas. Em dezembro, o número ficou em 1,1 milhão, queda de 6,2%
em relação a novembro, o equivalente a 70 mil pessoas em busca de trabalho sem conseguir.
Já a população ocupada avançou 0,7% em relação a 2012, para 23,1 milhões de pessoas. Em
dezembro, o contingente ficou em 23,3 milhões, estável nas comparações com o mês anterior
e com dezembro de 2012.
A taxa média de desemprego nacional só será conhecida quando sair o resultado da Pnad
contínua, que pesquisa o mercado de trabalho em 3.500 municípios de todo o país.
O primeiro resultado desta pesquisa mostrou que o desemprego no segundo trimestre do ano
ficou em 7,4%, índice superior aos 5,9% registrados nas seis regiões metropolitanas analisadas
pela PME (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador). De acordo
com a Pnad, em 2012 a taxa média de desemprego do país foi de 6,2%.
Já a renda dos trabalhadores aumentou e encerrou o ano em R$ 1.929,03, aumento de 1,8%
em relação a 2012 (R$ 1.894,03). Na passagem de novembro para dezembro houve queda de
0,7%, depois de um ganho de 2% no mês de novembro.
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Suíça – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem no Fórum Econômico Mundial, em
Davos, na Suíça, que a inflação não preocupa, embora seu controle seja uma prioridade para
o governo brasileiro. Ao comentar a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom),
do Banco Central (BC) – que elevou na semana passada a taxa básica de juros (Selic) em meio
ponto percentual, para 10,5% -, o ministro se mostrou confiante, ressaltando que “o Brasil tem
controlado a inflação nos últimos dez anos” e a mantido dentro da meta.
– Não vi a ata do Copom. Mas o IPCA-15 (índice que apresenta uma prévia do IPCA, indicador
oficial de inflação) está abaixo das expectativas do mercado – disse Mantega. – O combate à
inflação continuará sendo uma prioridade do governo. Sempre.
Indagado se o governo pretende aumentar a meta do superávit primário para este ano, o
ministro afirmou que em fevereiro o governo poderá dizer “com mais precisão” qual será a
meta.
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BC está sozinho contra a inflação’, diz economista
O Globo – 16/01/2014
Silvia Matos avalia que, ao elevar gastos, o governo pressiona os preços de serviços, num
cenário de expansão do crédito, ainda que em ritmo menor. Para ela, o Banco Central terá de
recorrer a novas altas de juros, um remédio amargo para a economia.
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Alta da Selic gera custo extra de ao menos R$ 14 bilhões aos cofres públicos
O Globo – 16/01/2014
O combate à inflação por meio da elevação da taxa básica de juros, a Selic, vai custar pelo menos
R$ 14,2 bilhões a mais aos cofres públicos neste ano. É o que mostra cálculo do economista
Felipe Salto, da Tendências Consultoria. Segundo ele, as despesas com juros devem crescer de
R$ 56,5 bilhões no ano passado para R$ 70,7 bilhões neste ano, efeito do ciclo de aumento da
Selic, que estava em 7,25% em abril de 2013 e chegou a 10,5% nesta quarta-feira.
Salto diz que sua estimativa é conservadora, pois considera apenas as operações
compromissadas – instrumento do Banco Central (BC) para enxugar excesso de liquidez na
economia pela venda de títulos públicos. Não está incluso o impacto dos juros sobre os títulos
pós-fixados vendidos pelo Tesouro.
– Esses R$ 70 bilhões já representam três orçamentos do Bolsa Família. E o governo não vai
conseguir mudar isso por decreto. É preciso mudar a base desta política fiscal expansionista, o
que abriria espaço para uma política monetária mais decente – diz.
Pelos cálculos de José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o aumento de gastos com o ciclo da Selic é um pouco
maior, de R$ 15,3 bilhões. O número, também considerado conservador, tem como base a
estimativa informada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) da União. Segundo o texto, o
aumento de um ponto percentual da Selic provoca despesa extra com pagamento de juros de
0,09% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de produtos e serviços produzidos no país).
– A taxa de juros é o instrumento predominante de política monetária também em outros
países, mas parece que existe monopólio disso aqui no Brasil – disse Afonso, lembrando
que o governo também tem adotado outros caminhos para conter preços. – O governo está
intervindo diretamente nos preços dos combustíveis, da energia elétrica. Os chamados preços
administrados estão sendo mais administrados do que nunca.
Segundo Margarida Gutierrez, professora da UFRJ, o crescimento do custo de pagamento de
juros pode ser maior este ano por causa das incertezas em torno do corte da nota de classificação
de risco do Brasil pela agência Standard & Poor’s (S&P) e do ano eleitoral. Ela explica que, neste
cenário, os investidores tendem a exigir maior rendimento nos títulos do país.
– Se o BC não elevasse a Selic, aumentaria ainda mais a incerteza e cresceria ainda mais a conta
de juros.
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Adeus, consumo: BC quer incentivar a poupança
Após anos de estímulo ao consumo, o governo planeja agora incentivos à poupança, com o
intuito de elevar a taxa de investimento do país, hoje em níveis baixos. Com a mira na nova
classe média, o Banco Central prepara uma estratégia de educação financeira, que inclui o uso
de tablets em áreas pobres, para que 50 milhões de brasileiros comecem a economizar.
Após anos de foco no consumo, governo quer estimular classe C a economizar para elevar taxa
de investimento
Em vez de esconder dinheiro embaixo do colchão, o armador de ferragens Rubens Mariano
deixa suas economias em uma conta corrente. É quase a mesma coisa, já que não recebe
rendimento algum. Todo mês, ele separa R$ 200 ou R$ 300 para emergências. Não gosta de
deixar na poupança porque acredita — erradamente — que não poderá sacar quando precisar.
Com a mira em pessoas como ele, o Banco Central prepara uma estratégia para incentivar
a poupança e aumentar a taxa de investimento no país, principalmente, entre a nova classe
média. A medida vem após anos de incentivos do governo ao consumo.
Para fazer com que 50 milhões de brasileiros comecem a economizai; o Banco Central investirá
em educação financeira. Uma das iniciativas é fazer softwares de jogos e distribuir tabíets em
áreas pobres e favelas das grandes cidades para ensinar pessoas como Rubens. Se ele soubesse
que pode usar os recursos da caderneta de poupança a qualquer momento, mas que só recebe
os rendimentos a partir de 30 dias do depósito, ficaria mais tranqüilo. E poderia entrar para as
estatísticas de investidores brasileiros.
— No banco, eles falam que tem de deixar o dinheiro por três ou seis meses para render alguma
coisa. Daí, deixo na conta mesmo, porque posso precisar — diz o trabalhador.
Formação de multiplicadores
Com isso, continua fora do grupo de poupadores do país, mas já faz parte da população
bancarizada, que teve um incremento substancial com a ascensão da nova classe média. Em
outubro, o Brasil ultrapassou a marca de 100 milhões de contas correntes: crescimento de 27%
nos últimos cinco anos. Muitos brasileiros que utilizam o sistema financeiro nem abrem conta
corrente. Crianças e adolescentes — principalmente das classes mais altas — têm instrumentos
de poupança como a caderneta e até previdência privada. Por isso, 132,4 milhões de CPFs
mantêm relacionamento ativo com o sistema. Para incentivar esse tipo de comportamento
entre a população de menor renda, o BC encomendou uma pesquisa sobre os hábitos bancários
da classe C. Essa parcela da população teve um papel importante na retomada do crescimento
via consumo, após a crise global de 2009. Antes mesmo dos resultados do estudo, a autarquia
já traça projetos para incentivar a poupança em 2014 — o último ano do programa de inclusão
financeira da autarquia. O foco é sempre formar "multiplicadores" ou seja, pessoas da própria
comunidade que possam repassar os conhecimentos. Aí, entram os joguinhos nos tablets.
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O Globo – 12/12/2013
Após cinco meses de queda, emprego cresce 0,1% no setor, mas não
garante retomada
Após cinco meses de recuo, o emprego na indústria parou de cair. O total do pessoal ocupado
nas fábricas avançou 0,1% em outubro, frente a setembro, segundo dados divulgados ontem
pelo IBGE. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no entanto, o indicador
registrou a 25° queda consecutiva, de 1,7%. No acumulado do ano, a queda é de 1%. Mesmo
com a reação no último mês, a expectativa entre especialistas é de que o emprego industrial só
voltará a crescer quando a recuperação na produção industrial se consolidar.
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O recuo no emprego em outubro ocorre quando a atividade na indústria começou a reagir,
num ano de oscilações. A produção subiu 0,6% em outubro, terceira alta seguida frente ao mês
anterior, num sinal de recuperação, ainda que moderada, após um 2013 de gangorra. No ano, a
produção industrial acumula alta de 1,5%.
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REAÇÃO A VISTA
Estudo feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) aponta que,
em dez dos 18 segmentos da indústria, o número de ocupados caiu em 2012 e esta queda se
manteve nos dez primeiros meses de 2013. O setor têxtil registrou recuo de 5,9% do pessoal
ocupado no ano passado e de 3,8% no período entre janeiro e outubro de 2013. No vestuário,
essas quedas foram de 8,9% e 2,9%, respectivamente. As taxas foram negativas em 6,2% e 5,3%
no setor de calçados e couros e em 8% e 5,2% no de madeira.
— O emprego acabou não resistindo ao comportamento errático da produção industrial —
aponta o economista chefe do Iedi, Rogério César de Souza.
A expectativa dos especialistas é de alguma reação na geração de empregos da indústria, assim
que a produção consolidar sua tendência de crescimento:
— Este 0,1% de alta em outubro já pode ser um indício de reação. A produção industrial está
começando a retomar uma trajetória de recuperação e isso pode se refletir no emprego mais à
frente — diz Andréia.
Para Souza, do Iedi, o emprego deve começar a reagir se a produção industrial mantiver um
crescimento consistente por três a cinco meses. A projeção do Iedi é de um crescimento em
torno de 2% da produção industrial em 2013 e de até 2,5% em 2014. lá Fernanda Guardado, da
Brasil Plural, não espera uma melhora no ano que vem. Ela acha que a recuperação da indústria
ao longo de 2013 perde fôlego.
Queda é a maior em 5 anos e empresa perde R$ 24 bi. Para governo, houve ataque
especulativo
O reajuste de gasolina e diesel abaixo do esperado e as incertezas quanto à política de preços
da Petrobras foram mal recebidos pelo mercado financeiro. As ações da estatal tiveram a
maior queda diária desde 12 de novembro de 2008, auge da crise econômica internacional.
Os papéis ordinários (com voto) desabaram 10,37%, a R$ 16,42, a maior baixa do pregão. As
ações preferenciais recuaram 9,20%, a R$ 17,36, a segunda maior desvalorização. Em apenas
um dia, a Petrobras perdeu R$ 24 bilhões em valor de mercado, o que a fez cair duas posições
no ranking de maiores petroleiras da Bloomberg, superada pela russa Gazprome pela China
Petroleum. O desempenho da petrolífera levou a Bovespa ao menor patamar em três meses,
com queda de 2,36%, aos 51.244 pontos.
Em Nova York, os recibos de ações de papéis ordinários da petrolífera (as ADRs) caíram 10,92%,
a US$ 14,20, na maior queda desde de dezembro de 2008. Na avaliação do governo, a Petrobras
passou o dia de ontem sob ataque especulativo, com analistas traçando o pior cenário possível
para a empresa.
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Fontes do governo reconhecem, no entanto, que o comunicado sobre a política de preços
não foi claro. Nos bastidores, chegou-se a discutir até mesmo a divulgação de um novo fato
relevante, mais enfático sobre a metodologia, mesmo sem a existência de gatilhos automáticos.
A hipótese foi descartada.
Em vez disso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do Conselho de Administração
da Petrobras, saiu em defesa da metodologia, o que não conteve a queda das ações. De acordo
com Mantega, de novembro de 2011 até agora, os preços de gasolina e diesel foram reajustados
em cerca de 30%, enquanto a inflação acumulou alta de 15%. Em evento com empresários,
em São Paulo, ele lembrou que o governo usou a Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico (Cide), que incidia sobre os combustíveis, para que parte do aumento não chegasse
às bombas. Dessa vez, o ministro calcula que o impacto para o consumidor seja de até 2,5% nos
postos.
— O problema é que a inflação não pode ficar em segundo plano — disse Mantega, após ouvir
críticas de dirigentes do setor sucroalcooleiro sobre o impacto negativo das intervenções para
a competitividade do etanol, como o presidente da Cosan, Rubens Ometto Silveira Mello, que
classificou os subsídios como "maléficos" para a economia e para a Petrobras.
Mantega acenou com a hipótese de retornar com a cobrança da Cide, mas somente quando a
inflação permitir. Perguntado sobre a queda das ações da estatal, Mantega desconversou:
— Não vi o mercado hoje, as ações de empresas flutuam e não tenho nada a comentar sobre
isso.
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— Esse controle oficial de preços não faz sentido, subsidiar a gasolina não tem sentido. O
governo precisa ter coragem de resolver e não é a conta-gotas — disse Carlos Langoni, diretor
do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas e ex-presidente do Banco Central,
em seminário no Rio.
Para Marcus Sequeira, analista do Deutsche Bank, com a rejeição do governo à proposta da
Petrobras para a política de preços, "a produção doméstica de petróleo deve ser agora o
principal fator para o comportamento das ações nos próximos meses".
A queda das ações ordinárias se intensificou na fase final do pregão. Segundo a BM&FBovespa,
os papéis não entraram em leilão (prática comum para estabilizar o preço quando uma
ação desaba). A ação atingiu a mínima do dia quando a Bolsa já estava no chamado "call de
fechamento".
Valor da produção econômica do país no terceiro trimestre caiu até 0,3%. Dado oficial sai hoje
e IBGE vai rever número do ano passado. Poucos acreditam em melhora significativa entre
outubro e dezembro. Indústria está estagnada e dólar sobe
A economia brasileira pode ter encolhido até 0,3% no terceiro trimestre do ano, em relação
ao período imediatamente anterior. Nove entre 10 analistas apostam que o valor das riquezas
produzidas por empresas, famílias e pelo governo diminuiu, como resultado de políticas oficiais
que fracassaram na missão de estimular o desenvolvimento do país. Alguns poucos acreditam
em estabilidade, ou seja, em crescimento zero no período. “A única divergência em relação
ao Produto Interno Bruto (PIB), dentro ou fora do governo, é sobre o tamanho da queda”,
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resumiu o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O resultado, calculado pelo IBGE, será comunicado hoje, por volta das 7h, à presidente Dilma
Rousseff. Duas horas mais tarde, os dados oficiais serão divulgados para o restante do país.
Apesar da expectativa ruim, o governo deverá comemorar a revisão dos dados relativos a 2012.
Conforme Dilma antecipou há um semana, em entrevista ao jornal espanhol El País, o IBGE
deverá esclarecer que o crescimento foi de 1,5%, e não de 0,9%, conforme havia informado
antes. Mesmo significativamente maior, o novo número ainda traz desconforto à equipe
econômica. No ano passado, quando um banco suíço previu que esse seria o desempenho da
economia brasileira, a estimativa foi tachada como “piada” pelo ministro da Fazenda.
O mercado vê a revisão dos dados com ceticismo. A presidente no Brasil da agência de
classificação de risco Standard & Poor’s, Regina Nunes, disse que a confiança do investidor não
vai melhorar, porque a imagem do país está desgatada por problemas fiscais, inflação elevada
e falta de transparência. “Quando você começa a discutir o passado para tentar cumprir as
metas de hoje, isso é um problema”, disse. A S&P mantém a nota do Brasil em BBB (grau de
investimento), mas com perspectiva negativa.
Ao olhar para a frente, a situação é ainda mais preocupante. Em outubro, o faturamento do
setor industrial recuou 1,2%, conforme informou a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em novembro, não foi somente esse indicador que veio fraco, mas toda a atividade fabril.
Também divulgado ontem, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) apontou
recuo na passagem de outubro para novembro, de 50,2 para 49,7. “Os dados destacaram mais
uma contração nos pedidos (de encomendas) na indústria brasileira”, assinalou o responsável
pela pesquisa, o economista-chefe para o Brasil do banco inglês HSBC, André Lóes.
Parte desse mau resultado se deve ao desempenho frustrante de um dos setores que mais
receberam a ajuda do governo, o de automóveis. Movido a desonerações do Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI), o mercado de carros começa a apresentar desaceleração. Dados
preliminares mostram que as vendas de veículos novos recuaram 8,25% em novembro frente
ao mês anterior. O resultado fez os analistas revisarem as projeções para 2013. Agora, eles
preveem queda nos emplacamentos, algo que não acontece há mais de 10 anos.
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caiu 1,2%, enquanto as importações cresceram 7,1%. O resultado teria sido ainda pior se não
fosse a “exportação” de seis plataformas de petróleo, no valor de US$ 6,6 bilhões, que nunca
saíram do Brasil. Elas foram compradas por subsidiárias estrangeiras, mas ficaram no país.
Em novembro, houve duas operações desse tipo, no valor de US$ 1,8 bilhão, o que permitiu à
balança mostrar superavit de US$ 1,74 bilhão, o melhor desempenho, para o mês, desde 2007.
Mesmo se fosse usado integralmente para pagar as dívidas, o 13º salário não seria suficiente.
Os brasileiros chegam ao fim de 2013 devendo — somente aos bancos — um total de pouco
mais de R$ 1,2 trilhão, o maior saldo da história, segundo dados do Banco Central (BC). O
montante equivale a oito vezes a quantia que será injetada na economia brasileira neste ano
com o benefício natalino, cuja primeira parcela caiu na conta dos trabalhadores na última sexta-
feira. Ceia, presentes e viagens poderão até ser mantidos, mas o aperto nunca foi tão grande.
A situação das finanças domésticas se complica porque, com base nos números do BC sobre as
operações de crédito, os consumidores têm mergulhado nas dívidas mais caras do mercado. O
saldo devedor do cheque especial, por exemplo, é o maior já registrado, com alta acumulada de
20,9% no ano. Os débitos com o cartão de crédito na modalidade rotativa — quando se quita
apenas o valor mínimo da fatura — cresceram 6,2% nos 10 primeiros meses, mais do que os
pagamentos à vista com cartão, nos quais não incidem juros, com alta de 5,1%.
O ano não foi fácil para os brasileiros. A inflação se manteve persistente e bem acima do
centro da meta do governo, de 4,5%. A cada ida ao supermercado, um novo espanto diante
dos reajustes, sempre minimizados pela equipe econômica. Não bastasse, a expectativa para o
início de 2014 é de mais alta dos preços, além dos gastos extras do período, como pagamento
de impostos e matrícula escolar. A escalada da taxa básica de juros — que na última semana
chegou a 10% ao ano, voltando à casa dos dois dígitos — encarecerá o crédito e poderá acelerar
o inchaço das dívidas.
A soma do que os brasileiros devem às instituições financeiras representa, hoje, mais de um
quarto (25,8%) do Produto Interno Bruto (PIB), também a maior proporção já identificada
pelo BC. "Para diminuir o peso das dívidas, o consumidor foi obrigado a ficar mais seletivo e
cuidadoso. Quem conseguiu limpar o nome não vai querer virar o ano no vermelho de novo",
acredita o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes.
Nos últimos anos, com a ausência de projetos estruturantes no país, o consumo das famílias
foi o que garantiu o crescimento econômico. O aumento da renda e do nível de emprego
da população fizeram o governo estimular a fartura do crédito e, consequentemente, uma
corrida às compras. A euforia deu resultado. Mas, no entender de analistas, esse modelo de
desenvolvimento — que acabou abafando a falta de projetos sólidos — se esgotou.
Superação
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Com o poder de compra estrangulado pela inflação e pelas dívidas, muitos brasileiros que
iniciaram o ano na lista de maus pagadores deram a volta por cima e dizem ter aprendido a
lição. Decidiram neste fim de 2013 não só diminuir o consumo, mas também estão mais
dispostos a poupar. "Parece que há, de fato, uma maior conscientização. Mas não basta. As
famílias precisam de uma "faxina financeira" e mudar hábitos", pondera o educador financeiro
Reinaldo Domingos.
O auxiliar de cozinha Sidney Araújo da Silva, 34 anos, passou vários Natais "comendo e se
divertindo na casa dos outros", como relembra ele. As dívidas com cartão de crédito e celular
torravam o dinheiro da ceia. Desta vez, metade do 13º está reservado para garantir a festa da
família, mesmo sem muita pompa. "Quem quiser esbanjar que esbanje. Vou cuidar das minhas
contas para entrar em 2014 tranquilo", afirma.
A outra metade do salário extra, acrescenta Silva, será usada para ajudar a pagar as parcelas
de uma televisão de plasma comprada recentemente — dividida em 12 vezes — e do novo
aparelho de celular, que deve ser quitado em abril do ano que vem. Sem revelar para ninguém o
quanto tem guardado, o morador de Planaltina defende a importância de poupar. "Se depender
só do salário, o cara fica enrolado. Se o patrão atrasar o pagamento é problema. E se os bancos
entrarem em greve?", provoca.
O medo de afundar em dívidas levou muitos brasileiros a abrirem mão de extravagâncias. É
por isso, acreditam analistas, que, apesar do endividamento recorde das famílias — 63,2%, de
acordo com levantamento mais recente da CNC —, a inadimplência tem recuado. "As pessoas
gastam o que não têm. Estou cansado de pegar passageiro com salário de R$ 20 mil por mês,
mas que quer viajar todo fim de semana, comprar tudo, e aí depois reclama", opina o taxista
João Rodrigues, 64.
A casa própria segue como sonho e prioridade para a maioria dos brasileiros. A aposentada Ana
Carvalho, 72, não se incomodou em comprometer um terço da renda com um financiamento
imobiliário iniciado neste ano. Para compensar o arrocho programado, ela optará por presentes
mais baratos para os filhos e netos no Natal. "Vou gastar menos, para juntar mais dinheiro e
antecipar parcelas. Quero usar até o 13º para ajudar a diminuir o montante."
Esgotamento
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará amanhã o resultado do PIB do
terceiro trimestre. Os números voltarão a mostrar que o consumo deixou de ser a principal
mola propulsora da economia brasileira. O mercado aposta em recessão do indicador em 0,3%.
"O consumo estagnou mesmo, chegou ao seu esgotamento. É algo que preocupa. Agora, ele
terá de dar lugar à poupança", comenta o ex-diretor do BC e presidente do Conselho Regional
de Economia do Distrito Federal, Carlos Eduardo de Freitas.
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ECONOMIA INTERNACIONAL
O problema da dívida em países na zona do euro “está assustando o mundo”, nas palavras
do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Embora esteja no foco das atenções dos
investidores, a turbulência na Europa é apenas parte da crise econômica mundial .
Permanecem no radar o elevado nível de endividamento público americano, a fragilidade das
instituições financeiras em diversos países e os claros sinais de desaceleração da economia
mundial.
O iG conversou com especialistas em economia internacional e selecionou cinco pontos
fundamentais para entender a crise. Veja a seguir:
1. Mais do mesmo
“Na verdade, não estamos vivendo uma nova crise mundial. A crise é a mesma que teve início
em 2008, estamos só em uma nova fase”, afirma Antonio Zoratto Sanvicente, professor do
Insper.
Naquele ano foi deflagrada a crise das hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos, com a quebra
do banco Lehman Brothers.
Basicamente, os problemas começaram porque as instituições financeiras emprestaram
dinheiro demais para quem não podia pagar. Isso levou à falência de bancos e à intervenção
governamental para evitar o colapso do sistema financeiro e uma recessão mais aguda.
Ao injetar recursos em bancos e até em empresas, no entanto, os governos aumentaram seus
gastos, em um momento em que a economia mundial seguia encolhendo. O resultado não
poderia ser outro: aprofundamento do déficit público, que em muitos países já era bastante
elevado.
Na Grécia, por exemplo, a crise de 2008 ajudou a exacerbar os desequilíbrios fiscais que o país
já apresentava desde sua entrada na zona do euro, diz o economista Raphael Martello, da
Tendências Consultoria.
2. Europa endividada
Faz quase dois anos que a crise da dívida soberana em países da União Europeia tem sido
discutida nos mercados financeiros. Mas foi nos últimos meses que o problema veio à tona com
mais intensidade e se tornou um dos maiores desafios que o bloco já enfrentou desde a adoção
do euro em 2002.
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Além da Grécia, países como Portugal, Irlanda, Itália e Espanha sofrem os efeitos do
endividamento descontrolado e buscam apoio financeiro da zona do euro e do Fundo
Monetário Internacional.
Para receber ajuda, no entanto, precisam adotar medidas de “austeridade fiscal” que, na prática,
significam enxugar os gastos públicos, por meio do corte de benefícios sociais e empregos, por
exemplo, e elevar a arrecadação por meio de impostos.
O problema é que essas medidas deprimem ainda mais a economia e geram descontentamento,
greves e manifestações. Nas últimas semanas, os movimentos populares têm se intensificado
especialmente na Grécia.
Em meio ao clima de instabilidade e discussão até mesmo sobre a manutenção desses países
na zona do euro, o parlamento alemão aprovou a ampliação do fundo de socorro europeu para
um total de 440 bilhões de euros.
4. Bancos em risco
A fragilidade do sistema financeiro na Europa e Estados Unidos continua a tirar o sono dos
investidores. Se em 2008 os bancos, principalmente americanos, sofreram com a exposição a
hipotecas de alto risco, desta vez, instituições de ambos os lados do Atlântico sentem os efeitos
da exposição a títulos da dívida soberana de países europeus.
É o caso dos bancos franceses, bastante expostos a títulos públicos da Grécia – país que busca
com urgência nova parcela de resgate para evitar o calote.
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Alguns estudos tentam estimar o volume total de recursos que seria necessário para
recapitalizar os bancos europeus em caso de um default da Grécia ou mesmo de outros países,
como Portugal.
Mas economistas afirmam que não é possível saber exatamente o tamanho do rombo, pois
além dos títulos públicos, os bancos também estão expostos a seguros contra a dívida.
Por não ser negociado em mercado formal, ninguém sabe ao certo quanto os bancos perderiam
com esses seguros.
5. Mundo em desaceleração
Se há alguns meses a inflação mundial era a principal preocupação de líderes e analistas de
mercado, hoje o tema que domina as conversas é a desaceleração da economia global.
Em um relatório recente, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE) alertou para evidente desaceleração da atividade econômica em praticamente todos os
países.
E o Brasil não está imune. Pelo contrário, é a nação que mostra os sinais mais claros de
esfriamento da atividade, segundo a OCDE.
Na avaliação do Banco Central brasileiro, “observa-se moderação do ritmo de atividade” do
País, mas a economia “ainda continuará sendo favorecida pela demanda interna".
No cenário internacional, a autoridade monetária vê "possibilidade elevada de recessão" em
alguns países devido à crise global, "em especial nas economias maduras".
A crise da dívida que afeta a Europa tem reflexos não só no continente, mas em várias outras
partes do mundo, inclusive no Brasil , em um cenário internacional onde as relações econômicas
e financeiras estão cada vez mais interligadas.
Mas as fragilidades causadas pelos altos déficits , que ocorrem quando um país gasta mais do
que arrecada, são mais latentes e concentradas em cinco países da região que adotou o euro
como moeda única: Portugal , Irlanda , Itália , Grécia e Espanha , batizados de “Piigs”, uma sigla
depreciativa criada com a junção das letras iniciais do nome de cada nação, em inglês, e cuja
sonoridade se assemelha com a palavra “porcos”, no mesmo idioma.
O alto risco de um calote nesses países é considerado pelos especialistas como a maior ameaça
à economia da União Europeia desde a Segunda Guerra Mundial. Esse cenário de medo e
incertezas tem levado a indagações sobre a real viabilidade futura da união monetária , com
reflexos nas principais bolsas de valores do mundo , que sofrem com as constantes quedas e
fortes oscilações ao sabor dos acontecimentos de curto prazo.
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O motivo de tanta tensão é a dificuldade que alguns países vêm enfrentando para conseguir
empréstimos e refinanciar suas dívidas públicas. Essa capacidade de se refinanciar acontece
porque existe um grande desequilíbrio fiscal, com a arrecadação dos governos em queda e os
gastos em alta.
A União Europeia , sob a liderança da Alemanha , a maior economia do bloco, tem buscado
saídas para a crise, mas a falta de medidas concretas e de grande impacto tem contribuído
ainda mais com clima de incerteza.
O resultado dessa falta de ação na vida das pessoas comuns pode ser percebida com a queda de
vários governos na Europa. A crise econômica já derrubou dez chefes de governo desde 2009,
sendo que o último a cair foi o do primeiro-ministro espanhol José Luis Zapatero derrotado nas
eleições parlamentares de 20 de novembro.
Eleitores insatisfeitos com as respostas dadas pelos governos para a crise foram às urnas e
mudaram o comando de países como Irlanda, Portugal e Espanha. Na Grécia e na Itália, os
premiês, também sob forte pressão, renunciaram a seus mandatos.
O sentimento de reprovação às soluções propostas para debelar a crise também pode
ser notado nas manifestações de movimentos como o "Indignados" , que tem protestado
em diversas cidades da Europa contra as distorções geradas por um mundo financeiro com
instrumentos de fiscalização comprovadamente falhos em muitos casos.
Veja a seguir alguns pontos para entender a crise que afeta a Europa e os
“Piigs”
Portugal
Portugal enfrenta uma taxa de desemprego superior a 12% e uma economia em contração . O
recém empossado primeiro-ministro Pedro Passos Coelho terá que implantar reformas fiscais e
sociais amplas e urgentes, incluindo mais medidas de austeridade para restaurar a saúde fiscal
do país e encorajar o crescimento econômico.
Os termos do acordo de ajuda financeira acertado com a União Europeia e credores incluem
aumento dos impostos, congelamento de aposentadorias e cortes nos benefícios dos
funcionários. O novo governo terá que implementar o pacote econômico que prevê uma ajuda
financeira de 78 bilhões de euros ao país.
Diferentemente de outros países, não houve qualquer estouro de bolha em Portugal. O que
houve foi um processo gradual de perda de competitividade, com o aumento dos salários e
redução das tarifas de exportações de baixo valor da Ásia para a Europa.
Com o baixo crescimento econômico, o governo tem tido dificuldade para obter a arrecadação
necessária para arcar com os gastos públicos crescentes, em parte por causa de uma sucessão
de projetos, incluindo melhorias no setor de transportes, com o objetivo de aumentar a
competitividade portuguesa.
Quando estourou a crise financeira global, em setembro de 2008, Portugal passou a enfrentar
problemas com sua dívida pública, que ficou cada vez mais difícil de ser financiada.
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Irlanda
A República da Irlanda foi uma das maiores casos de sucesso recente na Europa, nos anos pré-
crise. Tanto que devido a esse fato o país foi apelidado de "Tigre Celta". Mas esse crescimento
econômico era dependente de uma frágil bolha imobiliária que ruiu em 2008. O país foi do
boom ao desastre financeiro em um período de apenas três anos.
O preço dos imóveis caiu rapidamente cerca de 60% e os empréstimos de risco, concedidos
principalmente para as construtoras, se acumularam nas carteiras dos principais bancos. Para
ajudar as principais instituições financeiras e evitar um colapso em todo o sistema foi necessário
um aporte emergencial de 45 bilhões de euros, mais de R$ 100 bilhões, o que aprofundou
ainda mais o já elevado déficit no orçamento do governo irlandês.
As finanças do país também estão sendo afetadas pela queda na arrecadação de impostos. À
medida que a economia se retrai, cresce o desemprego e aumentam os temores de que o país
esteja à beira de uma volta à recessão.
O país já adotou uma série de programas de austeridade desde o início da crise da dívida,
mas o governo terá de fazer muito mais nos próximos anos para cumprir as difíceis metas
estabelecidas pela União Europeia (UE), pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco
Central Europeu (BCE), que são credores do país.
Em 7 de novembro, a União Europeia fez uma emissão de bônus dez anos no valor de 3 bilhões
de euros destinados ao programa de assistência financeira à Irlanda. A operação foi realizada
por meio do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), com vencimento dos títulos em
4 de fevereiro de 2022 e rentabilidade de 3,6%.
Itália
O agravamento da situação da economia italiana tem colocado em dúvida as soluções propostas
até agora pela União Europeia para a crise. A Itália possui uma dívida de 1,9 trilhão de euros,
muito maior que a de Grécia, Irlanda e Portugal juntos.
A quebra da Itália , terceira maior economia do bloco, que representa cerca de 20% da União
Europeia, poderia abalar seriamente a estrutura do euro. Para blindar a Itália, os líderes
europeus decidiram em outubro ampliar o Fundo de Estabilidade Financeira (FEEF) para 1
trilhão de euros, mediante um mecanismo que estimule a compra da dívida dos países mais
frágeis, oferecendo uma garantia de 20% sobre perdas eventuais.
Diante da gravidade da situação, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, nomeou em 13
de novembro o economista e ex-comissário da União Europeia Mario Monti como primeiro-
ministro do país, em substituição a Silvio Berlusconi , que ocupou o cargo por cerca de dez
anos, e passava por uma crise de credibilidade após se envolver em sucessivos escândalos,
além de ter seu nome associado em denúncias de corrupção.
Monti te como função principal implementar o plano de austeridade aprovado em 12 de
novembro pelo parlamento italiano. O pacote contém medidas duras para cortar 59,8 bilhões
de euros e equilibrar o orçamento do país até 2014.
Entre as medidas estão o aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), de 20% para 21%,
congelamento dos salários de servidores até 2014, aumento da idade mínima de aposentadoria
para as trabalhadoras do setor privado, de 60 anos em 2014 para 65 em 2026, maior rigidez na
aplicação das leis contra evasão fiscal, além de um imposto especial para o setor de energia.
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Grécia
A Grécia foi uma das maiores beneficiadas com a de adesão ao euro em 2001. Mas o governo
grego foi incapaz de gerir a expansão dos gastos públicos que dispararam de forma desordenada.
Nesse período, os salários do funcionalismo praticamente dobraram. Agora, a Grécia é o país
de maior evidência no grupo de devedores da União Europeia.
O país tem hoje uma dívida equivalente a cerca de 142% do Produto Interno Bruto (PIB), a
maior relação entre os países da zona do euro. O volume de dívida está muito acima do limite
de 60% do PIB estabelecido pelo pacto de estabilidade do bloco assinado pelo país para fazer
parte do euro.
A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e
deixando a economia cada vez mais exposta aos riscos da crescente dívida. Enquanto os cofres
públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de impostos, deixando
o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito que veio à tona
em setembro de 2008.
Apesar da ajuda da União Europeia, a Grécia segue em dificuldades. Em meados de 2011, foi
aprovado um segundo pacote de ajuda, de cerca de 109 bilhões de euros, em recursos da União
Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de bancos do setor privado. Um programa
de recompra de dívidas deve somar outros 12,6 bilhões de euros vindos de instituições
financeiras não estatais, chegando a cerca de 50 bilhões de euros apenas a contribuição dos
credores privados.
Diante das pressões, tanto internas como da comunidade financeira internacional, no início
de novembro o primeiro-ministro grego George Papandreou aceitou renunciar ao cargo para
que fosse montado um governo de coalizão no país. Após uma longa negociação entre os
partidos governistas e de oposição, o ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) Lucas
Papademos foi nomeado em 10 de novembro o novo primeiro-ministro do governo de união
nacional na Grécia, com a missão de restaurar a confiança do mercado financeiro e estabilizar
a situação econômica do país.
Espanha
Com a taxa de desemprego mais alta entre os países industrializadas (22% da população ativa),
ameaça de resgate financeiro e risco crescente de recessão, a Espanha vive sua pior crise em
mais de quatro décadas.
A fragilidade econômica vem causando uma rápida mudança social na Espanha, empurrando
de volta para a pobreza pessoas que vinham ascendendo economicamente. Segundo o Instituto
Nacional de Estatística (INE), mais de um em cada cinco espanhóis, (21% da população), ou
cerca de 10 milhões de pessoas, era classificado como pobre em julho, e analistas estimam que
este índice chegue a 22% até o fim do ano. Em 1991, o índice era de 14%. Uma em cada quatro
famílias no país não tem dinheiro suficiente para saldar as dívidas no fim de cada mês.
Essas estatísticas recentes contrastam com o perfil de um país que até seis anos atrás criava
cerca de 500 mil empregos por ano e que em uma década de crescimento contínuo importou 5
milhões de imigrantes.
Algumas medidas para tentar ajustar o país ao momento de baixo crescimento como
congelamento de pensões, aumento na idade de aposentadoria, que passou dos 65 para
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O Brasil teve avanços importantes nos últimos 15 anos. O tripé de política econômica – inflação
controlada, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal – trouxe credibilidade ao país, reduzindo
o custo de captação externo. Reformas, que mudaram as instituições, geraram crescimento
e atraíram novos investimentos externos diretos. Ficaram para trás os antigos problemas
recorrentes no balanço de pagamentos que faziam o Brasil ficar sobressaltado a cada crise
externa. Hoje a dívida externa brasileira não existe e as exportações cresceram muito.
Uma parte do sucesso nas contas externas deve-se ao expressivo ganho nos termos de troca. A
China teve um papel importante nesse processo. A forte demanda por commodities foi decisiva
na elevação dos preços desses produtos no mercado internacional, explicando boa parte deste
ganho nos termos de troca.
Entender a dinâmica da economia chinesa passou a ser, portanto, fundamental para o Brasil.
Como ela se comportará nos próximos anos? O governo chinês dá sinais de estar comprometido
com reformas que modifiquem seu modelo de crescimento. O país deve crescer menos, porém
de forma mais sustentável. Ao mesmo tempo, os sinais apontam para um ritmo lento de ajustes,
seguindo o gradualismo que marcou o país nas últimas décadas.
Estudo sugere que não há espaço para que o investimento continue crescendo mais rápido
do que o PIB, sob pena de surgirem projetos de qualidade duvidosa. O consumo, por sua vez,
deverá ganhar espaço na demanda doméstica.
Em 2007, o premiê Wen Jiabao afirmou que o crescimento chinês é "instável, desbalanceado,
descoordenado e insustentável", e desde então o governo vem buscando um rebalanceamento.
O último plano quinquenal (2011-2015) reafirma esse diagnóstico e aponta o caminho.
Do lado da demanda, o objetivo é fortalecer o consumo doméstico. Do lado oferta, o plano
prevê o aumento da participação do setor terciário no Produto Interno Bruto (PIB). Além disso,
o governo almeja aumentar o valor agregado das manufaturas e a liberar gradualmente a conta
financeira do balanço de pagamentos.
A crise de 2008/2009 interrompeu temporariamente o processo. Em resposta à queda nas
exportações, o governo expandiu os investimentos, principalmente em infraestrutura e no
setor imobiliário. Como consequência, a participação dos investimentos no PIB chegou a quase
50%. A dívida dos governos locais aumentou cerca de 17% do PIB em 2008 para 26% em 2010.
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Aumentou a incerteza em relação ao pagamento dos empréstimos bancários que financiaram
essa expansão, embora o governo tenha espaço para absorver eventuais perdas e prevenir uma
crise bancária.
Passada a crise, o rebalanceamento induzido pelo governo foi retomado. Os investimentos
ainda crescem mais do que o PIB, mas vêm desacelerando. O superávit na conta corrente do
balanço de pagamentos declinou de 10% do PIB em 2007 para menos de 3% em 2011, em parte
resultado do aumento da demanda doméstica e da apreciação da taxa de câmbio – embora o
baixo crescimento cíclico nos países desenvolvidos também tenha contribuído no ajuste.
As reformas devem continuar. A recente redução da meta de crescimento de 8,0% para 7,5%
em 2012 indica disposição do governo em aceitar um crescimento menor, necessário para
viabilizar uma evolução mais sustentável à frente (cabe lembrar, contudo, que o crescimento
efetivo costuma ser maior do que a meta). A estrutura tributária deve voltar a ser ajustada em
2012, aumentando a renda disponível das famílias. Ao mesmo tempo, o governo já elevou duas
vezes os preços de gasolina e diesel e prometeu ajustes nos mecanismos que regulam preços
de eletricidade e de combustíveis.
No setor financeiro, foi anunciado um programa piloto na cidade de Wenzhou que vai viabilizar
uma participação maior do setor privado. Apesar da preocupação com os mecanismos de
financiamento fora do balanço dos bancos, estes podem ser vistos como um passo na direção
da desregulamentação das taxas para os depósitos e empréstimos, desde que estejam sob um
arcabouço regulatório bem desenhado.
Por fim, os aumentos da largura da banda de flutuação diária do yuan em relação à taxa de
referência e do programa de investimento em ativos domésticos para investidores qualificados,
ambos anunciados em abril, vão na direção de diminuir as restrições nos fluxos de capital.
Esses fatores devem levar a uma lenta redução das taxas de crescimento do PIB. A equipe de
economistas do Itaú publicou um estudo tentando medir o crescimento potencial das principais
regiões do mundo (1). Para a China, o estudo sugere que não há espaço para que o investimento
continue crescendo mais rápido do que o PIB, sob pena de surgirem projetos de qualidade
duvidosa, como os que apareceram durante a retomada pós-crise de 2008. O consumo, por sua
vez, deverá ganhar espaço na demanda doméstica.
O cenário do Itaú prevê uma diminuição do crescimento potencial a um valor entre 6,5% e 7,0%
no final desta década. O crescimento menor decorre da desaceleração dos investimentos e de
fatores demográficos (força de trabalho crescendo menos). Além disso, há uma tendência de
relocação da mão de obra: a migração do campo para a cidade continuará, mas os trabalhadores
irão cada vez mais para o setor de serviços, que é menos produtivo.
Em suma, a China continuará avançando, contribuindo para o crescimento mundial e para
a demanda por commodities. Mas o ritmo será mais moderado, em resposta a medidas
governamentais para rebalancear a economia. Este é um cenário ainda favorável para o Brasil,
mas que traz desafios. Ganham importância reformas estruturais que acelerem a produtividade
da economia e abram espaço para aumentar os investimentos em infraestrutura. Desta forma,
reduziremos ainda mais a dependência do ambiente internacional. Afinal, os ventos externos
favoráveis não devem ser tão forte como nos últimos 10 anos.
(1) Itaú Macro Latam 2020 (março de 2012). Disponível em bit.ly/Macro_Latam_2020
Caio Megale e Artur Manoel Passos são economistas do Itaú Unibanco.
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Os Brics podem salvar os Pigs? Talvez com a ajuda dos Cement. Com isso, Civets, Mints, Mist,
Carbs e Cassh poderão continuar crescendo.
No rastro do sucesso do acrônimo Bric, cunhado há dez anos pelo economista-chefe do banco
Goldman Sachs, uma série de novos acrônimos vem aparecendo para denominar grupos de
países com algo em comum, seja para a felicidade da mídia, que pode usá-los para simplificar
conceitos e economizar espaço, seja para simplesmente 'vender' os países aos investidores
internacionais.
Novos acrônimos e siglas vêm sendo apresentados com cada vez mais frequência no noticiário
econômico ou internacional. Além dos "filhotes" dos Brics, há a proliferação dos já tradicionais
agrupamentos G (G2, G4, G5, G7, G8, G20, G77 etc...).
Quando Jim O'Neill, do Goldman Sachs, criou os Bric, sua intenção era identificar o grupo dos
quatro países de grandes dimensões com crescimento econômico acelerado (Brasil, Rússia,
Índia e China) nos quais seus clientes poderiam investir com perspectivas de grandes ganhos
futuros.
O sucesso do acrônimo, que se utiliza também do trocadilho em inglês com brick (tijolo), numa
referência aos blocos de construção do crescimento global, gerou não só uma atenção global
maior sobre os países como levou-os a institucionalizá-lo, com reuniões de cúpula periódicas
e mecanismos de consultas diplomáticas para a discussão de posições comuns. No rastro,
também popularizou o nome de O'Neill.
Siglas fáceis
Uma pesquisa acadêmica citada recentemente pelo diário "The Wall Street Journal" mostra que
siglas fáceis de serem lembradas podem ajudar a vender investimentos. O estudo, publicado
em 2006, mostrou que as ações cujas siglas formavam sons de palavras comuns reconhecíveis
se valorizaram 8,5% a mais em comparação com as demais.
Isso explica em grande parte a proliferação das siglas. O próprio acrônimo Bric já ganhou
variações, com Brics (com a inclusão recente da África do Sul ao grupo institucionalizado) ou
Brick (com a inclusão da Coreia do Sul, como defendem alguns analistas).
Desde o ano passado, com o agravamento da crise da dívida nos países da Europa, parte da
mídia passou a se referir aos países em dificuldades como Pigs (porcos, em inglês). Fazem parte
do grupo Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha. Com a contaminação da Itália pela crise, a sigla
ganhou um novo I e gerou os Piigs.
Compreensivelmente e diferentemente dos Brics, porém, nem os Pigs ou os Piigs se assumem
como tal nem há um "pai" declarado do acrônimo.
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A maioria dos acrônimos que apareceram nos últimos tempos tem sentido positivo. Os Civets
(nome em inglês dos cervos almiscareiros) reúnem Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e
África do Sul. O acrônimo foi criado pela Economist Intelligence Unit (EIU), o braço de pesquisas
da revista "The Economist", para agrupar países emergentes com economias dinâmicas e
diversificadas e com populações jovens.
Os Civets são de alguma maneira complementares aos Brics, da mesma maneira que o grupo
Cement (cimento em inglês, num trocadilho que envolve também os tijolos Brics). O Cement
(Countries in Emerging Markets Excluded by New Terminology, ou Países nos Mercados
Emergentes Excluídos pela Nova Terminologia) foi criado pelos críticos dos Brics que afirmam
que o crescimento do grupo depende diretamente do crescimento dos demais países
emergentes. Para eles, sem cimento os tijolos não servem para nada.
Outra adição recente ao rol dos acrônimos econômicos é o Carbs (abreviação em inglês para
carboidratos), que reúne Canadá, Austrália, Rússia, Brasil e África do Sul. O acrônimo foi
cunhado pelo Citigroup, que em um relatório publicado neste mês chamado Carbs make you
strong (Carbos deixam você forte) argumentou que os cinco países têm economias e moedas
particularmente sensíveis às variações nos preços das commodities.
Outros acrônimos criados nos últimos anos incluem, entre outros, Eagles (Emerging and
Growth Leading Economies), Mints (Malásia, Indonésia, Nova Zelândia, Tailândia e Cingapura),
Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia) e Cassh (Canadá, Austrália, Cingapura, Suíça e
Hong Kong).
A lista não para de crescer. Em alguns casos, porém, quando a lógica do agrupamento dos
países não combina com a cunhagem de um acrônimo, outras soluções são necessárias, como
no caso dos Next-11 (Próximos 11).
O grupo, criado também pelo pai dos Bric, Jim O'Neill, inclui os países em que ele vê potencial
para se juntar às maiores economias do século 21 – Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, México,
Nigéria, Paquistão, Filipinas, Coreia do Sul, Turquia e Vietnã. Ganha um prêmio quem conseguir
criar um acrônimo simples com as iniciais desses países.
A crise no mercado hipotecário dos EUA é uma decorrência da crise imobiliária pela qual passa o
país, e deu origem, por sua vez, a uma crise mais ampla, no mercado de crédito de modo geral.
O principal segmento afetado, que deu origem ao atual estado de coisas, foi o de hipotecas
chamadas de "subprime", que embutem um risco maior de inadimplência.
O mercado imobiliário americano passou por uma fase de expansão acelerada logo depois da
crise das empresas "pontocom", em 2001. Os juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano)
vieram caindo para que a economia se recuperasse, e o setor imobiliário se aproveitou desse
momento de juros baixos. A demanda por imóveis cresceu, devido às taxas baixas de juros nos
financiamentos imobiliários e nas hipotecas. Em 2003, por exemplo, os juros do Fed chegaram
a cair para 1% ao ano.
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Em 2005, o "boom" no mercado imobiliário já estava avançado; comprar uma casa (ou mais de
uma) tornou-se um bom negócio, na expectativa de que a valorização dos imóveis fizesse da
nova compra um investimento. Também cresceu a procura por novas hipotecas, a fim de usar o
dinheiro do financiamento para quitar dívidas e, também, gastar (mais).
As empresas financeiras especializadas no mercado imobiliário, para aproveitar o bom
momento do mercado, passaram a atender o segmento "subprime". O cliente "subprime" é um
cliente de renda muito baixa, por vezes com histórico de inadimplência e com dificuldade de
comprovar renda. Esse empréstimo tem, assim, uma qualidade mais baixa --ou seja, cujo risco
de não ser pago é maior, mas oferece uma taxa de retorno mais alta, a fim de compensar esse
risco.
Em busca de rendimentos maiores, gestores de fundos e bancos compram esses títulos
"subprime" das instituições que fizeram o primeiro empréstimo e permitem que uma nova
quantia em dinheiro seja emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. Também
interessado em lucrar, um segundo gestor pode comprar o título adquirido pelo primeiro, e
assim por diante, gerando uma cadeia de venda de títulos.
Porém, se a ponta (o tomador) não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de
não-recebimento por parte dos compradores dos títulos. O resultado: todo o mercado passa a
ter medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez
(retração de crédito).
Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto, passaram a cair: os juros
do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram compradores;
com isso, a oferta começa a superar a demanda e desde então o que se viu foi uma espiral
descendente no valor dos imóveis.
Com os juros altos, o que se temia veio a acontecer: a inadimplência aumentou e o temor
de novos calotes fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo,
desaquecendo a maior economia do planeta --com menos liquidez (dinheiro disponível), menos
se compra, menos as empresas lucram e menos pessoas são contratadas.
No mundo da globalização financeira, créditos gerados nos EUA podem ser convertidos em
ativos que vão render juros para investidores na Europa e outras partes do mundo, por isso o
pessimismo influencia os mercados globais.
Financiadoras
Em setembro do ano passado, o BNP Paribas Investment Partners --divisão do banco francês
BNP Paribas – congelou cerca de 2 bilhões de euros dos fundos Parvest Dynamic ABS, o BNP
Paribas ABS Euribor e o BNP Paribas ABS Eonia, citando preocupações sobre o setor de crédito
'subprime' (de maior risco) nos EUA. Segundo o banco, os três fundos tiveram suas negociações
suspensas por não ser possível avaliá-los com precisão, devido aos problemas no mercado
"subprime" americano.
Depois dessa medida, o mercado imobiliário passou a reagir em pânico e algumas das
principais empresas de financiamento imobiliário passaram a sofrer os efeitos da retração; a
American Home Mortgage (AHM), uma das 10 maiores empresa do setor de crédito imobiliário
e hipotecas dos EUA, pediu concordata. Outra das principais empresas do setor, a Countrywide
Financial, registrou prejuízos decorrentes da crise e foi comprada pelo Bank of America.
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Bancos como Citigroup, UBS e Bear Stearns têm anunciado perdas bilionários e prejuízos
decorrentes da crise. Entre as vítimas mais recentes da crise estão as duas maiores empresas
hipotecárias americanas, a Fannie Mae e a Freddie Mac. Consideradas pelo secretário do
Tesouro dos EUA, Henry Paulson, "tão grandes e tão importantes em nosso sistema financeiro
que a falência de qualquer uma delas provocaria uma enorme turbulência no sistema financeiro
de nosso país e no restante do globo", no dia 7 deste mês foi anunciada uma ajuda de até US$
200 bilhões.
As duas empresas possuem quase a metade dos US$ 12 trilhões em empréstimos para a
habitação nos EUA; no segundo trimestre, registraram prejuízos de US$ 2,3 bilhões (Fannie
Mae) e de US$ 821 milhões (Freddie Mac).
Menos sorte teve o Lehman Brothers: o governo não disponibilizou ajuda como a que
foi destinada às duas hipotecárias. O banco previu na semana passada um prejuízo de US$
3,9 bilhões e chegou a anunciar uma reestruturação. Antes disso, o banco já havia mantido
conversas com o KDB (Banco de Desenvolvimento da Coréia do Sul, na sigla em inglês) em
busca de vender uma parte sua, mas a negociação terminou sem acordo.
O Bank of America e o Barclays também recuaram, depois que ficou claro que o governo não
iria dar suporte à compra do Lehman. Restou ao banco entregar à Corte de Falências do Distrito
Sul de Nova York um pedido de proteção sob o "Capítulo 11", capítulo da legislação americana
que regulamenta falências e concordatas.
Combate
Como medida emergencial para evitar uma desaceleração ainda maior da economia --o que
faz crescer o medo que o EUA caiam em recessão, já que 70% do PIB americano é movido
pelo consumo--, o presidente americano, George W. Bush, sancionou em fevereiro um pacote
de estímulo que incluiu o envio de cheques de restituição de impostos a milhões de norte-
americanos.
O pacote estipulou uma restituição de US$ 600 para cada contribuinte com renda anual de até
US$ 75 mil; e US$ 1.200 para casais com renda até US$ 150 mil, além de US$ 300 adicionais por
filho. Quem não paga imposto de renda, mas recebe o teto de US$ 3 mil anuais, teve direito a
cheques de US$ 300.
Barack Obama tomou posse oficialmente ontem como presidente dos Estados Unidos, depois
de uma cerimônia simples na Casa Branca. Hoje ele presta juramento público perante o
Congresso e começa, na prática, seu segundo governo com o desafio de melhorar o diálogo
com a oposição republicana e evitar o nó fiscal. Outro tema econômico urgente será a discussão
sobre os cortes de gastos públicos até 2022. O democrata tenta preservar os programas sociais
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que os republicanos pretendem enxugar. Ao mesmo tempo, foi dada a largada para a sua
sucessão, em 2016. Ontem, o juramento do vice-presidente, Joe Biden, teve mais visibilidade
que o do próprio Obama
Celebração discreta. Em seu segundo mandato, democrata persegue acordo com republicanos
no Congresso para evitar nó fiscal que tornaria inviáveis seus programas sociais e colocaria em
risco o triunfo de seu partido nas próximas eleições presidenciais
O presidente dos EUA, Barack Hussein Obama, iniciou ontem seu segundo e último man-dato
em uma cerimônia simples na Casa Branca. Hoje, no Congresso, fará seu juramen-to público.
Terminados os festejos, amanhã, terá o desafio de melhorar o complicado diálogo com a
oposição republicana, para evitar o nó fiscal que levaria ao fracasso de seu segundo governo.
Ao mesmo tempo, dará a largada para sua sucessão, na eleição de 2016.
Apenas a família, 12 convidados, 1 assessor e o presidente do Supremo Tribunal, John Roberts,
diante de quem jurou cumprir a Constituição, assistiram ao juramento de ontem, no Salão
Azul da Casa Branca. Não houve discursos nem acenos ao público. "Bom trabalho", disse a
filha caçula, Sasha, de 11 anos, ao referir-se aos últimos quatro anos. "Sim, fiz bom trabalho",
respondeu Obama.
O juramento do vice-presidente, Joe Biden, teve mais visibilidade e audiência de políticos e
estrategistas de peso, entre os quais David Axelrod, a deputada Nancy Pelosi, líder democrata
na Câmara, e a presidente do Partido Democrata, Debbie Schultz. Sua ambição de concorrer
na eleição de 2016 foi reforçada no fim da campanha de 2012 e, em seguida, na negociação do
acordo tributário, no fim de dezembro, e ao compilar o pacote de controle de armas. Biden tem
70 anos.
"Podemos começar a fazer os cálculos políticos do número de delegados (para o Colégio
Eleitoral) necessários para a escolha do candidato democrata. Posso ver um monte de delegados
aqui", afirmou à imprensa a estrategista democrata Donna Brazile, presidente na cerimônia no
Observatório Naval, em Washington.
Obama já perdeu em seu gabinete uma potencial sucessora e concorrente de Biden nas
primárias democratas de 2016, Hillary Clinton, ex-primeira-dama e ex-senadora. Hillary promete
descansar, depois de quatro anos na liderança do Departamento de Estado e de viagens a mais
de cem países. Apesar de sua recente internação por uma trombose e de seus 65 anos, ela é
tida como uma candidata capaz de obter consenso no partido.
Democrata mais apagado, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, também é apontado
como potencial candidato.
Manobras políticas de curto prazo terão certamente impacto no jogo eleitoral de 2016. Obama
terminou seu mandato com pobre qualidade de diálogo com a oposição republicana, ainda
amarrada pelos radicais do Tea Party. A Casa Branca está em ne-gociação com o Congresso
sobre dois temas econômicos de suma importância para a sociedade americana e para o
restante de sua gestão e também sobre sua política para controle de armas.
Obama deverá conseguir do Congresso autorização para elevar o limite de endividamento
federal antes de meados de fevereiro, quando o atual teto de US$ 16,4 trilhões será alcançado.
Portanto, tende a se livrar do risco momentâneo de ser obrigado a declarar a suspensão de
pagamentos da dívida, fornecedores, servidores e militares pela primeira vez na história
americana.
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Os efeitos previstos dessa atitude vergonhosa para qualquer governo – como a pressão para
o aumento dos juros para o consumidor e o investidor, em prejuízo do consumo e o emprego
– serão contornados. Mas Obama ainda está ameaçado de ter seu governo e a sociedade
americana periodicamente expostos a esse mesmo risco.
A bancada democrata na Câmara insiste em aumentar o teto da dívida por apenas três meses
e resiste em dar ao presidente o poder para aumentar esse limite quando necessário. Trata-
se de uma espécie de torniquete sobre o governo Obama, com poder de limitar o poder de
barganha da Casa Branca em outros projetos de seu interesse, como a Reforma da Imigração, a
regulamentação das reformas da Saúde e de Wall Street e o fim da guerra do Afeganistão.
Em outro tema econômico urgente, o acordo com o Congresso sobre os cortes de gastos
públicos até 2022, Obama tenta preservar os gastos com programas sociais da ansiedade
republicana em vê-los enxugados.
A discussão se complica pelo alto grau de polarização ideológica dos dois partidos, percebido
desde o início de 2011, e pela baixa tolerância de Obama a fazer concessões. A sociedade
americana sofrerá com qualquer escolha final ou com a ausência de um acordo.
Os programas de saúde gratuita para os americanos pobres serão alvo de cortes de gastos
públicos a partir de 2013, assim como as aposentadorias e pensões da Previdência Social.
Despesas com a Defesa não serão poupadas – e isso significará restrições na estratégia
americana na guerra do Afeganistão, em futuras ações militares dos EUA no exterior e nas
contratações de empresas do setor. Mesmo dentro do país, já há planos para o fechamento de
bases, com repercussão desastrosa para as econo-mias locais.
O peso desses cortes e seus de efeitos dependerá do acordo a ser firmado até 28 de fevereiro.
Se não houver consenso, o governo de Obama será obrigado a reduzir em US$ 100 bilhões os
gastos públicos apenas neste ano, sobretudo nas áreas social e de defesa. Entre 2014 e 2022,
outros US$ 446 bilhões serão podados. A retração do ritmo de recuperação econômica do país,
será inevitável
A Grécia tem enfrentado dificuldades para refinanciar suas dívidas e despertado preocupação
entre investidores de todo o mundo sobre sua situação econômica. Mesmo com seguidos
pacotes de ajuste e ajuda financeira externa, o futuro da Grécia ainda é incerto.
O país tem hoje uma dívida equivalente a cerca de 142% do Produto Interno Bruto (PIB) do
país, a maior relação entre os países da zona do euro. O volume de dívida supera, em muito,
o limite de 60% do PIB estabelecido pelo pacto de estabilidade assinado pelo país para fazer
parte do euro.
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A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e
deixando sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às
alturas, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram.
Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de
impostos – deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de
crédito de 2008.
O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje,
eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida.
Ajuda e protestos
Em abril de 2010, após intensa pressão externa, o governo grego aceitou um primeiro pacote
de ajuda dos países europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 110 bilhões de
euros ao longo de três anos.
Em contrapartida, o governo grego aprova um plano de austeridade fiscal que inclui alta no
imposto de valor agregado (IVA), um aumento de 10% nos impostos de combustíveis, álcool
e tabaco, além de uma redução de salários no setor público, o que sofre forte rejeição da
população.
Apesar da ajuda, a Grécia segue com problemas. Em meados de 2011, foi aprovado um segundo
pacote de ajuda, em recursos da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e
do setor privado. A contribuição do setor privado foi estimada em 37 bilhões de euros. Um
programa de recompra de dívidas deve somar outros 12,6 bilhões de euros vindos do setor
privado, chegando a cerca de 50 bilhões de euros.
Em outubro, ainda com o país à beira do colapso financeiro, os líderes da zona do euro
alcançaram um acordo com os bancos credores, que reduz em 50% a dívida da Grécia,
eliminando o último obstáculo para um ambicioso plano de resposta à crise. Com o plano, a
dívida grega terá um alívio de 100 bilhões de euros após a aceitação, pela maior parte dos
bancos, de uma redução superior a 50% do valor dos títulos da dívida.
No mesmo mês, o país enfrentou violentos protestos nas ruas. A população se revoltou contra
um novo plano de cortes, previdência e mais impostos, demissões de funcionários públicos e
redução de salários no setor privado, pré-requisito estabelecido pela União Europeia e pelo
FMI para liberar uma nova parcela do plano de resgate, de 8 bilhões de euros.Manifestantes
entram em confronto com a polícia em Atenas (Foto: Reuters)
Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como
especuladores internacionais e banqueiros da Europa central. Os dois maiores sindicatos do
país classificaram as medidas de austeridade como “antipopulares” e “bárbaras”.
Plebiscito e turbulências no mercado
Em 1º de novembro, o então primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, provocou novas
turbulências nos mercados e na zona do euro ao anunciar que convocaria um referendo sobre
o novo pacote de ajuda da União Europeia, perguntando aos eleitores se querem adotá-lo ou
não.
A expectativa do premiê era que o plebiscito “validasse” as medidas de austeridade necessárias
para receber a ajuda financeira. Uma pesquisa, no entanto, mostrou que aproximadamente
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60% dos gregos enxergam a cúpula dos líderes europeus, que acertaram um novo pacote de
ajuda de 130 bilhões de euros, como negativa ou provavelmente negativa.
A convocação de plebiscito enfrentou rejeição da oposição e dos membros do próprio partido
de Papandreou. Com isso, o governo ficou enfraquecido, e Papandreu terminou deixando o
cargo, sendo substituído por Lucas Papademos.
Calote
Como membro da zona do euro, a Grécia enfrenta pressão dos demais membros para colocar
suas contas em ordem e evitar a declaração de moratória – o que significaria deixar de pagar os
juros das dívidas ou pressionar os credores a aceitar pagamentos menores e perdoar parte da
dívida.
No caso da Grécia, isso traria enormes dificuldades. As taxas de juros pagas pelos governos
da zona do euro têm sido mantidas baixas ante a presunção de que a UE e o Banco Central
Europeu proveriam assistência a países da região, justamente para evitar calotes.
Uma moratória grega, além de estimular países como Irlanda e Portugal a fazerem o mesmo,
significaria um aumento de custos para empréstimos tomados pelos países menores da UE,
sendo que alguns deles já sofrem para manter seus pagamentos em dia.
Se Irlanda e Portugal seguissem o caminho do calote, os bancos que lhes emprestaram dinheiro
seriam afetados, o que elevaria a demanda por fundos do Banco Central Europeu.
Um calote grego pode fazer com que investidores questionem se a Irlanda e Portugal não
seguirão o mesmo caminho. O problema real diz respeito ao que acontecerá com a Espanha,
que só tem conseguido obter dinheiro no mercado a custos crescentes.
A economia espanhola equivale à soma das economias grega, irlandesa e portuguesa. Seria
muito mais difícil para a UE estruturar, caso seja necessário, um pacote de resgate para um país
dessa dimensão.
(Com informações da Reuters, France Presse e BBC)
Então a Grécia deu oficialmente o calote nos credores privados. Foi um calote "ordeiro",
negociado ao invés de simplesmente anunciado, o que suponho seja bom. Ainda assim, a
história está longe de acabar. Mesmo com esse alívio em sua dívida, a Grécia – como outras
nações europeias forçadas a impor austeridade numa economia deprimida – parece condenada
a muitos anos mais de sofrimento.
Esta é uma fábula digna de ser contada. Nos últimos dois anos, a história da Grécia tem sido,
segundo um recente texto sobre economia política, "interpretada como uma parábola sobre
os riscos de irresponsabilidade fiscal". Não passa um dia sem que, nos EUA, algum político ou
comentarista entoe, com um ar de grande sabedoria, que é preciso cortar gastos do governo
imediatamente, ou vamos acabar como a Grécia, Grécia eu lhes digo.
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Apenas para usar um exemplo recente, quando Mitch Daniels, governador de Indiana,
apresentou a resposta republicana ao discurso do presidente Obama sobre o Estado da União,
insistiu que "estamos a uma pequena distância de Grécia, Espanha e outros países europeus
que hoje enfrentam a catástrofe econômica". Ninguém aparentemente lhe disse que a Espanha
tinha baixo déficit governamental e superávit orçamentário às vésperas da crise; o país está em
apuros devido aos excessos do setor privado, não do setor público.
Mas o que a experiência da Grécia de fato mostra é que se incorrer em déficits em tempos de
fartura pode criar problemas – o que é o caso da Grécia, embora não o da Espanha – tentar
eliminar déficits quando você já está em apuros é uma receita para depressão.
Hoje em dia, depressões econômicas induzidas por políticas de austeridade são visíveis em
toda a periferia europeia. A Grécia é o pior caso, com o desemprego escalando para 20% e os
serviços públicos, incluindo o setor de saúde, entrando em colapso. Mas a Irlanda, que fez tudo
o que queria o pessoal da austeridade, também está em terrível estado, com o desemprego
perto dos 15% e o PIB em queda de dois dígitos. Portugal e Espanha estão em situação crítica
também.
Impor austeridade numa crise não inflige apenas grande sofrimento. Há evidência crescente
de que é autodestrutivo mesmo em termos puramente fiscais, pois a combinação de receitas
em queda devido à economia deprimida e perspectivas de longo prazo piores reduz a confiança
do mercado e torna a carga da dívida futura mais difícil de carregar. Deve-se perguntar como
países que estão sistematicamente negando um futuro a sua juventude – o desemprego entre
jovens na Irlanda, que costumava ser menor do que nos EUA, é agora de quase 30%, chegando
perto dos 50% na Grécia – conseguirão crescimento suficiente para pagar o serviço da dívida.
Não é isso o que devia ter acontecido. Há dois anos, quando muitos começaram a pedir um giro
do estímulo para a austeridade, prometeram grandes vantagens em troca do sofrimento. "A
ideia que medidas de austeridade possam trazer estagnação é incorreta", declarou, em junho
de 2010, Jean-Claude Trichet, então presidente do Banco Central Europeu. Ele insistiu que, ao
invés disso, a disciplina fiscal inspiraria confiança, e isso levaria ao crescimento econômico.
Cada ligeira melhora de um indicador de uma economia em austeridade era aclamada como
prova de que essa política funciona. A austeridade irlandesa foi proclamada uma história de
sucesso, não uma vez, mas duas – a primeira no verão de 2020 e de novo no último outono; em
cada vez a suposta boa notícia rapidamente se evaporou.
Pode-se perguntar que alternativa países como Grécia e Irlanda tinham, e a resposta é que
não tinham e não têm boas alternativas a não ser deixar o euro, um passo extremo que,
realisticamente, seus líderes não podem dar até que todas as outras opções tenham falhado
– um estado de coisas tal que, se me perguntarem, diria que a Grécia dele se aproxima
rapidamente.
A Alemanha e o Banco Central Europeu poderiam ter agido para tornar esse passo extremo
menos necessário, tanto ao exigir menos austeridade quanto ao fazer mais para impulsionar
a economia europeia como um todo. Mas o principal ponto é que os EUA de fato têm uma
alternativa: temos nossa própria moeda e podemos tomar empréstimos a prazos longos e a
juros historicamente baixos; então, não necessitamos entrar numa espiral descendente de
austeridade e contração econômica.
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Então, é tempo de parar de invocar a Grécia como um exemplo de cautela diante do perigo dos
déficits; de um ponto de vista americano, a Grécia deveria, ao contrário, ser vista como exemplo
dos perigos de tentar reduzir o déficit rapidamente demais, enquanto a economia ainda está
profundamente deprimida. (E sim, a despeito de algumas boas notícias ultimamente, nossa
economia ainda está profundamente deprimida.)
Se você quer saber quem está realmente tentando transformar os EUA em Grécia, não são os
que defendem mais estímulos à economia; são os partidários de que imitemos a austeridade
ao estilo grego, embora não enfrentemos constrangimentos de crédito ao estilo grego, e assim
mergulhemos numa depressão ao estilo grego.
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Mencionada de maneira discreta, a hipótese de uma exclusão da Grécia da zona euro é agora
tema de discussão entre as lideranças europeias. Depois de o presidente Sarkozy declarar que
o acordo europeu para a adesão de Atenas ao euro, realizado no final dos anos 1990, havia sido
“um erro”, um editorial do jornal Le Monde afirma que o anúncio do referendo grego “leva a
questionar a presença da Grécia na zona euro”.
Nestas circunstâncias, as dissensões entre os países membros da zona euro aparecem à luz
dia. Não se restringindo à Grécia. Numa conferência de imprensa no fim de semana, ao ser
interrogado sobre a credibilidade do plano italiano de contenção de despesas públicas, o
presidente Sarkozy sorriu ironicamente. Foi o que bastou para surgir uma crise política entre
Paris e Roma, com o ministro italiano dos negócios estrangeiros, Franco Frattini, acusando a
França de atiçar “um ataque dos especuladores” contra a Itália.
10 anos de Brics
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Brasil
A inclusão do Brasil no Brics trouxe uma projeção internacional positiva, que dificilmente
seria alcançada de outro modo e em um curto período. Como resultado, o país tem hoje
representação nas principais cúpulas internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU
(Organização das Nações Unidas) e o G20.
O Brasil entrou no grupo em razão do crescimento econômico, ocorrido principalmente a partir
de 2005. Esse crescimento foi possível por causa do controle da inflação, com a implantação do
Plano Real, em 1994, e o aumento das exportações para países como China, principal parceiro
comercial, a partir de 2001.
Com a estabilidade econômica, veio a confiança do mercado e o aumento do crédito para
empresas e consumidores. O setor privado contratou mais gente, gerando mais empregos,
e houve aumento de salários, fazendo que, entre 2005 e 2006, 30 milhões de brasileiros
migrassem das classes D e E para a C, a classe média. Contribuíam também, para isso, programas
sociais como o Bolsa Família. Assim, mais pessoas passaram a consumir, aquecendo o mercado
de varejo.
Desigualdade
Os programas do governo Lula também tiveram reflexos no âmbito da justiça social. Na última
década e meia, o país foi o único entre os Brics a reduzir a desigualdade, de acordo com a
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Porém, mesmo assim,
a distância entre ricos e pobres no Brasil ainda é a maior entre os países emergentes.
A desigualdade é medida pelo índice Gini, que caiu de 0,61 para 0,55 entre 1993 e 2008 (quanto
menor o valor, melhor o índice). Nos demais países do Brics, houve aumento. Mesmo assim, o
Gini do Brasil é o maior entre eles e o dobro da média dos países ricos: no Brasil, 10% dos mais
ricos ganham 50 vezes mais do que os 10% mais pobres.
Outro desafio para o país é fazer ajustes na política econômica. A divulgação do resultado do
PIB do terceiro trimestre deste ano, que registrou uma variação zero em relação ao trimestre
anterior, apontou a desaceleração da economia. Para sair da estagnação, o governo terá que
fazer reformas, inclusive no sistema de tributação, para estimular o investimento por parte do
setor privado.
A Venezuela e o Mercosul
Os chanceleres do Mercosul conseguiram hoje (6) fechar uma série de negociações para
garantir que, em 5 de abril de 2013, a Venezuela terá atendido às principais exigências para ser
integrada de forma plena ao bloco. Até lá, um terço dos produtos venezuelanos estarão dentro
da nomenclatura e das normas do Mercosul.
Os ministros anunciaram também que, paralelamente, o Mercosul buscará o chamado
fortalecimento produtivo, para incentivar o desenvolvimento do comércio e da economia na
região.
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A integração entre nações é, essencialmente, um projeto político. Não há acordo comercial que
dê conta de superar as contradições provocadas pelas desigualdades entre povos e nações.
“Fazer a Europa é fazer a paz”, gostava de repetir o francês Jean Monnet (1888-1979), um dos
precursores da união continental. Os conflitos sociais que voltaram a tomar as ruas de diversas
cidades europeias atualizam o pensamento do político francês e lançam uma alerta para os
construtores da integração social, política e econômica na América do Sul
Nos últimos meses, multiplicam-se os diagnósticos pessimistas a respeito do futuro do euro,
da União Europeia e do processo de integração continental. Os efeitos avassaladores da crise
econômico-financeira de 2008 jogaram países como Grécia, Islândia, Irlanda, Portugal e Espanha
à beira de um precipício que ameaça dissolver direitos sociais e trabalhistas que marcam a
história do Estado de Bem-Estar Social europeu. A Grécia já tinha situação fiscal deteriorada
antes da crise. No caso da Irlanda, a queda de receita decorrente da crise e os gastos realizados
para atenuar seu impacto no sistema bancário e no nível de emprego transformaram a crise
privada em uma crise das finanças públicas. Em Portugal e na Espanha, que vinham tendo
desempenho econômico mais fraco que a média européia, a situação se agrava. Um conjunto
de turbulências domésticas espalhou-se pelo continente, no bojo da união monetária.
A crise econômica vem acompanhada de notícias que compõem um cenário quase surreal. No
dia 10 de junho, por exemplo, a Comissão Europeia cortou quase 80% da ajuda alimentar para
os pobres, reduzindo o programa de ajuda alimentar de 500 milhões de euros para 113 milhões
de euros. A Federação Europeia dos Bancos Alimentares e organizações de ajuda humanitária
advertiram que essa medida pode agravar o problema da fome no continente. Cerca de 43
milhões de pessoas enfrentam hoje o risco de pobreza alimentar no território europeu. Elas
não conseguem pagar uma refeição adequada a cada dois dias. Uma realidade incompatível
com o projeto de integração no velho continente.
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LIÇÕES DA TUBURLÊNCIA Considerado o mais avançado processo de unidade entre países
da história, o projeto da União Europeia está em crise e os seus problemas estão sendo
acompanhados com atenção por lideranças envolvidas em outros processos de integração
no mundo. Aqui na América do Sul, uma pergunta adquire crescente importância: o que a
crise europeia tem a ensinar aos países do Mercosul que, em março, completou vinte anos?
Na tentativa de responder tal questão é preciso, obviamente, levar em conta as importantes
diferenças existentes entre os processos europeu e latino-americano. Apesar das diferenças,
há um importante elemento em comum: a conjuntura político-econômica mundial e suas crises
não deixam nenhum continente ileso. Há muitos tópicos semelhantes e, mesmo nas diferenças,
há formas de responder a esses problemas que podem ser mais ou menos eficazes.
Professor na Universidade de Harvard e Prêmio Nobel de Economia em 1998, Amartya Sen,
advertiu, em um recente artigo publicado no jornal inglês The Guardian, que está em jogo na
Europa não apenas o euro, mas a própria ideia de democracia. O economista resume assim o
perigo que estaria rondando o Velho Mundo:
“A Europa liderou o mundo no que diz respeito à prática da democracia. É, portanto, preocupante
que os perigos para a governabilidade democrática de hoje, que entram pela porta traseira das
prioridades financeiras, não recebam a atenção que merecem”.
AMEAÇA DAS AGÊNCIAS DE RISCO A Grécia, assinala Amartya Sen, ilustra o perigo de permitir
que agências de classificação de risco dominem o terreno político. O economista chama
a atenção para a temeridade de se submeter processos e práticas políticas constitutivas da
democracia à lógica do sistema financeiro internacional:
“Há questões de fundo que devem ser enfrentadas a respeito de como o governo democrático
da Europa pode ser minado pelo papel enormemente aumentado das instituições financeiras
e das agências de classificação de riscos, que hoje se apropriaram de certas partes do terreno
político da Europa. Deter a marginalização da tradição democrática na Europa envolve uma
urgência que é difícil de exagerar.”
O Prêmio Nobel de Economia aponta ainda uma lição da crise atual que deveria ser levada em
conta em outros processos de integração pelo mundo. Para eles, os países do euro entraram
eu uma situação complicada na direção de uma moeda única, sem promover uma maior
integração política e econômica. Ele resume:
“A pressa em inaugurar uma casa que estava em construção acabou resultando numa receita
desastrosa. Obrigou-se a incorporar à maravilhosa ideia de uma Europa democrática unida um
precário programa de incoerente fusão financeira”.
IRONIAS HISTÓRICAS A história costuma ser rica em paradoxos e ironias. A crise que atinge
gravemente hoje diversos países europeus fornece novos exemplos. Durante aproximadamente
duas décadas, entre os anos 1980 e 1990, diversos países da América Latina aplicaram os
pacotes de austeridade propostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial
e outras instituições financeiras como solução para superar recorrentes crises econômicas.
Esses pacotes trouxeram consigo políticas de privatizações, de demissão de funcionários
públicos, de arrocho salarial. A guinada progressista na região, a partir dos anos 2000 deu-
se, em larga medida, como uma reação aos efeitos perversos dessas políticas. Agora, são os
gregos, portugueses, espanhóis, italianos e irlandeses, entre outras nacionalidades europeias,
que começam a conviver com tais políticas.
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E um processo de integração regional é entre outras coisas, uma construção política e
institucional que tem o desafio de integrar diferentes espaços de soberania nacional.
REJEIÇÃO DA ALCA O processo de integração sul-americano é muito mais jovem que o europeu
e pode tentar evitar o caminho da subordinação a uma determinada lógica econômica. Samuel
Pinheiro Guimarães integrou um governo que, em conjunto com a Argentina e outros países,
rejeitou o modelo da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) defendido pelos Estados
Unidos. “Nós não quisemos a Alca, em 2005, não somente por razões comerciais. A Alca era uma
política econômica completa, que envolvia comércio, investimentos, negócios e propriedade
intelectual”, observa o ex-secretário geral do Itamaraty.
A rejeição do projeto dos EUA veio acompanhada da implementação de diferentes movimentos
de integração regional: além do Mercosul, do Pacto Andino e de outras alianças regionais,
surgiram a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da América, integrada hoje por Venezuela,
Cuba, Bolívia, República Dominicana, Nicarágua, Equador, San Vicente e Granadinas, Antigua e
Barbuda) e a Unasul (União de Nações Sul-Americanas, formada pelos doze países da América
do Sul). Esses movimentos expressam a diversidade política e econômica da região e, até
aqui, não se revelaram excludentes. Pelo contrário, o objetivo é que sejam complementares.
“A Unasul é um modo de manter próximos países que, comercialmente, optaram por outras
políticas. É bom que todos integremos o Conselho Sul-Americano de Defesa”, disse Pinheiro
Guimarães ao jornal Página/12.
POLÍTICA SOBERANA A posição do Brasil será fundamental para determinar as possibilidades
de êxito dessa articulação de diferentes movimentos integracionistas. No prefácio ao livro
Relações Brasil-Estados Unidos no contexto da globalização: rivalidade emergente, de Luiz
Alberto Moniz Bandeira, o Alto Representante do Mercosul resume assim a “receita” brasileira
para que isso se torne realidade:
“(Desenvolvemos) uma política altiva, ativa, soberana, não intervencionista, não impositiva,
não hegemônica, que luta pela paz e pela cooperação política, econômica e social, em especial
com os países vizinhos e irmãos sul-americanos, começando pelos países sócios do Brasil no
Mercosul, um destino comum que nos une, com os países da costa ocidental da África, também
nossos vizinhos, e com países semelhantes: com mega-populações, mega-territoriais, mega-
diversos, mega-ambientais, megaenergéticos, mega-subdesenvolvidos, mega-desiguais. Nossos
verdadeiros aliados são nossos vizinhos, daqui e de ultramar, com os quais nosso destino
político e econômico está definitivamente entrelaçado, e nossos semelhantes, os grandes
Estados da periferia”.
Essa dimensão política do Mercosul e de outros espaços de integração ainda está engatinhando.
O Parlamento do Mercosul está em processo de formação. A Venezuela aguarda decisão do
Congresso paraguaio para ser admitida como membro pleno do Mercosul e o Brasil promulgou
no início de julho o decreto que estabelece a adesão do país a Unasul.
O fortalecimento desses espaços políticos e institucionais constitui uma condição fundamental
para enfrentar desafios e problemas estruturais do bloco, tais como as assimetrias entre os
países que compõem o Mercosul, o problema das tarifas aduaneiras e a perspectiva da adoção
de uma moeda comum no futuro.
CRESCIMENTO ECONÔMICO No terreno estritamente comercial o desempenho do bloco
é positivo. A economia do Mercosul cresceu 8% em 2010, superando todas as outras uniões
aduaneiras ou associações de livro comércio do mundo. Após vinte anos de Mercosul, houve
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também um aumento significativo do intercâmbio comercial, que passou de US$ 4,5 bilhões
em 1991 para US$ 45 bilhões em 2010. Segundo o ministro das Relações Exteriores do Brasil,
Antonio Patriota, a expectativa para 2011 é superar a casa dos US$ 50 bilhões. “O intercâmbio
comercial cresceu mil por cento”, acrescentou o subsecretário-geral para América do Sul,
Central e Caribe, embaixador Antônio José Simões. Segundo ele, esse desempenho é superior
ao de outros acordos de livre comércio, como o assinado há sete anos por Chile e Estados
Unidos.
EXPANSÃO COMERCIAL Ao anunciar esses projetos de expansão, em 28 de junho, durante
a 41ª Cúpula do bloco, no Paraguai, Antonio Patriota rebateu as críticas de que o Mercosul
perdeu força e não conseguiu transformar-se em um verdadeiro projeto de integração política,
econômica e comercial, como a União Europeia. Patriota lembrou a crise vivida hoje pela União
Europeia e o fato de o Mercosul ter superado, em crescimento, a Associação de Nações do
Sudeste Asiático (Asean).
Ex-presidente do Parlamento do Mercosul, o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) defende
essa estratégia de expansão, assinalando que as exportações extrazona (para terceiros
Estados) do bloco sul-americano aumentaram 200% entre 2002 e 2008, bem acima da média
de crescimento do comércio mundial, que foi de 147%. No mesmo período, acrescenta o
parlamentar brasileiro, as exportações dentro do bloco aumentaram 300% e os investimentos
diretos subiram de aproximadamente US$ 15 bilhões, em 2003, para US$ 57 bilhões, em 2008.
E essa elevação de investimentos, destaca o Dr. Rosinha, ocorreu sem recurso a privatizações,
tal como aconteceu nas décadas de 1980 e 1990 na América Latina.
O futuro do Mercosul, assim como o seu nascimento há vinte anos, tem um olhar ligado ao
destino da União Europeia. O bloco sulamericano foi concebido para ser um verdadeiro mercado
comum, por meio da constituição de uma união aduaneira, mediante a Tarifa Externa Comum.
A Declaração de Assunção estabelece, no seu artigo 1°, que a adoção de uma tarifa externa
comum e de uma política comercial comum em relação a terceiros Estados são dimensões
essenciais e constitutivas do processo de integração. Mas a integração que o Mercosul
busca não se esgota aí, propondo também a livre circulação de pessoas, a harmonização das
legislações, a constituição de instituições supranacionais, de um Parlamento sul-americano e a
formação de uma cidadania comum.
LIMITAÇÃO EUROPEIAS Esse é, em linhas gerais, o modelo que inspirou também a criação
da União Europeia que hoje se encontra em uma encruzilhada. A incorporação de países
com economias mais frágeis, as dificuldades colocadas pela unidade monetária resultante da
criação do euro e a limitação da capacidade de os Estados definirem suas políticas econômicas
internamente trazem desafios cuja solução passa, inevitavelmente, pela esfera política.
Na avaliação do economista Michael Hudson, pesquisador na Universidade do Missouri e
presidente do Institute for the Study of Long-Term Economic Trends (Islet), o que está em jogo
na crise atual da UE é se a Grécia, a Irlanda, Espanha, Portugal e o resto da Europa terminarão
por destruir a agenda de um reformismo democrático e derivar para uma oligarquia financeira.
Repetindo a preocupação de Amartya Sen com o futuro da democracia europeia, Hudson
afirma:
“O objetivo financeiro é evitar os parlamentos para exigir um ‘consenso’ que dê prioridade
aos credores estrangeiros a custo do conjunto da economia. Exige-se dos parlamentos que
abdiquem de seu poder político legislativo. O significado do ‘mercado livre’, neste momento,
é planificação central nas mãos dos banqueiros centrais. Essa é a nova via rumo à servidão
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pela dívida a que estão levando os ‘mercados livres’ financeirizados: mercados ‘livres’ para
que os privatizadores cobrem preços monopolistas por serviços básicos ‘livres’ de regulações
de preços e de regulações antioligopólicas, ‘livres’ de limitações ao crédito para proteger os
devedores e, sobretudo, ‘livres’ de interferências por parte dos parlamentos eleitos”.
A concentração do poder político nas mãos do setor financeiro ameaça o projeto de integração
europeia, do ponto de vista da continuidade da construção de uma comunidade democrática
no velho continente. As limitações políticas são gritantes e crescentes, aponta ainda Hudson:
“O Banco Central Europeu não tem atrás de si nenhum governo eleito que possa arrecadar
impostos. A Constituição da UE proíbe ao BCE o resgate de governos. E os artigos do acordo
com o FMI proíbem também que esta ofereça apoio fiscal aos déficits orçamentários nacionais”.
UNIR PESSOAS A crise atual da União Europeia atualiza as palavras de um de seus principais
defensores, o francês Jean Monnet. Como consultor de alto nível do governo francês, Monnet
foi o principal inspirador da Declaração Schuman, de 9 de maio de 1950, que levou à criação
da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, considerada o ato fundador da União Europeia.
Monnet tinha claro que o projeto de unificação não podia se limitar à esfera econômica. Sua
frase que resume esse espírito é bem conhecida. “Mais do que coligar Estados, importa unir os
homens”.
Talvez seja essa uma das principais lições que a experiência da União Europeia pode trazer ao
Mercosul e aos demais movimentos e processos de integração na América do Sul. A integração
entre nações é, essencialmente, um projeto político. Não há acordo comercial que dê conta de
superar as contradições provocadas pelas desigualdades entre povos e nações (e intra povos
e nações). “Fazer a Europa é fazer a paz”, gostava de repetir Monnet. Os conflitos sociais que
voltaram a tomar as ruas de diversas cidades europeias atualizam o pensamento do político
francês e lançam uma alerta para os construtores da integração na América do Sul: o principal
objetivo estratégico de um processo de integração é buscar a paz, a solidariedade e a harmonia
entre os povos e não meramente aumentar a balança comercial deste ou daquele país, deste
ou daquele bloco regional. Ao presenciar diretamente o que está acontecendo na Europa, o
Mercosul tem a chance de não repetir esses erros.
O Globo – 23/01/2014
O Brics — nomeação que abrange Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, países que
marcaram o sucesso do mundo emergente — perdeu o brilho no Fórum Econômico Mundial de
Davos. Por causa da desaceleração destes países, alguns empresários já duvidam do futuro de
seus integrantes. É o fim do Brics? Economistas e um ministro ouvidos pelo GLOBO relativizaram
as críticas e avaliaram que cada nação terá de lidar com os próprios desafios. Jeffrey Sachs, da
Universidade de Columbia, em Nova York, reagiu assim: — Com certeza não são mais o que
eram, e o entusiasmo é menor. Mas tudo é exagerado aqui. Falam neste ano que o Brics acabou.
Mas é claro que não! — afirma, classificando a ideia como “visão de curto prazo” e apostando
que Brasil e os parceiros de Brics terão uma década de crescimento acelerado.
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Pós-crise global: BC dos EUA reduz os estímulos
O banco central americano anunciou que começará a retirar estímulos dados à economia na
esteira da crise de 2008. As compras mensais de títulos serão reduzidas em US$ 10 bi a partir
de janeiro, o que deve elevar a cotação do dólar no Brasil
Injeção de recursos será reduzida a US$ 75 bilhões em janeiro. Dilma diz que país está preparado
O Federal Reserve (Fed, banco central americano) anunciou ontem, com o voto dissidente de
apenas um de seus dez diretores, que começará a reduzir seu inédito programa de estímulos à
economia, herança da crise financeira de 2008. A terceira e maior fase do chamado Quantitative
Easing (QE3), iniciada em setembro de 2012, estabelece a compra mensal de US$ 85 bilhões
em títulos, valor que será cortado para US$ 75 bilhões a partir de janeiro de 2014. Para evitar
danos à ainda frágil recuperação dos EUA, o Fed enfatizou que não se trata do início de uma era
de aperto monetário. A instituição pretende manter os juros básicos inalterados entre zero e
0,25% ao ano "por longo período de tempo" sem perspectiva de elevação antes do fim de 2015
mesmo que a taxa de desemprego caia ao patamar de 6,5% (hoje, está a 7%).
A decisão animou os mercados, por representar um voto de confiança na economia americana
sem alterar as boas condições de financiamento e investimento. Nos EUA, os índices Dow Jones
(1,84%) e S&P 500 (1,66%) da Bolsa de Nova York fecharam em recordes históricos de pontos.
A Nasdaq subiu 1,15%. No Brasil, a Boves-pa fechou em alta de 0,94%, aos 50.563 e o dólar
subiu 0,9%, a R$ 2,343. A moeda brasileira se desvalorizou mais do que a maioria das divisas de
emergentes.
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BC dos EUA deixa o mundo aliviado
Alívio no mundo
Correio Braziliense – 19/12/2013
Governos e mercados, que esperavam aflitos pela notícia, comemoraram o anúncio do Federal
Reserve de que a redução dos estímulos à economia americana começará em janeiro e será
gradual
Enfim, o Federal Reserve anuncia a redução dos estímulos à economia dos EUA. Mas, como o
processo será gradual, governos e mercados comemoram. BC do Brasil venderá ao menos US$
24 bi nos primeiros seis meses de 2014 para conter a alta do dólar
Com a recuperação — ainda que gradual — dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), o
Banco Central norte-americano, anunciou ontem o que o mundo inteiro aguardava aflito: o
início do corte de estímulos à maior economia do planeta. Em janeiro do próximo ano, os US$
85 bilhões mensais injetados na economia serão reduzidos para US$ 75 bilhões e, até o fim
de 2014, haverá diminuição gradual do incentivo. O presidente da instituição, Ben Bernanke,
não se comprometeu em manter a diminuição do incentivo em US$ 10 bilhões por vez nem
assegurou que a medida será tomada a cada reunião do banco.
Tão logo o Fed detalhou as regras do jogo, o Banco Central brasileiro anunciou que, em reação
ao corte de estímulos, despejará pelo menos US$ 24 bilhões no mercado de câmbio entre
janeiro e junho de 2014. O objetivo será conter uma arrancada mais forte do dólar e, por tabela,
evitar a disparada da inflação. O BC informou que serão realizados leilões de swap cambial, de
segunda a sexta-feira, no valor de US$ 200 milhões por dia, volume inferior aos US$ 500 milhões
diários deste ano. A oferta de linhas de crédito em dólar, feita atualmente todas as sextas-
feiras, só ocorrerá, nos primeiros seis meses do ano que vem se houver demanda. A instituição
ainda deixou aberta a possibilidade de vender reservas cambiais do país, que totalizam US$ 376
bilhões, em momentos de maior turbulência e de escassez brutal de moeda estrangeira.
Por meio da assessoria de imprensa, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que viu com
tranquilidade a decisão do Fed, sobretudo porque a diminuição dos estímulos será gradual,
sem provocar solavancos no mercado, o que evitará movimentos bruscos nas cotações do
dólar. Outra boa notícia foi o fato de o BC dos EUA ter mantido as taxas de juros variando entre
zero e 0,25% ao ano. Ele determinou à equipe do ministério que monitore todos os dados dos
mercados globais nos próximos dias, pois a reação ontem foi parcial, uma vez que as bolsas de
valores da Ásia e da Europa estavam fechadas quando o Fed se pronunciou.
Para o mercado financeiro, a decisão do Fed põe fim às incertezas em torno da política
monetária norte-americana. Mas isso não significa dizer que os países emergentes estão livres
de uma batalha pesada para conter o derretimento de suas moedas. Brasil, Turquia, Indonésia,
África do Sul e Índia são apontados como as nações mais vulneráveis às ações do BC dos EUA.
O tamanho do enfrentamento dependerá do ritmo dos cortes promovidos pelo Fed, que
condicionou suas ações à queda do desemprego para 0menos de 6,5% — a taxa atual, de 7% é
a menor em cinco anos — e ao comportamento da inflação, que está abaixo de 2%.
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Ao detalhar o corte dos estímulos à economia norte-americana, Ben Bernanke reforçou que
não há um valor predeterminado para ser anunciado periodicamente. Se a atividade, que
avançou 3,6% no terceiro trimestre deste ano, acima do previsto, tropeçar, a estratégia será
abrandada. O presidente do Fed anunciou ainda que reviu as projeções para o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano, de expansão entre 2,9% e 3,1% para um avanço
entre 2,8% a 3,2%.
O impacto da decisão do Fed foi imediato nos mercados. A Bolsa de Nova York registrou alta
de 1,84% e a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), de 0,94%. Já o dólar subiu 0,87%,
cotado a R$ 2,343 na venda. “O Fed fez uma coisa muita importante: tirou o foco da taxa de
desemprego e o transferiu para a inflação, que está muito baixa. Isso significa que manterá os
juros próximo de zero e que fará um programa de retirada de estímulos mais lento”, explicou
Tony Volpon, chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura Securities
International, em Nova York. “O anúncio do Fed veio antes do que esperávamos, mas, pelo
menos, será bastante gradual”, acrescentou Jankiel Santos, economista-chefe do Espirito Santo
Investment Bank.
•• E EU COM ISSO
A redução dos estímulos à economia dos Estados Unidos terá impacto sobre o Brasil e isso
poderá ser percebido, principalmente, no preço no dólar, que tende a subir. A previsão de
parte dos especialistas é de que a moeda norte-americana chegará a R$ 2,50 até o fim de 2014.
Diante dessa elevação, o custo de vida das famílias pode aumentar, e o Banco Central se verá
obrigado a elevar ainda mais a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10% ao ano. Se essa
taxa aumenta, o PIB cresce menos e, em um quadro extremo, o desemprego avançará.
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dos EUA nas negociações e apresentando um texto que atendia apenas aos interesses da
Casa Branca. Os indianos ainda demonstravam especial irritação diante do posicionamento do
governo brasileiro que, depois de anos defendendo os países emergentes e se apresentando
como a "voz" dos pobres, adotou uma atitude mais moderada.
Os indianos apresentaram uma contraproposta, mas dessa vez sobre a resistência dos países
ricos por causa da liberdade que ainda dava para que Nova Délhi destinasse recursos a seus
produtores agrícolas.
Diante do impasse, Azevêdo decidiu convocar indianos para uma reunião reservada e que durou
quase duas horas. Embaixadores estrangeiros que conversaram por telefone com o Estado
chegaram a relatar como rumores apontavam até mesmo que a delegação indiana estava
ameaçando abandonar Bali. O ministro do Comércio da índia, Anand Sharma, não apareceu
para o jantar de gala, levantando suspeitas de que a ameaça poderia ser real.
Já era madrugada quando o brasileiro convocou tanto os americanos quanto os indianos para
uma conversa. Em público, Sharma insistiu que não abriu mão de nada em relação a sua posição
de defender a segurança alimentar de 600 milhões de pobres na índia. Mas, nos bastidores,
uma das opções era de que um acordo mínimo fosse atingido em Bali para salvar a OMC,
enquanto governos se comprometeriam a voltar à mesa de negociações e redesenhar o pacote
ao retomar nas próximas semanas a Genebra. A índia estaria disposta a aceitar essa opção.
Agricultura. O impasse está ligado à insistência da índia e de cerca de outros 20 países de recusar
abrir mão da defesa de seus pequenos agricultores. Na prática, Nova Délhi quer garantias de
que, em um eventual acordo, poderá continuar subsidiando seus pequenos produtores, algo
considerado como fundamental para a segurança alimentar do país.
Os governos europeus e dos EUA rejeitam a posição da índia e insistem que o país não pode
manter sua proteção. A percepção é de que essa ajuda seria uma forma de fechar o mercado
indiano para a importação de alimentos. Nos próximos anos, a perspectiva do crescimento
da renda da classe média indiana representa uma oportunidade de aumentar as exportações
agrícolas de americanos e europeus.
O impasse já dava espaço ontem a uma troca de acusações. A ministra de Comércio da França,
Nicole Bricq, deixava claro que a Europa apontaria a índia como a responsável pelo fracasso. "A
índia tem uma enorme responsabilidade e suas demandas não são razoáveis". disse. Ela ainda
insistiu em acusar os indianos por um eventual colapso da própria OMC. "O que está em jogo é
o multilateralismo e a sobrevivência da OMC", declarou.
"Trata-se de uma questão política. Não é uma política agrícola na índia que está sendo
negociada aqui, mas uma política social", admitiu Vital Moreira, chefe de uma delegação de
deputados europeus.
Sharma contra-atacou. "Não vamos mendigar nada", disse. "A Índia fala em nome da maior
parte das pessoas nos países em desenvolvimento. Não estamos sozinhos", declarou. "Prefiro
que não haja um acordo que termos um acordo ruim", insistiu.
Ele ainda rejeitou os alertas de que a OMC desaparecia do mapa caso houvesse um fracasso.
"Não vai haver um colapso. Encontros no passado ocorreram sem resultados e a OMC
sobreviveu", insistiu.
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Educação
Dos cerca de 7,1 milhões de candidatos que se inscreveram no Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) de 2013, 5,05 milhões fizeram a prova nesse final de semana. O gasto com os
cerca de 2 milhões que não compareceram à prova é aproximadamente R$ 58 milhões. O
número corresponde a 58% do custo de R$ 49,86 por candidato. A porcentagem é estimada
pelo presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep), Luiz Claudio Costa.
Costa explica que custos com a correção da redação ou com o transporte são mantidos
independentemente do número de candidatos que fazem o exame. Há desperdício com a
impressão das provas e a contratação de pessoas para trabalhar no Enem. A taxa de abstenção
tem se mantido ao longo dos últimos anos. No ano passado, o percentual dos alunos que não
fizeram a prova foi 27,9% – dos 5,6 milhões inscritos, 4,17 milhões compareceram. No entanto,
com o aumento do número de candidatos a cada ano, o número total de faltosos também
aumenta, levando a mais gastos.
"Isso representa um custo para o país e estamos trabalhando para reduzi-lo", diz. Costa explica
que possíveis medidas punitivas aos candidatos que não comparecerem à prova esbarram na
lei. Se o candidato for de baixa renda não é possível cobrar a taxa de inscrição. No caso, do
Enem, egressos do ensino médio em escola pública também não pagam. "Se o estudante não
comparece a um exame e está dentro desse perfil, eu não posso cobrar dele a taxa no exame
seguinte. Está na nossa pauta, estamos analisando para ter uma medida estruturante, mas essa
medida exige alterações legais".
Independente do número de pessoas que não compareceu ao local de prova, o que é
arrecadado com o exame não é o suficiente para pagá-lo. Neste ano, mais de 65% foram isentos
da taxa de R$ 35. O ministro Aloizio Mercadante disse em diversas ocasiões que, ainda assim, o
Enem é mais barato que vestibulares convencionais. Além disso, ele estima, que o exame leve
a uma economia de R$ 5 milhões por instituição que adere ao Enem como forma de seleção.
Para Costa, o Enem consolidou-se no país como um exame de acesso ao ensino superior e
políticas públicas, como intercâmbio acadêmico pelo Ciência sem Fronteiras, financiamento
estudantil e acesso ao ensino técnico. "O Brasil decidiu que o Enem é importante. Vemos isso
pelo número de inscrições maior a cada ano", diz. No ano passado e neste ano, não houve
vazamentos de questões ou de gabaritos. Com mais segurança, o Inep volta-se para outras
questões.
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"Temos que ter mais diálogo com o ensino médio, mais discussões pedagógicas, isso tem que
ser feito para o Brasil caminhar cada vez mais".
O gabarito do Enem será publicado até o dia 30 no site do Inep. O resultado final deverá ser
divulgado na primeira semana de janeiro. Somente no ano que vem, as escolas de ensino médio
receberão os resultados do desempenho dos alunos. Segundo o presidente, até dezembro
deste ano, os centros de ensino receberão os resultados de 2012.
"Isso é fundamental e faz parte do diálogo com as escolas. Elas vão ter todo o mapa dos
estudantes em cada uma das áreas de conhecimento e na redação. Com o mapa, a escola vai
ver as potencialidades e planejar uma intervenção pedagógica para melhorar o terceiro ano e
fazer uma reflexão do ensino médio", diz Costa.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br Publicado em: 29/10/2013
Análise de dados mostra que a nota da redação está diretamente ligada à renda
familiar dos candidatos
Criado para democratizar o acesso ao ensino superior no país, o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) não conseguiu se esquivar das desigualdades do Brasil. Uma análise do banco
de dados do Ministério da Educação (MEC), realizada pelo GLOBO, mostra que a prova vem
refletindo as conhecidas diferenças socioeco-nômicas do país. O levantamento deixa evidente
que o desempenho dos participantes está ligado a sua renda. Quanto melhor a situação
financeira e de escolaridade familiar, maior é a nota do candidato na redação, principal prova
do disputado processo de seleção do MEC.
Para chegar a essa conclusão, o jornal analisou informações de 3,87 milhões de candidatos
do Enem 2011 que responderam ao questionário socioeconômico no ato da inscrição e que
fizeram a prova de redação naquele ano. Esses dados são os mais recentes disponíveis em
relação ao exame que se tornou a principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil.
Neste fim de semana, acontece a próxima edição do exame, que tem 7,1 milhões de inscritos.
Ao comparar renda familiar e desempenho na redação, prova que tem o maior peso no exame,
percebeu-se um aumento contínuo da nota junto com a situação financeira e a escolaridade
dos pais. Enquanto a nota média entre aqueles com renda de até um salário mínimo foi de 460
pontos, o grupo com renda acima de 15 salários chegou a 642 pontos. Diferença de 40%.
Na comparação entre as unidades da federação, essa disparidade é mais ampla no Piauí, onde
a diferença entre a menor e a maior médias é de 50%. Santa Catarina e Amapá são os que
apresentam menor discrepância: 27%.
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a meu ver, uma falta de perspectiva dos alunos. Eles pensam que não poderão ser aprovados
ou, caso sejam, pensam em como poderão se manter financeiramente no ensino superior.
Isso tudo tem a ver com as políticas que podem ser criadas para permitir que esses jovens se
dediquem aos estudos ou possam se manter durante a faculdade — observa Faria.
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O Enem, assim como as cotas, é uma ferramenta no processo. Antigamente, dois ou três
vestibulares influenciavam muito no ensino, e só dialogavam com escolas particulares. O Enem
promove diálogo com a escola pública. Mas não é uma mudança rápida
Reprovação de 30%
O Globo – 08/10/2013
Instituições privadas de ensino superior respondem por 92% das piores notas
– Brasília – Quase um em cada três cursos de graduação que participaram do Exame Nacional
de Desempenho de Estudantes (Enade) no ano passado recebeu conceito 1 ou 2, o que eqüivale
à reprovação, na escala que vai até 5. Balanço divul-j gado ontem pelo Ministério da Educação
(MEC) mostra que 30% dos cursos em todo o país obtiveram conceitos 1 ou 2. Esse percentual
chegou a 36% nas faculdades de Administração e 33%, nas de Direito. Ao todo, fizeram a prova
536 mil for-mandos em 17 áreas do conhecimento.
O Enade avaliou estudantes de 6.306 cursos, atribuindo o conceito insuficiente a 1.887 deles,
dos quais 149 no Rio de Janeiro. O resultado do exame por si só, porém, não basta para que
o MEC tome providências em relação a essas faculdades. Elas só sofrerão sanções, como
suspensão de vestibulares, se forem reprovadas no chamado Conceito Preliminar de Cursos
(CPC), no qual a nota do Enade tem peso de 55%.
O CPC, que considera também a infraestrutura das faculdades e o corpo docente, será divulgado
em novembro. Nesse caso, cursos que tiraram conceito 1 ou 2 serão considerados reprovados
pelo MEC. No Enade, porém, o ministério classifica as notas 1 e 2 como insuficientes.
As instituições particulares de ensino, que respondem por 73% das matrículas no país, foram
responsáveis por 91,7% das piores notas no Ena-de. De 1.887 conceitos 1 e 2, nada menos
do que 1.731 foram obtidos por cursos privados. As públicas ficaram com 156 conceitos
insuficientes.
— No ensino superior, em geral, o ensino público continua bem melhor do que o privado —
disse o ministro Aloizio Mercadante.
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— Governo nenhum, do PT nem do PSDB, prioriza a Educação. É na base da improvisação.
0 Enade e o Provão têm 18 anos e há 18 anos o setor de ensino superior particular pede que a
lei seja cumprida — disse Cardim.
O Enade foi criado em 2004 para substituir o antigo Provão. O exame sofreu modificações e
atualmente é feito pelos estudantes que estão concluindo o curso de graduação. A nota de
cada curso corresponde à média dos alunos.
No estado do Rio, os 149 cursos que tiraram as notas mais baixas correspondem a 36% de
conceitos nas instituições fluminenses submetidas ao teste. O Rio foi o segundo estado com
maior número absoluto de "reprovações" no Enade, atrás de São Paulo, onde 542 cursos
receberam notas 1 ou 2. O Paraná ficou em terceiro, com 142 cursos nessa situação, seguido
por Minas Gerais (140) e Bahia (99). Considerando-se apenas as piores notas (conceito 1), São
Paulo teve 46, o maior número do país, e o Rio, 11, o segundo pior resultado, igual a Mato
Grosso do Sul.
No outro extremo, 24% dos cursos avaliados no pais tiraram conceitos 4 e 5. A maior parte
ficou com 3 (44%), que é considerado suficiente pelo MEC. Para Mercadante, "houve melhora
significativa" No caso da nota máxima 5, apenas 5% das faculdades atingiram esse patamar, o
equivalente a 339 cursos. A exemplo do que ocorreu no total de faculdades com desempenho
insuficiente, o estado de São Paulo também lidera o ranking de maior número absoluto de
cursos com nota 5: 84, seguido por Minas (45), Rio Grande do Sul (44), Paraná (27) e Rio de
Janeiro (15), que aparece na quinta posição empatado com Santa Catarina.
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A comparação entre Águas de São Pedro (SP), a cidade com melhor IDHM de Educação do País,
e Melgaço (PA), com o pior IDHM, tanto geral quanto em Educação, é um exemplo dos extremos
do País. Em Melgaço, a 290 quilômetros de Belém, chega-se apenas de helicóptero ou barco,
em uma viagem que pode durar 8 horas. Dos seus 24 mil habitantes, apenas 12,3% dos adultos
têm o ensino fundamental completo. Entre crianças de 5 e 6 anos, 59% estão na escola, mas só
5% dos jovens de 18 a 20 anos completaram o ensino médio.
Águas de São Pedro, a 187 quilômetros da capital paulista, tem 100% das crianças na escola
e 75% dos jovens terminaram o ensino médio. Em 1991, mesmo considerando os critérios
educacionais mais rígidos do IDHM atuais, o município já era o 12.0 melhor do País. Melgaço,
era o 97.° pior, o que mostra que melhorou menos do que poderia.
A Educação é onde os municípios brasileiros estão mais longe de alcançar o IDH absoluto, 1. Os
números mostram que o País melhorou mais no fluxo escolar – mais crianças estão na escola
e na idade correta -, mas mantém um estoque alto de adultos com escolaridade baixa e, mais
grave, parece ainda estar criando jovens sem estudo.
A população de crianças de5e 6 anos que frequentam a escola atinge mais de 90%. Entre os
jovens de 15 a 17 anos, apenas 57% completaram o ensino fundamental. Entre 18 e 20,41%
concluíram o ensino médio. Em 15% das cidades brasileiras menos de 20% da população
terminou o ensino fundamental.
Análises. "O que pesa mais é o estoque de pessoas com pouca formação na população adulta.
Se você olhar com atenção, verá que nas pontas, acima dos 15 anos, os indicadores já não
são tão bons quanto nos anos iniciais", disse Maria Luiza Marques, coordenadora do Atlas
do Desenvolvimento Humano no Brasil pela Fundação João Pinheiro, uma das entidades
organizadoras.
O presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea),Marcelo Néri, considera
o avanço na Educação "muito interessante". "A Educação é a mãe de todas as políticas, mas é
difícil de mudar, porque tem uma herança muito grande para resolver. A Educação é a base de
tudo e hoje está no topo das prioridades. Mudou a cabeça dos brasileiros."
Estudantes brasileiros de 15 anos que estão entre os 25% mais ricos do país tiveram média
inferior aos 25% mais pobres de nações com maior nível de desenvolvimento. O desempenho
foi medido pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que compara o aprendizado
em 65 países.
Média dos alunos mais ricos do país é pior que a dos jovens de menor renda em nações
desenvolvidas
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Para o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro
(Sinepe), Vitor Notrica, o mau desempenho brasileiro dos 25% mais ricos no Pisa não se deve
necessariamente às escolas, mas a questões culturais. Ele acha que esse rendimento abaixo da
média pode estar ligado à relação entre alunos e professores no Brasil.
— A mensalidade da escola está ligada à sua proposta pedagógica. Tem escolas bilíngues,
aplicadas em tecnologia, horário integral... Mas a qualidade do ensino depende, principalmente,
do pulmão do professor. É fato que em países como a França e a Alemanha os alunos respeitam
muito mais o professor, e por isso são cobrados com vigor. Isso pode também ser uma explicação
para o resultado — afirma Notrica.
Membro do Conselho Nacional de Educação e professor da UFMG, Francisco Soares alerta que,
mesmo no grupo de 25% mais ricos do Brasil, ainda há alta heterogeneidade:
— Separar em quatro grupos de mesmo tamanho não é razoável para um país tão desigual
como o Brasil. Nós temos uma elite, sim, mas não é de 25%. Se formos lá na nata das nossas
escolas, talvez elas não deixem a desejarem relação ao resto do mundo. Há escolas, sim, que
estão cobrando caro, mas estão colocando os alunos na elite mundial.
O diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, segue a mesma linha de análise de
Francisco Soares, mas ressalta que apenas 1% dos estudantes brasileiros atingiu os níveis mais
elevados na prova de Matemática do Pisa:
— Os 25% não são uma comparação ideal num país com renda tão concentrada como o Brasil.
Nossa elite se aproxima dos 10% ou 5%, em média. Mas a grande questão é que ninguém está
indo muito bem em Educação aqui. Mesmo nessa amostra, somente 1% dos nossos alunos
conseguiu alcançar notas boas. Esse é o dado mais assustador. Temos pouquíssimos alunos que
sabem bem.
Eliane Porto é gerente-geral no Rio da agência de intercâmbios Cl, que envia jovens brasileiros
para cursar parte do ensino médio no exterior. Segundo ela, os alunos voltam empolgados com
o ensino lá fora:
— Eles elogiam muito a infinidade de matérias eletivas, que vão da prática de esportes a aulas
de marcenaria. Tudo isso os deixa mais envolvidos e motivados com a escola.
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A valorização dos professores nas escolas inglesas também chamou a atenção de Decio.
— Os professores na Inglaterra são muito respeitados. Independentemente da idade deles, os
alunos os tratam com muito respeito. Esses profissionais são elevados a um nível muito acima
do que esse que notamos aqui, onde nem mesmo o governo os respeita — diz.
O Globo – 05/12/2013
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E parte do problema pode ser a falta do inglês: muitos países adotaram a publicação em língua
inglesa para garantir que a investigação seja compartilhada e compreendida em todo o mundo,
e que suas universidades recebam o devido reconhecimento pelo seu trabalho inovador —
ressalta o editor da THE.
A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, Debora Foguel, comemorou a presença
da instituição no ranking, mas não deixou de salientar como o ensino no Brasil precisa evoluir:
— o país ainda não tem uma política destinada a colocar suas universidades entre as seletas
instituições de classe mundial. Há gargalos que precisamos encarar. E um dos principais deles
está justamente relacionado à pesquisa. A disponibilização de recursos voltados diretamente a
essa área ainda não é uma realidade nas universidades federais.
Precisamos investir maciçamente nisso — comentou. o reitor da USP, João Grandino Rodas
destacou que o fato de se tratar de uma universidade onde se fala um idioma que não é
internacional dificulta o alcance das primeiras posições em rankings. Entretanto, medidas
adotadas recentemente devem mudar esse quadro.
— Criamos o programa USP Internacional, para fortalecer a presença da universidade no exterior.
Também foi estabelecido um programa de bolsas de intercâmbio para alunos de graduação, no
qual mais de dois mil estudantes tiveram oportunidade de desenvolver atividades acadêmicas
em instituições estrangeiras.
Esse projeto abrange as não contempladas pelo Ciência sem Fronteiras — mencionou. Entre os
Brics, o Brasil tem a segunda maior economia do grupo, somente atrás dos chineses. Entretanto,
essa realidade segue em descompasso com os indicadores educacionais. Segundo o professor
de Relações Internacionais da PUC—Rio João Nogueira, que é membro do Brics Policy Center,
isso acontece porque os resultados na Educação dependem de políticas públicas consistentes e
de longo prazo.
— Os chineses há muito têm priorizado o crescimento rápido do ensino superior como caminho
para estimular a inovação e enfrentar os problemas futuros de oferta de mão de obra. Dezenas
de milhares de estudantes de países como a Coreia do Sul vão estudar nas universidades
chinesas atualmente.
Ao lado da ampliação do sistema, a China investiu na qualificação de seus pesquisadores
em centros de excelência no exterior, com os resultados que vemos nas pesquisas. No caso
brasileiro, o dinamismo econômico não foi suficiente para vencer a complacência de seus
governantes quando se trata de Educação, tratada mais como política social do que como
estratégia associada ao desenvolvimento do país — concluiu.
Por continente, África e Américas aparecem com nove universidades cada. Para a consultoria,
o grande destaque do ranking ficou com a Turquia, que não só tem sete instituições na lista
como também três delas aparecem dentre as dez primeiras: Universidade de Boaziçi (5°),
Universidade Técnica de Istambul (7°) e Universidade Técnica do Oriente Médio (9°).
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O Globo – 04/12/2013
O Brasil foi o país que registrou, entre 65 nações, o maior avanço no desempenho de alunos de
15 anos em matemática de 2003 a 2012. E isso aconteceu ao mesmo tempo em que mais jovens
pobres foram incluídos na escola, já que as taxas de matrícula nessa faixa etária cresceram de
65% parar 78%.
Toda essa melhoria, no entanto, não foi suficiente para tirar o país das últimas colocações do
ranking do Pisa, exame elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e que compara o desempenho de alunos (em Matemática, o país ficou em
58°). Outro dado preocupante é que, em relação a 2009, a nota de Matemática do Brasil subiu
apenas cinco pontos, a avaliação de leitura piorou dois pontos e, na de ciências, permaneceu
no patamar idêntico.
Isso deixa o país mais distante da meta governamental de alcançar, até 2022, o nível de
qualidade médio da OCDE. Neste ano, o foco do Pisa foi o ensino de matemática. Entre 2000
e 2013, a média dos alunos brasileiros nessa disciplina aumentou de 334 para 391 pontos. A
média da OCDE é de 494. E a distância para os deres é ainda maior.
Na província de Xangai, na China, o desempenho médio dos alunos foi de 610 pontos. A distância
em pontos ente alunos de Xangai e os brasileiros de 15 anos equivale a dizer, pela escala do Pisa,
que os brasileiros precisariam de mais cinco anos letivos para alcançar os chineses. O ministro
da Educação, Aloizio Mercadante, criticou essas comparações, uma vez que os estudantes
submetidos ao exame em Xangai representam só 1,2% da população chinesa.
O ministro também ponderou que, se for considerado o desempenho isolado da rede federal, a
média dos alunos brasileiros no Pisa aumentaria de 391 para 485. Na rede particular brasileira,
a média é de 462 e, na estadual, que atende a mais de 80% da população, fica em 380. —
o topo da escola pública, que são as federais, é igual à França, à Inglaterra e aos EUA — diz
Mercadante.
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Em 2012, 67% dos alunos no país estavam nesse nível. Em 2003, eram 75%. Apenas 1,1% dos
brasileiros tem rendimento de alto nível. De acordo com a diretora-executiva do Todos pela
Educação, Priscila Cruz, por trás deste quadro está o fato de o país ainda estar incluindo jovens
em sua rede de ensino, diferentemente de nações que já superaram este processo.
Segundo ela, chegou a hora de o Brasil colocar em prática políticas restruturantes. — Nos
últimos dez anos, houve a entrada de 425 mil jovens de 15 anos no sistema educacional. São
pessoas provenientes da parcela da população de menor renda no Brasil e que não tiveram
acesso à educação infantil.
Eles tendem a puxar a média para baixo, porque estão engrossando a parcela de pessoas com
baixo nível escolar nessa faixa etária. É como se a gente tivesse jovens na média 500 e colocasse
vários com a média 300. Para se ter uma ideia, se não houvesse essa inclusão, o país teria
crescido mais 44 pontos nesses dez anos e subiria sete posições no ranking — diz.
Para o economista André Portela, da Fundação Getulio Vargas, apesar da estagnação, o país
melhorou significativamente o desempenho se a base de comparação for a primeira prova, em
2000. Segundo ele, os ganhos de renda da população como um todo a partir de programas
sociais como Bolsa Família estão por trás da melhora do desempenho na última década.
Já o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, tem leitura mais pessimista dos
resultados. Para ele, os avanços foram poucos e não haveria razão para crer em melhoras
no futuro, muito menos na ambição de o Brasil alcançar em 2022 os padrões de qualidade
educacional dos países da OCDE de hoje: — Não temos uma reforma educacional ampla. Não
se faz educação com lei, mas com políticas educacionais.
Energia E Tecnologia
"A complexidade crescente de grandes desafios para a humanidade requer que a comunidade
científica internacional assuma novos papéis, pois cada vez mais o mundo é moldado pela
ciência e tecnologia, que devem ser considerados e assumidos como legado comum da
humanidade." A assertiva aparentemente utópica em um mundo desigual, consta da Declaração
de Budapeste do Fórum Mundial de Ciência (FMC) de 2011 sobre o tema nova era para a ciência
global. O evento bienal que reúne academias e sociedades científicas de todo o planeta tem vez
neste ano no Rio de Janeiro, entre os dias 24 e 27 de novembro, e carrega o ineditismo de ser
realizado pela primeira vez fora da cidade de Budapeste.
O tema deste 6º fórum, Ciência para o Desenvolvimento Sustentável Global, resulta de extensa
agenda de debates, trabalhos e propostas apresentados durante os encontros anteriores, que
tiveram origem na Conferência Mundial de Ciência, organizada pela Unesco em Budapeste
em 1999. No último fórum, em 2011, os participantes debateram e deliberaram sobre temas
cruciais para determinar o futuro da humanidade e o papel da ciência.
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O efeito Fukushima
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Outros governos da Europa, como os da Suíça, Itália, Bélgica e Polônia, também vão pelo
mesmo caminho. E o governo dos Estados Unidos também adiou a construção de dois reatores.
São três tipos diferentes de pressões pelo abandono dos programas de energia de fonte nuclear.
O primeiro deles é o seu alto nível de risco, associado a questões técnicas não equacionadas.
Ainda que a probabilidade de um acidente sério seja relativamente baixa, uma vez acontecido,
é de controle muito difícil. As indenizações à população que vive próxima de um sinistro grave
são tão altas que podem quebrar uma companhia energética, como acontece com a Tepco, a
concessionária do complexo de Fukushima. Além disso, não está adequadamente resolvido o
problema do armazenamento do lixo nuclear.
O segundo tipo de pressão é a questão econômica propriamente dita. Os três maiores acidentes
nucleares (Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979; Chernobyl, na Ucrânia, em 1986;
e Fukushima, no Japão, em março deste ano) mostraram que o funcionamento das usinas
atômicas com nível satisfatório de segurança só pode ser obtido com enormes investimentos
e altos custos de produção que, na prática, o tornam proibitivo. A desativação de reatores e o
abandono (ou o adiamento) de novos projetos são, por si só, fatores de aumento de custos, na
medida em que reduzem a escala de produção de equipamentos para usinas nucleares.
Há, também, a questão política relacionada com a nova tendência de desvalorização das áreas
e das propriedades adjacentes a qualquer usina nuclear.
Essa nova atitude crítica global em relação à energia atômica terá duas importantes
consequências: o aumento da utilização de fontes fósseis (petróleo, gás e carvão mineral), o
que, por sua vez, concorrerá para o aumento da demanda e dos preços; e o concurso cada vez
maior da energia renovável, hoje considerada alternativa (energias eólica e solar e bioenergia).
A energia no Brasil segue excessivamente tributada. E isso é parte de uma política vacilante,
dúbia e destituída de marcos regulatórios que incentivem investimentos.
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Não há sinal do já anunciado reexame das condições de segurança dos reatores nucleares
do País nem da redução dos altíssimos subsídios (perto de R$ 6 bilhões por ano). O grande
potencial de obtenção de energia do bagaço de cana, por exemplo, não tem regras mínimas
que assegurem investimentos. E os novos projetos hidrelétricos caminham a esmo, por falta de
poder de decisão e de gerenciamento.
O desastre de Fukushima apontou uma direção. Falta saber até que ponto o governo brasileiro
irá aprender com ele.
"Controle em Fukushima é insuficiente", diz físico do Greenpeace
Cerca de 300 toneladas de água altamente radioativa vazaram de um tanque de armazenamento
na usina nuclear. Segundo Heinz Smital, falta de monitoramento adequado na área de risco
complica situação.
A operadora Tepco, responsável pela usina de Fukushima, encontrou nesta quinta-feira (22/08)
novos focos de radiação perto dos tanques de armazenamento de água contaminada. A
descoberta elevou os temores de novos vazamentos, já elevados desde a véspera, quando foi
anunciado que 300 toneladas de água radioativa haviam vazado nos últimos dias.
Para Heinz Smital, físico nuclear e especialista do Greenpeace da Alemanha, há uma falha
sistemática de vigilância na usina. Em entrevista à DW, ele diz que a queda no nível de água
radioativa nos tanques deveria ter sido detectada bem mais cedo.
"É necessário um maior monitoramento dessas centenas de tanques, cada um com mil
toneladas de líquido altamente radioativo. O controle ainda é insuficiente", afirma.
DW: O vazamento radioativo das últimas semanas foi considerado o maior desde a catástrofe
com os reatores de Fukushima, em março de 2011. Qual é a real seriedade do incidente?
Heinz Smital: É um incidente grave e que poderia ter sido evitado. Em princípio, o importante
era manter a água em tanques de aço. O vazamento só foi descoberto depois que o nível da
água diminuiu em metros dentro do tanque. Isso mostra que o monitoramento foi totalmente
inadequado.
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Qual a credibilidade desta declaração?
A água provavelmente se infiltrou no solo, mas provavelmente há também fluxos de águas
subterrâneas. Isso significa que a radiação fora da usina aumentará cada vez mais com o tempo.
O que não se pode esquecer é que, mesmo que tenha vazado muita radiação, a maior parte
ainda continua nos reatores. Apenas uma pequena porcentagem foi libertada. E caso aumente
a quantidade de água subterrânea, pode ser que estas fontes alcancem distâncias mais longas.
Isso é o suficiente?
Esta é a medida a ser tomada, se não se sabe a origem do vazamento. Mas, no geral, é
necessário um maior monitoramento dessas centenas de tanques, cada um com mil toneladas
de líquido altamente radioativo. O controle ainda é insuficiente. Desde o início, a gestão da
crise financeira e a política de informação da Tepco e do governo japonês receberam críticas
pesadas.
O Banco Mundial e as Nações Unidas fizeram um chamado nesta quarta-feira para arrecadar
bilhões de dólares para fornecer eletricidade aos países mais pobres, mas descartaram investir
em energia nuclear.
"Nós não trabalhamos com energia nuclear", disse o presidente do BM, Jim Yong Kim que, junto
com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, delineou os esforços para garantir que todas as
pessoas tenham acesso à eletricidade até 2030.
Kim disse a jornalistas que faltam entre US$ 600 bilhões e US$ 800 bilhões ao ano para alcançar
o objetivo da campanha de fornecer acesso universal à eletricidade, dobrar a eficiência
energética e a proporção das energias renováveis na matriz energética até 2030.
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Em alguns países, apenas 10% da população tem eletricidade. Até agora, a campanha conseguiu
a promessa de US$ 1 bilhão de um fundo de desenvolvimento da OPEP, US$ 500 milhões do
americano Bank of America e US$ 325 milhões da Noruega.
Kim disse que a entidade que chefia prepara planos energéticos para 42 países, que estarão
prontos em junho, mas não incluem a energia atômica. "A energia nuclear é um tema
extremamente polêmico em alguns países", disse Kim.
"O grupo do Banco Mundial não dá apoio à energia nuclear. Pensamos que é um tema muito
complicado que cada país continua debatendo", acrescentou.
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Sendo assim, o país faz frente a uma dívida acumulada de 26 bilhões de euros de seu setor
elétrico entre 2005 e 2013. "Segundo os indícios, não deve haver ali o relançamento da
transição energética na Espanha sem uma verdadeira reforma estrutural do setor elétrico e o
saneamento das finanças públicas", escreveram os autores do estudo.
A internet móvel pode falhar durante a Copa do Mundo, o principal evento esportivo deste ano.
Com o avanço de tablets e smartphones 3G e 4G entre os brasileiros, é esperada uma avalanche
de tráfego de dados no país. A projeção é que sejam consumidos em 2014 inéditos 19,2 bilhões
de gigabytes (GB), de acordo com previsões das operadoras com base em levantamento da
Frost & Sullivan’s e Cisco. Será um crescimento de 65,09% em relação ao ano passado. Se as
teles correm para fazer seus investimentos na tentativa de dar conta da demanda, as próprias
companhias, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e especialistas alertam: na hora
do gol, a rede vai ficar lenta e deve apresentar falhas.
O primeiro passo foi a formação de um consórcio entre as cinco operadoras móveis — Oi, Vivo,
TIM, Claro e Nextel — para montar a infraestrutura nos estádios que vão receber os jogos
da Copa do Mundo. Juntos, os investimentos somam R$ 200 milhões em antenas, cabos e
roteadores nos estádios e só vão terminar em abril, quase às vésperas do torneio, que começa
em junho. Assim, cada uma das 12 arenas, como o Maracanã, contarão com capacidade
equivalente a uma cidade de 100 mil habitantes, de acordo com cálculos feitos pela Vivo, maior
empresa do país, com 77,6 milhões de clientes.
— Todos vão querer tirar fotos e fazer vídeos e enviá-los ao mesmo tempo. Por isso, em
momentos de pico, como o de um gol da seleção brasileira, a tendência é a rede ficar ocupada
e, assim, lenta. Há uma limitação de espaço. Não há como fugir desse cenário — admite o
diretor de uma das teles, que não quis se identificar.
Além dos investimentos dentro dos estádios, as teles também vão montar uma operação de
guerra ao redor das arenas. Estima-se que cada uma das operadoras utilize, pelo menos, quatro
caminhões com antenas móveis em ruas próximas de onde vão ocorrer os jogos. O objetivo
nesse caso é aumentar a capacidade de conexão das empresas de telefonia móvel. A técnica
já é muito utilizada em eventos com grande concentração de pessoas, como o Rock in Rio e o
réveillon de Copacabana.
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Leonardo Capdeville, diretor de redes da Vivo, lembra que a Copa será o maior evento do
mundo no ano de 2014. Ele ressalta que o aumento no consumo de dados será potencializado,
já que mais pessoas estão usando a rede 3G em seus celulares.
— Haverá uma explosão de dados. Além da migração de 2G para 3G, ainda há a expansão da
rede 4G, que cresce em ritmo mais elevado em relação ao início do 3G. Hoje, os smartphones já
somam 35% de todos os celulares em uso no país e os números são de mais altas nos próximos
anos. Por isso, temos ampliado os investimentos, levando a fibra até as antenas, para permitir
maior velocidade — afirma Capdeville.
Na avaliação de Gabriela Derenne, diretora da Claro para o Rio e Espírito Santo, o nome do
jogo para 2014 é dados. Segundo ela, cerca de 60% dos celulares vendidos já são smartphones.
Agora, a companhia, está ampliando sua rede de fibra óptica. Gabriela destaca que hoje 75% da
rede já trafegam em fibra. O projeto total prevê fibra em 120 mil quilômetros e um investimento
de R$ 800 milhões. A tele ainda destinou quase R$ 1 bilhão para a construção de uma rede de
cabos submarinos, que sai do Rio e passa por Salvador e Fortaleza até chegar nos EUA:
— Agora, estamos na terceira etapa, que é a rede 4G. Por isso, estamos reforçando essa rede de
infraestrutura.
E demanda não vai faltar. O designer Guilherme Pecegueiro, que trabalha em uma empresa de
e-commerce chamada Lab 77, sabe bem a importância de uma rede bem estruturada para uma
conexão rápida:
— Em dias normais, já são muitos os desafios para uma internet veloz. Imagina com um grande
evento, onde a demanda vai ser maior. É claro que todos vão querer fazer fotos e postar vídeos.
É natural.
Uma falha no foguete de lançamento resultou ontem na perda do satélite CBERS-3, desenvolvido
em parceria entre Brasil e China. O satélite chegou a entrar em órbita e funcionou durante 30
minutos, mas não atingiu a velocidade necessária para permanecer em órbita e acabou caindo
de volta na Terra.
O lançamento ocorreu no horário previsto (11h26 em Pequim, 1h26 em Brasília), do Centro de
Lançamento de Satélites de Taiyuan, na China, e foi inicialmente considerado um sucesso por
ambos os lados. Cerca de uma hora depois, porém, os chineses perceberam que algo estava
errado.
Segundo as análises preliminares, houve um problema no tempo de funcionamento do motor
do último estágio do foguete – aquele que leva o satélite dentro de uma coifa, para colocá-lo
efetivamente em órbita. O foguete parou de funcionar 11 segundos antes do previsto, de forma
que o satélite foi liberado no espaço a uma altitude menor (720 km, em vez de 778 km) e com
uma velocidade horizontal abaixo da mínima necessária (de 8 km/segundo) para permanecer
em órbita.
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Fronteiras da biotecnologia
Plantas transgênicas vieram para ficar. E prevalecer. Suas variedades passaram a dominar
a safra de grãos no Brasil. Na corrida tecnológica, ninguém segura a engenharia genética. A
ciência vence o medo obscurantista.
Lavouras geneticamente modificadas de soja, milho e algodão, nessa ordem, lideram, com
dois terços, a semeadura da área nacional. Produtividade, facilidade no trato, economia
de defensivos: aqui as razões principais que explicam seu notável desempenho. Problemas
agronômicos, como resistência de ervas invasoras a. herbicidas ou ressurgência de pragas,
existem, mas se assemelham aos das lavouras convencionais. Não se comprovou alguma
tragédia ambiental, tampouco dano à saúde humana, decorrente do uso específico de
transgênicos.
Há séculos o melhoramento genético tradicional tem modificado os organismos. As variedades
atualmente plantadas ou criadas pouco se parecem com suas ancestrais: o frango deixou de ser
caipira, o milho tomou-se ereto, as frutas perdem suas sementes. Nenhum alimento continua
"natural".
O patamar da evolução mudou, porém, quando os cientistas descobriram a possibilidade de
modificar artificialmente o DNA das espécies. Sem cruzamento sexual.
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Tudo começou em 1972. Pesquisadores perceberam que parasitas do gênero Agrobacterium
transferiam partes de seu germoplasma para as plantas hospedeiras, estimulando nestas a
produção de açúcar, do qual se alimentavam. Quer dizer, ocorria na natureza um mecanismo
de transgenia. Dez anos depois, em Gent (Bélgica),cientistas conseguiram pioneiramente
efetuar a transgênese em laboratório. Em seguida, certas bactérias foram geneticamente
modificadas visando à produção de insulina humana. Os diabéticos comemoraram. A ciência
havia dado um tremendo salto no conhecimento. Desde então as equipes de ponta, em oficinas
públicas e privadas, passaram a investir na engenharia genética, turbinando mundialmente a
biotecnologia. Esta se destacou, ininialmente, na manipulação de microrganismos. Depois, em
1996, chegou ao campo, com o lançamento de uma variedade de soja resistente à aplicação
de herbicida. Começou a grande polêmica. Ativistas ambientais denunciaram a "comida
Frankenstein". Religiosos condenaram os cientistas por manipularem a vida. A opinião pública
ficou confusa.
Tal temor, compreensível, resultou na proposta de uma "moratória" de cinco anos, precaução
adotada pela União Europeia em 1999. Esse período se considerava suficiente para buscar o
esclarecimento das dúvidas sobre a nova tecnologia. O tempo passou, a engenharia genética
evoluiu, os preconceitos religiosos e ideológicos cederam lugar às evidências científicas. Novas
transgenias surgiram, barreiras foram caindo. Hoje, na agricultura, as variedades modernas,
geneticamente alteradas, se fazem presentes em 50 países, plantadas por 17,3 milhões de
agricultores, ocupando 10% da terra arável do mundo. Não é mais uma experiência.
Novidades biotecnológicas continuam surgindo. Entre animais, desenvolvem-se cabras
transgênicas que produzem em seu leite uma proteína típica da teia de aranha, capaz de gerar
polímeros altamente resistentes. Nos vegetais, entusiasma a possibilidade da geração de
plantas que suportam "stress hídrico". Na Embrapa, um gene de cafeeiros resistentes à seca
foi introduzido em plantas de fumo, fazendo-as suportar a falta de água no solo. Em Israel,
cientistas do Instituto de Tecnologia alteraram os genes de alface, impedindo que suas folhas
murchem após a colheita. Sensacional.
Técnicas chamadas "DNA recombinante" invadem a medicina. Utilizando-as, o Instituto Butantã
(São Paulo) desenvolveu recente vacina contra a hepatite B; também pela intervenção no
genoma viral surgem vacinas contra influenza,dengue, coqueluche e tuberculose. Na Faculdade
de Medicina da USP em Ribeirão "Preto estuda-se uma vacina transgênica para combater
câncer. Porcos geneticamente modificados em Munique (Alemanha) provocaram fraca reação
do sistema imunológico humano, abrindo caminho para os xenotransplantes.
Bactérias, leveduras e fungos geneticamente modificados têm sido utilizados na fabricação de
alimentos há tempos. Esses microrganismos atuam diretamente nos processos de fermentação,
gerando queijos, massas, cerveja; ajudam até na definição do aroma em bebidas e comidas.
Etanol celulósico, a partir do bagaço da cana ou de capim, virá de leveduras geneticamente
modificadas. Na indústria, o sabão em pó contêm enzimas, oriundas de bactérias transgênicas,
que facilitam a degradação de gordura nos tecidos.
Na fronteira da biotecnologia desenvolve-se aqui, na Embrapa, uma incrível técnica -dos
promotores constitutivos – capaz de restringir a manifestação de certas proteínas transgênicas
em folhas e frutos das plantas modificadas. Ou seja, a planta será transgênica, mas seus frutos,
ou grãos, escapam do DNA alterado. O avanço da engenharia genética, base da biotecnologia, é
extraordinário em todos os ramos, dando a impressão de que o melhor ainda está por vir.
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Por que, então, diante de tanto sucesso ainda há restrições contra os transgênicos, taxando-
os de produtos do mal? Boa pergunta. A resposta encontra-se no preconceito criado lá atrás.
A rigor, hoje em dia os produtos transgênicos, submetidos a legislação super rigorosa, são
bastante seguros para o consumo. Já outros alimentos, embora "convencionais", mais parecem
uma bomba química: salgadinhos, latarias, maioneses, doces insossos, essas gororobas, sim,
impunemente destroem nossa saúde.
Conclusão: transgênico ou convencional, pouco importa. Vale o alimento ser saudável.
A impressão é de que o melhor dos avanços da engenharia genética ainda está por vir.
Equipamento de observação desenvolvido pela China e pelo Brasil ao custo de R$ 300 milhões
se desintegra antes de entrarem órbita. Falha no foguete chinês causou o fracasso do projeto
Segundo informações obtidas pelo Inpe, o equipamento de observação sino-brasileiro CBERS-3
não se posicionou corretamente na órbita terrestre porque motores do veículo lançador foram
desligados 11 segundos antes do previsto. Apesar do fracasso, a parceria será mantida
Uma falha de funcionamento no foguete chinês Longa Marcha 4B é a causa apontada pelo
fracasso do lançamento do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres 3 (CBERS-3), que não
conseguiu chegar à orbita da Terra como planejado. O equipamento foi enviado às 11h26 (1h26
em Brasília) do Centro de Lançamentos de Satélites de Taiyhuan. De acordo com informações
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o satélite se desintegrou durante a queda.
O acidente atrasa os planos do Brasil de contar com imagens próprias geradas do espaço, mas
o projeto terá continuidade, e um novo mecanismo será desenvolvido para substituir o que foi
perdido.
De acordo com o Inpe, os dados obtidos pelos pesquisadores mostram que os subsistemas
do CBERS-3 funcionaram como esperado. Técnicos brasileiros que acompanhavam o processo
por meio de teleconferência, no Centro de Controle de Satélites, em São José dos Campos
(SP), chegaram a comemorar quando o painel solar do satélite foi aberto, dando a impressão
de que a missão havia sido bem-sucedida. No entanto, o equipamento não alcançou a órbita
pretendida devido ao desligamento precoce do motor de propulsão do foguete lançador, que
aconteceu 11 segundos antes do planejado. Essa seria a terceira e última etapa para que o
observatório entrasse em órbita.
O CBERS-3 seria o quarto satélite do programa de cooperação a orbitar o planeta. Os três
enviados anteriormente operaram normalmente, conseguindo alcançar seus objetivos. O
custo do projeto para o Brasil foi de aproximadamente R$ 150 milhões, 50% do total. A outra
metade do investimento coube ao governo da China, que era também responsável por enviar
a máquina ao espaço. O desastre, contudo, não deve interromper a parceria, e ambos os lados
já manifestaram o interesse em iniciar imediatamente discussões técnicas que antecipem a
montagem e o lançamento do CBERS-4.
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Independência
A intenção da iniciativa é que os dois países contem com imagens da superfície de seus
territórios, graças a câmeras de alta resolução. Isso não ocorre desde 2010, quando o CBERS-2
encerrou suas atividades. Com um satélite próprio, o Brasil deixa de depender totalmente de
informações vindas de outras nações. O monitoramento auxilia, por exemplo, o zoneamento
agrícola, a prevenção de desastres naturais e também o acompanhamento de alterações da
cobertura vegetal, fundamental para conter o desmatamento na Amazônia e outras florestas
nacionais.
Para Renato Las Casas, coordenador do Grupo de Astronomia e professor do Departamento
de Física do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o
percalço do projeto CBERS deverá ser superado, e, futuramente, a parceria brasileira com os
chineses terá mais sucesso. “Esse foi o primeiro problema enfrentado por essa empreitada,
mas os satélites lançados anteriormente obtiveram bastante sucesso. Acredito que essa falha
poderá atrasar, mas não irá inviabilizar todo o programa”, declara.
O professor também acredita que a continuidade da iniciativa é importante para o país. “As
câmeras utilizadas nesse satélite podem auxiliar no monitoramento das florestas e, dessa
forma, evitar desmatamento e invasões irregulares, além de ajudar no socorro a vítimas de
tragédias como a de Petrópolis (RJ), onde as fortes chuvas e alagamentos deixaram pessoas
em perigo. Esses recursos auxiliariam nos resgates de sobreviventes ilhados, por exemplo,
pois o alcance visual é notável”, complementa. “Sou a favor de um maior investimento na área
espacial, pois ela contribui para que a economia cresça. Todos os países desenvolvidos possuem
sucesso nessa área, e precisamos seguir esse mesmo caminho.”
Relações Internacionais
O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que aguarda que Brasil e Paraguai aprovem o
ingresso como membro pleno do seu país no Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Venezuela).
Segundo Morales, a expectativa é abrir um espaço para o debate sobre a complementação
comercial e não à disputa entre os integrantes do bloco.
“Oxalá em breve esteja pronta a aprovação pelo Paraguai e Brasil para a Bolívia ser membro
pleno e integrado a um comércio como é o Mercosul”, disse Morales. Segundo ele, os
parlamentos da Venezuela e da Argentina aprovaram o ingresso da Bolívia.
Morales destacou que o ingresso da Bolívia no Mercosul é importante porque o país estará
integrado de forma plena a um comércio de investimentos e integração regional. O Mercosul
estabelece livre circulação de bens e serviços entre os países do bloco, além do estabelecimento
de uma tarifa comum.
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Em dezembro, a Venezuela passou a fazer parte como membro pleno do Mercosul. O processo
de inclusão da Venezuela no Mercosul levou seis anos, começou em 2006 e terminou em julho.
Atualmente o Equador, o Suriname e a Guiana negociam para se tornar membros plenos do
bloco. As negociações estão adiantadas com o Equador, já foram feitas duas etapas de consultas
informais entre especialistas do bloco e equatorianos.
O Mercosul é formado pelo Brasil, pela Argentina, pelo Uruguai, pela Venezuela e pelo Paraguai.
O Chile, o Equador, a Colômbia, o Peru e a Bolívia estão no grupo como países associados. Com
os venezuelanos, o Mercosul passa a contar, segundo dados de 2012, com Produto Interno
Bruto (PIB) de US$ 3,32 trilhões. A população chega a 275 milhões de habitantes.
*Com informações da agência pública de notícias da Bolívia, ABI.
Fonte: Agência Brasil (EBC) Publicado em: 13/09/2013
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O governo americano apresentou o acordo fechado em Genebra como o mais importante
avanço em torno do programa iraniano desde 2003, quando houve a primeira tentativa de
limitar sua expansão. As conversas foram concluídas pouco depois das 3h do domingo em
Genebra (meia-noite, no horário de Brasília).
Em Washington, Obama fez um pronunciamento no qual atribuiu o sucesso das negociações ao
impacto das sanções econômicas e à “abertura para diplomacia” trazida pela eleição de Hassan
Rohani como novo presidente do Irã, em junho.
A obtenção de um saída pacífica para a questão nuclear iraniana é uma prioridade de Obama
desde que ele chegou ao poder, em 2009.
O acordo representa uma rara vitória de sua política externa, abalada pelas revelações de
espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), a errática atuação
em relação à Síria – e a insegurança que ela gerou entre aliados americanos no Oriente Médio
– e divergências com o Afeganistão em torno de um pacto militar para permanência de tropas
americanas no país depois de 2014.
“A diplomacia abriu um novo caminho na direção de um mundo que é mais seguro – um futuro
no qual nós podemos verificar que o programa nuclear iraniano é pacífico e não pode construir
uma arma nuclear”, declarou Obama.
A determinação dos EUA de negociar com o Irã afetou o relacionamento do país com seu
principal aliado na região, Israel, que se uniu a nações árabes na condenação do acordo. Para
eles, o pacto dará fôlego à república islâmica para continuar a avançar na construção da bomba
atômica – Teerã nega que esse seja o objetivo e sustenta que o programa tem fins pacíficos.
Na tarde de domingo, Obama telefonou para Netanyahu e reafirmou o comprometimento
americano com Israel. O presidente reconheceu também em seu discurso a existência de “boas
razões” para o ceticismo do país em relação ao Irã. “Como presidente e comandante em chefe,
farei o que for necessário para impedir o Irã de obter armas nucleares”, afirmou. “Mas tenho
uma profunda responsabilidade de tentar resolver nossas diferenças pacificamente, em vez de
me precipitar na direção de um conflito”, justificou.
O pacto é apenas o primeiro passo na direção do desfecho desejado pelos EUA: congelar as
atividades das usinas do país e dar tempo aos negociadores para buscarem uma solução de
longo prazo.
O documento afirma que o eventual novo pacto deverá entrar em vigor no prazo máximo de
um ano. O acordo poderá ser prorrogado depois de seis meses se houver concordância dos
sete países envolvidos em sua negociação.
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Conforme vinha anunciando nas últimas semanas, o presidente reafirmou estar pronto para
negociar sobre o programa nuclear que, assegurou, tem fins pacíficos.
— É uma oportunidade única. A República Islâmica do Irã acredita que todos os desafios podem
ser resolvidos com sucesso, inclusive a questão nuclear.
Mais cedo, Rouhani faltou ao almoço oferecido aos chefes de Estado pelo secretário-geral da
ONU Ban Ki-moon. Seria essa a 1 maior chance de um encontro, ainda que casual, com Obama
— seria o primeiro entre líderes americano e iraniano em 36 anos. Segundo a rede iraniana ,
Press TV a ausência se justificpelo fato de o anfitrião servir vi-! nho aos convidados — bebida
alcoólica cujo consumo é proibido aos muçulmanos.
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Marco civil» A maior parte do discurso na ONU foi usada para falar da espionagem americana
e da tentativa de mobilizar os demais países no sentido de que seja criado um "marco civil
multilateral para a governança e uso da internet e de medidas que garantam, a proteção dos
dados que por ela trafegam". Dilma pediu que "o espaço cibernético não seja usado como
arma de guerra, por meio da espionagem, da sabotagem, dos ataques contra sistemas e
infraestrutura de outros países".
Por três vezes, declarou que a espionagem feita pela inteligência americana é "um caso grave
de violação dos direitos humanos e das liberdades civis".
Defendeu também a necessidade de um marco civil multilateral para proteger a internet das
intromissões alheias.
Depois de declarar que "as tecnologias de telecomunicação e informação não podem ser o
novo campo de batalha entre os Estados", salientou que "este é o momento de criarmos as
condições para evitar que o espaço cibernético seja instrumentalizado como arma de guerra,
por meio de espionagem, da sabotagem, dos ataques contra sistemas e infraestrutura de outros
países".
Por isso, pediu que a ONU "desempenhasse papel de liderança no esforço de regular o
comportamento dos Estados frente a essas tecnologias".
Obama chegou no final do discurso de Dilma. Ele falou em seguida e dedicou uma pequena
parte de seu discurso à espionagem.
Satisfeita» Dilma deixou o plenário da ONU satisfeita com o tom adotado. Tanto que dispensou
o comboio oficial que a aguardava e saiu a pé pelas ruas de Nova York, em busca de um restau-
rante para almoçar com seus principais auxiliares e sua filha, Paula, que a acompanha na
viagem. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, resumiu o espírito da comitiva. "O Obama
falou assim, meio como o senhor da guerra, e ela falou mais de uma agenda mais social", disse.
Recado explícito
"Imiscuir-se dessa forma (espionagem) na vida de outros países fere o direito internacional"
"O aproveitamento do pleno potencial da internet passa por uma regulação responsável, que
garanta liberdade de expressão, segurança e respeito a direitos humanos"
Dilma Rousseff
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
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NSA monitorou telefone e e-mails da presidente A Agência de Segurança Nacional dos Estados
Unidos (NSA) monitorou o conteúdo de telefonemas, e-mails e mensagens de celular da
presidente Dilma Rousseff e de um número ainda indefinido de “assessores-chave” do governo
brasileiro. Além de Duma, também foram espionados pelos americanos nos últimos meses o
presidente do México, Enrique Peña Nieto, — quando ele era apenas candidato ao cargo — e
nove membros de sua equipe. As informações foram reveladas ontem pelo “Fantástico’ que
teve acesso a uma apresentação feita dentro da própria NSA, em junho de 2012, em caráter
confidencial. O documento é mais um dos que foram repassados ao jornalista britânico Glenn
Greenwald por Edward Snowden, técnico que trabalhou na agência e que hoje está asilado na
Rússia. Ontem à noite, ao tomar conhecimento da reportagem, o ministro da Justiça, Eduardo
Cardozo, classificou a espionagem como um fato “gravíssimo” e afirmou que, se confirmado o
monitoramento das comunicações da presidente Dilma e de seus assessores, o episódio terá
sido uma “clara violação à soberania” brasileira. Cardozo antecipou ainda que fará um pedido
formal de explicações aos Estados Unidos e que o tema será levado à Organização das Nações
Unidas (ONU). — Se forem confirmados os fatos da reportagem, eles devem ser considerados
gravíssimos, caracterizarão uma clara violação à soberania brasileira — disse o ministro. — Isso
foge completamente ao padrão de confiança esperado de uma parceria estratégica, como é
a dos Estados Unidos com o Brasil. Diante desses fatos, vamos exigir explicações formais
ao governo americano, o Itamaraty convocará o embaixador dos Estados Unidos para dar
explicações e vamos levar o assunto a todos os fóruns competentes da ONU. A apresentação
em que a presidente Dilma Rousseff e o presidente Enrique Peña Nieto são citados e aparecem
até em fotos tem um total de 24 slides e não traz nenhum exemplo de e-mail ou ligação da
governante brasileira. O título é “Intelligency filtering your data: Brazil and Mexico case
studies” (inteligência filtrando informação: os estudos de caso do Brasil e do México’ numa
tradução livre), e sua classificação indica que o documento só pode ser lido pelos países que
integram o grupo batizado pela NSA como “five eyes’ São eles: Estados Unidos, Grã-Bretanha,
Austrália, Canadá e Nova Zelândia. Nesse mesmo documento, que data de junho de 2012, a
NSA explica com grande precisão de detalhes e desenhos como espiona os telefonemas, e-mails
e mensagens de celular dos dois líderes latino-americanos. Ao final, congratula-se de ter tido
“sucesso” na empreitada. Segundo o jornalista Glenn Greenwald, que recebeu os documentos
de Snowden e colaborou com a reportagem do “Fantástico’ a apresentação de slides deixa claro
que o primeiro passo da NSA é identificar seus alvos, seus números de telefone e seus endereços
de e-mail. Depois, usando pelo menos três programas de computador — o Cimbri, Mainway e
Dishfire ( este capaz de procurar uma palavra-chave numa imensidão de dados) —, a agência
filtra as comunicações que devem merecer mais atenção. Para ilustrar esse processamento
de dados, a apresentação traz a imagem de duas mensagens de celular. A primeira delas,
capturada numa comunicação travada entre dois colaboradores do então candidato Enrique
Pefla Nieto, ele aparece citado pela sigla EPN ( as primeiras letras de seu nome). A segunda,
extraída do celular do próprio Pefia Nieto, traz uma revelação: o nome daquele que viria a ser
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anunciado, dias mais tarde, como coordenador de comunicação social do governo. Nessa parte
do documento, lê-se, no alto do slide, o número 85.489. Para Greenwald, o número poderia
significar o total de mensagens interceptadas pela NSA no entorno de Peña Nieto. O dado não
foi comprovado. Ao trazer à tona o estudo de caso do Brasil, a apresentação da NSA é clara.
Seu objetivo é “aumentar o entendimento dos métodos de comunicação” de Dilma Rousseff e
de seus “assessores-chave’ No slide que vem logo em seguida, a agência mostra, sem revelar
nomes, a teia de relacionamentos da presidente e como esses indivíduos se relacionam entre
si, Segundo a interpretação de Greenwald, essa é uma forma de os Estados Unidos identifica-
rem os principais interlocutores do governo brasi1eiro E, segundo revela o documento
obtido pelo “Fantástico’ o esforço tem dado resultado. Na conclusão da apresentação sobre
o caso Brasil, a NSA destaca que “foi possível aplicar essas técnicas com sucesso contra alvos
importantes’ inclusive contra os brasileiros e mexicanos que costumam proteger tecnicamente
suas comunicações (os chamados “OPSEC-savvy’ em inglês). o ministro José Eduardo Cardozo
preferiu não adiantar que providências seriam tomadas caso as denúncias reveladas ontem
sejam confirmadas, mas avançou na crítica: — Isso (a espionagem) atinge não só o Brasil,
mas a soberania de vários países que pode ter sido violada de forma absolutamente contrária
ao que estabelece o direito internacional — destacou ele. — Não pode haver uma coleta
indiscriminada de dados no Brasil sem a determinação do Poder Judiciário. Representei o Brasil
em Washington em reuniões sobre o assunto, e propusemos um protocolo de entendimento
que visasse a assegurar a soberania internacional, apenas permitindo a interceptação de dados
com ordem judicial, mas os Estados Unidos não aceitaram o acordo, dizendo que não iam faze-
lo nem com o Brasil nem com outro país. ‘AMIGO, INIMIGO OU PROBLEMA? Mas o interesse
da NSA pelos brasileiros não se esgota aí. Um segundo documento revelado ontem à noite
indica que os Estados Unidos ainda têm dúvidas quanto à sua avaliação do Brasil. Em um dos
slides do powerpoint intitulado “Identifying challenges for the future” (“Identificando desafios
para o futuro”), que também foi repassado a Greenwald por Snowden, a Agência de Segurança
Nacional se faz uma pergunta: “Amigos, inimigos ou problemas?’ Logo abaixo faz uma lista de
países que merecem observação. O Brasil encabeça o ranking composto ainda por Egito, Índia,
Irã, México, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Turquia e lêmen, Classificada pela sigla “FOUO”
(“for official use only” ou “exclusivo para uso oficial), a apresentação tem 18 slides e pretende
levar a agência a fazer uma reflexão sobre o período que vai de 2014 a 2019. O documento
também classificado como confidencial e disponibilizado apenas para os “five eyes’ países
com quem a NSA diz “trocar informações de forma frequente’ No terceiro e último documento
repassado por Greenwald ao “Fantástico a maior agência de segurança do mundo revela que
mantém uma equipe responsável por monitorar questões comerciais em treze países da Europa
e em “parceiros estratégicos” mundo a fora. Na lista da 151 estão Brasil, México, Japão, Bélgica,
França, Alemanha, Itália e Espanha. Segundo o documento, são nações que têm em comum
o fato de serem importantes para a economia americana e para as “questões de defesa’ Essa
divisão especializada da NSA também daria ao órgão “informações sobre as atividades militares
e de inteligência” desses países.
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Obama prometeu tomar providências. Ele disse, conforme relatos de auxiliares de Dilma, não
haver qualquer benefício que justificasse tal procedimento porque os EUA investem na boa
relação com o Brasil.
Foi nesse momento que americano mencionou que a violação das comunicações brasileiros
só teria custos para os EUA. Dilma disse ao colega que abordará o assunto em seu discurso de
abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) , em Nova York, no
próximo dia 24.
Ao que tudo indica, a presidente ainda não tinha detalhes sobre a suspeita de espionagem na
rede da Petrobrás quando conversou com Obama. Mesmo assim, já estava certa de que havia
interesses econômicos por trás do monitoramento. O governo brasileiro decidiu enviar missões
a países da Europa para verificar como eles se protegem da bisbilhotagem.
Na conversa com Obama, Dilma disse que o rastreamento das comunicações no Brasil não
se enquadraria em nenhum princípio de segurança. Afirmou que o combate ao terrorismo
não pode violar a soberania nacional. O americano concordou. "Para um país parceiro, vocês
colocam a relação bilateral numa situação muito difícil", argumentou a presidente.
Por escrito. O mesmo tom foi adotado ontem na nota oficial "Inicialmente, as denúncias
disseram respeito ao governo, às embaixadas e aos cidadãos – inclusive a essa Presidência.
Agora, o alvo das tentativas, segundo as denúncias, é a Petrobrás, maior empresa brasileira",
diz a nota. "O governo brasileiro está empenhado em obter esclarecimentos do governo norte-
americano sobre todas as violações eventualmente praticadas, bem como em exigir medidas
concretas que afastem em definitivo a possibilidade de espionagem ofensiva aos direitos
humanos, à nossa soberania e aos nossos interesses econômicos", completa a nota de Dilma.
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Normalmente, a antecedência não é tão grande, mas a viagem era tratada como especial por
questões de segurança.
O suspensão da equipe precursora não significa que a viagem está já cancelada – há tempo
suficiente para remarcá-la, já que a visita acontece apenas em 23 de outubro -, mas é uma
demonstração, para o governo americano, do nível de desagrado no Palácio do Planalto.
A irritação da presidente com a revelação de que ela pode ter tido mensagens eletrônicas
monitoradas continua grande, a ponto dela estar, segundo assessores, sem disposição de
conversar com Obama em São Petersburgo, onde ambos participam da reunião do G20.
De acordo com um assessor, Dilma informou que, para que a presidente fosse convencida da
importância de confirmar a viagem era preciso, por exemplo, que os EUA pedissem desculpas
pelas espionagens, se retratassem e assegurassem que não vão mais fazer isso – o que é
bastante improvável que aconteça, dado os sinais negativos do governo Obama até agora.
A decisão definitiva sobre o cancelamento deverá aguardar que os americanos apresentem
suas novas justificativas dessa vez, exigidas por escrito. Setores do governo ainda defendem a
viagem, mas Dilma espera uma resposta bastante diferente da recebida até agora. "Frustrante"
e "decepcionante" foram os adjetivos usados pelo governo brasileiro para descrever o resultado
da recente missão política do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, que ouviu apenas
"nãos" e vagas promessas de um grupo de trabalho entre os dois países proposta não aceita
pelo Brasil.
Para decidir como agir, Dilma exige de americanos resposta por escrito sobre denúncia
de espionagem BRASÍLIA – O governo brasileiro classificou como violação à soberania a
espionagem que os Estados Unidos fizeram de telefonemas, e-mails e mensagens de celular
da presidente Dilma Rousseff e de seus auxiliares, conforme revelou no domingo o programa
“Fantástico da TV Globo A presidente convocou ontem cedo uma reunião de emergência com
ministros, e o Itamaraty cobrou do embaixador americano, Thomas Shannon, explicações
por escrito de seu governo. Em resposta à espionagem americana, Duma poderá até mesmo
suspender o encontro oficial com o presidente Barack Obama marcado para outubro, em
Washington, mas isso dependerá das explicações que o governo dos EUA der sobre o caso. Em
entrevista o ministro de Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, e o ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, disseram que o Brasil quer uma resposta do governo americano ainda
esta semana e que o país está disposto a levar o assunto a debate em foros internacionais.
Apesar da indignação expressada pelo governo brasileiro, por enquanto nenhuma medida
concreta foi anunciada. Perguntado sobre a viagem a Washington, Figueiredo disse que não
trataria do assunto. Ele afirmou que a reação brasileira dependerá das respostas que serão
enviadas pelos Estados Unidos. — o tipo de reação dependerá do tipo de resposta.
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Por isso queremos uma resposta formal, por escrito, para que seja avaliada e, a partir daí,
vamos ver qual será o tipo de reação que adotaremos — disse o chanceler. Dilma não falou
publicamente sobre o assunto mas, indignada com a situação, realmente cogita suspender
a viagem aos Estados Unidos. Mas os dois ministros ressaltaram várias vezes que é preciso
esperar a manifestação dos EUA antes de adotar alguma ação. — Do nosso ponto de vista,
isso (a espionagem) representa uma violação inadmissível e inaceitável da soberania brasileira.
Esse tipo de prática é incompatível com a confiança necessária para a parceria estratégica
entre os dois países. O governo brasileiro quer prontas explicações formais, por escrito, sobre
fatos revelados na reportagem — disse Figueiredo. De acordo com o chanceler, a conversa
com Shannon foi franca e direta. Ele disse ter deixado claro que o governo brasileiro considera
inadmissível e inaceitável o que vê como uma violação à soberania nacional. — Na conversa,
ele (Shannon) entendeu o que foi dito, porque foi dito em termos muito claros. Muitas vezes,
pensa-se que diplomacia é explicar as coisas de formas sinuosas. Não é. Quando as coisas têm
de ser ditas de forma muita claras, são ditas. Ele tomou nota de tudo o que eu disse. Hoje
(ontem) é feriado nos Estados Unidos, mas ele se comprometeu a entrar em contato com a
Casa Branca ainda hoje (ontem) para narrar nossa conversa, para que eles nos enviem por
escrito as informações formais que o caso requer — disse Figueiredo. — Quero que o governo
americano dê as explicações. Não necessariamente o embaixador. Ele transmitiu o que o
Brasil quer dos Estados Unidos. Cardozo disse que, se as informações veiculadas anteontem
pelo “Fantástico” forem verdadeiras, o Brasil vai levar a questão a foros internacionais. — Se
confirmados os fatos, isso revelaria uma situação inaceitável e inadmissível à nossa soberania.
Quando a interceptação de dados se dá não para investigar ilícitos, mas numa dimensão
política e empresarial, a situação fica, sem sombra de dúvida, muito mais séria. Eles nos
disseram, textualmente, que não faziam interceptações para finalidades políticas e econômicas
para empresas americanas. Não tivemos nenhuma resposta conclusiva. Vamos aguardar as
explicações. Participaram da reunião com Dilma alem de Cardozo e Figueiredo, os ministros
da Defesa, Celso Amorin, e das Comunicações, Paulo Bernardo. O ministro da Justiça lembrou
que esteve nos Estados Unidos na semana passada e se reuniu com o vice-presidente, Joe
Biden. Na ocasião, Cardozo apresentou uma proposta de compartilhamento de dados com os
americanos para questões envolvendo suspeitas de ilícitos, mas Biden disse que não faria um
acordo dessa natureza nem com o Brasil nem com qualquer outro país. Na conversa, segundo
Cardozo, o vice-presidente americano negou que seu governo interceptasse telefonemas ou
de mensagens de cidadãos brasileiros. TRÊS PROGRAMAS DE RASTREAMENTO Em julho, O
GLOBO informou que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, sigla em inglês) espionou
cidadãos brasileiros na última década. Segundo documentos coletados pelo ex-técnico da
agência Edward Snowden, telefonemas e e-mails foram rastreados por meio de, pelo menos,
três programas. O Brasil aparece com destaque em mapas da NSA, como alvo importante no
tráfego de telefonia e dados, ao lado de países como China, Rússia, Irã e Paquistão. O secretário
de Estado, John Kerry, quando esteve no país no mês passado, em visita oficial, negou que os
EUA tenham acessado o conteúdo de dados de comunicações brasileira De acordo com Kerry,
seu país atua em ações preventivas para evitar ataques terroristas. Ele disse que seu governo
age como os dos demais países, recolhendo informações. Figueiredo disse que o Brasil discutirá
o tema com outras nações. Apesar de, segundo o “Fantástico’ o México também ter sido alvo
da espionagem, o chanceler brasileiro não conversou ainda com seu colega mexicano. — Vamos
conversar com parceiros tanto de países desenvolvidos quanto dos Brics (que inclui Rússia,
India, China e África do Sul) para avaliar como eles se protegem desse tipo de situação e quais
ações conjuntas podem ser tomadas para lidar com um tema grave como este. ( Colaborou
Catarina Alencastro).
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Chanceler troca de cargo com o embaixador na ONU, Luiz Alberto Figueiredo, após crise aberta
por operação que trouxe senador boliviano para o Brasil BRASÍLIA A operação que trouxe para
o Brasil o senador boliviano Roger Pinto Molina, sem que o governo da Bolívia concedesse
um salvo-conduto, custou o cargo do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. A
demissão do chanceler foi anunciada ontem à noite pelo Palácio do Planalto. No lugar dele,
assumirá o atual embaixador brasileiro na ONU, Luiz Alberto Figueiredo. Oficialmente, Patriota
pediu demissão num encontro com a presidente Dilma Rousseff ontem à noite. Mas foi a
presidente quem pediu para o diplomata deixar o posto depois de ficar irritada com o caso
Roger Molina. "A presidente Dilma Rousseff aceitou o pedido de demissão do ministro Antonio
de Aguiar Patriota, e indicou o representante do Brasil junto às Nações Unidas, em Nova
York, embaixador Luiz Alberto Figueiredo, para ser o novo ministro das Relações Exteriores.
A presidente agradeceu a dedicação e o empenho do ministro Patriota nos mais de dois anos
que permaneceu no cargo e anunciou a sua indicação para a Missão do Brasil na ONU", diz a
nota divulgada pelo Palácio do Planalto. A operação foi vista pelo Palácio do Planalto como um
verdadeiro desastre, contaram pessoas próximas a Dilma. Patriota já vinha enfrentando uma
série de desgastes com a presidente, e o episódio envolvendo o encarregado de negócios da
Embaixada do Brasil na Bolívia, Eduardo Saboia, foi considerado uma quebra de hierarquia,
de confiança e, principalmente, do princípio internacional do asilo. Um auxiliar da presidente
disse que isso era inaceitável e não havia como o comandante – no caso Patriota – deixar de
responder pela operação. – O Patriota é um excelente diplomata, mas não foi um bom ministro
– comentou um subordinado da presidente. irritação no planalto Dilma só foi informada de
que o senador boliviano, de oposição ao presidente Evo Morales, havia fugido para o Brasil
com o auxílio de um diplomata brasileiro quando ele já havia cruzado a fronteira. Ao saber
que a alegação para a retirada do político era que sua saúde corria graves riscos, a presidente
pediu para verificar que cuidados médicos haviam sido providenciados quando ele chegou no
Brasil. A resposta foi a de que ele não fora levado a nenhum hospital ou médico. A irritação
no Palácio ficou ainda maior com Pinto Molina dando entrevistas sem aparentar qualquer
fragilidade de saúde. A operação de retirada do senador boliviano, condenado por corrupção
em seu país, também foi considerada altamente temerária e arriscada. Como não aconteceu
nada mais grave no trajeto, afirmou um assessor da presidente, ficou parecendo que a fuga foi
muito bem calculada. Mas o risco foi imenso. – Imagina o que aconteceria se o comboio fosse
atacado no meio da estrada e o senador fugisse ou fosse sequestrado – acrescentou o assessor.
Outro ponto que deixou o Palácio do Planalto desconfiado foi o fato de a operação ter sido
realizada num período em que o posto de embaixador do Brasil na Bolívia está desocupado. O
ex-embaixador Marcel Biato está indo para Estocolmo, na Suécia, e seu substituto, Raymundo
Santos Rocha Magno, ainda aguarda formalidades burocráticas da Bolívia para assumir o posto.
A ordem da Presidência é para que todo o caso seja investigado. Um processo administrativo
disciplinar (PAD) será aberto para apurar as responsabilidades. Sobre a situação de Patriota,
auxiliares de Dilma afirmam que a atuação do agora ex-chanceler deixou a presidente
insatisfeita em algumas ocasiões. Mais recentemente, no episódio envolvendo a detenção
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por policiais britânicos do brasileiro David Miranda – companheiro do jornalista americano
Glenn Greenwald, autor de reportagens que divulgaram documentos secretos americanos –
por quase nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, a expectativa do Palácio era de
que o Ministério das Relações Exteriores reagisse de forma mais contundente. O tom utilizado
foi considerado diplomático, mas exageradamente ameno. O governo esperava uma posição
mais afirmativa para o Brasil por parte do Itamaraty. O caso envolvendo a Bolívia neste fim
de semana trouxe novos constrangimentos internos, comprometendo a escala de comando do
ministério e sua subordinação à Presidência, assim como a comunicação entre o Itamaraty e
o Palácio do Planalto; e externos, com a imagem do país afetada por cobranças públicas do
governo boliviano de descumprimento de acordos internacionais. comissão ouve pinto molina
Roger Pinto Molina está abrigado na casa do advogado Fernando Tibúrcio em Brasília. Ontem,
ele apareceu por três vezes na porta da residência e posou para fotógrafos. O boliviano recusou-
se a responder perguntas sobre seus planos; limitou-se a dizer "amo o Brasil" ao ser abordado
por jornalistas. Segundo Tibúrcio, não há risco de o senador ser deportado ou extraditado: – Só
(será extraditado) se acontecer uma coisa heterodoxa, que acho que não tem o menor sentido
– disse. – Ele é um asilado político. Foi concedido asilo a ele. A mesma situação que tem o (ex-
técnico da CIA Edward) Snowden na Rússia e o (fundador do WikiLeaks, Julian) Assange no
Equador, é a mesma dele. Pinto Molina pediu refúgio político no Brasil ao chegar em Corumbá
(MS), no domingo. Ele já tinha status de asilado político desde junho do ano passado, mas
decidiu melhorar as condições de permanência no país. O refugiado político tem direto a
trabalhar e a recorrer à rede pública de saúde. O asilo é concedido pela presidente da República
ou pelo Itamaraty, e depende de aprovação do Comitê Nacional para os Refugiados, vinculado
ao Ministério da Justiça. A Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado vai ouvir o senador
boliviano hoje. A ideia é convidar todas as partes envolvidas no caso, incluindo representantes
do governo da Bolívia. Integrantes do colegiado defenderam o ato do diplomata Eduardo
Saboia, que tomou a decisão de retirar o político da embaixada brasileira. Apenas a senadora
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)criticou a ação, alegando que houve quebra de hierarquia e que
Molina seria condenado se fosse "de esquerda". Os senadores que defenderam a atitude de
Saboia, que são maioria, alegam que ele tomou a decisão que o governo brasileiro deveria ter
tomado há tempos, já que Roger Molina estava há 455 dias em situação precária na embaixada.
Para esses parlamentares, o diplomata agiu com base em preceitos humanitários e, por isso,
não deve ser retaliado pelo Itamaraty, que anunciou abertura de inquérito para apurar as
circunstâncias da operação. Em nota, eles afirmaram que tomarão medidas administrativas e
disciplinares em relação ao caso. – A presidente da República devia saber da situação penosa
em que vivia o senador boliviano, porque também já foi perseguida, presa e até torturada. Não
podemos aceitar esses desatinos que vêm ocorrendo na América Latina – afirmou o senador
Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), vice-presidente da CRE. A senadora Ana Amélia (PP-RS), também
integrante da comissão, a atitude do diplomata se justificou por se tratar de "circunstâncias
da extrema gravidade do risco de vida do senador boliviano". Ela defendeu também o apoio
dado pelo presidente da CRE, Ricardo Ferraço (PMDB-ES). – Entre manchar com sangue de
um senador nas circunstâncias que estavam se apresentando e uma atitude humanitária,
que foi decisão do diplomata, a atitude sensata tomada por ele, o presidente da CRE tomou
a decisão correta – disse a senadora. O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP), sustenta
que Eduardo Saboia agiu de acordo com a Constituição, em defesa da dignidade da pessoa
humana. O senador afirmou que a CRE acompanhará de perto os desdobramentos do inquérito
no Itamaraty para evitar que o diplomata sofre retaliações. – Este diplomata brasileiro agiu de
acordo com a consciência universal, não com regulamentos. Uma pessoa perseguida por suas
ideias, atuação política, merece asilo – declarou o senador.
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CAIRO
Ao fim de um dia de horror que terminou com pelo menos 278 mortos, dois mil feridos, baixas
no governo, um decreto de estado de emergência pelo período de um mês e a imposição de
um toque de recolher nas ruas, foi uma declaração do ministro do Interior, Mohamed Ibrahim,
o alvo da maior preocupação dos egípcios. O primeiro-ministro interino, Hazem el-Beblawy,
defendeu a sangrenta ofensiva contra dois acampamentos de civis islamistas que defendiam a
restituição do presidente deposto Mohamed Mursi ao poder. Mas Ibrahim fez a única promessa
que arrepia igualmente a laicos e religiosos no Egito: a volta da estabilidade da ditadura de
Hosni Mubarak.
– Eu prometo que assim que as condições se estabilizarem, que as ruas se estabilizarem, assim
que possível, a segurança vai ser restaurada nesta nação como era antes de 25 de janeiro de
2011 – afirmou o ministro do Interior, referindo-se à data que deflagrou a revolução contra a
virulenta ditadura do homem que governou o Egito por 29 anos.
A declaração foi vista como sinal da confiança renovada num aparato de segurança cuja
brutalidade foi um dos maiores combustíveis da Primavera Árabe no Egito. E, depois de seis
semanas de impasse político no país, o ataque de ontem contra os acampamentos da Praça
Nahda e da mesquita Rabaa al-Adawiya – com blindados, tanques, disparos de rifles automáticos
e gás lacrimogêneo – parece ter enterrado de vez qualquer esperança de um acordo político de
reconciliação nacional, capaz de incorporar os islamistas partidários de Mursi ao novo governo
interino apontado pelas Forças Armadas.
Ao contrário. Trata-se do mais claro indício de que o velho Estado policial do Egito está
ressurgindo com força e desafiando manifestantes e políticos liberais no Gabinete – como o
Nobel da Paz e vice-presidente Mohammed ElBaradei, que renunciou ontem em repúdio à
violência. Além de provocar uma grave crise de segurança e confiança, o ataque despertou
condenações internacionais e pôs o Egito mais próximo de uma guerra civil alimentada por
islamistas furiosos com o sequestro do poder que conquistaram nas urnas. Levou de volta à
quase estaca zero a revolução que se desenrolava desde 2011. E boa parte da culpa, alegam
alguns analistas, é da liderança laica do país.
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– Esta é a consequência de apoiar um golpe militar. Eles foram ingênuos. Eles têm sido ativos na
adoração ao Exército, então por que mudar de ideia e se mostrar surpresos quando o general
Abdel Fattah al-Sissi (o chefe das Forças Armadas) conduz a situação a seu curso militar natural?
– questionou o analista político Shadi Hamid, do Centro Doha da Brookings Institution. – Agora
não se pode mais falar de transição. O Egito assiste a uma nova era da revolução.
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Rolihlahla mandela nasceu em plena Primeira Guerra Mundial, recebeu o apelido inglês de
Nelson de sua primeira professora primária segundo o costume do tempo, mas ficou mais
conhecido de seus companheiros de luta como Madiba (nome de seu clã da etnia Xhosa) e do
povo sul-africano como Tata, “pai”. Pensou como marxista, combateu como revolucionário e
governou como reformista. Pode ser reivindicado como exemplo tanto pela esquerda radical
quanto pela pragmática, embora a lição a ser aprendida seja, mais razoavelmente, que qualquer
grau de sucesso depende da disposição de adaptar os meios e fins imediatos ao momento
histórico sem abandonar os princípios e os fins últimos.
Inaceitável é tentar expurgar da sua história os confrontos com a brutalidade do apartheid que
a marcaram, como se ele tivesse caído do céu em 1990 para trazer a paz e a fraternidade e
desde então seu país tivesse vivido feliz para sempre. Falsificações como a da revista Veja, uma
editora com 30% de capital do grupo sul-africano Naspers, que defendeu o apartheid até o
último suspiro, chamá-lo de “Guerreiro da Paz” na capa, enquanto seus blogueiros insistiam em
classificá-lo de terrorista, são parte da tentativa de cooptar uma vida revolucionária para fins
conservadores. Que atingiu o cúmulo do ridículo com argumentos em blogs, jornais ou na tevê
que Mandela seria contra as cotas raciais “petistas”: “Aos negros seria conveniente mirar-se
nos exemplos de igualdade e jamais lutar por cotas”, atreveu-se a escrever um néscio no Diário
da Manhã, de Goiânia, num artigo de opinião intitulado “O Legado de Mandela”.
Nem só colunistas obscuros de gazetas provincianas demonstraram ignorância abissal. Mais
impressionante, por partir de um jornal de grande circulação, foi o editorial do El País de 11 de
novembro, que criticou a presença no funeral de Raúl Castro e Robert Mugabe, “ditadores com
nada que ver com Mandela” (sic). Nada a ver teve Bush, que manteve Madiba e seu partido na
lista de terroristas obrigados a obter uma autorização especial para entrar nos EUA até julho
de 2008. Ou o presidente português Cavaco Silva, que em 1987, quando primeiro-ministro,
fez Portugal votar na ONU contra uma resolução de apoio à luta contra o apartheid. Ou David
Cameron: ainda em 1989 tentava fazer lobby para reverter as sanções contra a segregação sul-
africana.
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Madiba não foi um Cristo ao estilo masoquista e kitsch dos católicos tradicionalistas (sequer o
Jesus real o foi, mas essa é outra história). Embora tenha conduzido com sucesso uma transição
pacífica, ela só foi possível porque Mandela antes liderou e planejou a luta, inclusive armada,
contra o apartheid, com apoio quase solitário da União Soviética, China e Cuba, e porque,
enquanto estava na prisão, outros continuaram a lutar nas ruas em seu nome até obrigar o
regime branco a aceitá-lo como interlocutor, negociar e, ao final do processo, ceder-lhe o poder.
Quem quiser pode questionar suas escolhas éticas e políticas, mas sem elas Mandela não teria
sido quem foi, nem merecido as homenagens do mundo.
Uma vez no governo, não ignorou a realidade de colonização e segregação. Não fingiu que
o problema estava resolvido e brancos e negros haviam se tornado iguais por um passe de
mágica. Iniciou a construção dessa igualdade na prática, inclusive com cotas raciais. Empresas
grandes ou pequenas de todos os setores cumprem metas de participação de não brancos
(mestiços, indianos e orientais incluídos) na força de trabalho, gerência e propriedade do
capital. Universidades e faculdades também praticam a “discriminação positiva”.
Quando Mandela iniciou sua militância política, em 1943, defendia a independência do
movimento negro em relação aos indianos, mestiços e comunistas (inclusive brancos),
contrariando nisso a maioria do Congresso Nacional Africano, socialista e inclusivo desde
1912. Mudou de posição no início dos anos 1950, quando, convencido por amigos comunistas
e pela cooperação dos soviéticos com os movimentos de independência africanos, aderiu ao
marxismo e, por isso, a uma concepção de luta política capaz de ir além da raça e unir todos os
oprimidos. Exatamente quando o apartheid se consolidava (a partir da eleição de 1948, da qual
os negros foram excluídos), o comunismo era posto fora de lei (pelo Ato de Supressão de 1950)
e se iniciava a segregação física e geográfica das raças.
Mandela foi preso pela primeira vez em 1952, em nome do Ato de Supressão, depois de incitar a
desobedecer às leis do apartheid (principalmente a que obrigava os negros a portar passaportes
fora das reservas a eles designadas, os bantustões) em um ato público da “Campanha do
Desafio” pela desobediência civil, tática que para o Mahatma Gandhi e para parte do CNA era
a “alternativa ética”, mas para Mandela era simplesmente a única opção realista do momento.
Em 1955, depois de a resistência passiva e protestos não conseguirem evitar o despejo de
todo o bairro negro de Sophiatown, onde morava, passou a defender a luta armada, enquanto
continuava a organização de greves e protestos, passava por duas prisões e tinha, na prática,
uma dupla militância, atuando também no Partido Comunista.
Em 1961, inspirado por Fidel Castro e Che Guevara, fundou e liderou a organização Umkhonto
we Sizwe (“Lança da Nação”, mais conhecida como MK), formada na maior parte por
comunistas brancos, cujo objetivo era promover sabotagem e ataques noturnos, sem vítimas,
a usinas elétricas, escritórios do governo e ferrovias. Em 16 de dezembro, quando os brancos
comemoravam o aniversário de sua vitória sobre os zulus de 1838, lançou 57 ataques à bomba
simultâneos. Até meados de 1963, cerca de 200 instalações foram bombardeadas e a única
vítima fatal foi um militante morto pela própria bomba.
Mandela voltou a ser preso em agosto de 1962 com ajuda da CIA e inicialmente condenado
a cinco anos por viajar ao exterior sem permissão e incitar greves. Em 1964 foi novamente
julgado por seu envolvimento com o MK e seu “discurso do julgamento de Rivonia”, proferido
às vésperas de ser condenado à prisão perpétua pelo Supremo Tribunal sul-africano, inspiraria
a luta contra o apartheid por décadas, foi em parte inspirado no igualmente histórico discurso
de Fidel Castro ao ser condenado pelo fracassado ataque ao quartel Moncada, “A História me
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Absolverá”. Ao lado de frases como “sentimos que o país estava à deriva em direção a uma
guerra civil entre negros e brancos e vimos a situação com alarme” e “lutei contra a dominação
branca e a dominação negra”, há também “a falta de dignidade humana vivida pelos africanos
é o resultado direto da política de supremacia branca” e “sentimos que, sem violência, não
haveria caminho aberto para o povo africano ter sucesso em sua luta contra a supremacia
branca”.
Na prisão de Robben Island, mantido em condições terríveis que lhe causaram danos
permanentes à visão e uma tuberculose cujas sequelas o debilitaram e acabaram por causar sua
morte, Mandela liderou as reivindicações de seus companheiros e forjou laços com prisioneiros
de outras organizações, entre eles o Movimento de Consciência Negra, responsável pelo
levante de Soweto de 1976, que deixou cerca de 700 mortos. Seu líder, Steve Biko (criador do
slogan “black is beautiful”), foi capturado e morreu por tortura em 1977.
Embora menos violento e menos focado na “identidade negra”, o CNA tampouco abandonou
a luta, inclusive armada. O MK continuou com seus ataques armados ao regime e se aliou
formalmente à guerrilha marxista pró-soviética de Zimbábue (então Rodésia) liderada por
Joshua Nkomo, depois unida à organização rival, maoísta, do “nada que ver” Robert Mugabe.
De 1976 a 1986, seus ataques causaram cerca de 130 mortes.
A partir dos anos 1970, as condições da prisão melhoraram e Mandela pôde se corresponder
com líderes negros moderados, como Mangosuthu Buthelezi (líder do partido Inkatha, aceito
pelos brancos como líder do bantustão zulu) e o bispo anglicano Desmond Tutu. O movimento
internacional de boicote ao apartheid, proposto em 1959, começava a engatinhar, com a
exclusão do país de competições olímpicas e eventos acadêmicos. Do ponto de vista econômico,
mal arranhava, porém, os interesses da minoria branca.
Mandela era celebrado como líder pelos movimentos negros da África do Sul, pelas novas
nações africanas e pelos países socialistas, mas para Ronald Reagan e Margaret Thatcher ele e
sua organização eram meros terroristas comunistas e o apartheid era uma realidade irreversível.
Israel colaborou com o regime racista nos campos comercial e militar e lhe forneceu tecnologia
nuclear. Há indícios de que, em 1979, os dois países testaram conjuntamente uma bomba
atômica na sul-africana ilha Prince Edward.
Quando estudantes britânicos de esquerda começaram a participar, em 1980, da campanha por
sua libertação, colegas conservadores replicaram com uma campanha por seu enforcamento.
Mas em 1985, ante a ameaça das ex-colônias africanas e asiáticas de abandonar a Comunidade
Britânica, a própria Thatcher foi forçada a aderir ao boicote ao apartheid. No ano seguinte,
o Congresso dos EUA, pressionado pelos eleitores negros, aprovou a lei de embargo que
tramitava desde 1972 e derrubou o veto de Reagan. A perda de mercados e de acesso ao
crédito internacional e o encorajamento da resistência negra pelo apoio internacional tornaram
o país ingovernável, forçaram a elite branca a negociar e Mandela, o “terrorista”, era o único
interlocutor suficientemente respeitado pela maioria das facções do movimento negro para
negociar uma transição pacífica em seu nome.
Um dos seus primeiros atos ao sair da prisão foi ir a Cuba agradecer o apoio do “nada que ver”
Fidel Castro: “Quem treinou o nosso povo, quem nos forneceu recursos, que ajudaram tanto
nossos soldados, nossos doutores?” Palavras que reiterou em sua cerimônia de posse em 1994,
ao receber Castro: “O que Fidel tem feito por nós é difícil descrever com palavras. Primeiro,
na luta contra o apartheid, ele não hesitou em nos dar todo tipo de ajuda. E agora que somos
livres, temos muitos médicos cubanos trabalhando aqui”.
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Mandela esteve à altura da oportunidade histórica. Desmantelou o apartheid e o arsenal
atômico legado pelos israelenses, criou uma Comissão da Verdade que serviu de modelo a
outras nações, inclusive o Brasil, evitou o revanchismo e consolidou a África do Sul como um
país democrático e multirracial, o que dez anos antes parecia impossível. A extrema-esquerda o
considerou um traidor por não derrubar o capitalismo ou promover uma reforma agrária radical
(80% das terras continuam nas mãos de 50 mil fazendeiros brancos) e os resultados da ação
afirmativa iniciada em seu governo são ambíguos. De um lado, integrou uma substancial classe
média não branca em todos os níveis do Estado e da empresa privada. Por outro, não pôde tirar
da pobreza a grande maioria dos negros, a renda continua muito concentrada e os brancos se
queixam de seus jovens serem forçados a emigrar por falta de empregos “adequados”. Como
nas ocasiões em que se decidiu pela resistência passiva, pela luta armada, ou pela articulação
política a partir da prisão, Mandela optou pelo que era factível naquele momento – o auge
da ideologia neoliberal em todo o mundo – para caminhar rumo a seu ideal igualitário e
multirracial.
É cômodo perorar de fora que “os fins não justificam os meios”, mas não se pode aprovar o
resultado e apagar a história que o tornou possível, com todos os seus atos de violência e
alianças desagradáveis aos bem-pensantes. Sem isso, ainda se viveria a violência maior do
apartheid. Não é razoável negar que a África do Sul de hoje é mais digna e justa que aquela
dos anos anteriores à transição e que as homenagens prestadas pelo povo sul-africano e pelos
líderes mundiais em 2013 foram muito merecidas. Barack Obama, é preciso reconhecer, fez
um discurso inspirado (“Não poderia imaginar a minha vida sem o exemplo de Mandela... ele
libertou prisioneiros e carcereiros”) em comparação com as falas mornas e burocráticas da
brasileira Dilma Rousseff, do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e mesmo do cubano Raúl
Castro, para não falar do vice chinês e dos presidentes da Namíbia e Índia.
Mas não escapou da hipocrisia: “Há muitos líderes que se apegam à solidariedade da luta de
Madiba pela liberdade, mas não toleram a dissidência”, advertiu o responsável pela espionagem
da NSA, pela perseguição a Edward Snowden e pela execução arbitrária de acusados de
terrorismo. E o episódio do selfie (autorretrato) com David Cameron e a primeira-ministra
dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt, embora não tenha o significado que a imaginação
popular lhe atribuiu, não deixou de ser desrespeitoso. Não pela descontração – nesse
momento, os próprios sul-africanos homenageavam Madiba com cantos e danças alegres –,
mas pela obsessão egoísta dos líderes ocidentais com a própria imagem na ocasião em que se
homenageava um homem muito maior que todos eles juntos.
O Globo – 20/01/2014
Os argentinos estão vivendo um mês de janeiro atípico. Longe da relativa tranquilidade dos
últimos verões, este ano o país está em estado de alerta por sinais cada vez mais preocupantes
de sua economia. Na semana passada, o dólar paralelo, que o governo Cristina Kirchner insiste
em ignorar, subiu 1,15 peso e fechou em 11,95, a cotação mais alta desde 1991. A nova equipe
econômica, chefiada pelo jovem ministro Axel Kicillof minimiza um problema que economistas
locais consideram grave e diretamente relacionado ao principal drama que assola o país: uma
inflação que no ano passado, de acordo com as principais empresas de consultoria privadas,
alcançou 28,3% e este ano poderia chegar a 40%. Pelo índice oficial, a alta foi de meros 10,9%.
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Sem saber como conter a demanda de dólares, o Banco Central da República Argentina (BCRA)
continua perdendo reservas – na sexta-feira passada, o montante caiu para US$ 29,7 bilhões, o
mais baixo desde 2006 -, e o clima de intranquilidade é cada vez maior. De acordo com pesquisa
divulgada neste domingo pelo jornal “Clarín”, 75% dos argentinos acreditam que a economia
vai mal.
– É preciso mudança. Este modelo não está funcionando e está empobrecendo a Argentina –
disse o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, que comandou a pasta nos primeiros anos
de gestão de Nestor Kirchner (2003-2007) e hoje é um importante membro do peronismo
dissidente.
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Brasil quer reforçar laços comerciais com países ricos
O Globo – 10/01/2014
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Ativistas sírios afirmaram nesta segunda-feira que os combates internos entre rebeldes e
milícias ligadas à al-Qaeda se espalharam para uma cidade no Leste do país, após varrer áreas
controladas pela oposição no Norte. Ambos os grupos lutam contra o regime do ditador Bashar
al-Assad.
De acordo com informações do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, os rebeldes
entraram em confronto nesta segunda-feira contra milicianos do Estado Islâmico no Iraque e do
Levante (Isis, na sigla em inglês), ligado à al-Qaeda, no município de Raqqa, um dos redutos do
grupo terrorista.
A luta interna começou nas províncias do Norte de Aleppo e Idlib na sexta-feira e vem se
espalhando desde então. O impulso para o Leste sugere que os rebeldes estão se preparando
para invadir todas as áreas controladas pelo Isis.
Para conter o avanço do grupo extremista, rebeldes opositores a Assad formaram uma aliança,
chamada Exército dos Combatentes para a Jihad.
Nas mais recentes demonstrações de expansão do extremismo islâmico liderado pela al-Qaeda,
o Estado Islâmico do Iraque e do Levante assumiu o controle da cidade de Falluja, no Iraque, e
cometeu um atentado que matou cinco pessoas – entre elas uma brasileira – em Beirute, no
Líbano, na semana passada.
O ex-agente americano Edward Snowden divulgou uma "carta aberta ao povo do Brasil",
agradecendo pela pressão contra a NSA e se dispondo a ajudar nas investigações sobre o roubo
de informações no País. A interpretação de que a mensagem representasse um pedido de asilo
desencadeou intenso debate em Brasília. Mas o jornalista Glenn Greenwald disse que Snowden
não solicitou nenhum asilo.
O ex-espião americano Ed-ward Snowden divulgou ontem uma "carta aberta ao povo do Brasil",
na qual agradece ao País pela pressão internacional contra a Agência de Segurança Nacional
(NSA) e se dispõe a ajudar nas investigações sobre o roubo de informações do governo e da
Pe-trobras. A interpretação de que a mensagem tivesse um pedido de asilo provocou intenso
debate em Brasília.
No entanto, segundo o jornalista Glenn Greenwald, o ex-agente americano não solicitou nenhum
tipo de abrigo ao Brasil com a carta. "A informação (do pedido de asilo) é totalmente errada",
afirmou ao Estado o repórter que revelou os segredos da NSA, com base nos documentos de
Snowden, e mantém estreitos contatos com sua fonte.
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Em novembro, o ex-espião enviou uma carta semelhante à Alemanha, na qual também se
dispunha a colaborar com investigações sobre as ações da NSA. A carta ao Brasil foi antecipada
pelo j ornai Folha de S. Paulo, indicando que Snowden pedia um abrigo ao governo.
Greenwaldt também negou que o fugitivo americano tenha proposto algum tipo de "troca" de
informações sobre a NSA pelo asilo. Snowden chegou a enviar, em junho, uma carta a 21 países,
incluindo o Brasil, na qual pedia proteção política. O País manteve-se em silêncio. O chanceler
brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, se reuniria ontem à noite com a presidente Dilma Rousseff
para definir a posição brasileira.
"Expressei minha disposição de ajudar como puder (a investigação brasileira sobre a NSA),
mas infelizmente o governo dos EUA tem trabalhado duro para que eu não possa fazer isso",
escreveu Snowden, dizendo que a situação não mudará até que "algum país" lhe garanta asilo
político permanente.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que Snowden prestou um "grande serviço
ao mundo", mas evitou se pronunciar sobre a concessão de um asilo. Apresidente da CPI
que investiga a espionagem americana no Brasil, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), disse que
solicitará ao ministro da Justiça, José Eduardo Gardozo, que conceda o abrigo a Snowden,
enquanto congressistas da oposição disseram temer que a decisão prejudique as relações do
Brasil com os EUA.
Segundo Greenwald, o ex-espião americano quis dar uma resposta aos pedidos de autoridades
brasileiras para que ele colabore com as investigações sobre a ação da NSA. Snowden também
quis agradecer a pressão do governo Dilma Rousseff na ONU contra a espionagem.
"Nos últimos dois ou três meses, senadores e autoridades do Brasil tentaram falar com
Snowden, pedindo ajuda na investigação sobre espionagem. Ele quis escrever uma carta
explicando para os brasileiros que ele gostaria de ajudar e participar nessa investigação, mas,
infelizmente, sua situação não permite", disse Greenwald.
O Globo – 18/12/2013
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O episódio da vigilância em massa do governo americano voltou à tona ontem após a publicação
de uma carta de Snowden, no jornal "Folha de S.Paiúo" na qual o ex-técnico da CIA afirma
que só poderá colaborar com o Brasil ou qualquer outro país quando receber asilo político
permanente. Ele vive na Rússia, onde obteve visto temporário.
Em Brasília, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, negou que haja interesse do governo
brasileiro em oferecer asilo em troca de ajuda de Snowden, já que o Brasil já tem informações
suficientes para considerar a espionagem "intolerável" O ministro também fez uma defesa do
americano:
— Acho que ele prestou um grande serviço para o mundo, ao revelar a espionagem.
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do
Senado, defendeu que o governo brasileiro conceda asilo político a Edward Snowden, caso ele
peça oficialmente.
Autor de reportagens sobre a vigilância da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA,
na sigla em inglês), o jornalista Glenn Greenwald descartou que Snowden estaria disposto a
colaborar nas investigações em troca de asilo no Brasil.
— Snowden é procurado semanalmente pelas autoridades brasileiras, que pedem a cooperação
dele nas investigações sobre a espionagem no país, e ele quis apenas explicar por que não pode
ajudar na situação em que está. Não está pedindo novo asilo — disse Greenwald ao GLOBO.
Na carta publicada pela "Folha de S. Paulo" Snowden diz já ter expressado sua "disposição dé
auxiliar quando isso for apropriado e legal" mas afirma que, infelizmente, "o governo dos EUA
vem trabalhando arduamente" para limitar sua capacidade de fazer isso, chegando ao ponto de
obrigar o avião presidencial de Evo Morales a pousar para impedi-lo de viajar à América Latina.
"Até que um país conceda asilo político permanente, o governo dos EUA vai continuar
interferindo na minha capacidade de falar" escreveu Snowden no texto.
A carta foi divulgada um dia depois de um juiz americano determinar que a coleta de dados
pelos EUA era ilegal. Greenwald, que diz ter conversado com Snowden na segunda-feira,
afirmou que ele se mostrou "muito feliz" com a decisão. Ontem, executivos de empresas de
tecnologia como Apple, Google, Yahoo! e Microsoft, pediram ao presidente americano, Barack
Obama, mais ações para conter a espionagem eletrônica do governo dos EUA.
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O acordo nuclear com o Irã
Existem poucos temas que recentemente tenham atraído tanta atenção quanto o acordo
nuclear dos países da União Europeia, Estados Unidos e Rússia com o Irã, assinado em Genebra
após anos de árduas negociações.
A importância desse acordo é clara:
•• Por um lado, ele evita – ou pelo menos adia – uma intervenção militar dós Estados Unidos
para impedir que o Irã desenvolva armas nucleares e abre caminho para a normalização
das relações entre os dois países, que foi rompida há mais de 30 anos.
•• Por outro, dá ao presidente Barack Obama a oportunidade de recuperar o seu prestígio
interno, seriamente abalado pela oposição republicana que domina a Câmara dos
Deputados, a qual tem bloqueado sistematicamente a ação do Poder Executivo nos Estados
Unidos.
Mais do que isso, porém, o acordo com o Irã vai fixar os procedimentos que serão usados daqui
para a frente pelas grandes potências a fim de evitar a proliferação nuclear no restante do
mundo, além dos países que já possuem armas desse tipo – Estados Unidos, Rússia, França,
Inglaterra, China, índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel.
Os resultados imediatos do acordo são os seguintes: o Irã vai "congelar" por seis meses
seu programa de enriquecimento de urânio, que o levaria bem próximo da capacidade de
produzir armas nucleares, em troca de um abrandamento das sanções econômicas vigentes.
Especificamente, será abandonado o "enriquecimento" de urânio ao nível de 20% – considerado
"perigoso", porque levaria facilmente a armas nucleares. Será mantido o enriquecimento ao
nível de 5%, que produz urânio para uso em reatores nucleares, como as instalações brasileiras
em Resende (RJ).
Com isso o Irã – que sempre defendeu seu direito "inalienável" de enriquecer urânio como
símbolo de soberania e independência nacional – salvou a sua face, mantendo a súa capacidade
de "enriquecer". Em compensação, ficou demonstrado que sanções econômicas funcionam
para impedir a proliferação nuclear.
O significado maior do acordo é que o programa nuclear do Irã passa a ser monitorado pelas
grandes potências, por intermédio da Agência Internacional de Energia Atômica, o que não
ocorreu até agora de maneira efetiva. As inspeções que a Agência Internacional de Energia
Atômica fazia eram muito limitadas e os iranianos têm sido acusados de comportamento
evasivo, tendo mesmo instalado um grande complexo de enriquecimento, além dos
reconhecidos oficialmente.
Em outras palavras, o programa nuclear iraniano passou a ser muito parecido com o do Brasil,
que também domina a tecnologia de enriquecimento de urânio, mas não é objeto de suspeitas
internacionais nem de sanções econômicas.
A razão pela qual isso ocorreu é que em 1992 o presidente Fernando Collor de Mello e o
presidente Carlos Menem, da Argentina, decidiram que não era de interesse comum dos
dois países (Brasil e Argentina) alimentar uma corrida armamentista no Cone Sul da América
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Latina, estimulada por grupos militares e que incluía o desenvolvimento | de armas nucleares e
foguetes de longo alcance para lançá-las.
A decisão foi tomada não só para economizar vultosos recursos, mas também em razão
do reconhecimento, pelos dois presidentes-democraticamente eleitos após anos de
governos ditatoriais -, de que a prioridade de seus governos era resolver os problemas de
subdesenvolvimento dos seus países, e não o envolvimento em programas controvertidos
como a produção de armas nucleares.
Essas ideias ressurgiram em 2002, mas o então recém-eleito presidente Lula da Silva, como
anteriormente o presidente Collor, teve o bom senso de perceber que não seria a posse de
armas nucleares que daria prestígio ao País, e sim a solução dos seus problemas sociais por s !
meio de programas menos onerosos, como o Bolsa Família, que Ruth Cardoso havia iniciado no
governo de Fernando Henrique.
Por motivos que não são fáceis de entender, o governo iraniano, há mais de 20 anos, decidiu
não seguir o mesmo caminho e se envolveu em programas que poderiam levar à posse de armas
nucleares. O argumento usado pelo Irã era o de que o programa nuclear tinha a finalidade de
produzir energia elétrica, o qual não tem muita credibilidade. Do ponto de vista energético,
essa justificativa não fazia muito sentido porquê o Irã tem amplos recursos de petróleo e gás
natural, e energia nuclear para geração de eletricidade não era indispensável.
A decisão do Irã baseou-se provavelmente na percepção de que a posse de armas nucleares
seria uma forma de assegurar sua soberania nacional, ameaçada pela posição hostil dos Estados
Unidos. Há muitas outras
formas de defender a soberania nacional, mas no Irã enriquecimento de urânio tornou-se uma
obsessão.
Aparentemente, o governo iraniano acreditava que essa estratégia uniria o país em tomo de
um objetivo comum que lhe permitiria enfrentar melhor eventuais ameaças externas. Ideias
desse tipo circularam também no Brasil em 1985, na fase final do governo militar. Certos
grupos acreditavam que uma explosão nuclear uniria a população em torno do governo militar
e garantiria sua sobrevi-da. Foi esse tipo de ideia que levou a Argentina à desastrada Guerra das
Malvinas e, obviamente, não teve sucesso.
A aplicação de sanções econômicas internacionais demonstrou que o custo da estratégia
adotada pelo Irã era alto demais não só em termos econômicos, mas também porque afetou o
fornecimento de peças de reposição de inúmeros equipamentos, em particular para a aviação
comercial.
O acordo nuclear firmado agora pelo Irã, se implementado, faz sentido e, ao que tudo indica, o
bom senso imperou, como ocorreu com o Brasil e a Argentina no passado.
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ONU ataca lei da maconha do Uruguai
O Globo – 12/12/2013
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O Mercosul, em seu atual modelo, é útil para o país, mas não nos basta. É necessário estarmos
atentos à reorganização das forças produtivas que está acontecendo pelo mundo. Sem novos
acordos comerciais, o Brasil corre o risco de ficar de fora das cadeias internacionais. Agora,
além de resolver os problemas que já existem, está mais que na hora de pensar na integração
da indústria nacional às cadeias produtivas globais.
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Queda do governo
No dia seguinte à assinatura do acordo, o presidente deixou Kiev e foi para paradeiro
desconhecido. Com sua ausência da capital, sua casa, escritório e outros prédios do governo
foram tomados pela oposição.
De seu paradeiro desconhecido, Yanukovich disse ter sido vítima de um "golpe de Estado".
Após a mudança na câmara, os deputados votaram pela destituição de Yanukovich por
abandono de seu cargo e marcaram eleições antecipadas para 25 de maio. O presidente recém-
eleito do Parlamento, o opositor Oleksander Turchynov, assumiu o governo temporariamente,
afirmando que o país estava pronto para conversar com a liderança da Rússia para melhorar as
relações bilaterais, mas que a integração europeia era prioridade.
Yanukovich teve sua prisão decretada pela morte de civis. Após dias desaparecido, ele apareceu
na Rússia, acusou os mediadores ocidentais de traição, disse não reconhecer a legitimidade do
novo governo interino e prometeu continuar lutando pelo país.
As autoridades ucranianas pediram sua extradição. Ao mesmo tempo, a União Europeia
congelou seus ativos e de outros 17 aliados por desvio de fundos públicos.
Alguns dias depois, a imprensa local informou que ele foi internado em estado grave,
possivelmente por um infarto. Em 11 de março, entretanto, ele apareceu publicamente,
reafirmou que ainda é o presidente legítimo e líder oficial do país, e afirmou ter certeza que as
Forças Armadas locais irão se recusar a obedecer “ordens criminosas”.
Em 27 de fevereiro, o Parlamento aprovou um governo de coalizão que vai governar até as
eleições de maio, com o pró-europeu Arseny Yatseniuk como premiê interino.
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Líderes da oposição
Um dos principais nomes da oposição é Vitali Klitschko, campeão de boxe que se transformou no
líder de um movimento chamado Udar (soco). Ele planeja concorrer à presidência da Ucrânia,
com o lema "um país moderno com padrões europeus". Após a deposição de Yanukovich,
Klitschko assumiu sua candidatura para as eleições de maio de 2014.
Arseniy Yatsenyuk, líder do segundo maior partido ucraniano, chamado Batkivshchyna (Pátria),
apontado premiê interino, também é um grande opositor. Ele é aliado de Yulia Tymoshenko,
ex-primeira-ministra-presa acusada de abuso de poder e principal rival política do presidente
Yanukovich.
Tymoshenko estava presa desde 2011, e acabou solta no mesmo dia da deposição do
presidente. Em discurso aos manifestantes, ela pediu que os protestos continuassem e disse
que será candidata nas eleições de 25 de maio.
A libertação de Tymoshenko era pré-condição para a assinatura do acordo da União Europeia
com a Ucrânia. Principal adversária do atual presidente na eleição de 2010, foi presa em 2011,
condenada a sete anos por abuso de poder em um acordo sobre gás com a Rússia, em 2009.
Também compõem a oposição grupos ultranacionalistas, como o Svoboda (liberdade), liderado
por Oleh Tyahnybok, o Bratstvo (Irmandade) e o Setor Direito – este último liderado, Dmitri
Yarosh, que também informou que será candidato nas eleições.
Interesse russo
Para analistas, a decisão do governo de suspender a negociações pela entrada na UE se deve
diretamente à forte pressão da Rússia. A Rússia adotou medidas como inspeções demoradas
nas fronteiras e o banimento de doces ucranianos, além de ter ameaçado com várias outras
medidas de impacto econômico.
A Ucrânia está em uma longa disputa com Moscou sobre o custo do gás russo. Em meio à crise,
a companhia russa Gazprom decidiu acabar a partir de abril com a redução do preço do gás
vendido à Ucrânia, o que prejudicará a economia do país. A empresa também ameaçou cortar
o fornecimento de gás.
Além disso, no leste do país – onde ainda se fala russo – muitas empresas dependem das
vendas para a Rússia. Yanukovich ainda tem uma grande base de apoio no leste da Ucrânia,
onde ocorreram manifestações promovidas por seus aliados.
Após a deposição do presidente, a Rússia disse ter "graves dúvidas" sobre a legitimidade do
novo governo na Ucrânia, e afirmou que o acordo de paz apoiado pelo Ocidente no país foi
usado como fachada para um golpe.
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Crimeia
A destituição de Yanukovich aumentou a tensão na Crimeia, uma região autônoma, onde as
manifestações pró-Rússia se intensificaram, com a invasão de prédios do governo e dois
aeroportos.
Com o aumento das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou, a pedido do presidente
Vladimir Putin, o envio de tropas à Crimeia para “normalizar” a situação.
A região aprovou um referendo para debater sua autonomia e elegeu um premiê pró-Rússia,
Sergei Aksyonov, não reconhecido pelo governo central ucraniano.
Dois dias depois, em 6 de março, o Parlamento da Crimeia aprovou sua adesão à Rússia e
marcou um referendo para definir o status da região para 16 de março. Posteriormente, o
Parlamento se declarou independente da Ucrânia – sendo apoiado por russos e criticado por
ucranianos.
O referendo foi realizado em 16 de março, e aprovou a adesão à Rússia por imensa maioria. O
resultado não foi reconhecido pelo Ocidente.
Mesmo assim, Putin e o auto-proclamado governo da Crimeia assinaram um tratado de adesão,
e a incorporação foi ratificada. Em seguida, tropas que seriam russas passaram a cercar e invadir
postos militares na Ucrânia.
A Ucrânia convocou todas suas reservas militares para reagir a um possível ataque russo e
afirmou que se trata de uma "declaração de guerra".
Posição internacional
O movimento russo levou o presidente dos EUA, Barack Obama, a pedir a Putin o recuo das
tropas na Crimeia. Para Obama, Putin violou a lei internacional com sua intervenção.
Os EUA também anunciaram sanções contra indivíduos envolvidos no processo, e suspenderam
as transações comerciais com o país, além de um acordo de cooperação militar. A Rússia
respondeu afirmando que o estabelecimento de sanções também afetaria os EUA, e criou
impedimentos para cidadãos americanos.
A União Europeia também impôs sanções contra russos.
Em meio à crise, o Ocidente pressionou a Rússia por uma saída diplomática. A escalada de
tensão também levou a uma ruptura entre as grandes potências, com o G7 condenando a ação
e cancelando uma reunião com a Rússia.
Já a Otan advertiu a Rússia contra as "graves consequências" de uma intervenção na Ucrânia,
que seria, segundo ele, um grave "erro histórico".
Leste da Ucrânia
Após a adesão da Crimeia ao governo de Moscou, outras regiões do leste da Ucrânia, de maioria
russa, também começaram a sofrer com tensões separatistas. Militantes pró-Rússia tomaram
prédios públicos na cidade de Donetsk e a proclamaram como "república soberana", marcando
um referendo sobre a soberania nacional para 11 de maio.
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A medida não foi reconhecida por Kiev nem pelo Ocidente – e o fato de Donetsk ser uma cidade,
e não uma região autônoma, deve enfraquecer a força para a realização de um referendo.
Outras cidades também tiveram atuação de milícias russas, como Lugansk e Kharkiv, onde
militantes invadiram prédios governamentais – no que Kiev afirma ser um plano liderado pela
Rússia para desmembrar o país.
Com a nova tensão na região, a Rússia pediu que a Ucrânia desistisse de todo tipo de
preparativos militares para deter os protestos pró-russos nas regiões do leste ucraniano, já que
os mesmos poderiam suscitar uma guerra civil.
Ecologia, Ética
Responsabilidade Socioambiental
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de forma controlada, em pequena quantidade. É esse controle que ainda é incipiente no país,
conforme demonstram os números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
– Precisamos de fiscalização mais intensa, implementar planos de manejo e promover a
regularização fundiária – afirma Mello.
Nos últimos três anos, o Instituto Chico Mendes elaborou 60 planos de manejo, e outros cem
estão sendo construídos, afirma ele.
De acordo com Mello, justamente por serem criadas por decreto, quando o instituto chega
ao local das Unidades de Conservação constata que já há ali uma ocupação, seja por grileiros,
grandes fazendeiros ou simplesmente comunidades que moram no local há anos.
A saída, acrescenta, é promover a regularização fundiária dessas áreas, o que nem sempre
ocorre. Um dos exemplos de área de conflito é a Reserva Biológica do Gurupi, no Maranhão,
onde uma força-tarefa de 170 pessoas, incluindo Ibama e Força Nacional, está agindo para
impedir o trabalho de madeireiras ilegais.
– A reserva se sobrepõe à área indígena, e ainda há de posseiros a grandes fazendeiros. Em
áreas como essa, o nível de implementação é muito difícil – diz Mello.
Ele admite problemas também na Reserva Extrativista Chico Mendes. Segundo Mello, parte
da reserva foi ocupada por criadores de gado. Por isso, foi criado um grupo de trabalho,
envolvendo os seringueiros, para discutir a nova ocupação.
– Não vai ser num estalar de dedos que vamos sair de um passivo ambiental elevado. Mas
garanto que, para preservar, mesmo com todos os problemas, é melhor criar uma Unidade de
Conservação do que não criar. Sem elas, a situação seria muito pior – afirma.
Meio Ambiente
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O documento adquiriu maior importância nos últimos anos por conta das questões ambientais.
Ao mesmo tempo, precisa ser atualizado para se adequar à realidade socioeconômica do Brasil.
Estima-se que 90% dos produtores rurais estejam em situação irregular no país, pois não
seguiram as especificações do código de 1965. Eles plantam e desmatam em locais proibidos
pela legislação. É o caso, por exemplo, de plantações de uvas e café nas encostas de morros e
de arroz em várzeas, em diversas regiões do país.
Para regularizar a condição dessas famílias, o novo Código Florestal propõe, entre outras
mudanças, a flexibilização das regras de plantio à margem de rios e de reflorestamento.
Os ambientalistas, no entanto, contestam o projeto. Segundo eles, haverá incentivo ao
desmatamento e impactos no ecossistema.
O desafio será equacionar a necessidade de aumentar a produtividade agrícola no país e, ao
mesmo tempo, garantir a preservação ambiental.
Pontos de discórdia
Entre os principais pontos polêmicos do novo Código Florestal estão os referentes às APPs
(Áreas de Preservação Permanente), à Reserva Legal (RL) e à "anistia" para produtores rurais.
Áreas de Preservação Permanente são aquelas de vegetação nativa que protege rios da erosão,
como matas ciliares e a encosta de morros. O Código Florestal de 1965 determina duas faixas
mínimas de 30 metros de vegetação à margem de rios e córregos de até 10 metros de largura. A
reforma estabelece uma faixa menor, de 15 metros, para cursos d'água de 5 metros de largura,
e exclui as APPs de morros para alguns cultivos.
Entidades ambientalistas reclamam que a mudança, caso aprovada, aumentará o perigo de
assoreamento e afetará a fauna local (peixes e anfíbios), além de incentivar a ocupação irregular
dos morros, inclusive em áreas urbanas. Já os ruralistas acreditam que a alteração vai ajudar
pequenos produtores, que terão mais espaço para a lavoura.
Um segundo ponto diz respeito à Reserva Legal, que são trechos de mata situados dentro de
propriedades rurais que não podem ser desmatados. Cerca de 83 milhões de hectares estão
irregulares no Brasil, segundo a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
A lei determina que todo dono de terreno na zona rural deve manter a vegetação nativa em
proporções que variam de acordo com o bioma de cada região. Na Amazônia é de 80%, no
cerrado, 35%, e nas demais regiões, 20%.
Anistia
O projeto exclui a obrigatoriedade para pequenos proprietários (donos de terras com até
quatro módulos fiscais, ou, aproximadamente, de 20 a 400 hectares) de recuperarem áreas
que foram desmatadas para plantio ou criação de gado. Para os médios e grandes proprietários
são mantidos os porcentuais, com a diferença de que eles poderão escolher a área da RL a ser
preservada. O dono de uma fazenda em Mato Grosso, por exemplo, poderia comprar terras
com vegetação natural em Minas para atender aos requisitos da lei.
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Para a oposição, há pelo menos dois problemas. Fazendeiros podem dividir suas propriedades
em lotes menores, registrados em nome de familiares, para ficarem isentos da obrigação
de reflorestamento. E, caso possam comprar reservas em terrenos sem interesse para a
agricultura, poderão criar "bolsões" de terras áridas. A bancada ruralista, ao contrário, acredita
que a medida vai favorecer produtores que não têm condições de fazer reflorestamento.
O terceiro ponto de discórdia diz respeito à anistia para quem desmatou, tanto em Áreas
de Preservação Permanente quanto em Reserva Legal. O Código Florestal prevê que serão
multados proprietários que desmataram em qualquer época. O texto em debate isenta os
produtores de multas aplicadas até 22 de julho de 2008 – data em que entrou em vigor o
decreto regulamentando a Lei de Crimes Ambientais. Os contrários à proposta acham que a
anistia criará precedente que irá estimular a exploração predatória das florestas.
Da Agência Brasil
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Devastação da Amazônia deve crescer 20% este ano
Desmatamento em alta
Autor(es): Danilo Fariello
O Globo – 12/11/2013
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Leilão de Libra põe Petrobras diante de seu maior desafio
Especialistas vão monitorar, com lupa, números da estatal, que vem sofrendo diante do
congelamento dos preços dos combustíveis e do elevado endividamento. Ontem, depois da
euforia, as ações caíram. Dilma diz que manterá o sistema de partilha
Um dia depois do leilão do Campo de Libra, o primeiro do pré-sal dentro das regras da partilha,
os olhos de analistas e investidores se voltaram para a capacidade de a Petrobras responder ao
seu maior desafio. Como operadora legal da área e sócia majoritária do consórcio vencedor,
com 40%, a estatal terá de redobrar os esforços para conciliar as atuais dificuldades de caixa
e o seu elevado endividamento com o atual plano de investimentos e a participação no novo
projeto, que custará US$ 80 bilhões até 2024.
O sintoma da emergente preocupação veio da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).
Após a euforia da véspera, com o anúncio da parceria entre a Petrobras e as europeias Shell e
Total, quando as ações da estatal subiram mais de 5%, ontem, os papéis preferenciais recuaram
1,6% e os ordinários (com direito a votos), 1%. As indefinições em torno da política de reajuste
de combustíveis, que têm minado os cofres da empresa, e os compromissos mais urgentes da
empreitada na maior reserva petrolífera do país começaram a ser colocadas na mesa.
Até então, valia o otimismo com a composição do grupo vencedor no leilão de Libra, que revela
apoio à liderança técnica da petroleira brasileira, e alívio com a redução da presença chinesa,
representada pelas estatais CNPC e CNOOC. Apesar do ágio zero resultante da ausência de
competição, especialistas consideraram favorável à Petrobras a vitória com o lance mínimo de
41,65% em óleo excedente que terá de ser entregue à União.
Para a presidente da Petrobras, Graça Foster, houve uma solução “bastante razoável” para o
leilão de Libra. “Ficamos muito satisfeitos”, assinalou. Em relação ao grupo do qual a estatal
faz parte, disse “que as estratégias vão se afinando, grupos entram, grupos saem. O que é mais
incrível é a complementaridade das competências. Foi fantástico, algo de que eu não abriria
mão”, enfatizou
Superavit primário
A primeira pressão direcionada contra a estratégia da empresa, depois da ressaca com as
notícias de segunda-feira, veio da dúvida sobre a sua engenharia financeira para depositar, até
o fim de novembro, os R$ 6 bilhões equivalentes a sua parcela dos R$ 15 bilhões do bônus de
assinatura do contrato de partilha.
Esses recursos são esperados, desesperadamente, pelo governo federal para engordar o
minguado superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) deste
ano.
“A companhia não terá dificuldade em cumprir a sua parte, tendo feito o lance que analisou
estar condizente com as suas possibilidades. O governo também não está cogitando fazer aporte
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do Tesouro na empresa. Se for o caso, o mercado está aberto para fazer novos empréstimos a
ela”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Para ele, a Petrobras terá condições
de suportar o peso das despesas no desenvolvimento de Libra até 2019, quando a extração
começará a ressarcir os investimentos.
Em reforço, o diretor de Gás da Petrobras, Alcides Santoro, declarou que o desembolso para
a aquisição da jazida recorde na Bacia de Santos (RJ) não vai reduzir o apetite da estatal pela
próxima rodada da Agência Nacional do Petróleo (ANP), envolvendo a exploração de gás
em terra firme e também a programada para o mês que vem. “O interesse no certame está
mantido, não diminuiu em nada. Avaliamos o custo e o uso de gás e isso faz parte da nossa
estratégia para a 12ª rodada”, resumiu.
Em menor grau de receio, o mercado também acompanha os desdobramentos jurídicos do
leilão de Libra. A Advocacia-Geral da União (AGU) informou que a Justiça ainda precisa analisar
quatro ações, de um total de 27 que questionam a privatização do pré-sal. Na avaliação de
advogados, apesar de não terem sido concedidas liminares para suspender a disputa, ainda há
risco de anulação.
O diretor da ANP Helder Queiroz avisou que o próximo leilão do pré-sal deve ter mais de uma
área em oferta e os blocos serão de porte menor que o de Libra. A recomendação da agência
é de que não haja nenhum outro leilão na área onde se acredita existir grandes reservas de
petróleo, no prazo de dois anos, dada a demanda de investimentos em Libra. “Não há nenhum
outro Libra conhecido. Mas, com o estado de informação que temos hoje, a tendência é de
que num próximo leilão surjam maior número de oportunidades de menor porte e de risco
variado”, avaliou.
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Sem embargo à obra
Já o procurador geral federal substituto da Advogacia Geral da União, Renato Vieira, destacou
que atualmente não há qualquer decisão da Justiça contrária à construção de Belo Monte. Ele
explicou que algumas condicionantes socioambientais só podem ser executadas depois que a
usina estiver funcionando. Citou como exemplo o “hidrograma de consenso”, que depois de
seis anos vai medir a quantidade de vazão da água e a navegabilidade do rio.
Vieira lembra que foram ajuizadas 27 ações contra Belo Monte: nove já foram julgadas no
mérito a favor do governo.
– A Justiça sempre concordou com os argumentos do governo federal – disse Vieira.
Os atrasos nos projetos socioambientais não devem ser encarados como um problema, já que
o mais importante é que essas obras estão previstas em contrato, que terão de ser cumpridos
pelo consórcio. Esta é a opinião do professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de
Estudos do Setor Elétrico (Gesel, do Instituto de Economia da UFRJ:
– Ter obras atrasadas não é um problema, porque implica previamente no comprometimento
do consórcio em fazer tudo o que foi comprometido. Do ponto de vista legal, eles (a empresa)
vão ter que fazer tudo o que foi acordado.
Para o coordenador do Gesel, quanto mais os movimentos sociais puserem empecilhos nas
obras, com liminares, mais prejudicados ficarão os projetos socioambientais. Segundo Nivalde
de Castro, é claro que uma obra do porte de Belo Monte tem impacto na cidade. Mas ele
ressalta que, a partir de agora, o número de pessoas nos canteiros vai começar a diminuir. Para
ele, o importante serão as obras de infraestrutura, saneamento e saúde que vão ficar para a
cidade:
– É preciso ter uma visão mais pragmática e não ideológica. Há uma posição ideológica contra
a usina. Então, tudo é motivo para suspender a obra. Saneamento, escolas e hospitais não
desaparecem quando a obra termina.
Por outro lado, organizações ambientais como o Instituto Socioambiental (ISA) e o Movimento
Xingu Vivo fazem duras críticas ao projeto. O secretário executivo do ISA, André Villas-Bôas,
disse que o maior problema é que o projeto – no qual a Eletrobras é dona de 50% e conta com
financiamento do BNDES – é fiscalizado pelo próprio governo:
– Nada foi feito em questões como das terras indígenas, de saúde e saneamento. As obras da
usina estão a todo vapor com 60% executadas, enquanto as obras socioambientais estão aos
trancos e barrancos, com apenas 20% de sua execução.
Ibama avalia condições
Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, lembra que as obras de
saneamento básico deveriam ter começado em 2011, mas, diz, começaram há quatro meses.
– Já encaminhamos denúncia ao Ministério Público, pois as obras estão sendo feitas com
material de baixa qualidade. Em janeiro, um técnico do Ministério Público fará uma fiscalização.
A falta de saneamento será agravada, pois estamos entrando no período de chuvas. Altamira
tem 140 mil pessoas.
Em nota, o Ibama disse que “avalia se o empreendedor está cumprindo as condicionantes
exigidas através de um parecer técnico que avalia os relatórios semestrais consolidados”.
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Ele também declarou agover-nos que "grandes barganhas" podem não ser realistas. Ou seja, a
ideia de que os países emergentes conseguirão um corte nos subsídios agrícolas americanos ao
oferecer acesso a seus mercados para bens industriais pode não se concretizar.
Pequenos passos. Uma das opções que será colocada sobre a mesa será a possibilidade de
se fechar acordos menores e, gradualmente, chegar a um entendimento completo sobre o
comércio. Outra alternativa seria incluir novos temas, como um acordo sobre investimentos.
"Doha está desatualizada", escreveu Robert Lighthizer, representante de Comércio dos EUA na
administração de Ronald Reagan, nos anos 1980.
O chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, indicou em Bali que o País está disposto a
repensar a estratégia para a OMC. Mas rejeitou a ideia de novos acordos limitados e alertou
que o Brasil não aceitaria temas novos sem que as distorções na agricultura sejam solucionadas.
"Esse também é um tema do século 21", disse. Para ele, Bali teria de ser "o último" acordo
limitado da OMC. "Temos de recuperar a ambição", defendeu.
Entre os americanos, a percepção é de que não existe mais espaço realista para abrir mão de
subsídios agrícolas. Ontem, o presidente Barack Obama elogiou Azevêdo e a OMC pelo acordo.
Mas não fez a mínima referência a concessões em agricultura.
"As pequenas empresas americanas estarão entre os grandes ganhadores, já que são as que
mais encontram dificuldades para navegar no atual sistema", disse Obama.
Na Europa, a avaliação é semelhante. "Fechamos um acordo e politicamente ele foi
fundamental. Mas sabemos que deixamos tudo que era complicado sem uma solução", admitiu
um diplomata europeu.
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A definição dessas metas era esperada como resultado da conferência do Rio no ano passado.
Mas, sem acordo entre os países, o documento final não chegou nem sequer a listar os temas
que deveriam ser contemplados nos ODSs.
Aflito com a vagarosidade do processo diplomático, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon
lançou logo após a Rio+20 a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, com o
objetivo de reunir o conhecimento global científico e tecnológico em torno dos desafios do
desenvolvimento sustentável. Como primeira missão, os especialistas teriam de propor uma
base para as negociações diplomáticas que vão por fim estabelecer os ODSs.
O documento parte das diretrizes do texto da Rio+20 e, assim como ele, traz objetivos bem
genéricos. Ainda não aparecem, por exemplo, metas concretas com prazos de cumprimento. E
os temas são os mais diversos:
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