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JURISDIÇÃO

Como ensina Ovídio Baptista, a ideia de direito, no Estado Moderno, suscita, desde logo, a ideia de jurisdição. O
jurista contemporâneo tende a equiparar o direito à norma jurídica editada pelo Estado, cuja inobservância dá lugar
a uma sanção.

CONCEITO:

Jurisdição é:

a) função atribuída a terceiro imparcial (substitutividade)


b) de realizar o Direito de modo imperativo (imperatividade)
c) reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas
d) concretamente deduzidas
e) em decisão insuscetível de controle externo
f) e com aptidão para tornar-se indiscutível (definitividade).

Esse conceito está em consonância com as diversas transformações pelas quais passou o Estado nos últimos
tempos, tais como: i) a redistribuição das funções do Estado, com a criação de agências reguladoras (entes admi-
nistrativos, com funções executiva, legislativa e judicante) e executivas; ii) a valorização e o reconhecimento da
força normativa da Constituição, principalmente das normas -princípio, que exigem do órgão jurisdicional uma pos-
tura mais ativa e criativa para a solução dos problemas; iii) o desenvolvimento da teoria jurídica dos direitos funda-
mentais, que impõe a aplicação direta das normas que os consagram, independentemente de intermediação legis-
lativa; iv) a criação de instrumentos processuais como o mandado de injunção, que atribui ao Poder Judiciário a
função de suprir, para o caso concreto, a omissão legislativa; v) a alteração da técnica legislativa com a utilização
da técnica das cláusulas gerais, deixando o sistema normativo mais aberto e transferindo expressamente ao órgão
jurisdicional a tarefa de completar a criação da norma jurídica do caso concreto; vi) a evolução do controle de
constitucionalidade difuso, que, dentre outras consequências, produziu a possibilidade de enunciado vinculante da
súmula do STF em matéria constitucional.

a) Técnica de solução de conflitos por heterocomposição, na qual um terceiro imparcial e desinteressado substitui
(ideia de substitutividade apresentada por Chiovenda) a vontade das partes pela vontade da lei e determina a
solução do problema apresentado – exceção na jurisdição voluntária, pois não há substituição da vontade das par-
tes.
Fredie Didier Jr. não adota a ideia de Chiovenda de que a jurisdição é a aplicação concreta da vontade da lei, em
atividade meramente declaratória. Entende que a jurisdição é, essencialmente, criativa.
Marcus Vinícius Rios Golçalves conceitua jurisdição como a função do Estado, pela qual ele, no intuito de soluci-
onar os conflitos de interesse em caráter coativo, aplica a lei geral e abstrata aos casos concretos que lhe são
submetidos (Direito processual civil esquematizado. 8ª Edição – São Paulo: Saraiva, 2017, pág 132).
Para Carnelutti, porém, jurisdição consiste na justa composição da lide (conflito de interesses qualificado por uma
pretensão resistida), mediante sentença de natureza declarativa, por meio da qual o juiz dicitius, daí porque, para
ele, não haveria jurisdição no processo executivo.
Para Daniel Amorim Assumpção Neves, a jurisdição pode ser entendida como a atuação estatal visando à apli-
cação do direito objetivo ao caso concreto, resolvendo-se com definitividade uma situação de crise jurídica e ge-
rando com tal solução a pacificação social (Manual de direito processual civil – Vol. Único. 9ª ed. re. atual. Salvador:
Editora Juspodivm, 2017, pág 59).
O juiz não deve ter interesse no litígio sob sua apreciação, tratando as partes com igualdade (“equidistante”, na
posição de Ada Pellegrini Grinover) e garantindo o contraditório em paridade de armas (isso é imparcialidade –
aspecto subjetivo), em observância ao art. 7º, CPC. Ressalte-se aqui a importância de estudar as garantias e ve-
dações constitucionais dos magistrados previstas no art. 95, parágrafo único, CF.

b) Manifestação de um poder que se impõe de forma imperativa (imperatividade), aplicando o Direito a situações
concretas que são submetidas ao órgão jurisdicional.
Atenção! Embora monopólio do Estado, este pode autorizar o exercício da função jurisdicional por agentes privados
(como no caso da arbitragem, que será objeto de estudo específico nos tópicos seguintes).

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c) A tutela dos direitos dá-se ou pelo seu reconhecimento judicial (conhecimento), ou pela sua efetivação (execu-
ção) ou pela sua proteção (tutela de segurança, cautelar ou inibitória).

d) A jurisdição sempre atua sobre uma situação concreta que é levada à apreciação do órgão jurisdicional compe-
tente, sendo a atuação jurisdicional sempre tópica.
Atenção! Não se pode restringir a jurisdição a um tipo de situação concreta (por exemplo, a lide), posto que não se
excluirá da apreciação jurisdicional a ameaça de lesão a direitos (art. 3º, CPC).

e) Aplica-se o direito a uma situação concreta deduzida em juízo, sem que se possa submetê-la ao controle de
nenhum outro poder. A jurisdição somente é controlada pela própria jurisdição, cabendo a ela, exclusivamente, a
solução final ao problema apresentado.

f) Uma decisão judicial somente pode tornar-se indiscutível e imutável pela coisa julgada material (consequênc ia
de um princípio maior, que é o da segurança jurídica, evitando-se a eternização dos litígios).
Apenas os atos jurisdicionais podem adquirir essa especial estabilidade (definitividade), que recebe o nome de
coisa julgada (art. 5º, XXXVI, CF).

Em suma, jurisdição é função estatal para prevenir e compor conflitos, aplicando o direito ao caso concreto, em
última instância, resguardando a ordem jurídica e a paz social, sendo exercida em todo o território nacional.

Ainda nas palavras de Chiovenda, pode se definir jurisdição como “função do Estado que tem como escopo a
atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de
particulares ou de outros órgãos públicos”. Em outras palavras, limita-se o Estado, ao exercer a função jurisdicional, a
declarar direitos preexistentes e atuar na prática os comandos da lei. Tal atividade caracterizar-se-ia, essencialmente, pelo
seu caráter substitutivo, já enunciado.

Para o exercício da função jurisdicional é que o Estado Democrático de Direito se utiliza do processo, verdadeiro
método que deve garantir o atingimento de seus devidos fins pelos devidos meios. O exercício da jurisdição, por-
tanto, pressupõe o processo prévio (instrumento de manifestação), em que se garantam o devido processo legal e
seus corolários.

Ação Jurisdição Processo

Observação: alguns autores ainda inserem a RESPOSTA como um quarto elemento.

Há doutrina (Dinamarco) que prefira analisar a jurisdição sob três aspectos distintos: poder, função e atividade.
O poder jurisdicional é o que permite o exercício da função jurisdicional que se materializa no caso concreto por
meio da atividade jurisdicional.

 Como poder, a jurisdição representa o poder estatal de interferir na esfera jurídica dos jurisdicionados, aplicando
o direito objetivo ao caso concreto. Não mais se compreende que o poder jurisdicional se limita a “dizer” o direito,
mas também de “impor” o direito (imperatividade).
 Como função, a jurisdição é o encargo atribuído pela Constituição Federal, em regra, ao Poder Judiciário (fun-
ção típica) e, excepcionalmente, a outros Poderes (função atípica) de exercer concretamente o poder jurisdicional.
 A função jurisdicional não é privativa do Poder Judiciário, como se constata nos processos de impeachment do
Presidente da República, realizados pelo Poder Legislativo (art. 49, IX e art. 52, I, ambos da CF), ou nas sindicân-
cias e processos administrativos conduzidos pelo Poder Executivo (art. 41, § 1º, II, CF), ainda que nestes casos

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não haja definitividade. Além disso, o Poder Judiciário exerce de forma atípica função administrativa (por exemplo,
organização de concursos públicos) e legislativa (elaboração de regimentos internos dos Tribunais).
 Como atividade, a jurisdição é o complexo de atos praticados no processo pelo agente estatal investido de
jurisdição.

EQUIVALENTES JURISDICIONAIS:
São formas não-jurisdicionais de solução de conflitos, daí porque chamadas de “equivalentes” (soluções alterna-
tivas – funcionam como técnica de tutela dos direitos, resolvendo conflitos ou certificando situações jurídicas). Não
são definitivas, pois podem ser submetidas ao controle jurisdicional. São as seguintes:

a) Autotutela – forma mais antiga de solução dos conflitos, constituindo-se, fundamentalmente, pelo sacrifício inte-
gral do interesse de uma das partes envolvida no conflito em razão do exercício da força (imposição da vontade)
pela parte vencedora. Trata-se de solução vedada, como regra, nos ordenamentos jurídicos civilizados, podendo
ser amplamente revista pelo Poder Judiciário. Em outras palavras, é passível de controle posterior pela solução
jurisdicional, que legitimará ou não a defesa privada.
É evidente que uma solução de conflitos resultante do exercício da força não é a forma de solução de conflitos que
se procura prestigiar num Estado democrático de direito.
São exemplos de autotutela permitida: legítima defesa (art. 188, I, CC), desforço imediato (art. 1.210, § 1º, CC),
direito de greve, direito de retenção, estado de necessidade, guerra etc. A explicação para isso é que o Estado não
é onipresente, sendo impossível estar em todo lugar e a todo momento para solucionar violações ou ameaças ao
direito objetivo, de forma que, em algumas situações excepcionais, é mais interessante ao sistema jurídico, diante
da ausência de Estado naquele momento, a solução pelo exercício da força de um dos envolvidos no conflito (NE-
VES, Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual de direito processual civil – Vol. Único. 9ª ed. re. atual. Salvador:
Editora Juspodivm, 2017, pág 61).

b) Autocomposição – consentimento espontâneo de um dos contendores em sacrificar o interesse próprio, no todo


ou em parte, em favor do interesse alheio. É gênero do qual são espécies: (i) a transação (concessões mútuas): é
a mais tradicional, na qual a solução é dada pelas partes, sendo que cada uma delas faz concessões recíprocas
(art. 487, III, "b", CPC); (ii) a renúncia: não há concessões recíprocas, mas apenas unilateral, por parte do autor,
que abdica de sua pretensão voluntariamente (art. 487, III, "c", CPC); e, por fim, (iii) a submissão (reconheciment o
da procedência do pedido) onde não se vislumbram concessões recíprocas, mas apenas unilateral, por parte do
réu, que reconhece a razão do autor (art. 487, III, "a", CPC).

Atenção! Aqui há uma certa hibridez: substancialmente, o conflito foi resol-


vido por autocomposição, mas, formalmente, em razão da sentença judicia l
homologatória, há o exercício de jurisdição.

c) Julgamento de conflitos por tribunais administrativos – solução estatal não-jurisdicional de conflitos. São exem-
plos: Tribunal Marítimo, Tribunal de Contas, Agências Reguladoras, CADE.

Atenção! A decisão de conflito por tribunal administrativo é exemplo de


equivalente jurisdicional, pois, embora se trate de solução por heterocom-
posição dada por um sujeito imparcial diante de uma situação concreta, fal-
tam-lhe os atributos da aptidão para a coisa julgada material e da insusce-
tibilidade de controle externo, indefectíveis da atividade jurisdicional.

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d) Arbitragem – é o equivalente jurisdicional mais polêmico no que tange à sua natureza. Alguns doutrinadores
entendem que a arbitragem é jurisdição privada e não equivalente jurisdicional, enquanto outros afirmam não ser
nem mesmo uma jurisdição, porque não é estatal.

Portanto, em resumo, para que se tenha uma visão ampla, veja-se, a seguir, as quatro equivalentes jurisdicionais:

Autotutela Autocomposição

Equivalentes
Jurisdicionais

Julgamento de conflitos
por tribunais Arbitragem
administrativos

ARBITRAGEM
Técnica de solução de conflitos mediante a qual os conflitantes buscam em uma terceira pessoa, de sua confiança,
a solução amigável e imparcial do litígio. É, portanto, heterocomposição, não compulsória, constituindo-se em
opção conferida a pessoas capazes para solucionar problemas relacionados a direitos disponíveis. Atualmente, a
arbitragem mantém as principais características de seus primeiros tempos, sendo uma forma alternativa de solução
de conflitos fundada basicamente em dois elementos:

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Arbitragem
As partes irão escolher A decisão desse terceiro
um terceiro de sua será impositiva, o que
confiança que será significa que o conflito
responsável pela será resolvido
solução do conflito de independentemente da
interesses vontade das partes

Para a maioria doutrinária, a arbitragem é equivalente jurisdicional (Humberto Theodoro Jr., Vicente Greco Filho,
Luiz Guilherme Marinoni e Cassio Scarpinella Bueno). Há, porém, quem entenda que não se trata de equivalent e
jurisdicional, sendo jurisdição propriamente dita, exercida por particulares, com autorização do Estado (Fredie Di-
dier Jr., Carlos Alberto Carmona e Joel Dias Figueira Jr.).
 Há confusão nesse tocante, mas com pouca importância prática, já tendo, o STJ, tratado a arbit ragem ora como
equivalente jurisdicional e ora como espécie de jurisdição privada (CC 111.230/DF, Segunda Seção, rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 8.5.2013).

A arbitragem é regulamentada pela Lei nº 9.307/96 (com alterações pela Lei nº 13.129/2015) não afrontando o
princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, CF).

Com relação à abrangência da Lei de Arbitragem, o STJ editou a Súmula 485: “a lei de arbitragem aplica-se aos
contratos que contenham cláusulas, ainda que celebradas antes da sua edição”. Pacificou dessa forma a discussão
gerada em torno de sua efetividade frente aos contratos que possuíam cláusulas de previsão de arbitragem, porém,
celebrados antes de sua vigência.

A convenção de arbitragem (art. 3º da Lei nº 9.307/1996) compreende tanto a cláusula compromissória como o
compromisso arbitral:
a) A cláusula compromissória (art. 4º) é aquela que designa a intenção das partes de resolver disputas futuras por
meio da arbitragem, celebrada, assim, previamente. É também chamada de c láusula compromissória “cheia”.
b) O compromisso arbitral (art. 9º) é o ato, formal e escrito, que efetivamente dá início ao processo de arbitragem
(regras deverão constar expressamente neste sentido). Trata-se, pois, de um contrato, por meio do qual se renuncia
à atividade jurisdicional estatal, relativamente a uma controvérsia específica e não simplesmente especificável. Pode
ser estabelecido independentemente da existência de cláusula compromissória, até mesmo no curso do procedi-
mento arbitral, mas sempre antes da audiência de tentativa de conciliação.

A convenção de arbitragem não é pressuposto processual por ser matéria de direito dispositivo que, para ser
examinada, não dispensa a iniciativa do réu. Caso o réu não a alegue, o processo prossegue e é julgado perante a
jurisdição estatal. A ausência de alegação do réu torna a justiça estatal competente para julgar a lide e, por inexistir
qualquer invalidade, o processo não será extinto.

CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM:

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a) Possibilidade de escolha da norma de direito material a ser aplicada (art. 2°, §§1º e 2º, Lei nº 9.307/1996);
b) Árbitro (art. 13, Lei nº 9.307/1996): exige-se que para o exercício das funções de árbitro seja pessoa física e
capaz;
c) Desnecessidade de homologação judicial da sentença arbitral (art. 31, Lei nº 9.307/1996), que produz efeitos
imediatamente;
d) A sentença arbitral é título executivo judicial (art. 31, Lei nº 9.307/1996 c/c art. 515, VII, CPC): o árbitro pode
decidir, mas não tem poder para tomar nenhuma providência executiva;
e) Possibilidade de reconhecimento e execução de sentenças arbitrais produzidas no exterior (art. 34 e seguintes,
Lei nº 9.307/1996).

Atenção! A decisão arbitral faz coisa julgada material, podendo ser invalidada
(vícios formais) pela via judicial no prazo de 90 (noventa) dias após o recebi-
mento da intimação da sentença arbitral (art. 33, § 1º, da Lei de Arbitragem).

 Existência de conflito de competência entre um órgão jurisdicional do Estado e uma Câmara Arbitral : o STJ
entendeu ser competente para a apreciação, porque a arbitragem teria natureza jurisdicional (CC 111.230/DF, 2ª
Seção, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 8.5.2013). Entendeu-se, ainda, que é de competência do tribunal de arbitragem,
e não do Judiciário, analisar pedidos de indicação de bens para garantir execuções de dívidas, antes mesmo da
instauração de procedimento arbitral. Foi a primeira vez que a Corte analisou a questão, mas o placar apertado do
julgamento - cinco votos a quatro - indica, segundo advogados, que a discussão ainda está longe de terminar.

 A 3ª Turma do STJ, REsp 1.277.725/AM, 3ª Turma, j. 12.3.2013, estabeleceu que, ainda que conste de contrato
inadimplido a previsão de resolução de conflitos por meio da arbitragem, é possível ao credor ajuizar pedido de
falência do devedor ou mesmo execução sem a prévia realização de juízo arbitral . Asseverou o referido acórdão
que a celebração da convenção de arbitragem não é causa impeditiva da deflagração do processo de falência
perante o Judiciário, eis que “a executividade de um título de crédito não é afetada pela convenção de arbitragem” .

 Para a corrente doutrinária que entende ser a arbitragem uma espécie de jurisdição privada, existem dois argu-
mentos principais:
(i) a decisão que resolve a arbitragem é atualmente uma sentença arbitral, não mais necessitando de homologaç ão
pelo juiz para ser um título executivo judicial (art. 515, VII, CPC), o que significa a sua equiparação com a sentença
judicial;
(ii) a sentença arbitral torna-se imutável e indiscutível, fazendo coisa julgada material, considerando-se a impossi-
bilidade de o Poder Judiciário reavaliar seu conteúdo, ficando tal revisão jurisdicional limitada a vícios formais da
arbitragem e/ou da sentença arbitral, por meio da ação anulatória prevista pelos arts. 32 e 33 da Lei 9.307/1996.

ARBITRAGEM E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

O tema ainda é polêmico, doutrinariamente falando, pois, tradicionalmente, sempre houve resistência para a arbi-
tragem com o Poder Público. Ao longo dos tempos, formaram-se 3 (três) correntes: a) a que não admite arbitragem
que envolva o Poder Público; b) a que admite sempre, mesmo sem lei específica; c) a que admite, desde que haja
lei específica. As posições mais atuais se situam entre segunda e terceira correntes, havendo uma tendên cia de
prevalecer a letra “b”.

Conquanto o poder seja uno, para que o Estado funcione adequadamente, é necessário repartir suas funções. Além
da função jurisdicional e legislativa, temos a função administrativa, que diz “atividade que não está ligada à solução
de conflitos, mas à consecução de determinados fins do Estado, ligados à administração pública. Não tem caráter
substitutivo, porque os procedimentos administrativos são solucionados pela própria administração, e não por um

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agente imparcial. Além disso, as decisões administrativas não adquirem, como as judiciais, caráter definitivo, po-
dendo ser revisadas” (GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8ª Edição – São
Paulo: Saraiva, 2017, pág 133).

De todo modo, com a alteração da Lei nº 9.307/96 pela Lei nº 13.129/15, o § 1º, do art. 1º, passou a contar com a
seguinte redação: “A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos
relativos a direitos patrimoniais disponíveis”.

O § 2º, do mesmo art. 1º, passou a ter a seguinte redação: “A autoridade ou o órgão competente da administração
pública direta para a celebração de convenção de arbitragem é a mesma para a realização de acordos ou transa-
ções”.

Assim, em tese, nada impediria a instauração do procedimento arbitral envolvendo o Poder Público, desde que, vale
repisar, estejamos diante de situação que envolva a disponibilidade de um direito patrimonial.

PRINCÍPIOS INERENTES À JURISDIÇÃO

a) INVESTIDURA: exercício da jurisdição somente por aqueles que tenham sido regularmente investidos na con-
dição de juiz mediante concurso público (art. 93, I, CF) e indicação pelo Poder Executivo, por meio do quinto cons-
titucional (art. 94, CF) e para composição do Supremo Tribunal Federal (art 101, CF). É considerado pressupost o
processual de existência.
É necessário que o Poder Judiciário, ser inanimado que é, tenha a necessidade de escolher determinados sujeitos,
investindo-os do poder jurisdicional para que representem o Estado no exercício concreto da atividade jurisdicional.
Esse agente público, investido de tal poder, é o juiz de direito, sendo por vezes chamado de Estado -juiz porque é
justamente ele o sujeito responsável por representar o Estado na busca de uma sol ução para o caso concreto
(NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. Vol. Único – 9ª edição – rev. atual. Salvador:
Ed. Juspodivm, 2017, pág. 85).

b) TERRITORIALIDADE : todo juiz terá jurisdição em todo o território nacional (limite espacial sujeito à soberania
do Estado). Entretanto, por uma questão de funcionalidade, considerando o elevado número de juízes e a extensão
do território nacional, o exercício da jurisdição que lhes compete é delimitado à parcela do território, conforme a
organização judiciária da Justiça em que atuam, sendo as áreas de exercício de sua autoridade divididas na Justiça
Federal em seções judiciárias e na Justiça Estadual em comarcas. Assim sendo, as regras de competência territorial
definirão um determinado território, e pelo princípio da aderência ao território, a atuação jurisdicional somente será
legítima dentro desses limites territoriais.
É com base neste princípio que surge a necessidade de as autoridades judiciárias cooperarem entre si no exercício
da atividade jurisdicional, cada uma ajudando a outra no exercício da atividade jurisdicional em seu território (surgem
as cartas precatória (juízes de mesma hierarquia no mesmo país) e rogatória (juízes de países diversos) como atos
de comunicação entre órgãos jurisdicionais: a maior parte dos atos de interesse ao processo, que devam ser prati-
cados fora dos limites territoriais em que o juiz exerce a jurisdição, dependerá da cooperação do juiz do lugar).
Há mitigação do princípio da territorialidade da jurisdição em três hipóteses previstas no CPC: art. 60 (imóvel loca-
lizado em mais de uma comarca, Estado, seção ou subseção judiciária), art. 255 (citação, intimação, notificação,
penhora e quaisquer outros atos executivos – em comarcas contíguas ou da mesma região metropolitana, indepen-
dentemente de carta precatória) e art. 845, §1º (na penhora de bem imóvel, apresentada nos autos do processo a
sua matrícula atualizada, o juiz poderá realizar a penhora de imóvel situado em qualquer local no Brasil e de veículos
automotores independentemente de onde se localizem, por termo nos autos).

Atenção! O lugar onde a decisão deve ser proferida não se confunde com o
lugar em que ela deve produzir efeitos.

c) INDELEGABILIDADE: o exercício da função jurisdicional não pode ser delegado, cabendo exclusivamente à CF
estabelecer as funções e direcioná-las aos órgãos que entende competentes.

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Atenção! Essa vedação se aplica integralmente no caso de poder decisório, sob
pena de violação à garantia do juiz natural. Há, porém, hipóteses em que se au-
toriza a delegação de outros poderes judiciais, como o poder instrutório, o poder
diretivo do processo e o poder de execução das decisões.

A carta de ordem, expedida pelos tribunais no sentido de delegar, ao juízo de primeiro grau, a produção de provas
orais e periciais, é um exemplo, justificando-se por faltar estrutura aos tribunais para a prática de tais atos (por
exemplo, art. 972, CPC).

Nas cartas precatórias não há delegação, pois sequer há competência a ser delegada, apenas um pedido de coo-
peração. (Fredie Didier Jr. e Daniel Assumpção).

A carta precatória e a carta rogatória não são exceções ao princípio da indelegabilidade, porque nesses casos o
juiz deprecante não tem competência ou jurisdição para a prática do ato, de forma que ao pedir a colaboração de
outro foro nacional ou estrangeiro, nada estará delegando, afinal não se pode delegar poder que não se tenha
originariamente. As cartas precatória e rogatória são, na realidade, a confirmação desse princípio, determinando
que o juízo competente pratique os atos processuais para os quais tenha competência, independentemente de onde
tramita o processo. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. Vol. Único – 9ª edição.
rev. e atual. – Salvador: Ed. Juspodivm, 2017, pág. 87).

A CF, no art. 93, XI, autoriza a delegação da competência do Tribunal Pleno (todos os membros do tribunal ) para o
órgão especial deste mesmo tribunal (mínimo de 11 e máximo de 25).

Ainda, a CF, no art. 93, XIV, autoriza a delegação, a serventuário da justiça, do poder de praticar atos de adminis-
tração (não autoriza a delegação de poder de polícia, como a pres idência de uma audiência de instrução) e de mero
expediente sem caráter decisório. O CPC, no art. 203, § 4º, autoriza a prática, de ofício, dos chamados atos
meramente ordinatórios (juntada e vista obrigatória) que podem ser revistos pelo juiz quando nec essários.

d) INEVITABILIDADE: as partes hão de submeter ao quanto decidido pelo órgão jurisdicional. A situação das par-
tes é de sujeição perante o Estado-juiz, independentemente de sua vontade, o que também reforça a ideia de
imperatividade. “Vinculação obrigatória” e “estado de sujeição” dos sujeitos processuais.
O princípio da inevitabilidade é aplicado em dois momentos distintos. O primeiro diz respeito à vinculação obrigatória
do sujeito ao processo judicial. Ainda que se reconheça que ninguém será obrigado a ingressar com demanda
contra a sua vontade e que existem formas de se tornar parte dependentes da vontade do sujeito, o certo é que,
uma vez integrado a relação jurídica processual, ninguém poderá, por sua própria vontade, se negar a esse cha-
mado jurisdicional. O segundo coloca os sujeitos que participam dessa relação jurídica num estado de sujeição, o
que significa dizer que suportarão os efeitos da decisão jurisdicional ainda que não gostem, não acreditem, ou não
concordem com ela.

e) INAFASTABILIDADE: previsão legal no art. 5°, XXXV, CF, constituindo-se na consagração, em sede constitu-
cional, do direito fundamental de ação, também designado como direito de acesso ao Poder Judiciário, direito de
acesso à justiça ou direito à jurisdição.

É considerado como uma conquista obtida a partir do momento em que, proibida a autotutela privada, assumiu o
Estado o monopólio da jurisdição.

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Ação (criou-se o direito, abstrato) e jurisdição (poder-dever do Estado) são institutos que nasceram um para o
outro, segundo Fredie Didier Jr. Não há, portanto, matéria que possa ser excluída da apreciação pelo Poder
Judiciário, ressalvadas raríssimas exceções, como a do processamento e julgamento de determinadas autoridades
em hipóteses específicas (art. 52, I e II, CF).
A ameaça a que faz referência o dispositivo constitucional consagra a tutela preventiva, a tutela de urgência e a
tutela contra o perigo.
A única imposição constitucional de esgotamento das vias extrajudiciais é em relação às questões desportivas (art.
217, § 1º, CF).
Conforme entendimento pacificado no STJ, o habeas data só é cabível se houver recusa de informações por parte
da autoridade administrativa (Súmula 2, STJ). Aqui, a exigência de recusa é indispensável para o surgimento da
lide, sem o qual não há interesse de agir, não representando espécie de abrandamento do princípio.
Atenção! Leis que limitam ou proíbem a concessão de medidas de urgência, notadamente, em face do Poder Pú-
blico (4.348/64, 5.021/66, 8.437/92 e 9.494/97) foram consideradas pelo STF, neste aspecto restritivo, constitucio-
nais (ADIN 223-DF). Nada impede, porém, que o Juiz aprecie a constitucionalidade/razoabilidade da restrição, se
for o caso.
É preciso garantir a efetiva concretização do direito de ação e do juiz natural através de uma tutela jurisdicional
rápida, efetiva e adequada. Significa dizer, então, que a adequação compreende a garantia do procedimento, a
espécie de cognição, a natureza do provimento e os meios executórios adequados às peculiaridades da situação
de direito material (é daí que se extrai a garantia do devido processo legal).
 A criatividade judicial, mencionada por Fredie Didier Jr., pode ser justificada pelo princípio da inafastabilidade
da jurisdição, que proíbe a recusa da prestação jurisdicional, consagrado no inciso XXXV do art. 5º da Constituição
Federal, reafirmado no art. 3° do CPC e ratificado pelo art. 140 do CPC ao estabelecer que “o juiz não se exime de
decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”.

f) JUIZ NATURAL: garantia decorrente da cláusula do devido processo legal, sem previsão expressa, mas que
resulta da conjugação de dois dispositivos constitucionais, quais sejam, o que proíbe juízo ou tribunal de exceção
(art. 5º, XXXVII, CF) e o que determina que ninguém será processado senão pela autoridade competente (art. 5º,
LIII, CF).
Juiz natural é o juiz competente de acordo com as regras gerais e abstratas previamente estabelecidas (aspecto
formal), bem como aquele que seja imparcial e independente (aspecto substancial).
As regras de distribuição dos feitos servem exatamente para fazer valer a garantia do juiz natural, sendo que o
desrespeito às regras de distribuição por dependência implica incompetência absoluta.
O legislador tenta evitar a escolha do juiz pelo autor com a previsão do art. 286, II, do CPC, ao criar uma regra de
competência absoluta do juízo que extinguiu o processo sem resolução do mérito (art. 485) quando essa demanda
é novamente proposta, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os
réus.

g) INÉRCIA: consagrado pelo art. 2º, CPC, que estabelece que “o processo começa por iniciativa da parte e se
desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”, o princípio da inércia orienta o Estado -juiz de
que, em regra, exerça a função jurisdicional somente quando provocado pela parte ou interessado, na medida da
respectiva pretensão. Referido princípio preserva, ainda, a imparcialidade do julgador.
Assim, dito que a atividade jurisdicional será prestada apenas mediante provocação das partes ou interessados,
ressalvadas as exceções legais, mister destacar as hipóteses de autorização para que o agente estatal exerça sua
função jurisdicional de ofício: (i) instauração da execução de sentença que imponha prestação de fazer, não fazer
ou dar coisa distinta de dinheiro (arts. 536 e 538, CPC), (ii) instauração do IRDR – instauração do incidente de
resolução de demandas repetitivas (art. 976, CPC), (iii) conflito de competência (art. 951, CPC), (iv) conversão do
processo de recuperação judicial em falência (Lei nº 11.101/05, arts. 53, 56, § 4°, 61, § 1°, 72, § único, e 73), além
do (v)habeas corpus de ofício (art. 654, § 2°, CPP) e (vi) execuções trabalhistas (art. 114, VIII, CF).
Atenção! O art. 989 do Código de Processo Civil de 1973 permitia que o juiz determinasse, de ofício, o início do
processo de inventário, não havendo enunciado semelhante no Código de Processo Civil de 2015.

h) PROMOTOR NATURAL: indicado por parcela da doutrina, consiste no impedimento de que o Procurador-Geral
de Justiça faça designações discricionárias de promotores ad hoc, o que elimina a figura do acusador público de
encomenda, que poderia, em tese, tanto ser indicado para perseguir o acusado como para assegurar a impunidade
de alguém.

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A indicação de “promotor assistente”, para atuar em conjunto com o promotor da causa, não ofende o princípio em
questão (Informativo 390, STJ, 6ª Turma, HC 40.394/MG, rel. Min. Og Fernandes, j. 14.4.2009), o mesmo ocor-
rendo com as “equipes especializadas de promotores de justiça” ou “formação de forças-tarefas” para determinada
área de atividade (STF, 2ª Turma, HC 96700/PE, rel. Min. Eros Grau, j. 17.3.2009).
A designação de promotor para atuar em determinada sessão do tribunal do júri, desde que previamente feita, e
motivada, não afronta o referido princípio (STF, HC, 103038/PA, 2ª Turma, rel. Min. Joaquim Barbosa, j.
11.10.2011).

CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA JURISDIÇÃO

A jurisdição distingue-se de outras funções do estado por força de certas características que lhe são peculiares .
As principais características da jurisdição são:

- Substitutividade;
- Definitividade;
- Imperatividade;
Jurisdição - Inafastabilidade;
- Indelegabilidade;
- Inércia;

ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO - Investidura.


A jurisdição é una e indivisível, razão pela qual a única forma de conceber a “divisão” da jurisdição em diferent es
espécies é adotando-se determinados critérios com a finalidade meramente acadêmica:

1. Pelo critério que a exercem:


 Jurisdição comum e especial: esta última é exercida pelas chamadas “justiças especiais”, que tem fixação
constitucional de sua competência em virtude da matéria que será objeto da demanda judicial. A CF reconhece a
Justiça do Trabalho (arts. 111/116), a Justiça Eleitoral (arts. 118/121) e a Justiça Militar (arts. 122/125). Assim
sendo, a jurisdição comum é residual, ou seja, tudo que não for de competência dessas justiças especiais, englo-
bando a Justiça Estadual e a Justiça Federal.

2. Pela posição hierárquica:


 Jurisdição superior ou inferior: a inferior é exercida pelo órgão jurisdicional que enfrenta o processo desde o
início, ou seja, aquele que tem competência originária para a demanda, enquanto a jurisdição superior é exercida
em hipótese de atuação recursal dos tribunais. Os tribunais podem tanto exercer jurisdição superior como inferior.

3. Podem ser ainda:


 Jurisdição penal ou civil: critério que leva em conta a natureza do objeto da demanda judicial. Sendo matéria
penal, naturalmente haverá jurisdição penal, e, de forma subsidiária, não sendo o direito material discutido na de-
manda de natureza penal, a jurisdição será civil. A jurisdição civil é bastante ampla, pois abrange, ao menos em
tese, todas as matérias que não sejam penais. A jurisdição civil é delineada por exclusão, razão pela qual se apre-
senta com a característica de generalidade. Aquilo que não cabe à jurisdição penal ou especial, a ela pertencerá.

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 Jurisdição contenciosa ou voluntária, sendo essa apenas homologatória de acordos feitos entre as partes, e
aquela presumida de haver um litígio que origina um processo que produzirá a coisa julgada.

JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA (arts. 719/770, CPC)

Tema doutrinariamente polêmico, já tendo sido dito, inclusive, que não se trataria nem de jurisdição, tampouco de
voluntariedade. Não tem relação com a chamada jurisdição administrativa de países como Itália, Portugal, Espa-
nha, França e Argentina.
A jurisdição voluntária não serve para que o juiz diga quem tem razão, mas para que tome determinadas providên-
cias que são necessárias para a proteção de um ou ambos os sujeitos da relação processual. Conquanto haja fort e
corrente doutrinária sustentando que a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas administração pública de interes -
ses privados, parece-nos que não se lhe pode negar essa condição, porque o juiz não se limita a integrar negócio
jurídico privado dos envolvidos, mas interfere para sanar uma questão conflituosa. Assim, os que querem separar -
se ou interditar um parente vivem um conflito, e a solução dessa solução conflituosa exige a intervenção do judiciá-
rio.

As características gerais da jurisdição voluntária , porém, são aceitas, pela doutrina, em sua maioria:
a) Atividade estatal de integração (da vontade do interessado) e fiscalização, pois os efeitos jurídicos almejados
somente poderão ser obtidos após a atuação do Estado-juiz, que o faz após a fiscalização dos requisitos legais (é
por isso que se diz que não haveria voluntariedade alguma, mas, sim, obrigatoriedade). A obrigatoriedade é decor-
rência exclusiva da previsão legal, significando uma opção do legislador de condicionar o efeito jurídico de determi-
nadas relações jurídicas, em razão de seu objeto e/ou de seus sujeitos, à intervenção do juiz, provavelmente em
razão do status de imparcialidade, retidão de conduta e compromisso com a justiça que todos os juízes devem ter;
 Leonardo Greco conceitua a jurisdição voluntária como “uma modalidade de atividade estatal ou judicial em que
o órgão que a exerce tutela assistencialmente interesses particulares, concorrendo com o seu conhecimento ou
com a sua vontade para o nascimento, a validade ou a eficácia de um ato da vida privada, para a formação, o
desenvolvimento, a documentação ou a extinção de uma relação jurídica ou para a eficácia de uma situação fática
ou jurídica”.

b) Aplicam-se as garantias fundamentais do processo e as garantias da magistratura (quanto aos poderes


processuais, a doutrina aponta a característica da inquisitoriedade – o juiz pode tomar decisões contra a vont ade
dos interessados e ter a iniciativa do procedimento, como nos arts. 738, 744, 746, do CPC – e a característica da
possibilidade de decisão fundada em equidade – não observar a legalidade estrita e usar de discricionariedade,
decidindo de acordo com os critérios de conveniência e oportunidade, como afirma o art. 723, parágrafo único, do
CPC, ainda que contrariamente à lei, situação que, para a época, era bem interessante, mas que, hoje, somente diz
o que já se sabe);

c) Procedimentalmente falando, há regras comuns (arts. 719/725, CPC) e especiais (arts. 726 e seguintes,
CPC);

d) Em todos os procedimentos de jurisdição voluntária, por força do art. 178, CPC, o MP somente será ouvido nos
casos ali indicados (art. 721, CPC). O STJ tem entendido que a intervenção do MP não deve se dar nos procedi-
mentos de alienação, locação e administração da coisa comum e alienação de quinhão em coisa comum, mas, tão-
somente, nas questões que envolvam os direitos indisponíveis, comprovando, concretamente, uma das causas do
art. 178, CPC.

Classificação dos procedimentos de jurisdição voluntária (Leonardo Greco):

a) Receptícios (registrar, documentar ou comunicar manifestação de vontade), como as notificações, interpelações


e protestos;
b) Probatórios (produção de prova é o limite), como a justificação. A produção antecipada de prova é discutível se
voluntária ou contenciosa;
c) Declaratórios (limita-se a declarar a existência ou inexistência de uma situação jurídica), como na extinção de
usufruto, da posse em nome do nascituro e na confirmação do testamento particular;

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d) Constitutivos (a criação, a modificação ou extinção de uma situação jurídica dependem da concorrência da
vontade do juiz, por meio de autorizações, homologações, aprovações etc.), como a interdição, a emancipação, o
arrendamento ou oneração de bens de incapazes, a locação de coisa comum, o alvará para a venda de bens de
incapazes;
e) Executórios (Estado-juiz exerce atividade prática que modifica o mundo exterior), como a alienação de coisas,
a administração de coisa comum, a arrecadação de herança jacente etc.;
f) Tutelares (envolve a proteção de determinadas pessoas que se enc ontram em situação de desamparo), como
a nomeação ou remoção de tutores/curadores, a exibição de testamento.
José Frederico Marques trata de jurisdição voluntária da seguinte forma: “é atividade resultante de negócio jurídic o
que se exige um ato do Estado, para que o negócio se realize ou complete”. Acrescenta que, como função, ela tem
natureza administrativa, do ponto de vista material, e é ato judiciário, do ponto de vista subjetivo ou orgânico; em
relação às suas finalidades, é função preventiva e também constitutiva. Na jurisdição voluntária não há lide, mas
somente administração pública de interesses privados. É uma das funções do Estado, confiada ao Poder Judiciário,
em virtude da idoneidade, responsabilidade e independência dos juízes perant e a sociedade, visando evitar litígios
futuros, ou irregularidades e deficiências na formação do ato ou negócio jurídico. Quanto ao conceito da jurisdição
voluntária, está muito longe de ser pacificado na doutrina pátria, existindo correntes que procuram explicar sua
natureza sobre três atividades: a administrativa, a jurisdicional e a autônoma. Entretanto, nenhuma possui una-
nimidade.
 A jurisdição voluntária como administração pública de interesses privados (natureza administrativa) é a
primeira corrente e ideia que prevalece na doutrina brasileira, conforme concepção de José Frederico Marques.
Os principais argumentos, segundo Ovídio Baptista, de que se valem os juristas para demonstrar a natureza ad-
ministrativa dos atos de jurisdição voluntária, são:
a) A jurisdição contenciosa tem caráter repressivo e a jurisdição voluntária tem caráter preventivo do litígio;
b) Aquela tem função meramente declaratória enquanto esta tem função constitutiva, haja vista que se destina à
formação de atos e negócio jurídicos;
c) A jurisdição voluntária não comporta o princípio do contraditório, não existindo, portanto, partes, mas simples
interessados;
d) A jurisdição contenciosa corresponde a uma forma de atuação do direito objetivo, enquanto a jurisdição voluntária
visa realizar certos interesses públicos subordinados ao direito.

 A jurisdição voluntária como atividade jurisdicional (natureza jurisdicional) é a segunda corrente, minoritária,
mas que vem ganhando adeptos, como Calmon de Passos, Ovídio Baptista e Leonardo Greco. A corrente dou-
trinária que entende que a jurisdição voluntária tem natureza jurisdicional justifica-se ao afirmar que toda atividade
jurisdicional depende da iniciativa da parte interessada, sendo feita mediante o ajuizamento de uma ação. Ora,
existindo ação, existirá processo e consequentemente jurisdição. São suas premissas:
a) Não se pode dizer que não há lide, bastando, para tanto, os exemplos da interdição e da retificação de registro.
A lide não precisa vir afirmada em petição inicial. Os casos de jurisdição voluntária são potencialmente conflituosos
e é por isso que são submetidos à apreciação do Poder Judiciário e que se impõe a citação dos possíveis interes -
sados;
b) A única definição possível de jurisdição se baseia em seu aspecto subjetivo: jurisdição é ativi dade exercida por
juízes. A jurisdição voluntária é, assim, inevitável;
c) O processo é categoria que pertence à teoria geral do direito e é por isso que se fala em processos legislativo,
administrativo, negocial e jurisdicional. Não se pode negar, portanto, a existência de um processo na jurisdição
voluntária (que se exerce por meio das formas processuais conhecidas, como a petição inicial, sentença, apelação
etc.), ainda que um processo administrativo. É, também, procedimento em contraditório;
d) O juiz atua para atender interesse privado, como terceiro imparcial. A administração, por sua vez, age no seu
próprio interesse, no interesse do Estado, da coletividade como um todo;
e) Se há processo e jurisdição, então há ação;
f) Há partes, com todos os direitos e deveres dela decorrentes. Dizer que porque não há litígio não há partes é
desconhecer comezinha distinção dogmática. Parte em sentido substancial é a parte do litígio, enquanto que parte
no sentido processual é o sujeito da relação jurídica processual;
g) A decisão proferida em sede de jurisdição voluntária tem aptidão para a formação da coisa julgada. Não há nada
no CPC que aponte em sentido contrário, pois até mesmo decisões que não examinam o mérito se tornam indiscu-
tíveis (art. 486, § 1º, CPC);

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h) Outro argumento de que a decisão proferida em jurisdição voluntária se submete à coisa julgada material advém,
por exemplo, da possibilidade de homologação de divórcio ou arrolamento consensuais em sede extrajudicial, desde
que não haja interesse de incapazes (Lei nº 11.441/2007), pois o CNJ entendeu que a via extrajudicial é opcional
(Resolução 35/2007). Assim, a homologação judicial confere às partes a indiscutibilidade da decisão, a coisa jul-
gada, algo além do que oferece o extrajudicial.

 A jurisdição voluntária como atividade autônoma (natureza autônoma) é a menos aceita na doutrina. Trata da
ideia de que a jurisdição voluntária não se enquadra nem como voluntária, nem como contenciosa, configurando
como categoria autônoma. Comunga dessa ideia Alcalá-Zamora, destacando que a jurisdição voluntária nem é
jurisdição, nem é voluntária, eis que não representa atividade de um órgão público para declarar o direito de uma
parte em face de outra, e porque muitas vezes o interessado é obrigado a obedecer à decisão de autoridade.

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QUESTÕES

1. Sobre a jurisdição, assinale a assertiva correta levando-se em consideração a sistemática processual


vigente (CPC/2015).

A) Os procedimentos de jurisdição voluntária não fazem coisa julgada.


B) Nos juizados especiais cíveis, desde que haja prévia autorização das partes, o árbitro pode julgar por equidade.
C) O Novo Código de Processo Civil brasileiro, seguindo a orientação do direito moderno, não mais prevê a exigên-
cia da identidade física do juiz.
D) Não é possível o julgamento de conflitos por tribunais administrativos, exceto pelos Tribunais de Contas.
E) A autotutela – forma mais antiga de solução dos conflitos, constitui-se, fundamentalmente, pelo sacrifício integral
do interesse de ambas as partes envolvidas no conflito em razão do exercício da força (imposição da vontade) pela
parte vencedora. Trata-se de solução vedada, por inteiro, nos ordenamentos jurídicos civilizados, podendo ser am-
plamente revista pelo Poder Judiciário.

2. O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional :

A) decorre da vedação ao non liquet.


B) relaciona-se com a autoridade da decisão judicial, que, uma vez transitada em julgado, se impõe independent e-
mente da vontade das partes.
C) aplica-se ao processo civil e significa a obrigatoriedade de o Juiz decidir todas as demandas que lhes são sub-
metidas.
D) permite ao julgador atuar fora dos limites definidos pelas regras de competência e de distribuição.
E) Há várias imposições constitucionais de esgotamento das vias extrajudiciais, dentre elas aquela relacion ada às
questões desportivas.

3. Em relação à jurisdição, é correto afirmar que

A) a jurisdição é deferida aos juízes e membros do Ministério Público em todo território nacional.
B) a jurisdição é una e indivisível, ao contrário da competência, que pode ser fracionada.
C) a jurisdição não abarca os casos não litigiosos, que são resolvidos na via administrativa.
D) A arbitragem, de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, é considerada como um equiva-
lente jurisdicional.
E) em nenhuma hipótese poderá o juiz exercer a jurisdição de ofício, sendo preciso a manifestação do interesse da
parte nesse sentido.

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GABARITO:

01) C.
02) A.
03) B

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