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Constelações familiares e campos morfogenéticos: breves

considerações

Shirlei Silmara de Freitas Mello1

1. Constelações familiares

Bert Hellinger nasceu na Alemanha, em 1.925. Sacerdote católico, trabalhou como


missionário entre os zulus, na África do Sul. “Uma formação ecumênica somada à
dinâmica de grupo fundada no diálogo, na fenomenologia e na experiência humana
marca para ele uma etapa decisiva”.2 Criou uma técnica terapêutica denominada
constelações familiares, que hodiernamente abrange os “movimentos da alma”. 3

Considerando que “tudo que existe está entrelaçado em um relacionamento sistêmico”,


é razoável afirmar que “dentro de um sistema, cada parte influencia o todo e o todo
influencia cada parte”4, existindo portanto uma economia do conjunto que, toda vez que
violada, provoca movimentos de recomposição de seu equilíbrio. Exemplo disso é a
assunção de atitudes que honram determinado membro da família por um membro mais
jovem que, inconscientemente, passa a apresentar comportamentos cunhados por
algum ancestral de quem nem tem conhecimento. Alguns acontecimentos no seio
familiar, tanto generosos e altruístas quanto desonestos e ilegais, irradiam seus reflexos
por gerações e gerações, criando dinâmicas que transcendem limites temporais e
geográficos, operando atitudes de compensação em havendo desequilíbrio no sistema,
caso tais processos não sejam reconhecidos e trabalhados. Alguns acontecimentos são
citados por Joy Manné5 como fatos geradores desses padrões de comportamentos

1
Estudante da 2ª turma de Formação em Constelações Sistêmicas do Espaço do Ser. Uberlândia, Minas
Gerais. shirleimello06@gmail.com.
2
MANNÉ, Joy. Constelações familiares em sua vida diária. São Paulo: Cultrix, 2008. P.13 ss..
3
BOCALLANDRO, Efraim R.; BOCALANDRO, Irene C. Constelação e campo morfogenético. Disponível em
<http://www.consteladoressistemicos.com/index.php/publicacoes/64-constelacao-e-campo-
morfogenetico-efraim-r-bocallandro-e-irene-cardotti-bocalandro?tmpl=component&print=1&page=>
Acesso em 10/04/15.
4
BOCALLANDRO, Efraim R.; BOCALANDRO, Irene C. Constelação e campo morfogenético. Disponível em
<http://www.consteladoressistemicos.com/index.php/publicacoes/64-constelacao-e-campo-
morfogenetico-efraim-r-bocallandro-e-irene-cardotti-bocalandro?tmpl=component&print=1&page=>
Acesso em 10/04/15.
5
Obra citada. P.16.
mencionados: “história dos relacionamentos de pais e avós, morte de uma criança muito
nova, aborto, parto prematuro, adoção, suicídio, guerra, exílio forçado, troca de religião,
incesto, antepassado agressor ou vítima, traição”. Confirma-se, nas constelações
familiares, o provérbio bíblico “ate a terceira e a quarta gerações”.6

2. Campos morfogenéticos

Efraim Bocallandro7, discorrendo sobre sua indagação acerca do modus operandi das
constelações familiares, no que tange às manifestações de sentimentos e sensações de
pessoas falecidas pelos representantes designados, elucida que “a resposta que surgiu
é que, no processo de constelação, entram energias virtuais (por serem muito sutis) que
determinam os efeitos, emoções e falas alheias ao representante. Essas energias virtuais
são consideradas por Rupert Sheldrake como campos morfogenéticos.”

Nas obras Nova ciência da vida e A Presença do Passado, Rupert Sheldrake8 sustenta que
a memória é algo intrínseco na natureza. Segundo o cientista, muitas das chamadas leis
naturais são mais como hábitos. Citando Francis Huxley, Sheldrake afirma que o livro
mais famoso de Charles Darwin poderia ser intitulado A Origem dos Hábitos, em vez de
A origem das espécies.

Sheldrake acredita que “a seleção natural de hábitos terá um papel essencial em


qualquer teoria integrada da evolução, incluindo não somente a evolução biológica, mas
também a evolução física, química, cósmica, social, mental e cultural (como discutido
em A presença do passado).”

Prossegue o biólogo, concluindo que “hábitos são sujeitos a seleção natural e quanto
mais frequentemente são repetidos, mais prováveis se tornam”, criando padrões de
comportamentos. “Animais herdam hábitos exitosos de suas espécies como instintos.
Nós herdamos hábitos corporais, mentais, emocionais e culturais, incluindo os hábitos
de nossas línguas.”

6
Obra citada P. 17.
7
Obra citada. P. 2.
8
SHELDRAKE, Rupert. Ressonância mórfica e campos mórficos: considerações introdutórias. Disponível
em <http://www.sheldrake.org/research/morphic-resonance/introduction>. Acesso em 17/04/15.
Discorrendo sobre campos da mente, ou campos mentais, R. Sheldrake elucida que “os
campos mórficos subjazem à nossa atividade mental e a nossas percepções, e levam a
uma nova teoria da visão, como discutido em A sensação de estar sendo observado. A
existência desses campos é experimentalmente testável através da própria sensação de
estar sendo observado.” É possível consultar resultados experimentais e participar da
pesquisa por meio do site (http://www.sheldrake.org/participate/online-staring-
experiment).

Estatui que “os campos mórficos de grupos sociais interligam os membros do grupo,
mesmo quando eles estão a muitos quilômetros de distância, e proporcionam canais de
comunicação por meio dos quais organismos podem ficar em contato à distância. Eles
ajudam a fornecer uma explicação para a telepatia.” Assevera que há sólidas evidências
de que “muitas espécies de animais são telepáticas, e telepatia parece ser um meio
normal de comunicação animal, como discutido” na obra Cães que sabem quando seus
donos estão voltando para casa. Segundo Sheldrake, “a telepatia é normal e não
paranormal; natural não sobrenatural”, e também é comum entre seres humanos,
especialmente entre pessoas que se conhecem bem. Nesse tocante, posso citar dois
exemplos pessoais: a) minha mãe completa as frases que começo e capta profundamente
meus sentimentos, independentemente de minhas falas; b) tenho uma ex-aluna, hoje
amiga, que percebe meus pensamentos e não consegue ficar diante de mim em ocasiões
em que não posso ou não devo expressar o exato conteúdo de minhas ideias, pois sabe
perfeitamente o que se passa em meu interior e não consegue se conter.

O que se segue já aconteceu em minha experiência pessoal inúmeras vezes: “conexão


com chamadas telefônicas. Mais de 80% da população disseram ter pensado em alguém
sem nenhuma razão aparente”, e a pessoa telefonou; ou afirmaram que já sabiam quem
estava do outro lado da linha antes de pegar o telefone, de uma forma que parece
telepática.

Sheldrake esclarece que “os campos mórficos de atividade mental não estão confinados
ao interior de nossas cabeças. Eles se estendem muito além do nosso cérebro, apesar da
intenção e da atenção.” Muito já se estudou sobre campos que se propagam além dos
objetos materiais a que se vinculam: “por exemplo, os campos magnéticos se desdobram
para além das superfícies de ímãs; o campo gravitacional da Terra se estende muito além
da superfície” planetária, mantendo a lua em sua órbita; e os campos de um telefone
celular se estendem muito além do próprio telefone. Da mesma forma, os campos de
nossas mentes vão muito além de nossos cérebros.”

Por derradeiro, no material citado9, Sheldrake sintetiza a teoria dos campos mórficos10:

1. São totalidades (entidades, unidades, todos) auto-organizativas.


2. Apresentam um aspecto tanto espacial quanto temporal, e organizam
padrões espaço-temporais de atividade vibratória ou rítmica.
3. Atraem os sistemas sob a sua influência para a adoção de formas
características e padrões de atividade, cujo vir-a-ser eles organizam e cuja
integridade eles mantêm. Os fins ou metas para as quais os campos
mórficos atraem os sistemas sob sua influência são chamados atratores.
As vias pelas quais os sistemas normalmente alcançam esses atratores são
chamadas chreodes.
4. Os campos mórficos se inter-relacionam e coordenam as unidades
mórficas ou hólons que se encontram dentro deles, que por sua vez são
totalidades organizadas pelos campos mórficos. Os campos mórficos
contêm outros campos mórficos em uma hierarquia aninhada ou
holarquia.
5. Eles são estruturas de probabilidade, e sua atividade organizativa é
probabilística.
6. Eles contêm uma memória embutida (intrínseca) dada pela auto-
ressonância com o próprio passado de uma unidade mórfica e por
ressonância mórfica com todos os sistemas similares anteriores. Esta
memória é cumulativa. Quanto mais vezes determinados padrões de
atividade são repetidos, mais habituais eles tendem a se tornar. (g.n.)

Nesse diapasão, Zaquie C Meredith11 afirma que

MÓRFICA é o processo pelo qual o passado se torna presente dentro dos


campos mórficos. A memória dentro dos campos mórficos é cumulativa e
é por isso que todo tipo de coisa se torna cada vez mais [a somatória de]
hábitos através da repetição. E, quando essa repetição ocorre numa escala
astronômica de bilhões de anos, como tem acontecido com muitos tipos
[de] átomos, moléculas e cristais, a natureza dessas coisas se tornou [tão]
profundamente “habitual” que é quase imutável ou até parece eterna.

9
SHELDRAKE, Rupert. Ressonância mórfica e campos mórficos: considerações introdutórias. Disponível
em <http://www.sheldrake.org/research/morphic-resonance/introduction>. Acesso em 17/04/15.
10
1. They are self-organizing wholes. 2. They have both a spatial and a temporal aspect, and organize
spatio-temporal patterns of vibratory or rhythmic activity. 3. They attract the systems under their
influence towards characteristic forms and patterns of activity, whose coming-into-being they organize
and whose integrity they maintain. The ends or goals towards which morphic fields attract the systems
under their influence are called attractors. The pathways by which systems usually reach these attractors
are called chreodes. 4. They interrelate and co-ordinate the morphic units or holons that lie within them,
which in turn are wholes organized by morphic fields. Morphic fields contain other morphic fields within
them in a nested hierarchy or holarchy. 5. They are structures of probability, and their organizing activity
is probabilistic. 6. They contain a built-in memory given by self-resonance with a morphic unit's own past
and by morphic resonance with all previous similar systems. This memory is cumulative. The more often
particular patterns of activity are repeated, the more habitual they tend to become.
11
Disponível em <http://zaquie.com/?page_id=247 >. Acesso em 06/04/15.
Conforme preleciona Antonio Silvio Hendges12, “os campos morfogenéticos ou campos
mórficos são campos que levam informações, não energia, e são utilizáveis através do
espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade depois de ter[em] sido criado[s].
Eles são campos não físicos que exercem influência sobre sistemas que apresentam
algum tipo de organização inerente.” Referem-se a “todas as coisas que têm formas e
padrões, estruturas ou propriedades auto organizativas”. No bojo do texto, refere-se à
teoria criada por Rupert Sheldrake13, esclarecendo que “há uma espécie de memória
integrada nos campos mórficos de cada coisa organizada”, de modo que as
regularidades da natureza (padrões, repetições) seriam na verdade hábitos.

De acordo com José Tadeu Arantes, 14

Se for definitivamente comprovado que os conteúdos mentais se


transmitem imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa propriedade terá
aplicações óbvias no domínio da educação. (...) E essa possibilidade vem
sendo testada na Ross School, uma escola experimental de Nova York
dirigida pelo matemático e filósofo Ralph Abraham. Outra conseqüência
ocorreria no campo da psicologia. Teorias psicológicas como as de Carl
Gustav Jung e Stanislav Grof, que enfatizam as dimensões coletivas ou
transpessoais da psique, receberiam um notável reforço, em contraposição
ao modelo reducionista de Sigmund Freud (leia o artigo "Nas fronteiras da
consciência", em Globo Ciência nº 32).
Sem excluir outros fatores, o processo de ressonância mórfica forneceria
um novo e importante ingrediente para a compreensão de patologias
coletivas, como o sadomasoquismo e os cultos da morbidez e da violência,
que assumiram proporções epidêmicas no mundo contemporâneo, e
poderia propiciar a criação de métodos mais efetivos de terapia.
‘A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja
ele bom ou mal’, afirmou Sheldrake a Galileu. ‘Por isso, cada um de nós é
mais responsável do que imagina, pois nossas ações podem influenciar os
outros e serem repetidas’.

3. Conclusão

Diante do exposto, conclui-se que as constelações familiares são instrumentos de cura


profunda e duradoura, uma vez que atuam sobre os campos morfogenéticos, de modo
a ensejar movimentos em direções diferentes dos produzidos inconscientemente em

12
HENDGES, Antonio Silvio. A Teoria dos Campos Mórficos. Disponivel em
<.http://escoladeredes.net/profiles/blogs/a-teoria-dos-campos-morficos>. Acesso em 17/04/15.
13
Uma Nova Ciência da Vida (A New science of life, 1981), citado por Antonio Silvio Henges.
14
ARANTES, José Tadeu. Ressonância mórfica: a teoria do centésimo macaco. Disponível em
<http://galileu.globo.com/edic/91/conhecimento1.htm > Acesso em 17/04/15.
determinado sistema. Desvendados certos emaranhamentos geradores de dor e/ou
sofrimento, surgem novas possibilidades de equilíbrio e amor, mediante o
reconhecimento dos fatos e a aceitação daquilo que é, sem julgamento.

Ademais, o manejo das técnicas das constelações na Pedagogia sistêmica e no Direito


sistêmico descortina horizontes ainda mais amplos, na direção da diminuição de
conflitos e da solução pacífica e permanente de questões que surjam nos contextos de
educação e de aplicação do Direito.

Referências

ARANTES, José Tadeu. Ressonância mórfica: a teoria do centésimo macaco. Disponível em


<http://galileu.globo.com/edic/91/conhecimento1.htm > Acesso em 17/04/15.

BOCALLANDRO, Efraim R.; BOCALANDRO, Irene C. Constelação e campo morfogenético.


Disponível em <http://www.consteladoressistemicos.com/index.php/publicacoes/64-
constelacao-e-campo-morfogenetico-efraim-r-bocallandro-e-irene-cardotti-
bocalandro?tmpl=component&print=1&page=> Acesso em 10/04/15.

HENDGES, Antonio Silvio. A Teoria dos Campos Mórficos. Disponível em


<.http://escoladeredes.net/profiles/blogs/a-teoria-dos-campos-morficos>. Acesso em
17/04/15.

MANNÉ, Joy. Constelações familiares em sua vida diária. São Paulo: Cultrix, 2008.

MEREDITH, Zaquie C. A Presença do Passado - Rupert Sheldrake. Disponível em


<http://zaquie.com/?page_id=247 >. Acesso em 06/04/15.

SHELDRAKE, Rupert. Ressonância mórfica e campos mórficos: considerações introdutórias.


Disponível em <http://www.sheldrake.org/research/morphic-resonance/introduction>. Acesso
em 17/04/15.

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