You are on page 1of 20

Hanna Arendt (Hanôver, 1906 – Nova York, 1975)

A preocupação de Arendt concentra-se nos “instantes raros que


são aqueles nos quais se revela com maior intensidade as
determinações essenciais do político, isto é, a capacidade
humana de agir de forma concertada e discutir publicamente
assuntos de interesse comum. Arendt não é uma teórica
sistemática da política, mas uma pensadora do político em sua
excepcionalidade, ou seja, uma pensadora do político como
evento, como instauração da novidade deixada impensada pela
tradição do pensamento político ocidental”
Duarte, André, Modernidade, biopolítica e violência: a crítica
arendtiana do presente, p.38.
Pensamento sobre a Ação Política e a
formação do Espaço Público na Polis grega.
• As 3 atividades humanas fundamentais que constituem o ideal grego de “Vita
Activa”, ou seja,
1º.Labor:
é a atividade que existe para produzir tudo que é vital ao homem, onde ele
(aqui tratado como animal laborans) retira da natureza tudo que é necessário
para a manutenção da vida, mostrando o caráter biológico dessa atividade
ligada ao naturalismo radical do ser humano. Atividade vinculada à
conservação da espécie e da vida enquanto tal, é a que mais aproxima o ser
humano dos animais.
2º. Trabalho:
é a atividade de transformação da natureza, onde o homem é tratado
como homo faber (fabricador), e tem como virtude intelectual a "techné"
(capacidade raciocinada de produzir, inteligência produtora, técnica). O
trabalho produz um mundo artificial entre o homem e a natureza: os objetos
de uso, a poiésis (obra) que continua na Terra, estabelecendo uma morada
para o homem. O criador morre e a obra vive: os objetos do trabalho
possuem durabilidade, objetividade, reversibilidade, além de permanência à
futilidade humana.
3ª Ação:
• Retomando o conceito de homem em Aristóteles – animal político, ou
seja, “ser vivo dotado de fala” -, Arendt diz que, para os gregos, os
bárbaros, que não viviam na Polis, eram destituídos de fala, de “um
modo de vida no qual o discurso e somente o discurso tinha sentido e
no qual a preocupação central de todos os cidadãos era discorrer uns
com os outros” .
• Assim, na concepção original grega de política, diferentemente da
companhia natural da espécie, para satisfazer as necessidades da vida
biológica, o que caracteriza a vida na polis era a ação política que se
efetivava na cena publica pela ação (práxis) e pelo discurso (lexis).
(Arendt, Hannah. A Condição Humana, p. 36)
• Refletindo o condicionamento da vida em comum sobre as
atividades humanas – o labor, a fabricação e a ação –, Arendt
afirma que a ação é a única atividade que “não pode sequer
ser imaginada fora da sociedade dos homens” , além de
depender inteiramente da constante presença dos outros, e
por isso mesmo, “só a ação é prerrogativa exclusiva dos
homens” (Arendt, Hannah. A Condição Humana, p.31.)
Diferentemente das necessidades biológicas do individuo
ou da conservação da espécie, a manifestação da ação e da
palavra lida com algo que é estritamente humano e
“nenhum ser humano pode abster-se sem deixar de ser
humano”.
Arendt, Hannah. A Condição Humana, p. 36.
• Locus (locais) das atividades humanas:

1) Espaço Privado = Labor e Trabalho.

2) Espaço Público = Ação de Discurso Político.


• Distinguindo duas esferas da vida na polis, a casa (oikia),
lugar da família, esfera da vida privada; e a esfera dos
negócios humanos, ou seja, a esfera pública, a autora nos
informa que diferentemente da força e da violência,
características próprias do despotismo doméstico, ser
político na Polis significa que tudo era decidido mediante
palavras e persuasão – a retórica, de acordo com Aristóteles.
Esfera Privada:
• Unindo as pessoas por suas necessidades e carências, a
esfera privada na Polis grega tinha a função da manutenção
da vida individual e da espécie. Para atingir tais objetivos, a
família utiliza a violência e a força como meio de vencer a
necessidade e alcançar a liberdade. Apesar de não ser a
finalidade da vida na Polis, a esfera privada era necessária na
medida em que “a vitória sobre as necessidades da vida em
família constituía a condição natural para a liberdade da
Polis”.
(Arendt, Hannah. A Condição Humana, p. 40).
• Casa = Desigualdade e depotismo.
• Ágora = Isonomia e liberdade.

• Se por um lado, a esfera da Polis era a esfera da liberdade e se


diferenciava da família pelo fato de somente conhecer “iguais”, a família
era o centro da mais severa desigualdade.

• A liberdade na Polis significava ao mesmo tempo “não estar sujeito às


necessidades da vida nem ao comando de outro e também não
comandar”, ou seja, a igualdade na Polis era a essência da própria
liberdade, na medida em que esta significava “viver entre pares e lidar
somente com eles. (...) Ser isento da desigualdade presente no ato de
comandar, e mover-se numa esfera aonde não existe governo nem
governados” .
(Arendt, Hannah. A Condição Humana, p. 42)
• Porem, a igualdade na Polis, o privilégio de viver entre pares,
não significava a homogeneidade dos cidadãos. A esfera
publica era permeada pelo espírito de acirramento, era o
espaço onde cada homem tinha que constantemente se
diferenciar de todos os outros, de mostrar através de seus
feitos e discursos que era o melhor de todos; realizações
estas que transbordavam a própria existência dos indivíduos.
Assim, é na esfera pública que o cidadão deixava sua marca,
sua obra no mundo, como um ser singular.
• Para Arendt, a pluralidade humana é a condição básica da ação e
encerra um duplo aspecto:
• um de igualdade, na medida em que possibilita os homens se
relacionarem entre si, com seus ancestrais e com os que vierem a
existir (ou seja, constitui uma comunidade);
• é uma diferenciação, na medida em que, se fossem todos iguais, os
homens não precisariam da palavra para exprimir suas vontades.
Outra característica desta diferenciação entre os seres humanos, é
que somente o homem é capaz de comunicar a si mesmo.
• Assim, “a pluralidade humana é paradoxal pluralidade de
seres singulares” , que só vem à tona pela ação e pelo
discurso.

• Deste modo, a ação e o discurso são os modos pelos quais os


seres humanos manifestam-se uns aos outros, não como
meros seres biológicos ou elementos físicos, mas enquanto
homens.
(Arendt, Hannah. A Condição Humana, p.189)
• Para o homem da Polis, viver a sombra do mundo privado tem um
sentido de privação; viver uma vida inteiramente privada significa,
acima de tudo “ser destituído de coisas essenciais à vida
verdadeiramente humana: ser privado da realidade de que advém
do fato de ser visto e ouvido por outros, privado de uma relação
´objetiva` e eles decorrente do fato de ligar-se e separar-se deles
mediante um mundo de coisas, e privado da possibilidade de
realizar algo mais permanente que a própria vida”

(Arendt, Hannah. A Condição Humana, p.68).


• A ERA MODERNA:

• Diferentemente da concepção grega de ação política, no


uso moderno e na moderna concepção de sociedade a
confusão entre a esfera pública e a esfera social se
agravou. Se na Polis grega a esfera privada e a pública
eram espaços distintos e essenciais para a vida política dos
cidadãos, na sociedade moderna, com a ascensão “do
social”, que não é nem público nem privado, a forma
política predominante passou a ser o Estado Nacional.
• . No social, cuja origem coincide com o surgimento da era
moderna, a “linha divisória que separa o público do privado
é inteiramente difusa, porque vemos o corpo de povos e
comunidades políticas como famílias cujos negócios diários
devem ser atendidos por uma administração doméstica
nacional” , tento a economia-política como pensamento
correspondente.
• (Arendt, Hannah. A Condição Humana, p.39)
• Como a esfera da família na Grécia Antiga, a esfera
social da moderna sociedade de massas exclui
qualquer possibilidade para a ação, que foi substituída
pelo comportamento. Impondo inúmeras regras de
condutas, normalizadoras, aos seus membros, a esfera
social aboliu toda ação espontânea e inusitada. Tudo
na sociedade é passivo de equalização e controle por
meio da estatística, principal instrumento que só
capta, dentro de uma grande escala de população e
em um longo período de tempo, o homogêneo e
previsível.

You might also like