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1960 E 1980.
Licenciada em História pela Universidade do Estado do Amazonas; e-mail: daysemhp@gmail.com;
mestranda em Sociedade e Cultura na Amazônia – UFAM.
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Sobre qual dos cinemas funcionava a mais tempo, o senhor Raimundo José da
Silva Neto, frequentador nos anos 1970 afirma que:
Era o Cine Saul por que antes era o Cine Moderno, na época, Cine Brasil.
Acho que pra mim foi um dos primeiros que Parintins possuiu,na época
como cinema né, por certo tempo eu gostava mais do Cine Oriental.
O relato do senhor Raimundo Silva demonstra o Cine Saul como o antigo Cine
Teatro Brasil, onde outro empresário, o senhor José Saul procurou investir fazendo-o
funcionar denominando o cinema com seu nome. Posteriormente passou a funcionar o
Cine Oriental em outro ponto da cidade (SILVA, 2008:163).
O Cine Saul é detalhado pelo Sr. Raimundo que evidencia até sua localização
“na esquina com a rua João Melo e a Faria Neto, onde é hoje o Show dos calçados”,
fazendo uma ligação o passado e presente mostrando que no mesmo local onde hoje é
um comércio, já abrigou um lugar de grande importância para ele, a qual ficaram
lembranças. O lugar representa o interesse, mesmo que hoje tenha outra estrutura, o
espaço sempre vai representar o Cine Saul. A respeito da relação passado/presente, Le
Goff (1992:51) afirma que toda a história é duração, atual, na medida em que o passado
é apreendido no presente e responde, portanto, aos seus interesses, sendo inevitável e
também legítimo.
O senhor Raimundo Silva apresenta em suas memórias o período em que
frequentava o Cine Saul na fase de transição entre a infância e a adolescência onde a
imagem do Cine Saul caracterizava-se pela bela estrutura física do prédio, suas sessões
diárias onde se vivenciava emoções individuais e coletivas. Com a demolição do prédio
do Cine Saul, a tristeza e a saudade marcam bastante as memórias dos que vivenciaram
o cinema em sua história de vida, pois, segundo Raimundo Silva:
[...] o prédio, o cine Saul foi demolido [...] como ele era na época né,hoje já
ta tudo diferente, demoliram. Quem conheceu, na época, hoje olha pra lá só
lembrança, só lembrança, do prédio que era, era um prédio estilo naquele
estilo bem antigo né, e hoje se vê uma coisa que muito diferente, quem
lembra hoje já passa por lá diz que nunca existiu o Cine Saul pra estrutura
que tinha era assim.
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Com este relato percebe-se que é difícil a crença de ter existido um cinema no
ponto em que já funcionou o Cine Teatro Brasil e que posteriormente se tornou o Cine
Saul. Como o próprio Raimundo Silva retrata, ao olhar para o prédio atual, quem não
tem conhecimento da existência do cinema nessa área nem imagina a ocorrência desse
fato. Esta descrença se firma pela estrutura que o prédio possuía:
Era diferente, era bem diferente, ele tinha uns pilares [...] tipo aqueles
prédios romanos, muito bonitos os pilares e aquilo ali foi demolido, e ficou,
eu acho, não sei muitas pessoas na época foram contra a demolição daquele
prédio ali deveria ser um marco histórico pra Parintins, e eles demoliram
aquilo ali e não se sabe qual foi a ideia que os donos tiveram, mais se até
hoje existisse aquele prédio, pra mim seria uma fonte histórica pra
Parintins,entendeu, aquele prédio, por que era muito bonito,era muito bonito
o prédio, quem conheceu, sabe.
Ao evidenciar que o Cine Saul poderia ser uma “fonte”, o senhor Raimundo
demonstra que caso o cinema funcionasse, ou mesmo, fosse conservado, este lugar
poderia ser um patrimônio, “marco” da história parintinense. Porém, os que vivenciaram
a experiência das salas de cinemas indagam a demolição do cine Saul. Conforme afirma
SILVA (2008, p.163):
Outro cinema que funcionou em Parintins entre os anos de 1960 a 1980 foi o
Cine Oriental. A respeito do Cine Oriental, foi fundado no dia 26 de dezembro de 1964
pelo senhor Alberto Kasunori Kimura, nipônico apaixonado por fotografias.
Localizado na Rua Faria Neto, próximo a Rua Senador Álvaro Maia, o Cine
Oriental inicialmente se resumia em um salão. Posteriormente foi ganhando
investimentos em sua estrutura física, dando mais conforto e comodidade à população
que prestigiava os filmes. A estrutura física do prédio compreendia a 10 metros de
largura por 33 metros de fundo, sendo espaço composto primeiramente por 150
cadeiras, depois o número aumentou 450 assentos. O Cine Oriental possuía uma
máquina de projeção de 16 milímetros, com o tempo, passou a ter outras máquinas
devido sua ampliação, e assim projetar com uma máquina de 35 milímetros movida a
carvão1 (FILHO, 2007).
Com os dois cinemas, o público dividia sua preferência. Para senhor
Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos, antigo frequentador do Cine Oriental e do Cine
Saul, sua vida tem grande influência de suas idas ao cinema, principalmente do Cine
Oriental onde o mesmo vivenciou momentos marcantes de sua vida neste espaço de
memória:
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FILHO, Alberto Kimura.O Cinema em Parintins. Parintins, UEA, s/d, 2007. Os primeiros passos do
Cine Oriental. Entrevista concedida a Maria de Jesus Muniz de Souza.p.27-28.
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Quando tocava aquela musica a gente tava, a gente morava ali na Raimundo
Almada né, Itaguatinga. Quando tocava aquela musica sempre dava uma
emoção na gente, antes de, quando antes de começar o cinema né, tocava
uma musica assim. Anunciando que já ia começar o filme. [...] chega tocava
no coração da gente. [...] Era muito legal. Chama a atenção do povo.
(Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos)
sua emoção através das músicas que alertavam a abertura do prédio para as sessões.
Conforme nos relata a colaboradora:
[...] eles colocavam uma música que até hoje quando o Parintins sai, eles
colocam sabe, sei lá aquela musica me chamava a atenção, eu achava tão
legal,tão.. não sei nem te explicar bem só sei que , gostava, bem a partir das
5 horas já começa a tocar a musica e aquilo me atraia sabe, me chamava
atenção, eu gostava. Era no Cine Oriental que tocava essa música. (Ilza de
Azevedo Batalha)
Então os cinemas que existiam, que era o Cine Saul “Cine Moderno” e
depois Cine Oriental [...] eles terminaram, porque até mesmo assim, , acho
por que devido, depois com o desenvolvimento, veio a televisão
entendeu,depois que apareceu, a televisão já foi caindo mais o cinema
porque todos os filmes que passavam no cinema a televisão começou também
a mostrar,então geralmente o pessoal já não ia mais pagar ou então sair de
casa pra assistir no cinema,e isso foi, digamos assim, tornou-se mais difícil
pro cinema, foi se acabando, se acabando e pra mim isso ai foi mais a
televisão fez com que os cinemas fechassem as portas na época.
memórias eram “Naquela época era o Charles [...] Charplim. É, Charles Chaplin.
Naquela época, era o Bang Bang. Preto em branco era a nossa diversão [...]. Era tudo
legendado, mais era legal”.
O cinema mudo e em imagem preta e branca, iconizada pelo ator Charles
Chaplin, encantou e encanta gerações que assistem seus filmes, como o caso do senhor
Raimundo Batalha que fala também sobre a paralisação das exibições dos filmes no
cinema com bastante nostalgia. Sobre o fim das sessões de cinema, em particular, o
Cine Oriental, o colaborador pondera que “o dono faleceu e não tinha outra pessoa pra
continuar [...] acabou fechando [...] Triste”. Percebe-se que o funcionamento do cinema,
para o mesmo, estava profundamente ligado a presença do dono, idealizador do Cine
Oriental, como se a ausência do mesmo não desse motivo para o cinema funcionar. O ex
frequentador relembra como o cinema atraía a população:
Contribuía pra cultura. [...] Corria naquela época corria muito dinheiro. O
preço do ingresso [...] Eles faziam aquelas promoção. Colocavam os cartaz
na frente. Pra chamar atenção da juventude, adolescente, naquela época, o
pessoal gostava. De ingresso. Ai a vez era 100 cruzeiro naquela época, eles
baixavam pra 50 cruzeiros naquela época, gostavam muito, e era muito
divertido. (Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos)
diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada, dada a ler”.
(CHARTIER, 1990, p. 40)
Eram dois. Cine Oriental primeiro e Cine Oriental segundo. Primeiro o Cine
Oriental primeiro, depois é [...] assim: porque tinha muita procura naquela
época, pois o cinema tava no auge. Então era muitas pessoas, muita gente,
então a minha tia, ela organizou outro que não era bem um cinema era uma
fábrica, mais eles organizaram, uma fábrica de guaraná, hoje aquele terreno
ele é do filho da minha tia, do Ademar (Helena Silva)
Nisso, constituiu-se dois Cinemas Orientais: o Cine Oriental Primeiro e o Cine Oriental
Segundo (figura 4), o último satiricamente denominado “buraco quente”, devido seu
espaço ser menor e a sua constante lotação, o que deixava o ambiente abafado.
A imagem ela era cinemascope, tinha uns filmes pelo cinemascope, que era
aquelas telas maiores, e, mais a maioria era cinemascope
mesmo.[...]colorido[...]por que antes era em preto e branco quando era
aquelas fitas de 16 mm, depois que passou pra 33, 36 mm melhorou[...]é
porque antes era 16 mm que era, era preto e branco mesmo, era menor a tela
e sabe que com a evolução da tecnologia e tudo né aquelas coisas vão se
modificando, e nos anos 70 houve uma mudança muito grande com relação
ao cinema, então quando as fitas vinham elas já eram em 33, [...] era
colorido, a tela bem maior, ficou muito diferente, melhor mesmo(Helena
Silva)
Quando o cinema fechou, ele fechou duas vezes. Quando ele fechou foi na
época que minha prima casou, depois , casei, ai profissionais não tinha. Pra
ele tornar a funcionar a minha tia teve que chamar minha prima. então era
muito complicado, a gente casa, passa a ter a nossa família,e tudo, e lá o
marido as vezes não quer, não deixa, mais mesmo assim a minha prima foi e
voltou a funcionar, [...]. (Helena Silva, 52 anos)
Tinha condições. eu acredito que sim, que Parintins é uma cidade folclórica,
conhecida mundialmente, não é verdade?Pela cultura e porque que não no
cinema? Por que tá faltando o olho de alguém, uma iniciativa, e esse alguém,
pra mim no meu ver seria assim mesmo do Poder Executivo, no caso, então
chamaria, quem é o dono? Ir chamar, vamos ver o porquê que o cinema
fechou [...]. (Helena Silva, 52 anos)
Entre outras características foi constatado pelos relatos dos colaboradores que
os cinemas possuíam boa estrutura física, no entanto, tinhas suas peculiaridades. O Cine
Saul é lembrando como um grande monumento, de belos traços, com uma área interna
ampla, e o senhor Raimundo José da Silva Neto, 52 anos, afirma que este cinema “era
amplo, mas, só com ventiladores. O Cine Saul não possuía o ar refrigerado, como
possuía o Cine Oriental; era no ventilador na época e as cadeiras eram de madeira”. O
mesmo considera que o Cine Saul tinha um espaço amplo, fazendo comparação com o
Oriental ele evidenciou que os donos do Cine Oriental investiam bastante em conforto,
exemplo disso é o ar refrigerado, climatizando de maneira agradável o ambiente da sala
de exibição:
Os dois cinemas são estimados por suas características físicas, pelas películas
que exibiam e as memórias dos bons momentos de diversão que proporcionam aos
parintinenses. Assim, sua importância reside num fato: o cinema faz parte da história,
não apenas da história cultural e social, mas como da história de cada pessoa que
vivencia ou vivenciou o cinema.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SILVA, Edda Meirelles da. Ecos da Saudade. Manaus: Edições do Autor, 2008.376 p.
Iconografias (Fotos)