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A Escola Formalista de Viena

É necessário analisar os antecedentes do Formalismo, pois como qualquer


corrente, esta constitui-se como uma oposição a algo que já existe.
É a primeira grande formulação metodológica que identifica a História da
Arte como uma disciplina, dando-lhe uma identidade que nunca tinha tido.
Esta identidade faz com que se conclua o que é, e o que não é, o método
artístico.

O projecto é constituído por um conjunto de historiadores do eixo


Alemanha/Suíça e Áustria, que pretendem definira a História da Arte, à
margem dos movimentos vigentes na sua época: filosofia idealista (Hegel),
estética romântica ( ), e história positivista, onde se inclui o empirismo.

O seu objectivo fundamental é a construção de um projecto científico com


base na pesquisa e investigação, logo recusando a estética romântica (que
defende a subjectivação do belo, como resultado de uma experiência
sensível, e os objectos artísticos como produtos de uma dada sociedade e de
um dado tempo) e promovendo a defesa da autonomia da arte.
Para eles é indiscutível que os objectos artísticos não podem ser entendidos
como um reflexo da sociedade, e vão procurar critérios específicos,
rigorosos, que possam consolidar a História da Arte como um disciplina
independente e científica, e ao mesmo tempo, autónoma.

Foi a estética kantiana que definiu a forma dos objectos como elemento
essencial de estabelecimento de uma obra de arte.
Considera que a espiritualidade do conceito, do objecto artístico está
inserida na sua forma. A História da Arte deve assim, utilizar as formas
como modo de análise de uma obra, e de produzir uma teoria sobre o
mesmo.
A proposta formalista pretende construir uma História da Arte segundo os
critérios científicos que respeitem a autonomia da esfera artística,
congregando diversas metodologias, mas sempre apoiando o seu discurso
na questão da forma.
Este será o critério artístico que melhor poderá explicar a obra e os
desenvolvimentos internos, e que vai estabelecer um verdadeiro discurso
científico – factor endógeno.
No entanto, os factores externos também são considerados como factores
de compreensão do objecto artístico, são factores secundários, como a
política, a cultura, a sociedade, o local, as mentalidades, etc.
A Escola de Viena constitui mais um passo no caminhar do projecto da
Modernidade, que procura um discurso científico, objectivo, tanto na
História em geral, como na História da Arte.

A disciplina da História da Arte, em fase emergente, vai ser um domínio de


análise do estudo desses tempos, portador de fenómenos artísticos, com a
sua lógica interna estabelecida a partir da forma.
Assim, os objectos artísticos têm o seu significado, a sua essência, o seu
sentido artístico na forma. O objectivo da História da Arte será o de

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desvendar esse sentido através da forma, e fá-lo-á estudando a evolução das
formas, o surgimento de novas formas e o estabelecimento e evolução de
novos estilos.

Concluindo: o estudo formalista faz-se do seguinte modo:


1º Elemento de análise: forma
2º Elemento de análise: conjunto de elementos exógenos.

A História da Arte vai arrumar, vai organizar na História, a evolução das


formas.
Este projecto alia a autonomia, a cientificidade e o significado das obras, de
forma a produzir uma nova História da Arte.
Esta arrumação formalista vai conseguir definir os estilos artísticos, fazendo
a superação desses mesmos estilos, num sistema de linguagem que os
sustenta.

Fiedler:
É o criador de uma das mais importantes teorias da Escola de Viena – o
Conceito da Visibilidade pura. Na sua obra “O problema da forma da obra
de arte” de 1893, ele problematiza o projecto da forma, que considera
fundamental para análise da obra de arte e para elaboração da sua história,
estando acima de qualquer outro elemento.
No entanto não consegue estabelecer os princípios, as leis que regem a
Visibilidade pura, sendo a sua teoria maturada pelos seus sucessores.
Havia uma íntima relação entre o seu trabalho e a produção artística do seu
tempo. No seu texto “O naturalismo moderno e a sua veracidade artística”

Alois Riegl:
Tenta concretizar e dar substância às teorias de Fiedler.
O seu contributo é fundamental para a criação do tão desejado discurso
científico na Arte. Ele é um dos primeiros a ser sensível à questão do
sentido temporal da história. Considera que não existem épocas de apogeu
ou declínio na História da Arte, pois todas são meritórias de importância ou
interesse. Desse modo menospreza a questão do fim da história.
As suas teorias são expostas em trabalhos práticos de História da Arte,
concentrando-se tanto em épocas que até aí haviam sido consideradas como
de declínio, como em assuntos ou temas pouco tratados até aí: antiguidade
tardia e barroco. “A arte industrial Tardo Romana” e a “Origem da arte
Barroca”

A sua sensibilidade a estes assuntos chamados menores, talvez tenha sido


fruto da sua actividade de director do Museu de Artes Decorativas de Viena.
Quando estuda a pintura holandesa, estuda um tema menos considerado: o
retrato em grupo. Além disso, a sua importância liga-se a novas ferramentas
conceptuais utilizadas na prática histórica, e que irão ser progressivamente
trabalhadas por futuros historiadores:
- Kuntswollen – conceito que define a vontade e a intenção de criar.
- Dimensão óptica e dimensão táctil, na análise da pintura.
- Importância do espaço interior

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Heinrich Wölfflin:
A sua versão do Formalismo é muito importante uma vez que foi a que mais
marcou esta corrente historiográfica. Os conceitos que elabora em 1915 são
os mais marcantes, debatidos e lidos de toda a tradição formalista. Constitui
a figura de maior impacto no processo de consolidação da disciplina de
História da Arte. Traduz uma ruptura total com o positivismo e com a
estética romântica, e explora uma visão idealista – Hegel.

A sua obra é extraordinariamente multifacetada, tendo sido discípulo de


Burckhardt, e sucedendo-lhe na cátedra da Universidade de Basileia.
Através dele, Wölfflin herda a concepção evolutiva da história, tendo no
entanto como evidente que não existe uma sucessão hierárquica ou
qualificativa das diferentes épocas, há sim uma evolução estilística. Esta é
governada por leis universais, que podem ser conhecidas objectivamente.

As suas primeiras obras apresentam uma formação formalista moderada.


Na sua obra “Promenólogos para uma psicologia da arquitectura”, assim
como noutra que lhe é muito próxima, defende que os princípios criadores
da produção artística que explicam as alterações estilísticas, residem no
modo como essas criações são recepcionadas pelos espectadores.
O acento tónico assenta na psicologia da arte, ligada às questões da
percepção, próxima das questões fenomenológicas. Não é ainda uma
questão epistemológica, de conhecimento, mas tem a ver com a interacção
entre o sujeito e o objecto: recepção.

Para explicar essa relação entre o homem e o mundo que o rodeia, utiliza a
noção de EINFUHLUNG: empatia.
Ele tende a definir através desse conceito que a percepção age, não como
um registo passivo de estímulos, mas como uma apropriação activa (valores,
simpatias, sensações), na apropriação e percepção dos objectos artísticos,
nomeadamente na arquitectura.
Há um a priorismo que tem a ver com as estruturas psicológicas do sujeito,
e que determinam uma apropriação activa.

Esta é uma teoria determinante no seu estudo “Renascimento e Barroco” no


qual considera que a evolução estilística de um para o outro, é explicada
através do impacto sentido pelo homem – alteração da percepção empática
do mundo.
Nos anos 90, no centro destas questões que lançam as bases da psicologia
da arte – percepção – Wölfflin entra em contacto com os autores da Escola
de Viena tendo este um impacto muito forte nas suas impressões teóricas.
Não é uma viragem, pois nunca chega a abandonar as questões da
psicologia da arte, no entanto, dá-se um aprofundar dos novos dados, por
ele recebidos.
A grande obra que daí resulta, da união de:

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Enfoque da psicologia da Questões formalistas das
arte, contributo de Wölfflin teorias de Fiedler

Conceitos fundamentais da
História da Arte
em 1915

é uma obra pilar, fundamental no estudo da História da Arte, sendo um


referência de enorme importância, ainda que algo ultrapassada, tanto para
se estudar como para se criticar.

As principais ideias que absorve da Escola de Viena, são as introdutórias,


são os conceitos primários, os quais ele vai clarificar e desenvolver.
É um modo de legitimação, de definição que nunca havia sido feito antes,
mesmo pelos autores que os haviam formulado ou enunciado. Constitui um
verdadeiro tratado, é a maturação plena da disciplina da História da Arte,
dentro de um tipo de teoria.
Mesmo quando é contestado, essa contestação serve para se alcançarem
novas teorias, ele abre caminho a novas hipótese, teorias e abordagens.

A grande novidade que aqui se apresenta é a ideia de que os estilos


evoluem através de ideias antitéticas.

Ideias antitéticas: são ideias que se contradizem.


É por isso que, para ele, as ideias centrais do Clássico e do Barroco não são
apenas conceitos estilísticos, mas são antes de mais conceitos
contraditórios um do outro. São qualidades que objectivam a própria
evolução dos estilos, qualquer que seja o tipo de estilo, ou é do género
clássico ou do género barroco.

As categorias antitéticas – que são universais, autónomas – constituem para


ele, as categorias da visão, definindo-se por oposição:

CLÁSSICO
BARROCO

linear pictórico
superficial profundidade
forma fechada forma aberta
unidade diversidade
claro indistinto

Ele vai citar também as dimensões, óptica e táctil de Riegl, nos seus
trabalhos.

Estas categorias abrem a possibilidade a uma análise objectiva da própria


história das formas, da arte. A História da Arte ao ser governada por estas

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leis universais, não ira necessitar de obedecer a nenhumas outras, na
leitura das suas formas. Ele pretende fazer através desses conceitos, o
supremo projecto de uma história da arte sem nomes: extremamente
formalista. Deixa de ser uma história de artistas para ser uma história das
formas, confirmando o carácter autónoma da arte

Wölfflin alia mais uma vez, os factores endógenos aos exógenos, dando
sempre a primazia aos primeiros.
Assim, as categorias antitéticas correspondem a categorias de visão, e a sua
evolução vai explicar-se através das alterações fundamentais da visão do
mundo: modo como o mundo exterior é percepcionado.

Falar delas, é o mesmo que falar de categorias de visão, da percepção do


mundo, e que estão ligadas às questões de da fenomenologia: à psicologia.
As alterações de estilo, ao serem favorecidas por essa alteração, alteram
também as categorias da visão, que podem ser alteradas através de factores
exógenos.
São elas que determinam a produção das obras e a sua interpretação. A
história das estilos corresponde à história das visões do mundo.

Toda a linha formalista vai ter um enorme desenvolvimento, sendo que o


impacto da obra de Wölfflin se fará sentir principalmente em Itália, e no
trabalho de Bernard Berenson – este cria uma figura imaginária, o amigo de
Sandro – a quem atribui uma série de obras, e através dele vai tentar
comprovar a teoria da desnecessária presença de um nome, na disciplina da
História da Arte.

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